Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LINFOMA DE HODGKIN Apresentação de Aulas Teóricas - 2021/02 Serviço de Oncologia e Hematologia pediátrica - HPP Residente: Aillyn Bianchi - Pediatra RELATO DE CASO - M.E.S.L, 14 anos Data de nascimento: 24/07/2007 Idade ao diagnóstico: 13 anos Sexo: Feminino Procedência: Curitiba/PR Acompanhante/Responsável: Mãe - Aparecida Primeiro contato com a oncologia do HPP: através de parecer respondido em 17/08/20. Atual: segue com acompanhamento ambulatorial após término de tratamento em 10/02/21. #HDA - PA SUS-HPP 15/08/21: Mãe refere que a paciente iniciou com tosse seca há cerca de 20 dias, em alguns momentos com dispneia e falta de ar. Atendida na UPA em dois momentos em uso de inalação, com melhora e alta para casa. Após segunda ida á UPA, consultou com pneumologista e realizou espirometria revelando crise de asma grave (sic mãe) sendo iniciado medicações de uso contínuo. Há dois dias apresentou piora dos sintomas com aumento na frequência da tosse e taquidispneia. Na UPA, recebeu medicações de resgate e terbutalina sem melhora, mantendo boa saturação com 10L/min sob máscara de O2. Apresentou piora do esforço respiratório, saturação e rebaixamento do nível de consciência sendo optado por IOT na unidade, sendo então solicitado transferência à UTI. RELATO DE CASO - M.E.S.L, 14 anos #História patológica pregressa (HPP): previamente hígida, nega internações hospitalares, nega cirurgias, nega alergias medicamentosas, nega intercorrências durante período neonatal. #História familiar (HF): pais hígidos, não consanguíneos, nega história familiar positiva para doenças onco-hematológias. - 15/08/20: Diagnósticos + Evolução inicial: Broncoespasmo grave + Insuficiência Respiratória Aguda + Asma exacerbada. Realizado Rx tórax sendo observado infiltrado e consolidações, além de mediastino alargado. Sendo então solicitado Tc de tórax para melhor investigação diagnóstica. - 18/08/20: Diagnósticos + Evolução inicial: Linfonodomegalia cervical e mediastinal a esclarecer + Insuficiência respiratória (possível compressão extrínseca das via aéreas). Paciente com suspeita de linfoma, aguardando biópsia de massa cervical. - 28/08/20: primeira consulta ambulatorial com a oncologia. Condutas tomadas: solicitado RNM corporal total para estadiamento + exames pré início de QT - Laboratoriais / Ecocardiograma. Programado aspirado e biópsia de MO bilateral. RELATO DE CASO - M.E.S.L, 14 anos #EXAMES DO DIAGNÓSTICO: - 15/08/21: D-DÍMERO: 926,42 TROPONINA CARDÍACA: 3,2 LDH: 289,0 VHS: 49,0 - 15/08/21: TC de tórax: Pulmões: nódulo bilobulado com escavação central na sua porção anterior, localizado na periferia lateral do segmento basal anterior do lobo inferior direito e medindo 16 x 13 mm. Pequenas opacidades em vidro-fosco focais de aspecto pseudonodular, na porção posterior do segmento superior do lobo inferior direito, medindo até 5 mm. Mínimo espessamento liso de septos interlobulares, notadamente apical à direita. Não se detectam áreas de aprisionamento aéreo significativo aos cortes em expiração. Mediastino: imagem de massa centrada no mediastino anterior paramediana / lateral esquerda, lobulada e com área de degeneração cística / necrótica posterior, medindo aproximadamente 84 mm no maior eixo sagital por 54 x 68 mm nos maiores eixos axiais. Outra lesão de bordos indefinidos no mediastino superior / espaço visceral inferior do pescoço, com extensão paratraqueal maior à direita e retrotraqueal, que determina compressão à traqueia e mede 36 mm no maior eixo coronal por 43 x 34 mm nos maiores eixos axiais. Impressão: Lesão escavada e focos pseudonodulares em vidro-fosco no lobo inferior do pulmão direito. Imagens de massa cervical / mediastino superior e no mediastino anterior, com linfonodomegalias mediastinais. Compressão extrínseca da traqueia e das veias inonimada e cava superior, com circulação colateral e edema na transição cervicotorácica (sd. da veia cava superior?). Considerar a possibilidade de tuberculose primária no diagnóstico diferencial, não sendo possível porém afastar a possibilidade de outras neoplasias. A critério clínico, correlacionar com estudo anatomopatológico de linfonodo cervical. - 16/08/21: ECOGRAFIA DO PESCOÇO COM DOPPLER: Lesão expansiva de aspecto neoplásico, hipoecogênica, estendendo-se da região cervical anterior ao nível da cartilagem cricoide para a região mediastinal. Tal lesão apresenta fluxo arterial ao modo Doppler colorido. RELATO DE CASO - M.E.S.L, 14 anos #EXAMES DO DIAGNÓSTICO: - 17/08/21: AP - biópsia de linfonodo mediastinal: PROLIFERAÇÃO CELULAR ATÍPICA EM TECIDO FIBROSO COM FOCOS DE NECROSE. VIDE NOTA. NOTA: OS ACHADOS SÃO SUGESTIVOS DE NEOPLASIA POUCO DIFERENCIADA. - 17/08/21: IHQ - biópsia de linfonodo mediastinal: Cd 3 RBT Dako: Positivo em linfócitos T. panb CD20 L26 Dako: Positivo em linfócitos B e positivo focal nas células atípicas. CD30 BER H2 Dako: Positivo nas células atípicas. CD15 Carb 3 Dako: Negativo nas células atípicas. BSAP PAX 5 Dako Positivo nas células atípicas. ALK Protein ALD Dako: Negativo. QUADRO HISTOLÓGICO E PERFIL IMUNOISTOQUÍMICO FAVORECEM LINFOMA DE HODGKIN CLÁSSICO SUBTIPO ESCLEROSE NODULAR. INDISPENSÁVEL CORRELAÇÃO CLÍNICA E RADIOLÓGICA PARA CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA. RELATO DE CASO - M.E.S.L, 14 anos - Diagnósticos oncológicos definitivos: - Massa mediastinal: Linfoma de Hodgkin Clássico (Subtipo Esclerose Nodular) - Presença de sintomas B (Classificação de Ann Arbor) - Estádio IIB com bulk disease - ALTO RISCO - Esquema terapêutico instituído: - Iniciou Protocolo LHBRA2015, esquema terapêutico III em 27/08/20, com término de tratamento em 10/02/21. - Realizou RDT entre 17/03/20 a 09/04/20, com 30,6gY em região mediastinal. LINFOMA DE HODGKIN Breve Histórico Thomas Hodgkin realizou a primeira descrição da doença em 1832, seguido por Sternberg em 1898, e de forma mais precisa por Reed em 1902, ao identificar a célula gigante multinucleada característica da neoplasia em questão, conhecida como célula de Reed-Sternberg. LH - INTRODUÇÃO - Constitui 5-7% de todas as neoplasias na idade pediátrica. - A sobrevivência global é superior a 90%. - É a neoplasia mais frequentes entre os 15 a 19 anos de idade. - A incidência varia de acordo com a localização geográfica, nível socioeconômico e estado imunológico. - Em crianças < 5 anos observa-se maior incidência no sexo masculino. - A presença de imunodeficiência, seja congênita ou adquirida, aumenta o risco de desenvolver a doença de Hogdkin. - É uma das poucas neoplasias de fisiopatologia, evolução, tratamento e prognósticos semelhantes em adultos e crianças. - Na década dos 60, a radioterapia era o tratamento padrão para pacientes pediátricos. LH - Patogênese - Proliferação neoplásica das células linfóides. - Diferente das leucemias, o processo de malignização ocorre quando a célula hematopoiética já abandonou a medula óssea. - Grupo heterogêneo de neoplasias, com uma gama de apresentações clínicas diversas, que vão desde formas pseudo-leucêmicas com comprometimento difuso do organismo, até outras puramente locais. - Quase todos os casos de LH se originam de células B pré-apoptóticas, que não conseguem sintetizar imunoglobulinas. Surge no tecido linfoide e se espalha para as regiões nodais adjacentes de modo relativamente organizado. A disseminação hematogênica também ocorre, podendo comprometer os sistemas hepático, esplênico, ósseo, da medula óssea ou cerebral, e está normalmente associada à presença de sintomas sistêmicos. LH - Patogênese Anticorpos anti-CD30 marcam as células de Reed-Sternberg. LH - Patogênese Células de Reed-Sternberg - Resistente a estímulos apoptóticos devido a uma desregulação do fator de transcrição nuclear NFkB. - Células semelhantes podem ser encontradas na mononucleose infecciosa, no LNH e em outras condições. - Na maioria dos casos surgem a partir de centros germinativos de células B. - Os sintomasclínicos do LH são secundários à liberação de citocinas e linfocinas pelas células de R-S. LH - Patogênese LH - Patogênese Vírus Epstein-Barr (EBV) - O material genético do EBV pode ser identificado nas células Reed-Sternberg de alguns pacientes com LH. - Um estudo feito na Bahia mostrou a presença do EBV em 85% dos casos de LH, particularmente nos de celularidade mista. - A presença do vírus é mais comum em menores de 10 anos. - Em países em desenvolvimento identificam-se altas taxas de LH com histologia de celularidade mista na faixa pediátrica, e esses casos geralmente são positivos para EBV. LH - Quadro Clínico Linfonodomegalia > 80% dos casos + cervical ou supraclavicular indolor, firme - Doença mediastinal presente em 75% dos adolescentes e adultos jovens. - Sintomas associados dependentes do grau de extensão e da localização da doença nodal e extranodal. - A síndrome nefrótica é uma manifestação rara porém pode estar presente. - Sintomas sistêmicos como febre, sudorese noturna e perda ponderal estão presentes em 25% dos casos. SINTOMAS B LH - Quadro Clínico LH - Quadro Clínico LH - Quadro Clínico LH - Diagnóstico Suspeita clínica Anamnese + exame físico + exames de imagem (RX de tórax, TC de tórax/abdome/pelve e PET-CT) + exames laboratoriais Aspirado e biópsia de medula óssea bilateral (exceto para pacientes de baixo risco - estádio I) Diagnóstico Estadiamento Tratamento O diagnóstico e a classificação são estabelecidos pela imunohistoquímica e secundariamente pelas características citológicas das células de Reed-Sternberg. LH - Diagnóstico Células de Reed-Sternberg: células grandes (15-45µm de diâmetro), com núcleos múltiplos ou multilobulados. LH - Prognóstico - Os fatores prognósticos mais utilizados na atualidade para determinar o tratamento incluem o estádio da doença, a presença ou ausência de sintomas B, o volume tumoral e a resposta ao tratamento. - No caso do LHPLN, o prognóstico é favorável principalmente quando a doença é localizada (estádio I). - A presença de sintomas B e doença extralinfática no momento da recidiva, é fator de mau prognóstico. LH - Classificação 1- Linfoma de Hodgkin clássico 2- Linfoma de Hodgkin com predomínio linfocítico nodular (LHPLN) ● rico em linfócitos (LHCRL) ● de celularidade mista (LHCM) ● com depleção linfocitária (LHDL) ● esclerose nodular (LHEN) A OMS distingue os tipos de LH de acordo com suas características clínicas e biológicas distintas: LH clássico e LH nodular de predomínio linfocítico. Esses subtipos são definidos de acordo com o número de R-S, as características inflamatórias e a presença ou não de fibrose. LH - Classificação LH - Classificação Linfoma de Hodgkin com predomínio linfocítico nodular (LHPLN): não há nenhuma necrose, e há escassez de neutrófilos e eosinófilos. É caracterizado por células grandes com núcleos polilobulados (popcorn cells). São células negativas para CD15. É típico a expressão dos oncogenes OCT-2 e BOB1 (não expressos no LH clássico). É menos agressivo, pouco frequente (< 10% dos casos), e seu marcador celular típico é o antígeno de superfície celular CD20. Predomínio linfocitário (PL): 10-15% dos casos, mais comum em homens jovens e em casos de doença localizada. Gânglio com aparência característica de linfócitos de proliferação benigna. Muito associado a positividade para CD20. Esclerose nodular (EN): subtipo mais comum, 40-70% dos casos. Os linfonodos mais afetados são os cervicais inferiores, supra-claviculares e mediastinais. Celularidade mista (CM): 30% dos casos, e é mais comum em crianças < 11 anos e em indivíduos HIV+. As células de Reed-Sternberg são mais comum no CM. O padrão de crescimento é difuso com tecido ganglionar residual escasso. Depleção linfocitária (DL): raro na infância. Caracterizado pela presença de muitas células de R-S e poucos linfócitos. LH - Estadiamento A classificação do estadio clínico, em todos os casos, será segundo a classificação de Ann Arbor, e serão classificados também como tendo sintomas B ou não. Classificação de Ann Arbor Estadio I: acometimento de uma única cadeia linfática ou comprometimento direto desde um gânglio até outro adjacente (II E). Estadio II: comprometimento de dois ou mais gânglios do mesmo lado do diafragma ou extensão de um desses gânglios até um órgão extralinfático adjacente (II E). Estadio III: acometimento de regiões do linfonodo nos dois lados do diafragma, que pode se estender até um órgão extralinfático adjacente (III E), podendo incluir o baço (III S). Estadio IV: Doença difusa ou disseminada em um ou mais órgãos ou tecidos extralinfáticos com ou sem envolvimento de gânglios linfáticos (medula óssea, pulmão, fígado, etc.). LH - Tratamento Idade menor de 21 anos ao diagnóstico. Diagnóstico confirmado de doença Hodgkin pelo anatomopatológico. Ausência de tratamento prévio. LH - Tratamento - Estadio clínico, de acordo com a classificação de Ann Arbor. - Presença ou ausência de sintomas "B": perda de peso maior do que 10% nos seis meses anteriores, sem causa aparente; febre de 38° C ou mais, sem explicação e sudorese noturna profusa. - Presença ou ausência de doença "Bulky": Bulky mediastino: massa mediastinal com relação M/T > 0,33 no nível de T6. Bulky Nodal: definido como gânglio ou massa nodal maior que 6 cm no seu maior diâmetro transversal. - Número de áreas de linfonodos envolvidos. Critérios diagnósticos para definir grupos de risco O tratamento da doença vai depender do estádio segundo a classificação de Ann Arbor e da presença de sintomas (A ou B). LH - Tratamento LHBRA - 2015 LH - Tratamento LHBRA - 2015 LH - Tratamento Esquema terapêutico 1 BAIXO RISCO LHBRA - 2015 LH - Tratamento Esquema terapêutico 2 RISCO INTERMEDIÁRIO LHBRA - 2015 LH - Tratamento Esquema terapêutico 3 ALTO RISCO Esquema OEPA (x 2) LHBRA - 2015 LH - Tratamento Esquema COPDAC (x 4) Esquema terapêutico 3 ALTO RISCO LHBRA - 2015 LH - Tratamento - O PET-CT pode ser utilizado para avaliar a resposta precoce ao tratamento. - Em casos de recidiva, o tratamento inclui QT para indução e TMO autólogo. - Tanto em adultos como em crianças, o tratamento do LHPLN consiste em reduzir a terapia inicial para reduzir a morbidade e a mortalidade relacionadas com o tratamento a longo prazo. O tratamento de escolha geralmente é QT + RDT. Porém há relatos de pacientes tratados apenas com QT ou ressecção completa sem QT. LH - Tratamento RADIOTERAPIA - Indicada para todos os pacientes de alto risco. - A RT sobre as áreas afetadas deve ser restrita aos pacientes de baixo e médio risco que não alcançam resposta completa com a quimioterapia. - Iniciar por volta da 3 - 4 semana depois de completar o última dose de quimioterapia ou mais tarde, assim que se obter uma contagem de > 1000 neutrófilos/mm³ e plaquetas > 100.000/mm³ . - Segue sendo objeto de debate uma vez que, mesmo em doses baixas, pode estar associada a efeitos tardios. LH - Resumo geral OBRIGADA! Apresentação de Aulas Teóricas - 2021/02 Serviço de Oncologia e Hematologia pediátrica - HPP Residente: Aillyn Bianchi - Pediatra
Compartilhar