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Literatura Hispânica II

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Prévia do material em texto

2019
Literatura Hispânica ii
Prof.ª Mara Gonzalez Bezerra
Prof.ª Luiziane da Silva Rosa
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.a Mara Gonzalez Bezerra
Prof.a Luiziane da Silva Rosa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
R788l
 Rosa, Luiziane da Silva
 Literatura hispânica II. / Luiziane da Silva Rosa; Mara Gonzalez 
Bezerra. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 252 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0305-8
1. Literatura espanhola. – Brasil. 2. Literatura hispano-americana. – 
Brasil. I. Bezerra, Mara Gonzalez. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 860
III
apresentação
Caro acadêmico, neste livro didático você encontrará algumas 
informações e exemplos de textos representativos da literatura hispano-
americana. Os países de fala espanhola nas Américas são: Argentina, 
Paraguai, Uruguai, Colômbia, Peru, Chile, Equador, Bolívia, Venezuela, El 
Salvador, Nicarágua, Guatemala, Costa Rica, Cuba, Honduras, Panamá, 
República Dominicana e México. E cada um visto geograficamente, com suas 
próprias variações linguísticas, sociais e culturais.
A Unidade 1 aborda o reconhecimento cultural e literário dos povos 
originários, os primeiros encontros de culturas a partir dos relatos espanhóis, 
o Barroco hispano-americano e seus escritores. A Unidade 2 apresenta o 
reflexo social europeu como influência em movimentos independentistas e 
a incipiente formação de textos hispano-americanos com elementos locais, 
o gênero gauchesco é um exemplo. A Unidade 3 aponta para escritores em 
busca de uma literatura própria hispano-americana e que se torna reconhecida 
mundialmente, mas em busca de uma independência cultural. 
Estudar a literatura das Américas requer uma pesquisa contínua, um 
fato para o aluno de Letras-Espanhol. Ao desenvolver uma reflexão sobre 
qual é o papel da literatura na educação, percebemos que nos torna críticos 
e reflexivos na vida cotidiana. Certamente o assunto não se esgota aqui, a 
variedade e o conteúdo dos gêneros textuais publicados ao longo de séculos 
e os que ainda surgirão devem nos tornar um estudante “insatisfeito” com o 
desejo constante de saber mais. 
Bons estudos!
Prof.a Dr.a Mara Gonzalez Bezerra
Prof.a M.a Luiziane da Silva Rosa
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO ........................................... 1
TÓPICO 1 – O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS 
PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO ........................................................ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A LITERATURA PRÉ-HISPÂNICA: O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS .................. 3
2.1 OS MAIAS ......................................................................................................................................... 6
2.1.1 Popol Vuh ................................................................................................................................ 9
2.2 OS ASTECAS .................................................................................................................................... 13
2.2.1 Netzahualcóyotl – Um Imperador Poeta Náuatle .............................................................. 15
2.3 OS INCAS ......................................................................................................................................... 16
2.3.1 Os Quipus e os Quellcas (Quicas) ........................................................................................ 18
2.4 OS GUARANIS ................................................................................................................................ 23
2.4.1 Outros povos originários ....................................................................................................... 24
3 A EXPANSÃO DA COROA ESPANHOLA ..................................................................................... 25
3.1 ISABEL E FERNANDO – OS REIS CATÓLICOS ........................................................................ 25
3.2 AS NAVEGAÇÕES, OS PLANOS E AS DESCOBERTAS MARÍTIMAS .................................. 28
3.3 O TRATADO DE TORDESILHAS – ESPANHA E PORTUGAL COMO POTÊNCIAS 
MARÍTIMAS ..................................................................................................................................... 28
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 31
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 33
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34
TÓPICO 2 – AS MISSIVAS DO NOVO MUNDO ............................................................................ 37
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37
2 AS NOTÍCIAS DO COLONIZADOR .............................................................................................. 37
2.1 CRISTÓVÃO COLOMBO ............................................................................................................... 39
2.2 HERNÁN CORTÉS NO MÉXICO ................................................................................................. 41
2.3 A TRADUÇÃO COMO UMA ESTRATÉGIA DA COLONIZAÇÃO ....................................... 42
2.4 FRANCISCO PIZARRO NO PERU ............................................................................................... 44
3 AS NARRATIVAS SOBRE AMÉRICA ............................................................................................. 46
3.1 BERNAL DÍAZ DEL CASTILLO .................................................................................................. 49
3.2 FRANCISCO LÓPEZ DE GÓMARA ........................................................................................... 50
3.3 FELIPE GUAMÁN POMA DE AYALA ........................................................................................ 51
3.4 INCA GARCILASO DE LA VEGA ............................................................................................... 52
3.5 ÁLVAR NÚÑEZCABEZA DE VACA ......................................................................................... 54
3.6 ALONSO DE ERCILLA Y ZÚÑIGA – A ÉPICA ........................................................................ 54
4 O BARROCO HISPANO-AMERICANO ......................................................................................... 56
4.1 O TEATRO COLONIAL – JUAN RUIZ DE ALARCÓN Y MENDOZA .................................. 61
4.2 AS LETRAS DE CARLOS DE SIGUËNZA Y GÓNGORA ........................................................ 64
4.3 AS LETRAS DO CONVENTO ....................................................................................................... 65
4.4 SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ – UMA ESCRITORA BARROCA ....................................... 66
4.5 SOR JUANA ESCREVE SOBRE A PRESENÇA AFRICANA NAS COLÔNIAS 
ESPANHOLAS ................................................................................................................................ 70
sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 73
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 76
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 77
UNIDADE 2 – PANORAMA DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA DOS 
 SÉCULOS XVIII E XIX ................................................................................................. 81
TÓPICO 1 – POR UMA IDENTIDADE LITERÁRIA LATINO-AMERICANA .......................... 83
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83
2 A CORTE ESPANHOLA NOS TERRITÓRIOS HISPANO-AMERICANOS ANTES 
 DAS INDEPENDÊNCIAS ................................................................................................................... 83
3 O MOVIMENTO DAS INDEPENDÊNCIAS NAS COLÔNIAS HISPANO-
 AMERICANAS ...................................................................................................................................... 88
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 92
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 94
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 95
TÓPICO 2 – A FORMAÇÃO DE UMA LITERATURA HISPANO-AMERICANA .................... 97
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 97
2 A LITERATURA DO SÉCULO XVIII ............................................................................................... 97
3 A LITERATURA HISPANO-AMERICANA ENTRE O SÉCULO XVIII E O XIX .................... 100
4 O NEOCLASSICISMO ........................................................................................................................ 101
4.1 JOSÉ DE LIZARDI ........................................................................................................................... 101
4.2 ANDRÉS BELLO ............................................................................................................................. 104
4.3 JOSÉ JOAQUÍN OLMEDO ............................................................................................................. 106
4.4 SIMÓN BOLÍVAR ........................................................................................................................... 107
5 A TRANSIÇÃO LITERÁRIA DO SÉCULO XVIII PARA O XIX ................................................ 110
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 111
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 113
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 114
TÓPICO 3 – A LITERATURA HISPANO-AMERICANA DO SÉCULO XIX ............................... 117
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 117
2 GÊNEROS E AUTORES HISPANO-AMERICANOS DO SÉCULO XIX .................................. 118
3 O ROMANTISMO ................................................................................................................................ 120
3.1 ESTEBAN ECHEVERRÍA ............................................................................................................... 122
3.2 MARIANO MELGAR .................................................................................................................... 127
3.3 JOSÉ MÁRMOL .............................................................................................................................. 129
3.4 DOMINGO F. SARMIENTO ......................................................................................................... 130
4 OS RELATOS DAS EXPEDIÇÕES MILITARES AO INTERIOR DO PAÍS ............................. 132
5 O REALISMO ........................................................................................................................................ 135
5.1 ESTEBAN ECHEVERRÍA .............................................................................................................. 136
6 A POESIA GAUCHESCA .................................................................................................................... 138
6.1 JOSÉ HERNÁNDEZ ........................................................................................................................ 141
6.2 RAFAEL OBLIGADO ...................................................................................................................... 142
6.3 ESTANISLAO DEL CAMPO ......................................................................................................... 144
6.4 EDUARDO GUTIÉRREZ ............................................................................................................... 146
7 O MODERNISMO ............................................................................................................................... 152
7.1 JOSÉ MARTÍ ..................................................................................................................................... 154
7.2 RUBÉN DARÍO ............................................................................................................................... 156
IX
8 A TRADIÇÃO ....................................................................................................................................... 159
9 AS CORRENTES IMIGRATÓRIAS .................................................................................................. 160
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 163
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 166
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 167
UNIDADE 3 – O PANORAMA DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA ENTRE 
 OS SÉCULOS XX e XXI ............................................................................................... 169
TÓPICO 1 – A LITERATURA HISPANO-AMERICANA NA VIRADA DO SÉCULO XX ....... 171
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................171
2 A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA NA LITERATURA HISPANO-AMERICANA ................... 171
3 O MODERNISMO E SEUS MOVIMENTOS APÓS 1900 ........................................................... 172
3.1 CÉSAR VALLEJO ............................................................................................................................. 174
4 A VANGUARDA HISPANO-AMERICANA ................................................................................... 176
4.1 POR DENTRO DA VANGUARDA ............................................................................................... 179
4.2 VICENTE HUIDOBRO ................................................................................................................... 180
4.3 JORGE LUÍS BORGES .................................................................................................................... 182
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 187
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 190
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191
TÓPICO 2 – O SÉCULO XX – A TEXTUALIDADE HISPANO-AMERICANA .......................... 193
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 193
2 AFIRMAÇÃO DE UMA LITERATURA HISPANO-AMERICANA .......................................... 193
3 A LITERATURA HISPANO-AMERICANA E O BOOM HISPANO-AMERICANO .............. 195
4 DEPOIS DA VANGUARDA HISPANO-AMERICANA OU UMA LITERATURA 
CONTEMPORÂNEA .......................................................................................................................... 197
4.1 JUAN CARLOS ONETTI ................................................................................................................ 197
4.2 AUGUSTO ROA BASTOS .............................................................................................................. 199
4.3 JUAN RULFO ................................................................................................................................... 200
4.4 JULIO CORTÁZAR ......................................................................................................................... 203
4.5 MARIO VARGAS LLOSA ............................................................................................................... 205
4.6 PABLO NERUDA ............................................................................................................................ 206
5 O REALISMO MARAVILHOSO E O REALISMO MÁGICO .................................................... 207
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 214
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 219
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 220
TÓPICO 3 – A LITERATURA CONTEMPORÂNEA HISPANO-AMERICANA ........................ 223
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 223
2 A LITERATURA DA AMÉRICA CENTRAL E MÉXICO .............................................................. 223
3 A LITERATURA RIO-PLATENSE ..................................................................................................... 226
3.1 JOSEFINA PLÁ ................................................................................................................................ 227
3.2 SUSY DELGADO ............................................................................................................................. 227
4 A LITERATURA ANDINA ................................................................................................................. 230
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 234
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 237
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 238
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 241
X
1
UNIDADE 1
O PERÍODO COLONIAL 
HISPANO-AMERICANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a história e a contribuição literária dos povos originários;
• refletir sobre a importância dos gêneros textuais e literários utilizados 
pelos europeus para descrever o novo mundo;
• compreender a participação de pessoas autóctones e estrangeiras na 
formação de uma literatura crioula.
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA 
DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
TÓPICO 2 – AS MISSIVAS DO NOVO MUNDO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA 
DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
1 INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao Tópico 1! Começamos a jornada com os povos originários, 
os habitantes do continente antes da chegada do europeu. As pesquisas 
de historiadores e arqueólogos comprovam que estes povos tinham um 
desenvolvimento cultural, social, literário, artístico e humano e alguns com maior 
expressão. 
Para este tópico foi realizado um recorte a partir da literatura e dos 
gêneros textuais desenvolvidos durante o período denominado pré-colombiano, 
da conquista e o colonial.
Iremos destacar alguns autores e textos importantes, mas sem esgotar 
cada tema, porque o importante é adquirir uma base para o entendimento de 
como a literatura hispano-americana se desenvolveu a partir do encontro entre 
europeus e povos originários. 
Por isso, não deixe de ler os textos indicados, assim como as leituras 
complementares para saber mais. Cada gênero textual e literário apresentado irá 
somar para que você, leitor, obtenha no fim do estudo um panorama cronológico 
do desenvolvimento da literatura hispano-americana. Para tanto, discutiremos, 
neste primeiro tópico:
• Os primeiros gêneros textuais das civilizações da Mesoamérica.
• Aproximação aos maias e astecas, incas e guaranis. 
• A importância dos códices, ou códex, para o registro da oralidade e escritura.
• A influência da cultura e da língua espanhola nos textos nativos. 
• Autores e textos representativos do período colonial hispânico.
2 A LITERATURA PRÉ-HISPÂNICA: O LEGADO DOS 
POVOS ORIGINÁRIOS
Neste tópico abordaremos a forma como antigos impérios mantiveram 
viva a memória, a preservação de tradições e culturas a partir de meios 
pictográficos, objetos como cordas e, principalmente, a tradição oral passada de 
geração a geração. 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
4
O período pré-colombiano se refere àqueles que já habitavam as Américas 
antes de 1492, e se tem notícias de pesquisas históricas que comprovam que 
outros povos, como os navegadores vikings, estiveram na América muito antes 
dos espanhóis, mas sem repercussão. 
DICAS
Assista ao filme Eréndira, la indomable (2007). Sob direção de Juan Carlos 
Mora Cattlet, narra a vida de Eréndira Ikikunari, uma jovem tarasca que desafiou e lutou contra 
os conquistadores espanhóis. Mostra a história do ponto de vista dos indígenas. Disponível na 
íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=hpthoMJyQwk.As diversas civilizações que povoaram o continente americano em 
nada ficavam para trás das europeias. A chegada dos espanhóis ao continente 
americano foi um marco histórico e social, e o mundo não seria o mesmo após 
Colombo e suas caravelas. 
O estudo relacionado à literatura hispano-americana é extenso. As fontes 
e referências são muitas e compõem um vasto leque de publicações literárias, 
além de artigos científicos, pesquisas sobre sítios arqueológicos e resultados. 
A própria internet possibilita o acesso a material que dificilmente seria 
encontrado impresso, por isso sugerimos sempre, ao longo dos estudos, que você 
desenvolva um estudo interdisciplinar para apreciação sob diversos prismas do 
mesmo tema, porém sempre procurando em fontes responsáveis pela divulgação 
de notícias e arquivos. 
Antes de comentar sobre cada povo é importante começar a esclarecer 
sobre a literatura oral e a importância dos códices. 
Por outro lado, nas últimas décadas do século XX, a História Oral 
começou a estreitar laços com a Literatura. Daí em diante a abordagem 
interdisciplinar tem se constituído em um dos principais caminhos 
para a História Oral, não apenas História Oral no diálogo História/
Literatura, mas também no diálogo entre História e iconografia 
(SILVA; SILVA, 2009, p. 187).
É indiscutível que a organização social e as artes dos povos originários, 
como maias, astecas e incas, principalmente, além de outros povos minoritários, 
mas não menos importantes na sua cultura, causaram um certo estupor para o 
recém-chegado. 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
5
A escrita de cartas, relatos e crônicas sobre o cotidiano recém-descoberto, 
enviados para seus superiores, continha uma variedade muito grande de temas, 
como a descrição de aparências, as tradições, os costumes, comidas, animais, as 
riquezas etc. 
Os cronistas recolheram as histórias contadas oralmente e tiveram um 
trabalho de escrever apresentações do novo mundo, assim descreveram as 
formas de gravar textos em suportes diferentes de papel, como os quipus incaicos. 
Os glifos astecas foram também alvo de curiosidade e muitos dos códices foram 
destruídos ou espoliados e enviados para a Europa pelo colonizador sem nenhum 
pudor. 
Glifos são signos da cultura maia, asteca e olmeca (entre outros povos pré-
hispânicos da Mesoamérica) que carregam algumas características. Basicamente existiam 
cinco categorias de glifos: os de representação numérica (numéricos), os de representação 
temporal com o uso de datas (calendário), os de representação de objetos (pictográfico), os 
de representação de ideias (ideográfico) e os de representação de sons e escrita (fonético).
NOTA
É importante ressaltar que o gênero epistolar foi frequentemente utilizado 
para descrever o novo mundo, e como se sabe, sobre ele há também um peso 
histórico e social, já que o registro escrito trazia a visão do europeu na nova terra.
Certamente você já deve ter ouvido ou lido algo sobre a carta que Pero Vaz 
de Caminha escreveu ao rei Dom Manuel, em Portugal, escrita em Porto Seguro, 
no final do mês de abril de 1500. A carta, considerada o primeiro marco literário 
do país, também é conhecida como “Carta de Achamento do Brasil”. Ela narra 
como foi o encontro com os índios, como aconteceu a primeira missa, como foi a 
recepção e tentativa de domesticação dos índios, enfim, as primeiras impressões.
Um pouco antes da chegada de Cristóvão Colombo até 1500, tantas outras 
cartas e relatos de viagens foram escritos e são também considerados textos 
literários. A respeito do relato de viagem é interessante dizer que o registro de 
um diário, pela sua composição, é uma variante da autobiografia (GUZMÁN-
RUBIO, 2011) e, como variação, terá a percepção ou experiência do autor como 
composição essencial da obra. 
La escritura diarística, por su intención de contar vivencias reales, es 
una variante de la autobiográfica. Lo que la diferencia de esta es su 
pretensión de simultaneidad y un mayor apego a la verdad, puesto 
que las entradas de un diario no se consignan como una evocación 
lejana, sino poco tiempo después de ocurridos los hechos, aunque más 
tarde se corrija su relato (GUZMÁN-RUBIO, 2011, p. 117).
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
6
Nesse sentido, a experiência vivenciada em terras hispano-americanas foi 
contada pelo olhar de quem esteve naquele contexto. Isso, pressupõe um olhar 
individual, um ponto de vista ideológico de alguém que não foi um habitante 
autóctone e escreveu com um estilo literário europeu. 
Tanto a carta quanto o diário de viagem carregam consigo dados precisos 
que remetem à temporalidade, isto é, há uma precisão cronológica e delimitação 
temporal exatas, de acordo com Guzman-Rubio (2011). Podemos nos localizar 
na época em que está narrada aquela história, e por isso esses gêneros são mais 
fiéis ao caráter temporal. Assim, quando falamos em uma literatura deixada por 
um povo originário, é importante esclarecer sob qual ponto de vista está sendo 
analisado, uma vez que pode não coincidir com os demais escritos ou registros.
Dessa forma, concordamos com León-Portilla (2012) quando sugere que, 
ao estudar a literatura dos povos americanos, é imprescindível fazer-se algumas 
perguntas, tais como: O que representava o livro para o habitante mesoamericano? 
(incluímos também outros povos originários), Como era a leitura dos conteúdos? 
Quais eram seus significados? Qual foi o impacto da conquista nesses livros? 
Como esses dois mundos, o velho mundo e o novo mundo, relacionavam-se e se 
inter-relacionavam com os textos?
O encontro de dois mundos irá se traduzir em um choque cultural. Ainda 
longe de uma transculturação, a cultura europeia e a dos povos originários irão 
assimilar aspectos do outro, como os linguísticos, sociais e culturais, porém a 
cultura espanhola é a que irá se impor, principalmente pela língua castelhana. 
DICAS
Para você conhecer um pouco mais sobre esses gêneros, indicamos buscar 
na internet as cartas que os escrivães e navegadores escreviam para os reis. Observe como 
são retratados os índios, a paisagem, as situações e os próprios europeus naquela época. Um 
exemplo são as primeiras cartas escritas por Cristóvão Colombo, que iremos abordar mais 
adiante o tema. Acesse o site: http://www.biblioteca.org.ar/libros/131757.pdf
2.1 OS MAIAS
Os maias, que criaram seu império na América Central, legaram um 
conjunto arquitetônico e literário cuja preservação permite ainda que se aprecie e 
se entenda um pouco sobre este povo. 
O povo maia viveu na região denominada Mesoamérica, que hoje 
compreende alguns territórios do México, Guatemala, Belize, Honduras e El 
Salvador. 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
7
A civilização maia resguarda ainda a presença na atualidade, 
principalmente na arquitetura (com suas monumentais pirâmides e plataformas 
cerimoniais), na história e nos traços fenotípicos de seu povo.
A escrita deixada pelos maias é o único sistema quase totalmente decifrado 
dentre as demais civilizações mesoamericanas. Isto porque as primeiras inscrições 
desse sistema de escrita datam do século III a.C. e foi usada até pouco tempo 
depois da chegada dos espanhóis. Das características dessa escrita destaca-se 
o uso de logogramas complementados por um jogo de glifos silábicos, muito 
similares à escrita japonesa e bem distantes do alfabeto fonético espanhol. Alguns 
pesquisadores afirmam que a forma é muito similar à escrita egípcia, por utilizar 
desenhos similares ao hieróglifo. No entanto, o alfabeto maia não é similar ao 
alfabeto espanhol.
A língua escrita maia estudada hoje em dia, mas que foi pioneira na 
América, consistia em uma mistura de aspectos da língua maia com o espanhol 
pós-conquista. Os livros que se conservam não são fáceis de interpretar, sobretudo 
pelo caráter mitológico e religioso, mas também contextual. Até mesmo os 
primeiros maiasque tiveram acesso a esses registros ou ajudaram a escrevê-los 
tiveram dificuldades de interpretar. No entanto, muitos pesquisadores concordam 
que uma marca estilística do texto é a inspiração poética e patriótica retratando 
ciência, religião e história da época. 
Com relação às produções literárias, muito pouco se tem notícia, mas 
o marco da literatura está nos Códices Maias. Códices, do latim, significa "livro", 
"bloco de madeira", “manuscrito”, são os objetos com os registros escritos de 
antigas civilizações. Os maias usavam para escrever um papel fabricado à base 
de fibras vegetais com capa de madeira. Muitos foram destruídos com o tempo e 
também pelos conquistadores espanhóis. Estuda-se comumente quatro relíquias: 
o Códice de Dresde, o Códice Tro-Cortesiano, o Códice Peresiano e o Códice Grolier, que 
se encontram respectivamente em Dresden (Alemanha), Madri (Espanha), Paris 
(França) e Cidade de México (México). 
DICAS
Você pode saber mais sobre os CÓDICES a partir dos textos de Miguel León-
Portilla, importante escritor e historiador mexicano. Ele aborda em seu livro enciclopédico 
Códices: los antiguos libros del nuevo mundo (2003) a escrita pré-hispânica e colonial de 
povos da Mesoamérica. O autor esclarece o que são códices, quem os fez, como se liam e 
como se classificam. Leia uma resenha sobre o tema: 
• BRISENO, María Elena. Códices: los antiguos libros del nuevo mundo. Anales del Instituto 
de Investigaciones Estéticas, México, v. 24, n. 81, p. 175-178, nov. 2002. https://bit.ly/2p1tPEr. 
Acesso em: 7 dez. 2018.
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
8
Os livros de Chilam Balam, Popol Vuh e Los Anales de los Cakchiqueles foram 
escritos respectivamente em “maya yucateco”, “quiché” e “cakchiquel” utilizando 
o alfabeto latino trazido pelos espanhóis. 
Tras la conquista española, la tradición y la ciencia de los pueblos 
mayas fue transcrita de los textos originales pictográficos y del 
recuerdo memorizado a caracteres latinos en las diferentes lenguas de 
la zona. Así ocurrió con los varios libros del Chilam Balam, escritos 
en maya, y con el Popol Vuh, escrito en quiche (BELLINI, 1997, p. 39).
Existe um códice da época da conquista, o Códice de Calkíni, e outros vêm 
sendo estudados, como a obra dramática El Rabinal Achí, escrito em quiché, que 
representa a rivalidade entre dois lugares, suas guerras, a captura e morte de um 
de seus guerreiros e o cotidiano.
No próximo item veremos um pouco desse legado maia a partir do livro 
sagrado de conselhos, o Popol Vuh, que trata da essência e escrita maia da época. 
Sem dúvida, é um imenso registro dos primeiros povos mesoamericanos. 
DICAS
DICAS
Herbert M. Herget (Saint Louis, Missouri, Estados Unidos, 1885-1955) foi um 
notável artista que trabalhou para a revista National Geographic. Ele fez ilustrações sobre o 
povo maia intituladas "Portraits of Ancient Mayas" (1935) e "Life and Death in Ancient Maya 
Land" (1936) retratando a sociedade, os hábitos e a hierarquia política. Você pode encontrar 
cada ilustração detalhadamente em: https://goo.gl/4hg3Z1.
Além de documentários, sugerimos que você assista ao filme Apocalypto, de 
2006. Foi escrito, produzido e dirigido por Mel Gibson em parceria com Farhad Sarfinia. O 
filme retrata um povo nativo americano antes da chegada dos espanhóis, especificamente 
sob o ponto de vista de um guerreiro. O filme teve muitas críticas por expor a violência, mas 
ao mesmo tempo justificada por conta dos ritos religiosos desses povos e o deslocamento de 
tribos por conta de guerras internas. Boa parte do filme é falado em maia iucateco. 
Acesse: https://archive.org/details/videoplayback_20160530 e confira!
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
9
DICAS
Assista ao filme 1492, a conquista do Paraíso, de 1992, dirigido por Ridley 
Scott. É um longa-metragem épico e de aventura com Gérard Depardieu, Sigourney Weaver, 
entre outros atores. O filme trata da chegada de Cristóvão Colombo à América e como se 
deu essa ocupação. Disponível em: https://bit.ly/2SJiJ2P.
2.1.1 Popol Vuh
O Popol Vuh é o livro de conselhos dos índios quichés (Popol significa 
“comunidade” ou “conselho” e Vuh significa “livro”). Foi transmitido pela língua 
oral até provavelmente o século XVI, e os primeiros registros escritos encontrados 
carregam certos traços de mestiçagem espanhola, embora tenha sido escrito por 
índios na língua quiché, com caracteres latinos. Isso quer dizer que embora tenha 
sido registrado na sua escrita, o livro ainda carrega fortes traços da língua oral 
daquele povo. A obra é um clássico da história universal. Digamos que é uma 
Bíblia Indígena semelhante à parte do que conhecemos hoje como o Gênesis. 
As narrativas apresentam diversas características de cunho histórico, religioso e 
mitológico do povo maia. 
O livro foi traduzido para o espanhol pelo padre Francisco Ximénez, 
pertencente à Paróquia de Santo Tomás Chuilá, atualmente Chichicastenango, 
Guatemala. A parte traduzida foi incorporada em outro livro que ele estava 
escrevendo, o Primer Tomo de la Crónica de la Província de Chiapa y Guatemala. A 
obra foi traduzida ao espanhol e a diversas línguas. A Ediciones Libertador tem 
impresso um livro intitulado Popol Vuh. Libro Sagrado de los Mayas. O livro resgata 
o verdadeiro compêndio da mitologia maia e de seu livro sagrado de conselhos. 
Facilmente se encontra uma versão na internet para leitura. 
Popol Vuh pode ser caracterizado por três partes. A primeira trata da 
história da criação do mundo e do homem. A segunda se refere às aventuras de 
personagens míticos como Hunahpú, Ixbalanqué e Ixquix e suas lutas com os gênios 
do mal, os senhores de Xibalbá. É importante considerar que deuses (maiores e 
menores), profetas e sábios se misturam com fábulas que envolviam animais, 
forças da natureza e outros símbolos da natureza, como árvores, fogo e céu. Essa 
parte, representativa e simbólica, foi tranquilamente interpretada nos estudos da 
língua quiché.
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
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FIGURA 1 – PORTADA DO LIVRO POPOL VUH
FONTE: <https://goo.gl/oRVaWP>. Acesso em: 24 jun. 2018.
DICAS
Para conhecer um pouco mais da cultura maia, povo guatemalteco e do 
legado do Popol Vuh, acesse o link pertencente à Universidade Francisco Marroquín: https://
bit.ly/2D3q6PC.
Especifi camente sobre a criação dos homens, o livro Popol Vuh narra a 
história da seguinte maneira:
Primeira criação: os deuses criaram a Terra e a população de animais 
dando-lhes a cada um uma linguagem, mas como não foram capazes de pronunciar 
os nomes divinos, foram castigados por isso, destruindo sua “linguagem”.
Segunda criação: esses deuses, chamados de construtores ou formadores, 
criam as fi guras humanas de barro que falam, mas lhes falta a habilidade de pensar. 
Não satisfeitos com essa fi gura, a igual que a primeira, resolveram destruí-las.
Terceira criação: corresponde à fabricação de bonecos que lembravam 
a forma humana. Esses bonecos falavam e tiveram uma linhagem, mas como 
careciam de sangue, acabaram secos. Atribui-se esse estágio a uma espécie de 
ensaio da existência da humanidade sobre a Terra. Os utensílios de cozinha e os 
animais domésticos se revoltaram contra esses manequins e uma espessa chuva os 
destruiu. Os que sobreviveram fugiram para os montes convertidos em macacos. 
Quarta criação: depois de celebrar novo conselho, por fi m, os deuses 
fi zeram defi nitivamente o homem como o conhecemos: os primeiros pais 
da humanidade. Para isso, fortaleceram-no com alguns ingredientes-chave, 
como uma substância branca extraída do milho, para dar-lhe forma. Depois, 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
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recorreram de desbravarem os espaços da Terra, agradeceram sua criação aos 
deuses, comprovando que tinham inteligência para compreender os segredos do 
universo.
DICAS
Veja a bela narrativa do Popol Vuh sobre o mito da criaçãoneste vídeo: El Mito 
de la Creación Maya Quiché, Popol Vuh, disponível em https://bit.ly/1JQ5eXq, ou leia a obra 
Popol Vuh na íntegra: https://bit.ly/2mAYgxU. 
FIGURA 2 – CENA DO MITO DA CRIAÇÃO MAIA
FONTE: <https://bit.ly/1JQ5eXq>. Acesso em: 30 mar. 2019.
Como podemos inferir, o Popol Vuh é uma obra de caráter simbólico, 
composta pela história do povo quiché, desde a Pré-História até a pós-vinda dos 
europeus. Aporta um material valiosíssimo porque não temos somente a história 
dos povos autóctones da América, mas temos também o legado que deixaram de 
conhecimento no campo das artes, ciências e cultura em geral. 
A linguagem do livro-conselho é metafórica, por isso as imagens são 
fundamentais para interpretar ou fazer analogias ao nosso tempo. A metáfora é 
parte do estilo de escrita usado para enriquecer a fábula, que tem como objetivo 
apresentar uma moral ou conselho.
A linguagem do Popol Vuh é intrigante por explicar racionalmente o 
universo com imagens metafóricas, oferecendo assim uma das maiores riquezas 
semânticas dentre os escritos antigos. 
Talvez por essa razão é que a obra seja lembrada e estudada por sociólogos, 
historiadores, antropólogos e linguistas, porque aporta uma visão misteriosa de 
um povo originário a partir de uma linguagem poética. 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
12
Em comparação, Popol Vuh foi colocado como obra emblemática igual 
às obras teogônicas da humanidade, por tal profundidade de ideias ao abordar 
gêneses e as deidades. Também foi comparada com grandes obras que registravam 
antigas epopeias da Índia e da Grécia, dado ao seu valor literário, a luta entre 
homens e a presença de divindades. A seguir está um fragmento da primeira 
criação:
He aquí el relato de cómo todo estaba en suspenso, todo tranquilo, 
todo inmóvil, todo apacible, todo silencioso, todo vacío, en el cielo, en 
la tierra. He aquí la primera historia, la primera descripción.
No había un solo hombre, un solo animal, pájaro, pez, cangrejo, 
madera, piedra, caverna, barranca, hierba, selva. Sólo el cielo existía. 
La faz de la tierra no aparecía; sólo existían la mar limitada, todo el 
espacio del cielo. No había nada reunido, junto. Todo era invisible, 
todo estaba inmóvil en el cielo.
No existía nada edificado. Solamente el agua limitada, solamente la 
mar tranquila, sola, limitada. Nada existía. Solamente la inmovilidad, 
el silencio, en las tinieblas, en la noche. [...]
Entonces vino la Palabra; vino aquí de los Dominadores, de los 
Poderosos del Cielo, en las tinieblas, en la noche: fue dicha por los 
Dominadores, los Poderosos del Cielo; hablaron: entonces celebraron 
consejo, entonces pensaron, se comprendieron, unieron sus palabras, 
sus sabidurías. Entonces se mostraron, meditaron, en el momento del 
alba; decidieron construir al hombre, mientras celebraban consejo 
sobre la producción, la existencia, de los árboles, de los bejucos, la 
producción de la vida, de la existencia, en las tinieblas, en la noche, 
por los Espíritus del Cielo llamados Maestros Gigantes (ASTURIAS; 
MENDOZA, s.d., s.p.). 
Não podemos deixar de mencionar outro livro marcante da Mesoamérica: 
o livro de Chilam Balam. Este livro se tornou conhecido por narrar o desespero 
dos indígenas frente à ocupação espanhola que foi, segundo o próprio livro, 
profetizada por um sacerdote. No entanto, cabe esclarecer que é uma obra 
contestada, já que houve diferentes escritores (e povos) com diferentes escritas 
nas primeiras décadas da conquista espanhola, criando assim outras versões. 
Não há um estilo ou gênero definido, já que comporta uma miscelânea de temas 
da história, medicina, religião, rituais, calendários, astronomia e artes. Digamos 
que é um tratado que registra o conhecimento e sabedorias maias da época.
Ao que tudo indica, Chilam Balam foi escrito por sacerdotes maias que 
transcreveram os textos para hieróglifos em lugares sagrados e acrescentaram 
notícias dos conhecimentos de cada um desses locais. Geralmente eram 
consultados ou lidos em rituais específicos ou em ocasiões especiais. 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
13
Os livros da pós-conquista não existem mais e os fragmentos literários 
encontrados são cópias do século XVI. Ainda assim são grandes registros que comportam 
um legado muito significativo para compreender não só a história, mas a literatura daquele 
povo.
NOTA
2.2 OS ASTECAS
Outro povo originário da região do México é o povo asteca, que se 
autodenominava mexica, em língua Náuatle. Esse povo se estabeleceu no centro 
do vale mexicano e guatemalteco que hoje compreende as regiões de Veracruz, 
Puebla, Oaxaca, Guerrero, Chiapas e parte da Guatemala. Pertence aos povos 
pré-colombianos da Mesoamérica e dominou grande parte deste território.
A sociedade asteca considerava a hierarquia como base das regras do 
cotidiano. Ela compreendia desde os guerreiros a imperadores e sacerdotes. A 
vestimenta e o acesso a alimentos e bebidas se diferenciavam conforme o status 
social. Em certas ocasiões, a vestimenta mudava para representar os deuses em 
rituais religiosos. 
O povo asteca surpreendeu os colonizadores por seu desenvolvimento 
tecnológico em física, principalmente na observação dos astros (Sol, Lua, Vênus 
e, talvez, Marte). Nomeavam estrelas e constelações, conheciam a existência 
de cometas, a frequência dos eclipses de Sol e Lua e criaram um calendário 
bem complexo, incluindo prognósticos meteorológicos. Não é à toa que esse 
conhecimento também tenha permeado em seus registros escritos. 
O conhecimento sobre a natureza também propiciou a esse povo um 
amplo conhecimento em medicina, distinguindo propriedades curativas em 
diversos minerais e plantas. O povo asteca é conhecido por realizar o sacrifício 
humano (como retirada de membros e músculos) como oferenda aos seus deuses, 
o que denota o bom conhecimento em anatomia.
As técnicas de cultivo de plantas e as técnicas de ourives permitiram a 
esse povo obter as mais significativas joias, materiais de adornos e de trabalho. 
Arte e técnica podem ser observadas nos resquícios arqueológicos em sua 
arquitetura rodeada de templos e espaços para os rituais. É bem certo que na 
atualidade pouco resta desse imenso legado arquitetônico, mesmo na Plaza de 
las Tres Culturas, atual capital do México e antiga Tenochtitlán, embora muitas 
escavações tenham nos presenteado com o pouco que sabemos do império asteca. 
Contudo, é possível observar o plano arquitetônico desde as rochas, pilastras e 
pirâmides, bem como o tipo de material utilizado. 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
14
Os astecas já falavam uma língua semelhante ao náuatle mil anos antes 
da chegada dos espanhóis. A língua náuatle ainda é falada pelos indígenas 
atualmente e os resquícios da fonética podem ser encontrados no espanhol atual 
dessa região. A escrita misturava pictogramas, ideogramas e símbolos fonéticos, 
o que pode ser observado nos raros códices ainda presentes. 
Um deles é o Códice Borbónico, um dos poucos códices conservados 
antes da invasão espanhola de Cortés, em 1519, onde houve grande saqueio. De 
acordo com Léon-Portilla (2012, p. 66), “o código foi enviado à Espanha durante 
o período colonial, [...] as tropas francesas, durante a invasão napoleônica na 
Espanha, o levaram consigo como despojo”, para o Palácio Bourbon, em Paris. É 
um livro-calendário de duas partes: a primeira é o Tonalamalt, livro dos destinos, 
e a segunda é o Xiuhpohualli, o livro de calendário de festas.
DICAS
Você pode saber mais sobre o Códice Borbónico no link https://goo.gl/D2rGow.
FIGURA – CÓDICE BORBÓNICO
FONTE: <https://goo.gl/djC3qr>. Acesso em: 24 jun. 2018.
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
15
Os poucos registros escritos existentes se baseiam na poesia. Dizemos de 
poucos registros não destruídos pelos espanhóis, porque, como bem sabemos, os 
astecas, embora resistentes à força bélica,sofreram com as invasões e a insistência 
da imposição cultural dos europeus. 
Você sabia?
Os poemas eram recitados ou cantados (teocuícatl) ao ritmo de instrumentos musicais de 
percussão. Algumas vezes incluíam palavras com significado que serviam para marcar ritmo. 
Esses cânticos frequentemente eram dedicados aos deuses, mas também tratavam de outros 
temas, como amizades, amores, guerra, morte e vida. Especificamente, os cantos dedicados 
aos guerreiros eram chamados de Yaocuícatl.
NOTA
O que se sabe da produção literária dos mexicas é o que permaneceu 
na tradição oral, até porque somente alguns registros foram traduzidos para o 
alfabeto ocidental ou conservados tal como eram. Mesmo assim, esses registros 
ainda são uma incógnita por causa do estado de conservação ou porque parecem 
estar incompletos. Até mesmo o sacerdote Ángel María Garibay Kintana 
(1892-1957), um dos principais estudiosos da cultura mexica, e historiadores e 
antropólogos mexicanos, como Miguel León-Portilla, considerados grandes 
especialistas que procuraram entender a literatura náuatle não só na era Pré-
colombiana, não tiveram tanta sorte com os resquícios deixados, embora tenha 
sido possível reacender todo o legado literário desse povo.
 
2.2.1 Netzahualcóyotl – Um Imperador Poeta Náuatle
Netzahualcóyotl (1402-1472) de Texcoco, México, foi um poderoso 
imperador asteca, guerreiro, filósofo e um proeminente poeta. 
Famoso pela forma como defendeu seu reino e desenvolveu as artes, 
realizou grandiosas construções arquitetônicas. 
Na obra Cantares Mexicanos, Tomo I e Tomo II, edição de Miguel León-
Portilla (2011), publicada pela UNAM e totalmente digital, são apresentados seus 
poemas em uma edição bilíngue, na língua náuatle e traduzidos para o espanhol. 
Leia os versos a seguir do imperador poeta traduzidos do náuatle para a 
língua espanhola pelo padre Ángel María Garibay (1892-1962), um importante 
pesquisador e referência para os estudos de poesia náuatle, assim como Miguel 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
16
León-Portilla (1926), ambos têm publicado e organizado livros e publicado os 
poemas com tradução para a língua espanhola, em que resgatam o valor da 
poesia pré-hispânica como integrante da literatura hispano-americana: 
¿CAN NELPA TONYAZQUE?
Língua Náuatle
¿A DÓNDE IREMOS?
Tradução para o espanhol
[...] ¿Can nelpa tonyazque
canon aya micohua?
¿Ica nichoca?
Moyoliol xi melacuahuacan:
ayac nican nemiz.
Tel ca tepilhuan omicoaco,
netlatiloc.
Moyoliol xi melacuahuacan:
ayac nican nemiz.
(Cantares Mexicanos, f. 70r)
[...] ¿A dónde iremos
donde la muerte no exista?
Más, ¿por ésto viviré llorando?
Que tu corazón se enderece:
aquí nadie vivirá para siempre.
Aún los príncipes a morir vinieron,
los bultos funerarios se queman.
Que tu corazón se enderece:
aquí nadie vivirá para siempre.
(Poemas, p. 9)
QUADRO 1 – POESIA EM LÍNGUA NÁUATLE E A TRADUÇÃO EM LÍNGUA ESPANHOLA
FONTE: <https://bit.ly/2COtRpr>. Acesso em: 1 abr. 2019.
O poeta compartilha as suas inquietações no poema, reconhece que ele 
mesmo, um príncipe, está sujeito aos acontecimentos naturais. O poeta apresenta 
um desenvolvimento rítmico, os versos desenvolvem um tema universal em que a 
única certeza do poeta é a dor e a finitude da vida. Um tema universal e que pode 
ser visto tanto em poesia indígena ou na poesia do Barroco da Contrarreforma.
2.3 OS INCAS
Os incas se adaptaram muito bem à geografia da cordilheira San Juan 
de Los Andes, na América do Sul. Essa adaptação está impregnada em sua 
história, modos de vida, política e tradições. Eles habitavam os territórios que 
hoje conhecemos como Peru, Equador, ocidente da Bolívia, norte da Argentina, 
norte do Chile e o sul da Colômbia. Há estudos que indicam a presença inca na 
dominação marítima da região, chegando possivelmente até a atual Polinésia, 
teoria que faz sentido com a presença de povos na Ilha de Páscoa, que fica entre 
o Chile e a Oceania. A teoria coincide também com histórias incas que dão nomes 
às ilhas polinésias.
O povo inca é conhecido por sua rica história, influência artística, religião, 
arquitetura e cultura, mas também pelos mistérios deixados principalmente no 
Peru e na cidade sagrada de Cusco. Para se ter uma ideia, a arte inca data de 
3.000 a.C. a 1.500 d.C., o que de fato se percebe por ditos resquícios. Mesmo após 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
17
a chegada do espanhol Francisco Pizarro, no ano de 1532, é perceptível a forte 
influência desse povo no artesanato, na arquitetura, na culinária e na oralidade. 
A tradição oral da cultura inca traz relatos interessantes, principalmente 
da evangelização indígena, marcada por muitos conflitos e imposições. Os casos 
mais famosos de que se tem notícias resultam do espanhol Francisco Pizarro e do 
índio Atahualpa, quando o desconhecimento dos europeus impôs o catolicismo 
de forma violenta ou criando “imagens cristianizantes” (LÉON-PORTILLA, 2012), 
que demonizavam as referências de mitos e lendas indígenas, como podemos 
observar neste relato:
O capelão de Francisco Pizarro, frei Vicente Valverde, auxiliado 
pelo intérprete indígena, Felipe de Huancavilca, falou com o inca 
Atahualpa. Entre outras coisas, o frade lhe disse que vinha convertê-
lo à verdadeira religião, pois nem ele, nem seus súditos, conheciam 
Deus. Atahualpa o interrompeu, respondendo que sabia a quem devia 
adorar, ao Sol e aos seus deuses:
[...] Perguntou o dito inca ao frei Vicente quem lhe havia dito [o que 
tinha afirmado sobre um Deus muito grande]. Responde frei Vicente 
que o havia dito o Evangelho, o livro. E disse Atahualpa: Dá-me-o, a 
mim, o livro, para que me diga. E assim, foi-lhe dado e o tomou nas 
mãos, começou a folhear as folhas do dito livro. E disse o inca: O quê? 
Como não me diz? Nem fala comigo o dito livro! Falando com grande 
majestade, assentado em seu trono, o dito inca Atahualpa jogou o dito 
livro das suas mãos.
A reação de Atahualpa diante do livro que nada lhe dizia trouxe 
consigo dramáticas consequências. O padre Velarde, que não só sabia 
o que era um livro, como também quis interpretar o ato de Atahualpa 
como um desprezo à Bíblia, exclamou: 'Aqui, cavalheiros, com estes 
índios gentios que são contra nossa fé"! Ignorar o que era um livro foi 
um bom pretexto para o ataque de surpresa que tinha previsto Pizarro, 
Atahualpa ficou preso como refém e, como bem sabemos pela história, 
nem todo o ouro que depois ele entregou a Pizarro serviu para salvar 
a sua vida (LÉON-PORTILLA, 2012, p. 20).
Quando dizemos que o resultado do encontro destes mundos foi 
violento, diferente em diversos aspectos, não devemos nos esquecer de que o 
maior propósito era a captação das riquezas, principalmente o ouro por parte 
dos invasores. A saga do ouro levou ao descobrimento de outras áreas indígenas 
até aquele momento não exploradas pelos próprios conquistadores. O saqueio, 
como visto por historiadores e antropólogos, levou a uma modificação extrema 
não só no aspecto religioso da população indígena, mas também na economia, na 
cultura, na mestiçagem do homem branco com o indígena. Em outras palavras, a 
corrida ao ouro provocou devastadoras modificações e até genocídio de boa parte 
da população indígena. Observemos esse fragmento: 
Esplendores de Potosí el ciclo de la plata
Dicen que hasta las herraduras de los caballos eran de plata, en la 
época del auge de la ciudad de Potosí. De plata eran los altares de 
las iglesias y las alas de los querubines en las procesiones, en 1658 
para la celebración de Hábeas Christi, las calles de la ciudad fueron 
desempedradas, desde la matriz hasta la iglesia de Recoletos, 
totalmente cubiertas con barras de plata. En Potosí la plata levantó 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
18
templos y palacios, monasterios y garritos, ofreció motivo a la tragedia 
y a la fiesta derramó sangre y vino, encendió la codicia y desató el 
despilfarro. Convertido en piñas y lingotes,las vísceras de cerro rico 
alimentaron sustancialmente el desarrollo de Europa. “Vale un Perú” 
fue el elogio máximo de las personas o a las cosas desde que Pizarro 
se hizo dueño del Cuzco. Vena yugular del Virreinato manantial de la 
plata de América, Potosí contaba con 120.000 habitantes según el censo 
de 1573. Era una de las ciudades más grandes y más ricas del mundo, 
diez veces más habitada que Boston, en tiempos en que Nueva York 
ni siquiera había empezado a llamarse así (GALEANO, 2003, p. 37).
Embora o fragmento pareça um relato desde a perspectiva indígena, não 
se difere muito dos outros tantos relatos extraídos dos textos que ficaram para a 
posteridade. 
2.3.1 Os Quipus e os Quellcas (Quicas)
Falar de como escreviam os incas é se aproximar também da sua língua 
originária: o Quéchua ou quíchua. De acordo com o Dicionário de Conceitos (2015, 
s.p.), Quéchua é um conceito “com vários usos, que partem de uma mesma 
referência” e que se remetem aos “povos aborígines que habitavam na Zona de 
Cuzco durante o processo de colonização do território que hoje pertence ao Peru”, 
mas também se pode afirmar que são os descendentes que vivem no Equador, 
Colômbia, Bolívia, Chile e na Argentina, principalmente nas zonas próximas às 
Cordilheiras dos Andes. A língua também confere identidade aos povos de etnias 
fincadas na Cordilheira dos Andes.
A língua dos quéchua falada hoje contém resquícios daquela língua falada no 
período incaico, obviamente com suas variantes e influência do espanhol. De acordo com 
o Atlas Sociolinguístico de Pueblos Indígenas de América Latina (UNICEF, 2011), estima-
se que 14 milhões de pessoas falem quéchua em suas diferentes variedades, embora seja 
difícil ainda de precisar um número exato, devido às várias condicionantes sociais, como 
localização geográfica, variantes linguísticas, comunidades linguísticas existentes, influência 
do espanhol sobre esses povos etc.
NOTA
Assim como muitas línguas originárias da América do Sul, o quéchua 
também trouxe sua história pautada na oralidade, tendo poucos registros escritos. 
Os registros orais que temos atualmente dão conta de dizer que a literatura inca 
continha poesia religiosa, narrações sobre o cotidiano, a natureza e lendas. 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
19
DICAS
Leia sobre o Atlas Linguístico da América Latina:
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apresenta periodicamente Atlas que 
buscam entender alguns povos originários, principalmente dos países emergentes. O Atlas 
Linguístico de América Latina de 2011 e de 2009 é um deles e contém um vasto material 
não só linguístico, mas também histórico e que visa atender aos direitos dos povos indígenas 
(documento firmado em diferentes países no ano de 2007). Acesse o link da UNICEF e confira 
esse importante estudo feito em dois tomos: https://uni.cf/2zXUZTv.
Outros nomes que aparecem em muitos estudos da área são: Cristóbal 
de Molina, cronista cusquenho que transcreveu Fábulas y ritos incas (1573), o inca 
Garcilaso de La Vega (1539-1616) e o também cronista indígena Felipe Guamán 
Poma de Ayala, com a emblemática Nueva Crónica y Buen Gobierno (escrito entre 
1600 e 1615), que traz a história e a sociedade pós-conquista. Um pouco mais 
adiante, falaremos um pouco mais sobre Guamán Poma de Ayala.
O que se tem de registro oral foi traduzido por espanhóis pós-conquista 
e também por índios evangelizados, como Juan Santa Cruz Pachacuti Yamqui 
Salcamaygua ou Santa Cruz Pachacuti, defensor da Coroa espanhola e que 
escreveu Relaciones de Antiguedades de este reino del Pirú (1613). 
A obra se encontra digitalizada na Biblioteca de Espanha e no livro são 
escritos alguns trechos sobre a religião e a filosofia quéchua, além de alguns 
poemas da tradição oral. Veja uma amostra do fac-símile na figura a seguir:
FIGURA 4 – FAC-SÍMILE DO LIVRO DE SANTA CRUZ PACHACUTI
FONTE: <https://bit.ly/2NDJhDq>. Acesso em: 11 set. 2018.
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Como podemos perceber, a oralidade influenciou sobremaneira no 
registro e na memória desse povo, mas havia também registros escritos 
em sistemas próprios dos incas que, para muitos investigadores (como 
historiadores, antropólogos e linguísticas), tais registros estão nos quipus e 
para poucos estudiosos estão também nos quellcas (ou quilcas). O primeiro 
registro compreende um sistema de escrita semelhante aos ábacos matemáticos, 
e o segundo é o sistema de escrita adotado pelos incas de acordo com os últimos 
estudos.
O desacordo entre os estudiosos está justamente na inexistência, em 
termos de textos literários originários, de uma literatura inca ou quéchua, 
seja uma literatura originária do povo ou em língua quéchua. Tal desacordo 
se sustenta porque os registros que ficaram são transcrições realizadas pelos 
espanhóis, a partir da tradição oral quéchua, que como também dissemos 
anteriormente, são registros escritos a partir de outra perspectiva, de quem 
observa e não de quem vivencia ou é nativo. Contudo, é graças a esses registros 
que hoje entendemos um pouco mais do que costumavam escrever e oralizar. 
Dentre os textos literários incas, deixados como referências, estão as 
poesias e poemas sobre a natureza (plantas, flores animais e o cotidiano de base 
agrícola) e também uma obra de teatro chamada Ollantay, de estrutura dramática 
adaptada ao estilo ocidental europeu, como explica Silva-Santisteban (2012, p. 1):
Así como podemos considerar la Tragedia del fin de Atau Wallpa 
una pieza quechua indígena contaminada (por motivos históricos 
y culturales) con elementos occidentales; las piezas del teatro 
sacramental y religioso quechuas como Rapto de Proserpina y sueño de 
Endimión y El pobre más rico como dramas de completa enajenación 
cultural; el Ollantay podemos estimarlo una comedia de fusión cultural 
mestiza. Desde su publicación en 1853 por Johann Jacob von Tschudi 
como apéndice en su Die Quechua Sprache, Ollanta ha sido la pieza 
más difundida, editada y traducida de toda la literatura quechua. [...] 
Ollanta se inscribe, probablemente, como una de las creaciones más 
recientes de ese privilegiado conjunto de dramas quechuas escritos 
probablemente a partir de mediados del siglo XVII hasta el primer 
tercio del siglo siguiente, alimentados, sobre todo, por el teatro de 
Pedro Calderón de la Barca.
Sua origem é bastante controversa, por sinal, tendo inclusive três 
diferentes teses de constituição. Contudo, todas concordam com os personagens 
e argumentos, sendo muito pouco modificada. Da história de amor presente na 
peça surge o inca Túpac Yupanqui.
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DICAS
Você pode encontrar facilmente na Biblioteca Universitária Virtual do governo 
argentino uma versão ao castelhano de Ollantay, disponível em: https://bit.ly/2KPxj5L. 
Você pode ainda aprofundar sua leitura com o artigo:
• SILVA-SANTISTEBAN, Ricardo. Ollanta: Drama Quichua en Tres Actos y en Verso / traducción 
del quechua de Constantino Carrasco (1876). Ed. Ricardo Silva-Santisteban. Alicante: Biblioteca 
Virtual Miguel de Cervantes, 2012. https://bit.ly/2SxwSjp. Acesso em: 1º dez. 2018.
Ainda que estejamos falando de um texto que traz a voz do inca, é 
importante dizer que não se trata de uma literatura originária, mas sim de 
mestiçagem que apareceu por volta do século XVI, no período republicano 
peruano. É, portanto, uma literatura que não se pode caracterizar devidamente, já 
que mistura cantos, danças, ritos religiosos, lírica e até mesmo doutrinação, entre 
outros estilos e gêneros identifi cados na cultura europeia, mas que até então não 
haviam sido decifrados.
FIGURA 5 – EXEMPLO DE QUIPUS
FONTE: <https://bit.ly/2U7qwJ5>. Acesso em: 1º dez. 2018.
Quando falamos de algo bem original, tratando-se do povo inca, estamos 
falando também dos quipus. Os quipus eram fi os coloridos amarrados de 
diversas formas e tamanhos,que serviam para contar mais que para signifi car 
ideias abstratas. As cordas com os nós variavam de tamanho, que podia ser de 20 
até mil cordas. De acordo com alguns estudiosos, entre eles William Burns Glynn, 
os nós, nas cordas, indicavam quantidade, mas também poderiam indicar objetos 
e dali defendeu a sua tese de que havia uma linguagem secreta que indicava 
também fatos, situações e acontecimentos passados.
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
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De acordo com a tese de Burns, a escritura inca (pictográfica, epigráfica, 
nilalográfica) é também "acrofônica", ou seja, quando uma palavra guarda relação 
com outros critérios e estão relacionadas com os números e as dez consoantes 
encontradas por ele, muito similares à escrita do antigo Egito. Essa escrita, a qual 
também se encontra na grafia dos primeiros judeus (cuneiforme), verifica-se que 
não havia a predominância de vogais. Burns dá o exemplo de "Mando Capac" 
que se transcreveu como "mnk kpk" e nos nós quipus estaria representado pela 
contagem "397 787".
FIGURA 6 – ADAPTADA DA OBRA DE ARTURO MALLMA CORTEZ, A ESCRITURA 
SECRETA DE LOS INCAS
FONTE: <https://bit.ly/2Qkiivg>. Acesso em: 20 jun. 2018.
De acordo com Bravo (2012, s.p.), Burns acredita que a cultura inca tinha 
um sistema de escrita de moldes geométricos e sustenta esta tese a partir dos 
tecidos incas, nas anotações de Garcilaso de La Vega e demais cronistas espanhóis 
que testemunharam essa forma de escrita:
El profesor Burns ha descubierto un alfabeto incaico de diez 
consonantes, cada una de las cuales, en el orden correlativo, se 
corresponde con cada uno de los números del sistema decimal. Este 
investigador a través de la adecuada discriminación de las opiniones 
de los cronistas ha establecido, dentro de muchas conclusiones, 
dos importantes: la primera, que cuando los españoles decían que 
los naturales del Perú no tenían escritura, lo que querían decir era 
No tenían escritura como la de nosotros; y la segunda que en los 
lexicones confeccionados por los españoles, se encuentra una serie 
de palabras que sí indican el oficio y la actividad de escribir. Quillca: 
letra o carta mensajera, libro o papel. Quillcanigui: pintar o escribir. 
Quillcacamayoc: escribano y dibujador. Quillcamaytosca: envoltorio 
como las letras. Quillcayachak, el que sabe escribir. Quillcacacuna, las 
letras. 
Ainda de acordo com Bravo (2012, s.p.), o inca Garcilaso dizia que os 
Quipucamayoc, escrivães ou escritores, escreviam em “nós” todas as coisas que 
se referiam a número "hasta las batalles, cuántas embajadas había traído el inca 
y cuántas pláticas y razonamientos había hecho del rey", e acrescentou que “a 
su turno, el mismo Guamán Poma de Ayala agrega que los escribanos asentaban 
todo en el quipu con tanta habilidad que las anotaciones hechas en cordeles 
resultaban como si se hubiera escrito con letras”.
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
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O que podemos concluir com o trabalho de Burns é a tentativa de entender 
a importância daqueles nós e o significado adicional que eles comportavam. De 
fato, se há registros para além da oralidade e há menções nos registros escritos 
dos espanhóis e dos índios evangelizados, algo a mais deve ter sido de suma 
importância. O que não fica claro na tese de Burns é como essa escrita não se 
desenvolveu ou se misturou com os demais registros escritos, principalmente os 
textos espanhóis. Talvez já saibamos a resposta: perdeu-se no tempo, sem a devida 
conservação, mas por alguma causa. Comprovamos tal assertiva corroborando 
com Bravo (2012, s.p.) ao finalizar sua análise dizendo que:
Estos signos convencionales de escritura de base geométrica se 
configuraron porque también eran más fáciles de representar en los 
tejidos. Con razón cuando los españoles de la conquista entraban a 
un pueblo vacío, por la inminente invasión, encontraban: comida, 
oro, plata, objetos, vajilla, pero los tejidos los encontraban quemados. 
Primero porque allí se contenía y guardaba la historia del pueblo; y 
segundo, porque ello serán objetos mágicos y sagrados.
Dos conclusiones: sí hubo escritura quechua; y, segundo, los quipus y 
la escritura geométrica se correspondían y eran lo mismo a efectos de 
la lectura realizada por los Quipucamayocs.
Por certo, se havia uma escrita inca anterior ao período colonial, decerto 
os quellcas ou quicas eram os que mais se encaixavam.
2.4 OS GUARANIS
Outro povo indígena que habitava a região sul da América eram os 
guaranis. De acordo com Melià (1990, p. 1), um pesquisador do povo guarani, “as 
evidências arqueológicas mostram que os guaranis chegaram a ocupar as melhores 
terras da bacia dos rios Paraguai, Paraná e Uruguai, e do sapé da Cordilheira”. 
Atualmente a língua guarani é falada no Paraguai e reconhecida como língua 
oficial junto ao espanhol. O fato de conservar uma língua nativa indígena 
reflete ao mesmo tempo a posse de uma identidade cultural, caracterizada pela 
preservação de uma tradição, herança de um povo originário. Ainda de acordo 
com Melià, os guaranis são agricultores, têm fartura e sabem trabalhar a terra. “O 
guarani é um aldeão. Há um povoado e uma casa nos quais se concentra sua vida 
social e política” (MELIÀ, 1990, p. 5). A vida do povo guarani era movida por 
ciclos fundamentados em uma cosmogonia religiosa. 
DICAS
O filme A missão (1986), do diretor Roland Joffe, é um drama que recebeu 
diversos prêmios. O filme mostra o cotidiano de uma missão jesuítica na América do Sul, na 
terra dos guaranis e a luta pela sobrevivência de uma língua e cultura. No Youtube tem uma 
versão integral do filme, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=lsOpHh21oIc.
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
24
Eles desenvolveram a tradição oral como suporte para transmitir suas 
histórias para cada geração e dessa forma se manteve uma memória viva de 
sua cosmogonia e fatos relevantes, porém a chegada dos sacerdotes jesuítas e 
suas missões junto à imposição da língua espanhola modificam a forma como os 
guaranis registram seus mitos, lendas e fatos: 
La Contrarreforma, emulando a la Reforma protestante, impulsó no 
solo la introducción en América de La Biblia y otros textos religiosos 
en castellano, sino también su traducción a las principales lenguas 
indígenas. Pero hubo un gran control para impedir o restringir al 
máximo la utilización de esta lengua para difundir las literaturas 
indias. Así, por ejemplo, a pesar de que el guaraní fue el único idioma 
usado en las misiones y el principal medio de comunicación del 
Paraguay, ni una sola producción literaria de esa lengua se transcribió 
de la oralidad durante la Colonia. Existió, sí, una profusa literatura 
en guaraní impresa en las misiones de textos católicos que servían 
a los fines de la evangelización. Las misiones ayudaron a fijar la 
lengua para valerse de ella, pero vaciándola de sus valores originales 
(COLOMBRES, 2006, p. 158).
Novamente o papel da tradução é sumamente importante, ao ser utilizada 
pelos exploradores espanhóis para registrar em língua espanhola as histórias orais 
do povo guarani. Por não ter um sistema de escrita desenvolvido ou semelhante, 
acabam registrando na língua do estrangeiro suas próprias histórias.
DICAS
Saiba um pouco mais sobre a língua Guarani disponível neste blog: https://
www.veintemundos.com/magazines/25-fr/.
2.4.1 Outros povos originários
A formação da literatura hispano-americana começará a se formar a partir 
das primeiras letras escritas em solo americano, mas ainda:
Una revisión de nuestras fuentes muestra que las diferentes regiones 
de los antiguos pueblos americanos de alta cultura han sido tratadas 
de modo muy desigual. Mientras que se han conservado muchos mitos 
y leyendas de los aztecas, de los mayas de Guatemala, de los muiscas 
y de algunas tribus del Perú, faItan representantes de otros grandes 
pueblos si no del todo, casi por completo (KRICKEBERG, 1971, p. 12).
TÓPICO 1 | O LEGADO DOSPOVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
25
Esta afirmativa se constata ao se realizar pesquisas mais extensas sobre 
os povos indígenas, como os aymara, mapuche, os cauca da Colômbia, e como 
realizaram o registro de suas histórias. A maioria dos povos originários utilizava 
a tradição oral como forma de manter sua história, o que os deixava extremamente 
vulneráveis no caso de extinção da tribo ou do sincretismo. 
Sites como YouTube e Vimeo trazem muitos documentários de vários povos 
indígenas originários da América, nos quais relatam seus modos de vida antes da chegada 
dos conquistadores. Procure vê-los com muita reflexão e crítica para trabalhar seus próprios 
argumentos. Ao longo deste livro, nós também daremos dicas e sugestões de material 
audiovisual que possam complementar certas ideias acerca desses povos originários.
3 A EXPANSÃO DA COROA ESPANHOLA
Depois da consolidação dos reinos, os reis começam a projetar novos 
empreendimentos e um deles era abrir caminho para uma expansão do comércio 
marítimo. A estratégia era buscar novas rotas para criar meios para ganhar mais 
e investir menos. Assim, neste cenário, Colombo terá a oportunidade ideal para 
mostrar seus planos e convencer os reis sobre a busca de uma nova rota marítima 
para o comércio das Índias. Tais decisões refletem diretamente nos registros 
escritos e, consequentemente, também nos registros escritos literários. Vejamos 
alguns fatos que marcaram a história.
Revisite o Livro Didático de Literatura Hispânica I para retomar os períodos 
históricos.
IMPORTANT
E
3.1 ISABEL E FERNANDO – OS REIS CATÓLICOS
Antes da unificação do reino da Espanha por parte dos reis católicos, Isabel 
e Fernando, “España vive una época en la que conviven árabes, judíos e hispanos, 
y en que lengua culta y poder clerical se ven unificados en el latín. Las lenguas 
vernáculas coexisten con las cultas, y cada una cumple sus correspondientes 
funciones” (PULIDO, 2014, p. 13). Para consolidar seu reinado, Isabel e Fernando 
expulsaram judeus e mouros de seus reinos. 
NOTA
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
26
FIGURA 7 – OS REIS CATÓLICOS, FERNANDO E ISABEL
FONTE: <https://goo.gl/ziGcGm>. Acesso em: 10 jun. 2018.
Ainda obrigaram os que ficaram à conversão forçada, o que criou uma 
nomenclatura nova para a composição da sociedade espanhola: cristãos velhos 
e cristãos novos. Os velhos eram os que já eram cristãos de toda uma vida, e os 
novos eram estes conversos à força e que muitos em segredo praticavam suas 
crenças.
A conquista de Granada era estratégica como forma de solidificar o reino de 
Castela, com a vitória dos exércitos de Isabel e Fernando, um reino consolidado, se 
procede à unificação dos diversos reinos e se forma um Estado único, respeitando 
as línguas, porém estes reinos perdem sua autonomia administrativa, passando a 
responder perante os reis de Castela. 
Após a primeira viagem de Colombo, no seu retorno foi recebido pelos 
reis católicos que viajaram de Castela para o reino de Aragão; em Barcelona 
receberam o navegador que falou e mostrou objetos e artefatos que tinha levado 
do novo mundo. Seu relato sobre as descobertas causou uma grande impressão 
em seus ouvintes e foi decidido que Colombo viajaria mais uma vez e tomaria a 
posse das terras descobertas por ele em nome dos reis de Espanha. 
Os reis católicos, após os primeiros relatos, especialmente Isabel, 
demonstraram a preocupação com a evangelização dos “povos pagãos”, eles 
estavam convictos de que era uma missão a conversão dos povos originários e 
para isso enviaram sacerdotes que empreenderam uma conversão a qualquer 
custo e própria do pensamento da Contrarreforma, o pensamento religioso 
vigente da época.
Um fator importante para a consolidação da Coroa espanhola foi o envio de 
padres junto às expedições para consolidar pela educação a soberania espanhola 
a partir da língua e da religião, e a Companhia de Jesus foi incansável nesta tarefa, 
estabelecendo suas bases em diversas regiões do continente americano: 
TÓPICO 1 | O LEGADO DOS POVOS ORIGINÁRIOS ATÉ A CHEGADA DOS PRIMEIROS EUROPEUS AO NOVO MUNDO
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A Companhia de Jesus foi fundada em pleno desenrolar do movimento 
de reação da Igreja Católica contra a Reforma protestante, podendo ser 
considerada um dos principais instrumentos da Contrarreforma nessa 
luta. Seu objetivo era tentar sustar o grande avanço protestante da 
época, e para isso utilizou-se de duas estratégias: por meio da educação 
dos homens e dos índios; e por intermédio da ação missionária, 
procurando converter à fé católica os povos das regiões que estavam 
sendo colonizadas (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 172).
Era uma preocupação por parte do próprio conquistador a conversão 
realizar uma tarefa de conversão religiosa junto aos povos originários. A 
importância de enviar padres para evangelizar os nativos e salvar suas almas a 
qualquer preço era a empresa mais importante, assim, os sacerdotes nem sempre 
entenderam a cultura local e cometeram diversas atrocidades. A rainha Isabel, ao 
escrever seu testamento no leito de morte, deixou explícito que os indígenas das 
Américas não deveriam ser escravizados, pois eram considerados cidadãos do 
reino espanhol.
Você sabia? No dia 4 de maio de 1493, o Papa Alexandre VI emitiu as bulas 
Inter Caetera II e III, as quais concediam ao reino de Castela o direito de continuar as viagens 
marítimas em mares desconhecidos e a possessão de tudo o que tinha sido encontrado por 
Colombo.
NOTA
Ao priorizar o Cristianismo na conquista, houve um prejuízo sem conta 
de vidas humanas, nesse sentido, Todorov (1982, s.p.) comenta: “si alguna vez 
se ha aplicado con precisión a un caso la palabra genocidio es a éste”, e sem 
contar a destruição de códices, textos e objetos dos povos originários, pois no afã 
de destruir obras consideradas como pagãs, destruíram tudo que era julgado do 
“demônio”. Muitos destes objetos relatavam suas histórias e crenças, e o autor 
apresenta algumas hipóteses sobre a diminuição da população indígena:
1. Por homicidio directo, durante las guerras o fuera de ellas: número 
elevado, aunque relativamente bajo; responsabilidad directa.
2. Como consecuencia de malos tratos: número más elevado; 
responsabilidad (apenas) menos directa.
3. Por enfermedades, debido al «choque microbiano»: la mayor parte 
de la población; responsabilidad difusa e indirecta (TODOROV, 1982, 
s.p.).
Efetivamente o papa concedeu aos reis católicos “el derecho para invadir, 
conquistar, subyugar y reducir a la esclavitud perpetua a las gentes descubiertas; 
la razón invocada para fundamentar tal derecho era la evangelización” 
(ALCARAZ, 1993, p. 10). Nesse sentido, a evangelização e o saqueio sistemático 
UNIDADE 1 | O PERÍODO COLONIAL HISPANO-AMERICANO
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tinham iniciado assim que o conquistador colocou seus pés em terras americanas. 
Em outras palavras, aponta o genocídio como uma forma indireta de colonização, 
a partir da imposição de língua, cultura e religião estrangeira sobre os povos 
originários. 
3.2 AS NAVEGAÇÕES, OS PLANOS E AS DESCOBERTAS 
MARÍTIMAS
Fruto da vontade de expansão marítima, o ano de 1492 acabou por se tornar 
um marco histórico que mudaria a compreensão de mundo da humanidade. O 
total desconhecimento dos espanhóis sobre a existência do continente americano 
e o encontro com os povos originários acabariam por levar a um choque cultural 
que criaria inúmeras tensões. 
Assim, a história tem tratado a literatura como o período Pré-Colombiano, 
que se refere às produções artísticas dos que já habitavam o chamado novo mundo 
antes de 1492, e Literatura hispano-americana a partir da conquista espanhola, 
em que as primeiras letras produzidas no continente americano serão textos não 
ficcionais. A ficção viria posteriormente. 
A chegada do conquistador espanhol pressupõe a posse das terras 
ameríndias em nome dos reis católicos, Fernando e Isabel, com isso a cultura 
local passa a ser suplantada pela cultura espanhola,

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