Buscar

Artigo_Tabagismo

Prévia do material em texto

cardíaca e pressão arterial sistêmica entre 
jovens fumantes e não fumantes, praticantes e 
sedentários submetidos ao teste de esforço. 
Métodos: Foram selecionados 40 participantes 
do gênero masculino entre 20 e 30 anos de 
idade, divididos em quatro grupos: tabagista 
sedentário (GTS, n=10), tabagista atividade 
física (GTA, n=10), controle sedentário (GCS, 
n=10) e controle atividade física (GCA, n=10). 
Foram submetidos ao teste de esforço físico 
(Pro toco lo de As t rand) em b ic ic le ta 
ergométrica durante 12 minutos, com evolução 
gradual da carga. Foram avaliadas a 
frequência cardíaca e a pressão arterial no 
repouso, teste e pós-teste. Resultados: Houve 
um aumento significativo da frequência 
cardíaca de repouso dos grupos tabagistas na 
comparação com o controle (GTS: 97,2±23,21; 
GTA: 91,2±9,70; GCS: 85,4±8,49; GCA: 
68±7,64). Durante a realização do teste, notou-
se um aumento da frequência cardíaca 
gradativa em todos os grupos, com diferença 
significativa entre os grupos controle atividade 
e tabagista atividade na comparação com o 
grupo tabagista sedentário no terceiro e no 
nono minuto (minuto 3 - GTS: 118,6±17,78; 
GCA: 92,8±7,38. Minuto 9 - GTS: 143,8±17,98; 
GTA: 114,4±12,65. Conclusão: Conclui-se que 
ocorre uma melhor adaptação cardiovascular 
com a prática da atividade física em jovens 
fumantes.
*Professor Mestre da Universidade 
Paulista – Jundiaí e do Centro Universitário 
Padre Anchieta. Laboratório de cinesioterapia 
e mecanoterapia da Universidade Paulista – 
Jundiaí/SP – Brasil.
** 
Professora Espcialista da Universidade 
Paulista – Jundiaí
* * * Graduada em Fisioterapia pela 
Universidade Paulista – Jundiaí
**** Professora Mestre da Universidade 
Paulista – Jundiaí
*****
 Professor Doutor da FMUSP e da 
Faculdade de Medicina de Jundiaí
Correspondência:
Everson de Cássio Robello. Rua Ernestina 
de Castro Marcondes, 263. Parque da Represa. 
J u n d i a í , S ã o P a u l o , B r a s i l . E -
mail:everrobello@yahoo.com.br.
 
RESUMO
Introdução: As doenças cardiovasculares 
estão entre as principais causas de mortalidade. 
O tabagismo é um dos principais fatores para 
esta condição. A atividade f ísica tem 
demonstrado importantes benefícios à saúde, 
contudo, poucos trabalhos relatam a influência 
da atividade física em tabagistas. O objetivo 
desse trabalho foi comparar a frequência 
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
ARTIGO ORIGINAL
É possível a atividade física atenuar as alterações 
hemodinâmicas em fumantes?
Is physical activity possible to avoid hemodinamic changes in smoker?
Palavras-chave: Doenças cardiovasculares; Tabagismo; Estilo de vida sedentário; Exercício.
Key-words: Cardiovascular diseases; Tobacco use disorder; Sedentary lifestyle, Exercise.
Everson de Cássio Robello*
Carla Fernanda Vasconcellos Romanini**
Letícia Karen Souza Pinto de Toledo***
Larainy Balestra****
Cesar Alexandre Fabrega Carvalho***** 
 
21
22
ABSTRACT
 
Introduction: Cardiovascular diseases are 
among the main causes of mortality. Smoking is 
one of the main factors for these conditions. 
Physical activity has demonstrated important 
health benefits. However, very few studies 
report the influence of physical activity on 
smokers. The objective of this study was to 
compare heart rate and systemic blood pressure 
among young smokers and non - smokers. Active 
and sedentary subjects were submitted to the 
stress test. Methods: A total of 40 male 
participants aged 20 to 30 years old were 
divided into four groups: sedentary smoker 
(GTS, n=10), active smoker (GTA, n=10), 
sedentary non-smoker,(GCS, n=10) and active 
non-smoker (GCA, n=10). They were submitted 
to physical exercise test (Astrand Protocol) on a 
stationary bicycle for 12 minutes, with gradual 
load increase. Heart rate and blood pressure at 
rest, during the test, and post-test were 
evaluated. Results: There was a significant 
increase in the resting heart rate of the smoking 
groups in comparison with the non-smoking 
(GTS: 97,2±23,21; GTA: 91,2±9,70; GCS: 
85,4±8,49; GCA: 68±7,64). During the test, a 
gradual increase in the heart rate was observed 
in all groups, with a significant difference 
between the non-smoking and smoking active 
groups compared to the sedentary smoking 
group in the third and ninth minutes (minute 3 - 
GTS: 118,6±17,78; GCA: 92,8±7,38. Minute 9 - 
GTS: 143,8±17,98; GTA: 114,4±12,65). 
Conclusion: It is concluded that it is young 
smokers to practice cardiovascular physical 
fitness activity.
INTRODUÇÃO 
As doenças cardiovasculares estão entre as 
p r i n c i p a i s c a u s a s d e m o r b i d a d e e 
( 1 )
mortalidade . O tabagismo ativo e o 
sedentarismo são os principais fatores para esta 
condição. A fumaça do cigarro contém 
aproximadamente 4720 substâncias tóxicas, 
s e n d o a n i c o t i n a , o a l c a t r ã o e o s 
hidrocarbonetos aromáticos os principais 
componentes químicos responsáveis pelos 
(2,3)
efeitos prejudiciais à saúde vascular .
Atualmente, nos países desenvolvidos, o 
tabagismo lidera o índice de causas evitáveis de 
(4)
mortes . Os custos econômicos do uso de 
tabaco são igualmente devastadores e tem 
causado uma perda líquida global de US$ 200 
bilhões por ano. Cerca de 1,3 bilhões de 
fumantes no mundo, 84% vivem em países em 
desenvolvimento, uma proporção que tende a 
aumentar para 88% em 2025, totalizando 1,7 
 (4)bilhões no mundo . Mais preocupante ainda é, 
que dos 100 mil jovens que começam a fumar a 
c a d a d i a , 8 0 % s ã o d e p a í s e s e m 
desenvolvimento. Indica-se que 18,8% da 
população brasileira são fumantes e cerca de 
200.000 mortes/ano são decorrentes do 
tabagismo, provocando um prejuízo anual para 
o sistema público de saúde de pelo menos R$ 
338 milhões, o equivalente a 7,7% do custo de 
todas as internações e quimioterapias no país. 
O cálculo, feito pela primeira vez no Brasil, 
considerou o gasto com hospitalizações e 
terapias quimioterápicas em pacientes de 35 
anos ou mais, ví t imas de 32 doenças 
comprovadamente associadas ao tabagismo no 
 (5)ano de 2005 . De acordo com o Ministério da 
Saúde do Brasil, a prevalência do tabagismo da 
população brasileira entre 15 anos ou mais 
 (6)
variou de 12,9 a 25,2% .
Dentre os malefícios decorrentes ao ato de 
fumar, as alterações cardiovasculares merecem 
destaque. O tabagismo exerce grande 
influência nas doenças vasculares através de 
diversos mecanismos, incluindo disfunção 
endotelial, aumento dos níveis das moléculas de 
adesão ao fibrinogênio, aumento da agregação 
plaquetária e vasoconstrição arterial, com 
consequente aumento da frequência cardíaca 
 (7-9)(FC) e da pressão arterial sistêmica (PA) . 
Além disso, o tabagismo provoca mudanças na 
densidade nos componentes fibro-elásticos, 
s i m i l a r m e n t e a o p r o c e s s o d e 
(10,11)envelhecimento . Evidências anatômicas e 
funcionais mostram que a nicotina tem o poder 
de indução da angiogênese, acelerando o 
crescimento de tumores e ateromas. Estudos em 
modelos experimentais de aterosclerose 
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
23
demonstraram que a nicotina amplia o 
crescimento da lesão em associação com um 
(12)aumento de lesão vascular .
Entretanto, a associação do tabagismo com 
hábitos de vida pouco saudáveis, como o 
sedentarismo, pode potencializar e acelerar o 
aparecimento das alterações morfofuncionais 
e, consequentemente, maior susceptibilidade 
(13)das doenças cardiovasculares .
Já está claro na literatura que a atividade 
física regular promove benefícios ao sistema 
cardiovascular, promovendo aumento do fluxo 
sanguíneo e consequente aumento da 
oxigenação, melhorando a capacidade 
 (14,15)
muscular e aeróbica .
A atividade física é definida como qualquer 
movimento corporalproduzido pelos músculos 
esqueléticos que resulta em gasto energético, 
 (16)
medido em quilocalorias . A prática regular 
vem sendo descrita como estilo de vida 
( 1 0 )
saudável . Dupree e colaboradores 
demonstraram que a prática de exercícios 
regulares e o abandono do fumo, reduzem 
cons iderave lmen te o s r i s cos para o 
desenvolvimento de insuficiência cardíaca nos 
(17)idosos , porém, ainda não está claro na 
literatura a influência do tabagismo associado 
à a t i v i d a d e f í s i c a s o b re o s i s t e m a 
cardiovascular.
Sendo assim, o objetivo desse presente 
estudo foi comparar o comportamento da FC e 
da PA entre fumantes e não fumantes, 
praticantes e não praticantes de atividade física 
no exercício dinâmico.
MATERIAL E MÉTODOS
Ensaio clínico aprovado pelo Comitê de 
Ética em Pesquisa da Universidade Paulista-
UNIP (parecer nº 1.446.543) (ANEXO 1). 
Foram selecionados 40 participantes do 
gênero masculino com idade entre 20 e 30 anos, 
divididos em quatro grupos, a saber: GTS 
(Grupo Tabagista Sedentário, n=10, idade 
22,9±1,6), GTA (Grupo Tabagista Atividade 
física, n=10, idade 23,7±3,0), GCS (Grupo 
Controle Sedentário, n=10, idade 25,5±3,8) e 
GCA (Grupo Controle Atividade física, n=10, 
idade 24,5±3,9).
Foram incluídos os voluntários do sexo 
masculino entre 20 e 30 anos de idade, que não 
apresentassem alterações cognitivas para a 
realização dos testes, doenças neurológicas, 
dores agudas, deformidades, diagnóstico de 
hipertensão arterial sistêmica e uso de 
medicamentos. Os praticantes de atividade 
física deveriam exercê-la num período superior 
a seis meses ininterruptos, com frequência entre 
3 e 5 vezes semanais e duração entre 30 e 60 
minutos por atividade. Os selecionados 
fumantes deveriam ter entre 5 e 10 anos de 
tabagismo, com frequência de 10 a 20 cigarros 
por dia. Os sedentários não poderiam ter 
exercido nenhuma atividade física regular. Não 
foram incluídos os voluntários que não 
correspondessem aos critérios supracitados. 
Durante o teste, foram excluídos os voluntários 
que apresentaram fadiga muscular, quando 
atingiram 85% da frequência cardíaca máxima 
e/ou apresentaram sinais e sintomas de palidez 
e cianose.
Inicialmente, foi realizada uma reunião 
com os voluntários, onde foram apresentados o 
Projeto de Pesquisa, assim como os Termos de 
Consentimento Livre e Esclarecido, para que 
pudessem ler, esclarecer as possíveis dúvidas e, 
estando de comum acordo, preenchê-los 
devidamente. Os mesmos foram recolhidos 
sendo que uma via ficou com o voluntário.
A execução do teste foi realizada no 
Laboratório de Mecanoterapia da Clínica de 
Fisioterapia da Universidade Paulista, campus 
Jundiaí, e os horários dos testes consistiram 
entre 18hs e 20hs.
Foram aferidas a PA com estetoscópio e um 
esfigmomanômetro da marca Premium® e a FC 
através do frequencímetro (Polar®).
Foi entregue uma cartilha para a execução 
do teste, de acordo com a III Diretrizes da 
Sociedade Brasileira de Cardiologia Sobre o 
(18)Teste Ergométrico informando as normas e 
preparo para a realização do teste ergométrico. 
Assim, os voluntários foram alocados na 
bicicleta ergométrica (Moviment Technology 
BM 2800 PRO®) e aferidas a FC e a PA de 
repouso (pré-teste). Após a aferição foi 
instruído aos voluntários que iniciassem o teste 
ergométrico, foi utilizado o protocolo 
 (19)modificado de Astrand . 
O teste teve duração de 12 minutos, com 
velocidade entre 50 e 60 rotações por minuto 
(rpm), iniciou-se com carga 0,5 kilopound (kp) 
com aumento gradual da carga a cada três 
minutos. A FC e a PA foram aferidas momentos 
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
24
antes de cada aumento da carga. Após o término 
do teste, os voluntários permaneceram 
alocados na bicicleta ergométrica e as variáveis 
foram aferidas após 1, 5 e 10 minutos.
Os dados foram submetidos à análise de 
normalidade Kolmogorov-Smirnov. Diante da 
não normalidade dos dados, utilizou-se o teste 
não-paramétrico de Kruskal-Wallis. O nível de 
significância assumido para todos os testes 
 (20)
empregados foi de 5% . Os valores obtidos 
serão analisados estatisticamente no programa 
BioStat 5.0.
RESULTADOS
Após a coleta de dados de todos os grupos 
avaliados, observou-se um maior valor de FC 
de repouso do GTS e do GTA quando 
comparado ao GCA, o GCS obteve uma média 
que permaneceu entre o GCA e o GTA, porém 
não foi observado diferença estatística. 
Durante a realização do teste ergométrico, 
nota-se um aumento da FC gradativa em todos 
os grupos e em todas as mensurações (minutos 
3, 6, 9 e 12), esse aumento ficou mais evidente 
no GTS na comparação ao GCA, onde foi vista 
diferença em todas as mensurações avaliadas 
durante o teste, assim como a comparação do 
GTS com o GTA, onde foi observada diferença 
nos minutos 9 e 12. Nota-se, também, uma 
semelhança nos valores obtidos durante o teste 
ergométrico nos grupos praticantes de 
atividade física, tanto fumantes como não 
fumantes, indicando uma melhor adaptação 
cardiovascular em indivíduos treinados, mesmo 
em jovens fumantes. Relativo ao tempo de 
recuperação do teste (pós-teste), visualiza-se 
uma diminuição gradual da FC em todas as 
mensurações avaliadas (minutos 1, 5 e 10) em 
todos os grupos, a diminuição da FC foi 
observada no GCA na comparação ao GTS nos 
minutos 1, 5 e 10 pós-teste ergométrico (tabela 
1). 
Tabela 1: Valores da FC pré-teste, teste ergométrico e pós-teste (em batimentos por minutos – bpm)
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
25
Os resultados obtidos na PA sistólica de 
repouso não mostraram diferenças estatística 
entre os grupos. Durante o teste, observou-se 
um aumento gradual de todos os grupos e em 
todas as mensurações da PA sistólica, 
entretanto, não foi visto diferença significativa 
entre os grupos. Porém, cabe salientar que o 
presente estudo observou uma tendência de 
aumento da PA sistólica no GCA durante o teste 
e rgométr ico , e s ses resu l tados foram 
semelhantes aos do GTS (tabela 2). 
Tabela 2: Valores da PA sistólica pré-teste, teste ergométrico e pós-teste (em milímetros de mercúrio – mmHg)
Já os resul tados da PA diastól ica 
mostraram-se estáveis durante toda a avaliação 
em todos os grupos, não foi observada diferença 
estatística em todas as mensurações em todos os 
grupos avaliados (tabela 3).
Tabela 3: Valores da PA diastólica pré-teste, teste ergométrico e pós-teste (em milímetros de mercúrio – mmHg)
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
26
DISCUSSÃO
Frente os resultados encontrados, foi 
observado alterações entre os grupos na 
avaliação da FC. Em repouso, houve uma 
diminuição dessa variável nos grupos controle, 
com destaque na comparação entre o GCA com 
os grupos tabagistas. 
Estudos indicam que a maior parte dos 
efeitos do tabagismo na regulação autonômica 
cardíaca é atribuída à nicotina, agente ativo do 
c i g a r ro q u e d e s e n c a d e i a re s p o s t a s 
cardiovasculares agudas e crônicas, por meio 
de ativação simpática, decorrente da liberação 
(21)
de catecolaminas plasmáticas , excitação 
nervosa simpática muscular e aumento da 
sensibilidade de quimioceptores periféricos, 
consecutivo à estimulação dos receptores 
nicotínicos no sistema nervoso autônomo 
(22)(SNA) . 
Apesar das evidências, os mecanismos da 
excitação simpática relacionada ao tabagismo 
sobre a FC de repouso não são claros. Shinozaki 
 (23) (24)
e colaboradores e Haass e colaboradores 
sugerem três diferentes mecanismos possíveispara essa excitação: 1) estimulação direta do 
sistema nervoso central; 2) um efeito 
estimulatório na transmissão simpática 
ganglionar que leva a um subsequente aumento 
na atividade nervosa simpática eferente pós-
ganglionar; 3) efeito direto nas terminações 
 (23,24)
nervosas simpáticas periféricas . 
Nesse presente estudo, houve um aumento 
gradual da FC em todos os grupos durante o 
teste ergométrico e em todas as mensurações. 
Entretanto, foram encontrados valores maiores 
no GTS na comparação do GTA.
Esses achados podem ser explicados devido 
à maior conversão de lactato em glicose, 
durante o metabolismo do ciclo de Krebs que é 
maior em indivíduos tabagistas, o aumento 
dessa taxa de conversão diminui a quantidade 
de carboidratos no organismo, aumentando 
assim, a fadiga muscular precoce e redução da 
absorção de glicólise. Isso gera diminuição na 
concentração de ácido pirúvico, reduzindo a 
(25)taxa aeróbica de ATP .
Em adição, o aumento da FC pode ocorrer 
pela exposição ao exercício físico e a tentativa 
de suprir a demanda cardíaca, aumentado 
assim o débito cardíaco. No início da atividade 
física, o aumento do tônus adrenérgico leva ao 
aumento da FC, PA e da força de contração do 
miocárdio. Quando se aumenta a intensidade do 
exercício, o consumo de oxigênio se torna cada 
vez maior, proporcionando o aumento do débito 
cardíaco até atingir um nível máximo de 
esforço, no qual é alcançada a captação 
(26)
máxima de oxigênio .
Portanto, a exposição à fumaça do cigarro, 
produz uma remodelação cardíaca e prejuízo 
das funções cardíacas, dentre eles, as mudanças 
na densidade nos componentes fibro-elásticos, 
levando a vaso constrição periférica, 
 (27)
diminuição da saturação de O2 .
O comportamento da FC durante o teste 
ergométrico do GCA e do GTA foi semelhante. 
Esses achados indicam que durante uma 
atividade física, a resposta cardiovascular pode 
ser melhor em indivíduos que praticam 
atividade física regular, mesmo em fumantes. 
Esses dados corroboram com os achados de 
(28)
Park e colaboradores . A exposição ativa da 
fumaça do cigarro pode alterar a morfologia 
vascular, causando uma probabilidade de 
rigidez dos vasos arteriais. Entretanto, segundo 
pesquisas, jovens fumantes praticantes de 
atividade física não apresentaram rigidez 
vascular, mantendo a morfologia semelhante 
(28)aos indivíduos não fumantes e treinados .
Não foi observado alterações na PA 
sistólica de repouso entre os voluntários. 
Durante o teste ergométrico houve aumento da 
PA sistólica em todos os grupos e em todas as 
mensurações, foi observado um aumento 
importante dessa variável em todos os grupos. 
Esse fato pode ser explicado pelo fato dos testes 
ocorrerem no final do dia, onde a jornada de 
trabalho e as tarefas do cotidiano poderiam 
influenciar nessa variável. Já o comportamento 
da PA diastólica não foi verificado alterações 
durante as mensurações avaliadas em todos os 
grupos, mantendo-se estável. 
O aumento da PA e da FC decorrente do 
fumo tem sido relacionado com a ativação do 
sistema nervoso simpático com liberação de 
(29)
noradrenalina e adrenalina . Além disto, 
Laustiola e colaboradores evidenciaram 
ativação do sistema renina-angiotensina-
aldosterona em repouso e durante o exercício 
em fumantes quando comparados com não 
fumantes, sugerindo que este poderia ser um 
m e c a n i s m o q u e c o n t r i b u i r i a p a r a a 
vasoconstrição típica de artérias de fumantes 
c r ô n i c o s . E n t re o u t ro s m e c a n i s m o s 
correlacionados com o prejuízo hemodinâmico 
em fumantes incluem a inibição na produção de 
prostaciclinas pelas células endoteliais, a 
ativação plaquetária e a liberação de 
 (30)
vasopressina . 
O hábito de fumar causa constrição das 
artérias coronárias e aumento na demanda de 
o x i g ê n i o d o m i o c á rd i o . Ta i s e f e i t o s 
h e m o d i n â m i c o s c o n t r i b u e m p a r a a s 
consequências cardiovasculares adversas.
O número de anos-maço são co-variáveis 
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
27
relevantes para a avaliação de efeitos sobre a 
(28)saúde vascular . Sendo assim, não foram 
encontradas alterações significativas da PA, 
uma vez que os participantes desse estudo ainda 
não apresentam as complicações causadas pela 
nicotina, devido ao tempo de consumo e por 
serem indivíduos jovens.
 No presente estudo ocorreu uma 
diminuição da FC após o término do teste 
ergométrico em todos os grupos, porém o GCA 
apresentou melhores resultados frente os 
demais grupos, mostrando um melhor tempo de 
recuperação após uma atividade que exija 
esforço físico.
Estudos demonstram que fumantes que 
habitualmente realizam atividade física 
apresentam maiores níveis de fluxo sanguíneo 
periférico assim como demonstram que os 
efeitos deletérios do cigarro no sistema vascular 
podem ser minimizados através da prática 
 (31-33)
regular de atividade física .
Os conhecimentos dos efeitos do exercício 
físico sobre a circulação são de extrema 
importância para entendimento das alterações 
ocorridas na PA e FC. Durante a atividade 
física, alterações neuro-humorais, vasculares e 
estruturais estão relacionadas com a melhora 
na capacidade funcional e das condições 
 (32)clínicas dos indivíduos .
A formação de novos vasos sanguíneos 
(angiogênese) depende de estímulos mecânicos 
e moleculares. Durante os exercícios, os fatores 
estimuladores da angiogênese são a hipóxia e o 
aumento do fluxo sanguíneo vascular. A hipóxia 
induz o fator de crescimento endotelial vascular, 
um potente estimulador de mitose às células 
endoteliais que têm seus níveis aumentados 
durante o exercício. Os fatores mecânicos 
podem ser considerados o aumento do fluxo 
sanguíneo, pois é acompanhado do aumento de 
tensão da parede capilar, devido às mudanças 
de comprimento dos miômeros nos mecanismos 
de contração e relaxamento, porém, acredita-se 
que o fluxo sanguíneo não seja o fator 
desencadeante da angiogênese, e sim a 
produção de óxido nítrico, produzido pelo 
 (24)endotélio durante o exercício .
A prática de atividade física regular produz 
um efeito cardioprotetor que pode ser 
justificado pela diminuição do tônus simpático 
vascular, com consequente redução da 
resistência vascular periférica e do débito 
cardíaco de repouso. Ao longo prazo, o 
exercício físico reduz a pressão arterial sistólica 
e diastólica e o tabagismo por sua vez, tem 
efeitos contrários, levando a vasoconstrição e 
aumento de liberação de catecolaminas que 
 (35)
aumentam a pressão arterial e a FC .
A nicotina é altamente viciante e causa 
( 7 , 8 , 1 2 , 2 3 , 2 8 , 3 0dependência ). É claro que a 
interrupção do hábito de fumar associado à 
prática de atividade física são as melhores 
opções para a prevenção das doenças 
cardiovasculares. Todavia, o processo de 
abstinência do tabagismo é difícil. Sendo assim, 
a atividade física regular pode ter influência 
positiva como uma tentativa de atenuar os 
agravos devastadores que o tabagismo provoca 
nos órgãos e sistemas, principalmente no 
sistema cardiovascular.
CONCLUSÕES
De acordo com os dados obtidos através do 
estudo, conclui-se que a inatividade física 
associada ao tabagismo potencializa os efeitos 
deletérios sobre o aparelho cardiovascular, 
levando uma diminuição dos rendimentos 
f ís icos. Esses efei tos sobre o sistema 
cardiovascular influenciam a hemodinâmica, 
aumentando a probabilidade de doenças 
cardiovasculares. A associação da atividade 
física com o hábito de não fumar parece ser a 
m e l h o r f o r m a d e p re v e n i r d o e n ç a s 
cardiovasculares. Assim, conclui-se que que 
ocorre uma melhor adaptação cardiovascular 
com a prática da atividade física em jovens 
fumantes.
REFERÊNCIAS
1. Moreira TMM, Gomes EB, Santos JC. 
Fatores de risco cardiovasculares em adultos 
jovens com hipertensãoarterial e/ou diabetes 
mellitus. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(4):662-
9.
2. Gus I, Fischmann A, Medina C. 
Prevalência dos Fatores de Risco da Doença 
Arterial Coronariana no Estado do Rio Grande 
do Sul. Arq Bras Cardiol. 2002;78 (5):478-83.
3. Castro JABC, Epstein MG, Sabino GB, 
Nogueira LO, Staszko KF, Filho WA. Estudo dos 
principais fatores de risco para acidente 
vascular encefálico. Rev Bras Clin Med. 2009; 
7:171-73.
4. Kelly TN, Gu D, Chen J, Huang JF, Chen 
JC, Duan X, Wu X, Chen CS, Ele J. Cigarrete 
smoking and risk of stroke in the chinese adult 
population. Stroke. 2008;39(6):1688-93.
5. Pinto M, Uga MAD. Os custos de 
doenças tabaco-relacionadas para o Sistema 
Único de Saúde. Cad. Saúde Pública, RJ. 2010; 
26(6):1234-45.
6. Instituto Nacional do Câncer. Inquérito 
domiciliar sobre comportamentos de risco e 
morbidade referida de doenças e agravos não 
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito 
Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: INCA, 
2004.
7. Yang B, Li M, Chen B, Xu Y, Li TD. 
Deterioration of endothelial function and 
carotid intima-media thickness in Tibetan male 
adolescents exposed to second-hand smoke. J 
Ren in Ang io tens in A ldos terone Sys t . 
2012;13(4):413-9.
8. Chalouhi N, Ali MS, Starke RM, 
Jabbour PM, Tjoumakaris SI, Gonzalez LF, et 
al. Cigarette Smoke and Inflammation: Role in 
Cerebral Aneurysm formation and rupture. 
Mediators Inflamm. [periódico on-line] 2012: 
D i s p o n í v e l e m : 
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term 
= C i g a r e t t e 
+Smoke+and+Inflammation%3A+Role+in+C
erebral+Aneurysm+Formation+and+Rupture.
9. Bowker KA, Lewis S, Coleman T, Vaz 
LR, Cooper S.Comparison of Cotinine Levels in 
Pregnant Women While Smoking and When 
Using Nicotine Replacement Therapy. Nicotine 
& Tobacco Res. 2014;16(6):895–8.
10. Guo Y, Qumu SW, Nacar OA, Yang JY, 
Du J, Belen D, et al. Human brain arteriovenous 
malformations are associated with interruptions 
in elastic fibers and changes in collagen content. 
Turk Neurosurg. 2013;23(1):10-5.
11. Raveendran M, Senthil D, Utama B, 
Shen Y, Dudley D, Wang J et al. Cigarette 
suppresses the expression of P4Halpha and 
vascular collagen production. Biochem Biophys 
Res Commun. 2004 15;323(2):592-8.
12. Heeschen C, Jang JJ, Weis M, Pathak A, 
Kaji S, Hu RS et al. Nicotine stimulates 
angiogenesis promotes tumor growth and 
atherosclerosis. Nat Med.2001;7(7):833–43.
13. M a r t i n - Va l e ro R , Va rg a s A I C , 
Manzanares MTL. Effectiveness of the physical 
activity promotion programme on the quality of 
life and the cardiopulmonary function for 
inactive people: randomized controlled trial. 
BMC Public Health. 2013; 13: 127-35.
14. Garber CE, Blissmer B, Deschenes MR, 
Franklin BA, Lamonte MJ, Lee IM, et al. 
American College of Sports Medicine position 
stand. Quantity and quality of exercise for 
developing and maintaining cardiorespiratory, 
musculoskeletal, and neuromotor fitness in 
apparently healthy adults: guidance for 
prescribing exercise. Med Sci Sports Exerc. 
2011;43(7):1334-59.
15. Bernadet P. Benefits of physical activity 
in the prevention of cardiovascular diseases. 
CardiovascPharmacol. 1995;24(Suppl1)3-8.
16. Nelson ME, Rejeski WJ, Blair SN, 
Duncan PW, Judge JO, King AC, et al. Physical 
activity and public health in older adults 
recommendation from the american college of 
sports medicine and the american heart 
association. Cir Res. 2007;(116):1094-1105.
17. Dupree CA. Primary prevention of heart 
failure: an update. Curr Opin Cardiol. 
2010;25(5):478-83.
18. Meneghelo RS, Araújo CGS, Stein R, 
Mastrocolla LE, Albuquerque PF, Serra SM, et 
al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. III 
Diretrizes da Sociedade Brasileira de 
Cardiologia Sobre Teste Ergométrico. Arq Bras 
Cardiol. 2010;95(5 supl.1):1-26.
19. McArdle WD, Katche FI, Katche VL. 
Fisiologia do Exercício- Energia, Nutrição e 
Desempenho Humano. 6. ed. Rio de Janeiro. 
Guanabara Koogan: 2008.
20. Zar J . Bio s ta t i s t ical analys is . 
Englewood Cliffs: Prentice-Hall; 1984. 
21. Haddad L, Kelly DL, Weglicki LS, 
Barnett TE, Ferrell AV, Ghadban R. A 
Systematic Review of Effects of Waterpipe 
Smoking na Cardiovascular and Resperatory 
Hea l th Outcomes . Tob Use Ins igh t s . 
2016;5(9):13-28.
22. Balakumar P, Kaur J. Is nicotine a key 
player orspectator in the induction and 
progression of cardiovascular disorders? 
Pharmacol Res 2009 Nov; 60(5):361-8
23. Shinozaki N, Yuasa T, Takata S. 
Cigarette smoking augments sympathetic nerve 
activity in patients with coronary heart disease. 
Int Heart J. 2008;49:261-72. 
24. Hass M, Kübler W. Nicotine and 
sympathetic neurotransmission. Cardiovasc 
DrugsTher 1996; 10:657-65. 
25. V e l o s o M , D r u m o n d 
MNSGT.Comparação da capacidade física de 
indivíduos sedentários tabagistas em relação a 
i n d i v í d u o s s e d e n t á r i o s n ã o -
tabagistas.ConScientiae Saúde. 2004;3:49-58.
26. Cho HM, Kang DR, Kim HC, Oh SM, 
Kim BK, Suh I. Association between Fibrinogen 
and Carotid Atherosclerosis According to 
Smoking Status in a Korean Male Population. 
Yonsei Med J. 2015 Jul;56(4):921-7
27. Bosco R, Demarchi A, Rebelo FPV, 
Carvalho T.O efeito de um programa de 
exercício físico aeróbio combinado com 
exercícios de resistência muscular localizada na 
melhorada circulação sistêmica e local: um 
estudo de caso. Rev Bras Med Esporte. 
2004:10(1):56-62.
28. Park W, Miyachi M, Tanaka H. Does 
Aerobic Exercise Mitigate the Effects of 
Cigarette Smoking on Arterial Stiffness? The 
J o u r n a l o f C l i n i c a l H y p e r t e n s i o n 
2014;16(9):640,4.
28
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712
29. Ussher MH, Taylor A, Faulkner G. 
Exercise for smoking cessation. Mental Health 
Phys Act. 2012;5:99–100.
30. Laustiola KE, Lassila R, Nurmi AK. 
Enhanced activation of the rennin-angiotensin-
aldosterone system in chronic cigarette 
smokers: a study of monozygotic twin pairs 
discordant for smoking. Clin Pharmacol Ther. 
1988;44:426-30.
31. Cox KL. Exercise and blood pressure: 
applying findings from the laboratory to the 
community setting. Clin Exp Pharmacol 
Physiol. 2006;33:868-71.
32. Nunes APOB, Rios ACS, Cunha G A, 
Barreto ACP, Negrão CE. Efeitos de um 
programa de exercício físico não-supervisiondo 
e acompanhamento à distância, via internet, 
sobre a pressão arterial e composição corporal 
em indivíduos normotensos e pré-hipertensos. 
Arq Bras Cardiol. 2006;86:289-96.
33. Rogers MW, Probst MM, Gruber JJ, 
Berger R, Boone Junior JB. Differential effects 
of exercise training intensity on blood pressure 
and cardiovascular responses to stress in 
boderline hypertensive humans. J Hypertens. 
1996;14:1369-75.
34. Mediano MFF, Aragão AHBM, Chame 
F, Barbosa JSO, BatistaLA. Efetividade de um 
programa de exercícios físicos sobre níveis 
tensionais em hipertensos controlados. 
Brazilian Journal of Biomotricity. 2008; 
2(1):78-88.
35. Almeida CC, Anjos ES, Pacheco FYR, 
Rodrigues KS. A fisiologia do exercício físico na 
estimulação da angiogênese em pacientes 
diabéticos com doença vascular periférica. 
Rev i s ta UNILUS Ens ino e Pesqu i sa . 
2012;9(17):21-26.
29
É possível a atividade física atenuar as alterações hemodinâmicas em fumantes? - Everson de Cássio Robello e cols.
Perspectivas Médicas, 30(1): 21-29, jan/abr. 2019. DOI: 10.6006/perspectmed.02012017.7324569712

Continue navegando