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1 Eduarda Rebés Müller Escroto Agudo INTRODUÇÃO Urgência cirúrgica → 0,5% das consultas na urgência 1: 40.000 casos Incidência anual de torção está estimada em 3,8: 1.000.000 (0,004%) meninos entre 1-18 anos Anatomia Causas Torção de apêndice testicular (hidátide de Morgagni), de testículo e de epidídimo Processos inflamatórios Anamnese Idade História médica pregressa Sintomas gerais Primeiro sintoma local: dor ou edema? Dor: localização, tipo, forma de início (súbito, gradual), tempo de evolução Trauma Cirurgia ou cateterização (por sonda vesical, cistoscopia; aumenta chance infecção de vias urinárias) prévia? Náuseas/vômitos, febre, disúria, petéquias Sexualmente ativo? → maior chance de infecção por ascensão de germes Conduta 2 Eduarda Rebés Müller TORÇÃO DE TESTÍCULO Emergência cirúrgica Início agudo Epidemiologia Pico inicial: 13-15 anos Prevalência: 1: 4.000 2 esquerdo: 1 direito Em 6,5% dos testículos criptorquídicos RN: 20% bilateral Mecanismo Torção → ingurgitamento venoso Edema → comprometimento arterial → infarto tecidual Obs: na torção testicular, o testículo comprometido fica com coloração escura (roxo/vermelho), edemaciado e com aspecto brilhoso Fatores predisponentes Fixação alta da túnica vaginal nas estruturas do cordão Mobilidade do testículo: badalo do sino (a mobilidade favorece a torção durante o movimento de descida) Tipos de torção testicular Extravaginal (fora da túnica): Várias torções do cordão espermático no seu eixo axial próximas da inserção da túnica vaginal Localizada no canal inguinal ou logo abaixo dele Característica do RN Ocorre durante a descida do testículo ao escroto, podendo ser intraútero (82%) ou pós-nascimento (18%) Cirurgia eletiva: incisão inguinal para abordar todo o cordão e tratar hérnia associada, se houver Intravaginal (dentro da túnica): Mais frequente (> 90%) Distal à inserção da túnica vaginal Malformação local da fixação que leva a maior mobilidade da gônada Obs: é difícil estimar o tempo exato da torção, mas geralmente ultrapassa o tempo ideal para correção cirúrgica que possa salvar o testículo Quadro clínico Sintomas Dor escrotal aguda Náuseas/vômitos Febre baixa (ocasionalmente, devido à necrose) Sensibilidade focal no testículo 3 Eduarda Rebés Müller Sinais Assimetria (edema e eritema hemiescroto) Base do escroto com massa projetando-se à pele (Sinal de Ger) Ausência do reflexo cremastérico (Sinal de Rabinowitz) Testículo posicionado mais alto no canal inguinal Testículo horizontal (Sinal de Brunzel) A dor não alivia com a suspensão do testículo (Sinal de Prehn) Exame físico Inspeção e palpação → abdômen, testículos, escroto e região inguinal Teste da transiluminação: coloca iluminação atrás do escroto e analisa se a luz passa pela pele. Manobra subjetiva, não é protocolo. Depende da interpretação individual. Exames complementares Ecografia com doppler Simples, rápida, baixo custo, indolor, pode ser feita à beira do leito, pouco invasiva → método de escolha Sensibilidade: 80-98% | especificidade: 97-100% Diferencia o tamanho do testículo e epidídimo, evidencia a presença de fluido e/ou espessamento da parede escrotal, demonstra se há aumento do apêndice testicular, define se há torção do cordão espermático e fluxo arterial testicular e epididimal Função: diferenciar o fluxo da parede escrotal e o fluxo intra-testicular Utilizada também para diagnóstico de outras doenças testiculares Se fluxo normal ou aumentado: descartar torção testicular Se não é possível realizar o exame com técnica adequada ou se o fluxo testicular está diminuído/ausente: exploração cirúrgica Cintilografia escrotal Usada antigamente quando não havia acesso a ecografia Demonstra com precisão a irrigação dos testículos Demanda mais tempo (resultado leva algumas horas) e não é acessível na maioria dos serviços Ecografia de alta resolução Custo mais elevado, mais moderna Ressonância magnética Demanda mais tempo, a criança precisa ficar imóvel (precisa sedar), alto custo, risco da sedação Escore clínico Náusea ou vômito 1 ponto Edema testicular 2 pontos Palpação testicular dolorosa 2 pontos Testículo posição alta 1 ponto Ausência do reflexo cremastérico 1 ponto ≥ 5: sensibilidade 76% e especificidade 100% ≤ 2: sensibilidade 100% e especificidade 82% (exclusão de torção testicular) Tratamento Clínico: Redução manual da torção Com o paciente sedado, tenta-se “destorcer” o testículo. Tentativa de diminuir a isquemia e melhorar a circulação arterial. Não descarta cirurgia Procedimento doloroso e não se tem certeza da viabilidade do testículo 4 Eduarda Rebés Müller Duração torção x salvamento Cirúrgico Incisão escrotal na rafe mediana → abertura do lado comprometido → identificação da torção → desfaz a torção o Se estiver viável: manter o testículo o Coloração não melhora: orquiectomia (retirada do testículo) Finalização: o Everte a túnica vaginal (técnica de Jaboulay) o Fechamento por planos o Mantém internação para observar o Alta hospitalar com planejamento de prótese testicular Classificação do sangramento (ARDA) Grau I: sangramento imediato Grau II: sangramento após 10 min Grau III: sangramento ausente após 10 min → indicada excisão Obs → independentemente do tipo de torção: o Abordagem cirúrgica contralateral o Orquidopexia TORÇÃO DO APÊNDICE TESTICULAR É o tipo de torção mais comum (92%) Apêndice residual (remanescente do ducto mülleriano) Localizado no polo superior do testículo em mais de 90% dos homens 1-10mm de diâmetro Pode torcer e causar a mesma sintomatologia da torção de testículo Geralmente entre 10 e 11 anos Quadro clínico Início gradual Toxicidade ausente Lesão necrótica palpável ou visível Edema e eritema Identificação: pequena sombra arroxeada no escroto (se necrose) ou apenas edema e sensibilidade dolorosa Palpação testicular Massa de 3-5mm endurecida no polo superior Sinal do “blue dot” 5 Eduarda Rebés Müller Exames complementares – se dúvida Ecodoppler testicular Ecografia de alta resolução Cintilografia testicular Indicação cirúrgica Persistência do quadro doloroso ou quadro clínico com dúvidas Vias de comunicação Hematogênica Cistoscopia ORQUIEPIDIDIMITE Doença inflamatória no epidídimo e testículo Início gradual Quadro clínico Dor intensa, edema, hiperemia da bolsa escrotal Sintomas urinários Sintomas inespecíficos (febre, prostração) Tratamento Cuidados locais: gelo, suspensório escrotal, repouso Anti-inflamatórios e antibióticos conforme correlação idade/agente etiológico EPIDIDIMITE Infecção retrógrada ascendente a partir da uretra Raro na infância – maior frequência em adultos jovens E. coli, Gonococo e Clamidia (em sexualmente ativos) Quadro clínico Dor, eritema e edema Sintomas urinários (40-50%): disúria, urgência urinária, polaciúria, piúria, febre (30%) 6 Eduarda Rebés Müller ORQUITE Inflamação dos testículos Geralmente secundária a disseminação hematogênica, como infecção viral (sarampo, varicela, parotidite, herpes-zoster) Quadro clínico Dor testicular intensa, edema escrotal, febre Complicações Atrofia testicular (50-60%) Infertilidade (7-10%) – principalmente quando atrofia bilateral Tratamento Cuidados locais: gelo, suspensório escrotal, repouso Analgésicos, anti-inflamatórios, antitérmicos HIDROCELE Acúmulo de fluido na túnica vaginal Em 1-2% dos RN Palpação do testículo: edema tenso, mas móvel, sem dor Transiluminação positiva Tratamento Clínico: observar até 1 ano de vida Cirúrgico: após 1 ano ou associação com hérnia inguinalHÉRNIA INGUINAL ENCARCERADA Incapacidade de reduzir a hérnia inguinal para dentro da cavidade intra-abdominal > 60% antes dos 2 anos de idade Grande risco de encarceramento antes dos 6 meses Abaulamento na palpação sobre prega inguinal inferior que se estende até o escroto Isquemia por compressão, causando edema e alteração da cor da pele – pode simular escroto agudo INFECÇÃO DE PARTES MOLES Dermatites extensas que causam eritema e edema da pele escrotal Lesão de pele visível Dor à palpação e ao contato com urina Transiluminação positiva TUMOR TESTICULAR Ausência de dor Massa testicular endurecida Transiluminação negativa Ultrassonografia Dosagem de gonadotrofina coriônica (hCG) e alfafetoproteína → elevadas Tratamento cirúrgico: orquiectomia – ressecção do tumor com preservação do testículo
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