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Flávia Mapa – Turma X INTRODUÇÃO • Dissecção aórtica: Laceração da íntima, que resulta em uma dissecção na parede aórtica, formando uma falsa luz (lúmen falso) entre a camada íntima e a média, pela qual percorre o sangue; • Taxa de mortalidade elevada; • Dissecção aórtica: o Aorta ascendente: Mais comum entre 50-60 anos; o Aorta descendente: Mais comum entre 60-70 anos. • Hipóteses para dissecção aórtica: o Laceração primária da íntima; o Ruptura primária dos vasa vasorum (leva hemorragia da parede aórtica e subsequente ruptura da íntima); o Extensão da dissecção: Se dá pela pressão de sangue pulsátil dentro da aorta. • A dissecção pode ser localizada ou em toda a extensão da aorta; o Pressão arterial; o Forças de cisalhamento. • A distensão do falso lúmen faz a falsa luz da íntima comprimir o lúmen verdadeiro e diminuir seu calibre, podendo levar a síndromes de má perfusão. CLASSIFICAÇÃO QUANTO A LOCALIZAÇÃO DA DISSECÇÃO • Classificação de DeBakey: o Dissecção tipo I: Originam-se na aorta ascendente e se estendem pelo menos até o arco aórtico e, muitas vezes, até a aorta descendente; o Dissecção tipo II: Envolvem apenas a aorta ascendente; o Dissecção tipo III: Começam na aorta descendente; ▪ IIIa: Se interrompe acima do diafragma; ▪ IIIb: Se interrompe abaixo do diafragma. • Classificação de Stanford: o Dissecção tipo A: Envolve a aorta ascendente (com ou sem extensão para a descendente); o Dissecção tipo B: Não envolvem a aorta ascendente. ▪ Ex: Dissecção que envolve somente o arco aórtico, é classificada em tipo B. A aorta ascendente é próxima ao arco da aorta, enquanto a aorta descendente é próxima da artéria subclávia esquerda. • Observações: o 65% das dissecções ocorrem na aorta ascendente. QUANTO À DURAÇÃO DA DISSECÇÃO • Aguda: Menos de duas semanas; o Morbidade e mortalidade mais alta nas duas primeiras semanas, especialmente nas primeiras 24-48h. • Crônica: Mais de duas semanas. ETIOLOGIA Flávia Mapa – Turma X • Hipertensão: 75% de todos os pacientes com dissecção aórtica; o Alterações na estrutura da parede arterial, como espessamento da íntima, calcificação e fibrose da adventícia, podendo afetar a elasticidade e aumentar a rigidez, predispondo aneurisma ou dissecção. • Síndromes aórticas geneticamente deflagradas: Principalmente em pacientes jovens. o Síndrome de Marfan (SMF); ▪ 5% de todas as dissecções aórticas, especialmente em jovens. o Síndrome de Loeys-Dietz (SLD); o Síndromes familiares de aneurisma aórtico torácico (AATF); o Síndrome de Ehlers-Danlos vascular; o Valva aórtica bicúspide (VAB); ▪ 5-7% em pacientes com dissecções aórticas ascendentes, especialmente em jovens. • Doenças cardíacas congênitas: o Coarctação de aorta; o Síndrome de Turner. • Aterosclerose; • Doenças vasculares inflamatórias: o Arterite de Takayasu; o Doença de Behçet. • Uso de cocaína; • Iatrogênicas: o 5% das dissecções aórticas; o Exs: Cateterismo, stent, balão intra-aórtico, cirurgia cardíaca. • Traumas: o Raramente causam dissecção aórtica clássica. Geralmente levam a lacerações localizadas ou transsecção. • Gravidez: o Geralmente no fim da gestação ou início do período pós-parto; o Alterações hormonais na composição da parede aórtica e fatores hemodinâmicos. • Levantamento de peso: o Peso intenso, geralmente no contexto de aortopatia subjacente. • Estenose aórtica supravalvar; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - SINTOMAS • Dor: Principal sintoma, presente em 96% dos casos; o Quando iniciou? Flávia Mapa – Turma X ▪ Início súbito; o Qual a localização? ▪ Peito e/ou costas; ▪ Pescoço, garganta, mandíbula, cabeça – aorta ascendente; ▪ Costas, abdome, extremidades inferiores – aorta descendente. o Como é a dor? ▪ Aguda, intensa, lancinante, lacerante, cortante; ▪ Sensação de morte, de ser apunhalado no peito com uma faca, atingido nas costas com bastão de beisebol; ▪ Algumas podem ser caracterizadas como queimação no peito, pressão, dor pleurítica. o Qual a intensidade? ▪ Intensa; ▪ A intensidade máxima se dá no início do quadro. o A dor irradia? ▪ 17% dos casos ela segue o trajeto da dissecção ao longo da aorta, se irradiando do peito para as costas ou vice-versa. o Quais os sintomas associados? ▪ Sintomas relacionados a complicação da dissecção (síncope, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral). • Observações: o Insuficiência cardíaca congestiva: Ocorre na dissecção ascendente e é causada pela regurgitação aórtica aguda grave; o Síncope: Mais comum em dissecção aórtica ascendente. Geralmente associada a hemopericárdio, ruptura ou acidente vascular cerebral; o Dissecção aórtica indolor: Ocorre em pacientes com diabetes, aneurisma aórtico prévio e cirurgia cardíaca anterior. ACHADOS FÍSICOS • Muito variáveis, podendo passar quase despercebidos até parada cardíaca; • Sempre que houver suspeita de dissecção aórtica, mesmo na ausência de alguns achados, deve-se investigar; • Hipertensão está presente em 70% dos pacientes com dissecção aórtica aguda; o Principalmente em pacientes tipo B (não envolve a aorta ascendente); o Pacientes tipo A (muitos são normotensos ou hipotensos). • 50% dos pacientes estão hemodinamicamente instáveis; • 25% têm déficit neurológico • 20% têm tamponamento; • 6% necessitam de ressuscitação cardiopulmonar. PRINCIPAIS ACHADOS • Principais achados: Déficit de pulso, regurgitação aórtica, manifestações neurológicas - Mais característicos da dissecção da aorta ascendente. Vascular periférico • Déficits de pulso/isquemia de órgãos-alvo: o Causas: ▪ Obstrução estática: Extensão da dissecção, com o falso lúmen, para um ramo arterial pode comprimir o verdadeiro lúmen e limitar o fluxo sanguíneo; ▪ Obstrução dinâmica: Obstrução do fluxo da artéria por um prolapso da falsa luz da íntima; ▪ Compressão de artéria pelo falso lúmen expandido; ▪ Trombose arterial pós-obstrutiva e embolia arterial; ▪ Estado de baixo débito cardíaco. • Isquemia aguda do membro e síndromes de má perfusão: o Extensão da dissecção; o Alta taxa de mortalidade. Cardiovascular • Regurgitação aórtica: o Causas: ▪ Coaptação incompleta das cúspides aórticas; ▪ Prolapso da cúspide; ▪ Regurgitação preexistente, relacionada com aneurisma da raiz aórtica ou com valva aórtica bicúspide subjacente. • Hipotensão: Pode resultar do: o Tamponamento cardíaco; o Ruptura aórtica aguda; o Insuficiência cardíaca (regurgitação aórtica aguda grave). • Infarto agudo do miocárdio: o 1-2% dos pacientes; o Dissecção se estende para a artéria coronária (geralmente a direita – infarto agudo do miocárdio inferior). • Pericardite aguda: o Pode ocorrer derrame pericárdio ligeiro. • Tamponamento cardíaco agudo: Complicação grave. o Resultado da ruptura da aorta ascendente com hemopericárdio; o Desfechos desfavoráveis. Neurológico • Manifestações neurológicas: o Síncope: Muito comum (9-13% dos pacientes). Está relacionada com: ▪ Hipotensão aguda; ▪ Obstrução de vaso cerebral; ▪ Ativação dos barorreceptores cerebrais. o Acidente vascular cerebral – má perfusão cerebral; Flávia Mapa – Turma X ▪ Geralmente ocorre do lado direito, pois as artérias do lado esquerdo são mais suscetíveis a dissecção. o Isquemia medular – má perfusão medular; ▪ Paraparesia ou paraplegia. o Neuropatia isquêmica – má perfusão dos nervos periféricos; o Encefalopatia hipóxica – má perfusão cerebral; o Outras: ▪ Convulsões; ▪ Amnésia global transitória; ▪ Distúrbios de consciência e coma. Renal • Envolvimento da artéria renal: o Dissecção se estende para dentro da aorta abdominal; o 5-10% dos pacientes; o Isquemia renal, infarto, insuficiência renal ou hipertensão refratária.Gastrointestinal • Isquemia ou infarto mesentérico: o Extensão da dissecção; o Elevada morbidade e mortalidade; o 5% dos pacientes. • Hemorragia digestiva, hemoperitônio, choque hemorrágico fatal: Complicação grave. o Ruptura no nível da aorta abdominal. Pulmonar • Derrame pleural: o 20% casos – lado esquerdo. • Hemotórax agudo: Complicação grave. o Resultado de ruptura, ruptura contida ou vazamento associado à dissecção aórtica descendente torácica. ACHADOS LABORATORIAIS • Dímero D: Pacientes com dissecção aórtica aguda, tem níveis elevados de dímero D – útil para identificação. TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO • Métodos para diagnóstico: Tomografia computadorizada com contraste, ressonância magnética, ecocardiografia transtorácica e transesofágica, aortografia. • Radiografia e eletrocardiograma são inespecíficos. RADIOGRAFIA TORÁCICA • Pode dar o primeiro indício de diagnóstico, mas são achados inespecíficos; • Dilatações da aorta, deslocamento, alargamento; o Alargamento do mediastino (aorta ascendente); o Alargamento do botão aórtico; o Alargamento da aorta descendente. • Mais comum: Contorno aórtico anormal ou alargamento da silhueta aórtica (80-90% casos); Flávia Mapa – Turma X • Calcificação do botão aórtico – pode detectar uma separação maior que 1cm entre a calcificação da íntima e o tecido mole aórtico externo – “sinal do cálcio”; • Derrames pleurais – 20% dissecções. ELETROCARDIOGRAMA • Inespecífico; • Pode indicar complicações como a isquemia ou infarto do miocárdio – afastar a avaliação da dissecção – cuidado! • Complexos QRS de baixa voltagem (hemopericárdio ou pericardite). TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) • Modalidade usada com mais frequência; • TC helicoidal mais sensível; • Pode usar Doppler; • Conseguimos visualizar: o Dois lúmens distintos com a falsa luz da íntima visível; o Dois lúmens pelas diferentes velocidades de opacificação com o contraste; o Trombose no falso lúmen; o Envolvimento de ramos arteriais; o Hemopericárdio; o Hematoma periaórtico; o Ruptura aórtica. • Limitações: o Incapacidade para avaliar coronárias e valva aórtica de forma confiável; o Uso de contraste (nefropatia); o Artefato do movimento cardíaco. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA • Acurácia semelhante ou superior a TC; • Conseguimos visualizar: o Fluxo sanguíneo – diferenciar fluxo lento e coágulo, detectar regurgitação aórtica; o Morfologia dos vasos (associa angiorressonância com contraste gadolínio); ▪ Detecta e quantifica regurgitação aórtica. o Derrame pericárdico; o Ruptura aórtica; o Pontos de entrada e saída. • Limitações: o Demora – limitada no contexto de emergência; o Contraindicada a certos dispositivos implantáveis (marca-passo, desfibrilador) e outros implantes metálicos. • Acompanhamento a longo prazo: o Detalhamento da imagem e ausência de radiação ionizante. ECOCARDIOGRAFIA Ecocardiografia Transtorácica • Alta sensibilidade e especificidade para dissecção aórtica proximal, menos sensível para dissecção aórtica distal; • Suspeita: o Aorta dilatada; o Regurgitação aórtica; o Derrame pericárdico; o Falso lúmen da íntima; o Parede aórtica espessada; o Tamponamento cardíaco. Ecocardiografia Transesofágica • Sensibilidade e especificidade ainda maiores que a transtorácica; • Dependente do operador; • Pode não visualizar completamente a aorta ascendente distal e o arco aórtico proximal, mas avalia bem os restantes segmentos da aorta torácica; • Achados negativos não excluem; • Visualiza: o Laceração da íntima (75%-100% casos); o Diferencia lumens verdadeiro e falso; ▪ Verdadeiro: Lúmen menor, expansão sistólica, fluxo sistólico anterógrado, comunicação do lúmen verdadeiro para o falso durante a sístole, fluxo ecocardiográfico intensificado com contraste precoce e rápido. o Regurgitação aórtica (100% sensível); o Movimento da parede; o Função ventricular esquerda; o Derrame pericárdico; o Artérias coronárias proximais (identifica se estão envolvidas na dissecção). A – Dissecção aguda tipo A, o lúmen falso está presente na raiz aórtica dilatada. B – Lúmen falso imediatamente distal à valva aórtica, numa dissecção tipo A. Flávia Mapa – Turma X AORTOGRAFIA • Raramente usada para diagnóstico inicial; • Verifica-se: o Imagens de dois lumens; o Deformação ondulante do lúmen aórtico; o Espessamento da parede aórtica; o Envolvimento de ramos arteriais; o Regurgitação aórtica. SELEÇÃO DE UMA MODALIDADE DE IMAGEM • Geralmente, por estar disponível no contexto de emergência, a TC com contraste é a primeira escolha; o Deve-se balancear o risco de uso de contraste e nefropatia com o risco de não se usar, na ausência de ecocardiograma transesofágico ou RM, e as consequências potencialmente fatais da falha de diagnosticar a dissecção aórtica. ALGORITMOS DE AVALIAÇÃO • A beira leito detectaremos três características de alto risco, sendo que a presença de duas ou mais sugere fortemente dissecção aórtica. o Condição de alto risco: ▪ Síndrome de Marfan ou doença do tecido conjuntivo relacionada; ▪ História familiar de doença aórtica; ▪ Doença da valva aórtica conhecida (valva bicúspide); ▪ Manipulação aórtica recente; ▪ Aneurisma aórtico torácico conhecido. o Características da dor de alto risco: ▪ Dor torácica, nas costas ou abdominal, com início abrupto, alta intensidade, e qualidade cortante/lacerante/aguda/lancinante. o Características de alto risco no exame: ▪ Déficit de perfusão (de pulso, diferencial de pressão arterial, neurológico), sopro de regurgitação aórtica, hipotensão. Flávia Mapa – Turma X TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO INICIAL • Conduta: Deve ser feita ao mesmo tempo que o paciente é submetido à avaliação diagnóstica. UTI. o Estabilização do paciente; o Controle da dor; o Diminuição da pressão arterial (diminuir risco de ruptura); ▪ Pressão arterial sistólica: Deve ser reduzida para níveis de 100-120mmHg. o Diminuição do inotropismo (força de contração) – betabloqueadores. Redução da Pressão Arterial • Betabloqueadores: Via intravenosa (IV). Únicos usados com a PA normal – para reduzir ainda mais. o Esmolol: Bolus inicial 500 mg/kg e depois infusão contínua 50-200mg/kg/min; ▪ Monoterapia. o Labetalol: 20mg IV por 2 minutos e depois 40- 80mg IV a cada 15m e depois infusão contínua na velocidade de 2-10mg/min; ▪ Monoterapia. o Propanolol; ▪ Associado a nitroprussiato de sódio. o Metropolol. ▪ Associado a nitroprussiato de sódio. • Bloqueadores dos canais de cálcio: Usados quando têm contraindicação para betabloqueadores. IV. o Verapamil: Inotrópico e cronotrópico negativos; ▪ Monoterapia. o Diltiazem: Inótropico e cronotrópico negativos. 0,25mg/kg durante 2m e depois infusão contínua a velocidade de 5-15mg/h. ▪ Monoterapia. • IECA: Quando necessário mais agentes para reduzir a pressão. IV. o Enalapril; o Nitroglicerina. • Nitroprussiato de Sódio: Leva rápida redução da pressão arterial, mas pode aumentar a força de contração, devendo ser usado com um betabloqueador (propranolol ou metropolol). 20mg/min com titulação de 0,5 a 5mg/kg/min se necessário; • No caso de hipotensão: Fazer expansão de volume, pela possível presença de tamponamento cardíaco ou ruptura aórtica com hemorragia (mediastino, espaço pleural, abdome). • Contraindicação absoluta: o Vasodilatadores diretos: Aumentam a contratilidade cardíaca (reflexamente). ▪ Hidralazina, Minoxidil, diazóxido; o Nifedipina de ação curta. TRATAMETO DO TAMPONAMENTO CARDÍACO • Mecanismos mais comuns de morte em pacientes com dissecção; • Pacientes estáveis com dissecção tipo A e tamponamento: o Riscos da pericardiocentese ultrapassam os benefícios. • Pacientes que não sobreviverão até a cirurgia: o Pericardiocentesecom aspiração do fluido apenas o suficiente para estabilizar o paciente antes da cirurgia. TERAPIA DEFINITIVA • Dissecção aórtica tipo A: Envolve a aorta ascendente. o Cirurgia aberta: Tratamento de escolha; ▪ Corrige a laceração; ▪ Previne a ruptura pericárdica; ▪ Previne ou trata dissecção do óstio coronariano; ▪ Corrige regurgitação da valva aórtica; ▪ Restaura fluxo para dentro do lúmen verdadeiro; ▪ Corrige má perfusão; Flávia Mapa – Turma X ▪ Oblitera o falso lúmen distalmente. • Dissecção aórtica tipo B: Não envolve a aorta ascendente. o Pacientes estáveis, com dissecção não complicada: Tratamento não cirúrgico (altas taxas de mortalidade na cirurgia); o Pacientes com dissecção complicada, secundária a ruptura aórtica, dor intratável, isquemia de órgãos-alvo: Tratamento endovascular (mais seguro do que a cirurgia); ▪ Enxertos endovasculares: Menor morbidade e mortalidade comparado a cirurgia aberta de emergência (redirecionamento do fluxo para o lúmen verdadeiro e trombose do falso lúmen). TERAPIA E ACOMPANHAMENTO EM LONGO PRAZO • Dissecção aórtica tipo A: o Taxas de sobrevida variam entre 52% a 94% em um ano e 45% a 88% em cinco anos; o EM 10 anos varia de 30-60% e 20 anos 30%; o Sem a cirurgia a sobrevida é desanimadora – por isso a maioria defende o tratamento cirúrgico para o tipo A. • Dissecção aórtica tipo B: o Taxas de sobrevida variam de 56% a 92% em um ano e 48% a 82% em cinco anos sem tratamento endovascular; o Em longo prazo, a dissecção tipo B é pior do que a A. • Objetivos do tratamento em longo prazo: o Alvo de pressão arterial < 120/80mmHg; o Recomendado betabloqueadores mesmo na ausência de hipertensão (diminui a força de contração e estresse aórtico); o Bloqueadores da angiotensina podem proteger contra complicações aórticas tardias; o Interrupção do tabagismo e modificações dos fatores de risco para doença aterosclerótica; o Atividades isométricas (levantamento de peso) devem ser evitadas, pois elevam a pressão arterial e a tensão na parede aórtica; o Obtenção regular de imagens da aorta e de seus ramos para avaliar complicações, especialmente o alargamento aneurismático; ▪ Principalmente no arco distal e aorta descendente proximal (áreas de maior risco para aneurisma pós dissecção aórtica tipo A). Flávia Mapa – Turma X INTRODUÇÃO • Aneurisma aórtico: Segmento patológico de dilatação aórtica, que é propenso a expansão e ruptura; o Considerado aneurisma quando ocorre aumento do diâmetro de pelo menos 50% acima do esperado para um indivíduo não afetado da mesma idade e sexo. • Tipos de aneurismas: o Fusiformes: Acometem toda a circunferência aórtica – dilatação simétrica; o Saculares: Acometem uma porção da circunferência – como se fosse uma evaginação. • Pseudoaneurismas: Lesões que sangraram através da parede aórtica, resultando em um hematoma periaórtico contido em continuidade com o lúmen; o Resultam de trauma, ruptura contida de aneurisma aórtico, dissecção, úlcera penetrante. ANEURISMAS DA AORTA ABDOMINAL • Os aneurismas da aorta abdominal são o tipo mais comum de aneurismas aórticos; • São definidos como uma dilatação > 3cm de diâmetro; • Fatores de risco: o Sexo masculino (5x mais prevalente em homens do que mulheres); o Idade (maioria em indivíduos com mais de 60 anos); o Tabagismo; o Dislipidemia; o Enfisema; o Hipertensão; o Histórico familiar (20% dos pacientes com aneurisma da aorta abdominal têm histórico familiar). • Localização: o > 80% surge na aorta infrarrenal; o Aorta pararrenal; o Aorta visceral. Abaixo das artérias renais. PATOGENIA • A formação dos aneurismas da aorta abdominal está ligada a um processo de inflamação crônica; • O estresse hemodinâmico, a isquemia, processos autoimunes e a extensão da aterosclerose da íntima são fatores que fazem com que as células musculares lisas, contidas na camada média, mandem sinais recrutando células inflamatórias e causando sua entrada na camada média; • As células inflamatórias liberam enzimas degradadoras de matriz, causando degeneração de proteínas estruturais do tecido conjuntivo; • Além disso ocorre apoptose das células musculares lisas, responsáveis pela produção de elastina e colágeno – reparação do tecido conjuntivo dentro dos aneurismas; • Assim, ocorre uma falência mecânica da elastina da média e do colágeno da adventícia, causando dilatação e ruptura aneurismática. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS • Geralmente os aneurismas se desenvolvem por anos de forma insidiosa e assintomática, sendo descobertos por acaso em exames de imagem ou estudos de triagem; • O exame físico é insensível para a detecção de aneurismas aórticos abdominais, visto que a maioria deles são pequenos. Em pacientes magros, com aneurismas grandes (>5cm) a palpação abdominal pode revelar uma massa pulsátil epigástrica ou periumbilical; o 30-40% dos aneurismas aórticos abdominais são detectados no exame físico. • O primeiro sintoma pode ser o tromboembolismo, que se forma devido a um trombo mural associado aos aneurismas; Flávia Mapa – Turma X • Importante ressaltar que pacientes com outras doenças vasculares (ex: aneurisma de artéria femoral, aneurisma de artéria poplítea) tem grandes chances de terem aneurismas aórticos abdominais. IMAGENS DIAGNÓSTICAS Ultrassom • Alta especificidade e sensibilidade; • Preferível na triagem por ser barato, não invasivo, evita a radiação e agentes de contraste; • Consegue-se: o Detectar; o Medir o aneurisma; o Acompanhar; ▪ Em aneurismas grandes, é melhor acompanhar por métodos mais específicos para medição como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética. Tomografia Abdominal • Extremamente acurada, tanto para a detecção, quanto para a medição do diâmetro; • Preferida para avaliar as variantes do aneurisma (inflamatórios ou micóticos); • É a modalidade preferida na maioria das instituições. Angiotomografia Computadorizada • Mais acurada que o ultrassom quando combinada a intensificação por contraste radiográfico; • Útil: o Demonstrar extensão da doença aneurismática; o Relação do aneurisma com artérias renais, viscerais, ilíacas; o Padrões de trombo mural; o Calcificação ou aterosclerose oclusiva, que pode influenciar no reparo do aneurisma. • Evita a exposição a radiação e ao material a base de iodo – comparada a TC. Aortografia • Passo inicial no procedimento operatório; • Intervenções após o reparo do aneurisma com stent, como embolização dos ramos da artéria lombar ou ilíaca. HISTÓRIA NATURAL • Geralmente ocorre uma expansão gradual, durante anos e possível ruptura; • A taxa de expansão média de aneurismas entre 3 e 5,5cm varia de 0,2 a 0,3cm/ano. Entretanto, nem todos seguem essa taxa linear e constante, podendo ter um crescimento súbito; • O tamanho do aneurisma é importante para predizer risco de ruptura, mas outros fatores também podem contribuir: o Espessura da parede; o Espessura do trombo intraluminal; o Pico de tensão da parede. RUPTURA DO ANEURISMA DA AORTA ABDOMINAL • Sintomas se devem a ruptura ou a rápida expansão e ruptura iminente: o Dentro da cavidade peritoneal: ▪ Hemorragia aguda; ▪ Dor abdominal intensa; ▪ Hipotensão. o Dentro do retroperitônio: ▪ Hematoma periaórtico contido; ▪ Dor abdominal ou lombar intensa que pode irradiar para o flanco ou virilha; ▪ Massa pulsátil palpável na região abdominal ou no flanco; ▪ Hipotensão; ▪ Síncope. • Após ruptura, a mortalidade é alta (tanto antes da hospitalização, quanto após, quanto durante o reparo cirúrgico). TRATAMENTO • Vigilância por imagem: o 2,6-2,9cm:A cada 5 anos; o 3-3,4cm: A cada 3 anos; o 3,5-4,4: A cada 12 meses; o 4,5-5,4: A cada 6 meses. ▪ TC é preferível ao ultrassom (visualizar melhor o diâmetro); ▪ No caso de pacientes jovens e saudáveis, especialmente mulheres, podem obter benefícios com o reparo precoce. • Uso de estatinas (doença aterosclerótica coexistente); • IECA: Benefício em pacientes com doença vascular; • Interrupção do tabagismo; • Prática regular de exercícios: Pacientes com pequenos aneurismas – limita a taxa de crescimento do aneurisma; • Aneurismas assintomáticos com 5-5,5cm: Reparo. Cirurgia • Fatores que influenciam a morbidade e mortalidade operatória: o Doença arterial coronariana – principal causa de mortalidade precoce e tardia após reparo do aneurisma aórtico abdominal; ▪ Atenção a ela antes do reparo do aneurisma para evitar eventos tardios. o Doença renal crônica; o Doença pulmonar obstrutiva crônica; o Diabetes melito. Flávia Mapa – Turma X • Perioperatório: Uso de betabloqueadores, estatinas, ácido acetilsalicílico (AAS) de acordo com os fatores de risco individuais, para reduzir o risco cardíaco; • Abordagens cirúrgicas: Reparo cirúrgico aberto (RCA) ou reparo endovascular de aneurisma aórtico abdominal (EVAR); o RCA; ▪ Acompanhamento anual com tomografia computadorizada e depois de 5 em 5 anos. o EVAR: Maioria faz esse. ▪ Menos invasivo (enxertos); ▪ Taxa de mortalidade inicial mais baixa que a RCA e a longo prazo é a mesma; ▪ Número maior de repetidas intervenções posteriormente; ▪ Angiotomografia para acompanhar (um mês, seis meses e anualmente após implante do dispositivo); ▪ Ultrassonografia Doppler com cores (detecta vazamentos e alargamentos em pacientes com achados estáveis obtidos por imagem). ANEURISMAS AÓRTICOS TORÁCICOS • Os mais comuns são os da raiz da aorta e da aorta ascendente, seguidos pela aorta descendente e arco aórtico; • Aneurisma aórtico toracoabdominal: Aneurismas torácicos descendentes que se estendem envolvendo a aorta abdominal; CAUSAS E FATORES DE RISCO • Vários distúrbios genéticos associados: o Síndrome de Marfan; o Síndrome de Loyes-Dietz; o Síndrome de Ehlers-Danlos vascular; o Aneurisma aórtico torácico familiar; o Síndrome da dissecção; o Doença da valva aórtica bicúspide; o Síndrome de Turner; o Aortopatia. • Causas degenerativas/Aterosclerose; o Acomete menos a aorta ascendente; o Pode acometer o arco aórtico de forma isolada e são as principais causas de aneurisma na aorta descendente; ▪ Tendem a se originar distais a origem da artéria subclávia esquerda, podendo se estender para a aorta abdominal. • Mecânicas; • Inflamatórias; • Doenças infecciosas; o Sífilis: A sífilis cardiovascular ocorre no estágio terciário e envolve tipicamente a aorta ascendente e o arco aórtico; ▪ Latência de 10-25 anos; ▪ Causa resposta inflamatória que gera alterações destrutivas nos tecidos muscular e elástico, além de degeneração fibrosa e calcificação aórtica – aneurisma. • Fatores de risco: o Tabagismo; o Hipertensão; o Idade; o DPOC; o Doença coronariana; o Histórico familiar. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • A maioria dos pacientes são assintomáticos e o aneurisma é descoberto por acaso (exames de imagem) ou em achados do exame físico (ex: regurgitação aórtica devido ao aneurisma na raíz da aorta ex); • Sintomas ocorrem pela: o Efeito da massa local; ▪ Comprimir a veia cava superior - aorta ascendente / arco aórtico; ▪ Comprimir a traqueia, brônquio, esôfago – sintomas; ▪ Dor torácica ou dorsal persistente (compressão de estruturas torácicas e estruturas adjacentes). o Regurgitação aórtica progressiva; o Insuficiência cardíaca; o Embolização sistêmica (trombo mural); o A expansão aórtica aguda, a ruptura contida e pseudoaneurismas podem causar dor intensa. • Complicações graves: o Ruptura: Dor intensa e súbita (torácica ou dorsal). ▪ Dentro da cavidade pleural ou dentro do mediastino - hipotensão; ▪ Dentro do esôfago: hematêmese; ▪ Dentro do brônquio ou traqueia - hemoptise o Dissecção aórtica torácica: Mais comum que a ruptura. DIAGNÓSTICO Radiografia de tórax Aneurisma na aorta torácica descendente. Flávia Mapa – Turma X • Achados: o Mediastino alargado; o Botão aórtico proeminente; o Deslocamento da traqueia. • Aneurismas menores, principalmente saculares podem não ser visíveis; • Seios de valsalva, raiz aórtica: Ocultos atrás do esterno; • A radiografia não consegue excluir diagnóstico de aneurisma aórtico torácico. Ecocardiografia transtorácica (ETT) • Excelente para visualizar a raiz da aorta, seios de Valsalva, aorta ascendente proximal, arco e aorta descendente proximal. Ecocardiografia transesofágica (ETE) • Obtém imagens de quase toda a aorta torácica. Tomografia computadorizada com contraste e ressonância magnética • Preferíveis a aortografia para definir anatomia do vaso aórtico e seus ramos. TC de aneurisma aórtico toracoabdominal. HISTÓRIA NATURAL • Aneurismas geneticamente deflagrados se comportam diferente de aneurismas ateroscleróticos; • Aneurismas da aorta descendente crescem mais rápido do que a ascendente; • Aneurismas aórticos torácicos dissecados crescem mais rápido do que os sem dissecção; • Aneurismas de pacientes com síndrome de Marfan crescem mais rápido do que os sem a síndrome; • Fatores de risco para aumento do crescimento e ruptura de aneurismas aórticos torácicos: o Idade avançada; o Sexo feminino; o DPOC; o Hipertensão; o Tabagismo; o Rápido crescimento do aneurisma; ▪ O diâmetro aórtico é o fator de risco mais importante para ruptura, dissecção e morte. o Dor; o Dissecção aórtica; o História familiar positiva. • Principais complicações dos aneurismas aórticos torácicos: o Ruptura; ▪ Menos da metade chegam com vida ao hospital e a mortalidade em 24h atinge 75%. o Dissecção aguda. TRATAMENTO Tratamento cirúrgico • Recomendação: o Diâmetro aórtico ascendente = 5,5cm; o Aneurisma da valva bicúspide, síndrome de Marfan, síndromes familiares de aneurisma aórtico torácico: ▪ Diâmetro aórtico ascendente = 5cm; o Síndrome de Loyes-Dietz: ▪ Raiz da aorta com 4,2cm no eco transesofágico; ▪ Raiz da aorta com 4,4 - 4,6cm por tomografia ou ressonância. o Síndrome de Turner: ▪ Aorta ascendente = 3,5cm ou mais ou 2,5cm/m² ou mais. • Aneurismas aórticos torácicos ascendentes: o Ressecção do aneurisma e colocação de enxerto, com ou sem troca valvar aórtica concomitante; ▪ Enxerto: Protético ou autoenxerto (não pode ser usado em pacientes com doenças da raiz aórtica geneticamente deflagradas, pois aumenta riscos de formação tardia de aneurisma do autoenxerto). • Aneurismas do arco aórtico: o Ressecção extensa do arco aórtico, colocação de enxerto e, se necessário, um stent anexado ao enxerto (enxerto de stent); o Mais difíceis de tratar, pois a reconstrução dos vasos do arco requer interrupção do fluxo sanguíneo para esses vasos; Flávia Mapa – Turma X o Taxas de morbidade e mortalidade mais altas, risco de acidente vascular cerebral. • Aneurismas torácicos descendentes: o Ressecção e colocação de enxerto; o Taxa maior de mortalidade e paraplegia. • Aneurismas toracoabdominais: o Ressecção e enxerto; o Maior taxa de paraplegia. • Reparo endovascular de aneurismas torácicos: Alternativa menos invasiva do que a cirurgia aberta (RCA); o Colocar endoprótese torácica (=enxerto endovascular); o Taxas de morbidade e mortalidade inferiores; o Risco de lesão da medula menor que na cirurgia aberta. Enxerto = Endoprótese torácica. Tratamento médico • Controle dos fatores de risco: o Hipertensão; ▪ Monitorização no domicílio para controle adequado; ▪ Se precisar de anti-hipertensivos: Preferir os bloqueadoresdos receptores de angiotensina ou inibidores da ECA. o Interrupção do tabagismo; o Redução do colesterol; ▪ Em pacientes com aneurismas torácicos ateroscleróticos; ▪ Estatinas: Podem prevenir aneurismas, sendo benefício para pacientes com aneurisma aórtico torácico. • Betabloqueadores para pacientes com síndrome de Marfan e após o reparo do aneurisma; • Evitar atividade física extenuante (exercício isométrico e levantamento de peso); • Gravidez está associada ao aumento de risco de dissecção aórtica nos pacientes com síndrome de Marfan e distúrbios relacionado; • Vigilância em longo prazo com imagens da aorta: o Aneurismas aórticos degenerativos / ateroscleróticos: ▪ 3,5-4,4cm: Anuais; ▪ 4,5-5,4cm: Bianuais. o Aneurismas pequenos e estáveis: ▪ A cada 2 a 3 anos. o Pacientes com síndrome de Marfan, valva bicúspide com aneurisma torácico, aneurisma aórtico torácico familiar: ▪ 3,5-4,4cm: Anual; ▪ 4,5-5cm: Bianuais. o Síndrome de Loyes-Dietz: ▪ <4cm: Anual; ▪ >4cm: Bianuais; ▪ Imagens da cabeça a pelve por potenciais aneurismas disseminados. Flávia Mapa – Turma X • BRAUNWALD - TRATADO DE DOENCAS CARDIOVASCULARES, 10ª EDIÇÃO, by Elsevier.
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