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CONSTIPAÇÃO CRÔNICA: INÉRCIA COLÔNICA 
Bruna Ferreira da Costa Fischer 
Mônica Buchar 
Lúcio Fillmann 
UNITERMOS 
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL/diagnóstico; CONSTIPAÇÃO INTESTINAL/terapia; DEFECAÇÃO 
KEYWORDS 
CONSTIPATION/diagnosis; CONSTIPATION/therapy; DEFECATION 
SUMÁRIO 
Esse capítulo visa fazer uma revisão sobre constipação crônica causada por 
tempo de trânsito colônico lento, a inércia colônica. Abordaremos aqui 
definição, manifestações clínicas, investigação e manejo dessa causa de 
constipação tão frequente. 
SUMMARY 
This chapter aims to review chronic constipation caused by slow colonic 
transit time, the colonic inertia. We will discuss here the definition, clinical 
manifestations, investigation and management of the cause of constipation so 
frequent. 
INTRODUÇÃO 
Constipação é um sintoma muito comum na população em geral, 
apresentando uma definição bastante abrangente. Segundo o consenso de 
Roma III, a presença de dois ou mais sintomas tais como fezes endurecidas, 
menos de 3 evacuações por semana, dificuldade evacuatória, sensação de 
esvaziamento incompleto, sensação de obstrução anorretal, manobras manuais 
para auxiliar na evacuação,presentes por pelo menos 3 dias por mês, durante 3 
meses, com início 6 meses antes do diagnóstico, definem a doença.1 
A constipação pode ser classificada ainda em bloqueio evacuatório e 
inércia colônica. O bloqueio está relacionado a distúrbios evacuatórios por 
alteração no ânus, reto ou assoalho pélvico, podendo ou não estar associado à 
inércia, que representa alteração no tempo de trânsito colônico.4 
Esse trabalho será direcionado à inércia colônica, dando ênfase às 
peculiaridades dessa classificação como manifestações clínicas mais sugestivas, 
exames mais específicos e tratamento adequado. Bloqueio evacuatório não fará 
parte de nossa abordagem. 
Definição 
A constipação por inércia colônica representa um distúrbio da motilidade 
caracterizado pelo retardo no trânsito intestinal, com atraso no tempo de 
esvaziamento do colón proximal e menor amplitude peristáltica depois das 
refeições.2 
Os sintomas predominantes são dor abdominal, distensão, fezes 
endurecidas e desconforto entre evacuações. Esses sintomas são devido a 
grande quantidade de fezes que ficam retidas ao longo do colón.4 Exames de RX 
de abdômen ou enema baritado comumente evidenciam dilatação de alça, 
inclusive megacólon, justificado apenas pela dismotilidade intestinal, porém não 
devem ser solicitados de rotina.4 
Histologicamente esses pacientes podem apresentar alterações no 
número de plexos neuronais mioentéricos, anormalidades na inibição da 
transmissão do peptídeo intestinal vasoativo e oxido nítrico e redução no 
número de células de Cajal, que são responsáveis pela regulação da motilidade 
gastrointestinal.2 
Epidemiologia 
A prevalência de constipação crônica está entre 2-27% da população. A 
taxa de prevalência em mulheres é de 2:1 em relação aos homens e a faixa 
etária acima dos 65 anos é a mais atingida.3 Entretanto, a inércia colônica é vista 
principalmente em mulheres jovens e tem início durante a puberdade. Os 
fatores que contribuem para o sintoma nesses casos é a má alimentação, 
mínimo atraso no tempo de trânsito e fatores culturais.2 
Etiologia 
A inércia colônica pode ter diversas causas, desde doenças sistêmicas, 
doenças intestinais ou, até mesmo, ser idiopática. Em adultos, a forma 
adquirida ganha destaque sendo distúrbios endócrinos, metabólicos, 
neurológicos, psiquiátricos ou uso de drogas os principais desencadeadores.4 
Fatores de risco para desenvolvimento desse sintoma incluem depressão, 
baixa escolaridade, baixa nível sócio-econômico, sedentarismo e história de 
abuso sexual.2 Dieta e os fatores culturais também podem estar envolvidos.4 
Anamnese e exame físico podem ajudar na busca da etiologia, devendo 
também descartar distúrbios evacuatórios e averiguar sinais de alarme para 
câncer de cólon.1 
Investigação 
O exame físico deve incluir: 
 Inspeção área perianal para descartar doenças como hemorróidas, 
fissuras e fístulas, as quais dificultam a evacuação. Apesar dessas 
doenças serem causa de bloqueio evacuatório, principalmente devido 
a dor, sem relação com o tempo e trânsito colônico, não podem 
deixar de ser investigadas para exclusão diagnóstica.2 
 Avaliação do descenso do períneo, normal 1-3,5cm. Se reduzido, 
indica inabilidade em relaxar a musculatura do assoalho pélvico. Se 
aumentado, indica aumento complacência do períneo, por múltiplos 
partos vaginais ou anos de dificuldade e esforço evacuatório.2 
 Toque retal investiga a presença de fecaloma ou massas no reto, 
avalia a contratilidade do esfíncter ou estenose do ânus.2 
Os exames laboratoriais devem incluir: 
 Função tireoidiana; 
 Medidas de cálcio, glicose e eletrólitos; 
 Hemograma completo e análise urinária; 
 Sorologia para Doenças de Chagas; 
Tais exames são importantes para investigação das causas secundárias de 
constipação.2 
Exames de imagem: 
Enema opaco: pode ser realizado na busca de megacólon, doença 
diverticular, endometriose ou tumores.4 
Colonoscopia: visa uma avaliação completa do cólon para excluir doenças 
estruturais como câncer de cólon. Está indicado se sinais de alarme tais como 
início ou mudança no padrão da constipação, sangue nas fezes, perda de peso, 
febre, anorexia, náuseas, vômitos ou história familiar de doença inflamatória 
intestinal ou de câncer de cólon. Pacientes acima de 50 anos, independente de 
sinais de alarme, também têm indicação de realizar colonoscopia ou podem 
realizar sigmoidoscopia associada à enema baritado. Antes 50 anos sem 
sintomas de alarme a sigmoidoscopia é suficiente.2 
Tempo de trânsito colônico: teste que mede o tempo de trânsito e 
permite diferenciar uma constipação com tempo de trânsito lento da 
constipação com tempo adequado. Esse teste consiste na ingestão de 
marcadores radiopacos e radiografia após 120 horas. A retenção de 20% dos 
marcadores indica constipação. Se a maioria deles estiver localizado 
distalmente, no sigmóide e reto, o diagnóstico provável é de bloqueio 
evacuatório. Entretanto, a distribuição dos marcadores ao longo do cólon não 
exclui a possibilidade de haver bloqueio evacuatório associado à inércia 
colônica.2 
Caso as investigações apontem para uma doença evacuatória (bloqueio), 
exames como balão de expulsão manometria anorretal, defecografia estão 
indicados.2 
Tratamento 
Um acréscimo de 20-25g de fibras na dieta está indicado. Esse deve ser 
feito de forma gradual para evitar efeitos como distensão e flatulência. Se 
apenas a ingesta de alimentos rico em fibras não for suficiente, está indicada 
suplemento de fibras.2,3 Um aumento da ingesta hídrica também deve ser 
realizado, podendo ser acrescentado 1,5-2l líquidos por dia.3 
Paciente sem resposta a essas mudanças na dieta (acréscimo de fibras e 
aumento volume hídrico) devem fazer uso de laxantes osmóticos tais como leite 
de magnésio, sorbitol, lactulose ou polietileno glicol. Esses laxantes 
caracterizam-se por tornar o conteúdo intestinal isotônico ao plasma, 
estimulando a secreção de água no lúmen. Deve ser usado com cautela em 
cardiopatas e portadores de insuficiência renal, pois há risco de desenvolver 
desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos. Levam alguns dias para ter efeito.2,3 
Estimulantes colônicos, os laxantes irritativos bisacodil/sene, devem ser 
reservados para os pacientes com doença severa refratária ao uso de laxantes 
osmóticos e ingesta de fibras. Eles agem estimulando a motilidade e a secreção. 
Tempo de ação é rápido, em horas. Frequentemente está associado a cólicas 
abdominais. Outra utilidade desses laxantes é o manejo de constipação 
intestinal agudizada, em que ocorre impactação fecal, ficando o intestino grosso 
repleto de fezes. Mesmo que isto seja manejado com osmóticos 
frequentemente, provavelmente esta é a principal indicação do uso deste tipo 
de medicação em indivíduos constipados crônicos. 2,3 
Drogas procinéticas estãoindicadas em portadoras de síndrome do 
intestino irritável.2 
Terapia de biofeedback ou com toxina botulínica estão indicados apenas 
nos casos de constipação do tipo bloqueio evacuatório.2 
O tratamento cirúrgico realizado através de ressecção colônica está 
indicado apenas nos casos graves de inércia refratários ao tratamento clínico. 
Esse procedimento apresenta complicações como obstrução de intestino 
delgado, diarreia e incontinência. E apresenta taxa de sucesso reduzida quando 
há dismotilidade do trato gastrointestinal proximal ou distúrbio psicológico 
associado.2 
REFERÊNCIAS 
1. Ternent CA, Bastawrous AL, Morin NA, et al. The Standards Practice Task Force of The American 
Society of Colon and Rectal Surgeons. Practice parameters for the evaluation and management of 
constipation. Dis Colon Rectum. 2007;50:2013-22. Review. 
2. Lembo A, Camilleri M. Chronic constipation. N Engl J Med. 2003;349:1360-8. 
3. Higgins PD, Johanson JF. Epidemiology of constipation in North America: a systematic review. Am J 
Gastroenterol. 2004;99:750-9. 
4. Matos D, Saad SS, Fernandes LC. Coloproctologia: guias de medicina ambulatorial e hospitalar / 
UNIFESP-EPM. São Paulo: Manole; 2004.

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