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Prof. Me. Vinícius Albuquerque UNIDADE I Teoria da História “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (Jacques le Goff). Vamos pensar sobre as frases: O povo brasileiro não tem memória? Somos um país sem memória? O povo brasileiro não conhece sua História? Somos um país sem passado? Ou ainda: Precisamos valorizar a nossa História. É preciso resgatar o passado. Devemos recuperar nossa memória. Precisamos preservar nosso patrimônio histórico. É preciso defender a memória nacional. Mas o que significa tudo isso? História e Memória História e memória têm como referência o passado, mas são conceitos diferentes, apesar de estreitamente interligados. As historiadoras Zilda Yokoi e Tereza Aline P. Queiroz consideram que: “Passado e memória dão conteúdo, identidade e espessura a todos os humanos. Por mais isolado que se encontre um grupo, uma comunidade ou mesmo um só indivíduo, todos estão imbuídos de um passado, de uma memória e de uma história” (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 7). História e memória são dois conceitos diferentes: “[...] um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois” (Walter Benjamin). História e Memória “Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.” Tradução de Sergio Paulo Rouanet (in Obras Escolhidas, Brasiliense, 1994) História e Memória Fonte: angelus novus_paul klee_1920_museu de israel_coleção carole e ronald lauder, nova york_the bridgeman art library Tanto História, quanto memória, dizem respeito ao passado. A História se refere àquilo que foi vivido, mas é também o estudo do passado. Para isso se vale de registros que são os chamados documentos históricos. A partir deles é que se escreve a História. Nesse sentido, a História se constitui como uma área de conhecimento em que o passado é reconstruído a partir de uma operação intelectual. Já a memória diz respeito à lembrança daquilo que aconteceu; está viva nos indivíduos e nos grupos sociais. Assim como uma pessoa não se recorda de tudo o que viveu, também nem todos os acontecimentos ficam na memória coletiva. Dessa forma, a memória compreende lembranças e esquecimentos. O historiador transforma o passado em história. História e Memória História: vivido (passado): Área de conhecimento registro dos acontecimentos compreensão do passado construção de identidades (grupos sociais, nacionais) construção da memória coletiva Memória: individual e social: Viva na consciência do grupo Pode se alojar em objetos, artefatos, construções, gestos e imagens Função identitária Direito à memória: cidadania História e Memória A memória se cristaliza nos objetos, nos artefatos, nas construções, nos gestos e nas imagens. Uma ferramenta, um artefato ou um edifício, por exemplo, são locus de conservação da memória. Como componentes da cultura material, conservam inscritas as técnicas utilizadas em sua produção, as relações sociais envolvidas, o modo de vida de quem os usava, as formas de trabalho e muitas outras informações a serem decodificadas. A memória manipulada: É preciso destacar que o acesso à memória é uma questão política. A memória coletiva está sujeita a esquecimentos e silêncios, pois pode ser manipulada e objeto de disputa de poder e a manipulação daquilo que vai ser lembrado é fonte de poder. Resulta que a memória assim tratada é artificial e excludente. O esforço de grupos sociais marginalizados ou excluídos em busca da preservação de sua memória e da sua história é um ato político na busca de afirmação de um direito, da sua própria identidade social e da democratização da memória. Lugares de Memória e História Manipulada Por muito tempo, as realizações extraordinárias dos grandes personagens apresentados muitas vezes como heróis, até chegarmos à situação atual em que se busca um entendimento mais amplo do passado, considerando a multiplicidade de agentes sociais envolvidos no processo histórico. Apesar de o indivíduo existir na história, não será ele o objeto principal do historiador. Mesmo em períodos em que se privilegiou uma história de heróis, foi impossível caracterizar a heroicidade isoladamente; o herói sempre precisou de um momento adequado para demonstrar sua habilidade e, principalmente, de uma identificação com um objetivo suprapessoal, com um grupo e com ideais por este concebidas. As relações interpessoais, a construção mental e física do mundo, o exercício do poder de uns sobre os outros, os encontros entre diferentes estão na base daquilo que Virginia Woolf definia como “fantasma imenso e coletivo, incapaz de ser exorcizado”, ou seja, o passado, ao qual o historiador dará forma para que ele se transforme em história (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 8). História Existe uma relação necessária entre o estudo da História e o presente: para Marc Bloch seria preciso “compreender o passado pelo presente” e para Lucien Febvre, a História teria como função “organizar o passado em função do presente”. A História é elaborada a partir das indagações, das preocupações e das necessidades contemporâneas ao historiador. A construção do conhecimento histórico parte sempre do presente. Por isso, o estudo do passado não se esgota. Paradoxalmente, nesta condenação do historiador ao presente situa-se a eternidade de um passado que nunca se esgota. Caso contrário, a história da Grécia, por exemplo, teria sido escrita por Heródoto e ponto final. No entanto, cada século reelaborou a história grega dentro de suas perspectivas e possibilidades. Nos limites entre a “consciência possível” e a “consciência real”, próprias de seu tempo, o historiador busca no passado a consciência de seu próprio tempo (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 8). História Para os gregos, a História seria “mestra da vida” – função de ensinamento. Outra forma recorrente é a busca de nossas “origens”; no século XIX serve para a construção da “biografia da Nação”. No âmbito das vinculações políticas da História, defende-se também sua importância tendo em vista um projeto de transformação social buscando a conscientização política para superação das desigualdades econômicas e sociais. O conhecimento sobre o passado se torna peça fundamental no projeto de transformações a serem conquistadas. Avulta o papel da História e do historiador nesse processo, concebidos como tendo importante função social. Em todos os casos, a História confere significação para o presente e dá conteúdo para nossa identidade social. Com o conhecimento do passado e o estudo das transformações e permanências de nossa trajetória histórica, nossa existência tem mais densidade e o presente adquire inteligibilidade. História, para quê? Temporalidade – periodização Mudanças e permanências Multiplicidade de agentes sociais Reconstrução do passado Relação com o tempo presenteHistória: conceitos e concepções Sobre a relação entre História e memória, podemos afirmar que: a) São conceitos diferentes, apesar de ambos terem como referência fundamental o passado. b) A História pode ser manipulada, a memória não. c) Como a memória é a lembrança, ela não pode ser utilizada politicamente, já a História sempre é politizada. d) A História se refere sempre ao coletivo e à memória, ao individual. e) A História é a reconstituição total do que aconteceu e a memória são algumas lembranças. Interatividade Sobre a relação entre História e memória, podemos afirmar que: a) São conceitos diferentes, apesar de ambos terem como referência fundamental o passado. b) A História pode ser manipulada, a memória não. c) Como a memória é a lembrança, ela não pode ser utilizada politicamente, já a História sempre é politizada. d) A História se refere sempre ao coletivo e à memória, ao individual. e) A História é a reconstituição total do que aconteceu e a memória são algumas lembranças. Resposta Caráter polissêmico da palavra teoria, especialmente no âmbito das ciências sociais. Sobre isso, diz-nos Raymond Boudon: “[...] a polissemia do termo teoria nas ciências sociais parece resultar, em larga escala, do fato de que as situações lógicas que as disciplinas encontram, quando se propõem explicar este ou aquele fenômeno social, são diversas e nem sempre se deixam reduzir ao modelo epistemológico saído das ciências da natureza e em particular das ciências físico-químicas. De maneira que a atividade teórica assume formas diferentes conforme os contextos” (BOUDON, 1976, p. 117). Em sentido amplo, uma teoria é uma forma de ver o mundo, mas como se constrói o conhecimento sobre História? Teoria da História – base conceitual e científica Historiografia – História da História Metodologia – procedimentos Campo teórico: teorias gerais e particularizadas Paradigmas conceituais Território de disputas e diálogos Teoria da História A atividade do historiador não se esgota em recolher as informações obtidas em registros e fontes documentais, organizá-las e relacioná-las. Seu exercício profissional implica construir interpretações capazes de reconstituir o passado e conferir-lhe significado. História comporta a existência de diferentes versões e interpretações do passado e sendo produzida a partir de um presente que se altera, modificam-se também as questões que são formuladas para o passado. O historiador está no presente e é a partir dele que lança as perguntas para o passado de forma a construir sua explicação. Há uma historicidade intrínseca nesse processo que se inicia na própria escolha dos temas a serem abordados. O conhecimento histórico é cumulativo. O repertório de perguntas do historiador se ampliou, as pesquisas e os trabalhos produzidos se multiplicaram nos séculos XX e XXI; hoje se sabe muito mais sobre o passado do que se sabia em épocas anteriores. Teoria da História: construção de conhecimento Fontes documentais: matéria-prima Teoria da História: referencial teórico Metodologia: procedimentos e técnicas Documentos: fragmentos/vestígios/indícios lacunas diversidade Historiador: questões formuladas no presente A Teoria da História e a produção do Conhecimento Histórico Fatos históricos: acontecimentos e processos econômicos, sociais e representações simbólicas Periodização e marcações de tempo Pesquisa, crítica documental, reconstituição, análise, interpretação Interpretações controladas Validação pelos pares A Teoria da História e a produção do Conhecimento Histórico “A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da ‘indústria’ como tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, mas da classe média ou da sociedade ‘burguesa’ liberal; não da ‘economia moderna’ ou do ‘Estado moderno’, mas das economias e Estados com uma determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns trechos da América do Norte), cujo centro eram os Estados rivais e vizinhos da Grã-Bretanha e França” (HOBSBAWM, 2010, p. 20). Superação de alguns valores tradicionais e religiosos dominantes na vida social e política; disseminação do espírito de liberdade, de igualdade e de fraternidade; crença no progresso e no desenvolvimento do capitalismo; consolidação dos estados-nacionais: nacionalismo; Imperialismo; Neocolonialismo e Eurocentrismo. Escola Metódica. Positivismo. Historicismo. Cientificismo. Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX Ciência e técnicas: entendidas como responsáveis pelo avanço e pelo progresso. Método científico. Matemática, mecânica, termodinâmica. Razão, evidências empíricas e experiência. Impactos nas ciências sociais: Estudos científicos e racionais; estatísticas e recenseamentos. Cálculos administrativos e contábeis e leis explicativas para o social. Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência Cientistas e pensadores: promessa de um futuro promissor. Para Rossi (2000, p. 52): “Quem crê no progresso [...] geralmente não se contenta com escolhas efetuadas no reino da imaginação. Não tende à fuga da história. Conta ou julga poder contar com possibilidades reais ou que interpreta como reais. Vê presentes na história algumas possíveis confirmações das suas esperanças, julga que ela procede – nem que seja nos tempos longos – segundo uma e não outra direção. Considera em todo caso que tem sentido operar no mundo com base em projetos regidos pela esperança num futuro desejável, melhor que um presente cujos limites e insuficiências são visíveis”. Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência Busca das explicações para os fenômenos da natureza e da sociedade: continuação do Iluminismo; a ciência de caráter preferencialmente mecanicista, inclusive utilizando a matemática para traduzir os fenômenos da natureza. Imparcial e infalível, essa matemática seria o símbolo do método científico capaz de, distante de quaisquer discussões metafísicas, alcançar o pleno conhecimento da realidade. Afinal, tratava-se de fazer a defesa da ciência e da técnica, responsáveis pela melhoria das condições de vida da humanidade. Tratava-se apenas de utilizar a razão, submetendo-a à evidência empírica e da experiência. Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência A escola metódica e os discursos sobre o método: o positivismo, o cientificismo e o historicismo. No século XIX, alguns pensadores e escolas decidiram se afastar do romantismo literário dos escritos históricos do período anterior. “Busca de um método crítico para estabelecer uma documentação segura. Escreviam rápido demais, um pouco como romancistas que eram. [...] Para alcançar uma concepção mais válida da história, definida agora como curiosidade intelectual, era preciso o método, o método científico, como se dirá na segunda metade do século. A erudição já era conhecida antes da época romântica. Mas os eruditos do Antigo Regime, sobretudo do século XVII, conservavam as maneiras de colecionadores de antiguidades e de raridades. Foi, sobretudo, no início do século XIX que a compilação crítica dos textos e documentos se desenvolveu paralelamente à história viva” (ARIÈS, 1989, p. 149). Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência O método crítico requeria, inicialmente, credulidade na recepção da informação e no acolhimento ao documento; depois, deveria duvidar, desconfiar e suspeitar. “A confiança no documento não deveria ser fundada na declaração de intenção do próprio documento, mas construída pela ‘dúvida metódica’ [...]. O historiador não dava a sua confiança ao documento, ele a elaborava e a construía objetivamente” (REIS, 2001, p. 7). “O seu ponto de vista é ‘objetivante’: a lembrança é de uma experiência vivida localizadae datada. O testemunho diz: ‘eu estava lá, eu presenciei, eu vi’. A autópsia é o porto seguro do historiador empirista, obcecado com testemunhos oculares, local, data e horário, evidências exteriores, marcas, objetos, enfim, provas concretas. A sua utopia é ter assistido ele mesmo, com os seus próprios olhos, aos eventos de muitos anos atrás!” (REIS, 2001, p. 6). Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência O método científico: Criação de um método científico capaz de alçá-la a mesma condição de importância e objetividade das outras ciências. O futuro não importava: interessava apenas o conhecimento do passado, apreendido por meio do estudo dos eventos, singulares, irreversíveis e únicos. A História não podia ser reduzida a nenhum princípio absoluto derivado de leis e essências. Ao contrário, [...] a consciência histórica é finita, limitada, relativa a um momento histórico – o que levará ao ceticismo quanto à possibilidade de um conhecimento histórico objetivo, válido para todos. Não é um princípio supra-histórico que organiza o processo efetivo, mas sim a própria história que organiza o pensamento e a ação, os quais existem em uma ‘situação’: um lugar e uma data – um evento (REIS, 2004, p. 9). Escola Metódica e correntes teóricas do século XIX: a questão da ciência Quando pensamos nas contribuições que a Teoria da História pode nos dar é essencial problematizar a atividade do historiador e assim: a) Entendemos que os historiadores apenas recolhem as evidências do passado. b) Devemos nos assegurar que os historiadores são sempre neutros em seu olhar sobre o passado. c) Consideramos que o cientificismo do século XIX é o olhar mais neutro possível. d) Apenas a análise de documentos escritos leva ao conhecimento verdadeiro. e) A atividade do historiador não se esgota em recolher as informações obtidas em registros e fontes documentais, organizá-las e relacioná-las, pois seu exercício profissional implica construir interpretações capazes de reconstituir o passado e conferir-lhe significado. Interatividade Quando pensamos nas contribuições que a Teoria da História pode nos dar é essencial problematizar a atividade do historiador e assim: a) Entendemos que os historiadores apenas recolhem as evidências do passado. b) Devemos nos assegurar que os historiadores são sempre neutros em seu olhar sobre o passado. c) Consideramos que o cientificismo do século XIX é o olhar mais neutro possível. d) Apenas a análise de documentos escritos leva ao conhecimento verdadeiro. e) A atividade do historiador não se esgota em recolher as informações obtidas em registros e fontes documentais, organizá-las e relacioná-las, pois seu exercício profissional implica construir interpretações capazes de reconstituir o passado e conferir-lhe significado. Resposta A escola histórica metódica, dita “positivista”, que inclui autores alemães, como Ranke e Niebuhr, e franceses, como Langlois e Seignobos, “Defende que o passado é real e pode e deve ser restaurado em sua integralidade. Mesmo se o sujeito o constrói, essa construção deve ser positiva. Deve ser uma ‘reconstituição’. Ingênuos quanto ao aspecto ainda ‘metafísico’ do seu esforço, e ostentando um discurso antimetafísico, afirmam que querem conhecer os fatos em sua ‘realidade’, ‘tal como se passaram’” (REIS, 2000, p. 330-1). Uma pergunta surge desse cenário: mas o fato de essas novas correntes terem assumido todos esses pressupostos já não configurava também a adoção de uma filosofia da História? Em outras palavras: apesar de as novas correntes preconizarem uma História a posteriori, isso, per si, já não seria um critério a priori? Positivismo Os ‘historiadores cientistas’, antifilosóficos em suas declarações, na prática ocultavam a sua dependência das ideias e conceitos das filosofias da história. Digamos que, no século XIX, houve um esforço de rompimento com a filosofia, que obteve um resultado apenas parcial. Foram tentativas de constituição de uma ‘história objetiva’, que por um lado obtiveram sucessos significativos, mas por outro não puderam vencer sua dependência em relação às formulações universalizantes dos filósofos (REIS, 2004, p. 12). Os fatos falam por si e o que pensa o historiador a seu respeito é irrelevante. “Os fatos existem objetivamente, em si, brutos, e não poderiam ser recortados e construídos, mas sim apanhados em sua integridade, para se atingir a sua verdade objetiva, isto é, eles deverão aparecer ‘tais como são’. Passivo, o sujeito se deixa possuir pelo seu objeto, sem construi-lo ou seleciona-lo. [...] Para obter esse resultado, o historiador deve se manter isento, imparcial, emocionalmente frio e não se deixar contaminar pelo seu ambiente sociopolítico cultural” (REIS, 2004, p. 18). Positivismo Auguste Comte (1798-1857). Objetividade científica versus religião/metafísica. Classificação das ciências e dos fatos científicos. Ciências naturais: hierarquizadas e divididas: abstratas e gerais/concretas. Estudo das ciências: histórico/dogmático. Pressupostos positivistas: 1. Na história está presente uma lei que tende, através de graus ou etapas, à perfeição e à felicidade do gênero humano. 2. Tal processo de aperfeiçoamento é, geralmente, identificado com o desenvolvimento e o crescimento do saber científico e da técnica. 3. Ciência e técnica são a principal fonte do progresso político e moral, constituindo a confirmação de tal progresso (ROSSI, 2000, p. 96). Positivismo Suporte para todo o conhecimento: matemática. Estágios das ciências: teológico, metafísico e positivo. Corpus de conhecimento estruturado a partir de uma razão prática, da experiência e da indução. Positivismo no Brasil Membros do Exército e “elites intelectuais”; Uso político no discurso político republicano de críticas ao Império; Lema da bandeira nacional: Ordem e Progresso. Positivismo O método positivo tem como paradigma de modelo de conhecimento objetivo as ciências naturais. A imparcialidade, a objetividade e a distância em relação ao objeto permitem ao historiador positivista “reconstituir o fato do passado” tal como ele efetivamente teria ocorrido. O evento é aquele acontecimento já encerrado, passível de ser dominado, dissecado e controlado. Positivismo – paradigmas “Mas este estudo deve ser concebido inteiramente separado do estudo próprio e dogmático da ciência, sem o qual a história não seria inteligível” (COMTE, 1978, p. 28). Comte também hierarquizou a forma como as ciências deveriam ser estudadas, segundo a ordem de contribuição dos progressos reais que cada ciência apresentava e que possibilitava a compreensão dos aspectos referentes às demais. “Concebe-se, com efeito, que o estudo racional de cada ciência fundamental [...] não pode fazer progressos reais [...] a não ser depois de um grande desenvolvimento das ciências anteriores, relativas a fenômenos mais gerais, mais abstratos, menos complicados e independentes dos outros. É pois, nessa ordem que a progressão, embora simultânea, necessitou ter ocorrido” (COMTE, 1978, p. 34). Positivismo: Comte O método histórico apresentava três principais características: a) a heurística, a pesquisa dos documentos, sua localização; b) as operações analíticas, as críticas externa e interna (de restituição, proveniência e classificação; de interpretação, sinceridade, exatidão); c) as operações sintéticas: a construção histórica, o agrupamento dos fatos, a exposição, a escrita histórica. A história contará com certo número de ciências auxiliares: epigrafia, paleografia, diplomática, filologia, história literária, arqueologia, numismática, heráldica... Dependendo do ramo da história em que o historiador se especializar, ele deverá conhecer algumas dessas ciências (REIS, 2004, p. 23). História, século XIX e o Método Histórico O apego ao documento, o esforço obsessivo para conferir autenticidade às fontes, a dúvida sistemática e o culto ao fato histórico, o evento único e irreversível: essas são as atitudes dos historiadores “positivos”. Fustel de Coulanges (1830-1889), da escola histórica metódica: embora ele tenha partido de uma hipótese inicial (procedimento que não faz parte do manual positivo) e não tenha se baseado em qualquer lei histórica (como Comte talvez preferisse), Fustel se distinguiu do romantismo poético, literário e imaginativo de Michelet (1798-1874) e se tornou o modelo de historiador avesso a qualquer tipo de especulação. Na Introdução à Cidade antiga, [...] Fustel rompe com as tradições clássicas que davam aos antigos a fisionomia de um protótipo humano válido para todos os tempos e lugares: ‘Empenhar-nos-emos, diz ele, em mostrar as diferenças radicais e essenciais que distinguem para sempre os povos antigos das sociedades modernas’. Não se poderia formular com mais clareza e precisão o objetivo essencial da história, seu objetivo primeiro, pelo menos, sua maneira de se afirmar, distinguindo-se das outras reflexões sobre o homem: a busca das diferenças dos tempos (ARIÈS, 1989, p. 151). História, século XIX e o Método Histórico Temendo o caráter incontrolável do evento contemporâneo, do qual não se conhecem as consequências, os positivistas escapavam do evento presente e de seu caráter explosivo. Culto do evento passado, embalsamando-o e “arquivando-o”; sugerindo, talvez, o que propunham se fizesse com os eventos do presente. Estratégia objetivista de evasão da história: o historiador procura se separar de seu objeto, o vivido humano. Distanciando-se, o sujeito se retira do evento e observa do exterior, como se o evento não o afetasse, como se fosse uma “coisa-ai” sem qualquer relação com o seu próprio vivido. A narração histórica separa-se do vivido e se refere a ele “objetivamente”, narrando-o e descrevendo-o do exterior (REIS, 2004, p. 31). História, século XIX e o Método Histórico A respeito do Positivismo é correto afirmar que: a) Desprezava a relação entre a História e outras ciências e áreas do conhecimento. b) Não teve recepção fora da França. c) Valoriza a crítica social e a ideia da transformação pelo conhecimento. d) Recusa a objetividade no pensamento científico. e) Acredita na existência de três estágios nas ciências: o teológico, o metafísico e o positivo. Interatividade A respeito do Positivismo é correto afirmar que: a) Desprezava a relação entre a História e outras ciências e áreas do conhecimento. b) Não teve recepção fora da França. c) Valoriza a crítica social e a ideia da transformação pelo conhecimento. d) Recusa a objetividade no pensamento científico. e) Acredita na existência de três estágios nas ciências: o teológico, o metafísico e o positivo. Resposta Período anterior: iluminismo/idealismo. Metafísica. Filosofias da História. Princípios invariantes e essenciais do modelo imutável da razão humana. História: procura se afastar da filosofia. Busca de constituição de método científico. Positivismo: aproximação das ciências humanas com as naturais/leis. Cientificismo e historicismo: métodos “positivos” – baseados na indução e em evidências empíricas. A História no século XIX Distanciamento da ficção e da imaginação. Relação de causalidade: causa/efeito. Empirismo: evidências – documentos. Eventos: analisados e organizados de forma encadeada – revelam o passado (único, irreversível.) A História no século XIX Historicismo: condição histórica da experiência humana/singularidade do conhecimento histórico independente dos modelos da física. Eventos: singulares, irreversíveis e únicos. Não pode ser reduzida a leis ou essências: história organiza pensamento e ação em um lugar e data (evento). Historicismo Enquanto o positivismo buscava a aproximação das ciências humanas com as ciências naturais, o historicismo pretendeu dar continuidade à obra kantiana; afinal, a utilização de um método crítico não era garantia do conhecimento objetivo! No historicismo, “a filosofia retorna à história, mas de forma kantiana. [...] Seu objetivo é estabelecer um conjunto de critérios que singularize o conhecimento histórico, tornando-o independente dos modelos de objetividade da física e afastando-o da filosofia especulativa” (REIS, 2004, p. 34). Historicismo Leopold Von Ranke (1795-1886). Preocupação com a formação do Estado alemão. Documentos oficiais. Estudioso da história do Estado, municiou-se de documentos diplomáticos escritos e oficiais para narrar a trajetória da formação do Estado alemão. Documentos oficiais, rigorosamente analisados e organizados, de autenticidade comprovada; a partir desse material, Ranke fez surgir o seu objeto de pesquisa, fechando as portas para qualquer possibilidade de interferência – incluindo a sua, de sujeito do conhecimento – no processo de elaboração histórica. O historiador não podia julgar o passado, sendo a ele apenas permitido narrá-lo a partir de procedimentos objetivos e isentos de qualquer reflexão filosófica Historicismo alemão “Os fatos falam por si e o que pensa o historiador a seu respeito é irrelevante. Os fatos existem objetivamente, em si, brutos, e não poderiam ser recortados e construídos, mas sim apanhados em sua integridade, para se atingir a sua verdade objetiva, isto é, eles deverão aparecer ‘tais como são’. Passivo, o sujeito se deixa possuir pelo seu objeto, sem construi-lo ou selecioná-lo. [...] Para obter esse resultado, o historiador deve se manter isento, imparcial, emocionalmente frio e não se deixar contaminar pelo seu ambiente sociopolítico cultural” (REIS, 2004, p. 18). Distância do sujeito em relação ao seu objeto, fazendo do passado a área de investigação e utilizando rigor e objetividade para analisar os documentos que contariam a história tal como ela “efetivamente havia ocorrido”. Conferir ou não autenticidade aos documentos e o desenvolvimento de técnicas para o estudo de manuscritos e textos. [...] “superestimava a eficácia do método crítico em seu esforço de objetividade, que escondia, na verdade, suas ideias filosóficas sobre a história” (REIS, 2004, p. 19). Historicismo alemão Na Alemanha, a nova corrente foi representada pelo historicismo e pelo cientificismo. Na França, ela buscou não se desvencilhar completamente da herança iluminista, apenas atualizando-a por força da filosofia comtiana e do evolucionismo darwiniano. Não se tratava de um presente superando o passado, “mas da temporalidade evolutiva, cumulativa, da evolução gradual, irreversível, linear e infinita do progresso iluminista” (REIS, 2004, p. 20). O caminho histórico estava dado pela evolução na direção de uma sociedade moral e fraterna, cujas realizações encontravam-se apoiadas no espírito positivo. “O século XIX é tão metafísico como Comte pode sê-lo: sob o discurso positivo, cientificista, há uma compreensão total da marcha da humanidade, uma metafísica, uma filosofia da história” (REIS, 2004, p. 21). Ideia de progresso. Historicismo alemão História: torna-se disciplina acadêmica. Historiador: profissional. Coleções de documentos, arquivos, museus. Documentos oficiais/autênticos. Técnicas para estudo de manuscritos e textos. Rigor. Objetividade. Não julgamento. Suposta ausência de reflexão filosófica. Distanciamento de crítica social. Historiografia no século XIX Caráter científico: paradigma das ciências naturais. Objetividade: distância em relação ao objeto. Imparcialidade e neutralidade. Fato: acontecimento a ser dissecado. Documentos. Documentos: Testemunho da verdade histórica. Autenticidade. Crítica documental. Reunião exaustiva de coleções de documentos. Documentos: escritos e de cunho oficial. Historiografia noséculo XIX Características gerais: Os fatos tal como realmente aconteceram. Factual: narrativa encadeada de fatos com relação de causalidade. História política-oficial. Sobre a pesquisa: a) Heurística, pesquisa dos documentos, localização. b) Operações analíticas, crítica interna e externa (restituição, proveniência, exatidão). c) Operações sintéticas: a construção histórica, o agrupamento dos fatos, a exposição, a escrita histórica. Ciências auxiliares: Epigrafia; Paleografia; Diplomática Filologia Arqueologia; Numismática Geografia Método histórico Considerando características do Historicismo alemão, pode-se afirmar que: a) Considerava que a simples existência de um documento já era a prova de sua autenticidade. b) Teve pouca influência na historiografia do século XIX. c) Aceitava qualquer objeto como documento histórico. d) Havia enorme valorização de documentos oficiais. e) Valorizava a interpretação subjetiva dos historiadores. Interatividade Considerando características do Historicismo alemão, pode-se afirmar que: a) Considerava que a simples existência de um documento já era a prova de sua autenticidade. b) Teve pouca influência na historiografia do século XIX. c) Aceitava qualquer objeto como documento histórico. d) Havia enorme valorização de documentos oficiais. e) Valorizava a interpretação subjetiva dos historiadores. Resposta ARIÈS, P. O tempo da história. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989. BOUDON, R. Teorias e paradigmas. In: SILVA, M. B. N. Teoria da História. São Paulo: Cultrix, 1976. COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978 (Coleção Os Pensadores). HOBSBAWM. Era das revoluções: 1789 – 1848. São Paulo: Paz e Terra, 2010. IOKOI, Z. M. G. A História do historiador. São Paulo: Humanitas/FFLCHUSP, 1999. LE GOFF, J. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1990. REIS, J. C. A História entre a filosofia e a ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Referências REIS, J. C. História e verdade: posições. Síntese – Rev. de Filosofia, v. 27, n. 89, p. 321-348, 2000. REIS, J. C. O lugar da teoria-metodologia na cultura histórica. Revista de Teoria da História, n. 6, 2011. ROSSI, P. Naufrágios sem espectador: a ideia de progresso. São Paulo: UNESP, 2000. ROUANET, Sérgio Paulo. A razão nômade: Walter Benjamin e outros viajantes (1994). Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1993. Referências ATÉ A PRÓXIMA!