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LESÃO REUMÁTICA REUMATOLOGIA 3 Eduardo Siqueira Febre Reumática Doença Endêmica Pós-Sistêmica Sequela tardia de infecção de vias aéreas superiores (faringoamigdalite) por Streptococ- cus pyogenes (ß-hemolítico do grupo A). É uma doença recorrente. Trata-se da 1ª maior causa de doença car- díaca adquirida em crianças e adultos jovens em todo o mundo. Prevalência Países desenvolvidos → 0,1 a 0,4 casos / 1000 crianças Brasil → 1-7 casos / 1000 crianças Doença associada à pobreza e à aglome- ração humana, porém, é passível de preven- ção, tanto primária (evitar o primeiro surto da doença) quanto secundária (evitar surtos re- correntes). Patogênese Infecção da orofaringe - estreptococo ß sorotipos: M1,3,5,6,14,18,19,24,27 e 29 → Depois de 1-5 semanas (período de incuba- ção) → Reação autoimune “cruzada" → anti- corpos contra componentes da bactéria e do tecido envolvido → proteína M; glicoproteínas; n-acetil-ß-d-glucosamina → depende dos bra- ços humoral e celular → secreção de citocinas e autoanticorpos → autoperpetuação exacer- bada → componente genético HLA-D27. Então, temos uma reação autoimune capaz de desencadear inflamação não supurativa do tecido conjuntivo de determinados órgãos e sistemas. FR não é complicação de piodermite, SEMPRE de faringoamigdalite. Reação autoimune - Mimetismo molecular - Reação cruzada com componentes do tecido cardíaco → depende de linfócitos T e B e da produção e secreção de citocina. Epidemiologia Faixa etária 5-15 anos / meninas. Rara antes de 3 anos Não há preferência entre sexos Condições sócio-econômicas Sexo feminino → acometimento maior da válvula mitral e coréia de Sydenham Risco de 1-5% de adquirir a febre reumáti- ca pós infecção da faringoamigdalite não tra- tada. Intensidade clínica do processo infeccioso História prévia (cardite) - risco pode chegar a 50%. Manifestações clínicas Principal: febre + poliartralgia Sintomas constitucionais, marcadores in- flamatórios…com ou sem sopro cardíaco. Sintomas faringeos 20-70% dos casos Surtos primários e recorrentes Período de latência: 2-4 semanas Mínimo de 1 semana e máximo de 5 sema- nas (período de incubação) Em todos os órgãos as lesões são transitó- rias, exceto no coração, onde que costumam ocorrer sequelas, principalmente nas valvas cardíacas esquerdas. Manifestações Sistêmicas Poliartrite não deformante - Representa 60-80% dos casos - Inflamação plena de 1 a 5 dias, que de- saparece, vai para outro punho, e depois vai pra outra articulação. Com duração total de 2-4 semanas - Punhos, ombros, tornozelos, joelhos, co- tovelos - grandes articulações - Poliarticular assimétrica migratória - Crianças pode acometer pequenas arti- culações da coluna vertebral 1 LESÃO REUMÁTICA REUMATOLOGIA 3 Eduardo Siqueira - Síndrome de Jaccoud - deformidades transitórias - Não deixa sequela - Há edema, calor e rubor, e a dor costu- ma ser exuberante, desproporcional aos achados objetivos do exame físico. Cardite Dura em média 2 meses, segundo lugar com maior acometimento. Lesões: - Endocardite (lesão valvar): sempre pre- sente se houver cardite. Acomete 1º mitral e 2º aórtica. Lesão mais comum é a insufici- ência mitral por regurgitação valvar grave, na fase aguda. Nota-se, que a válvula in- flamada perde sua capacidade de se fechar (abrir é moleza), assim não consegue im- pedir a regurgitação, com isso, temos um sopro de regurgitação → lesão aguda. Além disso, a aguda é capaz de deixar uma cicatriz por fibrose ou calcificação a medida que se crônifica (confere alta morbimortali- dade), teremos uma válvula endurecida, que não se abre facilmente, ela fica mais fechada. Assim, na crônica temos uma es- tenose valvar (mitral principalmente) com uma cicatriz da aguda → sopro de ejeção. - Miocardite: maioria assintomática. Clíni- ca de insuficiência cardíaca. - Pericardite: atrito pericárdico / supra ST disseminado / dor torácica. Obs: Lembrar que, o que mata em febre reumática são as complicações cardíacas. Eritema Marginatum (1%) Indolor Sem prurido Migratório, flutua ao longo do dia. Associado à cardite (tem eritema tem que fazer pesquisa de foco cardíaco). Nódulos Subcutâneos (<1%) Indolores e firmes Ocorre necrose fibrinóide com proliferação de histiócitos e fibroblastos. 0,5 a 2 cm (tamanho de uma ervilha) Sem sinais inflamatórios Duram no máximo 1 mês Associados à cardite ENDOCARDITE E VALVULITE - Sopros 80% dos ca- sos - Aguda (insuficiência mitral) - Carey-Coombs (es- tenose mitral-simile- hiperfluxo na válvula mitral inflamada) - Crônica (estenose mitral) - Insuficiência aórtica MIOCARDITE REUMÁTICA - Subclínico na sua maioria - Dispneia aos esfor- ços e cansaço - ICC - cintilografia com gálio 67 - Nódulos ou cor- púsculos de As- choff - 80-90% dos casos - patognomô- nico de FR ALTERAÇÕES DO SISTEMA DE CONDUÇÃO - ECG: alargamento do intervalo PR (BAV 1º grau) - Menos comuns BAV de 2º e 3º grau - Taquiarritimias su- praventriculares PERICARDITE REUMÁTICA - 5-10% dos casos - Assintomát ica na sua maioria - Derrame ao Eco - ECG - Atrito pericárdico - Dor pré-cordial - Anátomo patológico - em pão com man- teiga. PANCARDITE 2 LESÃO REUMÁTICA REUMATOLOGIA 3 Eduardo Siqueira Não são aderidos a planos profundos, são móveis. Coreia de Sydenham (20%) Manifestação neurológico → núcleos da base cerebral que são responsáveis por mo- dular os movimentos. 1 a 6 meses após FR aguda. Diferentes formas: antes de outros sintomas e após ou- tros sintomas. Principal causa de COREIA na infância Movimentos bruscos e fora de propósito (extremidades e face) - pode acometer todo o corpo, inclusive dificuldade da fala. Mais comum em meninas Melhora com o repouso e piora com es- tresse. É o oposto da síndrome parkinsoniana (pa- ciente mole e cheio de movimentos bruscos - diferente da síndrome) → hipotônica e hiperci- nética. Labilidade emocional (pode ter comporta- mento obsessivo-compulsivo). Sem sequelas motoras. Exame físico → “mão de ordenha” e fas- ciculação de língua. Laboratório Questão inflamatória Os reagentes da fase aguda - PCR ( > 3 mg/dl): No 1º dia já aumenta e é o 1º que normaliza. Vai depender então do momento que estamos analisando o pa- ciente. - VHS (> 30 mm/h): 2º que aumenta e normaliza com o tratamento. - Mucoproteína (alfa-1glicoproteína ácida e mucoproteína B). Aumenta depois do VHS e PCR e só normaliza com o término da in- flamação, inclusive cardite. Bom exame para acompanhar o paciente. - Outros: leucocitose neutrofílica - desvio à esquerda, anemia, aumento de transamina- ses… Provas imunológicas Avaliação da infecção estreptocócica re- cente: - Antiestreptolisina (ASLO): principal au- toanticorpo; Elevação → 1 semana após a infecção; Coincidindo seu pico com o sur- gimento da poliartrite e da cardite reumáti- ca; Título > 333 unidades Todd; Duração → 1-6 meses após o término da atividade reumática. - Anti-DNAse B → elevado por mais tem- po. - Anti-hialuronidase Diagnóstico 2 Maiores OU 1 Maior + 2 Menores + 1 Critério Obrigatório CRITÉRIOS DE JONES MODIFICADOS CRITÉRIOS MAIORES CRITÉRIOS MENORES CRITÉRIOS OBRIGATÓRIOS Poliartrite 60-80% dos casos Artralgia Infecção recente - Estreptococo ß hemolítico do grupo A Cardite - Valvulite - Miocardite - Pericardite 50% dos ca- sos Febre Sorologia + - Anticorpo anti- enzima estrep- tocócica - ASLO Aumento dos títu- los Eritema marginatum < 5% dos ca- sos Reagentes de fase aguda - PCR-T - VHS Cultura positiva - Orofaringe Nódulos subcutâneos < 5% dos ca- sos ECG Alargamento do intervalo PR Teste rápido - Antígeno estreptocócico Coréia de Sydenham 20% dos ca- sos História - Escarlatina (ou- tro critério ?) CRITÉRIOS DE 20153 LESÃO REUMÁTICA REUMATOLOGIA 3 Eduardo Siqueira **Coreia isolada (ou típica) = Febre Reumá- tica Obs: Febre reumática recorrente (em quem já teve) ou em regiões de alto risco como o Brasil vale para diagnóstico também 3 critérios menores (diagnóstico novo). Tratamento Fase aguda Erradicação do S.pyogenes: para evitar reinfecção e transmissão da bactéria para a comunidade. Penicilina G Benzatina IM dose única. - 1.200.000 U se peso > 20 kg - 600.000 U se peso ≤ 20 kg - Alérgicos podem receber Eritromicina 500 mg VO por 10 dias. A ATB terapia não interfere no curso da FR já estabelecida, tampouco diminui o risco de cardite. Não existe indicação de amigdalectomia como profilaxia (primária ou secundária) da febre reumática. Artrite → AAS, Naproxeno (salicilatos) Cardite → Corticoide (VO ou pulso). Na medida em que o paciente desenvolver sinais e sintomas da insuficiência cardíaca congesti- va, o tratamento de suporte deverá ser pres- crito conforme a necessidade: restrição hi- drossalina, diureticoterapia de alça, inotrópi- cos (ex: digital, dobutamina), suporte de oxi- gênio. Coreia → Benzodiazepínico; Fenobarbital; Haloperidol; Ácido valpróico; Carbamazepina; + Corticoide. Profilaxia Aqui entramos na questão de que o pacien- te com infecção de garganta deve ser trata- mento precoce, para erradicar o S.pyogenes evitando que ele faça uma reação cruzada até chegar no desfecho uma Febre Reumática. É muito melhor para o paciente trata-lo preco- cemente do que o contrário, pois é uma doen- ça que pode ser previnida. O paciente que já teve 1 episódio de febre reumática, aumenta as chances de um novo episódio, e quanto mais episódios pior é a do- ença. Primária Nunca teve febre reumática e não quer ter. - Até 9 dias de infecção, mesmo que haja dúvida se é viral ou bacteriana, passando disso não tem mais benefício. - Penicilina G benzatina IM dose única. Secundária Já teve um episódio, mas não quer ter no- vamente. E quem já teve, tem maior risco de ter outra vez. - Penicilina G benzatina IM de 21/21 dias. Até quando? Aqui vai depender se teve manifestações da febre reumática ou não. Se alérgico → Eritromicina diariamen- te. 1- Sem Cardite: até 21 anos de idade OU mínimo de 5 anos após o último surto. Aqui entra o que for maior. Ex: Pacientes com 10 anos de idade, toma até 21 anos. Ex: Paciente com 18 anos de idade, toma até 23 anos. Nesse caso, o que for o maior em número de anos é o melhor tratamento. 2- Com Cardite leve curada ou insufici- ência mitral: Até 25 anos de idade OU míni- mo de 10 anos após o último surto. 3- Lesão Valvar residual moderada ou grave: Até 40 anos de idade OU toda vida. Ex: Paciente que trabalha com escolares (contato frequente com o patógeno) → toda vida, ou troca de trabalho kkkk Ex: Paciente que trabalha com programa- ção, não tem contato com crianças, tem risco baixo → até 40 anos de idade. 4 Manifestações Sistêmicas
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