Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carla Bertelli – 3° Período Broncoaspiração Problema 11 1 – Revisar a Anatomofisiologia da Laringe e Árvore Brônquica. 2 – Compreender a fisiopatologia e manifestações clínicas da broncoaspiração. 3 – Identificar os exames complementares solicitados para diagnóstico da doença. 4 – Citar as orientações que devem ser repassadas aos pais para evitar a broncoaspiração em crianças. Laringe Localizada no nível da quarta até a sexta vértebra cervical, em sua parte superior está conectada com o osso hioide e inferiormente com a traqueia. É responsável por três funções principais: produção de sons, proporcionar uma via aérea aberta e condução do ar e dos alimentos para a via correta. Estrutura: nove cartilagens conectadas por membranas e ligamentos: cartilagem tireóidea, cricóidea, aritenoides, corniculadas, cuneiforme, epiglote, tireóidea. Ligamentos vocais: são responsáveis pela produção do som, seguem anteriormente desde as cartilagens aritenoides até a cartilagem tireóidea (formam as pregas vocais). Entre a abertura das pregas vocais localiza-se a rima da glote – local por onde o ar passa. Pregas vocais falsas: pregas vestibulares, não participam da produção do som. Arvore Brônquica A arvore brônquica consiste na área de condução das vias aéreas inferiores. Ela é formada pelos brônquios, bronquíolos, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos. Podemos classificar o aparelho respiratório em zonas, sendo: 1 - Zona de transporte gasoso: vias aéreas superiores e árvore traqueobrônquica. Função de acondicionar e conduzir o ar até o pulmão. 2 - Zona respiratória: onde efetivamente se realizam as trocas gasosas. Carla Bertelli – 3° Período 3 - Zona de transição: interposta entre as duas primeiras, onde começam a ocorrer trocas gasosas, porém a níveis não significativos. O ar faz o seguinte percurso na inspiração: Cavidade nasal > Faringe > Laringe > Traqueia > Brônquios principais > Brônquios lobares > Brônquios segmentares > Bronquíolos terminais > Bronquíolos respiratórios > Ductos alveolares > Sacos alveolares> Alvéolos > Hematose. Traqueia A traqueia é um tubo constituído de cartilagem e de uma membrana fibromuscular. Possui 13 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro. Ao nível da C6 se divide em brônquios principais direito e esquerdo. Relaciona-se, posteriormente, com o esôfago e lateralmente pela glândula tireoide e os nervos laríngeos recorrentes. A traqueia funciona como condicionadora de ar, não somente como condutora. As vias aéreas são responsáveis por umidificar e aquecer o ar. Então, a traqueia não irá apenas conduzir, mas também condicionar o ar. Cerca de 240 ml/dia são gastos para manter essa umidificação, enquanto que 10% do metabolismo diário é gasto para manter a via aquecida. A traqueia se bifurca em dois brônquios principais. O brônquio principal direito tem cerca de 2,5 cm de comprimento e é mais largo, mais curto e mais vertical que o esquerdo O brônquio principal esquerdo é mais estreito e menos vertical que o direito. Cada brônquio principal (primário) divide-se em brônquios lobares secundários, dois a esquerda e três a direita, e cada um deles supre um lobo do pulmão. Cada brônquio lobar divide-se em vários brônquios segmentares terciários, que suprem os segmentos broncopulmonares. A ingestão de corpos estranhos costuma entrar mais do lado direito, isso acontece devido ao brônquio principal direito ser mais largo e mais vertical que o esquerdo. Geralmente, o paciente irá se queixar de dispneia e poderemos auscultar sibilos unilaterais ou aspirações recorrentes. Carla Bertelli – 3° Período Fisiologia O sistema respiratório é revestido por três fluidos: periciliar, muco e surfactante. O periciliar e muco são componentes do sistema de limpeza mucociliar e recobrem o epitélio das vias condutoras da traqueia aos bronquíolos terminais. Já o surfactante reveste o epitélio dos alvéolos, reduzindo a tensão superficial. As células do epitélio respiratório mantêm o nível do fluído periciliar (uma camada de água e eletrólitos). Muco e partículas inaladas são removidas das vias aéreas pelo batimento rítmico dos cílios no topo do epitélio colunar pseudoestratificado. Cada célula epitelial contém em torno de 250 cílios. As células caliciformes, que ficam entre as epiteliais, produzem muco nas vias aéreas. Nos alvéolos encontramos uma substância predominantemente lipídica, chamada surfactante. A tensão superficial é a força causada pelas moléculas de água entre o ar e o líquido. O efeito da tensão superficial tende a minimizar a área de superfície, tornando muito mais difícil insuflar pulmão. As células responsáveis pela produção do surfactante são as Club cells Na ausência de surfactante a tensão superficial permaneceria constante, e a pressão entre os alvéolos (pressão transmural), necessária para mantê-la naquele volume, seria maior do que em um volume pulmonar menor. O surfactante estabiliza o estado insuflado dos alvéolos por permitir que a tensão superficial se reduza enquanto o alvéolo fica maior. Somado ao surfactante há outro mecanismo, chamado de interdependência, que contribui para estabilizar os alvéolos. Os alvéolos, exceto aqueles da superfície pleural, estão cercados por outros alvéolos. A tendência do alvéolo para se colapsar é oposta pela tração exercida pelos alvéolos a seu redor. Assim, o colapso de um só alvéolo distende e distorce os alvéolos ao redor que, por sua vez, estão conectados a outros alvéolos. Assim, existem os poros de Kohn (pequenas aberturas entres alvéolos adjacentes) e os canais de Lambert (que conectam as vias aperas aos terminais dos alvéolos adjacentes) permitem uma ventilação colateral e impedem o colapso alveolar (que conhecemos como atelectasia). Sistema de Depuração Mucociliar O sistema de deputação mucociliar protege o aparelho inferior captando e removendo os pulmões bactérias e vírus patogênicos inalados, além de material particulado tóxico e não tóxico, como cinzas e poeira. Os três principais componentes desse sistema são duas camadas liquidas, chamadas de fase sol (líquido periciliar) e uma camada de fase gel (camada de muco) e cílios, que estão na superfície das células epiteliais das vias aéreas. Os cílios ficam mergulhados no líquido periciliar e apenas suas extremidades em contato com o muco. Carla Bertelli – 3° Período O muco aprisiona o material inalado, enquanto que o liquido periciliar permite que os cílios se movimentem e seja feita a depuração. Broncoaspiração Broncoaspiração: A aspiração refere-se à inalação de material estranho (secreção orofaríngea, gástrica, sangue, líquidos, alimentos) para o interior das vias respiratórias, abaixo das pregas vocais. Disfagia: dificuldade de deglutição de alimentos ou de líquidos. Microaspiração: Aspiração de pequena quantidade de alimento e/ou secreção e/ou saliva. Espessante: é a substância que aumenta a viscosidade do alimento e pode ser utilizado para todos os líquidos (quentes ou frios), como por exemplo: água, sucos, leite, chá, entre outros. A aspiração broncopulmonar é a entrada de conteúdos endógeno ou exógeno, colonizados por bactérias residentes ou não no tubo digestivo, no trato respiratório inferior (laringe, traqueia, brônquios e pulmões), ocasionando alterações inflamatórias e crescimento bacteriano. As substâncias mais comuns são os resíduos gástricos e as secreções colonizadas contidas na cavidade orofaríngea. As complicações mais comuns são a pneumonia e a pneumonite aspirativa. As vias aéreas superiores apresentam como mecanismo de defesa, o movimento coordenado entre respiração e a deglutição. A coordenação entre o fechamentolaríngeo, a deglutição e o espasmo da laringe ou tosse responde à estimulação da faringe ou laringe. Nas vias inferiores a tosse e o clearence mucociliar desempenham este papel de defesa. Os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da doença pulmonar nos processos aspirativos são: a aspiração direta e o refluxo gastroesófagico (RGE) com aspiração pulmonar. Na aspiração direta, durante o ato de deglutição, o conteúdo da orofaringe atinge as vias aéreas inferiores, promovendo obstrução laríngea ou brônquica e sufocação ou atelectasia maciça. A resposta inflamatória local é alterada pela aspiração de partículas alimentares, havendo influxo de leucócitos polimorfonucleares e formação de granulomas Nas situações de RGE com aspiração pulmonar, ocorre aspiração do conteúdo gástrico refluído; quanto mais baixo for o pH do material, maior serão as alterações estruturais. O aumento da resistência pulmonar total, devido à acidificação esofágica por meio de reflexos vagais é outro mecanismo responsável pelo desenvolvimento da doença no RGE; nesta situação as manifestações respiratórias ocorrem sem que haja aspiração pulmonar do conteúdo gástrico. A presença de ácido no esôfago terminal determina aumento da resistência pulmonar total, observada em pacientes com doenças pulmonares crônicas como asma graves. Carla Bertelli – 3° Período Classificação A aspiração pulmonar pode ser aguda (acidental) ou crônica (habitual). A aspiração aguda pode ocorrer desde o período neonatal até a adolescência. A granulação e a composição do material aspirado são elementos importantes em função das reações orgânicas que ocasionam. Os casos de aspiração crônica podem ocorrer devido a RGE com aspiração do conteúdo gástrico e alimentos, em função de distúrbios da deglutição com predomínio de alimentos, saliva e secreções brônquicas. Doenças neurológicas - coma e epilepsia - onde são aspirados saliva e conteúdo gástrico podem ocasionar casos de aspiração crônica. Outra causa é a síndrome adeno-tonsilo- sinusal, com aspiração de secreções infectadas A síndrome de aspiração também pode ser classificada de acordo com o tipo de material aspirado em: irritativa, infecciosa e obstrutiva. Como síndrome irritativa encontramos as pneumonites químicas por ácido, hidrocarbonetos, óleo vegetal, mecônio, álcool e gordura animal. Na síndrome de aspiração infecciosa ocorre aspiração de saliva e secreções contaminadas, enquanto que as síndromes aspirativas obstrutivas são causadas por afogamento e aspiração de corpo estranho Aspiração de Corpo Estranho Na primeira infância ela ocupa um dos primeiros lugares na patologia acidental e deve ser lembrada pelo pediatra, toda vez que estiver diante de uma síndrome broncopulmonar de causa incerta. A criança pequena tem tendência a colocar objetos na boca e por vezes acidentalmente, aspira estes objetos, podendo ocorrer desde um episódio de engasgo até uma obstrução aguda e fatal das vias aéreas. Sintomas e locais de alojamento Após a aspiração do corpo estranho, ocorre tosse paroxística e apneia em grau variável, com asfixia, levando á morte, dependendo das características do material aspirado tais como: volume, capacidade de lesar os tecidos e tamanhos das partículas. Se ele fica alojado em laringe ou faringe, os sintomas aparecem em tempo variável após o acidente, muitas vezes demorando a se manifestar causando dissociação entre causa e efeito, o chamado “período de silencio” Quando o objeto ingerido tem calibre superior ao dos brônquios, pode ficar livre na traquéia, havendo o risco de o mesmo encravar-se na sub-glote. Nessa situação os sinais de localização não aparecem, ocorrendo tosse, estridor, sibilos e retração simulando um quadro de laringite. Nos casos em que o objeto tem menor calibre a tendência é que ele se fixe no brônquio. De acordo com o calibre do corpo estranho, este pode progredir até o brônquio de menor calibre e após isso se encravar ou mobilizar- se posteriormente A presença de corpos estranhos no esôfago pode causar sintomas respiratórios, pelo fato de que a laringe, traquéia e esôfago constituem uma unidade embriológica e funcional. Quando o corpo estranho ultrapassa o esfíncter esofágico superior, pode ficar retido por estenose esofágica ou por características do próprio corpo estranho, tais como tamanho e forma. Carla Bertelli – 3° Período Quanto ao estado físico dos corpos estranhos, os mais comumente aspirados são sólidos, como brinquedos de materiais plásticos e metálicos, assim como substâncias alimentícias, especialmente vegetais oleosos como amendoim e não oleosos como feijão e milho. Como material liquido são citados leite, material gástrico, mecônio e água doce ou salgada em casos de afogamento; como material gasoso, observa-se principalmente a inalação de fumaça. O grão de amendoim é o corpo estranho encontrado com mais frequência em diversos estudos em várias partes do mundo. No Brasil em revisão de 356 endoscopias respiratórias rígidas realizadas em crianças, este vegetal oleoso também foi o corpo estranho mais encontrado. Um outro aspecto deve ser considerado, como a aspiração do talco usado em lactentes que desenvolve um quadro respiratório agudo e febril que pode evoluir para o óbito, assim como o afogamento que constitui uma das causas mais frequentes de morte acidental infantil. Quadro Clínico O quadro clinico é variado com manifestações como broncopneumonia, atelectasia, bronquiectasia, insuficiência respiratória e morte. Tríade clássica: tosse, chiado e diminuição do murmúrio vesicular -> Tosse e chiados -> 80 a 100% dos casos. Nos pacientes em que acorre a aspiração pulmonar, quatro tipos básicos de sintomas podem ocorrer: apneia, pneumonia aspirativa aguda, doença pulmonar crônica e distúrbios da deglutição. Consideram-se como sinais sugestivos de aspiração, dificuldade no ato da alimentação, presença de leite na boca ou narinas nos intervalos das mamadas, engasgo, vômitos, regurgitações habituais, tosse noturna, cianose e apneia. A presença de tosse e chiados é relatada em 80% a 100% dos casos. Estes aspectos inespecíficos, por vezes constituem os únicos elementos da história clínica. Complicações: alterações inflamatórias, crescimento bacteriano, pneumonia e pneumonite aspiratória, síndrome do desconforto respiratório agudo, exacerbação da asma, lesão pulmonar aguda, morte. Diagnóstico A anamnese é de extrema importância de vez que em 95% dos casos, a tríade engasgo sufocação e tosse, está presente. A história de aspiração de corpo estranho se faz presente em até 85% dos casos; entretanto, em algumas situações o episódio de aspiração não é a queixa principal, sendo necessário uma história dirigida. Os episódios de aspiração broncopulmonar, nem sempre, serão presenciados. Observar quanto às alterações dos sinais e sintomas (dispneia, cianose, tosse, queda da saturação de oxigenação, taquicardia) e evidência radiológica de infiltrados no seguimento broncopulmonar. Como recurso auxiliar de diagnóstico, a radiografia simples do tórax está alterada em 80% dos casos de crianças com corpo estranho radiopaco nas vias aéreas. São observadas imagens de condensação por atelectasia e/ou pneumonia secundaria, além de obstrução parcial que pode originar enfisema. A ressonância magnética tem se mostrado de grande precisão, principalmente, na localização de vegetais fragmentados. Carla Bertelli – 3° Período A confirmação do diagnóstico de aspiração pela via aérea é feita através da endoscopia Grupo de Risco para Broncoaspiração Doença Neurológica: Distrofia muscular, tumor de sistema nervoso central, polineuropatia, acidente vascular encefálico,traumatismos cranianos, doença de Parkinson. Alteração do nível de consciência: escala de RASS (Escala de Agitação e Sedação de Richmond) com pontuação diferente de zero. Intubação Orotraqueal: Permaneceu em IOT (intubação orotraqueal) mais de 48 horas e foi extubado. Uso de dispositivos: traqueostomia, sonda nasoenteral e gastrostomia. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica descompensada: em uso de antibioticoterapia, corticoterapia sistêmica e inalatória, broncodilatador e imunomodulados. Disfagia mecânica: por doença de cabeça e pescoço, buco maxilo facial e traumas de face. Pacientes acamados, idosos e graves Pacientes com nível de consciência rebaixado, disfagia e/ou reflexo de tosse diminuído ou ausente Clientes com refluxo duodeno-gástrico e/ou gastroesofágico pelo uso de alguns medicamentos, tais como: sedativos, teofilina, dopamina, bloqueadores de cálcio, meperidina e anticolinérgicos; por disfunção no esfíncter esofágico inferior e/ou pela diminuição do peristaltismo do tubo digestivo. Pacientes com náuseas e vômitos, tosse persistente e distensão abdominal Pacientes com aumento da pressão intracraniana Pacientes em uso de: cateteres de alimentação (gástrico e enteral), cânula traqueal e ventilação mecânica Pacientes com intoxicação exógena Pacientes em jejum prolongado Pacientes submetidos a procedimentos anestésicos sem o devido jejum Orientações para evitar broncoaspiração Investigar sinais de broncoaspiração: tosse, cianose, queda dos níveis de saturação de oxigênio, dispneia ou apneia, auscultação de crepitações ou sibilos, presença de aspirado traqueal com resíduos gástricos e hipotensão arterial. Comunicar o médico. Após a amamentação, deixe o bebê em pé, no colo, por pelo menos 20 minutos antes de deitá-lo. Na hora de dormir, lembre-se de fazer com que o berço fique um pouco mais alto do lado em que a criança deita a cabeça Os pais devem evitar de dar objetos pequenos as crianças Evitar distrações da criança ao se alimentar Cuidar ao dar balas, pirulitos as crianças sem supervisão
Compartilhar