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Fundamentos Histórico- Teórico-Metodológicos do Serviço Social (60 e 80) Professora Esp. Irení Alves de Oliveira EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O48f Oliveira, Irení Alves de Fundamentos histórico-teórico-metodológicos do Serviço Social (60 e 80) / Irení Alves de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 138 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-37-3 1. Serviço social. 2. Fundamentos do serviço social. I. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância III. Título. CDD : 23 ed. 361.3 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 https://doi.org/10.33872/edufatecie.formsociocultural.2019 AUTORA Professora Irení Alves de Oliveira ● Especialista em Docência no Ensino Superior (2016) ● Tecnóloga em Marketing (2016) ● Bacharel em Serviço Social (2015) ● Pós-Graduanda em Design Thinking e Criatividade nas Organizações ● Professora Formadora EAD ● Supervisora Acadêmica de Estágio Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/6087805875284804 Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acom- panhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), é com imensa satisfação que apresento a disciplina de Funda- mentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social: década de 60 e 80 e convido você a se apropriar dos conteúdos que serão abordados ao longo das quatro unidades, em que serão destacados assuntos relevantes, tanto neste processo formativo quanto quando estiver atuando como assistente social. A construção deste material tem como objetivo destacar a formação e o trabalho profissional na contemporaneidade, preparando você para entender sobre o projeto profis- sional e o assistente social na luta de classes. Desta forma, na Unidade I você irá estudar três pontos importantes sobre o trabalho do assistente social e destaco que no primeiro ponto, logo no início, são abordados três aspectos relevantes que possibilitarão a reflexão sobre o trabalho que os profissionais precisam desenvolver e sobre a questão social mediante ao mercado de trabalho. Também serão apresentados o trabalho e o Serviço social, bem como o processo de trabalho que todos estão inseridos. Por fim serão apresentadas as mudanças sociais ou, como abordado por Iamamoto, as transformações societárias que, de certa forma, ampliaram o mercado de trabalho para os assistentes sociais. Já na Unidade II será destacado sobre a formação profissional, serão abordadas algumas reflexões iniciais na contemporaneidade, destacando os desafios que a categoria enfrentou ao reconstruir o projeto de formação. Entre os anos 1960 a 1980, a profissão passou por um processo de ruptura com a prática conservadora enraizada nas práticas profissionais, necessitando rever o projeto de formação. Durante esse percurso houve conquistas, mas também dilemas que são relevantes para que se possa entender todos os fatos históricos que envolvem o projeto de formação profissional; atualmente destacam-se algumas exigências e perspectivas sobre a formação. É evidente que nesse percurso o debate sobre os temas abordados no movimento de reconceituação foi importante para entender a política de prática acadêmica que foi muito bem apresentada no método de BH. Na sequência, será estudado na Unidade III que, para entender o projeto profissão, foi preciso buscar a concepção de mundo, entendendo as quatros notas e os tipos de con- cepção. Você deve estar se perguntando o porquê de estudar isso. Ora, caro(a) aluno(a), o Serviço Social por si só traz uma bagagem histórica que fundamenta as bases teóricas e metodológicas da profissão. Para entender tudo que está ao redor da profissão, é preciso entender o contexto histórico e a concepção de mundo sobre o processo histórico que tem o ser humano como ponto principal. Fique tranquilo(a), pois esse assunto está descrito na primeira parte da unidade. Depois estudará sobre a crítica que Marx fez em seu livro o Capital - volume 01 sobre a economia política que envolve a relação capital X trabalho. Em seguida entenderá o conceito de trabalho e práxis, de forma separada. Por fim, o projeto profissional e o motivo da emancipação humana ser considerada para além do direito e da cidadania burguesa. E em nossa Unidade IV entenderá sobre o termo “quefazer profissional”, porque e quando surgiu esta dúvida e como o fazer profissional é realizado atualmente. Em seguida serão apresentados os quatro projetos considerados importantes. O primeiro é o que funda- menta as bases teóricas, éticas, políticas e metodológicas da profissão e, por este motivo, foram escolhidas as dimensões ético-política e teórico-metodológico frente aos diferentes projetos. Para finalizar, destacamos quatros pontos importantes para refletir sobre alguns questionamentos, com a finalidade de encontrar respostas sobre a profissão. Espero que o conteúdo desta apostila contribua no seu crescimento enquanto futuro(a) assistente social. Bons estudos e até a próxima. Prof.ª Irení Alves de Oliveira SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 O Trabalho Profissional na Contemporaneidade UNIDADE II ...................................................................................................33 Formação Profissional na ContemporaneidadeUNIDADE III .................................................................................................. 67 O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Professora Esp. Irení Alves de Oliveira UNIDADE IV ................................................................................................ 103 O Assistente Social na Luta de Classes 4 Plano de Estudo: ● O Serviço Social na Contemporaneidade; ● Trabalho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; ● Demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários. Objetivos da Aprendizagem: ● Contextualizar o Serviço Social na contemporaneidade, entendendo as mudanças e os desafios profissional; ● Compreender o termo trabalho e o Serviço Social e o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; ● Destacar as principais demandas e respostas no que se refere a categoria profissional aos projetos societários. UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 5UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade você irá se debruçar sobre o trabalho profissional do assistente social na contemporaneidade. Para entender esse assunto, é preciso dividir em três tópicos, sendo eles: o Serviço Social na contemporaneidade; Traba- lho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; e as demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários, em que serão explanados temas importantes, referentes ao fazer profissional. Portanto, na primeira parte você estudará sobre os desafios que o assistente social vivencia cotidianamente; aqui serão destacados três aspectos reflexivos sobre a profissão, levando a busca do entendimento sobre a questão social e o mercado de trabalho. É ne- cessário fazer um breve resgate histórico sobre a origem do termo “questão social” para entender as desigualdades sociais no Brasil e, assim, compreender o mercado de trabalho profissional, principalmente do assistente social. Afinal, foi por meio dos problemas sociais que houve a ampliação de diversos campos de atuação, porém também propiciou as mu- danças nos campos de atuação e o surgimento de grandes desafios no fazer profissional. Já na segunda parte será estudada a origem o termo “trabalho”. Esse é um ponto importante para compreender o Serviço Social na sociedade e como a profissão está inse- rida e inscrita na divisão social e técnica do trabalho através da prática profissional. A partir desse entendimento, o processo de trabalho passa a fazer parte da vida do homem em meio a sociedade. Assim, você irá entender o processo de trabalho do assistente social, para depois compreender sobre o redimensionamento da profissão antes das transformações societárias, que se voltam para as mudanças no mercado de trabalho profissional. E, por fim, a terceira parte abordará as demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade. Serão destacados alguns pontos reflexivos con- siderados pela grande autora Iamamoto, como ocultos no VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, enfatizando que os profissionais precisam compreender as condições de trabalho ao buscar respostas para o fazer profissional. Espero que tenha um excelente estudo! 6UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 1. O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE No contexto contemporâneo, a revolução tecnológica acabou estabelecendo novos padrões de produção e gestão, tendo, por trás de todo esse avanço, a grande hegemonia, conhecida como capital financeiro. Com isso, houve um aumento do desemprego, além de gerar o subemprego. Nesse aspecto, a acumulação de capital não se configura como sinônimo de equidade e sim das diversas expressões da questão social. De um lado temos a concentração do lucro e poder, do outro, o pauperismo e a luta pela sobrevivência. Mediante a esse cenário, os assistentes sociais são desafiados diariamente nos mais diversos campos de atuação. Primeiro, pelo aumento da demanda voltada para os serviços sociais; segundo, pela diminuição dos recursos, principalmente na esfera pública, criando padrões cada vez mais rigorosos sobre a possibilidade da população ter acesso aos direitos. Isso nos leva a refletir sobre três aspectos acerca da profissão. Primeiro, para entender o Serviço Social na contemporaneidade é necessário li- bertar-se da visão interna e centralizadora que aprisiona muitos profissionais. Para isso, é necessário ampliar os horizontes, observando as mudanças do cotidiano na relação entre Estado e a sociedade; não perdendo as características da profissão e, ao mesmo tempo, rompendo com o pensamento conservador e endógeno. Ou seja, no aspecto de ajuda na forma evolutiva da caridade e da filantropia baseado nas obras de Tomás de Aquino e Vicente de Paula (MONTANÕ, 2007). 7UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Segundo, entender a profissão nos dias atuais e as mudanças na sociedade, princi- palmente no âmbito do trabalho, mas especificamente na estrutura de produção refletida na nova forma de organização e gestão do trabalho. O Serviço Social é uma profissão espe- cializada e inscrita na divisão social e técnica do trabalho, compreende que os assistentes sociais têm um Código de Ética Profissional, sendo considerado um profissional autônomo e qualificado. Terceiro, considerar o Serviço Social como trabalho é o mesmo que favorecer a produção e reprodução da vida social. Antunes (2006) destaca que a satisfação no tra- balho não está voltada para as relações sociais e sim na necessidade da produção de objetos, constituindo a materialidade e subjetividade das classes que vivem do trabalho. Ao confirmar a primazia do trabalho na sociedade e ao indagar o papel do Serviço Social no processo de produção e reprodução da vida social, existe um ponto de partida e um norte. Porém essa não é a prioridade do mercado, mas sim privilegiar a distribuição de riquezas dentro do sistema capitalista, considerado o “portador de valor-trabalho e de mais-valia. O trabalho é, pois, uma atividade que se inscreve na esfera da produção e reprodução da vida material” (IAMAMOTO, 2012, p. 25). Em síntese, um dos maiores desafios enfrentados pelos assistentes sociais atual- mente é interpretar a realidade e desenvolver um trabalho criativo, capaz de preservar os direitos a partir das demandas que surgem no cotidiano. Em qualquer situação é preciso ser um profissional com objetivos claros, não apenas um executor de tarefas. É olhar para além da profissão, rompendo com qualquer visão rotineira e burocrática que envolve os profissionais de Serviço Social, entendendo que a questão social é o seu objeto de trabalho nos diversos espaços sócio-ocupacionais no mercado de trabalho que está inserido. 1.1 Questão Social e o Mercado de Trabalho Caro(a) aluno(a), acredito que já tenha estudado em outras disciplinas sobre a questão social, pois bem, vamos recapitular sua origem. De acordo com Castel (1998), o termo questão social foi mencionado pela primeira vez no ano de 1831 no jornal legitimista 8UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade La Quotidienne. Chamou a atenção do governo francês ao enfatizar a necessidade de en- tender além do poder do capitalismo, destacando que existia uma “questão social” carente buscando por respostas emergentes. Ou seja, o Estado precisava atender o pauperismo que a classe trabalhadora estava vivenciando em decorrência do processo de industrialização. Mas por que foi preciso recapitular a origem do termo questão social? Ora, caro(a) aluno(a), terem mente a origem do termo “questão social” faz toda a diferença, primeiro porque o processo de industrialização ocasionou o pauperismo e empobrecimento da classe operária, gerando diversos problemas sociais. Isso chamou a atenção da classe burguesa e do Estado, que precisava de algum mecanismo para atender as necessidades emergentes da classe operária, para continuar vendendo a sua força de trabalho. O segundo motivo é que a questão social se tornou o objetivo do trabalho do as- sistente social, e, para analisar as suas variações, principalmente na atualidade, é preciso entender a origem e o contexto em que a questão social passou a ser reconhecida pelo Estado, classe operária e burguesia. Com isso, entender a questão social é captar as múltiplas formas de pressão social, decifrando a realidade do cotidiano, pois pensar nos problemas sociais na contemporanei- dade pode ser um desafio. A globalização econômica reproduz o pauperismo nas diversas formas ao longo da existência do ser social. Sobre a questão social no Brasil, Iamamoto (2009) destaca que a transição do capitalismo competitivo para o monopolista não foi estruturada por uma burguesia com forte tendência para a democracia e o nacionalismo, marcando o país com um sistema restrin- gido e oligárquico. Com isso, a desigualdade social aumenta a ponto de ser considerada indissociável do sistema capitalista, incorporando múltiplas expressões da questão social que se enraizaram na sociedade. Segundo Piana (2009), a questão social no Brasil deve ser considerada como algo grave, pois atinge todos os setores e camadas sociais e está constantemente ameaçada pela pobreza e exclusão. Isso porque a realidade da atual política salarial aumenta esse problema, principalmente ao construir uma sociedade coesa e clara por meio das relações democráticas e interdependentes. Partindo desta lógica, Arcoverde (2000) enfatiza que a questão social no Brasil assume diversas formas e possui características orgânicas relacionadas à desigualdade e injustiça social referente à organização do trabalho e da cidadania. Isso se deu por meio do atual modelo de produção e reprodução que o país adotou com o processo escravista, industrial, Fordista-Taylorismo e a reorganização produtiva. 9UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Dessa forma, a expressão “questão social” passa a ser resultado da relação entre produção e reprodução social causada pela concentração da riqueza. O assistente social tem a missão de decifrar as diversas formas da desigualdade social na atualidade e dar transparência às iniciativas que visam a restauração ou enfrentamento imediato. É um profissional capacitado a formular e implementar propostas por meio das políticas sociais nos órgãos públicos e/ou privados nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais. Mas acredito que você agora deve estar se perguntando, o que a questão social tem a ver com o mercado de trabalho profissional? Pois bem, para entender o mercado de trabalho profissional, especificamente do Serviço Social, é preciso ter em mente que o objeto (questão social) que deu base para a profissão foi resultado das demandas ocasionadas pela sociedade capitalista, formando a opressão por meio da produção e reprodução material. Para atender os problemas sociais, foi necessário que profissionais capacitados pudessem atuar nos espaços/serviços promo- vidos pelo Estado para atender os interesses da burguesia. Antes da década de 1980, a maior concentração da atuação profissional estava voltada aos serviços promovidos pelo Estado; após essa década houve uma ampliação nos campos de atuação, tanto público quanto privado. Veja a seguir alguns espaços sócio-ocu- pacionais dos dias atuais. FIGURA 2 - ALGUNS CAMPOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Fonte: a autora. 10UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Conhecer alguns dos espaços de atuação profissional é importante e relevante à categoria, principalmente para você, caro(a) aluno(a), que está no processo de formação profissional. Então, te convido a pesquisar na internet e estudar os campos de atuação apresentados para entender o que o assistente social faz, ou seja, as habilidades e com- petências e os instrumentos de trabalho utilizados nesses espaços de atuação. Ah, e fica à vontade para pesquisar os demais campos de atuação que aqui não foram mencionados, mas que podem te auxiliar e dar um norte quanto a escolha do espaço que pretende atuar. O surgimento de novos campos de atuação é simplesmente pelo fato da sociedade capitalista ter evoluído, fazendo surgir as novas expressões da questão social e a necessi- dade da atuação do assistente social. Porém é preciso entender que as mudanças no mer- cado de trabalho, de certa forma, desafiam a todos os cidadãos diariamente, principalmente os assistentes sociais. Conhecer essas mudanças faz toda a diferença para não se tornar um profissional estagnado, pois é preciso progredir e evoluir, analisando a necessidade da sociedade. FIGURA 3 - MUDANÇAS NO MERCADO DE TRABALHO Para entender melhor sobre as mudanças no mercado de trabalho, vamos analisar alguns pontos apresentados por Iamamoto (2012). Primeiro o serviço público: existe um re- cuo das responsabilidades e ações do Estado na esfera social, refletindo na deterioração do orçamento e prestação de serviços sociais públicos. Isso implica na resolução dos problemas sociais, transferindo-os para a sociedade civil, onde as grandes empresas econômicas pas- sam a se preocupar e intervir nas questões sociais numa perspectiva de “filantropia corpora- tiva”, por meio das Organizações da Sociedade Civil (OSC), conhecida como Organizações não-governamentais (ONG). 11UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Neste aspecto as OSC são consideradas como um campo amplo para os assistentes sociais, assumindo a responsabilidade das políticas públicas e sociais no país, porém neces- sitam de uma série de parcerias para se manter no mercado. Como uma forma de fiscalizar os serviços prestados para a sociedade, o Estado atua muitas vezes como mantenedora dos repasses por meio das verbas públicas, o que chama a atenção da autora supracitada, enfa- tizando a distinção entre o serviço público e estatal. Com isso, temos serviços, considerados públicos, que acabam sendo terceirizados pelas entidades, criadas por pessoas que buscam minimizar os problemas sociais por meio de serviços socioassistenciais. No que se refere à Previdência Social após a reforma, a solução de problemas sociais foi de encontro com a perspectiva da privatização, o que compromete a universalização dos direitos sociais garantidos pela Constituição. O governo reduziu os benefícios para pessoas com renda mínima de 5 a 10 anos e transferiu uma valiosa participação no mercado de seguro social para o setor privado, que é o quinto maior mercado de previdência privada do mundo. Com isso, os serviços passam a ser fragmentados pelos padrões comerciais, tendo o Estado como responsável pelo atendimento ao setor dos mais pobres e excluídos. Outra mudança no mercado de trabalho profissional é no âmbito empresarial, que contrata o assistente social para eliminar as tensões, criando comportamento de produ- ção para a redução do absenteísmo, atuando no relacionamento interpessoal na área de trabalho. Nesse aspecto é preciso ficar atento(a) para não cair nas armadilhas da visão endogenista, atendendo as necessidades da sociedade capitalista. Caro(a) aluno(a), essas mudanças no mercado de trabalho são uma forma de atender aos interesses da sociedade capitalista e do Estado. Esse processo segue desde o surgimento da profissional, o fato é o que os assistentes sociais precisam saber, enquan- to profissionais regulamentados por um Código de Ética e com um Projeto Ético Político (assunto para a terceira unidade),quais são as atitudes que precisam tomar mediante as situações cotidianas. Será que o assistente social precisa decifrar a realidade apresentada pela sociedade, compreendendo que as mudanças são um meio e não um fim; que cabe somente ao assistente social lutar pelos direitos sociais, garantindo o seu espaço no mer- cado de trabalho. É importante destacar que a atuação profissional junto aos Movimentos Sociais além de ser uma competência profissional está prevista a na Lei que regulamenta a profissão (Lei nº 8.662/1993), no art. 04 inciso IX, “prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade” ( CFESS, 1993, p. 45). Assim como previsto no Código de Ética do/a Assistente Social em relação às entidades da categoria e demais Organizações da Sociedade Civil, a qual constituiu no art. 12 - b como um direito do assistente social em “apoiar e/ou par- ticipar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania”. (CFESS, 1993, p. 34). Um outro serviço que o assistente social pode e deve atuar são no campo da asses- soria e consultoria, a qual também está previsto na Lei que regulamenta a profissão no art. 04 inciso -VIII, a qual consiste como competência do assistente social “prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades” ( CFESS, 1993, p. 45). “Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvol- vida por um profissional com conhecimento na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. O assessor não é aquele que intervém, deve, sim, propor caminhos e estraté- gias ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm autonomia em acatar ou não suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém estu- dioso, permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar clara- mente suas proposições.” (BRAVO & MATOS, 2014, p. 31). Caro(a) aluno(a) se analisar a diferença entre assessoria e consultoria é minima, mas ambas são importantes e faz a diferença no fazer profissional, principalmente porque tanto a consultoria que é mais pontual como a assessoria que remete a ideia de assistir estão ligadas, devendo considerar que não podem ser compreendidas como sinônimo de supervisão, ação extensionista e não é um trabalho precarizado e/ou temporário. Deve-se entender que se trata de uma atribuição privativa do assistente social e que cabe aos profissionais conhecer e se aprofundar tanto o como, onde e quando realizar uma asses- soria e consultoria. Mas, fique tranquilo certamente você irá se aprofundar nestas áreas de atuação, o importante é entender que esses espaço sócio-ocupacionais foram e são fundamentais para a atuação profissional e por meio deles outros locais de trabalhos foram e estão surgindo. 13UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2. TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: O REDIMENSIONAMENTO DA PROFISSÃO ANTE AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS RECENTES Caro(a) aluno(a), desde a sua origem, o trabalho tornou-se fundamental na vida do homem em meio a sociedade. Com a ascensão do capitalismo esse conceito foi modifican- do, dando espaço para a produção e reprodução de mercadorias. Dessa forma, tivemos a divisão de classes – de um lado temos o sistema capitalista e a busca pelo aumento de lucro; do outro os trabalhadores, que vendem a força de trabalho para a sua sobrevivência –, gerando problemas sociais que foram as consequências desse cenário, como o paupe- rismo e a luta de classes. Nessa perspectiva é que surge o Serviço Social, uma profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho. Ao longo de sua existência passou por grandes mudanças e conquistas na categoria profissão, principalmente no processo de trabalho mediante às transformações societárias, exigindo dos profissionais que repensassem no fazer profissio- nal, algo que os assistentes sociais precisam realizar constantemente, analisando os fatos ocorridos na sociedade para entender o contexto atual. Dessa forma, vamos analisar, a seguir, o termo trabalho e seu processo em relação ao Serviço Social. 14UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2.1 O Trabalho e Serviço Social O termo “trabalho” originou-se da busca do homem em atender às suas neces- sidades. De acordo com Marx (1989) o trabalho consiste na ação do homem em meio à natureza e ao modificá-la, modifica a si mesmo, ou seja, o trabalho é algo produzido pelo próprio homem, com a finalidade de modificar a natureza e, assim, atender às suas necessidades, considerado como a categoria fundante do mundo e a base dos homens em qualquer sociedade. No entanto, o sentido do trabalho mudou-se com a sociedade capitalista. Lessa (2007) destaca que o trabalho passou a ser usado para produzir mercadorias por meio da exploração da força de trabalho. Nessa perspectiva não é reconhecido como uma forma de realização humana, mas como uma forma de sobrevivência por meio da produção e reprodução a partir do modo de trabalho. É nessa perspectiva que o Serviço Social se originou, ou seja, para atender as necessidades emergentes da classe trabalhadora em prol dos interesses da sociedade capitalista. Porém, com o passar dos anos, a categoria repensou na prática profissional, isso aconteceu a partir do Movimento de Reconceituação e dos seminários (Araxá, Teresó- polis, Sumaré e Alto da Boa Vista) e dos Congressos que reuniram diversos profissionais, conquistando o reconhecimento do Serviço Social como uma profissão inscrita e inserida na divisão social e técnica do trabalho, atuando na perspectiva liberal e autônoma regida por um Código de Ética que regulamenta a profissão. Devemos ter em mente que, assim como a sociedade capitalista mudou a forma de trabalho, a prática profissional do assistente social também sofreu mudanças, principal- mente com a variação das expressões da questão social. A exigência de analisar a prática profissional no contexto das relações de trabalho é porque o assistente social também vende 15UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade a sua força de trabalho, mantendo uma relativa independência na definição de prioridades e estilos de trabalho, e seu controle sobre suas próprias atividades é diferente daquelas em que está engajado, por exemplo, os trabalhadores da linha de produção. Tendo a linguagem como instrumento básico de trabalho, as atividades desenvol- vidas pelos assistentes sociais estão intimamente relacionadas à sua teoria, metodologia, conhecimentos técnicos e formação moral e política. Suas atividades dependem da capa- cidade de ler e monitorar os processos sociais, construindo os relacionamentos e vínculos no âmbito do trabalho. Cabe destacar aqui, caro(a) aluno(a), que a autonomia relativa dos assistentes sociais se deve ao natural, este tipo de especialização do trabalho é para trabalhar com indivíduos em sociedade, não com coisas inertes, eles interferem na reprodução material e social do trabalho por meio da prestação de serviços sociais. Seu trabalho está localizado principalmente no campo do pensamento político, exigindo que os profissionais exerçam as funções de controle quanto à ideologia dominante da classe subordinada, cujos campos de trabalho são interceptados por tensões e interesses de classe. É possível mudar o significado de seu comportamento para uma direção social diferente da direção esperada pelo empregador, como no sentido de estabelecer a cidada- nia para todos; a realização da sociedade, os direitos políticos; a formação de uma cultura pública democrática e o desenvolvimento da esfera pública. Isso decorre das própriascaracterísticas contraditórias das relações sociais que constituem a sociedade capitalista. Entre eles, atualmente, existem interesses sociais diametralmente opostos que se refratam no âmbito institucional, definem as forças sociais e políticas que lutam pela hegemonia, definem o consenso de classe e estabelecem uma forma de controle social a ele vinculado. Embora a existência do processo de alienação envolvendo mão de obra contratada não possa ser eliminada, é na referida dimensão política na prática profissional que se abre a possibilidade de neutralizar a alienação dessa atividade. Para os trabalhadores, isso é um esforço e um grande desperdício de energia, porque o trabalho é uma mercadoria indi- visível para os trabalhadores. Tomar posse da dimensão criativa e as condições subjetivas do trabalho vão interferir na direção social do seu trabalho e essa é uma luta que deve ser realizada todos os dias. De acordo com Iamamoto (2012), devido às suas qualificações profissionais, o as- sistente social possui relativa autonomia teórica, técnica e ética política na realização das atividades, mas estas dependem dos meios e recursos para a sua realização, não sendo propriedade do assistente social porque está envolvido no trabalho. Alguns dos meios e condi- 16UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade ções necessários são alienados, sendo os métodos e as condições de realização do trabalho, por exemplo, as diretrizes estipuladas pelas políticas sociais públicas ou empresariais. Mas é importante entender que as relações de poderes institucionais e as priori- dades políticas são estabelecidas pela instituição que o profissional presta o serviço, já a mobilização humana e a pressão social são condições externas. Cabe ao assistente social compreender esses fatores, tendo em mente que as políticas sociais e as expressões da questão social relacionadas na área de trabalho não podem ser consideradas como algo externo, pois se tratam das atribuições profissional, devendo estar claro no momento da atuação para não tomar para si o que de fato não faz parte da prática profissional. 2.2 O Processo de Trabalho e o Serviço Social O processo de trabalho é a combinação entre os meios onde o homem se estabelece e a força produzida pelo seu trabalho. Para chegar a esse processo, o homem precisa trans- formar uma determinada matéria, seja ela bruta ou natural, tendo um resultado favorável, de forma que alcance a conversão do produto para a satisfação humana (OLIVEIRA, 2001). Marx (1989) salienta que o processo de trabalho é uma atividade exclusivamente executada pelo homem, com a finalidade de transformar seu objeto de trabalho, adaptando uma matéria natural à necessidade humana, transformando a sua forma original na satisfa- ção plena de outro homem. Nesse aspecto, o processo de trabalho passa por três estágios, primeiro: a atividade realizada tem propósito, segundo: um objeto, e terceiro: os meios em que deverá acontecer todo o processo de trabalho. Para Duarte (1995), o processo de trabalho só alcança uma finalidade a partir do resultado, ou seja, por meio do produto produzido pela mão do homem, que além de satisfa- 17UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade zer a necessidade humana cria um determinado valor de uso em que o trabalho objetiva na produção de uma mercadoria. Consequentemente, o objeto de trabalho está petrificado na força humana e nos resultados atingidos. Esse conceito se dá por meio do trabalho, criado pela produção de um ou mais homens, a fim de atender a uma determinada necessidade. No processo de trabalho as atividades realizadas significam alterar os objetos de trabalho que são projetados para atingir seus objetivos. Nesse sentido, o processo sai no produto, que é considerado como uma espécie de valor de uso. Quando o processo de trabalho gera o valor de uso do produto outros valores de trabalho são inseridos como ma- teriais de produção e os produtos têm o mesmo valor de uso e constituem os materiais de produção da obra. Portanto, o produto não é apenas o resultado, mas também a condição do processo de trabalho. O processo de trabalho se configura em dois tipos: o simples, que são atividades baseadas no objetivo ou trabalho em si, seus objetos no ambiente; e o abstrato, que reflete no valor de troca ou no preço das mercadorias, tendo o sistema capitalista como o detentor de todo o processo de trabalho. REFLITA Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação do sujeito, ou seja, o próprio trabalho que requer meios ou instrumentos para que possa ser efetivado. Em outros termos, todo processo de trabalho implica uma matéria- -prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que po- tenciam a ação do sujeito e objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim, que resulta em um produto. Fonte: Iamamoto (2012, p. 61). No que se refere ao processo de trabalho do Assistente Social, pode considerar que está ligada à divisão social e técnica do trabalho e na atuação do profissional na presta- ção dos serviços sociais. Segundo Iamamoto (2012), o processo de trabalho do Assistente Social foi definido após a reafirmação da proposta de currículo mínimo do curso de Serviço Social, composto por 200 oficinas locais, regionais e nacionais, realizadas pela Associação 18UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Tendo o entendimento que a atuação do Assistente Social faz parte do processo de trabalho constituído historicamente na sociedade de forma coletiva, porém com características particulares de que o serviço ofertado nos espaços de trabalho devem ser particulares aos assistentes sociais. Para pensar no processo de trabalho do Assistente Social, é preciso considerar esta dupla determinação: a do valor de uso e do valor, ou seja, como um processo de produção de produto ou determinação da qualidade do serviço e o processo influente ao nível da produção ou distribuição de valor ou mais-valia. Devendo considerar que o trabalho do assistente social na esfera pública nem sempre teve conexão de forma direta com o trabalho e produção de valor, o que nos chama a atenção para entender o processo de tra- balho nos diversos espaços sócio-ocupacionais. Ou seja, na política de assistência social o processo de trabalho não está ligado diretamente na produção de valor, ao contrário das empresas em que é explícita, no processo de trabalho, a atuação frente à reprodução da força de trabalho. Mas é importante compreender que o processo de trabalho do assistente social se constitui pelo objeto de trabalho, ou seja, as expressões da questão social e o meio de trabalho, bem como os instrumentos utilizados nos diversos espaços de atuação – que, de certa forma, viabilizam os direitos sociais gerando efeito na sociedade. Portanto, com base nesse entendimento, pode-se considerar que o Serviço Social é uma profissão especializada e inserida no processo de trabalho, que presta serviço ao empregador. De certa forma, também vende a sua força de trabalho, mas deve ter em mente que a prestação de serviço deve ser privativa, ou seja, executada somente por um assistente social que se apropria de habilidades e competências privativas. 19UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2.3 Redimensionamento da Profissão Antes das Transformações Societárias Para entender as profundas mudanças sociais ou as transformações societárias, é necessário considerar a crise do capital, e, para entender esse contexto, vamos nos apro- fundar nos estudos de Netto (2012). Ele destaca, no texto Crise do capital e consequências societárias, que a crise do capital surgiu na década de 1970 e redesenhou a imagem do capitalismo contemporâneo, apresentando novas características.Segundo o autor, as mudanças tiveram relação com o mundo do trabalho produzindo falsas conclusões no que se refere ao fim da classe trabalhadora e o fim do proletariado. No entanto, embora a transformação esteja intrinsecamente relacionada à produção, ela envolve a sociedade como um todo. Além do crescente grau de autonomia controlado pelo Estado, a desregulamen- tação das atividades financeiras também tem levado a fluxos extraordinários no tempo e no espaço e, no campo da produção, esse fluxo permite a formação de capital, uma rede produtiva capaz de conversão rápida. Isso tem impacto na cooperação com a economia do trabalho vivo, aumentando a com- posição orgânica do capital e implicando no crescimento do trabalho excedente. Na verdade, o chamado “mercado de trabalho” sofreu uma reorganização completa e todas as inovações levaram às precárias condições de vida de um grande número de vendedores de mão de obra, a ordem do capital é uma ordem do desemprego, geralmente aceita na informalidade. Segundo o autor supracitado, as mudanças em curso têm interferido na estrutura de classes da sociedade burguesa, que mudou com o desaparecimento das antigas classes e estratos sociais. Mudanças que aparecem no plano das metas econômicas de classe e suas relações, como as mudanças no plano subjetivo da ideologia. Devido a esse proces- so de divisão social e tecnológica do trabalho, a classe trabalhadora passou por grandes transformações. Essa mudança também afetou os níveis médio e tradicional da burguesia. 20UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Outro aspecto que chama a atenção do autor é o imediatismo como realidade, o que desqualifica a distinção entre aparência e essência, ou seja, a realidade e sua comple- xidade de forma curta. Mediante a essas informações pode-se considerar que o movimento pós-moderno se desenvolveu e se tornou um sintoma das mudanças em curso na socieda- de, o que corresponde à própria estrutura obsessiva das mercadorias. No que se refere ao Serviço Social, Iamamoto (2012) enfatiza que os assistentes sociais no órgão público, que é considerado o setor que mais contrata, têm vivenciado o emprego instável, como redução de licitações públicas, demissão de funcionários instáveis e exercício de contenção salário, falta de incentivos à carreira, terceirização, acompanhado de instabilidade, emprego temporário, perda de direitos. O que nos chama a atenção quanto às mudanças no mercado de trabalho (assunto abordado na primeira parte desta unidade) no setor público. De acordo com a análise de Cardoso (2016), face a esse enquadramento e face à tendência de alteração do perfil do mercado de trabalho, a atuação profissional dos as- sistentes sociais adota uma nova configuração e isso gerou demandas por meio do fluxo de capital na crise e da reorganização política das classes subordinadas que enfrentam empregos instáveis e dispersos. Com isso, a demanda por trabalho profissional surge no setor estatal e privado. Nessas duas áreas, a nova imagem do mercado de trabalho ocupa- cional apresenta uma visão de redução da demanda por ocupações do setor público e um aumento no setor privado. 21UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3. DEMANDAS E RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL AOS PROJETOS SOCIETÁRIOS O ponto de partida para entender as demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade é que a prática profissional não tem o poder milagroso de se manifestar, sendo compreendida através da história da sociedade que faz parte. Portanto, expor a prática profissional cotidiana é inseri-la no quadro das relações sociais básicas da sociedade, é entendê-la no tenso jogo das relações entre classes sociais, entre classes e o Estado brasileiro. Nesse aspecto, considerar a primazia da produção social é entender que o papel básico da produção da vida real, ou seja, a produção de indivíduos sociais engajados em atividades de trabalho estabelecidas são formas de compreender as demandas estabele- cidas nas sociedades que compõem uma personalidade social, como expresso no mundo capitalista hoje, também registra os princípios básicos da exclusão social política e aliena- ção. Com isso, para entender a demanda profissional é importante realizar uma análise histórica considerada como a chave da resolução dos problemas sociais. 22UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3.1 Demandas Profissionais: Uma Análise a Partir Do VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais Caro(a) aluno(a), no intuito de explanar sobre as demandas profissionais, é no viés de análise da Iamamoto (2012) é que vamos nos aprofundar em alguns temas abordados no VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, sendo promovido pelo Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, ANAS, ABEPSS e SESSUNE, nos dias 25 e 28 de maio, tendo como tema “O Serviço Social e os desafios da modernidade - os Projetos Sócio-Políticos em confronto na sociedade contemporânea” (DIAS, 2019). Primeiro ponto a ser abordado é sobre a profissão ter um olhar voltado mais para o Estado e menos para a sociedade, com isso destaca-se que a reflexão sobre o fazer profissional acaba tendo prioridade na intervenção do Estado por meio das políticas so- ciais extraindo os efeitos na sociedade, no entanto é preciso entender que as políticas sociais acaba sendo importante para a atuação profissional, o que deixa como reflexão que o Estado não explica a sociedade, visto que os fundamentos do Estado encontra-se na própria sociedade civil e, neste ponto, é importante ter um olhar para a sociedade e aos movimentos das classes sociais. Segundo, é sobre o escopo que pode ser atribuído às demandas profissionais, ou seja, a consideração dos processos e mercados de trabalho do país. Portanto, por exemplo, se não analisamos as mudanças que ocorrem no processo de trabalho e as peculiaridades do mercado de trabalho urbano e rural, como explicar as demandas advindas da sociedade às quais atuamos? 23UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Terceiro, a análise das ações realizadas pelo Estado em que a política acaba sendo determinação da economia, quando entramos na análise de direitos sociais e política so- cial, isentamos o capital, no máximo, ela só pode ser vista da perspectiva da distribuição da riqueza social. Reconhecer que a sociedade capitalista e sua desigualdade são “naturais”, ao analisar as necessidades profissionais parece ser essencial manter uma aliança profun- da entre economia e política. Quarto e último ponto, é a propensão de considerar a sociedade brasileira com uma perspectiva urbana, dificilmente em um debate da categoria, o processo social da agricultura parece estar relacionado a essa questão e as cidades correm o risco de aparecer no antigo dualismo urbano e rural. Essa preocupação acabou sendo baseada no compromisso com a proteção agrícola e urbana enraizada na sociedade brasileira, tentando entender onde o Estado e a sociedade capitalista estão expandindo a reprodução do capital como a aquisição da propriedade da terra, se apropriando das terras e provocando o afastamento dos trabalha- dores que lutam pela terra, alterando as relações de trabalho até no âmbito rural. A partir desses pontos reflexivos, pode-se notar que há uma consistente relação com o processo de precarização enraizada em nossa sociedade, levando o trabalho a um status de falência, simplesmente pelo fato de haver mudanças no mundo do trabalho, alterando as suas relações e, consequentemente, aumentando as demandas no processo de trabalho do assistente social. Essa alteração está mudando o modo de vida da classe trabalhadora, que busca pelo serviço do assistente social devido ao estilo de vida ter so- frido alteração e muitas vezes vivenciando a pobrezaextrema. Outro ponto reflexivo a ser considerado é que o Estado, em nome do capital, não só interveio na agricultura, mas em vários departamentos de produção. Mudou o trabalho e o estilo de vida dos trabalhadores da indústria urbana e secundária. 24UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3.2 As Condições de Trabalho e Respostas Profissionais A pressão da população usuária sobre a demanda dos serviços está cada vez maior, isso devido ao aumento da pauperização e a falta de recurso em algumas instituições prestadoras de serviços sociais, que acaba inviabilizando o trabalho dos assistentes so- ciais, principalmente nos serviços mais necessitados, como a saúde; educação; habitação e entre outros. Isso aumenta o processo de seleção em relação aos atendimentos, o que torna os direitos sociais pouco acessíveis. Mediante a essa restrição quanto à capacidade de atendimento, o profissional do Serviço Social se vê cada vez mais restringido na atuação, executando um trabalho bu- rocrático, com uma visão de favoritismo, em que tanto o empregador quanto o usuário do serviço acabam tendo a visão “moça boazinha”. Com isso o assistente social acaba tendo dificuldade em exercer o seu trabalho enquanto profissional capacitado e especializado. Para entender sobre a restrição quanto à capacidade no atendimento, a autora Iamamoto (2012) destaca que, antes, os critérios em relação à provisão de cesta básica era o desemprego, no entendo como esse fator tem aumentado muito nos últimos anos e o valor dos alimentos também aumentaram, acabou tendo outros critérios quanto ao rece- bimento do benefício, e um deles é a pobreza extrema. Com isso pode-se considerar que os direitos dos trabalhadores estão se tornando invisíveis; fora os profissionais que ficam impossibilitados de trabalhar pela falta de recursos. Nesse tipo de situação fica evidente o anseio em relação ao papel do assistente social mediante a dificuldade de planejar e executar propostas de trabalho. Essa realidade instável, principalmente no serviço público, os profissionais não de- vem fazer parte e/ou deixar-se abater. Não devemos criar impasses ou desilusões do fazer 25UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade profissional, pelo contrário, os profissionais precisam superar a posição fatalista e aquelas visões idealizadas. Nessa perspectiva, a realidade se torna um obstáculo e isso acaba tornando o trabalho impossível e o motivo é porque se tem uma visão da realidade ideal, que nem sempre condiz com a história atual. Ou seja, tornando impossível os processos econômicos, políticos e culturais que o constituem, nomeadamente seus desafios espor- tivos e oportunidades de emprego e às vezes, acaba sendo esquecido que as mudanças nesta estrutura não dependem apenas do fazer profissional. Cabe destacar que essa não é a única maneira possível em relação à prática profis- sional, existem outras forças sociais e políticas a que podemos nos unir, como profissionais e cidadãos. Essas forças advém da luta pelos direitos sociais já conquistados e a busca pela participação dos usuários e das Organizações da Sociedade Civil. Nós, assistentes sociais, temos dado respostas importantes a esse respeito, ou seja, da direção do nosso campo de trabalho. Tendo em vista a história e a conexão estru- tural do nosso trabalho sob assistência pública é decisivo o papel em garantir os direitos já conquistados pela Constituição Federal, de 1988. Demonstrando, assim, não estar imobilizado, mas, acreditando ser possível exercitar nossa cidadania, zelando pelo apro- fundamento e consolidação do processo democrático, cujo rumo depende, decisivamente, das manifestações por parte da sociedade civil. SAIBA MAIS “O discurso que trata a assistência como um direito partícipe do processo de constitui- ção da cidadania, enfatizando a sua função redistributiva de renda, tem sido repetido, de forma inconseqüente e superficial, por vezes usado como um passe de mágica, capaz de ‘livrar’ o Serviço Social do estigma da pobreza, atribuindo um verniz mais ‘moderno’ à profissão. Esse discurso, ao abstrair do debate a realidade da vida do público que tem sido alvo das políticas assistenciais - carente de condições mínimas de defesa da própria vida - pode ser fonte de ilusões e de desvios de rota, colocando em xeque as pretensões e resultados anunciados”. Fonte: Iamamoto (2012, p. 162 - 163). 26UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Caro(a) aluno(a), como mencionado anteriormente, pode causar a subdivisão entre política e economia na análise de políticas sociais para o reino da distribuição de riqueza, levando a desigualdade na produção, o que torna os direitos vistos somente no âmbito da política. Resultando em provisões para medidas baseadas em desvios críticos do sistema ao implementar políticas públicas de assistência, ou seja, se ajudar obtenha tratamento “sa- tisfatório” por parte do país a partir dos seguintes métodos: por meio da alocação racional e eficaz de recursos é possível realizar uma avaliação equilibrada da gestão da pobreza e pelo conjunto de medidas própria e burocrática da administração, que pode conduzir a realização a cidadania e a política social e por si só não bastam para torná-la efetiva. É importante destacar que o debate sobre a assistência merece ser aprofundado para que ser capaz de se concentrar em propostas não imaginárias que reconhecem limitações estruturais de qualquer política de ajuda em um país de alta concentração de terra e capital não signifique a exclusão social de grande parte da população e o direito básico de sobreviver. 27UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade e espero que os estudos apreendidos tenham auxiliado quanto ao entendimento do trabalho profissional na contemporaneidade, pois se trata de um assunto que deve ser discutido constantemente pela categoria profissional. As mudanças na sociedade implicam no fazer profissional e ter o entendimento dessas mudanças é o que faz a diferença no momento da atuação nos diversos campos de atuação. Para que os assuntos sejam fixados vamos fazer alguns resgates dos principais pontos abordados nesta unidade, mas quero aqui deixar o convite para que busque outras fontes de pesquisas e leia o livro da autora Iamamoto: O serviço Social na Contempora- neidade: trabalho e formação profissional, pois, além de ser um livro importante para a categoria profissional, foi por meio dele que extrai o conteúdo desta unidade. Acredito ser de grande relevância para o seu processo de formação. Pois bem, na primeira parte da unidade foram apresentados três aspectos reflexivos que considero importantes e que devem sempre acompanhar você no momento da atua- ção, principalmente por ter estudado nas disciplinas de Fundamentos Históricos Teóricos Metodológicos do Serviço Social sobre a origem da profissão, a qual destaca a trajetória dos profissional, principalmente na relação conservadora com base da igreja católica e o rompimento desta doutrina avanço a uma profissão com bases teóricas mais precisas. E ao analisar toda a trajetória e entendo que nos dias atuais o Serviço Social é con- siderado uma profissão liberal regida por um Código de Ética Profissional e com um Projeto Ético Político que auxilia os profissionais no momento da atuação para que não tenha uma postura conservadora, executando tarefas rotineiras e para isso preciso ter compreensão do fazer profissional para que consiga realizar o trabalho rompendo com a visão endógena enraizado na profissão. Entender que a profissão não é sinônimo de “ajuda” é o que irá fazer a diferença no momento da atuação profissional. Mesmo que o mercado de trabalho profissional passe por mudanças e os campos de atuação sejam ampliadosdevido às diversas demandas ad- vindas da sociedade e, consequentemente, surjam as burocracias, é preciso ter em mente que o fazer profissional depende de nós para fazer a diferença na sociedade. 28UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade LEITURA COMPLEMENTAR (...) O Movimento de Reconceituação no Brasil pode ser entendido como um conjunto de características novas que o Serviço Social articulou, rearranjando suas tradições e sua assunção do contributo de tendências do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se da instituição de natureza profissional, dotada de legitimidade prática, com res- postas às demandas sociais, à sua sistematização e validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais (NETTO, 1994). Foi também um processo global que envolveu toda a profissão em decorrência da laicização, implicando a construção de um pluralismo profissional, porém sem atenuar as contradições do cariz comum às suas vertentes. O esforço de validação teórica Netto (1994) procurou dar fundamento sistemático a todos os componentes do processo profis- sional (análises, diagnósticos etc.) e recorreu a um elenco de fontes teóricas, ideológicas e culturais para operar aquela fundamentação. Para além do esforço de validação teórica, cabe destaque, no Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, a instaura- ção do pluralismo teórico, ideológico e político questionando a exclusividade da tradição positivista. Tal questionamento foi possível em face do momento conjuntural. O processo de declínio da ditadura civil-militar abre fendas significadas a outras duas vertentes que, no Seminário de Sumaré, realizado pelo CBCISS, no período entre 20 e 24 de novembro de 1978, se encontra numa situação de abertura, com certeza for- çada (considerando a pressão de profissionais que estavam havia tempos na luta pela redemocratização da sociedade brasileira e pela superação não só do tradicionalismo na profissão, mas também do conservadorismo), para a introdução, explícita do marxismo, que em tempos de chumbo não podia sequer ser nomeado e seus adeptos, reunidos em uma pequena vanguarda que catalisou o chumbo repressivo desse período e que manteve altiva a relevância do pensamento de Marx na e para a profissão. Esse processo não ocorreu sem problemas, e vários estudos já foram realizados a respeito da aproximação e apropriação do marxismo pelo Serviço Social. Cabe destacar o estudo realizado por Netto (1994). O Seminário de Sumaré (1978), realizado sob o apagar das luzes da hegemonia burguesa, manifestou-se principalmente (não mais exclusivamente) por meio da tese de livre-docência de Ana Augusta de Almeida (1978), depois publicada, e apontou uma “nova 29UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade proposta” para o Serviço Social. Na dialética entre continuidade e ruptura com o passado profissional, percebeu-se, nessa perspectiva, que apesar de apresentar elementos renova- dores, ainda ponderava a herança profissional de cunho religioso e conservador do lastro do Serviço Social europeu. E isso num momento em que posturas conservadoras encontravam grandes difi- culdades de cristalização na (auto)representação profissional, em face de dois importantes elementos que rechaçam qualquer tentativa de resgate do tradicionalismo: a laicização profissional e a crescente ponderação de tendências católicas de cunho anticapitalista. No entanto, existiam núcleos no Serviço Social que estavam interessados num empreendimento restaurador. Tais núcleos deveriam operar com o fito de resistir às modifica- ções trazidas pela proposta modernizadora e de aproveitar o insuperável lastro conservador, associado aos novos dilemas prático-operacionais não resolvidos por aquela perspectiva. Por outro lado, procedia também aproveitar o clima sociocultural em que dimensões psicológicas e individuais ganham destaque na trama das relações sociais, permitindo o resgate das tradicionais práticas face to face, além de neutralizar as vertentes que recorriam aos influxos do pensamento crítico-dialético. A nova roupagem do conservadorismo exigia e valorizava a elaboração teórica para as práticas profissionais, criticando os substratos recolhidos das Ciências Sociais. Em síntese, tratava-se da rejeição dos padrões teórico-metodológicos da tradição positivista considerados inadequados para apreender a existência humana. A explicação do “pensamento causal” deveria ser substituída pela compreensão, através de uma vinculação com o pensamento fenomenológico. Os valores da “Reatualização do Conservadorismo” eram os cristãos, e os objetivos constituíam um repúdio às práticas ajustadoras, dando prioridade à “transformação social”, pela via exclusiva do indivíduo (NETTO, 1994). O Seminário de Sumaré (assim como o IV Seminário de Teorização do Serviço Social realizado em Alto da Boa Vista, entre os dias 5 e 9 de novembro de 1984) teve um número representativamente menor de profissionais, em face dos seminários de Araxá e Teresópolis (CBCISS, 1980). Os conferencistas e os temas das conferências em Sumaré também pos- suíam uma característica diferenciada e que até então não tinham tido espaço de debate no interior da profissão, desde as primeiras manifestações do Movimento de Reconceituação. O seminário foi dividido em três direções teóricas e metodológicas: positivismo, fenomenologia e a “dialética”. Houve aqui um novo direcionamento. A modernização da pro- fissão não era mais referendada numa única vertente, sendo que a vertente modernização conservadora participou desse seminário com pouca expressão. 30UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade O caminho para elucidar essa abertura teórica oferecida pelo CBCISS consistiu na movimentação e rearticulação dos assistentes sociais em face do relaxamento da opressão, característica do Estado burguês nesse período, tendo em vista a política de reforma do próprio governo militar, autocrático e burguês. O segmento resistente, questionador e de vanguarda da profissão denunciava a direção modernizadora e conservadora em suas posições e formulações. Por esse motivo, é patente a inflexão do CBCISS, inaugurando a interlocução plural, motivada pelo envol- vimento da profissão no debate e no enfrentamento político, pressionando por mudanças na conjuntura brasileira, ao empurrar para a frente a busca da autonomia da democracia brasileira e de marcar posição na recusa do desalento da perspectiva modernizadora. (...) Fonte: Aquino (2019, p. 572 - 574). 31UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO 01 Título: O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e for- mação profissional. Autor: Marilda Villela Iamamoto. Editora: Cortez. Sinopse: Este livro comporta uma nova e inquietante agenda de questões para o trabalho e para a formação profissional do as- sistente social. O Serviço Social sente hoje os impactos de uma nova conjuntura, que lhe coloca o desafio de repensar a formação profissional em tempos de novas demandas e de investimentos. LIVRO 02 Título: O Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profis- sionais. Autor: Autores diversos. Editora: Editado pelo CFESS e ABEPSS. Sinopse: este livro reúne textos que abordam uma temática es- sencial ao trabalho dos(as) assistentes sociais e para a formação de estudantes de Serviço Social e, certamente, será uma referên- cia obrigatória nos debates sobre as competências e atribuições profissionais no âmbito das políticas sociais e na realização de direitos. FILME/VÍDEO Título: À Procura da felicidade Ano: 2006 Sinopse: Em À Procura da Felicidade, Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda (Thandie Newton),sua esposa, decide partir. Chris agora é pai solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith), seu filho de apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contra- tado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão. 32UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade WEB Caro(a) aluno(a), o VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais que aconteceu em 1992 foi um marco para a categoria. Mesmo com o áudio baixo, vale a pena assistir. Link: https://www.youtube.com/watch?v=WM7b34IIEGg 33 Plano de Estudo: ● A formação profissional na contemporaneidade. ● O debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do marxismo. ● Política de Prática Acadêmica: o método BH. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos; ● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação; ● Identificar os aspectos legais da contabilidade; ● Compreender as características da informação e quem as utiliza. UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 34UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), esta é a segunda unidade da apostila, que irá estudar sobre o processo formativo contemporâneo. Para a sua compreensão, o assunto foi dividido em três partes, explanando sobre a formação profissional na contemporaneidade; o debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do marxismo; e a política de prática acadêmica: o método BH. Nesta unidade abordarei assuntos e temas importantes para entender o processo formativo em Serviço Social. Para isso utilizarei como base principal o livro Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional, de Marilda Villela Iamamoto, e, como forma de direcionar você para a leitura e entendimentos, destacarei alguns pontos importantes ao longo das próximas páginas. Na primeira parte você irá estudar sobre a reformulação do currículo mínimo por meio dos debates advindos da categoria, destacando os desafios encontrados para a reconstrução do projeto de formação, as conquistas e dilemas nos anos de 1980 e as exigências e perspectivas do projeto de formação profissional na contemporaneidade. Já na segunda parte será abordado o processo formativo profissional a nível da herança marxista, que esteve em consonância com o Movimento de Reconceituação con- siderado como um legado profissional; destacando o início da formação em Serviço Social, os motivos que levaram esse movimento na categoria, tendo como ênfase o Movimento de Reconceituação no Brasil e a perspectiva crítica dialética que levou a vários debates por meio dos Congressos. Nesta parte será destacado o III Congresso Brasileiro de Serviço Social, que aconteceu no ano de 1979, conhecido como Congresso da Virada. A partir dos temas abordados é necessário repensar no processo formativo. Por fim, a terceira parte, em que será realizada uma análise sobre a prática aca- dêmica da Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora; por meio das resoluções sobre as Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, saiu na frente e se fez necessário um movimento por meio dos professores e alunos para entender as diretrizes e a matriz curricu- lar do processo formativo. Assim, buscou-se aprofundar nos fundamentos e as dimensões da política e prática acadêmica para entender o processo formativo na contemporaneidade. Desejo uma boa leitura! 35UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 1. A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE Caro(a) aluno(a), para pensar a formação profissional nos dias atuais, é preciso refletir sobre temas discutidos na atualidade, além de pesquisar e decifrar as novas de- mandas que envolvem o Serviço Social. Mas é necessário que os profissionais busquem se aprofundar em teorias e informações para subsidiar a criação de propostas no ato da atuação profissional, sendo capaz de elaborar programas, projetos e formular e implemen- tar as políticas sociais para atender as necessidades da sociedade. Para entender as discussões da categoria acerca da formação profissional na con- temporaneidade, é preciso ter em mente que houve uma reformulação no currículo a partir de um crítico debate envolvendo as unidades de ensino, por meio dos professores, alunos e profissionais, dirigido pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABEPSS). O objetivo foi a construção e implementação de um novo projeto de formação profissional que atribuísse as três dimensões – ensino, pesquisa e extensão –; o intuito era incorporar o Serviço Social no meio acadêmico. De acordo com a Iamamoto (2012), a proposta do debate foi dar continuidade ao processo formativo, rompendo com qualquer visão endógena que enfraquece a categoria, preservando os avanços já conquistados e identificando as mudanças no mercado do trabalho, principalmente nas relações entre o Estado e a sociedade. Com isso, a forma- ção profissional se manifesta a partir de novas tendências e condições decorrentes do processo social, contribuindo em relação à construção de respostas consideradas sólidas 36UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade que antecipam as particularidades das diversas expressões da questão social no mundo da sociedade capitalista. Esse é um dos requisitos para garantir a atualização da profissão, e é a condição de que sua sociedade necessita, ou seja, a continuidade de sua reprodução no mercado de trabalho capitalista e a ampliação de seu espaço profissional. Nesse aspecto, os requisitos de formação profissional devem estar ligados ao mer- cado de trabalho, detectando os problemas sociais e expressando as necessidades postas na sociedade, principalmente as tendências no processo de acumulação capitalista e política governamental. É importante que as contradições e dificuldades decorrentes das desigualda- des e as lutas de classes sejam pontos de discussões e o meio para entender os aspectos da exploração e dominação do capital, buscando respostas acerca do fazer profissional. Desse modo, a formação profissional passa a ser a condição para a manutenção da sobrevivência do Serviço Social e, assim como qualquer outra profissão, se torna inscrita na divisão social e técnica do trabalho. A reprodução depende de sua utilidade social, ou seja, de sua capacidade de atender as necessidades da sociedade sendo esta a fonte de suas demandas (IAMAMOTO, 2004). Foi a partir destas reflexões que a formação profissional precisou de uma reformu- lação que pudesse ser consistente com o novo estado da demanda profissional no mercado de trabalho, detectando e entendendo as necessidades da sociedade; precisando de profissionais competentes para responder de forma crítica e criativa aos desafios trazidos por profundas mudanças no processo de produção e no país, principalmente no impacto na formação das classes sociais, o que de certa forma apresenta-se com um desafio na reconstrução do projeto da formação profissional. 37UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 1.1 Os Desafios na Reconstrução do Projeto de Formação Profissional Vivenciamos grandes transformações no mundo contemporâneo, entre essas modificações temoso modelo de produção e acumulação capitalista que traz profundas alterações na sociedade e uma reestruturação no governo e nas relações com a classe trabalhadora. Essas transformações são iminentes, acompanhado a um claro ajuste de fundos públicos, favorecendo a sociedade capitalista, sendo propícios à reprodução do trabalho, retraindo os investimentos governamentais para a seguridade social e o emprego. Esse processo reflete na reorganização da política industrial e neoliberal caracterizada pelo modelo de regulação econômica internacional fordista/keynesiana, como mostrar refração clara no processo de trabalho (IAMAMOTO, 2012). Caro(a) aluno(a), é por meio desse contexto que se pode entender o debate em todos os campos culturais pós-modernismo que começou na década de 1970. Observado no mundo contemporâneo, o enfrentamento da crise e o próprio processo de acumulação capitalista, que a autora destaca como as mudanças no mundo do trabalho, apresentando novos desafios e considerando a formação profissional de assistentes sociais como algo importante. Nas palavras de Harvey (1992) a dificuldade em conter as contradições inerentes ao capitalismo é entendida como a rigidez do capital fixo, ou seja, este sistema acaba tendo o controle do trabalho e do mercado, com isso tem-se o aumento nos indicadores em relação a produtividade e a elevação da taxa de lucro do capital, além do apoio do Estado que por sua vez reduz os fundos fiscais para apoiar o chamado “estado de bem-estar”, sendo responsável por fornecer e implementar comportamentos sociais que podem corrigir a exclusão social e as condições para o bem coletivo, legitimando o próprio Estado. Desta forma, Iamamoto (2012) destaca que é preciso buscar reverter o efeito desse processo que acaba causando diversos problemas sociais, em outras palavras, é o mo- mento de racionalizar a produção e a industrialização, analisando os ajustes estruturais e 38UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade fortalecendo o trabalho, questionando sobre a produção e o consumo em massa advinda pelo padrão fordista, que traz não apenas a mudança tecnológica, mas a introdução de novas linhas de produtos, mercados e liquidez regional de capital, tendo funcionários fáceis de controlar, a consolidação de capital e medidas destinadas a acelerar o turnover. Para Harvey (1992), a flexibilidade do fluxo de trabalho; mercado de trabalho; produtos e métodos de consumo são características do departamento de produção, novo método de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados, especialmente altas taxas de juros para fortalecer negócios, tecnologia e inovação organizacional. Com isso, a acumulação flexível envolve mudanças rápidas e o desenvolvimento desequilibrado entre departamentos e regiões, criando um extenso movimento para o emprego, bem como novas indústrias subdesenvolvidas. Neste aspecto, Tapia (1994) destaca que as grandes empresas acabaram estabe- lecendo um processo horizontal com um modelo mais enxuto, que criou uma rede ao seu redor com pequenas médias e um processo mais mecanizado. Esse formato estabelecido em muitas empresas, principalmente de médio e grande porte, acarretou o processo de exclusão da mão-de-obra qualificada e, consequentemente, gerou o desemprego e a pre- carização nas relações de trabalho. A partir dessas estruturas implantadas na sociedade, a partir do sistema capitalista, é que há grandes implicações na construção estrutural no mundo do trabalho. SAIBA MAIS O processo de transformações, que vêm ocorrendo no “mundo do trabalho”, altera subs- tancialmente a demanda de qualificação de profissionais de Serviço Social, tornando necessário que adquiram uma centralidade no processo de formação profissional, por- que têm uma centralidade na contemporaneidade da vida social Fonte: Iamamoto (2012, p. 180). O desenvolvimento da formação profissional permite que os assistentes sociais compreendam criticamente a tendência atual de expansão capitalista e sua influência nas mudanças de funções tradicionalmente atribuídas à indústria e tipo treinamento necessário 39UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade para produção e nova modernização, bem como as formas de gestão do trabalho. Isso ilustra a mudança nas condições de trabalho e vida dos colaboradores considerado como alvo dos serviços profissionais, bem como as demandas alocadas no ambiente empresarial, por exemplo. É evidente que esses fatores são considerados como desafios na reconstrução do projeto de formação profissional, que deve estar claro quanto às mudanças referem-se à conversão da atuação no campo da política social, por meio do ajuste nas diretrizes e ações governamentais para responder uma crise compatível com os padrões neoliberais das organizações internacionais, especialmente do fundo monetário internacional. De acordo com Chauí (1995), a declaração neoliberal se encaixa como uma luva na política brasileira revivida aos preceitos da privatização, considerada como uma tradição autoritária exclusiva do estado. Com isso, temos uma sociedade hierárquica na qual há uma relação de controle quanto aos direitos sociais, o que pode caracterizar como um desafio na reconstrução da formação profissional. Não ter entendimento quanto aos pontos tratados até aqui pode gerar dificuldades no momento da atuação. 1.2 Conquistas e Dilemas no Projeto Profissional nos Anos 1980 Caro(a) aluno(a), considerando o debate sobre formação profissional na década de 1980 é que irei apresentar as principais conquistas e os problemas enfrentados pela categoria. Para entender esses pontos, aprofundarei nas teorias da Iamamoto, uma grande referência para compreender o processo formativo. Iamamoto (2012, p. 185) destaca que “os rumos assumidos pelo amplo debate efetuado na década de 1980 apontaram, ainda, para o privilégio - ainda que a não exclusivi- dade - de uma teoria social crítica, desveladora dos fundamentos da produção e reprodução da questão social”. Ou seja, desenvolver um perfil que pudesse configurar as habilidades 40UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade técnicas e políticas em resposta do fazer profissional de forma mais eficaz e competente, reunindo forças sociais para defender cabalmente a democracia. A primeira conquista a ser destacada é sobre a base do processo formativo que tem afirmado a necessidade de orientar a formação profissional para estabelecer uma imagem profissional com habilidades teóricas e críticas, adotando um método consistente em rela- ção ao enfrentamento dos problemas sociais enraizados na sociedade fundamentada em teorias de grandes filósofos. A outra conquista foi a construção de um novo Código de Ética Profissional, que está em vigor até os dias atuais, interligado ao processo de formação profissional dos as- sistentes sociais. Dentro das discussões sobre a formação profissional também se encontra como eixo necessário o contexto histórico, teórico e metodológico do Serviço Social que tem como base explicar o processo constitutivo da profissão. Tem como objetivo principal a compreensão da relação entre o Estado, a sociedade e o mundo do trabalho. Cabe destacar que a história social é considerada algo determinante para a trajetória do Serviço Social, expressamente ligado à prática e à teórica, Entende-se que a profissão está condicionada à totalidade, principalmente nas variantes relações que envolvem a produção/ reprodução da vida social, que, de certa forma, acaba sistematizando as ações profissionais. Em relação aos dilemas enfrentados pela categoria, refere-se primeiramente ao dis- tanciamento sobre as bases teóricas sistemáticas e metodológicas que envolvem a prática profissional cotidianamente. Como destacado por Martinelli (1993), o anseio de trabalhar
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