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- -1 CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA O ENSINO DE GRAMÁTICA - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Compreender o conceito e a análise do termo gramática. 2- Entender a importância de se trabalhar a gramática numa perspectiva de base estruturante para a leitura, a escrita e a fala. 3- Valorizar o ensino da gramática em função da compreensão da leitura e da produção textual. 4- Perceber a importância do ensino dos usos gramaticais como reflexão da análise da linguagem. Nesta aula, vamos chamar a atenção para o estudo da gramática numa perspectiva de base estruturante para a leitura, a escrita e a fala. Destacar a importância do conceito e análise do termo gramática em função da compreensão da leitura e da produção textual. Vamos ressaltar o papel do professor na mediação do ensino dos usos gramaticais focados na reflexão da análise da linguagem. Nesta aula, poderíamos nos alongar muito a respeito do conceito e termo da palavra gramática. Entretanto, para que possamos ser mais objetivos e claros com relação ao entendimento do estudo e aplicação da gramática da língua, achamos pertinente apresentar algumas definições e, a seguir, levantar algumas reflexões baseadas nos indicadores dos PCNs de língua portuguesa. - -3 A professora Irandé Antunes em Antunes, Irandé. Muito Além da Gramática. Parábola Editorial. São Paulo: faz uma reflexão muito pertinente de como são atribuídas cinco concepções de significados a partir da 2007 palavra gramática: “.... quando as pessoas se referem à , podem estar falando:gramática 1- das regras que definem o funcionamento de determinada língua, como em; “ a gramática do português”; nessa acepção, a gramática corresponde ao saber intuitivo que todo falante tem de sua própria língua, a qual tem sido chamada de “gramática internalizada”. 2- das regras que definem o funcionamento de determinada norma, como em: “ a gramática da norma culta”, por exemplo. 3- de uma perspectiva de estudo, como em “ a gramática gerativa”, “a gramática estruturalista”, “a gramática funcionalista”; ou de uma tendência histórica de abordagem, como em: “ a gramática tradicional”, por exemplo. 4- de uma disciplina escolar, como em: “aulas de gramática”. 5- de um livro, como em: “ a gramática do Celso Cunha”. Portanto, podemos sintetizar em um quadro assim: GRAMÁTICA - -4 Passemos a fazer breve análise de cada item: Gramática como livro: São livros escritos por estudiosos da língua portuguesa que adotam duas posições: a) uma posição mais - descreve como a língua é usada pelos falantes e escritores, apresentando asdescritiva regularidades que surgem nas variações, considerando a norma como uma das possibilidades; b) ou uma posição mais - focaliza-se nos usos linguísticos considerados como padrão.prescritiva/normativa Gramática como disciplina de estudo: É a gramática vista como o estudo que dá suporte ao discurso oral, à escrita e à leitura. Não deve, portanto, ser uma disciplina escolar em que o foco principal do ensino são as regras gramaticais da norma culta, apesar de muitos pais e até alunos acharem que aula de Português é aula exclusivamente de gramática. Voltaremos a comentar esse assunto até o final desta aula. Gramática como perspectiva de estudo de uma língua: É o estudo científico sobre o funcionamento e usos de uma língua, que apresenta um corpo de teorias formuladas a partir da apreensão, observação e análise do fenômeno linguístico. Gramática da norma culta: É o conjunto de regras que regulam a norma culta e que foram estabelecidas na ótica da língua prestigiada socialmente, de acordo com o poder econômico e político da comunidade linguística. A matéria-prima desse ensino gramatical se concentra na observação da escrita considerada culta e de boa qualidade. Portanto, a forma considerada errada é mais aproximada da classe social de menor prestígio e poder socioeconômico. Esse dado é fundamental para o professor considerar a dificuldade de apropriação das regras gramaticais da norma culta pelos alunos de determinados contextos sociolinguísticos. - -5 Gramática internalizada: É o conjunto de saberes que as pessoas desenvolvem desde a mais tenra idade. As pessoas que aprendem a falar uma língua utilizam as regras de funcionamento da gramática que regulam essa língua, mesmo que não tenham consciência disso. As crianças vão aprendendo a falar a língua materna e a utilizar os pronomes pessoais sem saberem a sua classificação. Por exemplo, ao responder se querem água, inicialmente dizem: - Quer; em seguida, passam a responder: - Quero, com o verbo já flexionado na 1ª. pessoa. Esse conhecimento gramatical vai se processando paralelamente com a descoberta de sua identidade. Diante dessas características, enfrentamos o desafio: Qual a mais adequada? Em primeiro lugar, consideremos que o ato de ensinar é contextualizado em um espaço e tempo, mediado pelas conveniências do aprendiz e do professor e pressupõe, por isso, uma interação constante entre ambos e o objeto de estudo. Importante é que se adote uma gramática que não sirva apenas como mais um conhecimento supérfluo que se "aprende" e se "esquece", mas que seja um conhecimento efetivo do funcionamento das regras usadas na língua falada ou escrita inseridas numa perspectiva textual, contextualizada, limitadas por uma análise linguística do processo de utilização da língua. Renomados autores direcionam suas obras, expressando a tendência pedagógica para o ensino da língua materna no Brasil. - -6 Celso Cunha, ao encerrar o capítulo "Normas e nível socioculturais" em seu livro A questão da norma culta , afirma que se deve propiciar ao aluno uma posse do "dialeto prestigioso sem que seu vernáculobrasileira íntimo" seja violentado. João Wanderley Geraldi em diz que os professores deveriam "oportunizar aos alunos oO texto em sala de aula domínio do dialeto padrão como outra forma de linguagem, sem depreciar sua família, em seu grupo social. Magda Soares, numa visão revolucionária da escola, propõe ensinar o padrão, além das variantes desprestigiadas para a conscientização das várias modalidades de uso e transformação da sociedade. Finalizamos com a concepção de Maria Helena de Moura Neves de que ensinar uma língua e, portanto, a gramática é, acima de tudo, propiciar e conduzir a reflexão sobre o funcionamento da linguagem através do uso linguístico. Se qualquer falante já possui uma gramática internalizada ao ingressar na escola, ele deve desenvolver a sua competência comunicativa de tal modo que possa utilizar da melhor maneira possível sua língua em todas as situações de fala e escrita. Ele deve ser capaz de refletir sobre a capacidade linguística que já possui e domina no nível intuitivo, mas sobre o qual nunca antes se tinha debruçado para analisar o funcionamento. - -7 A aula de português seria então um exercício contínuo de descrição e análise desse instrumento de comunicação; e uma estratégia seria reconhecer a variação inerente a cada grupo social para interagir com todos e adequá-la a cada contexto social. Sendo assim, as aulas focariam o domínio das várias modalidades de uso da língua do coloquial ao culto na fala, na leitura de gêneros variados e na escrita. Por exemplo, a conjugação verbal só é válida se o aluno utilizá-la com adequação ao tempo do texto que ele escreve ou fala e de acordo com a concordância com o pronome adequado. Há casos de o aluno saber, na "ponta da língua" os tempos verbais do verbo por e, ao se expressar, escrever ou dizer: . O mesmo acontece com o uso inadequado do verbo ser: Eu ponhei o caderno na mesa Espero que o . Ainda tem-se o uso do (conjunção com sentido de ) e (pronome oucaderno seje encontrado mas porém mais advérbio com sentido de ). Se o aluno não entender o funcionamento desses casos, o erro persistiráintensidade durante toda a sua vida. Pensemos, então, que há necessidade de se adequar os conteúdos curriculares gramaticais aos anosescolares iniciais do ensino fundamental. É recomendável que a exploração da terminologia gramatical mereça pouca atenção, desde que esse momento de primeiros contatos sistemáticos do sujeito seja de priorizar a faculdade da linguagem e sua interação com o texto. - -8 Progressivamente, faz-se da nomenclatura um recurso, uma mediação, um ponto de passagem e não um objeto isolado de estudo. O conteúdo deve-se direcionar para os componentes textual e discursivo da língua, sendo as estruturas gramaticais estudadas como itens formadores do sentido do texto. Segundo Celso Luft, em seu livro Língua e Liberdade (2004): De acordo com os PCNs de Língua Portuguesa, o ensino da gramática deve ser baseado no desenvolvimento da habilidade do aluno em identificar: "o sentido que um recurso ortográfico, como, por exemplo, diminutivo ou aumentativo de uma palavra, entre outros, e/ou os recursos morfossintáticos (forma que as palavras se apresentam), provocam no leitor, conforme - -9 o que o autor deseja expressar no texto. Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual se requer que o aluno identifique as mudanças de sentido decorrentes das variações nos padrões gramaticais da língua (ortografia, concordância, estrutura de frase, entre outros) no texto." Uma outra habilidade que os PCNs indicam são as relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. Assim determina... "As habilidades que podem ser avaliadas por este descritor relacionam-se ao reconhecimento das relações de coerência no texto em busca de uma concatenação perfeita entre as partes do texto, as quais são marcadas pelas conjunções, advérbios, etc., formando uma unidade de sentido. Essa habilidade é avaliada por meio de um texto no qual é solicitado ao aluno, a percepção de uma determinada relação lógico-discursiva, enfatizada, muitas vezes, pelas expressões de tempo, de lugar, de comparação, de oposição, de causalidade, de anterioridade, de posteridade, entre outros e, quando necessário, a identificação dos elementos que explicam essa relação." Irandé Antunes no expõe o seguinte questionamento: É assim que se aprende a compreender um texto? Leia o texto e faça o que se pede: Sou pretinho... Pretinho de uma perna só. Uso gorro vermelhinho E cachimbo de cipó. Faço cada traquinada! Sou esperto como eu só. Retire do texto palavras com: - -10 A. Uma sílaba B. Duas sílabas C. Três sílabas D. Mais de três sílabas Diante desse texto, tão rico em suas construções linguísticas, é feita apenas uma pergunta de constatação de sílabas. Façamos algumas considerações de recursos textuais: Verificar o conhecimento do vocabulário para que a adivinhação seja entendida. Observar como a pontuação participa na construção do sentido do texto. No primeiro verso, as reticências evidenciam um suspense do personagem. E o ponto de exclamação aumenta o sentido das traquinagens. O uso do diminutivo deve ser analisado na sua formação com o acréscimo do "inho" e, principalmente, a função semântica que ele denota: pequeno e delicado: "pretinho"; "gorrinho". Analisar o sentido da palavra "só" usada duas vezes. Em “pretinho de uma perna só" significa ; Em "Sousomente esperto como eu só" integra a expressão como eu só que significa inigualável. Desse modo, os itens comentados permitem conhecer que um texto tem grande função significativa em toda a sua estrutura e precisa ser estudado em vários aspectos. Solicitar o reconhecimento de separação de sílabas, somente, seria desperdiçar o conhecimento que esse texto pode desenvolver no raciocínio verbal. Um programa de estudo da língua que inclua regras de textualização será mais relevante do que aquele que se detém em apenas nomear as classes gramaticais e a sintaxe. O estudo da gramática nunca pode ser retirado da prática escolar, pois ela faz parte da língua. Não se pode confundir o estudo da nomenclatura com o estudo da gramática. As regras necessárias para a formação de um texto com coesão e coerência precisam ser gradativamente apresentadas e sempre com a devida aplicação de sua funcionalidade, de acordo com o desenvolvimento cognitivo de cada grupo sociocultural. O diálogo, a conversa, as histórias, os relatos, os poemas, as notícias e outros gêneros textuais devem ser orientados para o desenvolvimento específico da linguagem nos mais diversos suportes (jornais, revistas, cartazes, meios eletrônicos, etc.) Contudo, não podemos esquecer que a gramática é um suporte, é ela que deve acompanhar o estudo da língua como instrumento de comunicação e não o contrário. Afinal, "são dispensáveis todas as regras que não contribuem para a eficiência comunicativa. Indispensável é aprender a língua, que contém a gramática" (Luft, Celso. In Língua e Liberdade - p.18) - -11 CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Compreendeu o conceito e o termo gramática. • Aprendeu também a importância de se estudar a gramática como base estruturante para a leitura, a escrita e a fala. • Assimilou a relevância do ensino da gramática em função da compreensão da leitura e da produção textual. • Percebeu o papel do professor na mediação do ensino dos usos gramaticais focados na reflexão da análise da linguagem. • • • • Olá! CONCLUSÃO
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