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São as artrites inflamatórias mais comuns em diferentes partes do mundo. São caracterizadas, conjuntamente, pelas alterações articulares e periarticulares secundárias à resposta inflamatória aos microcristais formados e/ou depositados nos tecidos. Fazem parte desse grupo as condições clínicas associadas a cristais de: Urato monossódico (UMS) Gota Pirofosfato dihidratado de cálcio (CPPD) Fosfato básico de cálcio (BCP) Outros: apatita, cistina, tirosina, Charcot-- Leyden, colesterol, oxalato de cálcio e fosfato de alumínio (descritos em pacientes dialisados por longo período) e corticosteroides. É uma artrite inflamatória desencadeada pela cristalização de urato monossódico (UMS) nas articulações e nos tecidos periarticulares. A articulação mais acometida é a primeira metatarsofalangeana, mas pode acometer as outras articulações. Decorre da elevação crônica do ácido úrico no plasma, além do seu ponto de saturação. Há um aumento da ocorrência de gota com a idade: platô por volta dos 70 anos Risco 2 a 6 vezes maior em homens quando comparados às mulheres. Há um fator de proteção hormonal ligado ao estrogênio por conta de sua ação no transporte renal do ácido úrico, diminuindo sua reabsorção, logo, o acometimento em mulheres tende a ser pós- menopausa. O principal fator de risco para gota é a hiperuricemia (nível sérico de urato superior a 6,8 mg/dL). O urato é o produto final da degradação oxidativa do metabolismo das purinas. Em seres humanos, 80% do ácido úrico deriva do metabolismo das purinas endógenas, a partir do catabolismo dos ácidos nucleicos celulares e da biossíntese de novo das purinas, enquanto 20% advêm do catabolismo das purinas alimentares. História familiar está presente em cerca de 40% dos pacientes. Hábitos de vida podem interferir no nível sérico do ácido úrico e no risco de gota: Consumo de álcool, principalmente cerveja ( ác. úrico pela degradação de em AMP e por diminuição da sua secreção renal). Consumo de alimentos ricos em purinas, principalmente carne vermelha e frutos do mar. Uso de medicações que diminuem a excreção renal do ácido úrico (IECA e BRA, diuréticos tiazídicos e de alça, beta- bloqueadores, pirazinamida, etambutol, inibidores da calcineurina, ciclosporina e tacrolimo, dentre outros). Classificação da hiperuricemia: Por excreção renal ineficiente do ácido úrico (80-90%) – Pacientes hipoexcretores. Por dieta e/ou aumento da produção endógena de ácido úrico (10-20%) – Pacientes hiperprodutores. Pacientes hiperprodutores são identificados pela excreção aumentada de ácido úrico na urina de 24 h (≥ 1.000 mg/dia; para outros, ≥ 800 mg/dia, sob dieta livre) Os hipoexcretores renais são identificados por diminuição do clareamento do ácido úrico (< 6 mℓ/min/1,73 m²). A supersaturação plasmática de ácido úrico ocorre quando se atinge um nível de aproximadamente 6,8 mg/dℓ. A partir desse ponto, os cristais de UMS começam a se formar. Temperaturas mais baixas e acidose (local ou sistêmica) facilitam a cristalização do UMS. DICA: O aumento da cristalização nessas condições pode explicar a ocorrência das crises agudas de gota em articulações periféricas (mais frias) e durante o sono (acidose respiratória leve). Gota aguda: A história natural da Gota é dividida tradicionalmente em três fases: Hiperuricemia assintomática Gota intermitente (episódios autolimitados de artrite aguda dolorosa mono ou oligoarticular, intercalados com períodos intercríticos assintomáticos) Gota crônica poliarticular, associada a deformidades, dor e deposição de agregados de cristais de UMS (tofos) A crise aguda da gota ocorre quando os cristais de UMS interagem com as células do paciente, iniciando resposta inflamatória. Os microcristais de UMS são mais propensos a desencadear crises, e são liberados de grandes cristais ou tofos (nódulos de cristais de ácido úrico rígidos). Essa liberação é favorecida pela variação do nível sérico de urato, justificando o desencadeamento de crises agudas de gota após início abrupto de drogas hipouricemiantes. A célula inflamatória predominante na gota aguda é o neutrófilo (recrutado para a articulação após interação inicial dos cristais de UMS com células residentes da sinóvia, especialmente os macrófagos). A interação entre cristais de UMS e fagócitos ocorre de duas maneiras predominantes: 1. Via convencional da opsonização e fagocitose de partículas 2. Ligação direta dos cristais com glicoproteínas de membrana. A resposta celular à interação entre fagócitos e cristais de UMS é a produção e a liberação de enorme variedade de mediadores pró- inflamatórios, que juntos irão promover vasodilatação e ativação endotelial, com eritema e edema local, dor e migração de neutrófilos e monócitos para a articulação, amplificando a resposta inflamatória. Não obstante, ao atingirem a circulação sistêmica, esses mediadores inflamatórios desencadeiam os sintomas gerais de mal- estar, febre e leucocitose típicos da crise da gota aguda. Fatores desencadeantes da crise aguda: Ingestão de bebida alcoólica Desidratação Trauma articular Doença clínica aguda e sepse Reativações de psoríase cutânea Medicamentos (especialmente diuréticos em idosos ou início dos medicamentos hipouricemiantes) Cirurgia Dieta rica em purinas. O primeiro ataque de gota se caracteriza pelo início agudo de monoartrite na primeira articulação metatarsofalângica ou outra articulação dos MMII, especialmente demais dedos do pé, articulações tarsometatarsais, tibiotarsais e os joelhos. A articulação metatarsofalângica do hálux é a primeira a ser acometida em 50% dos pacientes e será eventualmente local de crise de gota aguda em até 90% deles. Os pacientes referem início agudo de dor intensa, com dificuldade de caminhar e realizar atividades da vida diária, não suportando nem mesmo contato do vestuário ou lençol. 1. Imunoglobulinas IgG e fatores complemento opsonizam cristais de UMS, promovendo seu crescimento e facilitando a resposta inflamatória. A impossibilidade de destruir os cristais de UMS fagocitados leva à lesão da barreira do fagolosissomo e à liberação de cristais e proteases lisossomais no citosol, estas que são capazes de induzir resposta inflamatória e lesão mitocondrial, com consequente morte celular. 2. Ligação direta dos cristais com proteínas sinalizadoras da membrana celular modificam a estabilização dessa membrana e ativam diretamente a cascata inflamatória. O início do quadro pode ocorrer a qualquer hora do dia, mas parece ser mais frequente durante a madrugada. Ao exame clínico, tem-se a evidência dos componentes cardinais da inflamação: eritema, calor, edema e perda da mobilidade, com dor intensa ao toque e à movimentação da articulação. Caracteristicamente, ocorre descamação da pele na fase de resolução da crise. O período intercrítico, que separa os episódios de gota aguda, pode durar, inicialmente, vários meses a anos, com duração média de 11 meses. Na presença de hiperuricemia persistente e, à medida que a doença progride sem tratamento adequado, há diminuição da duração do período intercrítico, com ataques agudos recorrentes de gota mais intensos e prolongados, em intervalos mais curtos, com acometimento oligo ou poliarticular. Mesmo sem a intervenção médica, o ataque da gota aguda é quase sempre autolimitado, terminando em 1 a 2 semanas. A resolução do processo inflamatório na gota não decorre da remoção do fator desencadeante, mas por mecanismos que o organismo encontra para finalizar o processo inflamatório agudo, mesmo com a permanênciados depósitos de cristais de UMS nos tecidos. Gota crônica: Mesmo fora da inflamação aguda, a sinovite de baixo grau pode persistir, decorrente da fagocitose contínua de cristais de UMS. A transição da gota intermitente para gota crônica ocorre quando o período entre as recaídas não é mais livre de dor. Os pacientes apresentam dor persistente nas articulações acometidas, menos intensa que nos episódios agudos, intercalados com ataques agudos cada vez mais frequentes. Aparece sinovite crônica, poliarticular, com deformidade, incapacidade funcional importante e piora significativa da qualidade de vida e da capacidade para o trabalho. Os cristais de UMS persistentes nas articulações são organizados em forma de granuloma, com zona coronal rica em macrófagos e produtora de citocinas pró- inflamatórias. As mesmas citocinas, quimiocinas e oxidantes envolvidos na gota aguda contribuem para a inflamação crônica. Os tofos podem ou não ser clinicamente evidentes, e são patognomônicos de Gota. São identificados principalmente em dedos, punhos, orelhas, joelhos, bursa olecraneana, face ulnar do antebraço e tendão do calcâneo. As erosões ósseas são detectadas nos estádios mais avançados da gota. O mecanismo básico dessas erosões parece ser a presença e a infiltração, pelo tofo, do osso subcondral. A destruição da cartilagem articular, com consequente redução do espaço articular observado à radiografia, é um processo tardio na gota crônica, resultado da ação de metaloproteinases e da geração de óxido nítrico na matriz cartilaginosa. Fatores que levam ao desequilíbrio entre formação e destruição óssea, com consequente desenvolvimento de erosão: Redução do efeito anabólico dos osteoblastos promovido pelos cristais de UMS. Níveis elevados de RANKL presentes em pacientes com gota (estimulação da osteoclastogênese e promoção da reabsorção óssea). Morte de condrócitos causada pelos cristais (comprometimento da matriz cartilaginosa). Alterações laboratoriais: A hiperuricemia é a alteração cardinal da gota, apesar de não ser suficiente para o diagnóstico. Não se solicita dosagem de ácido úrico em pacientes com crise de gota aguda, uma vez que apresentam dosagem normal em até 63,3% dos casos. Na crise aguda, são descritos: Leucocitose com aumento de polimorfonucleares Aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS) e da proteína C reativa (podendo esta atingir valores acima de 100 mg/dℓ). A pesquisa da uricosúria de 24h e o cálculo do clareamento do ácido úrico são importantes para a classificação da hiperuricemia. A avaliação laboratorial dos pacientes com gota deve incluir a investigação das morbidades associadas (dislipidemia, diabetes e doença renal). A dosagem de cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, PTH, TSH e transaminases hepáticas e a análise do hemograma podem ser úteis na investigação de causas secundárias de hiperuricemia. O líquido sinovial de pacientes com gota aguda é tipicamente inflamatório: cor amarelo palha, turvo, com viscosidade diminuída, contagem de leucócitos de 2.000 cél/mm³ a 75.000 cél/mm com predomínio de polimorfonucleares. A pesquisa de cristais de UMS deve ser feita em líquido sinovial (punção). Os cristais vistos à microscopia de luz polarizada compensada são semelhantes a agulhas e apresentam birrefringência negativa forte são amarelados, quando paralelos ao eixo do compensador, ou azuis, quando perpendiculares. Exames de imagem: Nas fases iniciais, a radiografia simples, em geral, é normal ou apresenta alterações inespecíficas. Com a repetição das crises agudas, aparecem as alterações típicas da gota crônica: Erosões ósseas características: imagens líticas em “sacabocado”, bem delimitadas, caracterizadas por margens elevadas que ultrapassam os limites esperados da cortical do osso, resultado da neoformação óssea ao redor do tofo em crescimento. As erosões são intra-articulares ou justarticulares, decorrentes da presença e do crescimento de tofos no osso. Nos casos mais avançados, observam-se erosões grosseiras com destruição articular, sendo a redução do espaço articular manifestação tardia. As indicações da realização da ultrassonografia na gota são várias, dentre elas a detecção de derrame articular e sinovite, com diferenciação de sinovite ativa ou inativa; estudo da cartilagem, do contorno ósseo e de osteófitos; avaliação dos tendões; e realização de procedimentos guiados por ultrassonografia. A TC convencional e a TC com dupla emissão de energia são os melhores métodos de imagem para caracterização das artropatias por cristais São capazes de identificar as erosões e os tofos. Além disso, estimam a carga total de tofos de cristais de UMS na região analisada, servindo de parâmetro para avaliação da eficácia do tratamento hipouricemiante instituído. Diagnóstico: O padrão de referência é a identificação dos cristais de UMS em amostra de material biológico, por meio da microscopia de luz polarizada. Tratamento: Deve-se ter o objetivo terapêutico de manter os níveis séricos de urato abaixo de seu limiar de saturação. O alvo terapêutico é inferior a 6 mg/dℓ (abaixo de 5 mg/dℓ em pacientes com tofo) Para se conseguir atingir o nível adequado de urato sérico, é possível dispor das medicações uricorredutoras. É importante conscientizar o paciente quanto a importância das medidas comportamentais do tratamento (dieta, ingestão de bebidas alcoólicas e hábitos de vida, como tabagismo e sedentarismo). Em virtude da frequente associação de gota com outras condições mórbidas, a orientação dietética deve abordar não apenas os alimentos ricos em purinas, como também a perda de peso corporal e as particularidades das morbidades presentes. Durante a crise aguda: Deve-se manter repouso relativo, evitando sobrecargas que aumentem a dor na região acometida, e compressas com gelo no local da inflamação. Para o tratamento medicamentoso: Colchicina (0,5 3x ao dia) + AINE ou corticosteroide tto deve ser longo o suficiente para evitar uma recaída precoce (1 a 2 semanas, idealmente interrompido 1 a 2 dias após a resolução completa dos sintomas) OBS: O tto funciona melhor quanto antes for iniciado (idealmente até 24h). É necessário realizar profilaxia para prevenir recorrências. O esquema terapêutico mais utilizado é: Colchicina 0,5 mg, 1 ou 2 vezes/dia. OBS: A profilaxia deve ser mantida por 3 a 6 meses após estabilização dos níveis séricos de ácido úrico. Medicações uricorredutoras: Atualmente, existem três classes de medicações uricorredutoras: Inibidores da xantina oxidase (iXO): bloqueiam a síntese hepática do ácido úrico Uricosúricos: aumentam a eliminação renal de ácido úrico Uricolíticos: convertem o ácido úrico em alantoína Na prática, os iXO são as medicações mais empregadas O Alopurinol é o único disponível no Brasil. O alopurinol deve ser iniciado entre 2 a 4 semanas após resolução da crise aguda, sempre acompanhado de tratamento preventivo para novos. A dose inicial de alopurinol é de 100 mg/dia, com aumento gradual de 100 mg a cada 2 a 4 semanas, atingindo dose mínima de 300 mg/dia Deve-se aumentar a dose até atingir o alvo terapêutico (ácido úrico menor que 6 mg/dL ou menor que 5 mg/dL na presença de tofos) ou até a dose máxima de 800 mg. OBS: Em pacientes com IRC grau IV, a dose inicial deverá ser 50 mg, com aumentos máximos de 50 mg a cada 3 a 5 semanas. No início da década de 1960, McCarty et al. avaliaram o líquido sinovial de pacientes com artrite aguda idêntica à crise de gota. No entanto, identificaram, sob microscopia de luz polarizada, a existênciade cristais com propriedades físicas diferentes daquelas dos cristais de UMS. Tais cristais foram reconhecidos como de CPPD, e a crise articular associada foi batizada de “pseudogota”. A doença por deposição de cristais de CPPD causa, em geral, condrocalcinose, que consiste em calcificações de padrão linear ou pontilhado nas estruturas fibrocartilaginosas (meniscos, sínfise púbica, ligamento triangular do punho, lábrum da glenoide e acetabular) e na cartilagem hialina, paralelas ao osso subcondral. A deposição de cristais de CPPD pode ocorrer de maneira assintomática ou estar associada a outras síndromes articulares O que chama atenção na artropatia por cristais de CPPD é a sua capacidade de simular vários tipos de doenças reumáticas! Os joelhos são as articulações mais acometidas (90% dos casos). Outras articulações afetadas pela condrocalcinose são punhos, ombros, sínfise púbica e quadris. A deposição de cristais de CPPD nas articulações é ligada ao envelhecimento, por isso o principal fator associado é a idade avançada. Outros fatores de risco são o trauma ou cirurgia articular e Gota (mas não hiperuricemia assintomática). Algumas síndromes metabólicas associam-se a CPPD, como: Hiperparatireoidismo Alteração no metabolismo do cálcio Hemocromatose O excesso de ferro decorrente desta parece ter uma ação inibitória sobre as pirofosfatases Hipomagnesemia O magnésio aumenta a solubilidade dos cristais de CPPD Hipofosfatasia baixa atividade da fosfatase alcalina, enzima importante na degradação do pirofosfato inorgânico (PPi) A maioria dos pacientes com CPPD apresenta a forma esporádica, mas são descritas formas familiares ligadas aos cromossomos 8q e 5p, com manifestações fenotípicas diversas. Dentre as ligadas ao cromossomo 5p, são mais bem conhecidas as que decorrem de mutações no gene ANKH. A formação de CPPD ocorre na matriz extracelular cartilaginosa, adjacente à superfície dos condrócitos. A formação de CPPD correlaciona-se com a concentração de íons cálcio e PPi na matriz extracelular! Os condrócitos produzem PPi por ação de enzimas da família nucleosídio trifosfato pirofosfo-hidrolase sobre o ATP, quando este é convertido a AMP. Demonstra-se uma correlação entre a hiperatividade dessas enzimas e a formação de cristais de CPPD, pelo aumento da concentração de PPi na matriz cartilaginosa. Outra forma envolve polimorfismos do gene que codifica a proteína ANKH, um complexo transportador transmembrana de PPi, com importante papel na concentração intra e extracelular desse íon. A maioria dos pacientes com CPPD é assintomática. Foram definidos quatro tipos de apresentação da doença: 1. CPPD assintomático: Apresentação mais comum. Consiste no achado incidental de calcificação da cartilagem, em exame de imagem, seja pelo achado histológico. 2. Artrite aguda por cristais de CPPD (antiga pseudogota): mono ou oligoartrite aguda, às vezes com hiperemia periarticular, com dor forte e edema, que evolui em 6-12h (pico de dor nas primeiras 24h). Raramente sintomas duram > 3 semanas. Diferentemente da gota, é infrequente antes dos 60 anos é raro o acometimento da primeira articulação metatarsofalângica. As articulações mais acometidas são: joelhos, punhos, ombros, cotovelos e tornozelos. 3. Osteoartrite com CPPD: o que levanta a suspeita dessa associação é o envolvimento de articulações pouco usuais na osteoartrite primária, como as glenoumerais, os punhos e as metacarpofalângicas. Os pacientes, em geral, apresentam crises inflamatórias sobrepostas à dor articular crônica. 4. Artrite inflamatória crônica por cristais de CPPD: poliartrite crônica que acomete grandes e pequenas articulações e se assemelha à AR. Diferentemente desta, os pacientes com CPPD costumam ter exacerbações de sinovite, acometendo as articulações de forma sequencial, e não todas ao mesmo tempo. Além disso, a artrite é menos simétrica do que na artrite reumatoide e é mais comum em mulheres idosas. Diante da suspeita de CPPD, a radiografia simples é o método de imagem de escolha para a pesquisa da condrocalcinose Alguns achados fortalecem a suspeita, como: presença de osteófitos grosseiros em forma de gancho; acometimento axial exuberante, com graves degenerações discais, sinal do vácuo, calcificação do ânulo fibroso e erosões subcondrais. A punção e a aspiração da articulação acometida são fundamentais para o diagnóstico definitivo: A confirmação diagnóstica de CPPD só é possível com o achado dos cristais de CPPD no líquido sinovial, em um paciente com manifestação clínica sugestiva! Os cristais tem forma de paralelepípedo ou romboides à microscopia de luz polarizada e têm birrefringência positiva fraca. Aparecem na cor azul quando paralelos ao polarizador, e amarelos quando perpendiculares. O tratamento de CPPD é sintomático Não há tratamento que previna a deposição ou dissolva cristais de CPPD depositados na cartilagem articular ou nos tecidos. No caso de mono ou oligoartrite, pode-se recorrer à infiltração intra-articular com glicocorticoides, sobretudo de longa ação. Se não houver contraindicações, pode-se fazer uso de AINEs associados a IBPs. A colchicina, 0,5 a 1,5 mg/dia em 2-3 tomadas, demonstrou eficácia e pode ser usada isolada ou associada às outras medicações. Nos casos de crises recorrentes (≥ 3/ano) a Colchicina pode ser usada profilaticamente, por tempo prolongado, ou, na contraindicação ou falha desta, de corticosteroide oral em baixa dose. Os cristais de fosfato básico de cálcio (BCP) são constituídos, predominantemente, pela hidroxiapatita carbonatada, mas também pelos cristais de octacálciofosfato e tricálcio- fosfato. A hidroxiapatita é o principal elemento cálcico da cartilagem de crescimento ósseo e sua deposição costuma ser fisiológica. No entanto, a deposição patológica de cristais de BCP pode causar inflamação e estar associada à osteoartrite e à calcificação de estruturas periarticulares. As áreas mais comumente envolvidas são o ombro, o grande trocanter do fêmur, o epicôndilo lateral do cotovelo e as inserções tendíneas do joelho. Trauma e/ou a lesão articular são fatores de risco para a deposição de BCP (assim como para CPPD, não sendo incomum a coexistência de ambos). Síndrome do ombro de Milwaukee: Artrite destrutiva do ombro, manifestada por dor crônica, grave limitação de movimento e grande derrame articular. Mais frequente em mulheres, e a média de idade varia de 50 a 90 anos. Em geral, é bilateral, mas o membro dominante costuma ter alterações mais graves. ATENÇÃO! Crises de artrite aguda em pacientes idosos, sinais de osteoartrite em articulações atípicas, como as metacarpofalângicas e a radiocarpal, a presença de osteófitos ganchosos, o acometimento axial sugestivo e o achado de condrocalcinose permitem um diagnóstico presuntivo, sobretudo quando se observam calcificações em locais típicos de CPPD. História de cirurgia meniscal ou de paratireoidectomia também deve chamar a atenção para o diagnóstico de CPPD. A dor é de caráter mecânico, piora no fim do dia, com o uso da articulação e há rigidez matinal de curta duração. Pode haver grave osteoartrite de joelho associada em cerca de 50% dos casos, com um acometimento mais grave do compartimento femorotibial lateral. O diagnóstico da doença associada à apatita é um desafio, pois os cristais de BCP não são identificáveis à microscopia óptica com luz polarizada. Ocorrem elevações moderadas de provas inflamatórias em alguns casos, mas alterações laboratoriais marcantes não são esperadas na doença por depósito de apatita. O líquido sinovial é, em geral, nãoinflamatório, com menos de 1.000 cél/mm³, podendo ter um aspecto leitoso ou até mesmo, hemorrágico. Além da típica artropatia destrutiva do ombro (Milwaukee), deve-se suspeitar de doença por depósito de apatita em pacientes com calcificação periarticular, sobretudo nos sítios mais comuns O tratamento é sintomático: Repouso da região afetada, AINEs e corticosteroide local (intra ou periarticular). A colchicina pode ser uma alternativa, apesar da ausência de evidências. A fisioterapia mantém a mobilidade da área afetada e alivia os sintomas álgicos. A extração cirúrgica de grandes depósitos periarticulares de cristais também pode ser tentada, em casos mais graves e refratários.
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