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3TROMBOEMBOLISMO PULMONAR 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO Tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma síndrome clínica definida como a presença de trombos que impactam e ocluem vasos arteriais pulmonares, levando a uma grande variedade em suas manifestações clínicas. A gran- de maioria dos trombos é originária da trombose venosa profunda dos membros inferiores. Existem também outros tipos de embolismo pulmonar não causados por trombos, como a embolia gordurosa, gasosa ou tumo- ral que podem ocorrer apesar de se- rem muito menos comuns. CONCEITO! Embolia pulmonar é defini- da como a obstrução da artéria pulmo- nar ou suas ramificações por um mate- rial (trombo, tumor, gordura ou ar) que se origina no corpo. O TEP apresenta elevada prevalência e uma alta taxa de mortalidade, moti- vo este que já legitima o início da te- rapêutica quando existe um elevado grau de suspeição. É um tema extre- mamente relevante na clínica médica e, devido a sua sintomatologia ines- pecífica (o que faz com que muitos casos de TEP sejam subdiagnostica- dos), é considerado um grande desa- fio na prática médica. Nos últimos anos, houve crescente preocupação, criação de protocolos de profilaxia e de um grande número de estudos sobre o tema. O aumento do interesse pelo TEP ocorre em vir- tude da alta prevalência desse even- to no ambiente hospitalar, tornando a prevenção do TEP uma das gran- des preocupações nos pacientes in- ternados. O tromboembolismo pulmonar tam- bém pode ser subdividido em TEP agudo, subagudo e crônico. Pa- cientes com TEP agudo apresentam sintomas de início súbito no mo- mento em que há a embolização do trombo para um dos ramos arteriais da circulação pulmonar. Alguns pa- cientes passam a apresentar sinto- mas no decorrer de dias ou poucas semanas após a embolização, sen- do caracterizado TEP subagudo. Há também pacientes que apresentam TEP crônico, apresentando uma em- bolização na vasculatura pulmonar e desenvolvendo gradualmente (no decorrer de meses a anos) hiperten- são pulmonar. 4TROMBOEMBOLISMO PULMONAR CONCEITO! O TEP é uma condição clí- nica prevalente e com alta taxa de mor- talidade. Pode ser dividido em TEP agu- do, subagudo e crônico de acordo com o tempo de instalação do quadro, e também pode ser classificado como de alto, médio e baixo risco de acordo com a estabilida- de hemodinâmica e presença de sinais de sobrecarga do ventrículo direito. 2. EPIDEMIOLOGIA A incidência de TEP aumenta com a idade, principalmente nas mulheres, alcançando uma taxa de > 500 ca- sos por 100.000 mulheres acima dos 75 anos. Não há consenso referente à prevalência do tromboembolismo pulmonar quanto a etnia e ao sexo, no entanto alguns estudos sugerem que a incidência do TEP é maior em homens do que em mulheres (res- pectivamente, 56 contra 48 casos por 100.000 habitantes). Estima-se que a embolia pulmonar cause cerca de 100.000 mortes por ano nos Estados Unidos e 300.000 mortes por ano na Europa, no entan- to, a mortalidade do TEP é subesti- mada, uma vez que há evidências de que parte dos casos de morte súbita de origem cardiovascular sejam cau- sados por TEP. Nos casos diagnosticados de TEP, a mortalidade é de cerca de 4% em 1 mês e chega a 13% em 1 ano. No MAPA MENTAL DEFINIÇÃO Conforme tempo de instalação: TEP agudo, subagudo e crônico Conforme estabilidade hemodinânica: baixo, médio e alto risco Ferramenta PESI Gasosa, gordurosa e tumoral I e II: baixo risco > II: risco intermediário Classificação Causado por trombose venosa dos MMIIprofunda Muitas manifestações clínicas Trombos que impactam e ocluem vasos arteriais pulmonares Outros tipos de embolia pulmonar Definição Figura 1: Ilustração mostra a presença de um trombo em veias profundas do membro inferior, sendo embolizado para ramos da artéria pulmonar direita. Fonte: http://www.hcfmb.unesp.br/tromboembolia-pulmonar/ 5TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Brasil os estudos sugerem que a maioria das mortes por TEP ocorrem sem diagnóstico, com o TEP só sen- do descoberto em estudos post mor- tem, dessa forma as mortes por TEP no país são subestimadas. Estudos acreditam que o TEP cause cerca de 100.000 mortes por ano no Brasil. MAPA MENTAL EPIDEMIOLOGIA Mortalidade subestimada Incidência aumenta com idade (principalmente mulheres) Casos subdiagnosticados Epidemiologia Mais comum em homens 3. FISIOPATOLOGIA A patogênese do TEP envolve os fa- tores que predispõe à ocorrência de trombose venosa profunda (TVP) (os elementos da Tríade de Virchow, que serão explicados posteriormente no texto) e migração de êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos, há formação de trombos nos mem- bros inferiores em território de vasos venosos íleo-femorais (vasos proxi- mais dos membros inferiores) que se movimentam em direção à circulação pulmonar, ocluindo os vasos arteriais pulmonares. Os trombos também po- dem ter sido originados em membros superiores, entretanto, esta situação é infrequente. SE LIGA! O principal sítio venoso mais envolvido no TEP é a região iliofemoral. O trombo ascende dos MMII (mais co- mum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Poste- riormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediado- res inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o equilí- brio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmo- nar. Como consequência desta instala- ção súbita as fibras cardíacas podem se esgarçar levando à dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo inter- ventricular (situação visualizada no eco- cardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o trata- mento do episódio agudo, sendo, por- tanto, uma complicação. Episódios de TEP com obstrução de ra- mos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvol- vimento de infarto pulmonar, com res- 6TROMBOEMBOLISMO PULMONAR posta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da ar- téria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfu- são para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além dis- so, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contri- bui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e consequentemente hi- poxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. SE LIGA! PARA FIXAR! No TEP há uma disfunção da relação ventilação/perfu- são (V/Q) devido a um fenômeno vaso- clusivo, que vai levar a um quadro final de hipoxemia e alcalose. Figura 2: Ilustração mostra causas de espaço morto patológico, indicando o TEP como uma dessas causas. MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA V/Q alterado causa hipoxemia e alcalose Lesão endotelial Hipercoagulabilidade Estase venosa Região iliofemoral + comum Tríade de Virchow Diminuição da pré-carga Liberação de mediadores inflamatórios Aumento da resistência pulmonar Surgimento da área de espaço morto TVP Fisiopatologia 7TROMBOEMBOLISMO PULMONAR 4. FATORES DE RISCO Basicamente devemos pensar na Trí- ade de Virchow, descrita no século XIX pelo pesquisador alemão, e que descreve os fatores que contribuem para a ocorrência de trombose: esta- se venosa, hipercoagulabilidade e lesão endotelial. Tríade de Virchow Estase venosa HipercoagulabilidadeLesão endotelial Qualquer situação (quadro 1) que en- volva um desses três elementos da tríade aumenta a chance de ocorrên- cia dotromboembolismo pulmonar. CONDIÇÕES CONGÊNITAS Deficiência de proteína S Fator V de Leiden Deficiência de proteína C Deficiência antitrombina Mutação protrombina Hiperhomocisteinemia CONDIÇÕES ADQUIRIDAS Obesidade Tabagismo DPOC Câncer ICC IAM Gravidez Anticoncepcionais Idade >40 anos TEV prévia Imobilização Trauma (cirúrgico e não cirúrgico) Cirurgia recente (últimos 3 meses) Terapia de Reposição hormonal Doença mieloproliferativa Varizes em MMII Síndrome antifosfolípide Quimioterapia Quadro 1: Condições predisponentes a TVP e, conse- quentemente, TEP. ATENÇÃO! A estase venosa, um dos elementos da tríade de Virchow, apre- senta grande correlação com a presen- ça de imobilização. Isso faz do TEP uma grande preocupação entre pacientes in- ternados, uma vez que um grande nú- mero desses pacientes, principalmente aqueles que que estão em período pós- -operatório ou em centros de terapia intensiva, não estão deambulando com frequência. Por isso a maioria dos hos- pitais possuem hoje protocolos de pro- filaxia mecânica e/ou farmacológica para TEP e TVP nesses pacientes. 8TROMBOEMBOLISMO PULMONAR 5. CLASSIFICAÇÃO Podemos classificar o Tromboembo- lismo pulmonar conforme: Etiologia • TEP provocada: a etiologia foi cau- sada por alguma situação recente no período entre 6-12 semanas • Ex: Cirurgias recentes, fratura de fêmur, imobilização. • TEP não provocada: não se sabe a etiologia do tromboembolismo pulmonar. • Ex: paciente previamente hígi- do sem comorbidades evolui com quadro TEP agudo. Apresentação clínica • TEP maciça: ◊ Paciente hemodinamicamen- te instável (PAS <90 mmHg). MAPA MENTAL FATORES DE RISCO Câncer Tabagismo Trombofilias DCV: ICC, IAM Obesidade Síndro antifosfolípide (SAF) Uso de anticoncepcional oral ou terapia hormonal Trauma cirúrgico/ não cirúrgico Gravidez Doença mieloproliferativa Varizes de MMII Cirurgia recente (últimos 3 meses) Quimioterapia Imobilizações Fatores de risco 9TROMBOEMBOLISMO PULMONAR ◊ Importante frisar que o termo ma- ciço não envolve o território aco- metido pelo trombo e sim a con- dição de instabilidade do paciente. • TEP submaciça: ◊ Paciente está estável, porém apresenta disfunções miocár- dicas no ecocardiograma (dis- função de ventrículo direito, áreas de hipocinesia). • TEP não maciça: ◊ Paciente estável e sem alte- rações miocárdicas, ou seja, aquele que não preenche aos critérios anteriores. O TEP é classificado de acordo com sua repercussão hemodinâmica. A instabilidade hemodinâmica é defi- nida como pressão arterial sistólica (PAS) < 90mmHg ou queda da PAS em mais de 40mmg em um interva- lo de 40 minutos, e quando presente, configura quadro de TEP maciço ou de alto risco. Esses pacientes apre- sentam altas taxas de mortalidade nas primeiras 72 horas do quadro e precisam ser trombolisados em uma unidade de terapia intensiva! Quando não há repercussão hemo- dinâmica, mas há sinais eletrocardio- gráficos ou ecocardiográficos de so- brecarga do ventrículo direito, o TEP é classificado como submaciço, ou de risco moderado. Os casos em que não há instabilidade hemodinâmica ou so- brecarga ventricular direita, são clas- sificados como TEP de baixo risco. SAIBA MAIS: PESI O PESI é uma ferramenta que estratifica o risco de mortalidade por tromboembolia pulmonar aguda (TEP), auxiliando os médicos a definirem o tratamento do paciente após um episódio de TEP. O que é importante saber sobre essa ferramenta? Pacientes PESI Classe I ou II: o tratamento deve ser feito em domicílio com uso de anticoa- gulante oral, sem necessidade de internamento hospitalar para avaliação diagnóstica. São classificados como baixo risco. Paciente PESI Classe > II: internamento hospitalar para investigação do quadro e avaliar prognóstico. Deve-se solicitar ecocardiograma transtorácico (eco-TT) + enzimas cardíacas (troponina e BNP). Esses pacientes são classificados como risco intermediário e podem ainda ser divididos em risco intermediário baixo (eco-TT OU enzimas cardíacas alteradas OU ne- nhum dos dois alterados) ou risco intermediário alto (ambos os exames alterados). Pacientes com alteração no ecocardiograma transtorácico e/ou alteração de troponina/BNP apresentam pior prognóstico. Acesse o site https://sbpt.org.br/portal/t/pesi/ para saber mais sobre o PESI] 10TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Local da obstrução Por último, o TEP também pode ser classificado de acordo com a localiza- ção anatômica da obstrução da árvo- re vascular do pulmão. Obstrução na bifurcação das artérias pulmonares principais (esquerda ou direita) são classificadas como TEP em sela, e em virtude da obstrução proximal da circulação pulmonar, 22% desses pa- cientes apresentam instabilidade he- modinâmica. Além disso, o TEP pode ser classificado como lobar, segmen- tar ou subsegmentar a depender de quão grande é a área de irrigação da artéria obstruída. 6. QUADRO CLÍNICO A sintomatologia do tromboembolis- mo pulmonar é inespecífica apresen- tando um amplo espectro clínico que vai de pacientes hemodinamicamente instáveis a paciente que cursam com sintomas gerais como tosse seca, ta- quipneia o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e retarda o início da te- rapêutica. Diante deste abis- mo quando devemos pensar em TEP? Classicamente existe uma tríade da TEP: dispneia, hemopti- se e dor pleurítica. Porém nem todos os pacientes cursam com esta sintomatologia. Abaixo ci- taremos sinais e sintomas que soma- dos à presença de fatores de risco, devem te fazer, pelo menos, postular TEP como hipótese diagnóstica. Sintomas O sintoma mais prevalente nos pa- cientes com TEP é a dispneia, segui- do pela dor torácica de caráter pleu- rítico e tosse, que pode se apresentar seca ou hemoptoica. Alterações he- modinâmicas como hipotensão e até mesmo choque obstrutivo são obser- vados nos pacientes com TEP de alto risco, podendo estar associados a ar- ritmias. Sintomas menos comuns que podem ser manifestados por pacien- tes com TEP são síncope, dor retro- esternal, ansiedade e redução do do nível de consciência. Sinais Sinais que podem estar presentes nos pacientes com TEP são taquicardia (visto no eletrocardiograma, na forma sinusal), taquipneia, sinais de instabilida- de (hipotensão/ PAS <90), distensão ju- gular, hiperfonese de B2 na ausculta car- díaca (sugere exis- tência hipertensão pulmonar), sibilos na ausculta respirató- 11TROMBOEMBOLISMO PULMONAR ria, murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência de atelectasias) e sinais de TVP como edema assi- métrico em membros inferiores que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor (sinais flogísticos) no lo- cal. Febre é um achado possível, po- rém muito incomum. SE LIGA! O principal sintoma do TEP é DISPNEIA e o principal sinal é a TA- QUIPNEIA. CASO CLÍNICO! Paciente do sexo fe- minino, 27 anos usuária de anticoncep- cional, comparece ao serviço de Pronto Atendimento relatando falta de ar e dor torácica de início súbito. Ao exame físico apresenta-se com taquipneia, saturação de O2: 92%, FC: 110 bpm, Pressão ar- terial: 120x80 mmHg. Qual a suspeita diagnóstica diante desse quadro? Não se esqueça de pensar no TROM- BOEMBOLISMO PULMONAR! Dispneia Ansiedade Dor retroesternal Dor torácica Síncope Tosse (seca ou com hemoptise) Redução do nível de consciência Sintomas MV reduzido e/ou com sibilos Taquipneia Sinais Sinais de TVP: edema assimétrico de MMII associado ou não a sinais flogísticos Taquicardia Distensão de jugular Hiperfonese de B2 Hipotensão (GRAVE!) Quadro clínico MAPA MENTAL QUADRO CLÍNICO Diagnóstico diferencial: Os princi- pais diagnósticos diferenciais para pacientes com suspeita de TEP são pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstru- tiva crônica e asma. Outros diagnósti- cos diferenciais de TEP estão listados no quadro abaixo. 12TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Dissecção da aorta Pneumonia DPOC Pneumotórax PericarditeAsma brôn- quica Fratura de costela Síndrome coro- nariana aguda Neoplasia to- rácica Escore de Wells Em decorrência da inespecificidade do quadro clínico são necessários exames complementares para fechar o diagnóstico de TEP. Para facilitar na condução da propedêutica e terapêu- tica utilizamos pré-testes diagnósti- cos (escores – tabela 1) para deter- minar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação, buscando assim reduzir a mortalida- de do quadro. A medicina baseada em evidência nos respalda quanto a iniciar o tratamento (anticoagulação) em casos de alta probabilidade em que o resultado dos exames comple- mentares postergaria a terapêutica. TVP ou TEP prévios + 1,5 Frequência cardíaca > 100/ min + 1,5 Cirurgia recente ou imobilização + 1,5 Sinais clínicos de TVP + 3 Diagnóstico alternativo menos provável que TEP + 3 Câncer + 1 Hemoptise + 1 Probabilidade Baixa 0-1 Intermediária 2-6 Alta ≥7 Tabela 1 - Escore de Wells (para analisar probabilidade pré-teste). Pacientes com escore de Wells < 2 pontos apresentam baixa probabili- dade de TEP. Entre 2 e 6 pontos os pacientes apresentam risco interme- diário para TEP. Pacientes com ≥7 pontos no Escore de Wells apresen- tam alto risco para TEP. Uma alternativa menos específica é separar os pacientes em 2 grupos, de acordo com o escore de Wells. Pacientes com < 4 pontos apresen- tariam TEP como diagnóstico impro- vável, e pacientes com > 4 pontos apresentariam TEP como diagnóstico provável. ATENÇÃO! Apesar de o escore de Wells ser um dos escores mais validados para avaliar a probabilidade de TEP, outros es- cores como o Escore de Wells Modificado e o Escore de Geneva Modificado também podem ser utilizados com esse intuito. 7. EXAMES COMPLEMENTARES Gasometria arterial O paciente com TEP apresenta um dis- túrbio V/Q, com perfusão inadequada. Consequentemente, o paciente tenta compensar hiperventilando, que pode levar a uma diminuição da PCO2 no sangue. Assim, as alterações encon- tradas são a presença de hipoxemia e da hipo ou hipercapnia. Como são achados inespecíficos não podemos utiliza-los isoladamente para fechar o diagnóstico de TEP, podendo ainda vir NORMAL em alguns casos. 13TROMBOEMBOLISMO PULMONAR D-dímero O D-dímero é um produto de degra- dação da fibrina é utilizado pelo seu alto valor preditivo negativo, ou seja, quando os níveis do D-dímero são baixos (D-dímero < 500 ng/ml) em pacientes com baixo risco da doen- ça, o TEP pode ser excluído como hi- pótese diagnóstica. Porém, se os ní- veis de D-dímero forem > 500ng/ml, não podemos afirmar que a causa da elevação do dímero D foi causada pela TEP, já que outras situações também cursam com a sua elevação como a gravidez e o envelhecimen- to. A maioria dos autores também acredita que pacientes com risco in- termediário (escore de Wells < 6), e D-dímero < 500ng/ml também não devem realizar exames radiológicos para investigar TEP. ATENÇÃO: Fique atento! O D-díme- ro auxiliar o médico a decidir quais pa- cientes com baixo risco para TEP de- vem realizar investigação por exames de imagem para confirmar o diagnósti- co, no entanto ele jamais é usado como exame para confirmar TEP. Além disso, pacientes com alto risco para TEP não apresentam indicação de dosagem de D-dímero, uma vez que nesse grupo de pacientes, avaliação radiográfica por angiotomografia ou arteriografia ainda seria indicada mesmo na presença de níveis de D-dímero < 500ng/ml. SE LIGA! A cascata de coagulação ter- mina com a formação da rede de fibri- na. É necessário um sistema que faça a degradação desses coágulos formados para evitar um quadro de trombose. O fenômeno de degradação do trombo leva a formação do D-dímero, ou seja, ele faz parte do processo final de degra- dação! É muito sensível e está aumen- tado em casos de traumas, gestação e pós-operatório. O D-dímero possui um valor PREDITIVO NEGATIVO ELEVA- DO, ou seja, paciente BAIXO risco com D-DÍMERO negativo, pode-se excluir o diagnóstico de TEP. Radiografia de tórax A radiografia de tórax apresenta bai- xa sensibilidade e especificidade para a avaliação de TEP e na maioria das vezes se apresenta sem alterações. O TEP, porém, pode se manifestar na radiografia na forma de atelectasia ou derrame pleural. As principais altera- ções que podem ser encontradas na radiografia de tórax de paciente com TEP são: • Sinal de Westermark: é a conse- quência da obstrução do vaso, ou seja, são áreas de hipoperfusão pulmonar; • Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar, causado pelo desvio do sangue da artéria obstruída para outra região; • Sinal de Hampton (opacidade em cunha): é alteração clássica da TEP na radiografia, corresponde a 14TROMBOEMBOLISMO PULMONAR área de infarto ou hemorragia pul- monar, que forma necrose e área de atelectasia podendo ou não es- tar associada a derrame pleural. De forma geral, realiza-se a radiogra- fia de tórax para avaliar os diagnós- ticos diferenciais, já que é um exame disponível, barato e de fácil manuseio e interpretação. Eletrocardiograma O ECG pode apresentar-se de forma variada, ou seja, normal assim como cursar com achados inespecíficos dentre eles a taquicardia sinusal e al- terações no segmento ST em cerca de 70% dos casos. O padrão S1Q3T3 é altamente sugestivo, mas apesar de ser considerado um achado clássico apresenta baixíssima sensibilidade. ATENÇÃO! Fique atento! Algumas al- terações eletrocardiográficas como bra- dicardia, fibrilação atrial, novo bloqueio de ramo direito, ondas Q nas derivações inferiores (D2, D3 e AVF) e inversão da onda T indicam pior prognóstico em pa- cientes com TEP. Ecocardiograma É um exame fundamental para o prognóstico, pois irá auxiliar na estra- tificação do paciente pós-TEP já que pode avaliar disfunções no ventrícu- lo direito. Também pode auxiliar na identificação da etiologia da dispneia e dor torácica. É válido ressaltar que o ecocardiograma transesofágico apre- senta maior sensibilidade e especifi- cidade quando comparado ao trans- torácico na detecção de trombos na artéria pulmonar. Cintilografia O exame consiste na inalação de al- bumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. O exa- me compara a perfusão com a inala- ção: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar em diag- nóstico de TEP. O diagnóstico de TEP pela cintilogra- fia consiste na probabilidade: • Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica→ TEP • Baixa probabilidade clínica e cintilo- grafia pulmonar normal → Exclui TEP • Baixa ou intermediária probabili- dade cintilográfica → para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame. SE LIGA! A acurácia do exame é inferior ao da Angiotomografia de Tórax. Caso não seja possível realizar a Angio-TC, realiza-se a Cintilografia. Sendo assim, é ideal para pacientes com alergia à cons- traste ou com insuficiência renal crônica. 15TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Angiotomografia de tórax É considerado o exame padrão ouro, com o desenvolvimento da tecnologia e melhora da qualidade das imagens obtidas. Apresenta como maiores qualidades ser um exame não inva- sivo, facilmente acessível, com aqui- sição rápida das imagens, avaliando a presença de TEP com alta sensibi- lidade e especifidade, apresentando sensibilidade acima dos 96% nos pa- cientes com alta e intermediária pro- babilidades de TEP. Apresenta como vantagem também a possibilidade de avaliação do parênquima pulmonar, da pleura e do mediastino (identifi- ca infarto pulmonar, derrame pleural, aumento de câmara cardíaca direita). Por utilizar radiação ionizante e con- traste iodado, é contraindicado em pacientes com alergia ao contraste e gestantes. Figura 3: A imagem mostra uma angioTC do tórax mostrando na seta da direita um trombo (representa- do pela falha de enchimento) na bifurcação do tronco pulmonare a presença de outro trombo em um ramo da artéria pulmonar direita. Fonte: Disponível em: https:// en.wikipedia.org/wiki/Pulmonary_embolism Fluxograma que mostra a investigação diagnóstica de pacientes com suspeita de TEP. Pacientes com risco intermediário podem prosseguir com investigação para TEP mesmo se níveis de D-dímero < 500ng/ml a depender do julgamento do médico assistente. D-dímero < 500ng/ml D-dímero > 500ng/ml Excluir TEP Angiotomografia de tórax Em grávidas: Angiorressonância Magnética de tórax Dosagem do D-dímero Risco baixo para TEP Risco intermediário para TEP Alto risco para TEP 16TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Arteriografia pulmonar É um exame invasivo considerado método padrão ouro para o diagnósti- co da TEP. O uso de contraste iodado permite avaliar a circulação pulmonar. Apesar de ser considerada padrão ouro, a arteriografia pulmonar é reser- vada aos casos em que outros méto- dos não confir- maram TEP e a suspeita clíni- ca permanece alta. As principais complicações deste exame são anafilaxia e nefrotoxicidade indu- zidas pelo uso do contraste. Figura 4: Arteriografia pulmonar. A seta indica um trombo na artéria pulmonar direita. As pontas de setas indicam hipoperfusão na periferia do parênquima pul- monar. Fonte: Góes Junior, A., Mascarenhas, F., Mourão, G., Elkis, H. and Pieruccetti, M. (2019). Tratamento de tromboembolismo pulmonar por aspiração percutânea do trombo: relato de caso. USG de MMII com doppler Exame pouco inva- sivo que demons- tra sinais diretos e indiretos de trom- bo. Pode ser usado quando há contrain- dicação à angio- TC, pacientes com alergia ao contraste, portadores de IRC ou em gestantes. 17TROMBOEMBOLISMO PULMONAR FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO DE TEP – PACIENTE DE BAIXA PROBABILIDADE, APÓS REALIZAÇÃO DE D-DÍMERO. PositivaNegativa V/Q alta probabilidade Cintilografia V/Q ou angiotomografia V/Q negativa Angiotomografia multislice negativa V/Q média ou baixa probabilidade TEP confirmadoTEP excluído TEP excluído Doppler de MMII TEP confirmado Doppler de MMII NegativoPositivoNegativo Cintilografia V/Q ou angiotomografia Arteriografia TEP confirmado TEP excluído Baixa probabilidade Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1640/tromboembolismo_pulmonar.htm 18TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Fluxograma de avaliação de TEP – paciente de alta ou intermediária probabilidade V/Q média ou baixa probabilidade V/Q negativa Angiotomografia multislice negativa Angiotomografia positiva V/Q Alta probabilidade Negativa Positiva TEP confirmado TEP excluído Doppler de MMII TEP confirmado TEP excluído Cintilografia V/Q ou angiotomografia PositivoNegativo Probabilidade alta ou intermediária TEP confirmadoArteriografia Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1640/tromboembolismo_pulmonar.htm 19TROMBOEMBOLISMO PULMONAR USG de MMII Arteriografia pulmonar EletrocardiogramaGasometria arterial Angiotomografia de tórax Ecocardiograma Cintilografia Raio X de tórax D-dímero 2- 6 vprobabilidade intermediária 0 -1 probabilidade baixa ≥ 7 probabilidade alta Indicado em gestantes, alérgicos ao contraste, portadores de IR Visualiza sinais diretos e indiretos de trombos Indicado se outros métodos não confirmaram TEP e a suspeita ainda é alta Padrão ouro Hipoxemia e alcalose respiratória Alta sensibilidade e especificidade Identifica ausência de fluxo devido ao trombo pulmonar Alta probabilidade: confirma TEP Utilizado em pacientes com alergia a contraste ou com IRC Interm. probabilidade: necessário outro exame para elucidar diagnóstico Baixa probabilidade: exclui TEP Inferior a angio-TC de tórax Ajuda a avaliar diagnóstico diferencial Avalia prognóstico e estratifica o paciente S1Q3T3 – presente em 10% dos pacientes Taquicardia sinusal achado mais comum Sinal de Palla (dilatação da artéria pulmonar) Pouco sensível e pouco específico Sinal de Westermark (hipoperfusão) Sinal de Hampton (área de infarto/ hemorragia alveolar) Inespecífico e pouco usado para CONFIRMAR diagnóstico <500ng/ml + baixo risco de TEP Exclui diagnóstico de TEP Alto valor PREDITIVO NEGATIVO Escore de Wells Exames Diagnóstico MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO 20TROMBOEMBOLISMO PULMONAR 8. TRATAMENTO A pedra angular no tratamento do tromboembolismo pulmonar consis- te na anticoagulação. É válido salien- tar que os de anticoagulantes não degrada os trombos já formados, na verdade eles atuam impedindo a for- mação de novos trombos. Em outras palavras podemos dizer que os anti- coagulantes evitam a recorrência do tromboembolismo pulmonar. A escolha da melhor opção terapêu- tica consiste na avaliação da apre- sentação hemodinâmica do paciente. HORA DA REVISÃO Como dito anteriormente na classifica- ção clínica do TEP através da ferramen- ta PESI, o paciente deve ser tratado em diferentes locais conforme o seu risco: Risco baixo: tratamento ambulatorial. Risco intermediário: tratamento hospi- talar em enfermaria. Risco alto: tratamento hospitalar em unidade de terapia intensiva. Medidas de suporte Oxigenoterapia: Pacientes com satu- ração periférica de O2 (SpO2) < 90% devem receber oxigênio suplementar. Em caso de hipóxia, instabilidade he- modinâmica grave, rebaixamento do nível de consciência e insuficiência respiratória grave, há indicação de in- tubação orotraqueal e ventilação me- cânica. Suporte hemodinâmico: Pacientes que apresentam hipotensão devem receber fluidos com cautela, sendo re- comendada infusão de 500 a 1000ml de cristaloides. Em caso de ausência de resposta adequada, deve ser ins- tituída terapia com droga vasoativa. Esses pacientes com instabilidade hemodinâmica apresentam indicação de realização de trombólise, que será abordada com mais detalhes adiante. Paciente estável O paciente pode ser anticoagulado de imediato, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido fechado, já que a medicina baseada em evidência nos permite iniciar a terapêutica quando há uma elevada suspeição, ou seja, nestes casos não devemos postergar e esperar o resultado de exames de imagem já que a mortalidade de TEP é elevada. As opções de anticoagu- lantes usados na fase inicial são: ATENÇÃO! Se liga! Pacientes com his- tória recente de AVC hemorrágico, ci- rurgias recentes ou hemorragia ativa NÃO devem receber anticoagulação empírica, pois os riscos superam os be- nefícios do tratamento. Nesses pacien- tes o diagnóstico deve ser confirmado, e avalia-se a possibilidade de instituir terapias alternativas como trombecto- mia ou filtros de veia cava para prevenir novas embolizações. 21TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Heparina de baixo peso molecular (HBPM) Exemplo: Enoxaparina – administrar 1,5 mg/kg de peso, via subcutânea, uma vez ao dia. Possui efeito rápido e menor risco de sangramento e plaquetopenia em re- lação à heparina não fracionada. Não é necessário o acompanhamento por exames complementares (coagulo- grama) para avaliar sua atividade an- ticoagulante. Esta medicação deve ser contraindicada ou ajustada em pacientes com disfunção renal grave já que sua excreção é renal. A eno- xaparina deve ser utilizada na dose de 1mg/kg de 12/12h em pacientes com função renal normal. BOX SE LIGA [A enoxaparina é a dro- ga de escolha em pacientes com cân- cer e TEP.] Heparina não fracionada Possui efeito rápido e pode ser usa- do em pacientes com disfunção re- nal. Existem diversos esquemas te- rapêuticos para o uso da heparina não fracionada (HNF) em dose plena. Um dos principais esquemas sugere administrar uma dose de ataque de 80UI/kg, seguido por uma dose de manutenção de 12-18UI/kg por hora em bomba de infusão, com dose má- xima de 1000UI/kg. Devemos realizar o controle com co- agulograma peloTPPa (inicialmente deve-se pedir de 6/6h), realizando ajustes pelo valor do TTPa, cujo valor deve ficar entre 65 e 85. SE LIGA! O uso de Heparina (indepen- dente do tipo) pode induzir a plaqueto- penia, sendo esse evento mais comum em pacientes que fazem uso de hepari- na não fracionada. Inibidor do fator XA Exemplo: Fondaparinux Esta classe de medicamento faz par- te dos novos anticoagulantes orais e apresenta como benefício a ausência não interação com alimentos (dife- rente do que ocorre com os cumaríni- cos), assim não há restrição alimentar. Também não é necessário realização de exames para acompanhar sua ati- vidade anticoagulante, portanto, NÃO se faz controle do RNI. Entretanto o que limita a sua utilização é o elevado custo, o que dificulta a di- fusão do seu uso no Brasil. Fondaparinux – Possui efeito rápido e agudo. É muito utilizado em pacien- tes com trombocitopenia in- duzido pela heparina. Con- traindicado em casos de disfunção renal (clearance de creatinina < 30ml/min) Deve ser administrado conforme o peso, por via 22TROMBOEMBOLISMO PULMONAR subcutânea, uma vez ao dia.: • Peso menor que 50 kg: 5 mg. • Peso 50-100 kg: 7,5 mg. • Peso maior que 100 kg: 10 mg. Cumarínicos Exemplo: Marevan (Varfarina sódica). Marevan - Inicia-se com 5 mg por dia, com ajustes conforme RNI. É uma das drogas mais utilizadas para anticoagulação dos pacientes após a alta hospitalar, no entanto, não pode ser utilizado isoladamente no paciente admitido com TEP, uma vez que os inibidores da vitamina K (como a varfarina) apresentam inicialmente um efeito pró-trombótico paradoxal, devendo ser combinados ao uso da HNF ou enoxaparina até atingir os ní- veis de RNI adequados. Assim é utili- zado como uma ponte terapêutica, já que seu efeito demora cerca de 3 a 5 dias. Devem ser evitados durante a ges- tação por apresentar atividade tera- togênica. Porém durante a amamen- tação pode ser utilizada já que não é excretado pelo leite materno. Outro ponto importante é orientar ao paciente em uso desta medicação que evite o consumo de alimentos ricos em vitamina K (exemplo: folhas verde-escuras), já que os cumarínicos exercem sua função anticoagulante inibindo os fatores de coagulação de- pendentes de vitamina K. É válido salientar que estes pacientes devem fazer o controle regular do RNI (15 em 15 dias). A meta do RNI é ficar entre o intervalo dois e três, para que o paciente seja considerado ade- quadamente anticoagulado. Em caso de RNI < 2 devemos subir a dose da medicação (paciente não anticoagula- do). Porém, em níveis > 3 aumenta-se a chance de sangramento, assim de- vemos reduzir a dose da medicação e em casos de RNI muito elevado, por exemplo, acima de 6, o paciente deve ser internado para controle do RNI. SE LIGA! Varfarina é mais indicado para pacientes com Síndrome Antifosfolípide, disfunção renal crônica. 23TROMBOEMBOLISMO PULMONAR SE LIGA! Valores do RNI adequados com utilização de Varfarina: entre 2 e 3. • RNI> 3: aumenta as chances de san- gramento. • RNI <2: não protege contra novos eventos trombóticos. Novos anticoagulantes orais (NOACs) Exemplo: Apixabana, Rivaroxabana, Endoxabana e Dabigatran. Apixabana - Administrar 10 mg VO a cada 12 h, por 7 dias, se- guidos de 5 mg VO a cada 12 h. Rivaroxabana – Administrar dose de 15 mg por via oral (VO) a cada 12 horas, por 21 dias, seguida de 20 mg VO uma vez ao dia. Endoxaban – Administrar 60 mg por via oral (VO) uma vez ao dia. Dabigatran – Administrar 150 mg por via oral (VO) a cada 12 horas. • Apixabana e Rivaroxabana: possuem efeito rápido. • Endoxabana e Dabigatrana: não possuem efeito imedia- to, por isso ambas as drogas necessitam de um tratamen- to ponte, ou seja, um medi- camento que faça efeito nos 5 primeiros dias do trata- mento. Vantagens: menor sangramento em relação à varfarina, possuem pouca interação com alimentos e não é ne- cessário o controle de RNI. Desvantagens: contraindicado em pacientes com disfunção renal, FA com uso de prótese valvar e pacien- tes com estenose mitral. Além disso, é um medicamento caro. SE LIGA! A anticoagulação ne gestação deve ser feita com a Enoxaparina. Por quanto tempo devemos antico- agular o paciente com TEP? Caso a TEP seja de origem não pro- vocada ou causada por um fator que não pode ser corrigido (por exemplo quando o paciente apresen- ta um câncer que não pode ser tra- tado) ou ainda se for um quadro de TEP recorrente, a recomendação é anticoagulação por no mínimo três meses. Em caso de TEP provocada por um fator como imobilização, cirurgias, câncer ou gravidez, a recomendação é suspender a anticoagulação após 3 meses da resolução do fator desen- cadeante. Podendo ser postergada a partir da análise do especialista. Pacientes com câncer devem tratar durante todo o tratamento da neopla- sia. 1 2 3 4 24TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Paciente instável HORA DA REVISÃO Pacientes instáveis são classificados a partir de uma PAS <90mmHg. Eles apresentam a clínica da insuficiência cardíaca: pele pegajosa, perfusão peri- férica lentificada e outros sinais de bai- xo débito. Para relembrar, tais pacientes apresentam um aumento da resistência, que leva ao aumento de sangue dentro do VD e consequente abaulamento do septo interventricular com compressão do VE. O ventrículo esquerdo comprimi- do gera hipotensão! Para diminuir essa resistência inicial, deve-se realizar a fi- brinólise QUÍMICA ou MECÂNICA.] Em pacientes instáveis é preconizado o uso de trombolíticos [Estreptoqui- nase, Alteplase (rtPA) ou Tenectepla- se]. A janela terapêutica é de 14 dias (sendo que nas primeiras 72 horas há o maior benefício). Em virtude dos riscos desta terapêutica devemos ter o diagnóstico de TEP confirmado por exames de imagem. Estreptoquinase: administrar 250.000 UI IV em bolus em 30 min, seguido de 100 .000 Ul/h por 12-24 h OU 1.500.000 UI IV em 2 horas – preferível. Alteplase ou rtPA: 0,6mg/kg IV em 15 minutos (dose máxima de 50mg) OU 100mg IV em 2 horas – preferível. Tenecteplase – 30 mg para ≤ 60 kg; 35 mg para 61 a 69 kg; 40 mg para 70 a 79 kg; 45 mg para 80 a 89kg; 50 mg para ≥ 90 kg. ATENÇÃO! Fique atento! A única indica- ção amplamente aceita para realização de trombólise em pacientes com TEP é a instabilidade hemodinâmica persistente. No entanto, alguns autores sugerem a realização da trombólise em pacientes que apresentam disfunção do ventrículo direito (VD) com piora progressiva, apre- sentaram PCR em decorrência ao TEP ou na presença de trombo livre no VD, evento raro, porém de altíssima morta- lidade. CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS AVE hemorrágico PA > 180X100 AVE isquêmico < 3 meses Uso de anticoagulantes (RNI >2) Neoplasia intracraniana Gravidez Mal-formações arteriovenosas Úlcera péptica ativa Sangramento interno ativo (exceto menstru- ação) Parada c ardiorrespiratória com ressuscitação Suspeita de dissecção de aorta Plaquetas < 100.000/ mm3 Trauma fechado de face ou crânio < 3 meses Cirurgia, biópsia ou punção de vasos não- -compressíveis < 10 dias Trombectomia Uma opção de tratamento de fibri- nólise mecânica é a trombectomia, onde é retirado o coágulo endovas- cular através de cirurgia. É uma op- ção para pacientes jovens com TEP grande proximal que estão com hi- potensão; 25TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Filtro de Veia Cava Inferior Caso haja contraindicação ao uso de anticoagulante ou reincidência de quadros de tromboembolismo pul- monar em pacientes anticoagulados corretamente a opção é a utilização do filtro de veia cava inferior. Caso o paciente necessite de uma cirurgia e está anticoagulado, também está in- dicado a utilização do filtro de VCI. 26TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Fluxograma sobre as condutas na investigação e tratamento do tromboembolismo pulmonar. Baixa probabilidade Média ou alta probabilidade Dúvida ou alta probabilidade Manter apenas anticoagulação Trombólise ou embolectomiaou filtro de VCI Novos anticoagulantes orais Cumarínicos Inibidor do fator Xa Heparina (não fracionada ou baixo peso molecular) D-dímero Estável Instável Doppler de MMII Considerar angiografia Probabilidade pré-clínica Angio-TC ou TC de tóraxNão é TEP Avaliação complementar Sinais e sintomas sugestivos Iniciar anticoagulação Hemodinâmica do paciente Dúvida ou alta probabilidade SUSPEITA DE TEP RX de tórax, gasometria arterial, ECG, ECO TT Dispneia, dor pleurítica, dor subesternal, tosse e hemoptise Taquipneia, taquicardia, sibilos, MV reduzidos, febre, edema assimétrico de MMII, hipotensão. Fondaparinux Apixabana, Endox Rivaroxabanaabana e Dabigatran Varfarina RNI entre 2 e 3 N eg at iv o Negativo Po si tiv o Positivo Liga Acadêmica de Clinica Médica PUC-PR Autores: Letícia Grazielly Wagner e Thalyta Kepka. Orientador(a): Dra. Orjana Freitas (Pneumologista - PUCPR). Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR. HISTÓRIA CLÍNICA Paciente de 84 anos, feminina, viúva há 10 anos, procedente de cidade de grande porte. Aposentada, trabalhou com cultivo de algodão durante a maior parte da vida. Apresenta nível de escolaridade baixo, alfabetizada. Atualmente reside com uma das filhas, mas mantém inde- pendência e autonomia. Comorbidades: • Epilepsia (em uso de Carbamazepina 200mg 2x/dia, Fenitoína 100mg 3x/dia); • Ex-tabagista de 5-8 cigarros de palha/dia por 10 anos (parou há 30 anos); • Sedentária (devido à dispneia). Paciente encaminhada para avaliação de quadro de dispneia progressiva associada à tos- se produtiva de caráter persistente. Segundo a informante, a dispneia teve início há 10 anos, naquela época, sem interferência nas atividades diárias, porém evoluiu com piora importante há duas semanas estando presente aos mínimos esforços. Internada há 10 dias foi tratada como caso de pneumonia e fez curso de antibiótico - Levofloxacino por 10 dias. Após o tratamento manteve queixa de tosse produtiva, com RX de tórax (Figura 1) mantendo padrão de cardiome- galia e consolidação extensa em campos supe- riores de pulmão direito. Para melhor elucidar a consolidação, foi realizada TC de tórax que mostrou opacidade pulmonar com contornos irregulares no lobo superior direito. Pulmões hipoventilados (Figura 2). Figura 1. RX de tórax após tratamento antibiótico. Editora Sanar REG, hipocorada, hidratada, afebril, cia- nótica em extremidades (principalmente em MMII), lúcida, porém desorientada em tem- po e espaço. FR: 24 mrpm, FC: 88 bpm, T(ax): 35,9 graus. PA: 140x80 mmHg. Sem achados dignos de nota em orelhas, olhos, nariz e cavidade oral. Ausência de linfonodomegalias palpáveis. Escala de coma de Glasgow-15, acorda- da, pupilas isofotorreagentes, ausência de déficit neurológico focal. Expansibilidade torácica diminuída, MV+ bilateralmente diminuído global- mente, roncos difusos e crepitantes em base di- reita; SatO 2 74% em AA e 89% com máscara em névoa, presença de esforço respiratório quando retira a máscara. Bulhas rítmicas normofonéticas sem so- pros, em dois tempos, com impressão de extrassístoles. Globoso, flácido, fáscies de dor à palpa- ção profunda difusamente, Ruídos hi- droaéreos presentes, difícil avaliação de massas, sem sinais de irritação peritoneal. Membro inferior direito com edema até coxa 2+/4+, panturrilhas livres, sem si- nais de empastamento, Membro inferior es- querdo com edema de MMII +/4 (Figura 3). Ausência de sinais de artrite. EXAME FÍSICO Figura 2. TC de tórax - lesão em lobo superior. Paciente foi internada para investigação do quadro pulmonar, porém no momento do internamento descreveu uma queixa de dor intensa em MMII associada a edema assimé- trico (maior em MID) de início há quatro dias associada á vermelhidão de todo o MID há dois dias. Editora Sanar Figura 3. Edema de Membros inferiores. EXAMES COMPLEMENTARES 1. Quais diagnósticos a paciente apresenta? 2. Que fatores podem contribuir para a dispnéia? 3. Uma condição pode estar agravando o qua- dro clínico, qual seria? 4. Como explicar os achados de imagem? Exis- tem outras possibilidades que não a pneu- monia para os achados de imagem? PONTOS DE DISCUSSÃO Hemocultura: positiva em uma amostra - Estafilococo não produtor de coagulase (ENPC) sensível a todos os antibióticos. Função renal: normal. Hemograma: Sem sinais de infecção ou ou- tras alterações. Proteina com reativa (PCR): 13 mg/dL (0,1 - 1,0 mg/dL). Ecocardiograma (ECO): hipertrofia concên- trica do VE. Com fluxo transvalvar mitral com- patível com alteração do relaxamento do VE, associado a um escape sistólico mitral. Câmaras direitas sem alteração. Ecodoppler venoso de MID: ausência de compressibilidade e fluxo em veias fibulares com dilatação e conteúdo hipoecóide sugerindo trombo agudo. Broncoscopia: para elucidação do quadro pulmonar foi realizada broncoscopia com la- vado broncoalveolar e biópsia transbrônquica. a. LBA com cultura positiva para S. pneumo- niae. b. Biópsia transbrônquica dentro dos parâme- tros de normalidade. Editora Sanar DISCUSSÃO Trata-se de uma paciente ex-tabagista (fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crô- nica), que apresentou um quadro de pneumo- nia, possuindo ainda algum grau insuficiência cardíaca diastólica (pela hipertrofia do ventrí- culo esquerdo). Todos esses fatores já contri- buem para a dispnéia. Porém a paciente apre- senta um quadro de insuficiência respiratória e que não tem apresentado melhora significativa mesmo em uso da terapia antibiótica. Além disso nos últimos dias apresenta uma trombo- se venosa profunda no membro inferior direi- to. Portanto deve-se pensar que além de todas essas condições citadas a paciente pode estar apresentando um quadro de tromboembolia pulmonar. O TEP é uma das principais causas de óbi- to intra-hospitalar, chegando a levar a óbito aproximadamente 10% dos pacientes interna- dos. Além disso, junto com as consequências da trombose venosa profunda, é motivo de grande morbidade em decorrência de síndrome pós- -trombótica e da hipertensão pulmonar secun- dária que pode desenvolver. A maior parte dos trombos, que causam em- bolia pulmonar, é proveniente de veias profun- das proximais dos membros inferiores (TVP), e ocorrem por meio de lesão endotelial, estase sanguínea e hipercoagulabilidade (tríade de Virchow), associados a fatores genéticos e ad- quiridos que também tem contribuição impor- tante na fisiopatologia da doença. Sabe-se que sem profilaxia adequada, 40 a 60% dos pacien- tes clínicos e cirúrgicos de alto risco acabam de- senvolvendo trombose venosa profunda (TVP) e uma parcela destes pacientes desenvolverá tromboses mais proximais, com maior risco de embolia pulmonar. Seu diagnóstico é um desafio em qualquer pronto-socorro, pois sem tratamento adequado a mortalidade pode superar os 30%, pensando assim, observamos ser uma doença de grande importância clínica, já que seu desfecho depen- de basicamente do reconhecimento rápido e da agilidade no tratamento. Nesse caso o diagnóstico foi presuntivo de TEP, uma vez que a paciente apresenta trombo- se venosa profunda. Para o diagnóstico da em- bolia pulmonar o melhor exame nesse caso se- ria uma angiotomografia pulmonar. Porém de qualquer forma a paciente já necessita do uso de anticoagulação, pela própria TVP.A antico- agulação é o fundamento do tratamento bem sucedido. Inicia-se a anticoagulação com um fármaco parenteral – heparina de baixo peso molecular (HBPM), heparina não-fracionada (HNF) ou Fondaparinux. Após qualquer episódio de TEP/TVP, como regra, mantemos o tratamento anticoagulante via oral prolongado, seja ele com um antagonis- ta de vitamina K (Varfarina) ou com um inibi- dor do fator Xa (Rivaroxabana). Alguns fatores como a gravidade do quadro clínico no início, a extensão das sequelas pulmonares ou da TVP e o estado clínico do paciente podem ser con- siderados para a ampliaçãodo tratamento, que pode durar de três meses a duração indefinida. A Varfarina, antagonista da vitamina K, classicamente utilizada na profilaxia secundá- ria, necessita de pelo menos cinco dias de uso para que exerça seu efeito completo, mesmo que o tempo de protrombina e o RNI, usados para monitorização, aumentem mais rápido que isso. Além desse inconveniente, há neces- sidade do controle periódico do RNI, que sofre alteração com a mudança do padrão alimentar do paciente, com o uso concomitante de outros medicamentos e com outras situações clínicas. Como novidade do mercado farmacológico, o uso da Rivaroxabana (Xarelto®), um anticoa- gulante que atua na inibição do fator de coa- gulação Xa, vem sendo ampliado para o campo da TVP e do TEP devido ao seu rápido inicio de ação, sua facilidade posológica, seu baixo risco de interações medicamentosas e pela não necessidade de controle do RNI. Contudo, este aumento no uso do medicamento para estes fins, vem acompanhado do retorno de alguns pacientes aos ambulatórios com reincidência Editora Sanar ou ainda com complicações hemorrágicas na vigência do tratamento profilático. Apesar da complexidade no uso da Varfa- rina, alguns profissionais tem optado por este tratamento, já que na vigência de uma hemor- ragia o controle com reposição de vitamina K é possível, diferente do uso com Rivaroxabana que ainda não apresenta antídoto utilizável. A TVP tem maior probabilidade de ocorrer em pessoas com fatores de risco, que são: idade, trombofilias, cirurgias, traumatismos, gravidez e puerpério, imobilidade ou paralisia, TVP pré- via, câncer, reposição hormonal, AVC prévio, infeções graves, quimioterapia, obesidade, in- farto do miocárdio). Outras situações são importantes no desen- cadeamento da trombose: cirurgias de médio e grande porte, infecções graves, traumatismo, a fase final da gestação e o puerpério. Uma situ- ação que obrigue a uma imobilização prolon- gada (paralisias, infarto agudo do miocárdio, viagens aéreas longas) deve-se ficar atento à possibilidade dessa patologia. Entre as condi- ções predisponentes é importante citar ainda a idade avançada e os pacientes com anormalida- de genética do sistema de coagulação. A TVP pode ser de extrema gravidade na fase aguda, causando embolias pulmonares muitas vezes fatais, onde ocorre a migração dos êmbolos para o pulmão, causando obstrução. Os principais problemas na fase crônica, após dois a quatro anos, são causados pela infla- mação da parede das veias que, ao cicatrizarem, podem levar a um funcionamento deficiente destes vasos sanguíneos. Suspeita-se desse diagnóstico quando um pa- ciente apresenta clínica típica, associado muitas vezes aos fatores de risco já citados. Porém nem sempre os sintomas são muito exuberantes, fazendo com que seja difícil a confirmação. A mesma pode ser feita com um Ecodoppler (pa- drão ouro), que poderá demonstrar dilatação e conteúdo hipoecóide sugerindo trombo agudo. OBJETIVOS DE APRENDIZADOS/COMPETÊNCIA Cascata de coagulação Sinais e sintomas das doenças venosas mais prevalentes Fatores de risco para doenças venosas Diagnósticos diferenciais para edema de membros inferiores e dispneia. PONTOS IMPORTANTES • Atente para a trombose venosa profunda que surge em pacientes sem fatores de risco óbvios; ela pode ser o sinal para uma trom- bofilia primária ou secundária; • TVP pode ser o primeiro sinal de neoplasia oculta; • A ocorrência de nova TVP na vigência de anticoagulação efetiva, deve suscitar trom- bofilia secundária à neoplasia; • A investigação para trombofilias sempre deve ser feita nos casos de tromboses de sí- tios incomuns (ex. membros superiores, Bu- dd-Chiari e trombose venosa central); • O tempo de tratamento para uma primeira TVP em região distal de membro inferior pode ser encurtado para 3 meses de acordo com algumas referências; • Pondere o uso de aspirina em baixas doses após o término da anticoagulação nos casos de TVP sem fatores causais identificáveis;3 • Atente para complicações arteriais das TVP’s: phlegmasia alba dolens e phlegmasia ce- rulea doelens. REFERÊNCIAS 1. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Disponível em: < www.sbacv.com.br> -acesso em dezem- bro/2014. 2. O’Donnell M, Weitz JI. Thromboprophylaxis in surgi- cal patients. Can J Surg. April 2003:129-35. 3. N Engl J Med 2012; 367:1979-1987 nov 28. Abordagem diagnóstica e terapêutica Tromboembolismo Pulmonar - TEP Baixa probabilidade Dímero-D Média ou alta probabilidade Angio-TC ou TC de tórax Negativo Positivo - Dispneia - Dor pleurítica - Dor subesternal - Tosse e hemoptise Paciente c/ suspeita de TEP Sinais e sintomas sugestivos Avaliação complementar Probabilidade pré-clínica- Taquicardia - Taquipneia - Sibilos e febre - Edema unilateral em MMII Não é TEP - Rx de tórax - Gaso arterial - ECG - ECO TT HNF Warfarina Positivo Negativo Iniciar anticoagulação Dúvida ou alta probabilidade? Doppler de MMII Dúvida ou alta probabilidade?Considerar angiografia Hemodinâmica do paciente Estável Instável Manter apenas anticoagulação Considerar trombólise ou embolectomia RNI entre 2 e 3 Enoxaparina
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