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Efeitos da radio e quimioterapia em pacientes oncológicos Oncologia Oral – UFPE Larissa Albuquerque *Os principais tratamentos do câncer bucal são cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Em alguns tipos de câncer, como melanoma, pode ser utilizado a imunoterapia. Todos os tratamentos sistêmicos para o câncer causam algum nível de destruição de células normais, especialmente as de tecidos de renovação rápida, que é o caso do epitélio oral. *Quase todos os pacientes que são submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço apresentam complicações orais e os que são submetidos à quimioterapia apresentam alterações em 10 a 75% dos casos, a depender do tipo de câncer e da forma quimioterápica. Radioterapia *A radioterapia promove alterações físicas, químicas e biológicas das células, interferindo na reprodução, reparação e metabolismo celular, levando à morte celular. *A radioterapia destrói as células neoplásicas, visando a redução ou destruição do tumor a depender da dose e também promove a erradicação dos tumores, com menor dano possível aos tecidos normais circunvizinhos, pois tem alta sensibilidade. *A curabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para o tecido tumoral sem ultrapassar a tolerância dos tecidos normais. *O planejamento da radioterapia depende da idade, dose, tempo de tratamento e localização do tumor. *Efeitos colaterais da radioterapia: • Os efeitos agudos ocorrem durante o tratamento ou nas primeiras semanas após o seu início, sendo eles a mucosite, disgeusia (falta de paladar), disfagia (dificuldade de deglutição), infecções oportunistas (ex.: candidíase), xerostomia e dermatite (destruição superficial da pele). • Os efeitos tardios ocorrem semanas, meses ou anos após o tratamento, são eles a cárie de radiação, osteorradionecrose e trismo. Quimioterapia *Agentes químicos irão danificar as células na fase de mitose, impedindo o ciclo celular e causando a morte celular. *Esse tratamento quimioterápico é aquele que causa efeitos irreparáveis nas células malignas e que permite a sobrevivência de células normais. *A quimioterapia varia de acordo com o tipo de droga, dose, de frequência do tratamento e pode haver terapia concomitante, ou seja, juntamente com outras terapias. *Complicações gerais da quimioterapia: • Ocorre alterações nas células hematopoiéticas, como infecção, anemia e hemorragia. É comum ocorrer alopécia, pois os pelos são provenientes de células lábeis, que se renovam frequentemente, e são destruídas no processo. Ainda ocorrem alterações nas células que revestem o trato gastrointestinal, gerando náusea, vômito, diarreia e mucosite. Alterações bucais comuns da terapia antineoplásica Mucosite *A mucosite é um termo designado genericamente para a ocorrência de alterações em todas as mucosas (bucal, esofágica, entérica, retal e vaginal) atingidas pela citotoxicidade dos oncoterápicos. É uma ulceração ou inflamação da mucosa oral que não pode ser caracterizada clinicamente ou histologicamente como nenhuma outra doença. *A mucosite é um dos efeitos adversos mais significantes da radioterapia e da quimioterapia, ou seja, do tratamento antineoplásico. *A mucosite acomete 40% dos pacientes que recebem quimioterapia, 75% dos pacientes que recebem quimioterapia com transplante de medula óssea e 90% dos pacientes que recebem radioterapia da cabeça e pescoço. *A mucosite aparece na radioterapia na 2ª semana de tratamento e na quimioterapia, ainda na 1ª semana. O desaparecimento, por ambas as causas, ocorre após 2 ou 3 semanas após a finalização do tratamento. *Clinicamente, apresenta-se com eritema (área inflamatória avermelhada em lábio e pele), edema, ulceração (áreas esbranquiçadas de necrose) hemorragia e dor considerável. A dor diminui a qualidade de vida do paciente, dificulta a alimentação, a deglutição e a fonação, sendo necessário que tratamento oncológico seja alterado ou interrompido, o que diminui o controle do crescimento tumoral, aumentando o poder de invasão das células cancerígenas. Graus de mucosite Parâmetros clínicos Prejuízo funcional 0 Sem alteração Nenhum sintoma 1 Eritema Pouco dolorido Oncologia Oral Larissa Albuquerque 2 Pequenas úlceras isoladas Dor leve, consegue ingerir sólidos 3 Eritema, edema, várias úlceras Não consegue ingerir sólidos e líquidos 4 Úlceras, hemorragia Requer suporte nutricional Mucosite grau 2 com áreas brancas de necrose. Mucosite grau 3. Mucosite grau 4 com úlcera em língua e lábio e sangramento fácil. *Ulceração na mucosite: ocorre a desintegração epitelial causando úlcera e colonização bacteriana e viral. Esses microrganismos invadem o tecido, ativando as citocinas inflamatórias *A prevenção e tratamento da mucosite visa melhorar a qualidade de vida do paciente e evitar a parada do tratamento. A prevenção da mucosite pode ser feita com o uso de camomila, clorexidina, crioterapia e fotobiomodulação (laser terapia), nistatina, cetoconazol. O tratamento de escolha, geralmente, é a laser terapia. Xerostomia *As glândulas salivares são muito sensíveis à radiação, ocorrendo como consequência ao tratamento a redução do fluxo salivar, ou seja, hipossalivação, o que gera o sintoma da xerostomia. A xerostomia pode ser causada pelo uso de drogas como antidepressivos, antipsicóticos, diuréticos e antimuscarínicos; e pela síndrome de Sjogren e radioterapia. *O mecanismo de ação da radioterapia é causar danos diretos à membrana plasmática de células acinares. As glândulas salivares maiores e menores sofrem uma fibrose irreversível, o que causa a dificuldade de fala, disfagia e redução da ação bactericida da saliva. *A prevenção e tratamento são feitos de acordo com os avanços nas técnicas de radiação e pelas drogas radioprotetoras (aminofosfina), uso de sialogogos (pilocarpina e cevimelina). Disgeusia *É a alteração do paladar devido à atrofia das papilas gustativas e maior viscosidade da saliva Disfagia *É a dificuldade de deglutição causada pela falta de lubrificação, levando à infecção e mucosite. Infecções oportunistas *A candidíase causada pelo estado imunológico do paciente, meio ambiente bucal e resistência do microrganismos é tratada com nistatina em suspensão oral e orientação de higiene. Dermatites *É comum ocorrer nos campos de radiação e varia com a intensidade da terapia. O paciente pode apresentar eritema, edema, ardência, prurido, ulcerações e erosões. Esses sintomas são solucionados a depender da gravidade da dermatite, em casos suaves, 2 ou 3 semanas após a terapia, e nos casos moderados, após 3 meses. Nos casos agudos graves, podem ocorrer necrose e ulcerações profundas. Cárie de radiação *É um efeito secundário à xerostomia e ocorre pela diminuição e/ou interrupção da salivação e pela permanência do alimento por mais tempo na cavidade bucal, sem ação autolimpante da saliva. É semelhante à cárie de mamadeira e é tratada com fluorterapia intensa profilática. Cáries relacionadas à xerostomia. Osteorradionecrose *É uma das complicações mais sérias da radioterapia de cabeça e pescoço e é observada em menor frequência na atualidade devido à evolução das modalidades terapêuticas. *Acredita-se que a sua causa está relacionada com o dano às células ósseas, principalmente danos irreversíveis aos osteócitos. Esse dano interrompe a Oncologia Oral Larissa Albuquerque função das células, torna o osso hipóxico, hipocelular e hipovascularizado de forma progressiva. Osteorradionecrose em mandíbula. *Os fatores de risco são dentes em más condições, trauma ósseo, doença periodontal, quimioterapia combinada e exodontias Trismo *A exposição à radiação do músculo masseter, temporal pterigoides medial e laterale cápsula da ATM pode provocar trismo, gerando dificuldade na higienização e no tratamento odontológico. Exercícios de abertura dos gnáticos podem ajudar a diminuir ou prevenir esse problema. Referências: • Patologia oral & maxilofacial / Brad Neville... [et al.] - [tradução Danielle Resende Camisasca Barroso... et al.]. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Como parte da equipe multidisciplinar, o cirurgião-dentista tem o papel de prevenir, diagnosticar e tratar os efeitos colaterais bucais da terapia anticâncer e realizar os cuidados pré, trans e pós operatórios do paciente.
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