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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR
MILLENA DA SILVA HERNANDEZ
	
 PROGRESSÃO DE REGIME: REINCIDÊNCIA GENÉRICA OU ESPECÍFICA 
 			
UMUARAMA 
2021
 PROGRESSÃO DE REGIME: REINCIDÊNCIA GENÉRICA OU ESPECÍFICA 
Trabalho apresentado ao curso de Direito, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Flávio Henrique Franco de Oliveira.
UMUARAMA
2021
Autora:
Nome: Millena da Silva Hernandez
Curso: Direito R.A.: 00200171
CPF: 	091.831.349-05			 R.G.:13.001.653-7 SSP/PR
End. Res.: Rua João de Rezende, 98, Centro, Cruzeiro do Oeste/PR
Fone: +55 (44)9.9938-5110
E-mail: millena.h@edu.unipar.br
Professor Orientador:
Nome: Flávio Henrique Franco de Oliveira
Titulação: Mestre em Ciências Penais
End. Res.: Rua Ilhas Gregas, 7040, Umuarama-PR
Fone: +55 (44) 9 98836090
E-mail: flaviofranco@prof.unipar.br
FICHA DE AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CURSO
Critérios:
 Considerando que a supressão da apresentação oral do Trabalho de Curso (TC) não significa critérios aleatórios para atribuição da nota pelo Professor Orientador, relaciona-se às questões de avaliação de acordo com o Art. 23 do Regulamento Geral das Atividades de Elaboração do Trabalho de Curso do Curso de Graduação em Direito, as quais deverão servir de parâmetros orientadores para atribuição da nota.
I Etapa - ENTREGA DO PROJETO NO LABJUR. Análise do levantamento bibliográfico (mínimo de cinco obras) realizado pelo aluno em consonância com o tema proposto e discutido com o Professor Orientador, com peso de até 1,0 (um vírgula zero) na composição da nota final;
	
 
II Etapa - DESENVOLVIMENTO TOTAL DO TEXTO; linhas gerais do desenvolvimento do trabalho com base no levantamento bibliográfico, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;
	
III Etapa - INTRODUÇÃO, CONCLUSÃO, REFERÊNCIAS, RESUMO e ABSTRACT término do desenvolvimento do trabalho conforme item anterior, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;
	
IV Etapa - RESUMO EXPANDIDO (resumo é diferente de resumo expandido- apresentação obrigatória no congresso, em data a ser definida pela coordenação do curso), com peso de até 3,0 (três vírgula zero) na composição da nota final.
	
V Etapa - ARTIGO JURÍDICO COMPLETO - análise geral do trabalho: conteúdo e apresentação escrita (organização sequencial, relevância do tema e correção gramatical) do trabalho, de acordo com as normas para publicação, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;
	 
	
NOTA FINAL DO TC
	
	
	
APROVADO(A)
	
	
	
	
REPROVADO(a)
 
	
TÍTULO DO ARTIGO
	 
PROGRESSÃO DE REGIME: REINCIDÊNCIA GENÉRICA OU ESPECÍFICA
	
O trabalho será encaminhado para publicação pelo(a) professor(a) orientador(a)?
	
SIM
	
	
	
NÃO
	 
	ACADÊMICA:
	MILLENA DA SILVA HERNANDEZ
	
	R.A.
	00200171
	SÉRIE
	4.ª
	A( ) B( X )
	
	
	
	5.ª
	A( ) B( )
	
	
	PERÍODO
	Matutino
	
	
	
	
	Noturno
	X
	ORIENTADOR:
	FLÁVIO HENRIQUE FRANCO DE OLIVEIRA
	
PROGRESSÃO DE REGIME: REINCIDÊNCIA GENÉRICA OU ESPECÍFICA
RESUMO: Objetivou-se com este estudo analisar a mudança promovida pela Lei nº 13.964/2019, alcunhada de “Pacote Anticrime”, com relação à ampliação e reforma das regras para progressão do regime de cumprimento de pena aos condenados por crimes hediondos ou equiparados, sobretudo ao que tange a reincidência. Isto porque, anteriormente a progressão de regime em caso de crimes hediondos acontecia com o cumprimento da fração de 2/5 da pena para agentes primários e 3/5 da pena para reincidente, não fazendo distinção entre reincidência genérica ou específica. Com a nova redação do artigo 112 da Lei de Execução Penal, determinou-se uma nova interpretação da reincidência; se específica ou genérica. Assim, através desta pesquisa de revisão bibliográfica, utilizando-se dos métodos dedutivo, lógico, sistemático, histórico e analítico, concluiu-se que, a nova interpretação do requisito progressão do regime de cumprimento apresenta algumas inconsistências. Nesse contexto, destaca-se que o legislador, quando passou a reconhecer a reincidência especifica, impôs aos operadores do direito a colocação de indivíduos desiguais em situações semelhantes. Portanto, entende-se necessário a revisão das alterações decorrentes da nova lei na sistemática da progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados para fim de visualizar a figura do agente primário com as peculiaridades que lhe cabe.
PALAVRAS-CHAVE: Crime Hediondo. Lei de Execuções Penais. Pacote Anticrime.
Progressão de Regime.
REGIME PROGRESSION: GENERIC OR SPECIFIC RECURRENCE
ABSTRACT: The objective of this study was to analyze the change promoted by Law No. 13.964/2019, nicknamed "Anti-Crime Package", in relation to the expansion and reform of the rules for the progression of the sentence serving regime to those convicted of heinous or similar crimes, especially to which concerns recidivism. This is because, previously, the progression of the regime in the case of heinous crimes occurred with the fulfillment of a fraction of 2/5 of the penalty for primary agents and 3/5 of the penalty for repeat offenders, making no distinction between generic and specific recidivism. With the new wording of article 112 of the Penal Execution Law, a new interpretation of the recidivism was determined; whether specific or generic. Thus, through this literature review research, using deductive, logical, systematic, historical and analytical methods, it was concluded that the new interpretation of the requirement progression of the compliance regime presents some inconsistencies. In this context, it is noteworthy that the legislator, when it started to recognize the specific recidivism, imposed on the operators of the right to place unequal individuals in similar situations. Therefore, it is considered necessary to review the changes arising from the new law in the systematic progression of the regime in heinous and similar crimes in order to visualize the figure of the primary agent with the peculiarities that it is responsible for.
Keywords: Heinous crime. Criminal Execution Law. Anti-Crime Package.
Regimen progress.
1 INTRODUÇÃO 
	A Lei de Execuções Penais propõe um sistema progressivo de execução das penas privativas de liberdade, possibilitando a devolução gradativa de liberdade ao condenado e o cumprimento da reprimenda em regimes mais brandos quando alcançados os requisitos exigidos para tal. 
Com o advento da Lei nº 13.964/2019 o requisito objetivo para obtenção da progressão do regime de cumprimento de pena sofreu consideráveis alterações, especialmente com relação aos crimes hediondos.
Saliente-se que, anteriormente, a progressão de regime em caso de crimes hediondos se daria mediante o cumprimento da fração de 2/5 da pena para agentes primários e 3/5 da pena para reincidentes. Não se fazia distinção entre reincidência genérica ou específica. Atualmente, em breve síntese, os lapsos temporais para a progressão do regime de cumprimento de pena são os seguintes: a) 40%, para o réu primário e 60% para o reincidente em crime hediondo ou equiparado; b) 50%, para o réu primário e 70% para o reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional em ambos os casos. 
Ocorre que ao fazer menção ao reincidente em crime hediondo, a nova lei deu abertura para o surgimento de conflitos acerca do tema.
Desta maneira, este trabalho visa revelar as divergências acerca da aplicabilidade da reincidência específica no âmbito da execução da penal, bem como, essa situação pode interferir na progressão do regime de cumprimento de pena, observando os entendimentos doutrinários, as jurisprudências pátrias e o direito comparado.
	Portanto, esta pesquisa de revisão bibliográfica,idealizada devido ao impasse acerca da nova intepretação do requisito, objetivo para obtenção da progressão de regime, utilizou-se dos métodos dedutivo, lógico, sistemático, histórico e analítico para explorar as consequências da alteração legislativa promovida pelo Pacote Anticrime. 
2 PROGRESSÃO DE REGIME
O Código Penal prevê três regimes para o cumprimento da pena: regime fechado, semiaberto e aberto.
Considera-se regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média, regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, e regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado (MARCÃO, 2010, p. 154).
 O Juiz deverá considerar alguns parâmetros para fixação do regime de cumprimento de pena, entre eles o quantum da pena aplicada. De acordo com a redação do artigo 33, § 2º do Código Penal, para pena superior a 8 (oito) anos deve-se fixar o regime fechado para início do cumprimento da reprimenda. Aquela superior a 4 (quatro) anos e que não supere 8 (oito) anos, o regime inicial poderá ser o semiaberto. E, a pena igual ou menor a 4 (quatro) anos poderá iniciar o cumprimento em regime aberto. (NUCCI, 2019).
No âmbito da execução penal, o instituto da progressão de regime constitui-se na transição do criminoso do regime mais rigoroso ao menos severo. Em concordância o art. 112, caput da Lei de Execuções Penais preceitua o seguinte:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). (BRASIL, 2019, on-line.).
Sobre o sistema progressivo, dispõe Cláudio Brandão (2010, p. 330):
 A ideia central do sistema progressivo radica na diminuição da intensidade da pena, que se dá em face da conduta e do comportamento do recluso. É por este suporte que o Código Penal brasileiro dispõe que a progressão se dará “segundo o mérito do condenado” (art. 33, § 2º, do Código Penal). O apenado irá, assim, do regime mais rigoroso ao regime menos rigoroso até culminar com o livramento condicional, com vistas a possibilidade, gradativamente, restabelecer o contato com a vida em sociedade, tolhido com a segregação oriunda do cárcere.
Assim, o processo de execução é dinâmico, tendo o legislador previsto a possibilidade de o agente iniciar o cumprimento de sua pena em regime mais rígido, alcançando o direito de transitar a regimes menos rigorosos, desde que presentes os requisitos legais. (CAPEZ,2012).
Saliente-se que, a progressão de regime é regulada no Código Penal, o qual estabelece as condições objetiva e subjetiva para o prosseguimento desse agente para o regime menos severo. O requisito objetivo ou temporal refere-se ao cumprimento de uma parcela da pena do regime anterior. Enquanto o requisito subjetivo remete-se ao merecimento do acusado. Conforme destaca Marcão (2021, p. 160): 
[...] a progressão de regime prisional, desde que satisfeitos os requisitos legais, constitui um direito público subjetivo do sentenciado. Integra-se ao rol dos direitos materiais penais. Devem coexistir os requisitos objetivo e subjetivo. Não basta à progressão a satisfação de apenas um deles.
A progressão de regime é direito do apenado e o seu cumprimento deve ser limitado ao expresso em lei, delimitando o poder punitivo do Estado e seus anseios, conforme preceitua o princípio da legalidade (artigo 5°, inciso XXXIX da CF).
Portanto, a progressão de regime é medida necessária por diferentes razões. Isto é, busca promover sua ressocialização de volta a sociedade, preparando-o gradativamente mediante observação de seu comportamento, durante o cumprimento de sua pena.
3 OS CRIMES HEDIONDOS	
Os crimes descritos como hediondos são reconhecidos por provocar sentimento de repulsa perante a sociedade, visto que, são crimes que demandam um clamor social por justiça por infringir diretamente a dignidade da pessoa humana. Nesse sentindo, doutrina Antônio Lopes Monteiro (2015, p.16): “Quando a conduta delituosa estiver revestida de excepcional gravidade, quando o agente revela total desprezo pela vítima, insensível ao sofrimento físico ou moral.”
O artigo 5°, inciso XLIII da Constituição Federal de 1988 trata dos crimes hediondos, mas a definição ficou a cargo da lei ordinária. Frisa-se que a lei n. 8.072/90 não criou novas tipificações de crimes, apenas tornou mais rígidos alguns já existentes, os quais os desdobramentos penais e processuais penais apresentam maior rigor.
A condenação por prática de crime de natureza hedionda ou equiparada, traz o agente inúmeros malefícios. O condenando não tem direito ao indulto, anistia ou graça, por exemplo. Além disso, são considerados lapsos temporais maiores para a progressão de um regime mais severo para um mais brando, bem como para o livramento condicional.
Com a edição da Lei n° 13.964/2019, o rol de crimes hediondos sofreu amplições, passando a constar crimes não antes considerados hedidondos. Afora isso, a Lei trouxe novas regras para a progressão de regime, notadamente com relação à reincidência específica no caso de condenação por crime hediondo. O impacto dessas alterações coloca em discussão a intenção do legislador, tendo em vista que, conforme já mencionado, deu-se nova interpretação ao fenômeno da reincidência. 
4 REINCIDÊNCIA 
Em termos morfológicos, a palavra reincidência “deriva de recidere, que significa recair, repetir o ato, ou seja, incidir novamente na prática delituosa. Ensina Queiroz (2012, p. 453): 
Por força do princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII), segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, só pode ser declarado reincidente quem cometer novo crime depois de transitar em julgado sentença que o tenha condenado por crime anterior (CP, art. 63). A reincidência requer assim o concurso simultâneo de dois requisitos: a) trânsito em julgado de sentença penal condenatória por crime anterior; b) cometimento de novo crime. 
Conforme visto, a reincidência, prevista no artigo 63 do Código Penal, configura-se quando houver a prática de novo crime após a sentença condenatória transitada em julgado que tenha condenado o agente por crime anterior. 
Uma vez reconhecida a reincidência, utiliza-se ela como agravante da pena em processos criminais. Isto porque, o referido instituto foi pensado como uma censura mais grave àquele que, tendo respondido por um crime anterior, persiste na atividade criminosa. 
Para Zaffaroni (2014), existem aqueles que adotam a teoria de que a reincidência representa uma maior periculosidade do agente. E, há quem defenda que a reincidência demonstra uma decisão da vontade do agente mais forte ou dotada de maior permanência. De acordo com Mirabete (2014), o agravamento da pena justifica-se pelo motivo de que a penalidade outrora aplicada se mostrou falha para recuperá-lo ou intimidá-lo, uma vez que, embora punido, tenha voltado a delinquir. 
Percebe- que, a reincidência demonstra indícios de periculosidade do indivíduo, sendo reconhecida, então, como agravante pessoal, de caráter subjetivo (ROCHA, 2007).
Atualmente, a doutrina reconhece quatro espécies de reincidência, sejam elas: a) específica: os crimes praticados pelo agente são da mesma natureza; b) ficta: o novo crime é cometido após a condenação definitivamente, mas antes da extinção da pena imposta pelo crime anterior; b) genérica: os crimes praticados são de naturezas distintas; d) real: ocorre após o indivíduo ter cumprido a totalidade da pena imposta pelo crime anterior e, antes do prazo de 5 anos o agente comete nova infração penal (CUNHA, 2014).
No âmbito da execução de pena, quando reconhecida a reincidência, são observados diversos efeitos deletérios ao agente. O réu reincidente em crime doloso aumenta em um terço a metade o prazo de efetiva privação da liberdade para a obtenção do livramento condicional. No caso de crime hediondo ou equiparado,o lapso temporal aumenta para dois terços. Quando a reincidência é específica em crimes hediondos ou equiparados, resta obstada a concessão do livramento condicional, conforme o art. 83, II, V. do Código Penal
No tocante à progressão do regime de cumprimento de pena, tem-se que a reincidência, anteriormente ao Pacote Anticrime, era observada somente com relação aos agentes condenados por crime hediondos.
O tema tinha respaldo na Lei dos Crimes Hediondos (artigo 2º, §2º, da Lei 8.072/90). O critério temporal, era definido como: dois quintos para o condenado que fosse primário, e três quintos para o condenado reincidente, conforme já dito.
O entendimento era de que a reincidência poderia se dar a partir de qualquer crime para fins de progressão de regime nos crimes hediondos. Fundamentava-se que a lei era clara acerca da especificidade da reincidência, enquanto outros textos legais, quando efetivamente ampliavam a reincidência específica, o exigiam de forma expressa, tais como o inciso V, artigo 83, do Código Penal e parágrafo único do artigo 44 da Lei 11.343/06. 
Todavia, a nova redação do artigo 112 da LEP trouxe à baila outros parâmetros para a evolução na execução penal, delimitando-se a reincidência específica como critério agravador da progressão de regime.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; 
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; 
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; 
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; 
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: 
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; 
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; 
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). (BRASIL, 2019, on-line.).
A nova lei, por óbvio, acabou criando uma novatio legis in mellius. Diante desse conflito de leis, é certo a prevalência daquela que seja mais benéfica ao agente, mesmo que esta não fosse a intenção do legislador, podendo, inclusive, retroagir por força do disposto no Código Penal:
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1984, on-line).
Nesse sentido, Marcão (2021, p. 162), acrescenta que: 
[...] nas situações em que se revelar mais gravosa ao condenado, a nova fração de pena não poderá ser exigida como requisito para a progressão que se refira à condenação por delito praticado antes da sua vigência. Se mais benéfica, deverá ser utilizada como requisito para a progressão. Incide, na primeira hipótese, a regra da irretroatividade da lei mais severa e, na segunda, a retroatividade da lei mais benéfica.
Aliás, este é o entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME). DIFERENCIAÇÃO ENTRE REINCIDÊNCIA GENÉRICA E ESPECÍFICA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DOS LAPSOS RELATIVOS AOS REINCIDENTES GENÉRICOS. LACUNA LEGAL. INTEGRAÇÃO DA NORMA. APLICAÇÃO DOS PATAMARES PREVISTOS PARA OS APENADOS PRIMÁRIOS. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA. PATAMAR HODIERNO INFERIOR À FRAÇÃO ANTERIORMENTE EXIGIDA AOS REINCIDENTES GENÉRICOS. RECURSO NÃO PROVIDO. A Lei n. 13.964/2019, intitulada Pacote Anticrime, promoveu profundas alterações no marco normativo referente aos lapsos exigidos para o alcance da progressão a regime menos gravoso, tendo sido expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/1990 e estabelecidos patamares calcados não apenas na natureza do delito, mas também no caráter da reincidência, seja ela genérica ou específica. Evidenciada a ausência de previsão dos parâmetros relativos aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado, mas reincidentes genéricos, impõe-se ao Juízo da execução penal a integração da norma sob análise, de modo que, dado o óbice à analogia in malam partem, é imperiosa a aplicação aos reincidentes genéricos dos lapsos de progressão referentes aos sentenciados primários. Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que de lege lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei nº 7.210/1984, quanto à hipótese da lacuna legal relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado e reincidentes genéricos, instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso de 3/5, a permitir, então, a retroatividade da lei penal mais benigna. Dadas as ponderações acima, a hipótese em análise trata da incidência de lei penal mais benéfica ao apenado, condenado por estupro, porém reincidente genérico, de forma que é mister o reconhecimento de sua retroatividade, dado que o percentual por ela estabelecido – qual seja, de cumprimento de 40% das reprimendas impostas -, é inferior à fração de 3/5, anteriormente exigida para a progressão de condenados por crimes hediondos, fossem reincidentes genéricos ou específicos. Recurso especial representativo da controvérsia não provido, assentando-se a seguinte tese: É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei nº 13.964/2019, àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante. (REsp 1.910.240-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 26/05/2021, DJe 31/05/2021. (Tema 1084))
O reincidente genérico é aquele que, já tendo sido irrecorrivelmente condenado por crime anterior, persiste na atividade criminosa, entretanto, não há relação entre a natureza dos delitos. Já o agente primário é aquele que não possui, em razão de outro crime, condenação anterior com trânsito em julgado. Veja-se que são situações jurídicas diferentes.
Todavia, o novo entendimento deu igual tratamento às pessoas em situação penal diversa. Isto porque, o Pacote Anticrime coloca em semelhante situação agentes primários e os reincidentes genéricos. 
Nessa toada, cumpre salientar que as alterações trazidas pelo Pacote Anticrime tinham por objetivo o melhor enfrentamento da criminalidade, estabelecendo regras mais rígidas para a progressão de regime ao condenado reincidente em comparação com aquelas destinadas ao primário. Entretanto, seja por irreflexão do legislador, seja por contradição, acabou colocando-os na mesma posição, situação que afronta o princípio da isonomia e o princípio da proporcionalidade, dado que com a interpretação de ambos, resta resguardado o tratamento igual àqueles em semelhante situação e desigual aos juridicamente desiguais.
O art. 5º, caput, consagra que todos são iguaisperante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Deve-se, contudo, buscar não somente essa aparente igualdade formal (consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material, na medida em que a lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Isso porque, no Estado social ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa daquela apenas formalizada perante a lei (Lenza,2009, p. 679).
Semelhantemente, o princípio da individualização da pena; individualizar a pena consiste em adaptar às características do condenado, com o objetivo de atingir a justiça e analisar o condenado individualmente diante da característica de cada um, para que a sua reintegração social seja mais eficaz. A forma de individualizar cada um de acordo com a sua personalidade e, seu comportamento é a maneira mais digna e a que mais valoriza os direitos e garantias dos condenados, visto que, todos são diferentes no fazer e no pensar, consequentemente, tem de haver uma maneira diferente de sancionar cada indivíduo, pois o cumprimento de pena para um não será tão eficaz se a outra pessoa tiver o mesmo cumprimento de pena.
 Assim, embora não haja comprovação de que a punição mais rígida irá diminuir a criminalidade do país, colocar o indivíduo primário na mesma perspectiva que aquele reincidente, confronta a ideia de justiça. 
Outrossim, a reincidência criminal é a consequência direta do não funcionamento da política de ressocialização. Por certo, existem vários fatores que obstam a ressocialização do indivíduo, fazendo-se necessário toda uma logística e readequação do sistema executório para atingir determinado fim e, consequentemente, frear a reincidência. Conquanto, a colocação de agentes reincidentes em situação privilegiada em comparação com aquele não reincidente, não é a medida mais adequada, permitindo-se concluir que o instituto da reincidência perdeu seu caráter repressor, banalizando, portanto, a reiteração criminosa. Deste modo, o que aconteceu foi a apresentação de soluções punitivas, na qual não há o cuidado no que irá refletir no cárcere e na ressocialização do preso. 
Por outro lado, é questionável a situação dos reincidentes específicos em crimes dos quais, somente após vigência do Pacote Anticrime, passaram a ser considerados crimes hediondos (Lenza, 2019). Nessa toada, observa-se a incerteza jurídica, uma vez que a reincidência é especifica, os crimes praticados pelo agente são da mesma natureza, contudo, à época dos fatos que ensejaram a condenação que configura a reincidência, o crime não era classificado como hediondo, como por exemplo, o crime de roubo majorado pelo uso de arma de fogo, enquanto após a vigência do Pacote Anticrime, o mesmo tipo penal passou a integrar o rol dos crimes hediondos.
Assim, em função destes muitos impasses, verifica-se a necessidade de um novo posicionamento do poder legislativo, haja vista que não se pode deixar de aplicar a lei mais benéfica ao reincidente genérico condenado por crime hediondo, uma vez que tal atitude contrairia o ordenamento jurídico, entretanto, não se pode desconsiderar que o agente primário está sendo colocado em situação jurídica igual àquele reincidente na prática criminosa.
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Buscou-se com este artigo analisar o instituto da reincidência e as suas implicações na sistemática da progressão do regime de cumprimento de pena, notadamente em relação àqueles indivíduos condenados por crimes hediondos ou equiparados. 
A reincidência é um instituto pensado para censurar mais rigorosamente aquele sujeito que já sofreu repressão penal e, ainda assim, persistiu na prática delituosa. A sistemática da progressão de regime, por sua vez, é um direito discricionário do apenado e garante que seja ele transferido para regimes mais brandos quando alcança os requisitos, tanto de ordem subjetiva, quanto de ordem objetiva. 
Existe a possibilidade legal para obtenção da progressão de regime prisional, que já passou por diversas mudanças, especialmente com relação aos crimes hediondos. Uma nova mudança não só alterou os lapsos temporais para alcance da progressão de regime, como também trouxe à baila outras circuntâncias como a primariedade, a reincidência, o emprego ou não de violência à pessoa, o caráter hediondo, o resultado morte etc. 
Não é novidade que a natureza hedionda do delito acarreta ao agente algumas desvantagens ao condenado, inclusive nas regras estabelcidas para progressão de regime. Todavia, com o Pacote Anticrime surgiu uma lacuna legistava que possibilitou uma interpretação mais favorável àqueles que, condenados por crimes hediondos, tenham a reicindência genérica reconhecida. Isto porque, embora não fosse a intenção do técnico legislativo reconhecer a reincidência específica, gramaticalmente ele o fez. Ressalta-se que anteriomente não se fazia distinção entre a reincidência específica e a genérica.
Neste cenário, avista-se que a legislação acabou por criar certas desigualdades ao tratar o reincidente comum equitativamente ao agente primário., onde a aplicação ao reincidente genérico traria à baila uma analogia in malam partem, situação vedada pelo ordenamento jurídico. Na mesma perspectiva, a situação daqueles agentes reincidentes específicos em crimes cuja natureza sofreu alteração, haja o reconhecimento de seu caráter hediondo pelo Pacote Anticrime. 
Pelo que foi analisado conclui-se que, restam evidentes os defeitos apontados, razão pela qual entende-se imperioso o aperfeiçoamento da norma em questão, tendo como fundamento o princípio da isonomia e da proporcionalidade, pois, indubitavelmente, todas as leis podem e devem ser aperfeiçoadas.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: encurtador.com.br/jEP01.Acesso em: 10 set. 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.910.240-MG. Relator: Min. Rogerio Schietti Cruz - Terceira Seção, julgado em 26/05/2021. Diário de Justiça Eletrônico. Disponivel em: encurtador.com.br/BELT1. Acesso em: 06 out. 2021.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984: institui a Lei de Execução Penal. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: encurtador.com.br/hAIX6. Acesso em: 01 out. 2021.
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