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GRIPE ETIOLOGIA E PATOGÊNESE A gripe, ou síndrome gripal, é uma das Infecções de Vias Aéreas Superiores (IVAS) autolimitadas com cura espontânea em cerca de 1 semana. É provocada pelo vírus influenza que podem ser do tipo A, B ou C (os quais possuem cepas sorotipicamente distintas). Entende-se por síndrome gripal o comprometimento de vias aéreas superiores (estruturas compreendidas da cavidade nasal até a epiglote) associado a pelo menos um sinal de comprometimento sistêmico Fatores de risco: aglomeração de pessoas (em especial creches), família numerosa, baixo nível socioeconômico, fumaça de cigarro, poluição ambiental, estresse psicológico, desnutrição, prematuridade ou baixo peso ao nascer, comorbidades e imunodepressão. Contágio: ocorre por meio do contato com partículas aéreas e mãos e objetos contaminados. O período de incubação é de 1 a 3 dias. Adultos começam a transmitir o vírus 24hrs antes do início dos sintomas e até 7 dias depois (crianças transmitem até 10 dias depois do início dos sintomas). O vírus influenza causa uma infecção lítica do epitélio respiratório com perda da função ciliar, produção diminuída de muco e descamação da camada epitelial (alterações que permitem invasão bacteriana secundária). Mecanismo imune: indução de citocinas que inibem a replicação viral (interferon e fator de necrose tumoral). QUADRO CLÍNICO Virose respiratória mais grave, com maior repercussão sobre o estado geral e maior risco de comprometimento das vias aéreas baixas e complicações. Queixas: criança “resfriada” ou “gripada”, coriza, rinorreia, “fungueira”, espirros, congestão e obstrução nasal. Hiporexia, dores musculares, cefaleia, prostração. Menos comum: tosse, irritação ou dor de garganta, congestão ocular, lacrimejamento. Raro: rouquidão, vômito e diarreia. Pode ocorrer broncoespasmo desencadeado pela virose respiratória nas crianças predispostas, sobretudo em lactentes e crianças pequenas. Bebês e lactentes: irritados, inquietos, choro fácil, dificuldade de dormir, pouco apetite e diarreia. Febre: alta, com calafrios, que dura cerca de 3 dias. *coriza e tosse seca tendem a persistir até 2-4 semanas depois do resfriado. EXAME FÍSICO Exame do estado geral, presença de febre, exame da orofaringe (normal, hiperemia, secreção, vesícula ou úlceras), rinoscopia, otoscopia, linfonodos de cabeça e pescoço, taquipneia, dispneia, ausculta pulmonar, estridor, dor à palpação da mastoide, aspecto da secreção nasal, presença de secreção purulenta na faringe. Afastar diagnósticos alternativos como: Rinofaringite estreptocócica: rinite mucosserosa, hiperemia de orofaringe com febre de 38 a 39,5°C em crianças pequenas e presença de impetigo nas bordas das narinas. Rinite alérgica: história familiar e pessoal de alergia, crises por exposição a alérgenos, predominância de prurido nasal, secreção clara e aquosa persistente ou recidivante, mucosa nasal pálida. Dengue: epidemiologia, presença de manchas vermelhas na pele. Observar sinais de complicações bacterianas (mais comumente otite, sinusite, bronquite, pneumonia): Recrudescência da febre após o 3º dia ou sua persistência além do 5º dia; Prostração significativa ou prostração em períodos afebris; persistência além da segunda semana ou recrudescência da rinorreia e a mudança para aspecto mucopurulento (pus tem cor acinzentada e não esverdeada); Reaparecimento de febre com tosse produtiva é um sinal de pneumonia; Obs.: amigdalite bacteriana é uma doença independente que ocorre sem a presença de sinais gripais como coriza, obstrução nasal ou tosse significativa. Observar sinais da síndrome respiratória aguda grave: Dificuldade respiratória (taquipneia e esforço) Queda de saturação Sinais sugestivos de instabilidade hemodinâmica; FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES DA GRIPE Menores de 5 anos, em especial menores de 2 anos; Presença de doença pulmonar crônica, doença cardiovascular, doença renal, hepática ou hematológica e distúrbios metabólicos; Imunodepressão; disfunção cognitiva, epilepsia, paralisia cerebral, síndrome de Down, doenças neuromusculares; Tuberculose; Uso de aspirina/salicilatos em longo prazo (risco aumentado de síndrome de Reye); RESFRIADO X GRIPE Resfriado Gripe Início lento dos sintomas Início abrupto É raro ter febre e ela é mais baixa Febre alta que dura de 2 a 4 dias Ausência de prostração Mialgia, prostração, hiporexia, inapetência e cefaleia Coriza e obstrução nasal desde o início Coriza, dor de garganta e tosse pioram depois do 3º dia Complicações menos frequentes Hiperemia conjuntival, dor ocular, lacrimejamento O ano todo Sazonal Rinovírus, adenovírus, vírus sincicial respiratório, parainfluenza, metapneumovírus, enterovírus. Influenza A e B DIAGNÓSTICO O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado na história, epidemiologia e exame físico. Teste rápido para influenza é dispensável para a condução do caso. TRATAMENTO Tratado apenas sintomaticamente. Orientações: Ingerir muitos líquidos (água, chás, sucos); Respeitar a falta de apetite e tranquilizar os pais, afirmando que o apetite voltará assim que a virose passar e que a criança voltará a comer e recuperará seu peso normal em poucos dias. Repouso relativo e definido sobretudo pela disposição e ânimo da criança. Ensinar os sinais de alerta que indicam a necessidade de reavaliação médica: persistência de febre alta por mais de 3 ou 4 dias, prostração ou comprometimento do estado geral nos intervalos afebris, queixa de dor de ouvido, dificuldade respiratória, persistência da tosse ou coriza por mais de 1 O a 14 dias sem evidência de melhora. Descongestionantes: estão associados à redução da congestão nasal. Anti-histamínicos de primeira geração (sedativos): apresentaram alívio da rinorreia e dos espirros. Já os de segunda geração não possuem efeito claro sobre a rinorreia, os espirros e a congestão nasal. *A associação de descongestionantes, anti- histamínicos e analgésicos foi relacionada com a redução de congestão nasal e rinorreia. Antitussígenos: úteis em alguns quadros específicos – tosses secas e sem produção de muco. Analgésicos e antitérmicos: Ibuprofeno: Febre baixa Febre alta 5 mg/kg/dose x 1 a 4 1 gota/ kg se 50mg/ml Meia gota/kg se 100 mg/ml 10 mg/kg/dose x 1 a 3 2 gotas/kg se 50 mg/ml Dose máxima: 40mg/kg/dia Efeitos colaterais: náusea, vômito, dispepsia, dor abdominal, erupção cutânea e tontura. Dipirona Não indicada para menores de 3 meses Oral EV ou IM 10 a 15 mg/kg/dose x 4 0,4 a 0,6 gotas/kg/dose x 4 Máximo: 25 mg/kg/dose 15 mg/kg/dose 0,03 ml/kg/dose Efeitos colaterais: náusea, vômitos, diarreia, erupção cutânea, sonolência, hipotermia. Paracetamol Efeitos colaterais: erupção cutânea, náuseas e vômitos, dor de garganta, febre, urticária, anemia. Uso crônico leva à lesão renal. Hepatotoxicidade (doses maiores que 4g/dia). Antivirais: no Brasil, os antivirais disponíveis e recomendados para o tratamento das infecções pelo vírus influenza são o oseltamivir e o zanamivir. Devem ser receitados nos seguintes casos: Síndrome gripal em pacientes com fatores de risco para complicações; Síndrome respiratória aguda grave; Sinais de agravamento; Oseltamivir: as mais frequentes reações adversas descritas são náuseas, vômitos, efeitos psiquiátricos e eventos renais e hepáticos.
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