Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLIPÍDEO • É caracterizada por eventos tromboembólicos, arteriais e venosos, abortamento espontâneo de repetição e a presença de anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico e anti- Beta-2-glicoproteína 1. • É a principal causa de trombofilias adquiridas. • Responde por cerca de 15-20% dos casos de TVP, 1/3 dos AVE em pacientes menores de 50 anos e 10-15% das perdas fetais recorrentes. • Epidemiologia: → Prevalência de 0,3-1% da população geral; → Anticorpos antifosfolípides estão presentes em 30-40% dos portadores de LES → destes 52% desenvolverão a síndrome. → Nem todo mundo que apresentam anticorpos antifosfolípides desenvolvem a síndrome; → Existe dois tipos de SAF: ➢ SAF primária: não vem associada a nenhuma outra doença; ➢ SAF secundária: vem associada a outra doença, sendo a principal o LES. • Fisiopatologia: → A membrana plasmática de todas as células é composta por uma bicamada de fosfolipídios. → A fosfatidilserina (FS) é um fosfolipídio geralmente presente apenas na camada interna, ou seja, voltada para o citoplasma celular. → Entretanto, plaquetas e células endoteliais, quando entram em apoptose, expressam a FS na camada externa de suas membranas, e as células trofoblásticas – constituintes da placenta – expressam a FS na camada externa de maneira constitutiva (isto é, permanentemente). → Quando a FS se apresenta voltada para o lado externo da célula, uma glicoproteína plasmática, a beta-2-glicoproteína-1, se liga a ela imediatamente. → Na presença de algum dos anticorpos antifosfolipídio (aPL), ocorre a fixação do aPL ao complexo FS/beta-2-GP-1. Esse processo é acompanhado de ativação do complemento, que por sua vez promove ativação de células endoteliais e plaquetas, além de induzir a liberação de fator tecidual. → Logo, a ligação antígeno-anticorpo e posterior ativação do complemento promove um estado pró-trombótico que pode resultar no desenlace da cascata de coagulação. Isso acontece por que ocorrerá o aumento da expressão de fatores teciduais na célula endotelial, que irão atrair leucócitos e monócitos, que produzirão citocinas e prostaglandinas (PG-E2). A ativação do complemento culmina com a formação do coágulo. • Manifestações Clínicas: → A SAF é uma trombofilia adquirida, sendo a sua manifestação clínica mais característica a trombose, que pode ocorrer em qualquer sítio (arterial, venoso ou capilar). → Principais sítios de trombose venosa em pacientes com SAF: seios venosos cerebrais; veias pulmonares; veia cava inferior; veia porta e veia hepática; veias renais (desenvolvimento e síndrome de Budd-Chiari); veias superficiais (safena magna e parva) e veias profunda dos MMII. → Principais sítios de trombose arterial em pacientes com SAF: artérias cerebrais; oclusão de artérias da retina; artéria braquial; artérias coronarianas; artéria mesentérica (abdome agudo vascular); artérias das extremidades. → A SAF faz parte do diagnóstico diferencial das tromboses arteriais e/ou venosas, principalmente em pacientes jovens. A manifestação mais comum da SAF é a trombose venosa profunda. A trombose venosa superficial não configura um critério de SAF. → Manifestações não trombóticas: REUMATOLOGIA INTRODUÇÃO Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce ➢ Trombocitopenia (a presença de autoanticorpos na superfície das plaquetas induz sua fagocitose pelos macrófagos esplênicos), anemia hemolítica (Síndrome de Evans – tríade trombose + anemia hemolítica + trombocitopenia). ➢ Endocardite de Libman-Sacks (pode se manifestar com embolia cerebral ou sistêmica, ou com lesão valvar – insuficiência aórtica e/ou mitral). ➢ Livedo reticular (trama reticular na derme, dando uma coloração marmórea à pele do paciente): é sujeito a exacerbações em ambientes com baixas temperaturas, estresse emocional, traumático, cirúrgico, sendo encontrado principalmente nos membros inferiores. ➢ Convulsão. ➢ Encefalopatia. ➢ Coréia. ➢ Mielopatia. ➢ Mononeurite. ➢ Síndrome de Sneddon: é definida pela tríade AVE isquêmico + livedo reticular + anticorpos antifosfolipídio positivos, geralmente observada em pacientes jovens, fora da faixa etária típica de AVE isquêmico. • Diagnóstico: → Anticoagulante Lúpico (LA): representa, na verdade, imunoglobulinas que, in vitro, prolongam algumas provas de coagulação, como o tempo de tromboplastina parcial ativado (PTTa) e os tempos de coagulação induzidos pelo caolim e pelo veneno da víbora Russel (teste mais sensível). O LA apresenta maior especificidade para SAF, porém perde em sensibilidade. → Anticardiolipina (ACL): ele permite a identificação de isotipos específicos de aCL (IgG, IgA e IgM). Os anticorpos IgG estão mais relacionados a eventos trombóticos, enquanto o isotipo IgM tem uma relação mais forte com anemia hemolítica autoimune. IgA não foi relacionado a uma manifestação específica. O anticorpo aCL apresenta maior sensibilidade do que o LA para o diagnóstico de SAF, mas perde em especificidade. Só considera os títulos maiores que 40 (moderado) ou 80 (alto). → Anti-beta-2-GP-1: apresenta maior especificidade que aCL para o diagnóstico de SAF e em até 10% dos casos é o único anticorpo antifosfolipídio presente. • Tratamento: Recomendações do EULAR para manejo da SAF em adultos (2019) OBS.1: Perfil de antifosfolípides de alto risco é quando o paciente é triplo positivo: anticardiolipina, anticoagulante lúpico e anti-beta2-GP-1, mas nunca teve trombo e/ou mortalidade gestacional. Ou paciente com 2 dos 3 autoanticorpos positivos e em altos títulos (>80). Descobre ao acaso. OBS.2: Paciente com LES e sem história de trombose ou morbidade gestacional e com perfil de baixo risco – vou avaliar se ela tem alguma outra comorbidade que possa ser fator de risco para trombo, por exemplo: glomerulonefrite membranosa classe V, tabagista, uso de ACO. Eclâmpsia, pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária quando não associadas à SAF ocorrem após a 34ª semana. Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce OBS.3: levar em consideração outra comorbidade associada que possa ser fator de risco (ex.: cirurgia de grande porte). OBS.4: Na SAF venosa deve-se manter o INR entre 2-3, para isso faz HBPM (Enoxaparina) + Cumarínicos (Varfarina) por 5 dias, no último dia dosa o INR e se estiver no alvo retira a HBPM e deixa a varfarina por tempo indeterminado. OBS.7: antimaláricos, de preferência a Hidroxicloroquina, agem diminuindo a ativação do complemento. OBS.8: AAS só deve ser feita depois da 12-16ª semana de gestação, por que pode induzir o fechamento do ducto arterioso (canal arterial). OBS.9: a ideia de manter a anticoagulação no pós- parto é diminuir o risco de eclâmpsia, uma vez que esta pode complicar como Síndrome Hellp e levar ao óbito materno. Na SAF obstétrica, a dose de HBPM é profilática (40 mg/dia), diferente da SAF trombótica em que a dose é terapêutica. OBS.11: mulheres com SAF trombótico quando não estão grávidas fazem uso diário de varfarina (INR 2-3). Quando engravida passa a utilizar a heparina de baixo peso molecular (Enoxaparina) em dose terapêutica (1 mg/kg, 2x/dia, OU 1,5 mg/kg/dia) até o terceiro trimestre, quando é associada ao AAS até a 6ª semana do pós-parto. Após esse período, suspende-se a AAS, mantém a heparina e adiciona a varfarina até que ela atinja o alvo do INR por dois dias consecutivos e posso ficar somente com a varfarina. A varfarina não é feita durante a gravidez por que se caso ocorrer um parto prematuro, a varfarina demora de 5-7 dias paraperder o efeito. OBS.: As HBPM são mais utilizadas pois com elas pode-se iniciar o cumarínico (varfarina) já no primeiro dia de tratamento, e não é preciso monitorar o PTTa. Com a heparina não fracionada (HNF) é mandatório um ajuste de dose em função do PTTa (que deve ser medido de 6/6 horas) e, neste caso, o cumarínico só pode ser iniciado após obtermos pelo menos 2 PTTa consecutivamente dentro da faixa terapêutica. OBS.: Em casos de risco significativo de sangramento agudo, bem como nos casos em que se prevê a necessidade de interrupção da anticoagulação a curto prazo (ex.: paciente com isquemia enteromesentérica), é preferível iniciar a anticoagulação com HNF, pois existe um antídoto eficaz na reversão imediata da anticoagulação que é o sulfato de protamina. OBS.: Pacientes que desenvolvem trombocitopenia induzida por heparina (HIT) não devem mais usar nenhuma forma de heparina, podendo ser anticoagulados com Fondaparinux (7,5 mg/dia, SC) ou Rivaroxaban (10 mg/dia, VO), ambos inibidores diretor do fator Xa feitos em doses fixas e sem necessidade de monitorização ambulatorial. Vale ressaltar que tais drogas não devem ser utilizadas no contexto gestacional. SAF CATASTRÓFICA • Quando a doença se apresenta de forma aguda e com múltiplas tromboses arteriais e venosas e Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce Diogo Realce em vasos de pequeno e grande calibre em diversos órgãos (pelo menos 3 órgãos). • Os eventos trombóticos podem ocorrer simultaneamente ou com intervalo de dias (1 semana). • Diagnóstico: • Tratamento: → Anticoagulação plena (1 mg/kg, 2x/dia, OU 1,5 mg/kg/dia); → Corticosteroides; → Imunoglobulina; → Plasmaférese; → Rituximabe. Diogo Realce
Compartilhar