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Ulcera Peptica INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO Úlcera péptica é uma lesão que ocorre em decorrência da acidez da secreção gástrica e ultrapassa a camada muscular da mucosa na parede do estômago, podendo acometer também o duodeno e o final do esôfago, sendo este último caso mais raro. Independentemente do local, a úlcera péptica costuma ocorrer em áreas de mucosa inflamada. Seu diâmetro deve ser superior a 0,5 cm - se for menor é chamado de erosão. As úlceras pépticas também surgem em outros locais fora da região gastroduodenal como: no epitélio de Barrett, no reto, em áreas de mucosa gástrica heterotópica e em pacientes com hérnias de hiato (que podem desenvolver úlcera de Cameron, causa de perda oculta de sangue e posterior anemia ferropriva). Outra causa é o excesso de ácido produzido por um gastrinoma (tumor de pâncreas), na síndrome de Zollinger-Ellison, que gera úlcera em locais atípicos, como íleo e jejuno. A úlcera gástrica é a presença de uma lesão com mais de 0,5 cm que ultrapasse a cada muscular da mucosa no trato gastrointestinal e ocorre em decorrência da exposição à acidez do suco gástrico, portanto, esse é um diagnóstico que não pode ser feito apenas com base nos sintomas do paciente. A lesão precisa ser visualizada! EPIDEMIOLOGIA É uma das doenças gastrointestinais mais custosas e prevalentes. A incidência nos EUA, por ano, é de 500.000 casos - aproximadamente 1,8%, e a incidência global é de cerca de 1 caso por 1.000 pessoas/ano. Entretanto, apesar dos números altos, sua incidência vem diminuindo ao longo dos anos, especialmente as eletivas, devido à queda de colonização por H. pylori, principalmente em países desenvolvidos e pelo aumento na disponibilidade de antissecretores gástricos potentes. A admissão por complicações de úlcera péptica permanece a mesma e, aproximadamente, 9.000 anualmente falecem por causa da doença. As taxas de internação por úlcera gástrica são maiores que por úlceras duodenais e possuem taxas altas de internação por hemorragia na área da lesão, graças ao aumento do uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs). As gástricas, também, são mais prevalentes em idosos e, em maior quantidade, em mulheres. O aumento em mulheres é desconhecido, mas provavelmente explicado pelo aumento do tabagismo nesse grupo. As úlceras pépticas tem uma incidência maior no sexo masculino (2/3) sendo mais frequente em indivíduos jovens entre 20 e 50 anos, sendo também mais comum que as gástricas sendo que estas perfuram menos, porém geram mais sangramentos. Os principais fatores de risco são: infecções prévias de H. pilory, uso de AINES e tabagismo. PATOGENIA A mucosa gástrica possui mecanismos de defesa: • Muco, que é um revestimento e funciona como barreira e é produzido pelas células foveolares. Os AINEs, por inibirem a produção da prostaglandina, resultam na redução dessa camada de muco protetora da mucosa gástrica. • Bicarbonato, um sal de pH básico que neutraliza a acidez e se localiza entre a mucosa e camada de muco; • Camada hidrofóbica, que também serve como barreira e repele o contato da secreção gástrica com a mucosa; • Óxido Nítrico e prostaglandinas: são importantes mediadores para o aumento da vascularização (vasodilatadores) da mucosa e submucosa, estimulando a regeneração da mucosa gástrica, bem como a secreção de muco e bicarbonato, • Fluxo sanguíneo, que revitaliza o epitélio Como contraponto, existem substâncias que agridem a mucosa, ao diminuir a produção de bicarbonato e muco, tais como: sais biliares, AAS, álcool, nicotina. Logo, apesar de não ser uma regra, a úlcera pode se formar por excesso de ácido clorídrico na secreção gástrica. Tratando-se do uso de AINEs, por exemplo, ocorre desproteção da mucosa, tendo como consequência a inibição da formação das prostaglandinas. Dentre as substancias que estimulam a secreção gástrica estão a acetilcolina, histamina e gastrina. Aproximadamente 75% das úlceras gástricas e 90% das úlceras duodenais são causadas pelo H. pylori - que é um organismo gram- negativo que reside no epitélio gástrico, especificamente na camada mucosa, que propicia proteção contra antibióticos e ácidos. Porém, boa parte dos pacientes infectados com tal bactéria não chega a apresentar alguma queixa específica ou a desenvolver doença ulcerosa. Existem três possíveis mecanismos responsáveis pela lesão ocasionada pelo H. pylori: 1. O H. pylori produz toxinas que lesam a mucosa - como urease, que converte ureia em bicarbonato e amônia; por ser uma potente produtora de urease tal processo auxilia, inclusive, no diagnóstico; 2. Resposta imune na mucosa - inflamação local crônica e atração de fatores quimiotáticos; 3. A quantidade de gastrina aumenta e gera aumento da secreção gástrica, por redução da produção da somatostatina. Com isso, ocorre aumento da produção de ácido clorídrico no antro esofágico, mecanismo responsável por muitos casos de úlcera péptica duodenal O H. pylori possui apresentação crônica e, caso o paciente seja infectado pela bactéria, poderá permanecer com ela por toda a vida, sendo raros os casos em que há remissão espontânea. A úlcera péptica normalmente é o resultado do desequilíbrio entre os mecanismo de defesa da mucosa gástrica e da presença de fatores nocivos a esta mesma mucosa, dessa maneira, em muitos casos a úlcera gástrica não é causada por produção excessiva de ácido clorídrico. O risco de desenvolvimento de úlcera péptica é reduzido consideravelmente nos pacientes que eram acometidos pelo H Pylori e recebem tratamento adequado, sendo curados da infecção. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico típico dos pacientes sintomáticos com úlcera péptica é de dispepsia, dor ou desconforto abdominal em queimação na região epigástrica, que pode ser acompanhado de plenitude gástrica, saciedade precoce e náuseas. A dor da úlcera duodenal tende a melhorar com alimentos e irradia para o dorso sendo que a dor noturna está relacionada ao estímulo vagal, enquanto a gástrica tende a ser relacionada a ingesta de alimentos, associada a perda ponderal e náusea. A síndrome dispéptica é a dor ou desconforto epigástrico que causa azia (queimação epigástrica), náuseas e sensação de plenitude pós prandial. Apenas 20-30% dos pacientes com síndrome dispéptica tem úlcera duodenal gástrica. Em caso de complicações sinais de quadro abdominal obstrutivo e até mesmo de choque hipovolêmico podem estar presentes. No entanto, até 70% dos pacientes com úlceras pépticas são assintomáticos se apresentam assintomáticos apesar da úlcera. Acredita-se inclusive que a maioria dos pacientes com úlceras pépticas hemorrágicas não apresentam sintomas como dispepsia antecedendo o sangramento. Dor abdominal: No caso da úlcera duodenal a dor é bem localizada no mesoepigástrio, em queimação, de leve intensidade, apresenta melhora após alimentação ou uso de antiácido e piora durante estresse emocional. Já na úlcera gástrica, o que desencadeia os sintomas é a alimentação e é comum associação com náuseas e perda ponderal. Pelo fato de a dor ser tolerável, muitos pacientes procuram atendimento médico apenas após a doença evoluir ou complicar (dor em dorso, por exemplo, é sinal de acometimento pancreático, o que pode ocorrer com a perfuração da parede posterior do estômago); É importante ter em mente que essas características clínicas que diferenciam a úlcera gástrica e úlcera duodenal são didáticas, no entanto, as características da dor não apresentam alta especificidade com o local da dor. Perfuração: É a complicação mais comum da úlcera gástrica, sendo mais rara em caso de úlcera duodenal. A úlcera penetra profundamente e pode causar peritonite química, com a exposição do peritônio às secreções gástricas. O quadro costuma ser caracterizado por dor abdominal de início súbito, muito intensa, relacionada à febre, taquicardia e desidratação. Ao examedo abdome, este se apresenta rígido e doloroso, comumente apresentando sinais de irritação peritoneal (sinal de Blumberg). Vale ressaltar que esta complicação é uma emergência e a presença de ar livre no diafragma na radiografia auxilia o diagnóstico. Hemorragia: Uma característica da anatomia vascular do duodeno é a abundância do suprimento sanguíneo, por isso a hemorragia é a complicação mais frequente das úlceras pépticas. Caso ocorra hemorragia, ela pode ser maciça, ou pode se apresentar também como hematêmese ou melena. A maior parte das úlceras não chega a causar hemorragia maciça, no entanto o paciente pode se apresentar já com sinais de choque hipovolêmico, descorado, com abdome doloroso à palpação, taquicárdico, taquipneico e hipotenso (em casos de choque hipovolêmico grave). Obstrução mecânica: O que pode levar a esse quadro é a inflamação da parede do trato gastrointestinal, principalmente na região do piloro e no duodeno, normalmente causando apenas um quadro de obstrução parcial. A sintomatologia é de anorexia, sensação de saciedade, náusea, vômitos pós-prandiais e menor velocidade para esvaziar o conteúdo gástrico. É a complicação menos frequente da doença ulcerosa péptica que gera um processo crônico de náuseas, vómitos, saciedade precoce e perda ponderal. EDA confirma os achados de cicatrização crônica e diagnostica a úlcera aguda. O tratamento, nesse caso, é feito com a erradicação do H. pilory e dilatação endoscópica. Se houver falha do tratamento após 5 sessões e erradicação do H. pilory, a vagotomia troncular e antrectomia são indicados. DIAGNÓSTICOS Para diferenciar úlcera gástrica e duodenal, a anamnese e exame físico não são muito eficazes, por isso é necessária a realização de exames complementares como a Endoscopia Digestiva Alta (EDA) a qual é o padrão-ouro ou o exame de radiografia contrastada com bário que é a segunda escolha pelo custo menor, porém tem acurácia mais baixa. A endoscopia é o exame mais confiável (padrão ouro), mas deve ser realizada apenas em pacientes com sintomas persistentes ou recorrentes. Alguns sinais de alarme com identificação absoluta de EDA são: • Pacientes com mais de 45 anos, • Perda podneral, • Anemia/sangramento, • Vômitos recorrentes, • Disfagia, • Massa abdominal, • Adenopatia, • História familiar de neoplasia gástrica • Gastrectomia parcial prévia. Nela é importante procurar sinais de malignidade como tamanho aumentado, massas associadas, nódulos e protrusão para dentro do lúmen. No geral, úlceras duodenais raramente são malignas, porém as gástricas sempre devem ser investigadas para neoplasia. É possível realizar biópsia (pelo menos sete quando for necessário excluir malignidade) e tratar sangramentos no trato gastrointestinal (TGI). Ao biopsiar, deve-se fazer a retirada da lesão na transição entre a úlcera e a mucosa normal, uma vez que a região central da úlcera frequentemente é composta apenas por tecido necrótico. A endoscopia permite estabelecer a localização anatômica da lesão, permitindo a classificação das úlceras gástricas em 4 tipos: • Tipo I: Úlcera da pequena curvatura gástrica – sítio mais comum das úlceras gástricas, não apresenta grande correlação com a presença de hipercloridria sendo geralmente normo ou hipocloremica. A vagotomia não é recomendada e a cirurgia mais indicada é a gastrectomia distal • Tipo II: Úlcera do corpo gástrico associada à úlcera duodenal, muito associada com a presença de H. pylori e produção excessiva de HCl. Recomendada vagotomia troncular + antrectomia. • Tipo III: Úlcera pré-pilóricoca: também associada à presença do H. pylori. Recomendada vagotomia troncular + antrectomia. • Tipo IV: úlcera da porção proximal da pequena curvatura gástrica, em região proximal à junção gastroesofágica, é o tipo mais incomum da úlcera gástrica e não é correlacionada com a hipercloridria. É um desafio cirúrgico, não necessita de vagotomia troncular e a cirurgia mais indicada é a gastrectomia subtotal com reconstrução em Y de Roux. No que diz respeito à radiografia baritada, esta analisa a profundidade da lesão, a localização e o tamanho de forma eficaz. Os exames laboratoriais de rotinas são: hemograma, bioquímica hepática, creatinina sérica e cálcio. A radiografia de tórax é realizada com intuito de descartar perfuração, uma vez que o pneumoperitônio pode ser observado através desse exame de rápida aquisição e grande disponibilidade. Os testes para H. pylori devem ser realizados em todos os pacientes com doença ulcerosa péptica. São dois tipos: os não invasivos (sorologia e teste respiratório da ureia com carbono marcado) e os invasivos (teste rápido da urease, histologia e cultura que requerem de endoscopia). NÃO INVASIVOS Sorologia: Pesquisa de resposta ao IgG. O teste mais utilizado é o ELISA. O diagnóstico por sorologia é o mais indicado, possui especificidade de 90%. Não deve ser utilizado para controle de cura, pois os anticorpos permanecem no organismo durante anos. Pesquisa do antígeno fecal: Quando antígenos do H. pylori estão presentes nas fezes é indicação de que a doença está presente. Pode ser utilizado para controle de cura e possui fácil acesso. Considerado por muitos autores o teste com maior custo- efetividade, apresentando sensibilidade e especificidade acima dos 90%. Para avaliação adequada da erradicação do H. pylori é recomendado que o paciente aguarde após 4 semanas da finalização do esquema de antibióticos e interrompa os inibidores da bomba de prótons (IBPs) nas 2 semanas anteriores ao exame. Teste respiratório da ureia com carbono marcado: É baseado na capacidade que o H. pylori possui para hidrolisar a ureia. Pode ser utilizado carbono C13 não radioativo, ou carbono C14 radioativo, sendo preferida a forma não radioativa em crianças e grávidas, apesar da baixa taxa de radiação do exame. É um teste barato e possui especificidade de 95% e alta sensibilidade (cerca de 90%). Em pacientes que utilizam inibidores da bomba de prótons, estão em uso de antibióticos ou apresentam úlceras pépticas hemorrágicas, há queda significativa da sensibilidade do teste da urease! A especificidade não é afetada por esses fatores. INVASIVOS Ensaio rápido da urease: Quando utiliza-se de endoscopia, esse é o método de escolha. A mucosa é biopsiada durante esse procedimento, também. Especificidade de 98% e o exame deve ser feito 1 semana após a suspensão de inibidores da bomba de prótons, pois essa classe de fármaco diminui a sensibilidade ao exame. Histologia: O H. pylori é identificado no tecido com maior sensibilidade quando se utiliza a coloração Giemsa. Analisamos os sítios de colonização típicos (regiões antral e corpo do estômago) e/ou áreas que parecem apresentar alterações como gastrite atrófica. Quando a histologia for utilizada para analisar se o tratamento está sendo eficaz, realiza-se um maior número de biópsias e em outros locais do estômago, visto que com o tratamento, as bactérias podem migrar para outras regiões. Cultura: especificidade de 100%, porém é um teste pouco utilizado pois apresenta sensibilidade baixa devido à dificuldade de cultivo do H. pylori, requerendo experiência do laboratório. Não apresenta um custo acessível e o resultado demora cerca de cinco dias. Sua maior vantagem é a realização do antibiograma para avaliar da sensibilidade do H. pylori aos antibióticos. Caso a pesquisa de H. pylori seja negativa, o indicado é utilização de antissecretores durante 4 semanas. E, vale ressaltar que, além da investigação de H. pylori, é importante saber se o paciente faz uso de AINE e, se for o caso, suspender. A EDA é indicada desde o início dos sintomas em pacientes acima de 45 anos que apresentem sinais de alarme para possível malignidade como: vômitos recorrentes, sangramento, perda ponderal, massa abdominal e história familiar de câncer gástrico. TRATAMENTOCLÍNICO 1. Evitar alimentos que exacerbam os sintomas; 2. Aspirina e AINEs devem ser suspensos, se possível (o risco benefício deve ser sempre avaliado. Muitas vezes é mais vantajoso que um paciente que realizou angioplastias realize o tratamento para úlcera péptica sem retirada da aspirina devido ao alto risco cardiovascular desses pacientes, uma vez que a interrupção da aspirina se correlaciona com obstrução dos stents; 3. Evitar o tabagismo, pois diminui a velocidade de cicatrização da lesão; 4. Evitar álcool, pois aumenta a probabilidade de hemorragia digestiva; 5. Evitar café, pois estimula a secreção de ácido. O alimento em si não tem influencia na cicatrização, porém, devemos evitar alimentos que estimulam a secreção gástrica e alimentos ácidos como alguns condimentos, frituras, excesso de gordura, frutas ácidas, chocolate e refrigerante. O tabagismo retarda a cicatrização da úlcera, por isso é recomendado a suspensão ou redução do consumo. O álcool não induz a formação de úlceras, porém aumenta o risco de hemorragia digestina nos pacientes com úlcera péptica, sendo recomendada a suspensão durante a fase de tratamento agudo, podendo ser consumido posteriormente. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBPs) Esses fármacos ligam-se à bomba de prótons e inibem os tipos de secreção de ácido que os secretagogos produzem, ou seja, bloqueiam a bomba Na/K e impedem a secreção do ácido clorídrico. A inibição é prolongada (com seu efeito máximo ocorrendo em seis horas e retorno da secreção ácida normal após, no mínimo 1 semana) por fornecer uma inibição irreversível. São mais efetivos durante o dia e necessitam de um ambiente ácido para serem ativados - portanto não é eficaz associar antiácidos com IBPs pois o ambiente estomacal se tornará alcalino. Uma complicação do uso prolongado de IBP é colite pseudomembranosa. Para pacientes com úlceras não associadas ao H. pylori, o tratamento deve ser com IBPs (exemplo: omeprazol 20 a 40 mg ao dia) de 4 semanas para úlceras duodenais não complicadas e 8 semanas para úlceras gástricas ou úlceras duodenais complicadas. O tratamento pode ser retomado caso o paciente apresente recidiva do quadro após interrupção do tratamento. Os pacientes que apresentam úlceras associadas ao uso de AINEs, como aspirina, e não podem realizar a interrupção do tratamento com aspirina podem realizar uso prolongado das IBPs devido ao alto risco de interrupção da profilaxia de eventos cardiovasculares com a aspirina. Em caso de úlcera não complicada associada à presença de H. pylori, os IBPs podem ser iniciados (omeprazol 20 mg/dia), uma semana antes de iniciado o tratamento contra a infecção pelo H. pylori e mantido até o encerramento do tratamento contra a infecção bacteriana. Os IBPs não precisam ser prolongados nesse caso, exceto se houver recorrência dos sintomas . Em caso de úlceras complicadas e associadas à infecção por H. pylori, deve ser iniciado tratamento com IBP por via venosa, em alta dose (exemplo: omeprazol 40 mg, duas vezes ao dia), sendo transicionado o tratamento para via oral uma vez que esta seja tolerada ao paciente, e posteriormente reduzida a dose do IBP (omeprazol 40 mg, uma vez ao dia). O tratamento com IBPs deve ser mantido entre 4 e 12 semanas nesses casos. Algumas opções de inibidores de bomba de próton são: omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e deslanzoprazol. Abaixo, os principais IBPs e suas doses: Omeprazol 20 mg Pantoprazol 40 mg Lansoprazol 30 mg Dexlansoprazol 30 mg ANTAGONISTAS DO RECEPTOR H2 Por possuírem uma estrutura similar à histamina, acabam por bloquear os receptores H2 das células parietais de forma competitiva, as quais normalmente estimulam a produção de suco gástrico. Esses medicamentos possuem diversas apresentações em relação à potência e efeitos colaterais e possuem melhor resposta se administrados por via endovenosa, de forma contínua, em comparação à administração intermitente. Se o paciente possuir insuficiência renal, é necessário ajustar a dose, pois esses fármacos possuem os rins como sua principal forma de excreção. Ensaios clínicos randomizados mostraram efetividade consideravelmente menor dos ARH2 em comparação aos IBPs, por isso, eles são utilizados como medicamentos de segunda opção para o tratamento da úlcera péptica. Abaixo, os principais bloqueadores de H2 e suas doses: Cimetidina (menos potente) 800 mg/dia Ranitidina 300 mg/dia Famotidina (mais potente) 40 mg/dia Nizatidina 300 mg/dia ANTIÁCIDOS Esses agentes reagem com o ácido clorídrico e formam sal e água, diminuindo a acidez e elevando o pH. Devem ser ingeridos uma hora após a refeição, devendo ser respeitado esse tempo, pois se forem ingeridos antes os antiácidos podem levar a um tamponamento transitório e, se ingeridos após podem acarretar em um tamponamento prolongado. É a forma de tratamento mais antiga, porém atualmente é utilizado principalmente para abrandar os sintomas. Os antiácidos mais comuns são: • Hidróxido de alumínio: é constipante. Se usado em quantidade excessiva pode ocasionar perda de fosfato e resultar em doença óssea e anorexia. • Hidróxido de magnésio: é laxante. • Bicarbonato de sódio: evitar o uso prolongado devido ao risco de hipernatremia. • Carbonato de cálcio: seu uso em longo prazo pode precipitar uma síndrome chamada de ‘‘leite-álcali’’ (hipercalcemia e hiperfosfatemia nos rins) e pode evoluir para insuficiência renal. Como os hidróxidos de alumínio e magnésio possuem efeitos contrários, ambos são administrados concomitantemente. • Sucralfato: possui forte relação com a heparina, mas não possui efeitos anticoagulantes. É um sal de hidróxido de alumínio e da sacarose sulfatada e, apesar do mecanismo de ação ainda não ter sido completamente elucidado, especula-se que o agente se liga à proteína da úlcera e exerce uma proteção contra os sais biliares e pepsina, durando cerca de 6h. Também auxilia na cicatriz da mucosa. Possui poucos efeitos colaterais e a dose habitual é 1 comprimido mastigável de 1g - 4x/dia. TRATAMENTO DO HELICOBACTER PYLORI Os objetivos desse tratamento são: alívio dos sintomas, cicatrização da ferida, prevenção de adenocarcinoma gástrico e evitar recidiva. Os medicamentos que atingem os dois primeiros objetivos são os antissecretores (IBPs e antagonistas do receptor H2) e, o último objetivo é alcançado com a suspensão do uso de AINEs. Para o tratamento de H. pylori existem algumas indicações, as quais são: • Paciente portador de úlcera gastroduodenal ativa ou cicatrizada - reduz drasticamente as chances de recidiva; • Usuário crônico de AINE; • Portador de lesão neoplásica no estômago ou com história de CA gástrico em parente de primeiro grau. • Portador de dispepsia secundária a H. pilory • Paciente com úlcera em remissão que são infectados pelo H. pylori; • Paciente H. pylori associado a Linfoma MALT de baixo grau • Pós cirurgia de câncer gástrico avançado Dessa forma, todo paciente que apresenta ou já apresentou úlcera péptica e está infectado com o H. pylori tem indicação formal para tratamento contra essa infecção. Pacientes com dispepsia, mesmo que na ausência de úlceras pépticas, também devem ser tratados! O tratamento consiste na combinação de três fármacos, inicialmente, e é realizado durante 7 a 14 dias com administração de 2x/dia. A maioria dos esquemas combina um IBP e antibióticos - como metronidazol, claritromicina e amoxicilina. O esquema abaixo é o mais utilizado no Brasil e tem duração de 14 dias: • Omeprazol 20 mg 12/12h, ou outro IBP. • Claritromicina 500 mg 12/12. • Amoxicilina 1 g 12/12 Caso o tratamento falhe existem alternativas: Segunda linha (10 dias) • Omeprazol - 20 mg, 12/12h; Levofloxacino - 500 mg, 1x/dia; • Amoxicilina - 1 g, 12/12h (ou Furazolidona 200 mg, 12/12h). Terceira linha(de 10 a 14 dias) • Omeprazol - 20 mg, 12/12h; • Sal de bismuto – 240 mg, 12/12h. É obrigatório repetir a Endoscopia Digestiva Alta após o tratamento de úlcera gástrica devido ao risco de neoplasias, já para úlcera duodenal, não há necessidade. TRATAMENTO CIRURGICO As quatro principais indicações para tratamento cirúrgico são: 1. Intratabilidade: Mais comum em pacientes que não podem suspender o AINE e não apresentam resposta adequada apenas com o uso de IBPs, que o H. pylori não consegue ser erradicado ou que não ocorreu cicatrização da úlcera após 8-12 semanas de tratamento. Atualmente é uma indicação incomum e torna-se necessário descartar Síndrome de Zollinger Ellison (gastrinoma). 2. Hemorragia: é a complicação mais comum das úlceras pépticas, e na maioria das vezes o tratamento através de ressuscitação volêmica, supressão da secreção gástrica ácida e intervenção endoscópica é bem-sucedido. Em casos em que o tratamento minimamente invasivo não é bem-sucedido, o tratamento cirúrgico é indicado. 3. Obstrução: é a complicação mais incomum das úlceras pépticas, e o tratamento cirúrgico só é indicado se o tratamento medicamentoso e endoscópico não for efetivo. 4. Perfuração: a perfuração normalmente causa um quadro de dor abdominal de início súbito, forte intensidade e irritação peritoneal, apresentando indicação de tratamento cirúrgico para correção da perfuração. O melhor procedimento cirúrgico atualmente é a vagotomia, que é dividida em três níveis. Vagotomia Troncular e piloroplastia: secção dos nervos vagos esquerdo e direito superiormente aos ramos celíacos e hepáticos. É um procedimento rápido e não complicado, sendo preferível em pacientes estáveis. Vagotomia Supraseletiva: foi criado após se reconhecer que a Troncular afeta o bombeamento no antro e piloro. Nesse procedimento, os nervos de Latarjet (5 a 7cm do piloro) que suprem a porção que produz ácido no corpo e fundo são divididos - assim, o antro fica com sua inervação vagal preservada. Vagotomia Troncular e Antrectomia: essa combinação é eficaz na diminuição da secreção gástrica e na recidiva. TIPOS DE RECONSTRUÇÃO DE TRÂNSITO Reconstrução a Billroth I Estomago remanescente é anastomosado no duodeno Reconstrução a Billroth II Gastrppjejunostomia com alça duodenal pendente Reconstrução a Y de Roux Fechamento do coto duodenal com anastomose de jejuno jejunal e gastrojejunal A cirurgia eletiva depende do tipo e localização da úlcera. Em todos os procedimentos a úlcera deve ser retirada. Importante lembrar que as úlceras gástricas devem ter um controle de cura através da endoscopia após 8 a 12 semanas após a primeira endoscopia. Tratamentos cirúrgicos eram uma das principais formas de tratamento das úlceras pépticas antes da invenção das drogas supressoras da secreção de ácido gástrico. Hoje em dia, com o sucesso do tratamento clínico, as cirurgias como gastrectomias e vagotomias para tratamento de úlceras benignas se tornaram cada vez mais raras. MENSAGENS FINAIS As úlceras duodenais são mais prevalentes que as gástricas sendo que a maioria das úlceras que perfuram e das que sangram estão situadas na parede anterior do bulbo duodenal (artéria gastroduodenal). A localização mais comum das úlceras gástricas é na pequena curvatura – tipo 1.