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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DISCIPLINA MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS PRÁTICA 2: CONTAGEM DE BACTÉRIAS MESÓFILAS E PSICRÓFILAS EM LEITE LETÍCIA COELHO DOS SANTOS DE CASTRO MATRÍCULA: 421252 2021 1. INTRODUÇÃO As doenças de origem alimentar podem ter como causa os agentes químicos ou microbiológicos. Os alimentos de origem animal ou vegetal, frescos ou processados, incluindo a água, podem veicular micro-organismos patogênicos causadores de infecções alimentares. Dentre os alimentos de origem animal, o leite, pela sua riqueza de nutrientes, constitui um importante meio de cultura para o desenvolvimento de muitos micro- organismos (BERSOT et al., 2010; BRASIL, 1996). O principal parâmetro utilizado para se verificar a qualidade desse produto é o seu perfil microbiológico, determinado principalmente pela forma de obtenção, armazenamento e transporte. Alguns grupos específicos de micro- organismos são frequentemente pesquisados como os aeróbios mesófilos, coliformes e psicrotróficos (TEBALDI et al., 2008). Um exemplo importante de mesófilo é o gênero Staphylococcus, que é composto por uma variedade de espécies associadas a infecções em seres humanos e animais. Dentre elas destacamse as espécies S. aureus, S. epidermidis, S .saprophyticus e S. haemolyticus (TRABULSI et al., 1999). A refrigeração do leite tem como objetivo controlar a multiplicação de aeróbios mesófilos. No entanto, a refrigeração em torno de 4 a -7 °C permite o crescimento de micro- organismos psicrotróficos, que se multiplicam bem nessas temperaturas. Os psicrotróficos encontrados no leite são ambientais, provenientes do solo, água, vegetação, teto/úbere e de equipamentos de ordenha higienizados inadequadamente. São termolábeis, porém suas enzimas são resistentes ao tratamento térmico (SANTANA et al., 2001). O objetivo desse trabalho foi avaliar a qualidade microbiológica do leite pasteurizado comercializados na cidade de Fortaleza - Ceará, identificando bactérias mesófilas e psicrotróficas, bem como se estão atendendo aos limites estabelecidos pela literatura. 2. METODOLOGIA A pesquisa foi conduzida no laboratório de microbiologia de alimentos da Universidade Federal do Ceará. Foram analisadas amostras de leite pasteurizado adquiridas em um comércio local. Os leites pasteurizados foram levados ao laboratório sob refrigeração em isopor contendo “ice block”. Antes de proceder as análises, as amostras foram cadastradas com as seguintes informações: Nome do solicitante e endereço completo; Nome do produto, data de fabricação, lote, peso, prazo de validade, endereço do fabricante; número de entrada. Após a assepsia das mãos e da bancada de trabalho, separou-se e identificou- se as vidrarias e os meios de cultura preparados previamente. Com auxílio de álcool 70%, sanitizou- se a embalagem do leite. 2.1.Contagem de mesófilos aeróbios Iniciou-se o procedimento efetuando uma diluição seriada, que tem por objetivo diluir amostra para que se consiga realizar a contagem dos microorganismos com mais precisão. Homogeneizou-se a amostra ainda na embalagem e em seguida retirou-se 25 mL da amostra, a qual foi diluída em 225 mL de água peptonada (diluente). Essa primeira diluição chamou-se de 10-1. Homogeneizou-se a solução diluída 10-1, transferiu-se 1 mL desta para um tubo de ensaio, onde efetuou-se outra diluição em 9 mL de água peptonada, obtendo-se a solução denominada 10-2. Homogeneizou-se a solução diluída 10-2, transferiu-se 1 mL desta para um tubo de ensaio, onde efetuou-se outra diluição em 9 mL de água peptonada, obtendo-se a solução denominada 10-3. Após a diluição seriada, iniciou-se a segunda parte da análise onde foi feito o “Spread Plate” ou espalhamento em superfície. Nesta etapa, homogeneizou-se cada uma das diluições (10-1, 10-2 e 10-3) e transferiu-se 0,1 mL (100 microlitros) de cada uma para placas de Petri contendo 12 mL de Ágar Padrão para contagem (PCA). Efetuou-se em seguida, com auxílio de uma vidraria chamada Alça de Drigalski o espalhamento do inóculo em toda a superfície do ágar até que se obtivesse completa absorção ao meio de cultura, ou seja, até que a superfície estivesse seca. Este procedimento repetiu-se para todas as diluições. Nesta etapa foram feitas duplicatas. Ao final desse procedimento, incubou-se as placas de Petri a 32 ºC por 48 horas. 2.2.Contagem de bactérias psicrotróficas Para bactérias psicrotróficas realizaram-se os mesmos procedimentos da contagem de mesófilos aeróbios. A diluição seriada e o espalhamento em superfície. A grande diferença ocorreu nas condições de incubação, onde as placas de Petri foram incubadas a 7 ºC por 10 dias. Essas condições de incubação diferentes justificam-se pelo fato de que as bactérias precisam dessas condições de incubação. Cada bactéria possui características intrínsecas relacionadas a temperatura e tempo para que se desenvolva bem. 2.3.Regras para contagem de placas Inicialmente separou-se as placas com valores que variaram entre 25 a 225 unidades formadoras de colônias (UFC). Realizou-se a contagem do número de colônias, onde o cálculo se deu pelo número de colônias dividido pela razão da diluição (diluição que se utilizou na contagem) vezes o volume do inóculo em mL. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Selecionou-se as placas da diluição 10-3, pois foram as únicas dentro da faixa recomendada (25 a 225 UFC). A média do número de colônias contadas nas duplicatas dessa diluição apresentou um valor de 39,5 UFC de bactérias mesófilas. Média do Nº de colônias nas placas = 39,5 Razão de diluição = 10-3 Volume utilizado = 100 microlitros = 10-1 nº de colônias = (39,5)/((10-3 x 10-1)) = 3,95 x 104 UFC de bactérias mesófilas/mL de leite pasteurizado. De acordo com os limites estabelecidos por Brasil (2002) é permitida a presença de até 4,90 log10 UFC/mL (104,9 UFC/mL ≈ 7,94 x 104 UFC/mL) para mesófilos aeróbios em leite pasteurizado. Na presente pesquisa, o resultado foi de 3,95 x 104 UFC/mL, sendo indicativo de leite de alta qualidade higiênico-sanitária. Realizou-se o mesmo cálculo para a contagem de bactérias psicrotroficas, onde se obteve o mesmo resultado. Isso ocorreu porque utilizou-se as placas da diluição 10-3, pois foram as únicas dentro da faixa recomendada (25 a 225 UFC) e a média do número de colônias contadas nas duplicatas dessa diluição apresentou um valor de 39,5 UFC de bactérias psicrotroficas. Média do Nº de colônias nas placas = 39,5 Razão de diluição = 10-3 Volume utilizado = 100 microlitros = 10-1 nº de colônias = (39,5)/((10-3 x 10-1)) = 3,95 x 104 UFC de bactérias psicrotroficas/mL de leite pasteurizado. Segundo Mahieu (1991), contagens de psicrotróficos a partir de 6 log10 UFC/mL (106 UFC/mL) permitem modificações em leite e derivados, encurtando a vida útil dos mesmos. Champagne et al. (1994) relataram que normalmente valores acima de 106 UFC/mL de microrganismos psicrotróficos tornam perceptíveis as mudanças de aroma e sabor do leite. Não existe valor limite estipulado pela legislação brasileira para a população de psicrotróficos, no entanto de acordo com Pinto et al. (2006) não é recomendável a fabricação de produtos lácteos a partir do leite cru com contagem de psicrotróficos superior a 106,7 UFC/mL (5,01x106 UFC/mL). Na presente pesquisa foram encontrados valores de 3,95 x 104 UFC/mL, sendo um forte indicativo de leite de alta qualidade higiênico-sanitária para microrganismos psicrotróficos. 4. CONCLUSÕES Diante do exposto, os resultados obtidos referente a qualidade microbiológica do leite pasteurizado comercializado foram satisfatórios, com quantidades de microrganismos abaixo dos limites estabelecidos na literatura (3,95 x 104 UFC de bactérias mesófilas e psicrotróficas/mL deleite). Essa informação trás alívio pois o leite pasteurizado analisado é de alto consumo pela população local e se apresentasse quantidades de microrganismos acima dos limites estabelecidos pela literatura poderia causar intoxicações e/ou infecções alimentares graves. 5. REFERÊNCIAS BERSOT, L. S.; GALVÃO, J. A.; RAYMUNDO, N. K. L.; BARCELLOS, V. C.; PINTO, J. P. A. N.; MAZIERO, M. T. Avaliação microbiológica e físico-química de leites UHT produzidos no Estado do Paraná – Brasil. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 645-652, 2010. BRASIL. Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, aprovado pelo Decreto n° 30.691, de 29/0 3/52, alterado pelo decreto n° 1.255, de 25/06/62, alterado pelo decreto n° 1.812 , de 08/02 /96. Diário Oficial da União, Brasília, 09/02/96, seção I, p.2241- 2243, 1996. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Depar tamento de Inspeção de Produtos de Or igem Animal. Instrução Normativa n° 51, de 18 de setembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de setembro de 2002. Seção 1, Brasília, 21 set. 2002. CHAMPAGNE, C. P. ; LAING, R. R.; ROY, D.; MAFU, A. A. ; GRIFFITHS, M. W. Psychrotrophs in dairy products: their effects and their control. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 3 4 , n. 1 , p. 1 - 30, 1994. MAHIEU, H. Modificaciones de la leche despues de su recogida. In: LUQUET, F. M. Leche y Productos Lacteos . La leche de la Mama a la Lecheria. Zaragoza: Acribia, S. A., p. 181- 226, 1991. PINTO, C. J. O.; MARTINS, M. L.; VANETTI, M. C. D. Qualidade microbiológica de leite cru refrigerado e isolamento de bactérias psicrotróficas proteolíticas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 26, n. 3, p. 645- 651, 2006. SANTANA, E. H. W.; BELOTI, V.; BARROS, M. A. F.; PEREIRA, M. S. Microrganismos psicrotróficos em leite. Higiene Alimentar, v. 15, n. 88, p. 27-33, 2001. TEBALDI, V. M. R.; OLIVEIRA, T. L. C.; BOARI, C. A.; PICCOLI, R. H. Isolamento de coliformes, estafilococos e enterococos de leite cru provenientes de tanques de refrigeração por expansão comunitários: identificação, ação lipolítica e proteolítica. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, n. 3, p. 753- 760, 2008. TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F.; GOMPERTZ, O. F.; CANDEIAS, J. A. N. Microbiologia. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 1999.
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