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2018 DiDática Da Língua EspanhoLa i Profª. Elys Regina Zils Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Elys Regina Zils Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 468.24 Z69d Kielwagen, Carla Wille Didática da língua espanhola I / Elys Regina Zils. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 235 p. : il. ISBN 978-85-515-0129-0 1.Lingua Espanhola. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III Hola, ¿Qué tal? En primer lugar, quiero darle la bienvenida a la enseñanza de español. A disciplina de Didática da Língua Espanhola I é uma das disciplinas do curso de Língua Espanhola e é fundamental na formação de professores. Convidamo-lo a refletir sobre questões a respeito da educação e do ensino- aprendizagem de língua estrangeira. A disciplina introduz elementos iniciais para quem está começando no ensino, criando uma base para a futura atuação na docência, mas também é interessante para quem já está em sala refletir acerca de sua prática. Essa disciplina introduz diversas questões teóricas que embasam a disciplina de Didática da Língua Espanhola I. Na Unidade 1, discutiremos a respeito de assuntos referentes às concepções de educação importantes na formação de professores e que fundamentam as teorias de ensino e aprendizagem. Por ser uma disciplina teórico-reflexiva, estaremos chamando você a refletir e a analisar as concepções de educação e didática presentes ao longo do recorte histórico apresentado. Estamos falando de teorias que são fruto de implicações ideológicas e políticas do seu contexto histórico. A partir dessa disciplina, na Unidade 2 você refletirá sobre tendências pedagógicas que orientam diferentes concepções didáticas no ensino de língua estrangeira. No decorrer da nossa caminhada, você perceberá que a disciplina tem também um caráter prático, a fim de ampliar sua visão e proporcionar uma análise relacionada com a vida real e, assim, proporcionar um conhecimento mais significativo. Essas observações nos levarão a ver a implantação dessas tendências e a sua didática relacionada no contexto educacional das escolas brasileiras ao longo da história da educação de língua estrangeira neste país. Na Unidade 3, você poderá refletir sobre diferentes questões que permeiam as práticas pedagógicas que vivenciará, com uma abordagem crítica da utilização das tecnologias do conhecimento e das ferramentas digitais de comunicação, tendo em vista especialmente a colaboração desses elementos para o ensino de língua e literatura em perspectiva cultural. Em nenhum momento daremos receitas e modelos prontos para a sua prática em sala de aula. Contudo, consideramos essa disciplina fundamental na sua formação como educador e profissional formado em Letras, pois você se sentirá mais confiante para atuar como um profissional que reflete sobre sua própria prática. Desse modo, sugerimos a você, caro acadêmico, que realize as autoatividades propostas, a fim de aumentar a sua compreensão dos textos e criar um diálogo com a sua realidade. Bons estudos! Profª. Elys Regina Zils aprEsEntação IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA ......................................................... 1 TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE ........................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA ...................................................................................... 4 3 O ANTIGO EGITO E A EDUCAÇÃO ............................................................................................ 4 4 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A GRÉCIA ANTIGA ................................................... 6 4.1 ESPARTA E A EDUCAÇÃO ..................................................................................................... 7 4.2 A EDUCAÇÃO ATENIENSE .................................................................................................. 8 5 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES ................ 9 5.1 SÓCRATES E A EDUCAÇÃO .................................................................................................. 10 5.2 PLATÃO E A EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 12 5.3 ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO ........................................................................................... 14 6 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ROMA ANTIGA ...................................................... 16 6.1 A EDUCAÇÃO NA ROMA ANTIGA ........................................................................................ 17 6.1.1 As escolas romanas ................................................................................................................. 19 6.1.2 As ideias pedagógicas de Cícero .......................................................................................... 21 6.1.3 As ideias pedagógicas de Sêneca .......................................................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 26 TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA ............................................................................. 27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................27 2 VISÃO GERAL DA IDADE MÉDIA .............................................................................................. 27 3 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA ............................................................................................... 28 3.1 SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA ................................................................................. 32 3.2 TOMÁS DE AQUINO E A ESCOLÁSTICA .............................................................................. 35 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 – A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA ..................................................................... 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 A IDADE MODERNA E O RENASCIMENTO .......................................................................... 43 3 A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRARREFORMA ................................................... 44 4 O ILUMINISMO E A EDUCAÇÃO MODERNA ....................................................................... 47 5 COMÊNIO: O PAI DA DIDÁTICA MODERNA ........................................................................ 48 6 ROUSSEAU: O PAI DO ESPONTANEÍSMO.............................................................................. 49 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54 TÓPICO 4 – CRENÇAS E O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ......................................... 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57 2 CRENÇAS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ................... 57 sumário VIII 3 MUDANÇAS DAS CRENÇAS .................................................................................................... 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 70 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 71 TÓPICO 5 – MOTIVAÇÃO DOS ALUNOS E PLANEJAMENTO METODOLÓGICO ........... 73 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73 2 MOTIVAÇÃO, CRENÇAS E ENVOLVIMENTO DOS ALUNOS NAS AULAS ............... 73 3 MÉTODOS DE ENSINO E PLANEJAMENTO DE AULAS MOTIVADORAS ................ 76 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 82 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83 UNIDADE 2 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: MÉTODOS DE ENSINO ................................................................................................................... 85 TÓPICO 1 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: QUESTÕES METODOLÓGICAS ........................................................................................................ 87 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 MÉTODO, METODOLOGIA E ABORDAGEM ............................................................................ 88 3 MÉTODOS DE ENSINO ..................................................................................................................... 90 4 MÉTODO DA GRAMÁTICA E TRADUÇÃO ................................................................................ 92 5 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................. 95 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 100 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 105 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 106 TÓPICO 2 – MÉTODO DIRETO .......................................................................................................... 107 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 107 2 MÉTODO DIRETO E O ENSINO DE LÍNGUAS .......................................................................... 107 3 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................. 108 4 CRÍTICAS AO MÉTODO ................................................................................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 113 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 114 TÓPICO 3 – MÉTODO AUDIOLINGUAL ......................................................................................... 117 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 117 2 MÉTODO AUDIOLINGUAL E UMA APRENDIZAGEM MAIS RÁPIDA ............................. 117 3 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS LINGUÍSTICOS ...................................................................... 121 4 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................. 123 5 CRÍTICAS AO MÉTODO .................................................................................................................. 125 6 DECLÍNIO DO MÉTODO AUDIOLINGUAL ............................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 129 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 130 TÓPICO 4 – MÉTODO SUGESTOPEDIA .......................................................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 131 2 SUGESTOPEDIA .................................................................................................................................. 131 3 APLICAÇÃO DO MÉTODO .............................................................................................................. 133 4 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................. 135 5 CRÍTICAS AO MÉTODO ................................................................................................................... 136 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 140 IX TÓPICO 5 – MÉTODO SILENCIOSO................................................................................................. 141 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 141 2 MÉTODO SILENCIOSO E A APRENDIZAGEM PELA DESCOBERTA .................................. 141 3 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................ 143 4 CRÍTICAS AO MÉTODO .................................................................................................................. 146 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 147 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 148 TÓPICO 6 – MÉTODO RESPOSTA FÍSICA TOTAL ....................................................................... 149 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 149 2 MÉTODO RESPOSTA FÍSICA TOTAL E O ESTÍMULO SENSÓRIO-MOTOR .................... 149 3 TÉCNICAS DO MÉTODO ................................................................................................................. 150 4 CRÍTICAS AO MÉTODO ................................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 6........................................................................................................................ 154 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 155 UNIDADE 3 – ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: CONTEXTO ATUAL ............................................................................................................................ 157 TÓPICO 1 – ABORDAGEM COMUNICATIVA ............................................................................... 159 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 159 2 ABORDAGEM COMUNICATIVA E O ENSINO COMUNICATIVO ....................................... 159 3 APLICAÇÃO DA ABORDAGEM ..................................................................................................... 162 4 TÉCNICAS DA ABORDAGEM ......................................................................................................... 163 5 CRÍTICAS AO MÉTODO ................................................................................................................... 165 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 167 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 168 TÓPICO 2 – ABORDAGEM LEXICAL ................................................................................................ 169 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169 2 ABORDAGEM LEXICAL E A COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA ................................................ 169 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 173 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 174 TÓPICO 3 – GÊNEROS TEXTUAIS E O TRABALHO COM PROJETOS DIDÁTICOS .......... 175 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 175 2 GÊNEROS TEXTUAIS ......................................................................................................................... 175 3 PROJETOS DIDÁTICOS .................................................................................................................... 180 3.1 CRÍTICAS AO TRABALHO COM PROJETOS ........................................................................... 184 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 186 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 187 TÓPICO 4 – LITERATURA, CULTURA E ENSINO DE LE ............................................................ 191 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 191 2 LITERATURA E CULTURA ................................................................................................................ 191 2.1 ASPECTOS CULTURAIS E O ENSINO DE LE ........................................................................... 192 2.2 LITERATURA E O ENSINO DE LE .............................................................................................. 195 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 203 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 209 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 210 X TÓPICO 5 – O ENSINO DE LE E AS TECNOLOGIAS ................................................................... 213 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 213 2 TECNOLOGIAS E APRENDIZAGEM ............................................................................................. 213 3 LETRAMENTO ELETRÔNICO ......................................................................................................... 215 4 RECURSOS TECNOLÓGICOS ......................................................................................................... 216 4.1 ÁUDIO ............................................................................................................................................... 216 4.2 VÍDEOS ............................................................................................................................................. 217 4.3 COMPUTADOR ............................................................................................................................... 218 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 224 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 225 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 227 1 UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • conhecer o percurso histórico das concepções de educação vigentes da An- tiguidade, Idade Média e Moderna; • conhecer os principais pensadores que influenciaram a educação; • identificar as principais visões que fundamentaram o caminho da educação; • refletir criticamente sobre as concepções de educação praticadas ao longo da história; • relacionar as concepçõesde educação ao longo da história com a realidade escolar atual brasileira; • identificar as crenças de professores e alunos relacionadas à aprendiza- gem de LE; • refletir sobre a motivação ou desmotivação dos alunos; • observar diferentes questões para elaborar o planejamento das aulas de LE. Caro acadêmico! Esta unidade de estudos encontra-se dividida em cinco tópicos de conteúdos. Ao longo de cada um deles, você encontrará sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e ao final de cada um deles estão disponíveis resumos e autoatividades que visam fixar os temas estudados. TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE TÓPICO 2 – A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA TÓPICO 3 – A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA TÓPICO 4 – CRENÇAS E O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA TÓPICO 5 – MOTIVAÇÃO DOS ALUNOS E PLANEJAMENTO METODOLÓGICO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, seja bem-vindo à primeira unidade do livro didático da disciplina de Didática da Língua Espanhola I. A didática é uma das disciplinas presentes nos cursos de licenciatura e de suma importância para a formação de professores. O nosso objetivo principal aqui é proporcionar fundamentos para sua reflexão acerca da didática e tendências pedagógicas que norteiam o ensino e aprendizagem nas práticas educacionais de língua estrangeira, no nosso caso particular, o espanhol. Nesse sentido, iniciaremos nossa caminhada discutindo a respeito de assuntos essenciais ao ensino e aprendizagem, partindo de diferentes concepções de educação presentes ao longo da história da humanidade. Afinal, nossa reflexão acerca da didática precisa ser ampla e abarcar o ensinar como um ato complexo e não neutro, pois permeia a nossa concepção de mundo, sendo ela consciente ou não. Vamos falar brevemente sobre as diferentes concepções de educação para desenvolvermos uma visão crítica e, posteriormente, refletirmos sobre as metodologias de ensino que estiveram presentes no ensino de segundas línguas pelo mundo e especialmente no Brasil – na Unidade 2. Como profissional da educação, que já atua ou que atuará futuramente na educação, é imprescindível que você reflita sobre as questões relacionadas ao ensino e aprendizagem discutidos aqui, porque esse conhecimento estará presente não só na sua formação, mas fará a diferença na sua prática pedagógica em sala de aula. Desse modo, gostaríamos que você, acadêmico, parasse para pensar sobre quais as visões de mundo que fundamentam as práticas educacionais e quais seriam essas práticas e teorias de ensino e aprendizagem presentes em escolas brasileiras. Propomos que você reflita um pouco sobre isso e depois inicie a leitura do material didático. Nesta primeira unidade, veremos as diferentes concepções de educação que se fizeram presentes no decorrer da história da didática. Portanto, para que você entenda melhor, vamos fazer uma breve retrospectiva histórica. Vamos lá! UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 4 2 EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE: CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA Iniciaremos nosso estudo recordando que os estudos referentes à didática implicam refletir sobre o ato de ensinar, e nossa caminhada pelas concepções de educação partirá de uma contextualização histórico-crítico-social para chegarmos nas práticas pedagógicas que permeiam a didática adotada pelos professores até os nossos dias. Através da leitura que você fará, perceberá que a história e as concepções de educação possuem íntima relação com o contexto em que estão inseridas. Estamos falando de um meio muito extenso e que passou por muitas mudanças ao longo da história, assim apresentaremos alguns recortes históricos que envolvem o processo educativo. Lembrando que provavelmente vamos nos deparar com momentos nos quais não existe um consenso por parte de teóricos e historiadores. Podemos dividir os períodos históricos em História Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea, lembrando que a história da humanidade se inicia na Pré-História e não existe um consenso entre os estudiosos sobre o início e fim de alguns períodos. Estudar as mudanças que o processo educativo atravessou no decorrer da história torna-se mister, uma vez que “a história da educação na Antiguidade se torna um objeto interessante na medida em que remonta à história de nosso próprio processo pedagógico” (MARROU, 1966, p. 4). A História Antiga refere-se a uma época da história da humanidade que se estende com o aparecimento da escrita cuneiforme (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano (476 d.C.). A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios e é produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha. Utilizavam argila para escrever e, quando queriam que seus registros fossem duradouros, colocavam as tabuletas em um forno. NOTA 3 O ANTIGO EGITO E A EDUCAÇÃO O antigo Egito é uma das civilizações que se destaca desse período. Se desenvolveu no Norte da África e é considerado parte das civilizações do Nilo, por estar nas margens do rio. O rio Nilo foi de grande importância para os egípcios como via de transporte de mercadorias e de pessoas, como também favorecendo a TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 5 agricultura. Foi uma civilização que se sobressaiu pelas edificações monumentais das pirâmides e templos, pelo sistema matemático e nas áreas das ciências. A educação egípcia também se evidencia por não ser exclusivamente para a elite. Classes ditas inferiores também podiam aprender a ler e a escrever. As crianças começavam cedo e a educação visava aos princípios éticos e morais, bem como a solução de problemas práticos da sociedade. As escolas funcionavam com transcrições de hinos e livros sagrados em uma prática repetitiva, além do ensino de aritmética e ciências. Destaca-se também a educação voltada à retórica. Os alunos ficavam sentados em esteiras e a disciplina era rígida, a desobediência resultava em castigos com punições físicas. As turmas eram compostas por cerca de 20 alunos. DICAS Quer se aprofundar mais na história da educação na Antiguidade? Uma dica é o livro História da Educação na Antiguidade, de Henri-Irénée Marrou, da Editora EPU. Algumas classes usavam uma espécie de livro-texto ou livro de instrução, em que o pai educava o próprio filho ou um discípulo. Esses livros seguiam a linha de educação com elementos morais, porém é só no Novo Império que a escola se consolida e que se generalizam as coletâneas escolares e cadernos de exercícios. A palavra escrita sempre teve grande importância, tanto que as pessoas alfabetizadas poderiam ascender socialmente e se tornar um escriba, por exemplo. Para se tornar escriba era necessário atingir a perfeição na reprodução de textos. A escolarização era importante para resolver os problemas da sociedade egípcia. Para Giles (1987, p. 54): Junto à tesouraria real sempre havia uma escola pública, equipada para a formação de escribas, cujos serviços eram indispensáveis para a manutenção de todo o aparato burocrático do Estado. Mesmo não conseguindo emprego junto ao governo, o escriba era sempre procurado para a administração das grandes fazendas e junto aos grandes comerciantes do reino. A instrução nessas escolas era gratuita, custeada pelo próprio Estado. O instrumento de mobilidade e de estabilidade social é a escola. Trata-se de aprender a ler e escrever para subir socialmente. Cabe lembrar que também predominava a educação familiar, na qual se aprendiam os ofícios nas oficinas artesanais. Era o conhecimento passado de geração em geração. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 6 Assim, com base em registros históricos, podemos dizer que existiam três tipos de escolas no Egito antigo: as Escolas do Templo, para o clero; as Escolas da Corte, para a formação de burocratas; e as Escolas Provinciais, para a formação de pessoas para trabalharem como funcionários do governo. DICAS Se você quiser saber mais sobreo antigo Egito, leia o livro Fatos e Mitos sobre o Antigo Egito, de Margaret Marchiori Bakos. 3. ed. Porto Alegre: EdiPucrs, 2014. 4 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A GRÉCIA ANTIGA Localizada ao Sul da Europa, é considerada o berço da civilização ocidental, com grande influência nas artes, política e princípios éticos. Os primeiros povos a ocupar a Grécia foram os pelasgos, em 2000 a.C., mas se formaram após a migração de tribos nômades de origem indo-europeia – os helenos. A vinda desses povos foi importante e deu início à construção dos tempos homéricos, o que nos faz recordar da obra Ilíada, que é atribuída a Homero e é um dos principais poemas épicos. A Grécia estava formada por várias cidades-estados, que seriam as polis. As principais polis foram Esparta e Atenas. Com certeza, você já ouviu falar delas, certo? E da mitologia grega? Os gregos desenvolveram uma mitologia muito rica, estudada ainda hoje em dia. Lá também surgiram os Jogos Olímpicos, em homenagem aos deuses, na cidade de Olímpia, a cada quatro anos. O objetivo era promover a integração entre os povos, ideal que perdura em nossos jogos atuais, não é verdade? A dramaturgia grega também foi de grande importância, com vários anfiteatros e na qual os atores usavam máscaras, mas o que se destaca é a filosofia. Platão e Sócrates são os filósofos mais conhecidos. Mais adiante vamos nos aprofundar um pouco mais nas visões desses filósofos. A educação na Grécia Antiga mantinha algumas características que vimos do antigo Egito, como a educação para cargos de poder e formação para o trabalho, mas para os menos favorecidos inicialmente não havia escolas. Assim, com o surgimento das polis, surgiram também as escolas, mas eram voltadas para os filhos da antiga nobreza/elite e comerciantes. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 7 Pode-se dizer que a educação estava voltada para a formação integral do homem, preocupada com corpo e espírito, sendo para o preparo militar ou esportivo e para a formação intelectual, dependendo do período e lugar. Cabe lembrar que existia o “ócio digno”, que seria ter tempo livre para quem não precisava se preocupar com o seu sustento. Não é por acaso que a palavra grega para escola (scholé) surgiu com o significado de o lugar do ócio (ARANHA, 2006, p. 62). DICAS Para saber mais sobre a Grécia Antiga, leia A Grécia Antiga e a vida grega: geografia, história, literatura, artes, religião, vida pública e privada, de Auguste Jadé, 1977, EDUSP. Com tradução de Gilda Maria Reale Starzynski. Tudo bem até aqui? Esperamos que sim! Então, vamos adiante. Muitos historiadores dividem a educação em Esparta e em Atenas. Seguiremos essa divisão aqui também por uma questão de organização e assim facilitar a percepção de suas diferenças. Vamos lá! 4.1 ESPARTA E A EDUCAÇÃO Esparta foi uma importante cidade-estado onde o ideal homérico resistira e seu sistema social e constituição eram focados no treinamento militar, buscando a perfeição física e o soldado ideal. Desse modo, a educação em Esparta tinha essência militar e estava subordinada ao Estado. Logo após o nascimento, os meninos eram analisados por um grupo de anciãos, que se os julgassem com boa saúde, futuramente receberia formação para ser um soldado e servir ao Estado. Até os seus setes anos, o menino permanecia aos cuidados de um “pedônomo” mantido pelo Estado visando à preparação para se tornar um guerreiro. A educação era baseada na imitação e a educação moral enfatizava a obediência, castigos físicos e o respeito aos mais velhos. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 8 Pedônomo: s. m. || magistrado que, na antiga Esparta, olhava pela educação das crianças. F. gr. Paidonomos. FONTE: Aulete digital. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/ped%C3%B4nomo>. Acesso em: 12 ago. 2017. NOTA Até os 12 anos, os meninos tinham lições de música e poesia, depois dessa idade recebiam duro treinamento militar. A educação era veiculada por meio da música e até ginástica. E você, está se perguntando sobre a educação das meninas? Elas recebiam educação diferenciada, com o objetivo de formar boas esposas e mães. Mesmo a participação delas em esportes, era com o intuito de ter um corpo saudável para ter bebês saudáveis e fortes. DICAS Assista ao filme 300, de Zack Snyder, 2007. O épico, com a participação do ator brasileiro Rodrigo Santoro, se passa na Grécia 480 a.C. e retrata o confronto entre gregos e persas. Apesar de toda a licença poética de um filme, ele é interessante para se ter uma ideia dessa educação voltada ao treinamento militar de que estamos falando. 4.2 A EDUCAÇÃO ATENIENSE A educação ateniense se destaca como berço da concepção de cidadão da polis e visava a uma formação completa do indivíduo. Uma educação que aos poucos passou a contemplar também os cidadãos livres, os menos favorecidos, e não só o grupo da elite. Estamos falando do período em que surge o fortalecimento da escrita, que até então ficava limitada à administração estatal. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 9 DICAS O alfabeto grego teve como influência o sistema de símbolos criado pelos fenícios (tem-se registros que datam do século XI a.C.). Os fenícios se destacaram pelas embarcações e no comércio. Resultante desse movimento, sentiram a necessidade de criar um sistema para facilitar a comunicação, assim surge o sistema de símbolos que consistia em um alfabeto fonético composto por 22 letras. Os gregos adaptaram esse sistema e, posteriormente, os romanos desenvolveram sua forma de escrita, dando origem ao alfabeto latino, o nosso alfabeto atual. Para saber mais sobre a história da escrita, acesse: <http://webeduc.mec.gov.br/ midiaseducacao/material/impresso/imp_basico/e1_assuntos_a1.html>. Essa nova escrita foi responsável pela democratização da educação. A metodologia de ensino nesse período está baseada em primeiro aprender as letras oralmente, repetindo os nomes das letras e, posteriormente, de modo escrito. Você está achando esse método familiar? Se não você, mas seus pais ou avós provavelmente passaram por esse método. Estamos falando do período em que começa a preocupação com a formação do cidadão. Para Maria Lucia Aranha (2006), surge uma nova concepção de cultura e de lugar do indivíduo na sociedade, que também influencia a educação e as teorias educacionais. Diferente de Esparta, aqui o menino com sete anos tinha uma educação mais “leve”, voltada a três tipos de conhecimentos/escolas: escola de ginástica, escola de música e escola das letras. Isso para os meninos, pois as meninas ficavam com as mães para aprenderem as atividades do lar até o casamento. As atividades físicas eram destinadas a questões de saúde e não visando à guerra. Você está percebendo como a educação se deu desde o Egito até a Grécia Antiga? Suas diferenças e semelhanças? Esse caminho é fundamental para termos uma compreensão mais ampla da educação na nossa época. 5 CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES As primeiras teorias educacionais surgem ainda na Grécia Antiga, mas é na época clássica que os conflitos entre o ideal educativo ganham destaque, com os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Caro acadêmico, você com certeza já ouviu falar nessas três figuras tão importantes. Aqui vamos concentrar nosso diálogo na perspectiva da história da educação, pois o legado deles é amplo. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 10 5.1 SÓCRATES E A EDUCAÇÃO Vamos agora conversar sobre a concepção de educação de Sócrates. Começaremos mencionando que nesse cenário (V a.C.) inicialmente estavam presentes os sofistas. Esses professores dominavam a educação na época, com um modelo de educação voltado à formação técnica em diferentes áreas, artes, letras, retórica. Os sofistas eram grupos de professores ambulantes indo de cidade em cidade oferecendo seus ensinamentos a quem podia pagar, à elite, em discursos públicos. O foco deles era o discurso e a argumentação, a fim de ensinar a virtudee formar homens da mais alta virtude humana, incluindo o homem público. NOTA Por pregarem que o homem público, dirigente de Estado, precisava dominar a retórica e a oratória sofista para convencer com seus discursos, os sofistas foram criticados por Sócrates (469 – 399 a.C.) e seu discípulo Platão (428/7 – 348/7 a.C.). Esses dois filósofos acreditavam que essa educação não levava em consideração valores de verdade, justiça e filosofia, oferecendo uma educação fragmentária. Sócrates defendia em seus diálogos, em praças públicas, uma concepção de educação relacionada ao autoconhecimento. Segundo o pensador, o homem não adquire capacidade de conduzir a si mesmo ou aos outros, sem a capacidade de autodomínio. Para ele, era preciso buscar o conhecimento da essência de cada um presente desde o nascimento. Essa visão idealista caracteriza-se como inatista. O papel do educador não é ensinar, ele proporciona condições ao aluno para o autoconhecimento, ou seja, para revelar o que já estava no aluno. Desse modo, o professor não é provedor de conhecimento, mas um meio para que o aluno consiga por si próprio iluminar a sua inteligência. Para Sócrates, segundo registros na obra de Platão, sua missão era caminhar pelas ruas, praças e escolas atenienses dialogando, considerava importante o contato com os interlocutores. Podemos pensar aqui em método de educação pelo diálogo. Afirma-se que Sócrates comparava seu método com a profissão de parteira. Em um primeiro momento, seriam as “dores do parto”, em que Sócrates partia da premissa de que nada sabia, levando o interlocutor a mostrar suas opiniões. Depois levava esse interlocutor a perceber suas próprias contradições e ignorância para uma depuração intelectual. Só então ocorria o “parto de ideias” (maiêutica), a TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 11 reconstrução do conceito que o interlocutor ia construindo até alcançar o conceito verdadeiro por aproximações sucessivas. Chamamos a atenção para o fato de que o filósofo não dava luz à ideia, apenas auxiliava. A maiêutica é um método ou uma técnica que consiste em realizar perguntas a uma pessoa até que esta descubra conceitos que estavam latentes ou ocultos na sua mente. O questionário é desenvolvido por um professor que deve encarregar-se, com as suas perguntas, de guiar o seu discípulo (aluno) para o conhecimento não conceitualizado. A técnica da maiêutica pressupõe que a verdade se encontra oculta na mente de cada pessoa. Através da dialética, o próprio indivíduo vai desenvolvendo novos conceitos a partir das suas respostas. FONTE: Disponível em: <http://conceito.de/maieutica>. NOTA autoativida de Vamos refletir um pouco sobre este método? Como nós, professores, ou os nossos professores fazem para que possamos chegar ao conhecimento? Será que é incentivando os alunos a pensarem por si mesmos? Apesar do modelo sofista persistir por muito tempo, podemos pensar em exemplos de educação fragmentária ainda muito próximos a nós, a partir de agora já podemos afirmar que o ideal de educação passa a ser a Paideia, visando à formação integral do homem. Nesse sentido, estamos rumo à educação para a Pedagogia como conhecemos hoje, pois aqui começam as reflexões sobre o ato de ensinar. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 12 ATENCAO A Paideia originalmente significava criação dos meninos, mas se expande nessa época (IV a.C.) para o ideal educativo da Grécia no período clássico. Diz respeito à formação do homem como cidadão. Platão define Paideia da seguinte forma: “[...] a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento” (JAEGER, 1995, p. 147). Para saber mais sobre a Paideia, veja o livro Paideia: a formação do homem grego, de Werner Jaeger, 2001, da Editora Martins Fontes. Desse modo, podemos concluir que a pedagogia socrática parte de reflexões sobre o sentido da educação e os objetivos dessa educação. Afirma-se que, com Sócrates, “o ser humano voltou-se para si mesmo” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 28), visando à sabedoria por meio do autoconhecimento. Da concepção socrática, de que o homem é composto de alma e corpo, nascem duas vertentes: a idealista de Platão e a realista de Aristóteles. Veremos ambas a seguir. 5.2 PLATÃO E A EDUCAÇÃO Iniciaremos nosso diálogo sobre a concepção de educação de Platão. Para ele, existe um mundo das ideias que está por trás do mundo sensível. As ideias são formas puras e tudo o que percebemos é formado a partir das ideias, mas seriam imitações imperfeitas. O filósofo compartilhava da ideia de inatismo, e acreditava que a alma precede o corpo e já possui o acesso ao conhecimento antes de encarnar, porém somente por meio da dialética é que se poderia chegar à verdade, a essa realidade das ideias. Desse modo, a república ideal seria alcançada por meio da Paideia filosófica, por meio da argumentação. Podemos comparar a ideia de que não é possível transmitir conhecimento, mas proporcionar aos alunos para que eles busquem as respostas. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 13 FIGURA 1 – ESCOLA DE ATENAS / AFRESCO DE RAFAEL FONTE: Disponível em: <http://www.pedagogia.com.br/historia/grego2.php>. Acesso em: 23 ago. 2017. Nesse sentido, sobre essa questão, Platão se diferencia do mestre Sócrates, para quem todos seriam capazes de adquirir conhecimento. Platão acreditava que só alguns têm essa capacidade, e que somente os cidadãos livres conseguiam passar do mundo das aparências/imitações para o mundo das ideias. Segundo o filósofo, “o fim da educação é a formação moral do homem, e o meio de atingi-la é o Estado, na medida em que ele representa a ideia de justiça. Assim, podemos dizer que a ideia central da pedagogia platônica é a formação do homem moral dentro do Estado justo” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 29). Platão considerava a educação de suma importância, de modo que o Estado deveria ser responsável por ela. Esse princípio repercutiu futuramente no Ocidente, assim como a questão da educação igualitária para meninos e meninas de Platão. Platão não via com bons olhos a influência dos mais velhos sobre a educação das crianças. Desse modo, a educação platônica pregava que as crianças deviam ser separadas dos pais e levadas ao campo. Nesse início, a educação seria mais leve, incluindo jogos e esportes, até os 10 anos, “[...] pretendia-se, com isso, criar uma reserva de saúde para toda a vida” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 29). Depois fariam parte da educação aulas de música, poesia, além de matemática, história e ciência. Posteriormente, aos 16 anos, a música andaria com os exercícios físicos, a fim de desenvolver o corpo e o espírito juntos. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 14 Aos 20 anos, o jovem passava por um teste. Os reprovados seguiriam carreira militar e os aprovados deveriam seguir o caminho da sabedoria, estudar filosofia. Estes últimos, se bem-sucedidos, poderiam chegar a se tornar governantes. Podemos concluir que a pedagogia platônica estava intrinsecamente ligada à sua filosofia. Desse modo, para Platão, não se aprenderia por meio da transmissão de conhecimento, mas se deveria incentivar os alunos a buscarem as respostas por si, por meio da conversação. 5.3 ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO Caro acadêmico, após vermos as concepções de educação de Sócrates e seu discípulo Platão, vamos dialogar agora sobre Aristóteles (384-322 a.C.). Ele também se destacou no meio grego como filósofo e seus estudos abrangem diversas áreas, como lógica, física, metafísica, astronomia, artes, retórica, ética. Sua filosofia até influenciou uma revolução científica. Para nossos estudos, você precisa saber que Aristóteles foi aluno de Platão, que era aluno de Sócrates, e, assim como ele, dá continuidade às ideias de Platão, mas também rompe com outras. Desse modo, alguns elementos acerca da concepção de educação de Aristótelesvieram de Platão. Gostaríamos que você compreendesse que, para Aristóteles, a educação era uma forma de preparar o homem para viver em sociedade. Contudo, não era crítico da sociedade do seu tempo nem da democracia, como Platão. O pensador acreditava que o homem só alcança a plenitude vivendo em uma polis, uma cidade-estado. Assim, a educação seria um modo de moldar o homem para ser um cidadão virtuoso e com boa educação. Sob outra perspectiva, a educação é um meio para desenvolver as condições fundamentais para o fortalecimento do Estado. Dada a importância da educação para o cidadão e para o Estado, Aristóteles era categórico ao afirmar que a educação deveria ser pública, oferecida para todos e um direito que o Estado deveria garantir. Uma das vantagens da educação proveniente do Estado seria uma educação mais coesa, defendendo os interesses do Estado, como também a busca por uma unidade social, uma vez que o Estado é plural no sentido da heterogeneidade étnica. Não podemos esquecer que, para o filósofo, a educação também viria fundamentada na família, além do Estado, isto é, o Estado promoverá com a família a educação da criança e supervisionará essa educação visando à qualidade esperada para sua polis. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 15 Nesse sentido, Aristóteles era adepto da concepção de Esparta. Como vimos, ao nascer, os meninos passavam por uma avaliação de uma comissão que julgaria se eles eram saudáveis ou não, ou seja, se eles fossem fortes, seriam úteis e teriam direito à vida, caso contrário, seriam sacrificados em prol do Estado. Os meninos viveriam com a família até os seus sete anos, a qual deveria nutri-los e habituá-los a lições. Posteriormente, o Estado os educaria até os 20 anos, visando à educação física, moral e cívica. A educação objetiva a obediência e o serviço ao Estado. Como comentamos inicialmente, Aristóteles discordava de algumas ideias de Platão, como no caso do ensino da retórica. Você lembra que Platão valorizava a retórica? Esta era indispensável para a educação, mas Aristóteles acreditava que não era bem assim, como no ensino da matemática, por exemplo, não se poderia aprender por meio apenas da retórica. Segundo Aristóteles, a educação se daria por meio da repetição. Uma boa educação se daria imitando bons exemplos. Segundo Piletti e Piletti (2012, p. 35), Aristóteles desenvolveu seu conceito de educação partindo da ideia de imitação: O homem se educa na medida em que copia a forma de vida dos adultos. Ele se educa porque atualiza suas energias. Segundo a doutrina da potência e do ato de Aristóteles, o educando é potencialmente um sábio e, com a educação, ele atualiza (converte em ato) o que é suscetível de desenvolver. A concepção de educação de Aristóteles se diferencia da platônica também no sentido de que, para Aristóteles, não se pode ter um ideal utópico, pois o homem é imperfeito. O homem pode passar de um estado de imperfeição para a perfeição através de um estado virtuoso, mas nem todos alcançam esse ideal. É preciso condições adequadas para que se alcance esse estado de plenitude e sua finalidade, o que se daria por meio da educação. “A finalidade da educação é a felicidade ou o bem” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 32). Podemos concluir essa parte resumidamente, afirmando que enquanto Platão tinha uma concepção mais idealista e elitista, Aristóteles era mais realista e acreditava que todos possuíam a capacidade de pensar. Podemos afirmar que, para Aristóteles, a educação se dá por meio da experiência e imitação. Nesse sentido, o professor era o orientador e o exemplo por meio das suas ações. DICAS Quer saber mais sobre Aristóteles? Então leia Introdução a Aristóteles, de Otfried Höffe, 2008, publicado pela Artmed. Tradução de Roberto Hofmeister Pich. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 16 6 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ROMA ANTIGA Para começar nossa discussão a respeito da educação romana, precisamos saber que Roma foi uma civilização itálica que se iniciou como uma pequena cidade no século VIII a.C. e se expandiu tornando-se um dos maiores impérios do mundo antigo. A herança cultural deixada pelos romanos influenciou fortemente a civilização ocidental, como o direito romano e o latim, que está na origem da nossa língua. O latim é oriundo das línguas indo-europeias praticadas na Península Itálica. Essa antiga língua foi difundida na Europa ocidental durante a República Romana e depois da conversão ao cristianismo. Deu origem às chamadas línguas românicas, como o português e italiano, francês, romeno, espanhol, entre outros. Embora a considerem uma língua morta, por não ter mais falantes, muitas expressões em latim ainda sobrevivem em nosso dia a dia, como: a priori, curriculum vitae, corpus christi, carpe diem etc. NOTA DICAS Saiba mais sobre a história da língua lendo o seguinte livro: BASSO, Renato Miguel; GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. História da Língua. Florianópolis: LLV/CCE/ UFSC, 2010. Você também pode obter mais informações sobre o latim acessando o link: <http://latim. paginas.ufsc.br/files/2017/04/Livro_Lingua_Latina_I.pdf>. A sociedade romana sofreu influência da cultura grega, assim, muito da educação romana é um reflexo da educação grega. Para os historiadores, na fundação de Roma está a mistura de três povos: gregos, etruscos e italiotas. Esses povos habitavam a região da Península Itálica. A economia aqui era baseada na agricultura e atividades pastoris. Nesta época, a sociedade estava formada por patrícios (nobres donos de terras) e plebeus (artesãos, comerciantes e alguns pequenos proprietários). Vigorava a monarquia. Ao longo da sua história, Roma passou por várias formas de governo: Monarquia (de 753 a.C. a 509 a.C.), República (de 509 a.C. a 27 a.C.) e Império (de 27 a.C. a 476 d.C.). TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 17 Desses períodos, destacamos o Império Romano, que se deu após a ampla expansão territorial e enriquecimento de Roma. O Império Romano se refere ao Estado romano, posterior à reorganização política em um sistema semelhante ao da maioria dos países modernos. Roma possuía uma religião politeísta, semelhante à da Grécia Antiga. No entanto, entre os povos subjugados estavam os judeus, que trouxeram crenças do cristianismo primitivo, e em 313 o imperador Constantino instituiu o Edito de Milão, e o cristianismo se tornou a religião oficial do império. Nesse período histórico, as disputas pelo governo, as invasões bárbaras, o discurso igualitário cristão e uma conjunção de fatores levaram o império à crise. Roma se tornaria pequenos reinos. Nesse cenário, estamos falando do fim da Antiguidade e começo da Idade Média. Assim como durante seus vários séculos de existência, Roma passou por várias fases, e o modo como proporcionava a educação também foi se transformando. Posto isso, podemos partir para a discussão sobre a educação na Roma Antiga. 6.1 A EDUCAÇÃO NA ROMA ANTIGA Podemos resumir a educação romana como essencialmente prática e utilitária, pautada na moral militarista e utilizando-se da imitação, tendo o sujeito mais velho como exemplo. Para melhor compreensão do processo da educação romana, vamos ver atentamente os diferentes períodos e sua evolução. Vamos lá! Comentamos anteriormente que a cultura romana teve influências da civilização grega e, de fato, teve, porém precisamos esclarecer que apesar dos filósofos gregos, que vimos no tópico anterior, terem discutido sobre a educação, sobre métodos, organização e objetivos relacionados à educação, isso muito pouco repercutiu na educação romana. Para Piletti e Piletti (2012, p. 37), na transição da educação grega para a romana “observa-se que os romanos descobrem que toda educação tem um fundo comum a todos os povos e tempos. Em outras palavras, descobrem que existe algo próprio em todos os seres humanos, algo que só eles podem criar e assimilar”. Desse modo, a educação grega se transforma em uma educação diferente, com um novoideal. Cícero chamou essa educação de humanitas, de acordo com a natureza de cada indivíduo. Veremos mais sobre as concepções de Cícero adiante. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 18 DICAS Se você ficou interessado em descobrir mais sobre a Roma Antiga e como era a vida nessa época, uma dica de leitura é o livro Guia do Viajante pelo Mundo Antigo – Roma, de Ray Laurence, da Editora Ciranda Cultural, 2010. Ele irá transportá-lo de volta ao tempo, dando vida à história. A educação romana estava orientada pela Lei das Doze Tábuas. Era um documento gravado em 12 placas de bronze e redigido por uma comissão, fixado em 451 a.C. Nesse texto-base estava exposto o valor da tradição – costumes e disciplina familiar –, além de valores como coragem e dignidade, e expressado um código civil. Inicialmente, a educação na República Romana estava condicionada a um caráter prático e familiar. O pai era o primeiro educador e ele estava a cargo de questões como moral e estudo das letras. Ele era o pater familias. Segundo Manacorda (1999, p. 74), “[...] desde os primeiros tempos da cidade, a autonomia da educação paterna era uma lei do Estado: o pai é dono e artífice de seus filhos”. A mulher também era valorizada como educadora na primeira infância, aqui ela era menos submissa que na Grécia, mas sua educação ainda era visando à formação de boas esposas. A família era a instituição mais importante no processo educativo e o processo vigorava com disciplina rígida e autoritária. A partir dos seus sete anos, os meninos deveriam acompanhar o pai na vida civil. Aos 16 anos, o adolescente passava à condição de adulto e vestia a toga viril, sua educação era compartilhada com parentes ou amigos da família para aprender a arte da guerra, ginástica, natação, equitação, agricultura, história da pátria e a ler e escrever. Posteriormente, no auge do período da República ao Império Romano, o sistema educacional foi se formalizando, pois Roma crescia e o sistema de educação familiar decaía. Inicialmente, o novo sistema educacional seguia os Podemos dividir a educação romana em três momentos: o primeiro, de uma educação latina original com características patriarcais, o segundo momento com influências do helenismo e reprovada pelos defensores da tradição, e o terceiro momento com a fusão da cultura romana e helenística, com claros valores gregos. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 19 moldes da educação grega. Surgiram escolas rudimentares voltadas ao ensino básico. Vamos ver no próximo item mais sobre essas escolas romanas. 6.1.1 As escolas romanas Com a expansão do Império Romano, o modelo de educação anterior já não era suficiente. Assim, as escolas passaram a receber influências de outros povos, e como já comentamos, a educação romana se aproximou dos estudos gregos, visando à formação gramatical e relacionada à língua grega. Às vezes eram escravos libertos gregos com inclinação para a educação que se tornavam pedagogos. Alguns desses escravos ensinavam sua própria língua e cultura. Na verdade, de certo modo, essa já era uma prática no seio familiar. Para Manacorda (1999, p. 78), “[...] com o evoluir da sociedade patriarcal romana, a educação se torna um ofício praticado inicialmente por escravos no interior da família e, em seguida, por libertos na escola”. Quando os estudantes romanos procuravam níveis mais altos de educação, recorriam à Grécia para estudos de filosofia. Uma curiosidade é que, diferentemente da Grécia, que via o professor/ mestre como um homem sábio, merecedor de respeito, em Roma parece que o mestre não possuía regalias, recebia baixos salários e, como comentamos anteriormente, muitas vezes eram escravos libertos. Lógico que havia exceções e o reconhecimento começou a surgir na época imperial. O sistema educacional literário também passou a se desenvolver com a aproximação dos gregos, afinal, os romanos não possuíam um método literário, pois não tinham literatura nacional e os gregos contavam com grandes obras. O ensino da literatura em versos era baseado em obras dos gregos. Os romanos também escreviam, mas as obras se limitavam à prosa, e afirma-se que “a literatura do cidadão romano deve ser de participação nos atos públicos ou de manifestação de suas funções privadas, como a de um administrador ou a de um educador, jamais poderia ser uma arte ou uma profissão exercida para viver [...]” (MANACORDA, 1999, p. 84). DICAS Você pode saber mais sobre a literatura latina com a leitura do seguinte livro: CARDOSO, Zélia de Almei da. A literatura latina. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 20 Grimal (2010, p. 154) chega a afirmar que a língua cultural em Roma era o grego e que muitos professores gregos em terras romanas impuseram sua língua e se recusaram a aprender a língua latina. Nesse sentido, também podemos dizer que nessa época surgia uma educação baseada em uma língua estrangeira, pois os alunos romanos tinham aulas em grego. É atribuído aos romanos o primeiro sistema de ensino centralizado, que coordena várias escolas pelas províncias. Os gregos já haviam considerado a importância de o Estado controlar a educação, no século II a.C., mas os romanos se diferenciaram nesse aspecto, preferindo ir caminhando e escolhendo, sem muita preocupação com a unificação e organização das matérias relevantes. Uma curiosidade que historiadores acreditam é que só no século I a.C. foi fundada uma escola de retórica latina dando reconhecimento à língua dos romanos. Na verdade, a Retórica era o ramo do saber que mais gozava de prestígio em Roma, apesar de que no começo as escolas de Retórica não eram bem-vistas, foi só na época de Júlio César que passaram a ser aceitas. “Além do mais, a educação retórica foi caindo num formalismo vazio censurado por muitos pensadores. Então, o Direito e a Filosofia vieram preencher esse vazio. Surgiram, assim, as escolas de Direito. Roma e Constantinopla tiveram as melhores escolas desse gênero” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 38). Nesse sentido, além das escolas de Direito também surgiram escolas de filósofos e institutos helenísticos, ambos contribuíram para o surgimento de universidades em Roma. Podemos destacar o Ateneu, fundado pelo imperador Adriano, como um grande centro de cultura superior. As universidades romanas tinham o objetivo de reunir várias disciplinas, mestres e aprendizes. Para Piletti e Piletti (2012, p. 39), logo se percebeu as vantagens dessa reunião, “tanto que elas serviram de modelo para o que mais tarde se chamou de universitas litterarum (universidade do saber)”. Essas foram devidamente organizadas e protegidas por imperadores por meio de decretos que garantiam sua estabilidade e incentivo. Nesse cenário, também mencionamos que as bibliotecas começam a se multiplicar. Os imperadores também se preocuparam com o ensino elementar, que era incentivado à custa do Estado, uma vez que já existia uma preocupação com os menos favorecidos. Os imperadores Nero e Trajano (I d.C.) chegaram inclusive a fornecer alimentação para as crianças mais pobres. Outro exemplo de imperador preocupado com a educação foi Antonio, que criou exames oficiais para os que desejavam ser professores, e o imperador Juliano organizou um sistema de inspeção escolar (PILETTI; PILETTI, 2012). A sistematização das escolas se deu por graus e com manuais didáticos específicos. Existiam três graus distintos de escolas: o primeiro grau ou elementar com a instrução primária, depois o ensino secundário e superior. Cada um TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 21 desses graus possuía um mestre especializado e tem-se conhecimento das escolas primárias já no século VI a.C., e as secundárias datariam do século III a.C. Vamos ver um pouco mais sobre cada um desses graus: • O primeiro grau era o elementar, destinado à alfabetização, ler, escrever e calcular. Essas escolas eram conhecidas como Ludi, que significa jogo, no sentido de diversão,e o mestre era o ludi-magister. • O próximo grau se refere à gramática, eram as escolas do gramático, nas quais se aprendia a cultura, como música, astronomia, oratória, além da literatura com perspectivas gramatical e filosófica. Seria o que hoje chamamos de curso secundário. Como existiam o ensino da língua grega e da língua e literatura romana, acredita-se que essa formação estava baseada em dois grammaticus: o grammaticus graecus e o grammaticus latinus, mas muitas crianças mais pobres não chegavam a esse grau da educação, pois ao terminar o Ludi, iam para casas de mestres a fim de instrução técnica/profissionalizante. • O terceiro era as escolas de retórica, como estabelecimento de educação terciária. Aqui se discutiam problemas reais e fictícios, como sobre discursos morais. Essas escolas, “após acolher o ensino do Direito e da Filosofia, se transformaram numa espécie de universidades” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 39). Mesmo com esse desenvolvimento das escolas e a preocupação dos imperadores com a educação dos menos favorecidos, frisamos que ainda existia distinção de classes e, assim, existiam escolas para esses menos favorecidos. Lá a educação era voltada às questões profissionalizantes. Como vimos, por muito tempo a educação era responsabilidade da família e foi se formalizando aos poucos ao longo dos tempos, desse jeito não tivemos grandes pensadores/pedagogos em Roma, como na Grécia, porém entre as referências da reflexão sobre a educação na Roma Antiga, destacaremos aqui Cícero e Sêneca. A seguir, veremos quais foram as contribuições deles para o ensino. 6.1.2 As ideias pedagógicas de Cícero O seu nome completo era Marco Túlio Cícero (106-46 a.C.), embora não fosse de família tradicional, conseguiu ter carreira política e foi um eminente orador romano, falava e escrevia perfeitamente a língua grega. Desse modo, ele dá grande importância ao ideal do orador, “pois considera a eloquência a forma decisiva na vida pública romana” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 37). Cícero foi grande admirador de Platão, sua pedagogia se baseia nas ideias desse filósofo, seguindo sua linha política. Sua pedagogia enaltecia cursos de oratória que deveriam ser divididos em duas partes, “puerilis institutio”, um curso básico, e o “politior humanitas”, um nível superior. Na base da formação do orador estariam as disciplinas de UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 22 inspiração grega, que ele chamou de “Artes liberais”, como Filosofia, Matemática, Retórica, Geometria e Astronomia, porém as disciplinas mais importantes para um orador seriam a História, para conhecimento do povo, e o Direito. Para Piletti e Piletti (2012, p. 37), além do objetivo político de Roma, Cícero acreditava em um ideal educativo com um sentido cosmopolita. Para ele, “o ideal ecumênico da humanitas deve reunir os diversos povos num império, o Império Romano”. Humanitas foi a expressão usada por Cícero que corresponderia à “Paideia” dos gregos. Contudo, se trata de uma cultura humanística e universal. Diz respeito à formação do homem sábio e virtuoso, além de um orador ideal. NOTA Para Cícero, a educação deveria visar ao pleno desenvolvimento da natureza humana geral (humanitas), ou seja, desenvolver a vocação e aptidões naturais de cada indivíduo, assim como as disposições peculiares com base nas quais o indivíduo deve escolher sua profissão, o que estava em consonância com a doutrina platônica das vocações humanas. Suas ideias pedagógicas influíram na educação na época do Império Romano, mas também ultrapassaram a Antiguidade como expressão da latinidade e humanistas, repercutindo no Renascimento. 6.1.3 As ideias pedagógicas de Sêneca Sêneca (2-66) foi um dos mais importantes pensadores romanos em matéria de pedagogia. Nasceu em Córdoba, mas passou a maior parte da sua vida em Roma. Suas ideias pedagógicas partem da preocupação com a individualidade do aprendiz. Semelhante a Cícero, afirma que o mestre precisa considerar a psique frágil do seu aprendiz para que seja alcançado o objetivo de viver em harmonia com a natureza. Nesse sentido, suas ideias vão ao encontro dos helenistas que buscavam um meio para a libertação do indivíduo dos males e rigores da vida. A intenção educativa de Sêneca também comparte seus fundamentos com os modelos do Estoicismo, com uma preocupação pedagógica relacionada aos saberes mais universais e autônomos. TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE 23 A filosofia estoica é a primeira da história a considerar-se “sistemática”. A palavra sistema designava em grego a constituição de um organismo ou de uma cidade e foram os estoicos que a aplicaram pela primeira vez à filosofia, querendo significar que a sabedoria é um todo. Sua divisão em partes somente era possível fazer didaticamente, segundo as necessidades do ensino, mas com a condição de compreender que cada parte é solidária às outras e que o abandono de uma delas provoca a ruína do conjunto. A escola estoica foi fundada em Atenas, por Zenão de Cício, por volta de 300 a.C. Fonte: CABRAL, João Francisco Pereira. "Os Estoicos". Brasil Escola. Disponível em <http:// brasilescola.uol.com.br/filosofia/os-estoicos.htm>. Acesso em: 28 jun. 2017. NOTA Dando continuidade, para Sêneca, a educação deve ter um caráter prático, não se limitando ao conhecimento escolar, mas visando à vida. Para ele, a educação era voltada para a educação moral. Segundo Sêneca, “a formação moral da juventude tem que ser dada principalmente através dos exemplos, pois eles conduzem ao fim mais depressa do que os preceitos” (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 40). autoativida de Reflita a respeito do que vimos sobre a educação romana e a educação brasileira na atualidade. Será o bom exemplo ainda valorizado como forma de educação a seguir, ou vivemos em um “faça o que eu digo, mas não faça o que faço?” Para o pensador, a aquisição da virtude levaria à felicidade através da liberdade e da filosofia, que seriam responsáveis pela conduta moral. Nessa dinâmica, o conhecimento conduz à liberdade, e esta, à moralidade. Quando falamos em liberdade, temos que ter claro que, para Sêneca, assim como para os estoicos, não estamos nos referindo ao gozo dos prazeres, mas ao domínio dos apetites pessoais. Só assim se alcançaria a felicidade. DICAS Para saber mais sobre os estoicos, uma dica é o livro O estoicismo romano, de Reinholdo Aloysio Ullmann, da EDIPUCRS, 1996. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 24 Sêneca acreditava que o homem alcançaria a plenitude se lograsse viver conforme a natureza, ou seja, desenvolver o seu potencial, mas de modo espontâneo, só assim se chegaria à virtude e à felicidade suprema (REALE, 1994). Esse era o caminho para a educação. O objetivo fundamental da educação não estava restrito a conhecimentos culturais e intelectuais, e sim visava à regeneração do homem, procurando as qualidades do homem de bem e como sê-lo. Assim, para Sêneca, a sabedoria ia além dos conhecimentos das leis universais, abrangendo também a formação de um homem que soubesse como se conduzir e no exercício da virtude. DICAS Além do conteúdo que você estudou neste tópico, trazemos para você algumas sugestões de materiais que podem complementar seus estudos. Confira: • CHAUÍ, M. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. • MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006. • FISCHER, Steven Ro ger. História da escrita. São Paulo: EdUNESP, 2009. DICAS • Quer conhecer a obra “As Catilinárias de Cícero (Orador Romano)? Assista à narração, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MpDnhhAQc9c>. • Assista ao vídeo sobre a História da Roma Antiga. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=T5JgS405CgA>. • Você pode também assistir ao documentário sobre Roma. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=KnKwHAw5afM>. • E para saber mais sobre a Paideia, assista ao vídeo “PAIDEIA:O ideal da Educação na Grécia Clássica”, da Nova Acrópole. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=fFNDdEjmki0>. 25 Neste tópico, você viu que: • A educação egípcia começava cedo e visava aos princípios éticos e morais. Se dava por meio da repetição, como transcrição de hinos e livros sagrados, e estava voltada para a solução de problemas da sociedade. • Na Grécia Antiga a educação visava à formação integral do homem, corpo e espírito, valorizando mais o preparo militar ou a formação intelectual, dependendo do período e lugar. • Esparta foi uma importante cidade-estado da Grécia e sua educação estava voltada para a formação militar e formação do soldado perfeito. • Em Atenas, outra importante cidade-estado da Grécia, a educação estava preocupada com a formação completa do indivíduo e formação do cidadão. • A pedagogia socrática refletia sobre o sentido da educação e os objetivos que deveriam ser alcançados. O melhor caminho para a sabedoria, para Sócrates, era o autoconhecimento. • Platão possui uma visão da educação mais seletiva, acreditando que poucos tinham aptidão e que o conhecimento não era transmitido, mas que o aluno deveria ser incentivado a descobrir sozinho. • Para Aristóteles, caberia à educação desenvolver o hábito da virtude e ser o caminho da felicidade, tudo a favor da polis. • A pedagogia romana baseou-se no modelo educativo dos gregos, mas acrescentou particularidades também. Roma foi importante para a institucionalização de um sistema de ensino e para a unificação e organização das matérias relevantes. • A educação romana preservava uma mentalidade prática, e a família mantinha um papel importante na educação, assim como a memorização e a retórica. RESUMO DO TÓPICO 1 26 1 Dos povos da Antiguidade, os gregos se destacam em vários aspectos, inclusive no que se refere à educação. Lá surgem as primeiras teorias educacionais e repercutem as influências de grandes pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Sobre esses três pensadores, analise e relacione os itens que seguem: 1- Sócrates 2- Platão 3- Aristóteles a) ( ) Defendia uma concepção de educação inatista. Em seus diálogos em praça pública promovia o autoconhecimento, proporcionando aos seus interlocutores condições para revelar o que já estava neles desde o nascimento, através de um método de perguntas e respostas chamado maiêutica. b) ( ) Compartilha com seu mestre a ideia de inatismo, valorizando a argumentação como meio de buscar conhecimento, porém se diferencia ao acreditar que nem todos os homens seriam capazes de adquirir conhecimento, somente alguns tinham a capacidade de passar do mundo das aparências para o mundo das ideias. c) ( ) Muitas de suas ideias sobre educação vieram do seu mestre Platão, mas para ele a educação seria uma forma de moldar o homem para viver em sociedade e ser um cidadão virtuoso, pois acreditava que só se alcançaria a plenitude vivendo em uma polis. Assim a educação seria para o fortalecimento do Estado e para a felicidade. 2 Atualmente, a cultura do corpo é supervalorizada. Há cada vez mais academias e estádios para os espetáculos esportivos. Nesse contexto, responda aos questionamentos: Cabe a reflexão de Sêneca sobre o assunto? E o que podemos acrescentar? Que excessos se observam hoje em relação à cultura física e aos espetáculos esportivos? Caberia à educação um papel importante no estabelecimento de um equilíbrio e de uma harmonia entre a cultura do corpo e a cultura do espírito? Seria por meio de matérias específicas do currículo, ou de práticas educativas adequadas a esse propósito? 3 Com base no que você estudou sobre o Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga, reflita sobre como as diferentes realidades sociais e políticas interferem na educação do Brasil, apresentando diferentes necessidades educativas, ou não, e elabore um pequeno texto. AUTOATIVIDADE 27 TÓPICO 2 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Continuaremos nosso estudo sobre as concepções de educação. Já vimos as concepções egípcias, as gregas e as presentes durante a Roma Antiga, agora seguiremos nosso estudo a respeito de outra época da história: a Idade Média. Convidamo-lo a adentrar conosco neste estudo sobre a educação durante o período milenar no qual começamos a ver as noções modernas europeias, e para iniciarmos essas reflexões você precisa saber que predominava a filosofia cristã, e essa influenciou as concepções de educação naquela época. Neste período encontramos as ideias de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, que se destacam nas concepções de educação. Podemos afirmar que o pensamento deles parte de Sócrates e Platão. 2 VISÃO GERAL DA IDADE MÉDIA Para iniciarmos nossas reflexões acerca da educação na Idade Média, dedicaremos aqui um espaço para introduzir uma contextualização geral do referido período, para então buscarmos refletir sobre a educação na Idade Média. Esse período também ficou conhecido como Idade das Trevas, refletindo uma visão negativa. Apesar de controversa a nomenclatura, podendo ser acusada de difundir uma ideia errônea de que foi um período meramente intermediário até a chegada da Idade Moderna. Não focaremos nessa discussão, porque nosso foco não é a história em si. Queremos compreender como as concepções de educação que perpassaram essa época vieram a refletir na nossa educação atual para podermos pensar criticamente nossa realidade. Estamos falando de uma época que se inicia com a queda do Império Romano e se estende até o século XV, durando aproximadamente um período de mil anos. Comumente é dividida pelos historiadores em duas partes, a Alta Idade Média e a Baixa Idade Média. Na Alta Idade Média destaca-se a crise que levou à queda do Império Romano, além da crise econômica, apontamos principalmente as invasões bárbaras (povos estrangeiros e que não falavam latim) como responsáveis pela referida crise. UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA 28 Nesse período, o Império do Oriente e sua capital, Constantinopla, atingiram o seu ponto máximo como um dos Estados mais poderosos do Mediterrâneo. Com a queda do Império Romano, ressaltamos a estrutura econômica e política que se deu marcando o predomínio da vida rural, estamos falando do feudalismo. Você recorda como era essa sociedade? Apesar do feudalismo variar conforme região e época, destaca-se o sistema baseado em duas classes sociais: os senhores e os servos. Os senhores eram os donos das terras, e os servos/camponeses buscavam proteção e abrigo com eles em um sistema de colonato, usavam as terras, mas deviam dar parte da produção aos senhores. Não existia preocupação com a educação desses servos, a não ser a formação cristã. Somente com a desagregação do sistema feudal, quando a economia começa a se transformar alavancando as atividades comerciais, a partir do século XI, podemos começar a falar em Baixa Idade Média. O período denominado Idade Média está marcado pelo crescimento urbano e aumento do consumo, consequentemente ampliação da produção. Ocorreu um desenvolvimento de técnicas agrícolas e hidráulicas, transformando as sociedades rurais e caminhando para o capitalismo. As Cruzadas também tiveram um papel relevante nesse desenvolvimento. As Cruzadas foram expedições militares sob o comando da Igreja, com o intuito de recuperar Jerusalém, reunir o mundo cristão e dominar rotas comerciais orientais. Ficou com esse nome, pois os integrantes usavam cruz em suas roupas. Para esses soldados, participar das Cruzadas era uma forma de penitência e pagar promessa. NOTA As novas cidades cresciam próximas a rios e aos burgos fortificados, que costumavam ter uma catedral e um castelo. Surgiu a burguesia, classe formada por banqueiros, mercadores e artesões. Sobressaem aqui as construções góticas e românicas, principalmente nos séculos XI e XII, porém com o século XIV chegou a crise, trazendo a Peste Negra e Revoltas Camponesas. 3 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA Como
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