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Cirurgia maxilo-facial Aula 10 – Cirurgia pré-protética Princípios de avaliação do paciente e plano de tratamento Antes de qualquer tratamento cirúrgico ou protético, por meio da avaliação, devem-se observar os problemas a serem resolvidos e detalhar o plano de tratamento a ser desenvolvido para cada paciente. É imperativo que nenhum procedimento cirúrgico preparatório seja realizado sem o claro entendimento do projeto desejado da prótese final. O tratamento cirúrgico pré-protético deve iniciar-se por meio da anamnese e do exame físico do paciente. Um importante aspecto da anamnese é obter a clara idéia da queixa principal do paciente e a expectativa do tratamento cirúrgico e protético. As metas estéticas e funcionais do paciente devem ser anotadas cuidadosamente e deve-se determinar se essas expectativas podem ser alcançadas. A avaliação do estado de saúde geral do paciente é especialmente importante quando considerarmos técnicas cirúrgicas pré-protéticas mais avançadas, pois muitas abordagens descritas necessitam de anestesia geral, sítio cirúrgico doador para retirar o material de enxerto autógeno, e múltiplos procedimentos cirúrgicos. Atenção específica deve ser dada a possíveisdoenças sistêmicas que podem ser responsáveis pelo grande aumento da reabsorção óssea. Testes laboratoriais, tais como nível de cálcio no sangue, fosfato, hormônio da paratireoide e fosfatase alcalina, podem ser usados na identifi cação do potencial de problemas metabólicos que podem afetar a reabsorção óssea. Fatores psicológicos e a adaptabilidade do paciente são importantes determinantes da habilidade deste para receber adequadamente tratamentos com prótese total ou parcial. Informação de sucesso ou falha com prótese prévia pode ser útil para determinar a atitude do paciente e a adaptabilidade ao tratamento protético. A anamnese do paciente deve conter informações importantes, como riscos do paciente para cirurgias, com particular ênfase em doenças sistêmicas que podem afetar a cicatrização óssea e do tecido mole. 1. Avalliação do tecido ósseo de suporte O exame do osso de suporte deve incluir a inspeção visual, palpação,exame radiográfico, e, em alguns casos, avaliação de modelos. Anormalidades do osso remanescente podem frequentemente ser observadas durante a inspeção visual; entretanto, devido a reabsorção óssea e localização de músculos ou inserção de tecido mole, muitas anormalidades ósseas podem ser mascaradas. A palpação de todas as áreas da maxila e mandíbula, incluindo a área de suporte da prótese e a área vestibular, é necessária. 2. Avaliação do tecido mole de suporte A avaliação da qualidade do tecido de suporte da prótese e do rebordo ósseo sobrejacente é de extrema importância. A quantidade de tecido ceratinizado firmemente aderido ao rebordo alveolar subjacente na área de suporte da prótese deve ser diferenciada do tecido pouco ceratinizado ou do tecido livremente móvel. A palpação revela o tecido fi broso não-aderido inadequado para a estabilidade da base da prótese total. 3. Plano de tratamento Antes de qualquer intervenção cirúrgica, deverá ser formulado o plano de tratamento do paciente, identifi cados os problemas orais. O dentista responsável pela confecção da prótese deve assumir a responsabilidade de buscar uma consulta cirúrgica, quando necessário. Recontorno do rebordo alveolar 1. Alveoloplastia simples associada à remoção de múltiplos dentes A forma mais simples de alveoloplastia consiste na compressão das paredes laterais do alvéolo dentário após a remoção de um simples dente. Em muitos casos de uma simples extração de um dente, a compressão digital do sítio da extração já promove o contorno adequado do osso subjacente, não gerando nenhuma irregularidade grosseira que é encontrada após a extração. Quando múltiplas irregularidades são encontradas, um recontorno mais extenso frequentemente se faz necessário. 2. Alveoloplastia intrasseptal Uma alternativa para remover as irregularidades do rebordo alveolar pela técnica da alveoloplastia simples é o uso da técnica de alveoloplastia intrasseptal, ou técnica de Dean, que envolve a remoção do osso intrasseptal e o reposicionamento do osso cortical vestibular, em vez da remoção de áreas irregulares excessivas ou do córtex vestibular. Essa técnica é mais bem utilizada em áreas nas quais o rebordo é de contorno relativamente regular e altura adequada, porém apresenta uma depressão no fundo do vestíbulo, devido à confi guração do rebordo ósseo. Essa técnica pode ser concluída no momento da remoção dos dentes ou no período pós-operatório de cicatrização inicial precoce. 3. Redução da tuberosidade maxilar (tecido duro) O excesso horizontal e vertical da área de tuberosidade maxilar pode ser resultado de um excesso ósseo, de um aumento na espessura do tecido mole que recobre o osso, ou devido a ambos. A radiografia pré-operatória ou uma sondagem seletiva com agulha da anestesia local são frequentemente utilizadas para determinar a extensão pela qual o tecido ósseo e o tecido mole contribuem para esse excesso e para localizar o assoalho do seio maxilar. O recontorno da área da tuberosidade maxilar pode ser necessário para remover irregularidades do rebordo alveolar ou para criar espaço adequado interarcos, o que permite posterior confecção de uma prótese total apropriada na área posterior. 4. Exostose vestibular e irregularidades ósseas excessivas 5. Exostose palatina lateral O aspecto lateral da abóbada palatina pode ser irregular devido à presença de exostose palatina lateral. Isso leva a problemas na confecção da prótese total devido às depressões criadas pela exostose e pela estreita abóbada palatina. Ocasionalmente, essas exostoses são tão grandes que a mucosa que recobre a área torna- se ulcerada. 6. Redução do rebordo milo-hioideo Uma das áreas mais comuns que interferem em uma adequada confecção da prótese total na mandíbula é a área do rebordo milo-hioideo. Em adição ao real rebordo ósseo alveolar, com umamucosa fina facilmente danifi cável, a inserção muscular nessa área é frequentemente responsável pelo deslocamento da prótese total. Quando esse rebordo alveolar é extremamente afilado, a pressão da prótese total pode causar signifi cativa dor nessa área. 7. Redução dos tubérculos genianos Logo que a mandíbula começa a apresentar reabsorção, a área de inserção do músculo genioglosso na porção anterior da mandíbula pode se tornar cada vez mais proeminente. Em alguns casos, os tubérculos podem funcionar como uma prateleira contra a qual a dentadura pode ser confeccionada, mas isso usualmente requer redução para a confecção adequada da prótese. Antes da decisão de remover essas proeminências, é preciso considerar a possibilidade do possível aumento da porção anterior da mandíbula, em vez de redução dos tubérculosgenianos. Se o aumento for o tratamento preferido, o tubérculo deve ser deixado para dar suporte ao enxerto nessa área. Remoção de toros 1. Toros maxilares Os toros maxilares consiste em formação de exostose na área do palato. A origem do toros maxilares é desconhecida. Toros são encontrados em 20% da população feminina, aproximadamente duas vezes a prevalência na população masculina. Os toros podem ter múltiplas formas e confi gurações, variando entre uma simples suave elevação até formas multiloculadas de massas ósseas pedunculadas. Os toros apresentam poucos problemas quando a dentição maxilar está presente e apenas ocasionalmente interferem na fala ou se tornam ulcerados devido ao frequente traumatismo ao palato. Entretanto, quando a perda dos dentes necessita de confecção de prótese total ou parcial, os torosfrequentemente interferem no adequado desenho e na função das próteses. Quase todos os toros maxilares devem ser removidos antes da confecção da prótese total ou parcial. Pequenos toros podem frequentemente ser permitidos, devido a eles não interferirem na confecção da prótese ou função. Contudo, pequenos toros precisam ser removidos quando eles são irregulares, com depressões extremas, ou em áreas onde o selamento posterior da prótese total deve ser esperado. 2. Toros mandibulares Os toros mandibulares são protuberâncias ósseas na região lingual da mandíbula que usualmente ocorrem na área dos pré-molares. A origem dessa exostose óssea é desconhecida, e sua dimensão pode aumentar lentamente de tamanho. Ocasionalmente, toros extremamente grandes podem interferir na fala normal e na função da língua durante a alimentação, porém o toro raramente necessita ser removido quando os dentes estão presentes. Após a remoção dos dentes inferiores e antes da confecção da prótese total ou parcial, a remoção do toro pode ser necessária para facilitara confecção da prótese. Anormalidades do tecido mole 1. Redução da tuberosidade maxilar O objetivo principal da redução do tecido mole da tuberosidade maxilar é promover um sufi ciente espaço interarcos para uma confecção adequada da prótese na região posterior da maxila e uma base firme de mucosa com consistente espessura sobre a área de suporte da prótese no rebordo ósseo alveolar. A redução da tuberosidade maxilar pode requerer a remoção de tecido mole e de tecido ósseo para atingir o resultado desejado. 2. Redução do coxim retromolar mandibular 3. Excesso de tecido mole palatino lateral O excesso de tecido mole na região lateral da abóbada palatina frequentemente interfere na adequada confecção da prótese total. Assim como anormalidades ósseas dessa área, a hipertrofia do tecido mole frequentemente estreita a abóbada palatina e cria ligeira depressão, o que interfere na confecção e inserção da prótese total. 4. Tecido mole não-suportado com hipermobilidade O tecido com excessiva hipermobilidade sem infl amação no rebordo alveolar é geralmente resultado da reabsorção do osso subjacente, de próteses mal confeccionadas, ou de ambas. Antes da excisão desse tecido, a determinação de se o osso subjacente deve ser aumentado através de enxertos deve ser feita. Se a deficiência óssea é a causa primária do excesso de tecido mole, o aumento do volume ósseo subjacente deve ser o tratamento de eleição. Se altura adequada de tecido ósseo permanecer após a redução de tecido mole excessivo, a excisão pode ser indicada. 5. Hiperplasia fibrosa inflamatória A hiperplasia fi brosa infl amatória, também chamada de epulis fissurata ou fibrose por dentadura, é geralmente um aumento hiperplásico da mucosa e do tecido fi broso ao rebordo alveolar e na área vestibular, que muito frequentemente é resultado de próteses mal adaptadas. Em estágios iniciais de hiperplasia fi brosa, quando a fibrose é mínima, o tratamento não-cirúrgico com a prótese em combinação com um condicionador de tecido é frequentemente suficiente para redução ou eliminação desse tecido. Quando essa condição permanece presente por algum tempo, há fibrose significativa dentro do tecido hiperplásico. Esse tecido não responde ao tratamento não- cirúrgico; a excisão do tecido hiperplásico é o tratamento de escolha. 6. Frenectomia labial A inserção do freio labial consiste em uma fi na banda de tecido fibroso coberto com mucosa, estendendo-se do lábio e da bochecha ao periósteo alveolar. O nível da inserção do freio pode variar da altura do vestíbulo à crista óssea do rebordo alveolar e até à papila incisiva na região anterior da maxila. Com exceção do freio labial da linha média em associação com a presença de diastema, as inserções de freios geralmente não apresentam problemas quando a dentição está presente. Contudo, a confecção de próteses pode ser complicada quando é necessária a acomodação da prótese na área de inserção do freio. O movimento do tecido mole adjacente à região do freio pode criar desconforto e ulceração e pode interferir no selamento periférico e deslocar a prótese. 7. Frenectomia lingual Uma inserção anormal do freio lingual usualmente consiste em mucosa, com tecido conjuntivo fi broso denso, e, ocasionalmente, em fibras superiores do músculo genioglosso. Essa inserção prende a ponta da língua à parte posterior da superfície do rebordo alveolar da mandíbula. Mesmo quando nenhuma prótese é necessária, tal inserção pode afetar a fala. Após a perda dos dentes, essa inserção do freio interfere na estabilidade da prótese, pois a todo momento que a língua é movimentada, a inserção do freio é tensionada e a prótese é deslocada. Dentaduras imediatas A decisão pode ser tomada para colocar dentaduras no momento da remoção dos dentes e recontorno ósseo. A imediata colocação de uma dentadura após a cirurgia pode funcionar como uma férula para o sítio cirúrgico, que pode resultar em redução do sangramento e edema pós-operatórios e ainda promover adaptação do tecido ao rebordo ósseo alveolar. Preservação do rebordo alveolar Aumento mandibular 1. Aumento da borda superior O aumento da borda superior com enxerto ósseo é frequentemente indicado quando uma severa reabsorção da mandíbula resulta em altura e contorno inadequados e potencial risco de fratura, ou quando o plano de tratamento requer instalação de implantes em áreas de altura ou largura ósseas insuficientes. Distúrbios neurossensoriais de deiscência do nervo alveolar inferior no ponto do forame mentoniano no aspecto superior da mandíbula também podem ser corrigidos com essa técnica. Aumento maxilar 1. Enxerto ósseo aposicional O enxerto ósseo aposicional maxilar é indicado primeiramente quando uma reabsorção severa do alvéolo maxilar é observada como resultado da ausência clínica do rebordo alveolar e perda de uma adequada forma da abóbada palatina. 2. Enxerto ósseo interposicional O enxerto ósseo interposicional maxilar mantém o suprimento sanguíneo na região reposicionada da maxila e geralmente resulta em maior previsibilidade com pouca reabsorção pós- operatória. O enxerto ósseo interposicional na maxila é indicado em casos de maxilas muito defi cientes, onde a abóbada palatina é encontrada com formato adequado, mas a altura do rebordo é insuficiente (particularmente na crista zigomática e na área da tuberosidade maxilar e quando existe excessiva distância interarcos). A discrepância ântero-posterior e transversal entre a maxila e a mandíbula pode ser corrigida com a técnica de enxerto maxilar interposicional. 3. Elevação do seio maxilar A reabilitação da maxila utilizando implantes é frequentemente problemática devido à extensão do seio maxilar na área do rebordo alveolar. Em muitos casos, o tamanho real e a configuração da maxila são satisfatórios em termos de altura e largura da área de rebordo alveolar. Entretanto, a extensão dos seios maxilares próximos ao rebordo alveolar pode interferir na instalação de implantes na área posterior da maxila devido ao suporte ósseo insuficiente. A cirurgia de elevação de seio maxilar é um procedimento de aumento ósseo em que o material de enxerto é colocado no interior do seio maxilar e aumenta o suporte ósseo na área do rebordo alveolar. Distração do rebordo alveolar Traumatismo, defeitos congênitos e ressecções por condições patológicas ósseas frequentemente criam defeitos ósseos inadequados para reconstrução imediata com implantes. Consideráveis defeitos de tecido mole, incluindo perda de gengiva inserida ou mucosa, frequentemente acompanham a discrepância óssea.A distração osteogênica tem sido utilizada para corrigir essas deficiências alveolares A distração osteogênica envolve um corte com osteotomia do rebordo ósseo alveolar. Cirurgia de tecido mole para aumento do rebordo mandibular 1. Vestibuloplastia com retalho transposicional 2. Procedimentos para aumento do vestíbulo e assoalho da boca Cirurgia do tecido mole para aumento do rebordo maxilar 1. Vestibulomplastia submucosa 2. Vestibuloplastia maxilar com enxerto tecidual Correção das relações anormais do rebordo 1. Cirurgia alveolar segmentar em pacientes parcialmente edêntulos 2. Correção de anormalidades esqueléticas em pacientes totalmente edêntulos No caso do paciente totalmente edêntulo cujas maxila e mandíbula, ou ambas, são reposicionadas, o resultado estético facial deve ser considerado com o resultado funcional da reposição dos rebordos alveolares. Modelos de estudo com as mudanças cirúrgicas simuladas, traçados cefalométricos preditivos e a opinião de clínicos experientes são necessários para determinar a posição dos arcos desejada no pós- operatório.
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