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ENSINO DE CRECHES E EDUC INFANTIL Aulas 1 a 10 CONTEUDO ON LINE

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1 
CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO 
DE CRECHES E EDUCAÇÃO INFANTIL 
AULA 1- INFÂNCIA: CONCEITO SOCIAL 
 
A Lei 9.394/96 estabeleceu pela primeira vez na história de nosso país, 
que a educação infantil é a primeira etapa da educação básica e 
atualmente, esse segmento do ensino encontra-se em um momento de 
superação entre por um lado a tradição assistencialista das creches e, de 
outro, a marca da antecipação da escolaridade das pré-escolas. Essa 
disciplina parte da discussão de infância como um conceito social, 
construído historicamente e reflexo da organização sócio-cultural. Visa 
contribuir com a formação permanente do educador da infância, apontar 
metas de qualidade que busque estimular a integração da família e a 
comunidade no desenvolvimento saudável das crianças brasileiras para 
que sejam capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos a infância 
são reconhecidos. 
Normalmente, associa-se a infância a imagens de crianças saudáveis e 
felizes, brincando descontraídas, sem preocupações, envolvidas em 
tarefas que pertençam somente a atividade lúdica em que estão 
concentradas no momento, geralmente, acompanhadas de um olhar 
atento de um adulto que as observa e procura suprir as suas necessidades. 
Infelizmente nem sempre é assim... 
O fato de ser criança nem sempre garantirá uma infância feliz. 
Infelizmente, é possível afirmar que em diferentes momentos históricos e 
em realidades diversas, sempre existiram e existem ainda muitas crianças 
que possuem suas infâncias roubadas. 
Atualmente, algumas ciências nos permitem obter conhecimentos 
específicos a respeito de ser criança e de ter infância. 
Uma criança é um ser humano no início de seu desenvolvimento. São 
chamadas recém-nascidas a partir do nascimento até um mês de idade; 
 
2 
bebê, entre o segundo e o décimo oitavo mês, e criança quando têm entre 
dezoito meses até oito anos de idade. 
Uma criança considerando a idade que possua apresenta necessidades 
especificas relativas a esse período da vida, e a condição histórico-social 
da criança irá possibilitar o modelo de infância que ela terá. 
Fatores econômicos, políticos, culturais e afetivos orientarão a forma 
como a criança será olhada, cuidada e educada. 
A infância é o período que vai desde o nascimento até aproximadamente 
o décimo primeiro ano de vida de uma pessoa. É um período de grande 
desenvolvimento físico, marcado pelo gradual crescimento da altura e do 
peso da criança - especialmente nos primeiros três anos de vida e durante 
a puberdade. Mais do que isto, é um período em que o ser humano 
desenvolve-se psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no 
comportamento da pessoa e na aquisição das bases de sua personalidade. 
Aries (1975) em seu livro História Social da Infância e da Família 
desenvolveu um rico estudo a respeito da lenta transformação da criança 
e da família na Europa Ocidental. 
“Na idade média, no inicio dos tempos modernos, e por muito tempo 
ainda nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos 
assim que eram consideradas capazes de dispensar a ajuda das mães ou 
das amas, poucos anos depois de um desmame tardio – ou seja, 
aproximadamente, aos sete anos de idade... 
Adultos: É possível perceber por meio de inúmeros estudos que durante 
muito tempo a criança era tratada como miniadulto e que seu lugar na 
sociedade não tinha nenhum valor. Antes de se tornarem miniadultos 
eram tratadas como animais, com poucas condições de sobrevivência. 
Existem registros históricos que demonstram essa afirmativa, como 
quando ao nascer uma menina ou um menino, era usada a seguinte frase: 
“nasceu mais um macho ou mais uma fêmea”. Termos semelhantes ao 
que se usa por ocasião do nascimento de outros animais. 
 
3 
A partir desse momento ingressavam imediatamente na grande 
comunidade dos homens, participando com seus amigos jovens ou velhos 
dos trabalhos e dos jogos de odos os dias.” 
AIRES(1975,P275) 
 
Você sabia que durante muito tempo o lugar da criança esteve atrelado ao 
papel da mulher na sociedade? 
ARROYO (1994) ressalta que com a entrada da mulher no mercado de 
trabalho, a configuração da família mudou recebendo novas formas de 
organização. 
 
Este aspecto modificou a maneira de educar a criança que atualmente 
entra em um mundo social amplo bem mais cedo, em comparação com as 
crianças de outros períodos históricos. 
 
 
4 
 
Até aqui destacamos principalmente um modelo Europeu de construção 
de infância, porém estudando especificamente, a organização da 
sociedade brasileira é importante destacar o momento da consolidação do 
Brasil colonial. 
 
O tratamento a criança na cultura indígena 
 Estudos descrevem que os pais das crianças indígenas na época do 
Brasil Colonial eram atenciosos, amorosos e costumavam participar 
da vida de seus filhos desde o nascimento . Poderiam oferecer 
qualquer coisa àqueles que dessem atenção as suas crianças. 
 
os pais das crianças indígenas: Del Priore (1999 - P13) relata que: 
“o pai ajudava no parto, comprimindo a barriga de sua mulher para 
apressar o nascimento da criança. Se o bebê fosse do sexo 
masculino, ele cortava o cordão umbilical com os próprios dentes 
ou uma faca afiada; caso fosse do sexo feminino, era a mãe quem 
proporcionava os primeiros cuidados. Os recém-nascidos eram 
banhados no rio e depois pintados com óleo de urucum e jenipapo. 
Estavam, então, preparados para o itamongavu, uma cerimônia de 
bom presságio, cuja intenção era abrir os caminhos para futuros 
guerreiros e índias fortes e saudáveis.” 
 
 Os adultos tratavam as crianças com respeito. Não existiam castigos 
ou agressões físicas e todos os membros da tribo se sentiam 
 responsáveis pela criança. 
 
5 
 Alguns estudos indicam que ainda hoje a criança indígenas é bem 
tratada pelos membros de sua tribo, como é o caso da tribo dos 
Yanomami. 
 
Yanomami - Segundo Emeri (2002 - P.19): 
 “até dois ou três anos, a criança Yanomami toma leite materno e 
vive grudada na mãe; isso determina seu equilíbrio afetivo. O 
respeito pela personalidade da criança é tão forte que seu 
desenvolvimentismo se dá livremente e sem que sejam criadas 
dependências. A repressão, o castigo, ou o bater nas crianças não 
existem entre os Yanomami. Se acontecer de a mãe perder a 
paciência com sua criança, ela será duramente repreendida pelo 
marido e pela comunidade.” 
É possível perceber que a cultura indígena em geral respeita a criança e 
procura acompanhá-la, oferecendo as condições necessárias para que se 
constitua um ser humano capaz de assumir o seu lugar na sociedade, a 
partir de uma infância livre e amorosa. 
 
As amas de leite – a influência dos negros 
Ao chegarem ao Brasil, os negros não trouxeram crianças, pois o trabalho 
escravo era destinado aos adultos do sexo masculino. 
As crianças negras na época do Brasil colonial nasceram em nosso país, e 
ao chegarem ao mundo já eram consideradas escravas, sem direito a 
liberdade e a poucos cuidados maternos, uma vez que suas mães 
amamentavam os filhos das mulheres brancas que não cuidavam de suas 
próprias crias. 
crianças negras- Pesquisas históricas relatam que as crianças negras até os 
sete anos de idade conviviam com as crianças brancas na casa grande, 
sendo mimadas e bem tratadas, brincavam com as outras crianças. Porém, 
muitas vezes serviam como animais de estimação para as sinhazinhas que 
costumavam jogar pedaços de comida às crianças na hora do jantar, ou os 
 
6 
sinhozinhos que montavam nas costas das crianças negras como se 
fossem cavalos ou animais do tipo. 
 Após completarem seteanos iam para as senzalas e sofriam todas as 
formas de infortúnios e agressividades que eram destinadas aos escravos 
naquele período. Entravam no mundo do trabalho recebendo muitas 
chibatadas e humilhações. 
Segundo Gilberto Freire, as “mães negras” inundaram a imaginação 
infantil com um folclore riquíssimo de assombrações e criaturas estranhas, 
como o boitatá e o “mão de cabelo”, que tiravam o sono dos meninos 
malcriados, perambulando pelas casas grandes e senzalas. 
É possível afirmar que as crianças negras e escravas tiveram pouco tempo 
e espaço para ser criança durante a infância. Viveram em um período em 
que era permitida a exploração de seu corpo que nem mesmo lhe 
pertencia. 
 
A infância em diferentes locais 
Atualmente, ao ilustrar as diferentes infâncias, considerando as variadas 
culturas, podemos afirmar que viver na zona rural ou na zona urbana 
também é um fator que interfere ativamente na maneira como uma 
criança irá viver a infância. 
O campo, apesar de oferecer mais espaço e liberdade para as crianças, 
muitas vezes as obriga a entrar no mundo do trabalho precocemente, uma 
vez que o filho pode acompanhar o pai na plantação ou na criação de 
animais. Este aspecto acaba diminuindo a infância, reduzindo-a a um 
período mais curto e de menor valor. 
A vida na cidade grande muitas vezes deixa claro “o que é de criança e o 
que é de adulto”. Quer dizer, considerando a classe econômica a qual a 
criança pertença, quem trabalha é o adulto, enquanto a criança deve 
apenas estudar. 
o que é de criança e o que é de adulto - Contudo, nas cidades grandes 
muitas vezes é oferecido a adultos e crianças as mesmas informações. A 
 
7 
mídia tem proporcionado à criança a oportunidade de se vestir como 
adulto, consumir como adulto e de ter acesso as mesmas informações que 
um adulto tem. 
É preciso estar atento a esses aspectos, pois em uma sociedade em que 
adultos e crianças tem papeis que se confundem, o lugar da infância corre 
o risco de deixar de existir, cedendo à pressa do mundo do consumo e do 
trabalho. 
Infância - É importante registrar que uma vez que infância é um conceito 
construído socialmente, atualmente, existem vários riscos que ameaçam a 
existência da qualidade desse período da vida, principalmente, em uma 
sociedade marcada por adultos, em que consumir muitas vezes se 
sobrepõe a existência humana. 
É preciso ter claro que as crianças precisam de cuidados e de uma 
educação de qualidade que valorize o respeito às necessidades de sua 
infância. 
educação de qualidade - Uma vez que o espaço e o tempo da infância 
dependem do olhar da sociedade, é necessário estar atento a todos os 
aspectos que possam valorizar esse tempo da vida como uma vivência que 
tem um fim em si mesma, e que consequentemente, irá construir a base 
estrutural que estará por vir. 
Aprenda praticando! 
Leia as afirmativas abaixo e assinale a sequência correta. 
(A) A infância é o período que vai desde o nascimento até 
aproximadamente o décimo quinto ano de vida de uma pessoa. FALSA 
(B) Pode-se considerar criança o indivíduo que têm entre dezoito meses e 
oito anos de idade. VERDADEIRA 
(C) Na educação indígena as crianças são respeitadas pelos adultos e todos 
da tribo são responsáveis por sua educação. VERDADEIRA 
(D) A mídia tem proporcionado à criança a oportunidade de ter acesso as 
mesmas informações que um adulto tem. VERDADEIRA 
 
8 
SINTESE DA AULA 01- INFANCIA : CONCEITO SOCIAL 
Nesta aula, você: 
• percebeu que infância é um conceito social, construído historicamente 
 e que a forma como os adultos valorizam a criança dará acesso ou não à 
um desenvolvimento saudável e feliz; 
• comparou diferentes culturas e diversos tratamentos oferecidos à 
infância; 
• avaliou a importância de oferecermos um espaço social adequado ao 
desenvolvimento das crianças de nosso país; 
• percebeu a relação de uma infância saudável a uma educação de 
qualidade, envolvendo espaços amplos, atividades lúdicas, profissionais 
competentes, famílias estruturadas, acesso a atividades variadas e 
afetividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
AULA 2 - POLITICAS PUBLICAS NACIONAIS PARA ED. INFANTIL 
 
Aqui você conhecerá de forma resumida a história das políticas públicas 
voltadas à infância brasileira, desde o surgimento das primeiras creches 
até o parecer de 2009, que obriga toda criança a partir de quatro anos a 
frequentar espaços de educação infantil. 
Apesar de ainda ser necessário estar fortemente implicado na luta sobre o 
direito da criança brasileira, é preciso reconhecer que nas últimas décadas 
do século XX houve um grande avanço na garantia dos direitos da criança. 
Vale ressaltar, que as conquistas nessa área são reflexos em sua maioria 
da organização de setores da sociedade civil que lutaram pela garantia das 
crianças no Brasil para que fossem vistas como cidadãs de direitos. 
Vamos conhecer um pouco sobre como as creches foram sendo instaladas 
em nosso país. 
O SURGIMENTO DAS CRECHES NO BRASIL 
As primeiras creches no Brasil surgiram em meados de 1870, destinadas 
prioritariamente às famílias pobres. Eram designadas mulheres que 
precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família. 
Assim, as creches surgiram como um depósito normatizador do 
comportamento das crianças pobres, liberando a mão de obra feminina, 
como afirma Pardal. 
Pardal (2005 – p. 64) ressalta que:“para as crianças bem nascidas valia a 
regra de ouro: serem amamentadas e cuidadas por sua própria mãe, a 
quem a sociedade fechava as possibilidades de estudo e trabalho. A 
imprescindibilidade da função materna era um dos argumentos usados 
para justificar o afastamento feminino do mundo do trabalho. A questão 
do conflito, portanto, fruto da possibilidade de opção, inexistia. As regras 
estavam socialmente bem definidas: às mulheres das classes abastadas, 
destinava-se a maternidade; às pobres, o trabalho.” 
 
10 
É possível imaginar a dor e a culpa que estavam associadas às mães 
pobres que precisavam trabalhar e se afastar de seus filhos. 
Vale ressaltar, que entre o Brasil Colônia e o Brasil República houve uma 
mudança na forma como a maternidade era concebida e a maneira como 
as crianças eram tratadas como mostra Pardal em (2005 – p. 69-70): 
“No Brasil Colônia, a criança e a maternidade tinham pouca importância. A 
mulher branca entregava sem maiores conflitos, seus filhos às amas. A 
escrava incorporava o filho ao trabalho cotidiano ou colocava-o na Roda, 
por opção ou coação. 
Em qualquer desses casos, a mortalidade infantil, apesar de numerosa, 
não era vivida pelas mães com muito sofrimento. Tampouco a função 
materna possuía destaque especial. A partir da independência, mas, 
sobretudo, no Segundo Império, essa situação começa a modificar-se.” 
Além desse aspecto, havia o estigma associado às crianças que 
frequentavam as creches, que eram vistas como coitadas e dependentes 
da assistência de pessoas caridosas, uma vez que a manutenção desses 
espaços não era ainda responsabilidade exclusiva do Estado. 
Você já ouviu falar no Código de 1927? 
O Código de 1927, primeiro conjunto de leis voltado especificamente para 
crianças, na verdade foi o marco da infância brasileira desigual, em que o 
foco verdadeiro era defender a sociedade do “menor infrator” ou “da 
criança abandonada”. 
Esse código refletiu um período cinzento marcado por instituições como a 
Funabem, que durante muito tempo representou o confinamento e a 
violência como marca do tratamento destinado à infância brasileira. 
Segundo Nunes (2005, P.74), “É no contexto social e político da 
emergência do projetoindustrial brasileiro, nos anos 1930, que a criança 
se torna um campo de intervenção social, a partir da articulação de um 
conjunto de práticas que tanto ofereciam assistência social quando 
propunham medidas de controle jurídico sobre a infância dos mais pobres. 
 
11 
Este conjunto de práticas foi ordenado no código de menores de 1927, 
quando a criança pobre começa a ser identificada como menor.” 
Nunes relata que este período foi marcado pelo autoritarismo de uma 
política centralizadora caracterizada pela exclusão total ou parcial e a 
inexistência da cidadania infantil. 
NUNES (2005, p.77) afirma:“Na conjuntura política autoritária dos anos 
1960, a questão do “menor” ficou identificada como sendo uma questão 
de segurança nacional e passa a ser tratada, diretamente, a partir da forte 
presença do Estado no enfrentamento das questões sociais. Numa 
tendência centralizadora, o atendimento à infância passou a ser articulado 
em torno da política nacional de bem estar do menor, executada pela 
Funabem (Fundação Nacional do Bem Estar do Menor), que coordenava as 
Febem (Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor), num novo 
arcabouço institucional.” 
A partir dos anos 70 a entrada da pesquisa e analise cientifica na área da 
infância, principalmente voltada para o abandono e a pobreza das crianças 
permite trazer novos significados à infância brasileira. 
A partir desse período várias iniciativas surgem mudando o panorama da 
criança pobre no Brasil: 
• 1976 – criação da Comissão Parlamentar de inquérito para um 
diagnóstico sobre a realidade do menor; 
• 1978 – criação da Pastoral do Menor ampliando e modernizando a 
presença da igreja católica; 
• 1979 – em São Paulo a criação do movimento em defesa do menor se 
concentra nas denuncias de maus tratos praticados na Febem. 
O atendimento oferecido principalmente às crianças pobres de nosso país 
começou a mudar a partir da década de 70, que ofereceu as bases para 
uma reformulação política. São elas: 
• Constituição federal de 1988 ; 
• ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) – 1990; 
 
12 
• Política Nacional de Educação Infantil – 1994; 
• LDB - Lei de diretrizes e bases da educação nacional aprovada em 1996 ; 
• Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil – 1998; 
• As diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil – 1998. 
Vamos saber mais sobre as bases da reformulação política do 
atendimento oferecido às crianças pobres de nosso país. 
Parecer CNE/CEB n20/2009 
Em 11 de novembro de 2009, a Câmara de Educação Básica do Conselho 
Nacional de Educação aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais 
para Educação Infantil. 
O artigo a seguir muda o início da obrigatoriedade da criança nas creches, 
veja. 
Art.5 - A educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida 
em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços 
institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos 
educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 
a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, 
regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino 
e submetidos a controle social. 
§ 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças que 
completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a 
matrícula. 
Duas mudanças significativas surgem em função das medidas 
estabelecidas nas diretrizes curriculares. A primeira é a ampliação do 
Ensino Fundamental com a integração do CA como primeiro ano, para 
nove anos e não oito como anteriormente. A segunda medida diz respeito 
a obrigatoriedade da família em matricular a criança de 4 anos na pré-
escola. 
 
13 
Vale ressaltar que a atividade principal da infância é brincar e que a 
criança de 4 a 6 anos precisa de tempo e liberdade para escolher fazer o 
que quiser, mesmo que seja não fazer nada. 
A infância não pode ser percebida como treino para o futuro. E por esse 
motivo a criança precisa de uma proposta curricular que atenda a suas 
características, potencialidades e necessidades específicas. 
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil 
Em 17 de dezembro de 1998, a conselheira do Conselho Nacional de 
Educação (CNE – Câmara de Educação Básica), relata e aprova o parecer 
022/98 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação 
Infantil. 
Alguns pontos importantes contidos nesse documento: 
 • as políticas de educação infantil ainda não estão totalmente definidas; 
• as crianças são consideradas sujeitos de direitos e alvo de preferência de 
políticas públicas; 
• é indispensável que os educadores ao elaborarem suas propostas 
pedagógicas para a educação infantil, se norteiem por este documento. 
 As referidas diretrizes constituem-se na doutrina sobre princípios, 
fundamentos e procedimentos da educação básica, definidos pela Câmara 
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientará as 
instituições de educação infantil dos Sistemas Brasileiros de Ensino, na 
organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas 
pedagógicas. 
 
Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil 
O RCNEI não tem valor legal, constitui-se apenas de um conjunto de 
sugestões para os professores de creches e pré-escolas. Este documento 
representou um retrocesso no processo que vinha se dando no Brasil de o 
governo com a participação da sociedade civil, construir uma política de 
educação para as crianças pequenas. 
 
14 
Conforme esclarece FILHO, em 1998, estranhamente sem articulação com 
os documentos que haviam sido produzidos pelo COEDI/MEC, nos últimos 
cinco anos, o MEC publica o Referencial Nacional para a Educação Infantil 
(RCNEI). Trata-se de três volumes que de certa forma, dão continuidade a 
uma política do governo brasileiro – traçar parâmetros curriculares 
nacionais para os diferentes níveis de ensino no Brasil. 
 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
Em 20 de dezembro de 1996 é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (9.394/96), a LDB, apresentando três artigos que 
tratam da educação infantil. Apesar de não parecer muito, ainda assim é 
possível considerar o avanço que ela representa, principalmente por 
reafirmar que a educação para as crianças com menos de 6 anos é a 
primeira etapa da educação básica. 
Segundo Filho (2001, p. 34):“o que esta lei postula sobre educação infantil 
é resultado da mobilização da sociedade civil organizada que se articulou, 
desde o final dos anos de 1980, com o objetivo de assegurar para as 
crianças, na legislação brasileira, a partir de uma determinada concepção 
de criança e de educação infantil, uma educação de qualidade para a 
infância. As consequências deste movimento já haviam sido expressas 
tanto na constituição (1988) como no ECA (1990) e na Politica de 
Educação Infantil (1994).” 
 
 
Política Nacional de Educação Infantil 
Como resultado da Constituição Federal e da elaboração do ECA, o 
Ministério da Educação e Desporto (MEC) propõem uma política Nacional 
de Educação Infantil, assumindo finalmente a importância de seu papel na 
garantia dos direitos das crianças a uma educação de qualidade. 
 
15 
O MEC institui na primeira metade da década de 1990, uma Comissão 
Nacional de Educação Infantil (CNEI), que participa da elaboração dessa 
política em todo o país. 
 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
O ECA é um grande divisor de águas na luta pelo direito da criança e do 
jovem brasileiro, pois, apesar da grande dificuldade que o conselheiro 
tutelar tem tido ao realizar o seu trabalho, o Estatuto representaum 
grande avanço, já que propõe medidas protetoras no lugar das 
tradicionais medidas de repressão. 
Segundo Nunes (2005, p.88):“o ECA nasce numa perspectiva de 
reordenamento do atendimento à criança e ao adolescente assentada em 
uma ampla política de garantias de direitos, fundada numa articulação 
entre políticas setoriais da saúde, educação, moradia e trabalho. Seus 
principais avanços estão no esforço da regulamentação da atividade 
jurídica, tanto em termos da aplicação das medidas judiciais quanto em 
termos de controle sobre as instituições que hoje prestam assistência 
e/ou atuam no âmbito da aplicação das medidas destinadas aos que estão 
em conflito com a lei.” 
Vamos registrar o título VII, do Estatuto que se dedica aos crimes e 
infrações administrativas e que diz respeito mais especificamente aos 
educadores da infância de nosso país: 
Submeter a criança sob sua autoridade a vexame ou constrangimentos 
(detenção de seis meses a dois anos); submeter a criança à tortura (aqui 
são previstos os casos de lesão corporal leve, grave ou gravíssima que 
podem levar à morte, com diferentes penalidades); deixar o educador ou 
o dirigente de ensino pré-escolar de comunicar à autoridade competente 
os casos que tenha conhecimento de suspeita ou confirmação de maus 
tratos (multa de 3 a 20 salários de referencia aplicando-se o dobro nos 
casos de reincidência). 
 
16 
O ECA propõe que o confinamento e a punição sejam substituídos pela 
prestação de serviço à comunidade, sendo para toda e qualquer criança e 
jovem, não só aquele marcado pela pobreza de nosso país. 
 
Em último caso, deve haver internação em instituição educacional, pois a 
liberdade assistida e a semiliberdade são prioritárias. 
NUNES (2005, p. 91) nos diz que:“… é preciso que recursos sociais e 
políticas públicas estejam disponíveis para que as famílias possam cumprir 
tais medidas, e nelas aparece a inclusão em programas comunitários ou 
oficiais de auxilio a família, à criança e ao adolescente, entre os quais 
podemos destacar o atendimento em creches e pré-escolas.” 
Todas as instancias devem ser controladas pela sociedade civil, tanto 
quanto através do Conselho Municipal de Direitos da Criança e 
Adolescente quanto pelos Conselhos Tutelares. 
Pela primeira vez na história do Brasil as proposições desse documento 
não foram oferecidas exclusivamente por juristas e advogados, mas 
tiveram a participação importante de setores civis da sociedade. Pais e 
profissionais especializados na área da educação e dos direitos humanos 
colaboraram e brigaram ativamente pela efetivação do Estatuto. 
 
A constituição Federal de 1988 
A CF de 1988 destaca que a educação é direito de todos e coloca a 
educação infantil como um dever do Estado. Sendo assim, a ela passa pela 
primeira vez no Brasil a ser um direito da criança e uma opção da família. 
Veja alguns artigos da Constituição Federal de 1988 a respeito desse 
assunto. 
Art. 208 - O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a 
garantia de: 
IV atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos de 
idade. 
 
17 
Art. 227 - É dever da família, da sociedade, do Estado assegurar à criança e 
ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
Essa Constituição representou um grande avanço na luta pelos direitos do 
cidadão brasileiro e, consequentemente, na luta pelo direito da criança, 
possibilitando avanços posteriores que vieram em outras leis. 
Este breve histórico tentou apresentar uma realidade de conquistas e 
lutas de crianças oprimidas por uma sociedade adultizada. 
As leis principais que favorecem às crianças e jovens brasileiros foram 
resultados da organização de setores civis da sociedade que lutaram por 
um olhar mais humano e pela efetivação das leis. 
A informação e a mobilização parecem critérios fundamentais na 
construção de uma educação infantil de qualidade. 
É impossível conceber uma educação infantil de qualidade sem relacioná-
la a fatores políticos, históricos, econômicos e culturais. Todos temos que 
nos considerar representantes da construção desse processo. 
 
SINTESE DA AULA 02- POLITICAS PUBLICAS NACIONAIS PARA EDUCAÇÃO 
INFANTIL 
Nesta aula, você: 
• conheceu a história do surgimento das primeiras creches no Brasil que 
eram destinadas prioritariamente às famílias pobres, servindo como um 
depósito normatizador do comportamento dessas crianças pobres para 
liberar a mão de obra feminina; 
• tomou conhecimento do código de 1927, um marco na linha política e 
ideológica do país; 
• aprendeu sobre as políticas voltadas à educação infantil; 
 
18 
• analisou os principais pontos da consolidação da história da educação 
infantil no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
AULA 3- O CUIDAR E O EDUCAR : CRIANÇAS DE 0 A 5 
ANOS. Cuidar e o Educar: Crianças de 0 a 5 Anos 
 
Tradicionalmente o trabalho nas creches e pré-escolas se constituiu por 
meio de uma equivocada divisão que refletiu práticas fragmentadas e 
excludentes, marca da divisão social de classes: o cuidar e o educar. 
Cuidar: Atividades ligada meramente ao corpo e destinada às crianças 
pobres. 
Educar: Como experiência de promoção intelectual reservada aos filhos 
dos grupos socialmente privilegiados. 
Atualmente, pesquisadores e especialistas da área buscam em seus 
discursos e textos deixar explícitas as ações de educar e cuidar como 
fundamentais e indissociáveis, na construção cotidiana de uma proposta 
pedagógica de qualidade. 
 
O MEC, ao publicar os Referenciais para o exame nacional de ingresso na 
carreira docente, além de registrar a garantia de bons professores para a 
educação infantil, reconhece a importância do brincar e do cuidar para 
esse público. 
Após esses pontos iniciais, vale ressaltar que no cotidiano das instituições 
de educação infantil serão promovidas as ações que irão consolidar a 
união do cuidar e do educar como práticas inseparáveis. 
“Reconhecer as funções do cuidar e do brincar para o desenvolvimento 
das crianças da educação infantil.” 
 
20 
É no espaço do dia a dia, no ritmo e ao longo de cada jornada que 
acontecem saltos qualitativos no desenvolvimento da criança. 
Respeitando-se sua singularidade, movimento e necessidade, a criança 
fará descobertas vivendo experiências a partir de tudo que será oferecido 
a sua volta. 
O professor ao fazer o planejamento do que irá acontecer durante a rotina 
diária, precisará valorizar alguns aspectos fundamentais. 
É preciso ressaltar a importância de um planejamento flexível que permita 
a participação ativa da criança, deve ser evitada uma rotina que favoreça a 
convivência mecânica, pois esta forma irá desmotivar a criança, 
atrapalhando seu processo de desenvolvimento. 
Alguns aspectos são importantes na condução desse trabalho, tais como: 
• reconhecer os cuidados com o corpo, envolvendo a higiene, o sono e a 
alimentação como parte fundamental do processo educativo das crianças; 
• valorizar a educação das emoções e do afeto como parte tão importante 
quanto a construção de conhecimentos; 
• identificar a organização da rotina e do ambiente como aspectos 
fundamentais para estimular e favorecer o desenvolvimento e a 
aprendizagem, a autonomia e a criatividade das crianças; 
• perceber a construção de um planejamentopara que as brincadeiras 
ocorram de forma diversificada, como parte essencial de um trabalho de 
qualidade. 
É muito importante brincar e estudar, mas isso não é tudo! 
Os cuidados com o corpo, envolvendo a higiene, o sono e a alimentação, 
como parte fundamental do processo educativo das crianças, são ações 
fundamentais que devem ser planejadas em detalhes na busca de 
conforto e orientação à criança. Algumas instituições, infelizmente, ainda 
insistem em uma prática que oferece essas ações de forma mecânica e 
sem importância. 
 
 
21 
O uso do banheiro, por exemplo, deve ser planejado pensando na altura 
da pia, a disponibilidade de sabonetes e toalhas de rosto, a quantidade de 
vasos sanitários e chuveiros, entre outros aspectos, pois a não adequação 
de um desses itens impedirá a construção de hábitos de saúde e higiene 
que contribuam na formação integral da criança como ser humano 
saudável e responsável pelo seu bem estar. 
A educação das emoções e do afeto. 
Outro aspecto importante relacionado ao cuidar e ao educar é a 
valorização da educação das emoções e do afeto como parte que deve ser 
considerada tão importante quanto a construção de conhecimentos. 
Com relação a esse assunto, ARRIBAS (2004, p.47) destaca que: 
“No processo educativo, uma das metas a alcançar é a do equilíbrio e do 
controle emocional. As experiências relativas à vida emocional da criança 
nas primeiras etapas de sua existência têm uma importância fundamental 
para ela. 
Um clima familiar sereno, tranquilo, de aceitação incondicional, com afeto 
sentido e manifestado de maneira adequada, constitui o marco 
apropriado para o desenvolvimento de uma personalidade saudável e 
equilibrada.” 
O educador deve estar atento às várias manifestações das crianças 
percebendo sua frequência e em que condições ela ocorre. É importante 
considerar as variações individuais, pois as crianças são diferentes entre si 
e apresentam formas de manifestar suas emoções que acentuam essas 
diferenças. 
O educador deve prestar atenção nos comportamentos infantis; deve 
respeitar a individualidade de cada uma e buscar formas afetuosas de 
intervir durante momentos emotivos, pois a criança poderá viver 
situações difíceis que irão refletir em seus comportamentos, e o educador 
deverá amenizar essas situações respeitando os sentimentos das crianças. 
 
Rotina e ambiente escolar. 
 
22 
 A organização da rotina e do ambiente são aspectos fundamentais 
para favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem, a autonomia e 
a criatividade das crianças. 
 A altura dos murais e das estantes, o tamanho dos móveis e a 
disposição deles nas salas, o oferecimento de ambientes externos e 
internos são alguns dos aspectos fundamentais para ajudar a 
organizar uma proposta pedagógica de qualidade. 
 A organização da rotina e do ambiente expressa a ideia de criança e 
da educação que será oferecida a ela dentro da instituição. 
 
FORTUNATI (2009, p. 61) destaca em relação a esse aspecto que: 
“pensar o espaço como gerador da experiência representa o sinal 
de uma atenção de escuta das necessidades das crianças que 
antecipa – e, no entanto, apoia – o cuidado da relação e da 
interação do adulto com as crianças dentro do contexto 
educacional.” 
Portanto, esse aspecto deve ser pensado a partir da valorização da 
autonomia e da liberdade de escolha das crianças, devendo 
possibilitar variadas opções. 
 
Brincadeira de criança: como é bom! 
Perceber a construção de um planejamento para que as brincadeiras 
ocorram de forma diversificada também faz parte essencial de um 
trabalho de qualidade. 
A brincadeira é uma das atividades essenciais para o desenvolvimento de 
uma infância saudável, e uma instituição de educação infantil, que é 
responsável pela formação integral da criança, deve planejar formas 
diferenciadas que permitam a expressão do lúdico de diferentes maneiras. 
A partir daí será necessário o planejamento de atividades livres e dirigidas. 
As livres favorecerão as descobertas, formas de expressão e interesses de 
cada criança, enquanto as dirigidas devem ser planejadas com objetivos 
preestabelecidos, respeitando o desenvolvimento cognitivo e psicossocial 
de cada criança. 
 
23 
A partir dos 4 a 5 anos, é esperado que as crianças já tenham adquirido 
alguns hábitos de independência e autonomia. Portanto, expressam 
curiosidades e interesses por vários aspectos, como sexualidade e língua 
escrita, testando os limites estabelecidos, e possuem laços de amizades, 
entre outras conquistas alcançadas. 
Nesse ponto o educador deve oferecer atividades que: 
• incentivem a alfabetização e o letramento de forma lúdica e 
significativa; 
• ajudem as crianças a refletir sobre as consequências de suas ações; 
• esclareçam as curiosidades ligadas à descoberta do corpo e a diferença 
entre os gêneros; 
• relacionadas à matemática, ciências, artes e à leitura e escrita. 
À medida que a criança adquire mais autonomia motora e linguística, com 
a aquisição do andar e do falar, as atividades lúdicas devem ser planejadas 
envolvendo outros aspectos, tais como: peso, tamanho, material que 
constituirão os brinquedos, bem como a disponibilidade em que serão 
oferecidos às crianças. 
Vale destacar que cuidar e educar as crianças de forma integrada exige a 
cumplicidade de adultos e crianças, em todo momento. 
Os adultos devem proporcionar espaços de ação e compartilhamento em 
que todos possam interagir trocando experiências significativas, em que 
“corpo” e “cabeça” não sejam percebidos separadamente, mas com o 
mesmo valor. 
As crianças devem ter acesso à saúde e higiene, tanto quanto aos 
conhecimentos do mundo e de sua cultura. Os profissionais de creches e 
instituições de educação infantil devem buscar planejar o cotidiano 
procurando respeitar as individualidades, bem como as necessidades 
especificas de cada faixa-etária. 
Afetividade e compreensão devem ser requisitos básicos na constituição 
de qualquer profissional que tenha o desejo de trabalhar com crianças. 
 
24 
SINTESE DA AULA 03 – O CUIDAR E O EDUCAR NO TRABALHO COM 
CRIANÇAS DE 0 A 5 ANOS 
Nesta aula, você: 
• conheceu a história do surgimento das primeiras creches no Brasil que 
eram destinadas prioritariamente às famílias pobres, servindo como um 
depósito normatizador do comportamento dessas crianças pobres para 
liberar a mão de obra feminina; 
• tomou conhecimento do código de 1927, um marco na linha política e 
ideológica do país. 
• aprendeu sobre as políticas voltadas à educação infantil; 
• analisou os principais pontos da consolidação da história da educação 
infantil no Brasil . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
AULA 4 - O PERFIL DOS EDUCADORES QUE TRABALHAM 
NA CRECHE 
 
Ao discutirmos o perfil desejável dos educadores que trabalham em 
creches é necessário ressaltar dois aspectos fundamentais que servirão 
como base para a discussão que será proposta nessa aula. 
1. O primeiro aspecto é quanto ao perfil, pois, considerando que as 
pessoas possuem características individuais que refletem sua 
cultura, sua história de vida e as relações afetivas que tiveram ao 
longo da vida, não devemos pensar em um controle rígido que 
incentive um padrão, pois cada um terá uma forma diferente de 
desenvolver o trabalho com crianças a partir de suas características 
individuais. É preciso esclarecer que a intenção é traçar critérios que 
valorizem o papel desse profissional, baseando-se nas Diretrizes 
Nacionais da Educação Infantil. 
2. O segundo aspecto é quanto a questão de gênero, pois 
tradicionalmente a profissão de professorde educação infantil tem 
sido ocupada exclusivamente pelo universo feminino, refletindo 
uma concepção de trabalho doméstico e maternagem. Cabe aqui 
fazer uma pergunta: é possível a inserção de educadores (gênero 
masculino) no desenvolvimento de trabalhos pedagógicos que 
envolvam o cuidar e o educar para crianças na faixa etária de 0 a 5 
anos? 
Com relação a esse aspecto CERISARA (2002, p.30) ressalta:“Insistir 
sobre o caráter social das relações de gênero significa considerar 
que, além de uma categoria biológica, o gênero também é uma 
categoria histórica. Ou seja, o fazer-se homem ou mulher não é um 
dado resolvido no nascimento, pelas características biológicas de 
cada um, mas construído por meio de práticas sociais 
masculinizantes ou feminilizantes, de acordo com as diferentes 
concepções presentes em cada sociedade.” 
Perfil dos profissionais de educação infantil. 
 
26 
Contexto sociocultural: Ao traçar o perfil profissional de professores de 
Educação Infantil devemos considerá-los em seu contexto sociocultural; o 
que significa incluir além das questões de gênero, questões de raça, idade 
e classe social. É importante considerar que este assunto é bastante 
complexo e existem poucos parâmetros para defini-lo de forma absoluta. 
Humor e disposição: Para esse profissional que estamos delineando a 
partir das considerações das diretrizes postuladas pelo governo e 
considerando as diferenças dos aspectos socioculturais, alguns pontos são 
importantes. Entre eles o fato de procurar estar com bom humor e bem 
disposto, pois as crianças são ativas e rápidas, por isso necessitam de 
educadores com essas características. 
Emoções infantis: Outro ponto importante é procurar atuar como 
mediador entre a criança, as suas emoções e o seu ambiente, isso significa 
ser capaz de interpretar e compreender o que uma criança está sentindo, 
por isso envolve o conhecimento de muitas emoções. 
Compreender as próprias emoções é essencial para saber lidar com os 
sentimentos das crianças. 
Em primeiro lugar, é necessário que os adultos compreendam e aceitem 
suas próprias emoções, principalmente, quando essas não são 
consideradas socialmente positivas, como: raiva, inveja, ciúme entre 
outras. 
Geralmente, ao ouvir “Não”, as crianças manifestam irritabilidades ou 
choros, por isso, saber lidar bem com essas situações é muito importante. 
Facilita bastante o fato de um adulto saber lidar de forma equilibrada com 
seus próprios sentimentos. 
Ter equilíbrio emocional facilitará o oferecimento de uma sólida base de 
afeto – sorrir e falar carinhosamente com as crianças é importante para 
que elas não se sintam ameaçadas ou pressionadas a fazer coisas que 
impeçam seu desenvolvimento. 
Veja outros pontos muito importantes no trabalho com a Educação 
Infantil! 
 
27 
É importante saber organizar o espaço e o tempo de modo a favorecer a 
aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Com relação a esse 
aspecto é essencial organizar detalhes do ambiente, procurando criar uma 
atmosfera de segurança, como exemplo: sala bem ventilada, limpa, 
bonita, com objetos, imagens e cores que estimulem a imaginação. 
Importante também é distribuir o tempo de modo adequado entre as 
diferentes atividades do dia, para não cansar as crianças e nem deixá-las 
sem atividades. 
Desde pequenas as crianças já demonstram uma grande capacidade de 
ajuda mútua. É importante que o professor possa organizar possibilidades 
em que as crianças ajam umas com as outras, de maneira que vivam a 
multiplicidade de experiências e superem desafios. 
Pensando nesse aspecto é necessário planejar e organizar as brincadeiras 
infantis, as atividades pedagógicas e as atividades de cuidados com a 
saúde, avaliando constantemente o desenvolvimento das crianças. 
 
Construindo regras coletivas... 
A criança também tem o direito de falar! 
É importante levar as crianças a participarem do processo de tomada de 
decisão, ou seja, levá-las a fazer uso frequente da palavra e articular ideias 
de maneira lógica e clara. Isso irá ajudá-las a descentrar e coordenar 
diferentes pontos de vista, permitindo que possam ser mais autônomas. 
MELLO (2009, p. 05) enfatiza que:“Como no mundo tudo é regulado por 
regras, é preciso ter clareza sobre quais são os limites para que a criança 
possa experimentar essas regras, às vezes com a tutela, outras vezes com 
a supervisão dos adultos, e outras tantas sozinha, buscando construir com 
autonomia sua identidade, suas possibilidades de interação com o meio 
em que está inserida.” 
Tradicionalmente, as regras eram oferecidas para a criança de forma 
autoritária, em uma relação em que só o adulto poderia afirmar 
 
28 
impositivamente como as coisas seriam organizadas, e muitas vezes nem 
mesmo procurando ser justo com a criança. 
Atualmente, pesquisas demonstram que é fundamental possibilitar às 
crianças o direito de escolher e de argumentar no sentido de negociar e 
renegociar as normas, avaliando se são justas e, caso não sejam, que 
possam rediscuti-las de forma continuada e contando com a participação 
ativa de todos, adultos e crianças. 
Um aspecto facilitador é o fato de poder dialogar com a família 
procurando saber o que acontece em casa, fazendo relações com o que 
acontece nos espaços educativos. 
O professor deve procurar conversar com a pessoa que vem trazer e 
buscar a criança; procurar saber o que houve em casa, enviar recados e 
avisos pela agenda etc.; essas são ações que integram a parceria família-
escola e complementam o trabalho desse profissional. 
Estar sempre procurando investir em sua formação, buscando aprender 
cada vez mais sobre o seu trabalho é um aspecto que dará vida e sentido à 
construção da proposta pedagógica cotidiana. 
Um professor que está sempre em contato com novos conhecimentos de 
sua área será capaz de fazer reflexões que possibilitarão o aprimoramento 
constante, permitindo o aumento de sua motivação. 
Os educadores de crianças, além de uma formação inicial, devem procurar 
ter curso universitário ou pelo menos o curso de formação de professores, 
e estar sempre interessados em ampliar os seus conhecimentos na área. 
Reconhecer as especificidades de cada contexto educacional é ponto 
chave, pois as condições de trabalho desse profissional não podem ser 
analisadas separadamente de seu perfil. O lugar disponível para a 
realização do trabalho pedagógico deverá ser o grande aliado desse 
profissional. 
Para favorecer a realização de um trabalho de qualidade é necessário 
pensar na quantidade de crianças para cada educador. Recomenda-se que 
 
29 
quanto menor a faixa etária, menos deverá ser a quantidade de criança 
por adulto. 
ROVIRA e GINER (2004, p. 354) ao mencionarem a respeito de uma boa 
organização dos meios na sala de aula, enfatizando o fato de que esse 
aspecto facilitará a tarefa dos adultos e das crianças e ao mesmo tempo 
oferecerá as crianças destacam como necessário: 
• uma atenção especial do professor, que gera confiança; 
• um processo de ensino-aprendizagem baseado na manipulação de 
materiais adequados e diversos; 
• a descoberta, utilização e o domínio de certos recursos didáticos 
fundamentais para sua formação integral. 
Outros aspectos também importantes estão relacionados à distribuição do 
tempo e do espaço. É necessário garantir que as crianças possam escolher 
o que e com quem devem trabalhar, podendo expressar seus reais 
talentos e interesses. 
Podemos resumir que entre algumas características fundamentais para os 
educadores de crianças estão: 
 respeitar e fortalecer a identidade das crianças e suas famílias; 
 educar e cuidar da criança,como ser total, completo e indivisível; 
 articular e integrar conhecimentos, de forma prazerosa; 
 avaliar a evolução das crianças e registrar seus progressos. 
Para finalizar é importante destacar uma característica que não deverá 
faltar em nenhuma hipótese à capacidade do adulto de “entrar no jogo da 
criança”, ou seja, despir-se de suas características de adulto e tentar 
entrar no mundo do faz de conta que a criança está inserida. 
O educador para conseguir tal êxito deverá entrar em contato com sua 
criatividade artística e com o seu humor. O que permitirá elevar-se a 
sentidos sem aparentes significados imediatos ou fins previamente 
estabelecidos. 
 
 
30 
SINTESE DA AULA 04- O PERFIL DOS EDUCADORES QUE TRABALHAM NA 
CRECHE 
Nesta aula, você: 
• identificou o perfil de educadores que trabalham na creche ou em 
centros de educação infantil valorizando a presença dos seguintes 
aspectos: 
• reconhecer, respeitar e fortalecer a identidade das crianças e suas 
famílias; 
• educar e cuidar da criança, como ser total, completo e indivisível; 
• articular e integrar conhecimentos, de forma prazerosa; 
• avaliar a evolução das crianças e registrar seus progressos . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
AULA 5- O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
O brincar tem sido apontado por vários autores como um dos 
comportamentos principais da infância. As crianças quando brincam 
desenvolvem habilidades motoras, cognitivas, sociais e afetivas. Por isso, 
na educação infantil a brincadeira precisa estar presente como uma 
atividade importante em si mesma. 
A brincadeira permite à criança transitar entre mundos opostos que 
delimitam a realidade e a fantasia. O real e o imaginário se misturam 
abrindo a possibilidade de criação que instiga a viver com mais energia e 
alegria, encarando as dificuldades com mais leveza. 
A partir dos estudos de Vygostsky podemos afirmar que a brincadeira 
contém todas as tendências do desenvolvimento de forma condensada, 
sendo uma grande fonte de desenvolvimento. 
É possível pressupor que a criança da educação infantil brinca em um 
mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser 
realizados. 
Portanto, é necessário garantir espaço e tempo para as crianças brincarem 
sem que necessariamente tenham que atingir algum objetivo antes, 
durante ou depois da atividade. 
O brincar é garantido à criança brasileira. Fique esperto! 
Atualmente existem no Brasil leis como o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA - 1990) que garantem a legalidade do brincar à criança 
brasileira. 
Veja os artigos que garantem esse direito: 
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à 
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e 
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na 
Constituição e nas leis. 
 
32 
 IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; 
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e 
facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações 
culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. 
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, 
esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 
Desde a Constituição de 1988 a criança brasileira passou a ser cidadã de 
direito e como tal, um de seus direitos é o brincar. Portanto, um educador 
de creches e pré-escolas não pode utilizar o brincar como prêmio ou 
punição e, em hipótese alguma, escolher um grupo de crianças para uma 
atividade lúdica e deixar o restante impossibilitado de participar. 
Várias pesquisas na área da psicologia do desenvolvimento têm apontado 
sobre a necessidade de brincar na infância. 
A brincadeira deve ser favorecida de diversas formas e os espaços de 
educação infantil devem ser planejados considerando o tempo para a 
brincadeira livre e dirigida. 
Para que o brincar seja garantido e valorizado existem alguns aspectos 
fundamentais que devem ser garantidos, como: 
• reconhecer o brincar como atividade essencial na infância; 
• identificar as diferenças das atividades lúdicas para crianças de 0 a 3 
anos e 4 a 5 anos; 
• articular e integrar conhecimentos, por meio de atividades lúdicas; 
• reconhecer as diferenças entre as brincadeiras de faz de conta e o jogo 
com regras; 
• criar condições no planejamento da rotina da creche para que o brincar 
ocorra; 
 
 
33 
• valorizar a brinquedoteca como espaço essencial nas creches e escolas 
de educação infantil. 
Alguns autores, como Piaget e Vygotsky, consideram o brincar como 
fundamental nesse período. Apesar de esses estudiosos apresentarem 
divergências, é fundamental compreender a contribuição que ambos 
trouxeram para a análise do brincar na infância. 
Piaget - Jogo de Exercício, Brincadeiras de Faz de Conta e Jogos com 
Regras 
Segundo Piaget, o nascimento do jogo se dá nas fases iniciais do 
desenvolvimento, quando “quase todos os comportamentos (...) são 
suscetíveis de se converter em jogo, uma vez que se repitam por 
assimilação pura, isto é, por simples prazer funcional”. 
(Piaget, A formação do símbolo na criança, p.117) 
Jogo de Exercício: 
• Caracteriza a fase do desenvolvimento pré-verbal. 
• Tem como finalidade o próprio prazer do funcionamento; por exemplo, 
quando a criança empurra uma bola, vai atrás dela, volta e recomeça, ela 
o faz por mero divertimento. 
Jogo Simbólico : 
• Caracteriza a fase que surge com o aparecimento da linguagem. 
• O símbolo implica a representação de um objeto ausente (comparação 
entre um elemento dado e outro imaginado). 
FRIEDMANN (1996, p.29) destaca que “o jogo simbólico ainda não está 
emancipado, enquanto instrumento do próprio pensamento. É a conduta 
ou o esquema sensório-motor que faz a vez de símbolo, e não tal objeto 
habitual”. 
Aos poucos o jogo simbólico vai se transformando e ganhando outras 
conotações. À medida que a criança vai organizando melhor suas ideias, o 
 
34 
jogo vai ficando mais próximo a uma imitação do real e mais social do que 
individual como era no inicio. 
Jogo de Regras: 
• A regra substitui o símbolo e enquadra o exercício quando certas regras 
sociais se constituem. 
• As regras podem ser transmitidas ou espontâneas. 
 
Vygotsky – o papel do brinquedo no desenvolvimento 
O brinquedo não pode ser definido simplesmente como atividade que dá 
prazer, mas é preciso tomar cuidado para não ignorar a importância dele 
no preenchimento das necessidades infantis. 
Segundo Vygotsky frequentemente descrevemos o desenvolvimento da 
criança como o de suas funções intelectuais, toda criança se apresenta 
para nós como um teórico, caracterizada pelo nível de desenvolvimento 
intelectual superior ou inferior, que se desloca de um estágio para o 
outro. Porém, se ignoramos as necessidades da criança e os incentivos 
que são eficazes para colocá- la em ação, nunca seremos capazes de 
entender seu avanço de um estágio de desenvolvimento para ouro, 
porque odo avanço está conectado com uma mudança acentuada nas 
motivações, tendências e incentivos. Aquilo que é de grande interesse 
para um bebê deixa de interessar uma criança um pouco maior. 
As atividades lúdicas vão se transformando com o tempo e a criança 
adquire novas formas de expressá-la. Portanto, é necessário considerar as 
diferenças entre as atividades lúdicas das crianças para diferentes faixas 
etárias. 
Para crianças de 0 a 3 anos as atividades devem concentrar-se em 
brincadeiras corporais – tocar e ouvir– engatinhar e andar, atirar, botar, 
balançar e empurrar objetos, fazer percursos, contornar obstáculos. 
Enquanto que para crianças de 4 a 5 anos as brincadeiras corporais 
podem ser de correr, pular, subir, jogar. 
 
35 
Nessa faixa etária maior também surgem brincadeiras de faz de conta 
como imitar, fantasia, casinha, carrinhos, e ainda os jogo com regras – 
toca do coelho, dominó, memória, bola. 
O educador deve planejar atividades variadas que favoreçam ao lúdico de 
diferentes formas, oferecendo contação de histórias (dramatização), 
música (bandinha musical, construção de instrumentos), arte (pintura, 
desenho, modelagem, colagem). 
 
As brincadeiras na Educação Infantil 
É necessário criar condições para a brincadeira no planejamento da rotina 
da creche. Isso envolve o planejamento do espaço, como possuir um 
parquinho, ter brinquedos variados e acessíveis na sala de aula e 
apresentar um lugar com uma brinquedoteca para a brincadeira livre e 
dirigida. 
Destaca-se aqui a brinquedoteca como espaço essencial nas creches e 
escolas de educação infantil. Este local representa para a criança um 
laboratório de experiências culturais, e para o adulto um laboratório de 
observação de acompanhamento infantil. 
Toda brinquedoteca deve possuir brinquedos e jogos variados, 
classificados e organizados, sem que com isso a criança corra o risco de 
perder a liberdade de escolher o que quer fazer e com o que quer brincar. 
Finalmente, é importante valorizar o papel do professor como um 
mediador brincante: um adulto que brinca e constrói vínculos seguros e 
estáveis com a criança, alguém que reconhece a necessidade de observá-
la e aprender com ela. Alguém que acredita na essência lúdica da 
humanidade, mas sabe que é na cultura e através de espaços e 
profissionais de qualidade que o brincar se constrói. 
SINTESE DA AULA 5- O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
Nesta aula, você: 
• identificou o brincar como atividade essencial na infância; 
 
36 
• percebeu as diferenças das atividades lúdicas para crianças de 0 a 3 anos 
e 4 a 5 anos; 
• compreendeu a importância de articular e integrar conhecimentos, por 
meio de atividades lúdicas; 
• percebeu as diferenças entre as brincadeiras de faz de conta e o jogo 
com regras; 
• identificou maneiras de criar condições no planejamento da rotina da 
creche para que o brincar ocorra; 
• compreendeu a necessidade de valorização da brinquedoteca como 
espaço essencial nas creches e escolas de educação infantil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
AULA 6 - A PROPOSTA PEDAGÓGICA E AS 
MULTIPLAS LINGUAGENS. 
 
Os caminhos para a elaboração de uma proposta pedagógica e as 
múltiplas linguagens 
A criança tem cem linguagens! 
Aqui, serão ressaltadas a expressão corporal, as línguas oral e escrita, a 
linguagem plástica e musical, como formas de expressão que devem ser 
respeitadas e valorizadas como aspectos fundamentais para o 
desenvolvimento. 
 
OS PROJETOS PEDAGÓGICOS 
Uma das mais recentes maneiras de oferecer à criança a oportunidade de 
expressar múltiplas linguagens tem sido o trabalho com projetos 
pedagógicos. 
Os projetos são planejados para serem desenvolvidos por meio de 
atividades com significado, que permitam a construção diária de novos 
conhecimentos, bem como a aquisição de novas habilidades. 
A pedagogia de projetos está presente em muitas realidades de educação 
infantil e apresenta propostas bastante diferentes das escolas do ensino 
fundamental. Entre elas está oferecer um conhecimento de mundo que 
tenha significado e que permita a participação ativa da criança. 
 
38 
O corpo como forma de expressão 
Geralmente, as crianças ficam pouco tempo concentradas em uma mesma 
atividade em que fiquem paradas, sem sair do lugar. Elas necessitam 
correr, pular, subir e etc., expressando suas emoções pelo movimento. 
A motricidade deve ser valorizada, permitindo com que a criança faça 
vários deslocamentos de lugar dentro da instituição. As atividades devem 
ser planejadas em locais variados. 
 
É importante considerar o uso da língua oral e escrita! 
Com relação à linguagem escrita é necessário ressaltar a necessidade de 
respeitar o período adequado para iniciar a criança ao uso da linguagem 
escrita, pois, geralmente, os adultos preocupados e ansiosos tentam 
oferecer atividades que não apresentam nenhum significado para a 
criança. 
A escrita apresentada antes do momento correto não poderá ser 
considerada como uma ferramenta útil para a criança se expressar. 
É fundamental que a criança apresente a necessidade de adquiri-la, sem 
imposições externas. Com relação a esse aspecto CASTRO (2004, p.196) 
afirma:“é preciso entender que ler é uma forma a mais de comunicação, 
como falar ou ouvir. Deve ser integrada à sala de aula como outro aspecto 
da vida, e não margem dela. Por isso é preciso oferecer experiências 
estimulantes em um ambiente afetivamente positivo que favoreçam a 
participação, surgiram hipóteses e interpretações e motivem o desejo de 
tirar competências do que se leu.” 
Vários autores destacam a língua como um instrumento importante que 
nos ajuda a tomar decisões, antecipar ações e organizar as ideias, 
facilitando o planejamento. 
 
39 
 
A linguagem oral produzirá saltos importantes na estrutura cognitiva da 
criança, por esse motivo o contexto social é fundamental. Ao trabalhar 
com projetos o educador deve oferecer oportunidade para as crianças 
expressarem suas hipóteses. 
Nesse sentido, CASTRO (2004, p.178) destaca que:“para que a linguagem 
se desenvolva, deve produzir-se a conversa, que necessita, no mínimo, de 
duas pessoas com vontade de falar algo. Nessa circunstância, o locutor 
perfeito é o adulto que tem o papel de companheiro de discussão. É quem 
deve ser capaz de negociar com a criança para que o objetivo da conversa 
(da proto-conversa, na etapa pré-linguística) se cumpra. Isto é, esclarecer 
o significado geral do tema discutido, desfazer equívocos e ampliar sua 
cultura.” 
As crianças devem fazer relações com as novas ideias que o educador está 
trazendo e as ideias que elas têm previamente sobre o mundo. É 
importante o incentivo à participação do grupo de crianças respeitando o 
tempo e o ritmo de cada uma para falar. 
Outra linguagem que deve ter seu espaço garantindo na educação infantil 
é a linguagem plástica. 
As crianças desde pequenas adoram mexer com tintas, lápis de cor, 
massinhas e outros materiais pedagógicos que lhes possibilitam expressar 
livremente sua ideias e maneiras de ver o mundo. 
Com relação a essa linguagem, vale lembrar as creches de Reggio Emília; 
essa experiência é desenvolvida em um município da Itália e tem sido 
reconhecida pelo mundo inteiro pelo seu sucesso. 
RANZO (2004, p.232) destaca alguns objetivos principais para propor 
atividades diversificadas que permitam a expressão da criança por meio 
da linguagem plástica: 
1. convencer o aluno de que desenhar um elemento não é unicamente a 
reprodução de sua forma aparente, mas que esse elemento tem uma 
estrutura interna a partir da qual se gera forma exterior; 
 
40 
2. descartar o critério de obter um resultado bonito pelo mero fato da 
destreza manual e da riqueza do material empregado; 
3. o aspecto mais importante é trazer à luz seu potencial criativo e 
imaginativo, fazer descobrir que simplesmente pensando, observando, 
analisando, vão surgindo ideias quanto as técnicas, processos de 
acoplamento. 
O cotidiano da educação infantil, geralmente, é repleto de atividades 
musicais. 
Os educadores costumam apresentar músicas para entrar na sala, irlanchar, hora de escovar os dentes, hora de sair e muitos outros 
momentos. 
A linguagem musical é ao mesmo tempo rítmica e corporal, por esse 
motivo é importante manter um tempo, sentir a cadência rítmica, o 
caráter dos diferentes acentos musicais, realizar os valores de duração, a 
associação entre os gestos e os sons e a respiração das frases, entre 
outros aspectos. 
MAFFIOLETTI (2001, p.127), destaca que:“as crianças também precisam de 
silêncio para povoá-lo com seus próprios sons. Além dos sons da natureza, 
existe um enorme repertório de sons aprendidos através da televisão, que 
estão incorporados nas ações e nos brinquedos infantis. Sons de 
helicóptero, lancha, sirenes, explosões... gritos, inflexões vocais de medo, 
raiva e dor.” 
É importante considerar o manuseio de objetos sonoros que devem estar 
disponíveis para as crianças. Elas precisam ter experiências concretas com 
objetos que emitem sons, instrumentos musicais e formar um vocabulário 
específico para se referir a eventos sonoros. 
Há ainda como formas de expressão a dramatização e a contação de 
história. 
Portanto, disponibilizar livros infantis, fantasias, adereços e outros 
utensílios são fundamentais para garantir que essas linguagens também 
possam ser manifestadas pelas crianças. 
 
41 
Essas expressões são muito apreciadas pelas crianças, sendo mediadas 
pelo adulto ou não. 
SINTESE DA AULA 06- A PROPOSTA PEDAGÓGICA E AS MULTIPLAS 
LINGUAGENS. 
Nesta aula, você: 
 • estudou a respeito da construção de projetos pedagógicos para 
crianças de 0 a 5 anos, como: 
 • adequação do tópico a ser investigado em profundidade; 
 • construção de um conhecimento de base; 
 • integração do conteúdo e do currículo; 
 • incorporação provocações e conversas instrutivas; 
 • compromisso com o trabalho com projetos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
AULA 7 - ORGANIZAÇÃO DE TEMPO E ESPAÇO NA 
EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
Pensar a organização do espaço e do tempo na educação infantil não é 
tarefa simples. Representa pensar em detalhes que irão refletir o projeto 
pedagógico da instituição. 
 Cores da parede. 
 Altura dos murais. 
 Tamanho e disposição dos móveis. 
Estes são apenas alguns dos aspectos fundamentais que envolvem tal 
tarefa. 
Com relação a esse assunto BAROSA E HORN (2001, p.67) afirmam: 
“organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar 
que o estabelecimento de uma sequencia básica de atividades diárias é 
antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de 
crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que 
o educador observe que as crianças brincam, como estas brincadeiras se 
desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, 
o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais 
tranquilas ou mais agitadas. Este conhecimento é fundamental para que a 
estruturação espaço-tempo tenha significado.” 
O cotidiano de uma escola de educação infantil não deve parecer 
monótono e desinteressante para as crianças. 
Na verdade, esse cotidiano deve se transformar em um aspecto 
necessário para elas. As crianças devem sentir falta de estar na escola e se 
sentirem dispostas a criar e inventar participando das atividades 
propostas durante o dia. 
Um ponto importante é que certamente as atividades oferecidas para as 
crianças menores não serão as mesmas oferecidas às maiores. Os desafios 
 
43 
se modificam e exigem novos elementos. Inclusive a organização das salas 
não pode ser a mesma. 
É importante que também exista um espaço comum para as crianças 
maiores e menores interagirem, trocando informações. Segundo 
Vygotsky, a experiência do mais experiente irá interferir nos processos 
que não estão consolidados nos menos experientes. 
Com relação ao planejamento da sala, BARBOSA e HORN (2001) destacam 
alguns cantos alternativos que podem existir nas salas. Veja-os a seguir. 
• Canto da música com instrumentos musicais comprados ou 
confeccionados, rádio, toca-fitas. 
• Canto do supermercado, com embalagens vazias de diferentes produtos, 
sacos para empacotar, caixa registradora, dinheiro de papel e moedas, 
cartazes com nomes de produtos, prateleiras. 
• Canto do cabeleireiro com espelho, maquiagens, rolos, escovas, 
grampos, secador de cabelos, bancada, cadeira, bacia para lavar cabeça, 
embalagem de xampu, cremes. 
• Canto do museu com objetos colecionados pelas crianças em passeios, 
viagens. 
• Canto da luz e da sombra com projetor de slides, lanternas, retr 
Fortunati destaca que pensar o espaço também como gerador da 
experiência representa o sinal de uma atenção de escuta das necessidades 
das crianças que antecipa o cuidado da relação e da interação do adulto 
com as crianças dentro do contexto educacional. 
O autor afirma que: 
“Pensar como o espaço da experiência das crianças ajuda o adulto a 
amadurecer as expectativas de protagonismo nas ações que as crianças 
expressam em seu interior, utilizando as oportunidades presentes, e 
também pode ajudar o adulto a suavizar a intromissão sobre a criança por 
parte das instancias educacionais quando a necessidade dos resultados 
prevalece sobre a sensibilidade da escuta.” 
 
44 
E o PPP, entra nessa história? 
É importante destacar que o planejamento, o desenho do espaço e, 
posteriormente, a intervenção que o educador e toda a equipe farão 
sobre o ambiente, devem responder a critérios que estão na base dos 
objetivos do projeto político pedagógico da instituição. 
A instituição, ao construir esse documento, deve considerar que as 
crianças precisam de auxílio para compreender o mundo que as cerca; é 
importante definir bem os espaços. A organização externa contribuirá na 
organização interna das crianças. 
O que evita esse tipo de situação?? Planejamento! 
É fundamental o planejamento dos horários e das atividades que 
garantam o cuidar e o educar, lembrando que o lúdico deve sempre estar 
presente. Sem aprisionar as pessoas em horários rígidos e atividades 
repetitivas. 
Com relação ao tempo é importante garantir que a rotina não vire uma 
repetição monótona que gera desmotivação e desinteresse nas crianças. É 
necessário evitar que o dia a dia se torne uma corrida contra o tempo em 
prol de deixar as crianças limpas, arrumadas e alimentadas. 
Para evitar que esse fato ocorra, o planejamento é essencial: organizar os 
espaços, definindo como e quando será utilizado pelos diferentes grupos 
de pessoas, ajuda as crianças a se orientarem. 
Além desses aspectos, é importante lembrar ao se planejar a organização 
do tempo, que a rotina deve ser garantida para ajudar a criança a 
apresentar uma estabilidade comportamental. 
JAUME (2004, p.367) destaca:“Rotinas conferem à criança um ponto de 
referência indispensável para seu desenvolvimento. Essa maneira de 
sentir e entender a sucessão temporal é reforçada associando-se cada um 
dos espaços ou cenários da escola a um determinado momento do dia. 
Assim por exemplo, a criança entende que é o momento da refeição, 
porque nos dirigimos ao refeitório ou que é o momento dos jogos porque 
vamos para o pátio.” 
 
45 
A organização dos espaços refletirá a maneira como a escola percebe a 
criança e como ela acredita que deve ser educação infantil. Ideologias, 
valores e cultura estarão expressos no ambiente. 
JAUME (2004) destaca algumas necessidades significativas em relação ao 
planejamento e à organização do espaço em geral, pensando em todos os 
envolvidos na construção de um trabalho de educação infantilde 
qualidade: 
• necessidade afetiva; 
• necessidade de autonomia; 
• necessidade de movimentos; 
• necessidade de socialização; 
• necessidades fisiológicas; 
• necessidade de descoberta, exploração e conhecimento; 
• necessidade dos adultos. 
Na criação do ambiente é importante buscar espaços que estimulem o 
movimento e as destrezas motoras, lugares livres e amplos para correr e 
deslocar-se livremente, assim como, garantir espaços mais calmos para 
atividades de leitura ou que possibilitem assistir a um filme. 
A criação de espaços harmônicos, que expressem sensibilidade e a busca 
pela beleza, favorecerá o bem-estar de todos, estimulando laços de 
amizades e trocas afetivas. 
Um ambiente alegre e democrático irá facilitar esse processo de 
integração. Um bom exemplo é o uso do mural. Podem existir murais que 
exponham o trabalho das crianças, mas também murais de avisos e 
notícias interessantes em que qualquer pessoa da comunidade escolar 
possa participar. 
Outro aspecto importante é promover a comunicação entre todos os 
membros da instituição: crianças, equipe e familiares. As trocas devem ser 
ricas e diversificadas. 
 
46 
Finalmente, é imprescindível lembrar-se de transformar cada jornada de 
trabalho em algo prazeroso e cheio de descobertas. Onde o lúdico esteja 
sempre presente e cada dia represente uma nova aventura cheia de 
desafios. 
O cotidiano de instituições de educação infantil deve sempre inspirar 
afeto e alegria, refletindo uma dimensão humana em que a criança seja 
valorizada como sujeito que merece respeito às suas necessidades 
especificas. 
 
SINTESE DA AULA 7 - ORGANIZAÇÃO DE TEMPO E ESPAÇO NA 
EDUCAÇÃO INFANTIL 
Nesta aula, você: 
• estudou a respeito da importância da organização da rotina e das 
atividades propostas para as crianças, considerando dois aspectos 
fundamentais: o tempo e a organização do espaço. E para alcançar tal 
objetivo foi necessário: 
- destacar que a sala deve ser uma ambiente especialmente criado para 
proporcionar experiências variadas; 
- ressaltar que o mobiliário deve ser adequado as necessidades das 
crianças criando possibilidades de independência e autonomia, 
responsabilidade e uso do bem comum; 
- enfatizar que fatores como: número de crianças, faixa-etária e 
características do grupo são pontos fundamentais de atenção na 
organização do espaço. 
 
 
 
 
 
 
47 
AULA 8 -ASPECTOS PEDAGÓGICOS FUNDAMENTAIS 
Preste atenção ao diálogo abaixo. 
(Dona Margarida) Ah essa escola é boa, esse menino vai ser muito 
inteligente! 
(Dona Tereza) Você sabe que o meu sobrinho já escreve o nome dele 
todo, e todo dia ele faz trabalhinho de dever de casa? 
Esta é uma situação comum entre responsáveis de crianças que estão 
frequentando escolas de educação infantil. Pais alfabetizados pelo 
método tradicional não compreendem as propostas sociointeracionistas 
de escolas que trabalham o aprendizado através do construtivismo. Além 
disso, ainda existem escolas que reproduzem métodos antigos, como a 
escola representada no diálogo ao lado. 
Mas, afinal, qual a função de um centro de educação infantil (creche e 
pré-escola)? 
Devemos pensar em aproveitar a infância das crianças para treiná-las para 
o futuro, preparando-as para serem integradas no ensino fundamental? 
Como fazer para que as crianças sejam cidadãs criativas e reflexivas 
dominando a língua escrita, e, capazes de compreender os códigos e 
instrumentos de nossa cultura? 
De acordo com Magda Soares (1998), existem diferenças entre 
alfabetização e letramento: 
SOARES (1998, p.47) define: “alfabetizar e letrar são duas ações distintas, 
mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou 
seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e 
da escrita.” 
Alfabetização 
Corresponde ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia – a escrita 
alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e escrever. Para adquirir tal 
tecnologia é importante compreender o funcionamento do alfabeto, 
 
48 
memorizar as convenções letra-som e dominar o seu traçado, usando 
instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam. 
Letramento 
É o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita nas situações 
em que precisamos ler e produzir textos reais. 
Portanto, a aquisição dos dois processos não deve ser feita 
separadamente, eis aqui o grande dilema que reflete as diferenças entre 
os métodos utilizados em diferentes escolas. Escolas que apresentam uma 
proposta baseada em concepções sociointeracionistas procuram 
desenvolver um processo em que a aquisição da língua escrita não se 
resuma apenas à escrita de letras. 
Vygotsky destaca diretrizes para que a escrita se torne um instrumento de 
expressão e conhecimento do mundo para uma criança leitora e 
produtora de textos: 
Que o ensino da escrita se apresente de modo que a criança sinta 
necessidade dela. 
Que a escrita seja apresentada não como um ato motor, mas como uma 
atividade cultural complexa. >>> Só sai daí quando acabar de copiar! 
Que a necessidade de aprender e escrever, seja natural, da mesma forma 
como a necessidade de falar. 
Que ensinemos à criança a linguagem escrita e não as letras. 
Obrigar as crianças a copiar letras sem oferecê-las o significado, além de 
ser uma atividade sem sentido, representa, em muitas ocasiões, 
adestramento. Com esse tipo de atitude ela aprende que o mais 
importante é aprender a obedecer, não importa para que finalidade. 
Atitudes como essa, além de não trazerem nenhum benefício, reforçam a 
ideia de uma criança heterônoma, aquela que aprende a obedecer pelo 
medo. 
Esse ponto contradiz um dos objetivos importantes da educação infantil: a 
construção da autonomia, que significa criar possibilidades para que as 
 
49 
crianças pensem sobre suas atitudes e tenham liberdade de escolher suas 
ações com responsabilidade, sem precisar de punições autoritárias para 
que isso aconteça. 
Outro ponto importante é a respeito de quando iniciar o processo de 
aquisição da escrita. Segundo Mello, “Vygotsky defenderia o letramento 
para as crianças até 6 anos, e para as crianças entre 6 e 10 anos a 
alfabetização com letramento”. Mas, surgem novas angústias: 
Será que meu filho estará preparado para o ensino fundamental 
frequentando uma escola que favorece o brincar como atividade 
principal? 
O brincar é uma atividade humana que por si mesma representa 
experiências associadas a nossa cultura, pois os brinquedos são objetos 
que imitam criações do homem na produção de instrumentos cotidianos 
como: ferro de passar, telefone, panela, fogão, carro, boneca e tantos 
outros. 
Brincando as crianças podem representar papeis sociais e ações que na 
vida real não poderiam fazer, como fazer comida ou dirigir um carro. Esses 
são exemplos de atividades imaginárias baseadas em experiências reais 
que ajudam a criança a realizar pequenos ensaios sobre a realidade. 
O letramento deve ser pensado como uma atividade que exige que a 
criança seja inserida em um processo cultural, em que ela domine 
símbolos e instrumentos de nossa sociedade. Nesse sentido, não 
precisamos temer atrasos hipotéticos em crianças que tenham brincado 
bastante durante o processo de aquisição da escrita, pois possivelmente 
são crianças que tiveram a oportunidade de pensar e participar 
ativamente desse processo, de ter suas ideias respeitadas e valorizadas e 
que acreditam em si mesmas como produtoras de conhecimento. 
De acordo com Borba, é importante que façamos algumas perguntas para 
nós mesmos: 
• Como podemos compreender a criança nas

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