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EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS TRATAMENTO DO CÂNCER BUCAL - Cirurgia - Quimioterapia - Radioterapia - Imunoterapia RADIOTERAPIA Promove alterações físicas, químicas e biológicas - interfere na reprodução, reparação e metabolismo celular - morte celular. - Destrói as células neoplásicas, visando a redução ou destruição do tumor (dose) - Erradicação dos tumores e menor dano possível aos tecidos normais circunvizinhos (sensibilidade) - A durabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para o tecido tumoral sem, contudo, ultrapassar a tolerância dos tecidos normais. - Depende da idade, dose, tempo de tratamento, localização do tumor EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA AGUDOS: Durante o tratamento ou nas primeiras semanas após - Mucosite - Disgeusia - Disfagia - Infecções oportunistas - Xerostomia - Dermatite TARDIOS: Semanas, meses ou anos após o tratamento - Cárie de radiação - Osteorradionecrose - Trismo QUIMIOTERAPIA Quimioterápicos - danificam células em mitose - morte celular - O tratamento quimioterápico ideal é aquele que causa efeitos irreparáveis nas células malignas e que permite a sobrevivência de células normais - Paciente: Idade, diagnóstico, higiene da boca - Terapia: Tipo de droga, dose, frequência do tratamento, terapia concomitante COMPLICAÇÕES GERAIS DA QUIMIOTERAPIA - Células hematopoiéticas (infecção, anemia, hemorragia) - Pêlos (alopécia) - Células que revestem o TGI (náuseas, vômito, diarréia, mucosite) EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE MUCOSITE Termo designado genericamente para a ocorrência de alterações em todas as mucosas (bucal, esofágica, entérica, retal e vaginal) atingidas pela citotoxicidade dos oncoterápicos. Ulceração ou inflamação da mucosa bucal, a qual não pode ser caracterizada clinicamente ou histologicamente como nenhuma outra doença. A mucosite é um dos efeitos adversos mais significantes da radioterapia e da quimioterapia, ou seja, do tratamento antineoplásico. EPIDEMIOLOGIA - 40% dos pacientes que recebem quimioterapia - 75% dos pacientes que recebem quimioterapia com transplante de medula óssea - 90% dos pacientes que recebem radioterapia da cabeça e pescoço. APARECIMENTO - Proveniente da radioterapia: 2º semana de tratamento - Proveniente da quimioterapia: 1º semana de tratamento CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS - Eritema - Edema - Ulceração - Hemorragia - Dor Dor: Diminui a qualidade de vida do paciente - Dificulta a alimentação, a deglutição, a fonação - Alteração ou interrupção do tratamento - diminui o controle do crescimento tumoral GRAUS DA MUCOSITE Pontuação, parâmetros clínicos, prejuízo funcional - Grau 0: Nenhuma alteração e nenhum sintoma - Grau I: Eritema e pouco dolorido - Grau II: Pequenas úlceras isoladas e dor leve (pode ingerir comidas sólidas) - Grau III: Eritema, edema, várias úlceras e não pode ingerir sólidos / líquidos - Grau IV: Úlceras, hemorragias e requer suporte nutricional ● Desintegração epitelial ● Colonização bacteriana ● Citocinas inflamatórias ● Clinicamente pseudomembranosa PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA MUCOSITE - Melhoria da qualidade de vida do paciente - Não interrupção do tratamento XEROSTOMIA Hipossalivação - redução do fluxo salivar desencadeando a xerostomia EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE - Causas: 1. Drogas: antidepressivos, antipsicóticos, diuréticos, antimuscarínicos; 2. Síndrome de Sjogren e radioterapia - Mecanismo de ação da radioterapia: Danos diretos a membrana plasmática de células acinares - As glândulas salivares maiores e menores sofrem uma fibrose irreversível - Dificuldade de fala, disfagia, redução da ação bactericida da saliva - Prevenção e tratamento: Avanços nas técnicas de radiação; drogas radioprotetoras (aminofosfina), uso de sialogogos (pilocarpina, cevimetina) DISGEUSIA Atrofia das papilas gustativas e maior viscosidade da saliva - Alteração do paladar DISFAGIA Falta de lubrificação, infecção, mucosite - Dificuldade de deglutir INFECÇÕES OPORTUNISTAS Candidíase: Depende do estado imunológico do paciente, meio ambiente bucal, resistência do microorganismo. Tratamento: nistatina suspensão oral e orientação de higiene Dermatites Cárie de radiação: Efeito secundário a xerostomia; diminuição e/ou interrupção da salivação; alimento por mais tempo na cavidade bucal, sem a ação autolimpante da saliva; semelhante à cárie da mamadeira - fluorterapia intensa profilática OSTEORRADIONECROSE Danos irreversíveis aos osteócitos - Osso hipóxico, hipocelular e hipovascularizado - progressivamente - Dor intensa, fístula, sequestros ósseos, fraturas patológicas - Fatores de risco: Dentes em má condições, trauma ósseo, doença periodontal, quimioterapia combinada, exodontias - Prevenção TRISMO - Exposição a radiação - Músculo masseter, temporal, pterigóides medial e lateral, cápsula da ATM IMPLICAÇÕES ESTÉTICAS E PSICOSSOCIAIS EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Cirurgião dentista - Prevenir, diagnosticar e tratar os efeitos colaterais bucais da terapia anti-câncer - Realizar os cuidados pré, trans e pós-operatórios do paciente EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE OSTEONECROSE DOS MAXILARES INDUZIDA POR MEDICAMENTOS: MRONJ Peculiaridade dos maxilares: - Mandíbula rica em cálcio - Maior absorção da medicação - Relação próxima aos dentes (focos de infecção) - Ossos mais sujeitos à procedimentos invasivos Medicamentos - Bisfosfonatos - Não bisfosfonatos ➔ Drogas anti-absortivas ➔ Drogas anti-angiogênicas BISFOSFONATOS - Desde 1960 - Osteoporose - Osteopenia - Metástases ósseas - Doença de Paget - Mieloma múltiplo - Alteram o mecanismo de reabsorção e remodelação óssea e, por esse motivo, teriam ação terapêutica nas doenças supracitadas 1° geração: não-aminados (etidronato) 2° geração: Aminados (alendronato e pamidronato) 3° geração: Cadeia cíclica (zoledronato e risedronato) MECANISMO DE AÇÃO DOS BISFOSFONATOS - Alta afinidade pelo osso, podendo perdurar no esqueleto por até 10 anos - Atuam por meio de 2 mecanismos de ação relacionados com atividades antiosteoclástica e antiangiogênica EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE - Reduzem a remodelação óssea, diminuindo a reabsorção óssea: ➔ Inibição da formação e recrutamento de osteoclastos ➔ Inibição da ativação e atividade de osteoclastos ➔ Indução da apoptose dos osteoclastos Em 2003 foram publicados os primeiros casos de osteonecrose dos maxilares induzidas por bisfosfonatos: - Paciente de 55 anos, gênero feminino, portadora de diabetes e tabagista. Queixava-se de desconforto e dor ao usar prótese total superior, relatando que o processo iniciara há cerca de um ano, quando fora submetida a extrações dentárias. A paciente relatou ter tido um câncer de mama há 11 anos, tendo realizado tratamento cirúrgico, rádio e quimioterápico. Decorridos 10 anos do diagnóstico e tratamento iniciais, desenvolveu 3 episódios de metástases. Aos 10 anos de acompanhamento foi instituído o uso de bisfosfonato, sendo este utilizado por 21 meses, via endovenosa, com administrações mensais de 4mg. A partir do diagnóstico de osteonecrose, o uo de bisfosfonato foi interrompido. O tratamento instituído foi antibioticoterapia, por via oral, com clindamicina, bochechos com clorexidina e uso tópico de iodopovidona. Nas consultas subsequentes, observou-se regressão significativa da halitose e diminuição das áreas de tecido ósseo exposto. - Paciente do gênero feminino, com 65 anos, diagnosticada com carcinoma ductal em mama e histórico de tratamento cirúrgico e quimioterápico. Em virtude da hipercalcemiasecundária à neoplasia e para prevenir a perda óssea decorrente da quimioterapia, a paciente iniciou há 2 anos o tratamento com ácido zoledrônico (Zometa) injetável uma vez ao mês. A paciente realizou exodontias dos caninos inferiores após 1 ano e 3 meses de uso do Zometa para instalação de prótese total inferior. 3 meses após o procedimento cirúrgico não foi observada a cicatrização na área operada. Neste momento foi iniciado o atendimento odontológico da paciente que apresenta sintomatologia dolorosa e supuração nos locais das exodontias limitando o uso da prótese e a alimentação, sendo diagnosticado com osteonecrose induzida por bisfosfonatos. Foi suspenso o uso do zometa, EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE feito debridamento e remoção de uma pequena espícula óssea que traumatizava e aumentava o risco de desenvolvimento da lesão, antibioticoterapia, limpeza local contínua com solução de clorexidina. - Paciente do sexo feminino, 78 anos, leucoderma. Infecção ativa em mandíbula, entre forames, após perda dos implantes instalados previamente. Relatou uso de medicação para controle de hipertensão arterial. Continuando a avaliação, a paciente foi questionada novamente quanto ao uso de medicamentos. Ela relatou usar um medicamento “sem importância”, tendo em vista que esse era usado apenas uma vez por semana. Após melhor investigação, descobriu-se que fazia uso de alendronato, por via oral 1x por semana, para controle da osteoporose, há aproximadamente 4 anos. A história pregressa consta de instalação de quatro implantes em mandíbula, interforaminais e reabilitação protética. Já com a prótese definitiva instalada, a paciente queixava-se de incômodo na região dos implantes, sendo solicitada uma TC. Após as descoberta das alterações nos implantes, a paciente decidiu interromper o uso do bisfosfonato sem comunicar nenhum profissional. Embora tenha suspendido o uso da medicação, o quadro clínico piorou, ocorrendo inflamação, infecção e perda dos implantes. O tratamento inicial instituído foi antibioticoterapia com clindamicina via oral, bochechos com gluconato de clorexidina a 0,12% e realização de cirurgias para debridamento da área, de forma mais conservadora. Como não se obteve o resultado esperado, a paciente foi encaminhada ao serviço de cirurgia de CP e submetida, 3 meses após a consulta inicial, à cirurgia para ressecção em bloco do segmento anterior da mandíbula por via intrabucal, sob anestesia geral hospitalar. FATORES DE RISCO PARA PACIENTES QUE JÁ FAZEM USO DA MEDICAÇÃO: 1. Cirurgias dento-alveolares 2. Doença periodontal 3. Uso de próteses 4. Duração da terapia 5. Tipo de bisfosfonatos 6. Via de administração EFEITOS COLATERAIS DA RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE Ácido zoledrônico = 6 doses mensais de BF endovenoso para que o paciente apresente risco de desenvolver ONMB - BF administrados por via oral, como o alendronato, por sua vez, seriam necessários 3 anos ou 156 doses semanais. MEDICAMENTOS NÃO BISFOSFONATOS Tratamento: Os microrganismos encontrados com maior frequência nos ossos expostos são sensíveis à penicilina, portanto essa é a droga de escolha para o tratamento não cirúrgico da doença. Preservação da qualidade de vida, controlando a dor e os quadros de infecção, prevenção do desenvolvimento de novas áreas de necrose.
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