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Previdenciário - 10º Período - Por Prof. Atanair Nasser: Olá, pessoal! Vamos tratar hoje dos dependentes previdenciários, que, lembrando, também são beneficiários do sistema. É o nosso item 3 na programação, que eu pulei para dar a aula remota I, mas veja que lá eu já havia mencionado tal fato! Então passemos ao estudo desse instigante ponto! Os dependentes são definidos na legislação, enquadrando-se nas situações fáticas por ela elencadas. Daí que nós não podemos, sob o pretexto de auxílio a terceiros ou mesmo a familiares, pretendermos inclui-los nessa condição especificamente para fins previdenciários. Uma coisa é o dependente civil, cujos pressupostos são tratados no Código Civil, outra é o previdenciário, que segue lei especial e tem regência própria e independente. Mas nem sempre, como veremos, esse distanciamento é possível! Lembro que seu posicionamento é de vinculação indireta à Previdência, porquanto ele depende do vínculo prévio por parte do segurado. Nessa condição, imagine uma corrente e seus elos interligados, caso em que a Previdência estaria atrelada ao segurado e este, por sua vez, aos dependentes. Rompido o vínculo do segurado – matéria muito importante que tratamos na aula remota I – automaticamente rompe-se o vínculo do dependente. No rol de dependentes, a lei estabeleceu três classes hierarquizadas, que significa que a primeira exclui as demais e a segunda exclui a terceira classe. Veja bem, existindo dependente de uma classe preferencial, que nem precisa estar recebendo o benefício, ele afasta e exclui o dependente da classe mais remota. Dentro da mesma classe eles concorrem em igualdade, motivo pelo qual não se lhes aplica regra sucessória. Essas classes são as seguintes: I- cônjuge, companheiro e filho menor de 21 anos, não emancipado, ou inválido de qualquer idade. Equiparam-se a filho o enteado e o menor tutelado. Essa classe tem dependência econômica presumida, com exceção do enteado e do menor tutelado, que devem comprová-la; II- os pais; III- os irmãos menores de 21 anos, não emancipados, ou inválidos de qualquer idade. A segunda e a terceira classe devem comprovar dependência econômica. Quis antes descrever a disposição legal contida na Lei 8.213/91 para agora tratar mais detidamente dos diversos pontos e discussões envolvendo a matéria. O cônjuge e o companheiro, na primeira classe, contam com proteção diferenciada, porquanto a Constituição os distinguiu no art. 201, inciso V, que assim dispõe: V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. Essa observação não passou despercebida pelo STJ, o qual no REsp 203.722, no voto do Min. Edson Vidigal faz relevante interpretação da questão, deduzindo os seguintes fundamentos: Percebe-se, portanto, que o STJ fez a interpretação do art. 16, I, c/c §4º da Lei 8.213/91 em cotejo com o art. 201, V, da Constituição Federal, na perspicaz observação de que o cônjuge e o companheiro, a despeito de serem também dependentes do segurado, devem ser distinguidos dos demais dependentes elencados na norma infraconstitucional, que em relação a eles teria elasticidade maior e suficiente para ditar requisitos e outras formalidades, mas não assim ao cônjuge e ao companheiro, os quais fariam jus à pensão por morte independentemente de outra condição, a não ser a prova de tal condição – a qualidade de dependente – e da qualidade de segurado do falecido [ou preso no auxílio-reclusão]. Já a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência junto ao Conselho da Justiça Federal, no que tange ao Pedilef n. 2009.7158.0083593, interpretou a questão sob outro enfoque, embora tenha chegado à mesma conclusão: 1. Trata-se de incidente de uniformização suscitado pelo autor contra acórdão que manteve a sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de pensão por morte em decorrência do falecimento de sua companheira. A decisão recorrida reconheceu a qualidade de segurada facultativa da instituidora da pensão mas negou a concessão do benefício ao fundamento de que "não há que se falar na presunção de dependência econômica, constante no § 4o do artigo 16 da Lei 8.213/91, visto que referida presunção pode perfeitamente ser afastada mediante a constatação da não dependência econômica na data do óbito, o que, entendo, é justamente o caso do autor, uma vez que, conforme se verifica do CNIS, o último vínculo empregatício da falecida encerrou em 1987". 2. Alega o autor que uma vez comprovada a união estável do casal, a dependência econômica é presumida. Aponta como paradigma decisão proferida pela 1a Turma Recursal de Goiás que reconheceu a qualidade de segurado facultativo do instituidor da pensão e concedeu o benefício a seu dependente. Argumenta, ainda, que a decisão recorrida contraria o entendimento desta TNU, da Ia TR de Goiás e da Ia TR do Mato Grosso no sentido de que a dependência econômica dos companheiros é presumida. [...] 5 A presunção da dependência econômica de que trata o parágrafo 4o do artigo 16 da Lei 8213/1991 é absoluta. Ou seja, a presunção de dependência econômica entre cônjuges e companheiros não admite prova em sentido contrário (presunção júris et de jure), pois o casamento pressupõe a mutualidade de esforços para a manutenção da família. A conclusão da Corte à época (2012), embora guarde tonalidade anterior à mudança de compreensão pelo STJ em relação ao filho maior inválido, porquanto se reporta em outros itens genericamente à condição de presunção absoluta a todos os dependentes da 1ª Classe, faz ela importante e específica ponderação no caso de dependência econômica entre cônjuges e companheiros, os quais construiriam a relação conjugal e o projeto de vida que dela se extrai a partir da mutualidade de esforços. Reforçando esse argumento, tomo de empréstimo aqui as ponderações do Tribunal de Contas da União no Acórdão n. 1006/2004, o qual analisou a questão sob o enfoque específico do regime próprio de servidores públicos, porém correlacionou a questão com o regime geral previdenciário. Asseverou que a dependência seria aqui absoluta para manter o estado econômico vigente ao tempo do casamento para conservação do poder aquisitivo e de tranquilidade doméstica, constituindo-se verdadeira “questão de segurança econômica familiar”. Colho as seguintes ponderações: 13. Admitida essa correlatividade, por orientação constitucional, há que se ver até que ponto ou em que condições é aceitável a acumulação de pensão por morte com aposentadoria. Nesse rumo, sabe-se que é da natureza do benefício pensional a finalidade de prover a subsistência de quem o recebe. Quem dispõe dos meios apropriados de sustento não deve ser beneficiário de pensão, sob pena de se contrariar a lógica previdenciária. Não é razoável que a pensão sirva ao enriquecimento. 14. Daí a necessidade de se envolver a dependência econômica como condição para a concessão do benefício da pensão por morte. Aliás, a exigência de tal condição foi muito bem advertida pelo Ministério Público/TCU, em seu parecer neste processo. 15. De volta à Constituição Federal, na parte em que trata do regime geral de benefícios, tem-se que a previdência social compreenderá a pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, consoante o inciso V do caput do art. 201. É de se esperar o uso do mesmo critério no regime dos servidores públicos, na forma do já citado § 12 do art. 40 do texto constitucional. 16. Na literalidade constitucional, o cônjuge ou companheiro não se caracterizaria como dependente, uma vez que assim não é tratado. Ou, como sustenta o STJ, ainda que conduza ao mesmo efeito, goza de presunção absoluta de dependência, a qual não admite prova em contrário (REsp 203722/PE, 461150/RS, 303346/RS). De fato, presumir adependência, mesmo de forma absoluta, é melhor do que ignorá-la, já que ela fundamenta a pensão. E é absoluta por questão de segurança econômica familiar, para a conservação do seu poder aquisitivo, sem que possa alguém opor dúvidas que ponham embaraços à tranqüilidade doméstica. Não é causa, portanto, de opulência, mas de simples manutenção de status quo. Todos os outros pretensos beneficiários de pensão, que não o cônjuge ou companheiro, ficarão sujeitos, todavia, ao reconhecimento da dependência, seja por exigência de comprovação prévia, seja por presunção relativa, que admitirá prova em contrário. [...] 19. Nas alíneas a, b e c”do inciso I retrotranscrito, a lei não fala em prova de dependência, o que se coaduna com a presunção absoluta da necessidade do benefício para o cônjuge ou companheiro. No caso do companheiro, requer-se tão-somente a prova da união estável. Já para o separado ou divorciado, a percepção de pensão alimentícia evidentemente faz presumir a dependência econômica. De fato, a própria dicção do art. 76, §2º, da Lei 8.213/91 revela que, ao se fazer distinção com ex-cônjuge divorciado ou separado de fato, exigindo nesse caso o recebimento de alimentos, que seria a prova de dependência econômica, o trato do cônjuge ou companheiro que mantém a união intacta guarda expressiva distinção do atribuído aos demais dependentes, justificando-se a dicotomia de efeitos da presunção de dependência econômica no §4º do art. 16, sendo ela absoluta para o cônjuge e o companheiro, mas relativa para os demais dependentes da 1ª Classe dispostos no inciso I do mesmo dispositivo [lembrando que há distinção quanto aos equiparados a filho, que devem comprovar a dependência econômica, não se lhes aplicando sequer a presunção relativa, por força do §2º do art. 16]. Essa percepção resta mais evidente quando se verifica no Projeto de Emenda Constitucional de Reforma da Previdência [06/2019 aprovado na Câmara] a preocupação instaurada no Parlamento para limitar a acumulação de mais de um benefício em tal situação peculiar, como se extrai de seu art. 24, o que de fato veio a configurar o mesmo artigo da Emenda Constitucional n. 103/2019. É perceptível que o dispositivo sempre remete ao benefício deixado por cônjuge ou dependente, na linha de que reconhece a distinção da situação aqui caracterizada, ou seja, como hipótese regular de possível cumulação de benefícios, inclusive envolvendo regimes distintos. Em conclusão, o cônjuge ou companheiro gozam de presunção absoluta de dependência em relação ao segurado. Aproveitando essa discussão, é importante enfatizar que a dependência econômica será presumida nos demais casos da 1ª Classe, exceto em relação ao enteado e ao menor tutelado. Isso significa que aqueles não precisam fazer prova dessa dependência, mas a presunção no caso é relativa, ou seja, o INSS poderia fazer prova em contrário. Desse modo, é muito comum aos casos de filhos inválidos, os quais tenham sofrido o infortúnio da invalidez após atingirem a vida independente, que eles tenham uma aposentadoria por invalidez, por exemplo, o que afastaria a presunção de dependência do segurado falecido. Se ele tem benefício, renda ou condições socioeconômicas que lhe propiciem a sobrevivência, muitas vezes independente, não se autoriza a concessão da qualidade de dependente. Nesse sentido o STJ: PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. PENSÃO POR MORTE. FILHO MAIOR INVÁLIDO. RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA ENTRE SEGURADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E BENEFICIÁRIO. PRESUNÇÃO RELATIVA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA DEPENDÊNCIA. PERCEPÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO QUE AFASTA A PRESUNÇÃO DE DEPENDÊNCIA. SÚMULA 7/STJ. ORIENTAÇÃO CONSOLIDADA NA MACIÇA JURISPRUDÊNCIA DO STJ. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESSARCIMENTO DE VALORES RECEBIDOS POR ERRO DA ADMINISTRAÇÃO PREVIDENCIÁRIA (ART. 115, II, DA LEI N. 8.213/1991). AFETAÇÃO PARA JULGAMENTO SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS. RESP N. 1.381.734/RN. TEMA 979. SUSPENSÃO DO FEITO. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM. (REsp 1567171/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 22/05/2019). Contudo, lembro que se trata de questão de prova, que envolve a moldura fática das diversas situações possíveis. Isso significa que é possível ao filho inválido, que receba algum benefício em nome próprio ou tenha alguma renda nesse sentido, comprovar que esse valor não é suficiente à gama de despesas incorridas, como, por exemplo, pessoas que precisam do apoio diária de terceiros, até mesmo enfermeiros, porquanto a invalidez tem um grau de comprometimento nesses casos muito acentuada. Essa prova deve ser feita de forma robusta, não se contentando, na maioria dos casos, com meros depoimentos testemunhais ou juntada aos autos de notas e cupons aleatórios de contas. É preciso evidenciar ao julgador que há uma limitação funcional considerável, que exige por si despesas extraordinárias, de modo a justificar a permanência da dependência em relação ao segurado. Nessas condições, é relevante demonstrar que o segurado praticava atos ou tomava providências de acolhimento do filho inválido, como, por exemplo, a residência na sua casa, a inclusão em plano de saúde – até mesmo funerário, como já vi em alguns casos -, o pagamento de fisioterapia ou despesas de tratamento nesse rumo, etc. Qualquer prova idônea é admissível, apenas reforço que essa demonstração deve ser de habitualidade e relevância, não se consistindo de mero auxílio financeiro. Diante de tal comprovação, envolvendo a moldura fática, o STJ tem afastado a revisão de julgados: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 1.022 DO CPC. INEXISTÊNCIA. PENSÃO POR MORTE. FILHO MAIOR INVÁLIDO. REQUISITOS. PREENCHIMENTO. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. REVISÃO DE PREMISSAS FÁTICAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 1.022 do CPC. 2. Consoante a jurisprudência do STJ, é irrelevante o fato de a invalidez ter sido após a maioridade do postulante, uma vez que, nos termos do artigo 16, III c/c o parágrafo 4º, da Lei 8.213/1991, é devida a pensão por morte, comprovada a dependência econômica, ao filho inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente. 3. Alinhado a esse entendimento, há precedentes do STJ no sentido de que, em se tratando de dependente maior inválido, basta a comprovação de que a invalidez é anterior ao óbito do segurado. Nesse sentido: AgRg no AREsp 551.951/SP, Rel. Minª. Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 24.4.2015; AgRg no Ag 1.427.186/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 14.9.2012; REsp 1.618.157/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 12.9.2016. 4. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem afirmou que a parte autora preenche todos os requisitos para receber o benefício de pensão por morte, sobretudo o que se refere à dependência econômica do filho maior inválido. 5. Merece transcrição o seguinte excerto da decisão combatida: "(...) Saliento, ainda, que a citada condição de enfermo dependente do autor é corroborada pela documentação trazida aos autos pelo INSS, bem como pelo próprio depoimento das testemunhas" (fl. 242, e-STJ). 6. Para desconstituir as conclusões abrigadas pelo acórdão quanto à demonstração de dependência econômica exigida para fins de concessão de pensão por morte, é necessário revolver o acervo fático-probatório dos autos, defeso aoSTJ em razão da Súmula 7/STJ. 7. Agravo conhecido para conhecer se parcialmente do Recurso Especial somente com relação à preliminar de violação do art. 1.022 do CPC e, nessa parte, não provido. (AREsp 1570257/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/11/2019, DJe 19/12/2019). Quanto aos dependentes enteado, menor tutelado, pais e irmãos, a lei exige a prova de dependência econômica, não existindo sequer presunção em seu favor. O regulamento da Previdência, Decreto 3.048/99, dispõe no art. 22 que o dependente pode comprovar essa dependência apresentando três documentos de uma lista ali exemplificativamente disposta. Eis o seu teor: § 3º Para comprovação do vínculo e da dependência econômica, conforme o caso, devem ser apresentados no mínimo três dos seguintes documentos: (Redação dada pelo Decreto nº 3.668, de 2000) I - certidão de nascimento de filho havido em comum; II - certidão de casamento religioso; III - declaração do imposto de renda do segurado, em que conste o interessado como seu dependente; IV - disposições testamentárias; V - (Revogado pelo Decreto nº 5.699, de 2006) VI - declaração especial feita perante tabelião; VII - prova de mesmo domicílio; VIII - prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou comunhão nos atos da vida civil; IX - procuração ou fiança reciprocamente outorgada; X - conta bancária conjunta; XI - registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado como dependente do segurado; XII - anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados; XIII - apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e a pessoa interessada como sua beneficiária; XIV - ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o segurado como responsável; XV - escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de dependente; XVI - declaração de não emancipação do dependente menor de vinte e um anos; ou XVII - quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar. A jurisprudência do STJ, todavia, entendia que essa exigência não encontrava amparo na Lei, motivo pelo qual seria possível fazer essa prova apenas com testemunhas. Contudo, a Medida Provisória 871/2019, convertida na Lei 13.846/19, alterou o art. 16 da Lei 8.213/91 para estabelecer a exigência de prova material, como se vê a seguir: § 5º As provas de união estável e de dependência econômica exigem início de prova material contemporânea dos fatos, produzido em período não superior a 24 (vinte e quatro) meses anterior à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) Perceba, portanto, que a nova Lei legitimou a antiga exigência do regulamento. Mas lembro que essa prova material não precisa se estender sobre todo o período, bastando que sirva de início, provando-se o restante ou a integração do período mediante prova testemunhal. A mesma legislação citada refletiu na condição de prova do companheiro, assim entendido aquele que convivia com o segurado em relacionamento duradouro, com intuito de constituição de família, podendo ser formado por casal homo ou heteroafetivo, na linha da interpretação conferida pelo STF. Antes o STJ também entendia que a união estável era condição fática passível de demonstração apenas por testemunhas, não se exigindo início de prova material, como era condicionado pelo INSS. Com efeito, a MP 871 citada e sua conversão na Lei 13.846/19 passaram a exigir início de prova material contemporânea aos fatos, não podendo ser anterior ao período de dois anos do óbito ou da prisão do segurado. Desse modo, houve profunda alteração na compreensão sistemática da dependência econômica e da configuração da união estável, exigindo-se agora início de prova material contemporânea aos fatos, no que superou doravante a jurisprudência do STJ. Lembro que a união estável tem limitações estabelecidas no Código Civil, a saber: Não constituirá união estável a relação entre: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas, exceto se separadas de fato, judicial ou extrajudicialmente; e VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Havendo a ruptura do vínculo matrimonial, geralmente pelo período aproximado de um ano, entende-se que descaracterizou-se a unidade familiar e com ela acabou o vínculo de dependência. Uma ressalva deve ser feita no caso de o ex-cônjuge obtiver o reconhecimento do direito a pensão alimentícia, o que caracteriza permanência da dependência econômica, embora o fim do vínculo matrimonial. O fato é que os ex-cônjuges podem, nesta nova condição, constituir novas famílias, inclusive mediante união estável. Portanto, embora casado, mas separado de fato há mais de ano, é possível que o segurado constitua nova unidade familiar mediante união estável com outra pessoa, que assume por essa condição a condição de dependente. Veja que é possível, pois, que existam vários dependentes econômicos nessa mesma categoria, como, por exemplo, o ex-cônjuge com direito a pensão alimentícia e o novo companheiro em união estável pós separação de fato (ou mesmo o novo cônjuge em casamento subsequente ao divórcio). Tais situações são plenamente respeitadas pela legislação, caso em que os dependentes na mesma classe, assim também considerados os ex-cônjuges ou ex- companheiros, receberão o benefício em igualdade de condições (divisão por cabeça). A polêmica se instaurou no caso do concubinato, assim conceituado como a relação extraconjugal mantida pelo segurado e assim sabidamente pela pessoa concubina. Sobre esse ponto, a jurisprudência do STJ e do STF afastaram o enquadramento como dependência econômica, a saber: Não é devida pensão por morte à concubina em concorrência com a viúva na hipótese em que o falecido, ao tempo do óbito, permanecia casado, pois, ainda que os requisitos configuradores da união estável se apliquem para fins previdenciários, conforme o artigo 16,§ 3º, da Lei 8.213/1991, a existência de impedimento para o matrimônio, por parte de um dos companheiros, embaraça a constituição da união estável, o que impede que os efeitos jurídicos que dela irradiam alcancem a concubina (AgRg no REsp 1267832/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2011, DJe 19/12/2011). A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato. A titularidade da pensão decorrente do falecimento do servidor público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico, mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em detrimento da família, a concubina (RE nº 397.762- 8⁄BA, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJe de 12/09/2008). A questão por detrás dessa polêmica envolve a proteção do terceiro de boa-fé, inocente em suposta relação concubinária, como seria o caso do companheiro putativo. Assim considerado porque reunia todos os elementos para a caracterização da união estável, não fosse o fato de o outro consorte ser casado formalmente, com manutenção de outra família em paralelo. Não é comum que isso ocorra, com todas essaspremissas presentes, porquanto hoje em dia dificilmente seria possível guardar esse segredo, essa condição periférica e nas sombras, por muito tempo. Mas é possível. Lembro de um caso em que o segurado era aeronauta, cumprindo escalas de voo nos extremos do país, o que lhe mantinha ora num, ora noutro Estado da federação, onde mantida famílias em aparente unidade familiar legitimamente formadas. Ocorre que ele era casado num dos Estados e no outro vivia em situação fática extraconjugal, em aparente companheirismo para a consorte iludida. Ela acreditava que mantida legítima união com o segurado, que veio a falecer em acidente aéreo. Daí a disputa pela pensão por morte envolvendo o cônjuge e a concubina/companheira aparente! Não me parece que a companheira putativa possa ser prejudicada, desde que demonstre idoneamente que de fato não sabia tratar-se de relação extraconjugal. Claro que os meios de prova são demasiadamente amplos, mas convém lembrar que exigem demonstração robusta da situação. Sob esse aspecto, a lei previdenciária visa à proteção do dependente que perde a condição de sobrevivência com a morte do segurado, por isso a dependência econômica, não podendo deixar ao abandono quem agiu de boa-fé. Lembro que a condição civil de alguém é de difícil apuração, ainda mais na sociedade moderna atual. Ninguém inicia relacionamentos buscando antes obter do consorte uma certidão atualizada de seu registro civil! E mesmo que assim o faça, pense que é possível a caracterização, nas mesmas condições anteriores citadas para o aeronauta, mas envolvendo duas uniões estáveis em Estados ou até cidades distintas. O registro civil do segurado estará imutável, qualificando-o como solteiro. Essa situação, inclusive, resultou no tema 526 a ser julgado como repercussão geral pelo STF: 526 - Possibilidade de concubinato de longa duração gerar efeitos previdenciários. Relator: MIN. LUIZ FUX, Leading Case: RE 883168 Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 201, V, e 226, § 3º, da Constituição Federal, a possibilidade, ou não, de reconhecimento de direitos previdenciários (pensão por morte) à pessoa que manteve, durante longo período e com aparência familiar, união com outra casada. Outro debate envolvendo a condição de dependência é se o filho inválido somente poderia qualificar-se como dependente se a invalidez ocorresse até os 21 anos de idade. A tese do INSS era no sentido de que, alcançada a plena capacidade, o filho não voltaria à condição de dependente após a referida idade, o que não tem a mínima plausibilidade, com o devido respeito. Isso porque o mais natural e corriqueiro nessas situações de infortúnio é justamente o retorno do filho à casa dos pais, onde terá os cuidados e a força necessária para recuperar-se de condição tão humilhante. Ainda que tenha condições financeiras próprias, o colo dos pais é o asilo inafastável que todos buscam nos momentos de dificuldade. Portanto, a tese da Autarquia saiu capenga, sem lastro na realidade, e deparou-se com outro obstáculo intransponível, a inexistência de lei no sentido perseguido. O STJ, portanto, interpretou a situação e definiu que a dependência, no caso, pode ocorrer até que o segurado venha a óbito, ou seja, enquanto vivo, nenhum impedimento existe para que o filho venha retornar para casa e voltar à condição de dependente econômico. Nesse sentido: “[…] em se tratando de dependente maior inválido, basta a comprovação de que a invalidez é anterior ao óbito do segurado. Nesse sentido: AgRg no AREsp 551.951/SP, Rel. Minª. Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 24.4.2015; AgRg no Ag 1.427.186/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 14.9.2012; REsp 1.618.157/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 12.9.2016.” Também se questiona, com frequência, sobre a possibilidade de o filho continuar na condição de dependente após completar 21 anos, sendo que a legislação do imposto de renda prevê a possibilidade de sua inclusão até os 24 anos e enquanto estiver cursando algum grau de ensino. A mesma questão poderia ser levantada no caso de hoje, aos 18 anos, ser considerada a capacidade plena do cidadão e não mais 21 anos como tratado no Código Civil de 1916. A resposta é negativa para ambos os casos, porquanto a lei previdenciária é especial e prevalece sobre as demais leis gerais, de tal sorte que o enquadramento aqui tratado dispõe que a dependência vai até os 21 anos, nem mais nem menos! Sob o ponto, o STJ decidiu que “não há amparo legal para se prorrogar a manutenção do benefício a filho estudante de curso universitário até os 24 (vinte e quatro) anos de idade (REsp 638.589/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/11/2005, DJ 12/12/2005, p. 412)”. Não fosse bastante tanta polêmica, surgiu a discussão sobre o menor sob guarda, que no art. 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente teria o direito de manter todos os direitos em relação ao guardião, inclusive previdenciários. O embate surgiu porque de fato ele era considerado dependente, mas foi excluído pela MP 1.523, de 11/10/1996, convertida na Lei 9.528/97. Daí que desde então não faz mais parte do rol de dependentes, nele figurando o enteado e o menor tutelado. A justificativa da mudança foi a crescente utilização da guarda com o fim de burlar o sistema previdenciário. Se você observar bem o instituto da guarda no Direito de Família, vai perceber que ela não é autônoma, envolvendo sempre três situações: a) em relação aos pais, sendo destinada àquele que cuidará diretamente da criança no caso de separação conjugal; b) como provimento precário no caso de destituição do poder familiar, enquanto não se define a tutela; e c) como estágio para adoção. Contudo, não raro começaram a surgir pedidos de guarda de avôs em relação aos netos, notadamente porque já não tinham dependentes passíveis de habilitação na Previdência. A situação era tão peculiar que exalava fraude pela própria configuração fática, onde o avô não raro não tinha condição alguma de cuidar do neto, o qual de fato permaneceria sob os cuidados dos pais. Percebe-se nitidamente que essa guarda tinha o propósito meramente previdenciário, o que justificou a mudança legislativa. O STJ por muito tempo compreendeu que o menor sob guarda não fazia mais parte do rol previdenciário e lhe negava a condição de dependente. Todavia, com a mudança de composição na Corte, recentemente mudou sua compreensão para interpretar em favor do menor sob guarda, quando de fato demonstrada a lisura do instituto – evitando-se a fraude citada – e desde que demonstrada dependência econômica. O INSS ingressou com recurso extraordinário e a questão subiu ao conhecimento do STF, que ainda não se pronunciou. Todavia, a Emenda Constitucional n. 103/19, no art. 23, §§4º e 6º a 8º, jogou uma pá de cal sobre a discussão: § 4º O tempo de duração da pensão por morte e das cotas individuais por dependente até a perda dessa qualidade, o rol de dependentes e sua qualificação e as condições necessárias para enquadramento serão aqueles estabelecidos na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 . [...] § 6º Equiparam-se a filho, para fins de recebimento da pensão por morte, exclusivamente o enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica. § 7º As regras sobre pensão previstas neste artigo e na legislação vigente na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderão ser alteradas na forma da lei para o Regime Geral de Previdência Social e para o regime próprio de previdência social da União. § 8º Aplicam-se às pensões concedidas aos dependentes de servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada emvigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. Do contexto, eventual decisão do STF terá efeito apenas para os casos em curso antes da EC 103/2019, a não ser que exista expresso efeito prospectivo e com abordagem da nova emenda. Também deve ser mencionado que o filho até 21 anos será considerado dependente se não incorrer em causa de emancipação, valendo relembrar o que o art. 5º do Código Civil dispõe sobre o tema: Emancipação ocorrerá na forma do parágrafo único do art. 5º do CC/02: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independente de homologação judicial ou por sentença de juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em ensino de curso superior; e V - pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. A união estável do filho ou do irmão entre os dezesseis e antes dos dezoito anos de idade não constitui causa de emancipação. As mesmas observações quanto ao filho até 21 anos valem também para os irmãos na terceira Classe, aos quais se aplicam as mesmas regras, salvo a dependência econômica presumida. Quanto aos pais, ambos, podem ser reconhecidos como dependentes, desde que evidenciem por início de prova material contemporânea que mantinham dependência econômica habitual e relevante com o segurado. Como já se disse antes, essa prova deve ser robusta, não servindo o mero auxílio econômico, como o caso de alguém que ajudava no pagamento de algumas contas esporádicas pelo segurado. Com efeito, um tema delicado permeia esse debate, envolvendo as famílias de baixa renda, onde o grupo convive aglomerado numa mesma residência, com inegável e presumido concurso mútuo das receitas financeiras para o custeio das principais despesas coletivas. Dadas as características da sociedade brasileira atual, não são incomuns, nesta condição, o grupo formado por mãe e a média de três filhos em idades próximas. É comum que a mãe exerça uma atividade informal, como exemplo diarista, por ela percebendo próximo de um salário mínimo, sendo que o filho mais velho também exerça uma atividade em igual condição, percebendo um salário mínimo. Os outros filhos, menores, estudam e dividem as responsabilidades da casa, muito embora não contemplem idade para o trabalho. A realidade está muito distante das intenções do legislador e não podem ser ignoradas nas reflexões do Direito. Com a morte do filho mais velho, essa família terá perdido metade de sua renda geral, porquanto agora apenas o salário mínimo da mãe terá de honrar todos os compromissos do grupo. Eis o caso, muito comum no cotidiano forense. Eu já vi decisões judiciais sustentando que, embora tenha reduzido a renda familiar, por outro lado também foram reduzidas as despesas, porquanto agora um membro da família não existiria mais. Mas o mais difícil nesse caso é o argumento de que a mãe já possui renda de salário mínimo, não evidenciando dependência econômica em relação ao falecido. Como são famílias de baixa renda, a prova costuma ser bastante precária, até porque não guardam documentos e não têm acesso à maioria das condições ditadas no art. 22, §3º, do Decreto 3.048/99 antes analisado. São famílias que não têm planos de saúde, não possuem conta bancária, os imóveis – maciçamente barracos comunitários - que ocupam são alugados verbalmente, os atendimentos de saúde são através do sistema único público, onde raramente conseguem internação hospitalar, mal possuem prontuário, exaltando uma condição muitas vezes sub-humana. Não quero aqui debater problemas sociais, debulhar estatísticas sociológicas, mas cuidar de uma realidade. A renda da mãe, no caso citado, não será suficiente para bancar o aluguel, a alimentação e as despesas gerais dela e dos outros dois filhos menores sobreviventes, o que é óbvio no contexto sinalizado. Imagine que aquele filho mais velho, ainda que não quisesse contribuir com as despesas da família, diante da realidade concreta não teria a menor chance de que parte considerável de sua renda não fosse destinada ao proveito comum, vez que coisas básicas faltariam. Qualquer produto alimentar que adquira e coloque na geladeira será posteriormente consumido por todos. Veja que estou limitando a situação a uma família em condições especiais, cuja característica seja a baixa renda conceituada por lei. Não vejo com bons olhos a exclusão da condição de dependente ostentada pela mãe do falecido nesse caso, embora tenha que envergar minha concepção diante da maciça jurisprudência que se formou em sentido contrário, a qual me parece absurda, com a devida vênia. Para demonstrar essa controvérsia, a divergência de posicionamentos, trago à colação a seguinte decisão de admissão de incidente de uniformização nacional de jurisprudência proferida nos autos do processo n. 58502320134013813, tramitado nas Turmas Recursais do Juizado Especial Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais: Cuida-se de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal interposto pela mãe do segurado falecido, que pleiteia pensão por morte na qualidade de sua dependente, cujo debate girou em torno da questão relativa às famílias de baixa renda e respectiva dependência econômica presumida. Sob esse aspecto primordial, o antigo Tribunal Federal de Recursos já havia editado a Súmula 229, no sentido de que: "A mãe do segurado tem direito a pensão previdenciária, em caso de Morte do filho, se provada a dependência econômica, mesmo não exclusiva". O STJ, por sua vez, vem aplicando referida Súmula em sua jurisprudência dominante, pela qual tem entendido que a dependência econômica exigida dos pais, dependentes de segunda classe, embora deva ser comprovada, não necessita de ser exclusiva, notadamente em famílias de baixa renda, onde o auxílio habitual e relevante do filho falecido aos pais é o bastante para caracterizar a condição de dependência econômica. Ela não precisa ser exclusiva e absoluta, mas sim aferida sob os pontos de vistas da proporcionalidade e da razoabilidade – que sempre devem nutrir e nortear as relações jurídicas. No REsp 1252961/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 06/12/2011, DJe 15/12/2011, a eminente magistrada fundamentou o seguinte: "[...] constitui entendimento assente nessa Corte o de que, em se tratando de família de baixa renda, a dependência econômica entre os seus integrantes deve ser presumida. Confiram-se, nesse sentido, os seguintes precedentes: AgRg no AgRg no REsp 1.112.&'(⁄RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 18.02.2010; REsp 613.(&6⁄RJ, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 03.10.2005; REsp 324.:;<⁄RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.12.2004; e REsp 341.6:@⁄RS, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 20.05.2002. No que tange especificamente à dependência econômica dos pais frente aos filhos, muito embora entenda pela sua redução quando esses atingem os 25 anos de idade ou constituem sua própria família, o STJ mantém o entendimento de que a referida relação de dependência deve ser presumida. Veja, nesse aspecto, os seguintes julgados: REsp 1.137.;<&⁄RJ, 3ª Turma, minha relatoria, DJe de 06.11.2009; REsp 731.:I;⁄SP, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 17.08.2009; REsp 435.J:;⁄MG, 4ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 18.08.2003. Dessa forma, ainda que o filho venha a diminuir os laços com seu núcleo familiar, nas famílias de baixarenda estabeleceu-se uma presunção de assistência vitalícia dos filhos para com seus genitores." Sob o foco específico da dependência econômica para o fim de recebimento pela mãe da pensão por morte do filho falecido, colho excerto de voto proferido no REsp 1302237/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 17/09/2013, DJe 25/09/2013, in verbis: "O fato consignado na sentença de que a recorrente trabalhou ou trabalha como cozinheira, não retira, por si só, sua dependência econômica em relação ao filho. Outrossim, a dependência econômica dos pais em relação aos filhos deve ser comprovada, embora não se exija que seja exclusiva. Essa orientação está contida na Súmula 229 do extinto Tribunal Federal de Recursos, a qual dispunha in verbis que "a mãe do segurado tem direito à pensão previdenciária, em caso de morte do filho, se provada a dependência econômica, mesmo não exclusiva", súmula essa que ora se resgata para fazer valer a garantia do mínimo existencial. No meu modo de sentir, além de ser possível presumir a dependência entre a requerente e seu filho, está comprovada a dependência econômica de acordo com as premissas fixadas na sentença de primeiro grau e não negadas no acórdão recorrido, fazendo jus a recorrente ao benefício pleiteado. Por outro lado, muito embora o Tribunal a quo tenha se embasado em precedente da Quinta Turma do STJ, para negar o direito ora pleiteado, sob o entendimento, naquela oportunidade, de que o só fato de a requerente ser casada afastaria a presunção de dependência em relação ao filho solteiro, colaciona-se precedente no sentido contrário, também da Quinta Turma e da Relatoria do eminente Ministro Arnaldo Esteves Lima, que reconhece o direito à pensão militar aos pais do de cujus. Confira-se a ementa do precedente referido: DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. RECURSO ESPECIAL. PENSÃO MILITAR. INSTITUIÇÃO EM FAVOR DOS PAIS DO DE CUJUS. ARTS. 7º, II, DA LEI 3.;6:⁄XY (REDAÇÃO DADA PELA LEI 8.216 DE J@⁄[⁄\]). POSSIBILIDADE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA COMPROVADA. VALOR. PEDIDO ILÍQUIDO. APURAÇÃO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO. PARCELAS ATRASADAS. COBRANÇA. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. OCORRÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS. 6% AO ANO. CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DO VENCIMENTO DE CADA PARCELA ATRASADA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. BASE DE CÁLCULO. PARCELAS VENCIDAS ACRESCIDAS DE UMA ANUALIDADE DAS VINCENDAS. ART. 260 DO CPC. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. Comprovada a dependência econômica dos pais em relação ao filho militar falecido, é-lhes devida à respectiva pensão por morte. Inteligência do art. 7º, II, da Lei 3.;6:⁄XY (redação dada pela Lei 8.IJ6⁄\]). 2. "A pensão militar pode ser requerida a qualquer tempo, condicionada porém, a percepção das prestações mensais à prescrição de 5 (cinco) anos" (art. 28 da Lei 3.;6:⁄XY). 3. Sendo incerto o pedido formulado na inicial, diante da inequívoca impossibilidade de imediata ponderação do efetivo conteúdo econômico decorrente da procedência de ação formulada pelos autores, deverá o valor da pensão ser apurada na fase de liquidação de sentença. Art. 286, I e III, do CPC. 4. O termo inicial do pagamento da pensão deverá retroagir ao quinquênio que antecedeu o ajuizamento da ação, nos termos do art. 28 da Lei 3.;6:⁄XY, restando prescritas as parcelas anteriores. Súmula &:⁄STJ. 5. A correção monetária deve ser aplicada a partir da data em que deveria ter sido efetuado o pagamento de cada parcela atrasada. 6. Nas ações ajuizadas após a edição da MP 2.180-35, de I'⁄[⁄Y], em que for vencida a Fazenda Pública, devem os juros moratórios ser calculados em 6% por cento ao ano, a partir da citação. Inteligência do art. 219 do CPC c.c 1º-F da Lei 9.'('⁄\g. 7. Recurso especial conhecido e provido. Honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos dos arts. 20, § 4º, c.c 260 do CPC. (REsp 1.082.<IJ⁄CE, Quinta Turma, Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJe J@⁄]Y⁄iYY\) O fato de a recorrente ser casada e seu marido receber benefício do INSS no valor de um salário-mínimo não pode ser obstáculo ao reconhecimento da necessidade e urgência na concessão do benefício, objeto do presente recurso especial. Deve ser considerado, ainda, que o próprio instituidor da pensão, registrou seus pais como seus dependentes. É certo que a recorrente está inserida na Declaração de Beneficiários da Aeronáutica preenchida pelo militar falecido. O presente caso requer proteção social adequada. Com base nas reflexões de Fábio Zambitte Ibrahim, o Estado deve estar à frente de uma perfeita materialização do abrigo social, mantendo-se, assim, a dignidade da pessoa humana. Confira-se a lição do professor Fábio Zambitte Ibrahim acerca do direito à seguridade social: A dignidade humana, atributo inalienável de qualquer pessoa, demanda superação de nossas afinidades e sentimentos para tais situações, sempre visando à salvaguarda de um mínimo de bem-estar. Tal exegese diferenciada toma lugar, não em razão da pretensa autonomia do Direito Social, mas de sua relevância na composição do Estado Social, o qual se afirma na dicção constitucional vigente, privilegiando a dignidade da pessoa humana e possibilitando até mesmo a demanda imediata de seu núcleo fundamental, que é definido como o mínimo existencial. A Previdência Social impõe ao intérprete e aplicador da lei previdenciária a consciência de que a lei deve sempre ser subsumida de maneira a atender, na maior medida possível, às expectativas da clientela protegida, atendendo-se em conjunto outras restrições de ordem legal ou constitucional. Somente vedação expressa em lei ou oriunda da própria Constituição poderá frustrar as expectativas dos beneficiários da Previdência Social, sob pena de violação da Constituição Cidadã. (...) Não há como ignorar a relevância da Previdência Social para todo o corpo social, devendo suas regras, dentro do possível, ser interpretadas de modo favorável a seus segurados, até mesmo como estímulo governamental ao seu ingresso, pois não obstante a compulsoriedade do sistema previdenciário, muitos trabalhadores ficam à margem do mesmo em razão de desestímulos criados pelo Estado, quando começam a adotar interpretações restritivas. (...) Acrescente-se o fato de a Previdência Social ser componente dos mais relevantes do Direito Social, que impõe ao magistrado verdadeira revolução de pensamento, pois este deixará de ser mero aplicador do Direito, e terá de voltar sua atenção para os escopos jurídicos, sociais e políticos, a fim de que haja perfeita integração entre a pretensão deduzida em juízo e o direito material. (Fábio Zambitte Ibrahim in Desaposentação O Caminho Para Uma Melhor Aposentadoria, 5ª Edição revista e atualizada, Editora Impetus, Niterói, 2011, páginas 20 a 22) Interpretação razoável a ser dada no presente caso está voltada para a proteção do idoso, fundamentada no ordenamento jurídico presente, especialmente frente à Constituição. Reitere-se, mesmo no caso dos autos, em que o marido da recorrente é segurado do INSS, recebendo benefício correspondente a um salário-mínimo, deve ser reconhecido o direito à pensão militar por morte, em observância à cultura brasileira de ajuda aos pais idosos, à garantia do mínimo existencial e do princípio da dignidade da pessoa humana. Como se percebe, a Excelsa Corte admitiu o pagamento de pensão por morte à mãe mesmo o pai recebendo um salário mínimo, uma vez que entendeu que o mínimo existencial não seria assegurado sem a proteção social assegurada por lei e com reflexos na Constituição. Numa família de baixa renda prevalecea dependência econômica mútua e presumida, uma vez que os critérios para sua definição levam em conta o mínimo existencial possível, em quadro muitas vezes caracterizado como de extrema pobreza ou, nas modernas palavras de hoje em dia, na miserabilidade do grupo familiar. Colho do §4º, do art. 21, da Lei 8.212/91, o conceito necessário à compreensão lógica do que seja baixa renda, ou seja: "§ 4o Considera-se de baixa renda, para os fins do disposto na alínea b do inciso II do § 2o deste artigo, a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico cuja renda mensal seja de até 2 (dois) salários mínimos. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)". É importante salientar a evolução considerável na jurisprudência do STJ, que passou inclusive a aplicar o entendimento referente à miserabilidade e aos respectivos critérios de flexibilização econômica do benefício assistencial (LOAS) aos benefícios previdenciários. Quando do julgamento do REsp 1479564/SP1, a Excelsa Corte pronunciou-se da seguinte forma: “À semelhança do entendimento firmado por esta Corte, no julgamento do Recurso Especial 1.112.557/MG, Representativo da Controvérsia, onde se reconheceu a possibilidade de flexibilização do critério econômico definido legalmente para a concessão do Benefício Assistencial de Prestação Continuada, previsto na LOAS, é possível a concessão do auxílio-reclusão quando o caso concreto revela a necessidade de proteção social, permitindo ao Julgador a flexibilização do critério econômico para deferimento do benefício, ainda que o salário de contribuição do segurado supere o valor legalmente fixado como critério de baixa renda. (...) No caso dos autos, o limite de renda fixado pela Portaria Interministerial, vigente no momento de reclusão da segurada, para definir o Segurado de baixa-renda era de R$ 710,08, ao passo que, de acordo com os registros do CNIS, a renda mensal da segurada era de R$ 720,90, superior aquele limite (...)”. O caso dos autos revela que o segurado falecido, um jovem com 19 anos na data do acidente em 13/06/2011, quando sua motocicleta foi atingida por caminhão, trabalhava formalmente, com CTPS assinada, desde 01/12/2007 (fl. 16 e 38). Vale dizer que o jovem trabalhava desde seus 16 anos de idade, evidenciando cuidar-se exatamente de uma família de baixa renda, onde seus componentes desde muito cedo devem buscar formas de sustento para o grupo. Em famílias de classe média ou superior esse jovem estaria estudando, concluindo o ensino médio e preocupando-se com o vestibular. Mas no caso dele não, pois trabalhava na Conspar Engenharia, em obra de saneamento básico, na função de apropriador I (fl. 16). A realidade não é igual para todos. Colhe-se da própria sentença o registro de ser a mãe desempregada, que fazia bicos como doméstica, e o pai e o irmão também desempregados, sendo que o pai fazia bicos como pedreiro. Percebe-se nitidamente o contexto familiar de baixa renda, bem caracterizado o auxílio habitual e permanente a partir da frase da testemunha Márcio dos Santos, conforme registro na sentença, que 1 (REsp 1479564/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2014, DJe 18/11/2014) mencionou que o falecido "tirava o dinheiro do dízimo e o restante entregava para a mãe" (fl. 47). A sentença confirmada pelo acórdão recorrido, com um voto vencido, indeferiu o benefício em função de os familiares trabalharem no mercado informal, o que, para o entendimento recorrido, seria o bastante para descaracterizar a "efetiva dependência econômica da família" (fl. 48 c/c fl. 65). Desta feita, o recurso discute a possibilidade do dependente de segunda e terceira classe obter a pensão por morte diante do contexto de baixa renda familiar e dependência econômica lastreada no auxílio habitual e relevante de todo o grupo. Posto isso, com base no art. 14, §2º, da Lei 10.259/01, ADMITO o Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal e determino a remessa dos autos à TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO. Os autos referidos subiram para julgamento na Corte Superior da Turma Nacional de Uniformização, onde foi fixada a seguinte tese jurídica: “a dependência econômica dos genitores em relação ao filho não necessita ser exclusiva, porém a contribuição financeira deste deve ser substancial o bastante para a subsistência do núcleo familiar, e devidamente comprovada, não sendo mero auxílio financeiro o suficiente para caracterizar tal dependência” (Representativo de Controvérsia nos autos do Pedilef n. 5044944-05.2014.4.04.7100). O ponto aqui levantado foi assim apreciado pelo relator: “A dependência econômica dos pais, constante no §4º do artigo acima mencionado, pode ser definida como uma relação de subordinação que não necessita ser exclusiva, porém como substitutiva dos fatos da vida, essa deverá ser devidamente comprovada. Essa assertiva já se consagrara na jurisprudência há tempos consolidada no extinto TFR, através da Súmula nº 229: “A mãe do segurado tem direito a pensão previdenciária, em caso de morte do filho, se provada a dependência econômica, mesmo não exclusiva". Com efeito, é fato comum em famílias carentes colaboração financeira entre ascendentes e descentes, principalmente quando os filhos são solteiros e pertencem ao mesmo núcleo familiar dos pais, como no caso dos autos – sobretudo quando há coabitação, o que em tese configura meação de contas de cada qual. Por isso, em sintonia com farta jurisprudência neste sentido, entende que a contribuição dos filhos deve ser relevante, significativa o suficiente para o sustento do grupo familiar, de modo que o mero auxílio financeiro não caracteriza a referida dependência”. Daí que a questão retornou à origem como debate acerca da prova produzida, cuja análise é soberana nas vias ordinárias, evidenciando a necessidade de máximo cuidado e zelo na produção dessa prova por parte do advogado da parte interessada. A presunção relativa a famílias de baixa renda não recebeu o amparo integral na jurisprudência, a qual, todavia, admitiu flexibilização quanto ao que antes vinha sendo exigindo, no sentido de prova exaustiva e exclusiva de que o filho sustentava os pais. No caso citado, a família perdeu a pensão por morte em função de prova precária, o que evidencia a importância no estudo da matéria e a responsabilidade do profissional que amanhã você será. Encerramos aqui a aula remota II e espero que você esteja assimilando os conceitos e debates. Termine agora o exercício antes encaminhado, porquanto temos condições de responder todas as perguntas. Vou tratar sobre ele na próxima aula remota, mas não se acanhe em perguntar as dúvidas que tiver. Leia, por gentileza, os dispositivos pertinentes da EC 103/19 e da Lei 8.213/91 a respeito do que tratamos aqui hoje, bem assim aproveite para adiantar as respostas do questionário até onde estudamos. Mãos a obra!!!
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