Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2012 Prática cambial Prof. Amarildo Furtado de Pinho Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Amarildo Furtado de Pinho Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 332.456 La Torre, José Alfredo Gomez de Prática Cambial / José Alfredo Pareja Gomez de La Torre; Amarildo Furtado de Pinho. Indaial : Uniasselvi, 2012. 237 p. : il ISBN 978-85-7830- 599-4 1.Prática cambial. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. T689p III aPresentação Caro acadêmico! O livro que você está prestes a estudar tem a intenção de explicar o funcionamento do fluxo monetário entre países através do mercado de câmbio, tanto em nível macro (as relações monetárias entre governos de diferentes países) como as relações micro (as relações financeiras e comerciais entre empresas). O mercado de câmbio abrange muitas áreas, desde a necessidade de um sistema padronizado para fechar os contratos de câmbio, até questões financeiras que podem comprometer a economia de um país. Tudo isso vamos estudar passo a passo neste livro, primeiro as questões macro e depois as questões micro, que fazem parte desse mercado cambial indispensável para a comercialização de bens e serviços e financiamento internacional. Em outras palavras, vamos analisar o mercado começando a estudar a floresta, as moedas internacionais para depois entrar em detalhes nas árvores. O livro foi escrito em meio a uma crise internacional muito interessante, a crise do euro. Assim, você poderá analisar situações que estão interferindo nas taxas das moedas num cenário mundial e que não têm prazo para se estabilizar. Além do caderno, você terá o apoio da trilha de aprendizagem no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Nesta trilha, você encontrará material de apoio que poderá ajudá-lo nos estudos. Desde já a equipe pedagógica da UNIASSELVI lhe deseja um excelente estudo, pois lhe trará novos conhecimentos que ampliarão suas competências profissionais. Prof. Amarildo Furtado de Pinho Prof. José Alfredo Pareja Gomez de La Torre IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL ............................................................................................ 1 TÓPICO 1 – CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL .......................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A ECONOMIA INTERNACIONAL .................................................................................................. 4 3 O NOVO CENÁRIO ECONÔMICO APÓS A CRISE INTERNACIONAL DE 2008 (CRISE SUBPRIME) .............................................................................................................. 5 4 FATOS QUE ESTÃO MUDANDO O CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL ......................... 6 5 ABERTURA ECONÔMICA DO BRASIL ........................................................................................ 6 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 8 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13 TÓPICO 2 – PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL ...................................................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL) ............................................................................... 20 2.1 SISTEMA DE PAGAMENTOS EM MOEDA LOCAL (SML) .................................................... 23 3 UNIÃO EUROPEIA .............................................................................................................................. 24 3.1 O TRATADO DE MAASTRICHT .................................................................................................. 25 3.2 O EURO COMO MOEDA ÚNICA DA UE .................................................................................. 25 3.3 O BRASIL E A RELAÇÃO COMERCIAL COM A UNIÃO EUROPEIA (UE) ........................ 29 4 ESTADOS UNIDOS ............................................................................................................................. 30 5 A ÁSIA E A CHINA .............................................................................................................................. 33 6 NAFTA .................................................................................................................................................... 36 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 37 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 – O MERCADO CAMBIAL INTERNACIONAL .......................................................... 41 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41 2 MERCADO CAMBIAL ........................................................................................................................42 2.1 DEFINIÇÃO DE CÂMBIO EM SI .................................................................................................. 42 2.2 PARIDADE DE PODER DE COMPRA DE UMA MOEDA (PPP) ............................................ 42 3 BALANÇO DE PAGAMENTOS ........................................................................................................ 44 4 RESERVAS CAMBIAIS ....................................................................................................................... 45 5 EURODÓLAR ........................................................................................................................................ 47 6 CONTROLES NA PRÁTICA CAMBIAL ......................................................................................... 49 7 DOENÇA HOLANDESA .................................................................................................................... 51 8 MERCADO PARALELO ...................................................................................................................... 52 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 53 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 55 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 56 sumário VIII TÓPICO 4 – O MERCADO CAMBIAL BRASILEIRO DURANTE AS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS.............................................................................................................57 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................57 2 OPERAÇÕES DE COBERTURA, REPASSES INTERBANCÁRIOS E COBERTURA INTERBANCÁRIA ..................................................................................................57 3 O MERCADO CAMBIAL CONTROLADO ..................................................................................58 4 AS DESVALORIZAÇÕES CAMBIAIS ANTES DO PLANO REAL .........................................59 5 O PLANO REAL ..................................................................................................................................59 6 VALORIZAÇÃO DO REAL NA SEGUNDA FASE DO PLANO REAL ..................................63 6.1 GUERRA CAMBIAL .....................................................................................................................64 6.2 AS NOVAS NORMAS CAMBIAIS ..............................................................................................66 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................68 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................73 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................74 UNIDADE 2 – ASPECTOS FINANCEIROS DA PRÁTICA CAMBIAL .....................................75 TÓPICO 1 – MODALIDADES DE FINANCIAMENTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL BRASILEIRO ..............................................................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 2 ACORDOS COMERCIAIS E ORGANISMOS DE FOMENTO AO COMÉRCIO INTERNACIONAL ....................................................................................................78 2.1 BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID) ..........................................78 2.2 CORPORAÇÃO FINANCEIRA INTERNACIONAL (IFC) .....................................................81 2.3 FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI) ..................................................................82 2.3.1 Balanço de pagamentos .......................................................................................................82 3 CAPTAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS EM MOEDA ESTRANGEIRA DE CURTO E LONGO PRAZO E MEIOS DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO .............................84 4 MEIOS DE FINANCIAMENTO PARA AS EXPORTAÇÕES ....................................................85 4.1 FINANCIAMENTO DE CURTO PRAZO ..................................................................................85 4.1.1 Commercial papers (CP) .........................................................................................................85 4.1.2 Certificado de depósitos (CD) .............................................................................................86 4.1.3 Pre-export ................................................................................................................................86 4.1.4 Adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC) ..............................................................87 4.1.5 Adiantamento sobre cambiais entregues (ACE) ..............................................................88 4.1.6 Supplier’s credit e buyer’s credit .............................................................................................88 4.1.7 Forfaiting .................................................................................................................................89 4.1.8 Swaps .......................................................................................................................................89 4.2 FINANCIAMENTO DE MÉDIO E LONGO PRAZO ...............................................................90 4.2.1 Bônus ......................................................................................................................................90 4.2.2 Repasse em moeda estrangeira ...........................................................................................91 4.2.3 BNDES – Fundo Garantidor para Investimentos (BNDES FGI) ....................................91 4.2.4 Financiamentos com recursos de BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) ....93 4.2.4.1 BNDES PSI – exportação pré-embarque ........................................................................93 4.2.5 Financiamento às exportações – Proex ..............................................................................96 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................98 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................100 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................101 IX TÓPICO 2 – CAPITAIS INTERNACIONAIS E A PRÁTICA DE IDE (INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO) ..................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103 2 SEGURANÇA, RENTABILIDADE E SATURAÇÃO DE MERCADOS FINANCEIROS ....103 2.1 CAPITAIS DE RISCO DE CURTO PRAZO ................................................................................108 2.2 CAPITAIS DE RISCO DE LONGO PRAZO ...............................................................................110 3 IDE (INVESTIMENTO DIRETO EXTERNO) NO BRASIL .......................................................111 4 O CAPITAL ESTRANGEIRO E SEUS EFEITOS NA TAXA CAMBIAL..................................114 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................116 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................118TÓPICO 3 – SISTEMAS MONETÁRIOS E A SUA INFLUÊNCIA NA PRÁTICA CAMBIAL .....................................................................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 BALANÇO DE PAGAMENTOS ......................................................................................................120 3 FINANCIAMENTO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS COM AS RESERVAS CAMBIAIS .....................................................................................................................124 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128 TÓPICO 4 – A LEI DA OFERTA E DA PROCURA NA PRÁTICA CAMBIAL E AS FLUTUAÇÕES NA TAXA DE CÂMBIO ....................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 A TAXA E A LEI DA OFERTA E DA PROCURA .........................................................................129 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS NA FLUTUAÇÃO DAS TAXAS DE CÂMBIO ...........130 4 A TAXA DE CÂMBIO COMO POLÍTICA ECONÔMICA E O FUNDO DE ESTABILIZAÇÃO CAMBIAL ...................................................................................................132 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................137 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 TÓPICO 5 – AS DIFERENTES FORMAS DE PAGAMENTO ......................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139 2 REMESSA ANTECIPADA E SEM SAQUE ....................................................................................139 2.1 REMESSA ANTECIPADA ............................................................................................................139 2.2 REMESSA SEM SAQUE ................................................................................................................140 3 COBRANÇA DOCUMENTÁRIA ....................................................................................................141 4 AS DIFERENTES ALTERNATIVAS E CARACTERÍSTICAS DA CARTA DE CRÉDITO ..142 4.1 CARTA DE CRÉDITO IRREVOGÁVEL .....................................................................................143 4.2 CARTA DE CRÉDITO RESTRITA ...............................................................................................143 4.3 CARTA DE CRÉDITO TRANSFERÍVEL ....................................................................................144 4.4 CARTA DE CRÉDITO ROTATIVA (REVOLVING) ...................................................................144 4.5 CARTA DE CRÉDITO COM CLÁUSULA VERMELHA (RED CLAUSE) ............................145 4.6 CARTA DE CRÉDITO STAND-BY LETTER OF CREDIT ........................................................145 4.7 CARTA DE CRÉDITO BID LETTER OF CREDIT .....................................................................146 5 MODALIDADES FINANCEIRAS DAS CARTAS DE CRÉDITO ............................................146 5.1 LIQUIDAÇÃO DAS DIVISAS NAS EXPORTAÇÕES COM CARTA DE CRÉDITO...........147 X 6 OPÇÕES E INCENTIVOS ÀS EXPORTAÇÕES ATRAVÉS DO BACK TO BACK E DRAWBACK ........................................................................................................................148 6.1 INCENTIVO TRIBUTÁRIO ÀS EXPORTAÇÕES DRAWBACK .............................................150 7 FACTORING INTERNACIONAL ....................................................................................................151 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................153 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................155 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156 UNIDADE 3 – ASPECTOS OPERACIONAIS DA PRÁTICA CAMBIAL E ANÁLISE DE PREÇOS INTERNACIONAIS ...........................................................................157 TÓPICO 1 – O FECHAMENTO DE CÂMBIO .................................................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES NA PRÁTICA CAMBIAL ..........................................................159 2.1 BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN) ...............................................................................160 2.2 BANCOS AUTORIZADOS PARA OPERAR NO MERCADO DE DIVISAS ........................161 2.2.1 Posição de divisas ao final do dia .......................................................................................162 2.2.2 Participação das instituições financeiras no mercado cambial ......................................163 2.3 EMPRESAS QUE INTERAGEM NO MERCADO CAMBIAL ................................................166 2.4 CORRETORES DE CÂMBIO ........................................................................................................169 3 COTAÇÕES, POSIÇÃO DE CÂMBIO E O SPREAD CAMBIAL .............................................170 3.1 POSIÇÃO COMPRADA ...............................................................................................................170 3.2 POSIÇÃO VENDIDA ....................................................................................................................171 3.3 POSIÇÃO NIVELADA ..................................................................................................................171 3.4 POSIÇÃO IDEAL ...........................................................................................................................171 4 TIPOS DE MERCADO DE CÂMBIO .............................................................................................174 4.1 MERCADO DE CÂMBIO SACADO ...........................................................................................174 4.2 MERCADO DE CÂMBIO MANUAL .........................................................................................175 4.3 MERCADO DE CÂMBIO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO (INTERBANCÁRIO) ..................176 4.3.1 Mercado de câmbio primário ..............................................................................................176 4.3.2 Mercado de câmbio secundário e/ou interbancário ........................................................176 4.4 MERCADO DE CÂMBIO FUTURO E À VISTA .......................................................................177 4.4.1 Mercado de câmbio futuro ..................................................................................................177 4.4.2 Mercado de câmbio à vista ..................................................................................................178 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................178RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................180 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................181 TÓPICO 2 – O SISTEMA INTEGRADO DE COMÉRCIO EXTERIOR (SICOMEX) E OS CONTRATOS DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO ..........................................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183 2 RECURSOS DOS EXPORTADORES NO EXTERIOR ................................................................183 3 FECHAMENTO DE CÂMBIO..........................................................................................................185 4 CONTRATOS DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO .........................................................................187 5 LIQUIDAÇÃO DO CONTRATO DE CÂMBIO ...........................................................................188 6 ALTERAÇÕES NO CONTRATO DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO .......................................189 6.1 PRORROGAÇÕES AOS CONTRATOS ......................................................................................190 6.2 CANCELAMENTO E BAIXA DO CONTRATO DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO ...........191 7 ALTERAÇÕES NO CONTRATO DE CÂMBIO DE IMPORTAÇÃO .......................................192 8 MODALIDADES NOS TEMPOS DOS CONTRATOS DE CÂMBIO DE IMPORTAÇÃO .............................................................................................................................194 8.1 CONTRATO DE CÂMBIO PARA PAGAMENTO ANTECIPADO ........................................194 XI 8.2 CONTRATO DE CÂMBIO PARA PAGAMENTO À VISTA ...................................................195 8.3 CONTRATO DE CÂMBIO PARA PAGAMENTO A PRAZO .................................................196 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................201 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202 TÓPICO 3 – FORMAÇÃO DE PREÇOS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO CONSIDERANDO A PRÁTICA CAMBIAL ............................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 FATORES PARA DETERMINAR O PREÇO DOS PRODUTOS EXPORTÁVEIS ................203 3 FATORES PARA DETERMINAR O PREÇO DOS BENS E SERVIÇOS A SEREM EXPORTADOS .....................................................................................................................205 4 FATORES PARA DETERMINAR O PREÇO DOS BENS E SERVIÇOS A SEREM IMPORTADOS .....................................................................................................................207 5 APURAÇÃO DOS CUSTOS DOS PRODUTOS A SEREM IMPORTADOS .........................210 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 TÓPICO 4 – FERRAMENTAS FISCAIS NA PRÁTICA CAMBIAL E MOVIMENTAÇÃO INTERNACIONAL DE CAPITAIS ........................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 RENDIMENTOS DE CAPITAL NO EXTERIOR ..........................................................................219 3 PAGAMENTO DO IMPOSTO DA RENDA DOS LUCROS GERADOS NO EXTERIOR ..220 4 OS CONTROLES DOS FLUXOS DE CAPITAIS INTERNACIONAIS E OS CAPITAIS BRASILEIROS NO EXTERIOR ...................................................................................222 5 QUESTÕES OPERATIVAS DO FLUXO MONETÁRIO INTERNACIONAL DAS EMPRESAS E PESSOAS FÍSICAS ........................................................................................224 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................225 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................231 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................232 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................233 XII 1 UNIDADE 1 A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • visualizar o contorno econômico internacional em que o Brasil está inse- rido e a sua relação com o mercado cambial; • reconhecer os principais sócios comerciais do Brasil e como eles podem influenciar na taxa de câmbio do real; • conhecer como funciona o mercado de câmbio internacional; • saber por que os países precisam de reservas internacionais. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL TÓPICO 2 – PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL TÓPICO 3 – O MERCADO CAMBIAL INTERNACIONAL TÓPICO 4 – O MERCADO CAMBIAL BRASILEIRO DURANTE AS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, você sabe quantas transações que envolvem a prática cambial estão inseridas nos produtos que você compra no mercado? Na verdade é difícil de determinar, mas a prática cambial faz parte do dia a dia das transações internacionais. Estas transações não param de crescer ano a ano, acompanhando assim um processo de integração comercial constante e muito forte entre os diferentes países que fazem parte da economia mundial. Grande parte dessa integração é mais um reflexo do fato que na atualidade o mundo é um grande ambiente global, graças às inovações e aprimoramentos dos serviços logísticos e de comunicação. Assim, sob este cenário neste primeiro tópico vamos analisar e estudar: • Como funciona a economia internacional com seus diferentes mercados e necessidades, com suas diferentes opções de oferta de bens e serviços e com sua disponibilidade limitada de matérias-primas. Oferta limitada para um consumo de bens e serviços que aumenta todos os anos, reflexo claro da progressiva e ilimitada procura de novas necessidades humanas. • Como a economia mundial durante os últimos anos vem se transformando a passos muito rápidos, tanto assim que o cenário econômico mundial de hoje é muito diferente do cenário de 10 ou 20 anos atrás. • Como a abertura econômica do Brasil vem transformando nosso país e como esse aumento de produtos exportáveis brasileiros vem trazendo um impacto muito forte na oferta de produtos no comércio internacional. • Quais são os fatos que estão transformando o novo cenário econômico mundial. As perspectivas econômicas atuais vão mudar de maneira mais agressiva o comércio internacional de bens e serviços, principalmente se analisarmos as perspectivas da nova classe média dos grandes países que não param de crescer, tais comoo Brasil, a China e a Índia. UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 4 Com tantas mudanças acontecendo lá fora e aqui no Brasil vamos começar a inter-relacionar os diferentes interesses que os países têm para atuar no comércio internacional. Interesses tais como: necessidade de matérias-primas, de tecnologia de ponta para aprimorar processos, mão de obra qualificada, produtos industriais com valor agregado, vantagens econômicas na produção de um bem em um país etc. Nesse contexto econômico mundial é que vamos começar a estudar a Prática Cambial. Logo, nos próximos tópicos vamos conhecer a relação direta do mercado de câmbio com a economia global. Vamos lá? 2 A ECONOMIA INTERNACIONAL Para satisfazer o aumento progressivo do consumo, os países têm aumentado a sua interdependência econômica, tornando hoje o comércio internacional uma atividade muito dinâmica. Nesse cenário de consumo e produção mundial de bens e serviços, os países procuram satisfazer suas necessidades primárias e progressivas no mercado mundial, produzindo uma rede matricial de inter-relações comerciais e monetárias que ninguém sabe onde começa nem onde termina. Seguramente você tem se perguntado: Mas quais são essas necessidades primárias dos países? Os países são formados por pessoas que precisam satisfazer a suas necessidades básicas, tais como moradia, deslocamento e alimentação. Esses tipos de necessidade são conhecidos em economia como necessidades básicas. E as necessidades progressivas? À medida que o ser humano vai progredindo, novas necessidades vão surgindo, tais como: roupa de moda, restaurantes, comida mais elaborada, educação, carros de luxo, lazer etc. Assim, essas necessidades (que não são básicas para sobreviver) são conhecidas como progressivas. Agora que temos mais clareza sobre como são classificadas essas necessidades, vamos ver como o mercado mundial faz para que o comércio internacional de mercadorias consiga satisfazê-las. Procura primeiramente as melhores regiões no globo para extrair matérias-primas, produzir insumos e bens de consumo e, em seguida, oferece bens e serviços onde sejam necessários. Com certeza o mercado por si só vai encontrar a melhor opção possível para produzir onde o custo/benefício for menor. Deste modo, um país pode ser competitivo produzindo máquinas industriais, outro tem mão de obra barata, outro tem TÓPICO 1 | CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL 5 disponibilidade de extrair e produzir matéria-prima a preços competitivos, e assim por diante. Assim existe um mix ponderado de exportações e importações entre quase todos os países do mundo, onde a prática cambial é uma peça chave. É nesse complexo, mas muito dinâmico comércio internacional, que a economia do mundo se desenvolve hoje em dia. A atividade econômica entre os países tornou-se interdependente de tal forma que não cabe mais uma nação se isolar do mundo. Hoje, as economias fechadas são bem poucas e as poucas que ainda existem apresentam uma economia muito pobre, com pouca dinâmica e com uma sociedade que consegue, com sorte, satisfazer apenas as necessidades básicas da maioria de sua população. Agora vamos analisar o novo cenário mundial. 3 O NOVO CENÁRIO ECONÔMICO APÓS A CRISE INTERNACIONAL DE 2008 (CRISE SUBPRIME) Antes da crise econômica mundial de 2008, o poder econômico mundial ainda estava concentrado principalmente nos EUA, na Europa (UE) e no Japão; pelo menos esta era a percepção geral, logo as decisões geopolíticas giravam em torno dessas economias. Depois da crise, entretanto, ficou bem mais claro como está mudando esse cenário mundial. Cabe lembrar que, embora a grande recessão começasse nos EUA, os países que mais sofreram e perderam poder econômico foram os países da União Europeia, com exceção da máquina econômica da Alemanha. Assim, ficou claro quais são os países ou regiões com maior capacidade de se adaptar à nova situação mundial. No ano da crise, 2008, muitos bancos quebraram e outros não graças à intervenção dos governos. Estes governos hoje têm dívidas públicas muito altas. Tal como a situação da Espanha: o governo ajudou muito seu sistema financeiro em problemas e logo passou a ter uma dívida bem alta em relação ao seu PIB, passando de 36,30% em 2007 a 68,50% em 2011. Segundo artigo econômico da Globo, “A dívida pública espanhola alcançará 79,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, contra 68,5% no fim de 2011 [...]” (DÍVIDA..., 2012). Seguramente você está se perguntando: quais são esses países que estão concentrando agora o poder econômico? Com certeza os países do Primeiro Mundo, mas agora também entrarão no jogo de maneira direta e para ficar: a China, o Brasil, a Rússia e a Índia. A partir do ano 2009 a China se converteu no primeiro exportador do mundo, no ano 2011 tornou-se a segunda economia mundial. UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 6 Assim, neste novo contexto mundial, as decisões econômicas e geopolíticas vão ter que ser negociadas entre todos os países, onde cada um, como país líder, representará uma região. Por exemplo, o Brasil poderá representar os interesses comerciais dos países da América do Sul. 4 FATOS QUE ESTÃO MUDANDO O CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL Será que o cenário atual que acabamos de estudar vai ficar? Sob esse novo cenário é que o Brasil entrou no jogo das grandes potências que têm a força de influenciar a dinâmica da economia mundial. Desta maneira, por exemplo, o Brasil tem o poder de influenciar a oferta de certos produtos necessários para satisfazer as necessidades do consumidor mundial. Assim o Brasil está se convertendo numa peça chave, especialmente na produção de commodities para alimentar o mundo, como também para o fornecimento de energia. Em termos de capacidade agrícola: Há uma grande expectativa mundial do Brasil enquanto fornecedor mundial de alimentos, fibras e energia. A agricultura ocupa hoje 60 milhões de hectares. Somos os únicos no mundo a dispor de 100 milhões de hectares para crescer, sem contar áreas de preservação permanente (NEVES, 2011, p. 29). Ou seja, o horizonte de terras agrícolas pode ser ampliado em 170%. Logo, faz sentido esse enorme interesse pela agroindústria nesta região do mundo. Vantagem competitiva que o Brasil tem que aproveitar para alavancar de uma maneira segura seu desenvolvimento econômico sustentável. 5 ABERTURA ECONÔMICA DO BRASIL Em termos internacionais, o Brasil é ainda considerado um país de economia relativamente fechada, se compararmos seu PIB em relação a suas exportações. Para você ter uma visão melhor deste fato, observe o quadro a seguir dos principais exportadores mundiais e a relação nas suas economias. TÓPICO 1 | CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL 7 QUADRO 1 – PRINCIPAIS EXPORTADORES DO MUNDO, EM TRILHÕES DE US$ Posição País Exportações PIB % 1 China 1.506 5930 25% 2 Alemanha 1.337 3286 41% 3 Estados Unidos 1.270 14527 9% 4 Japão 765 5488 14% 5 França 509 2563 20% 10 Reino Unido 406 2263 18% 17 Espanha 268 1395 19% 23 Brasil 200 2143 9% FONTE: <http://knoema.com/nwnfkne>; <http://www.nationmaster.com/graph/eco_exp- economy-exports>. Acesso em: 24 jul. 2012. Contudo, se compararmos o Brasil de hoje com o Brasil de há três décadas, muito tem acontecido, e os esforços do país para se abrir ao mercado mundial têm sido enormes. Esforços que têm um reflexo direto na melhora de qualidade nos produtos consumidos hoje em dia no país. O processo de abertura iniciou na década de 90, quando o governo de Collor começou a fazer mudanças estruturais na política de comércio exterior brasileira. Após a queda do muro de Berlim e, por conseguinte, a queda do sistema comunista soviético, veio ao mundo uma nova ordem mundial, a globalização. Deste modo o Brasil foi pressionado para se integrar mais comercialmente com os outros países, através de acordos bilaterais e multilaterais. Neste contexto, nos anos 90, para melhorar a competitividadedos produtos e serviços produzidos no país, o governo brasileiro criou alguns programas tais como: o Programa de Competitividade Industrial e o Programa Brasileiro de Qualidade e Competitividade. Estes programas foram as diretrizes para uma política industrial e de comércio exterior, norteando assim recursos financeiros e, sobretudo, processos de inovação e aprimoramento industrial e/ou tecnológico. Os resultados desta nova política industrial fizeram com que as empresas mudassem sua perspectiva de geração de lucros. Antes desta década, na maioria das vezes, as empresas tentavam melhorar seus lucros através de ajustes financeiros e ganhos no mercado financeiro, pois praticamente não havia concorrência estrangeira. Depois deste período, no entanto, o jeito de enxergar a gestão de gerar lucros mudou para ficar. As empresas começaram a investir em processos de reestruturação em busca de competitividade, eficiência e qualidade, para poder assim se manter no mercado e aumentar as vendas internas e as exportações. UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 8 Com a implantação desta nova política de comércio exterior, a maior parte das barreiras não tarifárias foi abolida, e as barreiras tarifárias foram reduzidas drasticamente. Sabe em quanto foram reduzidas? Na média houve uma redução de quase 60%. Temos que lembrar que na década de 1990 existia uma forte pressão da demanda interna, logo pressão inflacionária: momento econômico oportuno para implantar o Plano Real. Com a estabilização da moeda e a queda dos impostos de importação, o mercado interno foi invadido por produtos com preços competitivos, segurando a pressão da inflação. Este fato simbolizou mais um referente para a abertura comercial. Sob esse novo cenário é que as empresas nacionais tiveram que enfrentar a concorrência externa, procurando logo reduzir custos e otimizar processos, ou, caso contrário, poderiam simplesmente fechar. O fato foi um incentivo para a modernização e a inovação, através de importação de insumos e bens de capital. Assim se promoveu o dinamismo que ainda faltava à industria nacional diante dos desafios da globalização. Será que todo esse processo de abertura comercial foi tão fácil e não apresentou problemas? Mais adiante na Unidade 2 vamos analisar em mais profundidade o Plano Real e os outros efeitos não tão bons que influenciaram a economia brasileira. O MUNDO GLOBALIZADO ESTÁ COM ENORME DIFICULDADE PARA ENCONTRAR A PORTA DE SAÍDA DA CRISE INICIADA EM 2008/2009 Sidnei Moura Nehme O mundo globalizado está com enorme dificuldade para encontrar a porta de saída da crise iniciada em 2008/2009 e que, desde então, revela-se mutante passando do sistema financeiro, que tornou pública toda sua irresponsabilidade no trato do crédito, para os governos que buscaram resgatá-lo e agravaram suas situações fiscais, embora também notoriamente tenha havido irresponsabilidades da grande maioria dos governos, especialmente na eurozona, no convívio com uma moeda nova e única desamparada por controles eficazes por parte das autoridades gestoras. Em perspectiva a crise pode, então, vir a atingir o todo, governos e sistemas financeiros, e globalizar-se provocando uma queda generalizada da atividade econômica. Esta perspectiva de agravamento da crise é o grande temor presente globalmente e deixa evidente que não se podem ter expectativas de melhora de curto prazo. Há um longo e penoso trajeto a ser transcorrido, antes que se possam vislumbrar melhoras. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL 9 Na Europa, as autoridades buscam superar o quadro ambíguo e complexo, e está claro e evidente que os problemas não se limitam a recursos financeiros para evitar as quebras, mas há empecilhos relevantes de natureza política, com governos fragilizados e que não têm força e autonomia política para colocar em prática planos de austeridade visando a reordenamentos dos desmandos cometidos. Entre os países membros da comunidade da eurozona há enormes conflitos de interesses e recíprocas desconfianças e acusações, nem sempre expressadas publicamente, mas repercutidas através de movimentos das populações de cada país, que não querem se resignar a devolver o que conquistaram sem méritos efetivos de crescimento sustentável. O enorme aporte de liquidez da ordem de Euros 1,0 Tri não foi suficiente para levar o sistema bancário a restabelecer o crédito em abundância para reativar a atividade econômica, pois os riscos presentes inibem movimento neste sentido e conduzem à “estocagem” destes recursos em aplicações no próprio BCE. Assim, o emprego e a renda são diretamente afetados e não se restabelece a atividade econômica sustentável. Nos Estados Unidos, epicentro do início da crise, parece que tudo que era possível já foi feito e não houve sucesso considerável na recuperação da renda e do emprego. As cifras injetadas pelo governo americano na economia foram dantescas, mas os resultados pífios, pois, da mesma forma que se vê agora na Europa, também não provocou a fluidez do crédito. O grande “sonho” dos mercados financeiros é que o governo americano, através do FED, venha a anunciar um novo plano de incentivo, o chamado “QE3”, para que inunde o sistema de liquidez e então se inicie nova rodada de euforismo sem causa, interferindo largamente na especulação com ativos no mercado global. Há uma velha máxima que diz que os sistemas financeiros não têm pátria, pois focam unicamente o lucro onde estiver a oportunidade. Quando vemos este tipo de comportamento, que ignora a situação crítica das economias, mas forja movimentos nos preços dos ativos como se nada tivessem a ver com o quadro real, sentimos que aquele pensamento está sendo validado. A China “começa a fazer água” e o mundo começa a olhar para a sua parte interior, suas imperfeições e dificuldades para efetivamente se tornar um país desenvolvido. Na última década se tornou a 2ª maior economia, passando França, Reino Unido, Alemanha e Japão e em alguns itens específicos com viés de superar os Estados Unidos. Responde por quase um décimo do PIB mundial, contudo os benefícios desta ascensão meteórica não estão sendo compartilhados igualmente por seus 1,4 bi de habitantes. O PIB chinês, quando dividido por sua população, representa US$ 9.143,00 per capita, algo como o 91º do mundo. Há nichos de grande opulência e riqueza nas cidades maiores, mas há enormes UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 10 bolsões de pobreza na região rural onde o trabalhador recebe em torno de US$ 2,00 por dia. A renda na zona urbana é mais do que o triplo da zona rural. Para atingir padrões de país desenvolvido, o PIB deveria representar algo como US$ 15.000,00 per capita, e não parece que esta cifra será atingida tão rapidamente. O país revela uma dependência externa maior do que percebida e tem um mercado interno insuficiente para dar suporte ao seu crescimento sem repercutir a queda de atividade das economias desenvolvidas. E isto está ganhando transparência mais acentuada neste momento. No Brasil, a Presidente Dilma apontou problemas cruciais para o travamento da atividade econômica. Mas acreditamos que podemos ter soluções paliativas temporárias, mas consistentes somente com reformas estruturais de grande abrangência. Dados, números que “são frios e não têm amigos”, demonstram nossas mazelas e o porquê não conseguimos crescimento sustentável. Nos últimos 7 anos os custos na produção brasileira, segundo dados disponíveis, cresceram 46% enquanto nos Estados Unidos 3,6%. A produção por hora trabalhada, entre 1980 e 2011, cresceu 18% no Brasil, enquanto nos Estados Unidos 66%, no Reino Unido 86% e na Turquia 203%. Esta é a guerra que precisamos enfrentar internamente com decisões firmes e amplas. Feito isto, será fácil nem percebermos a tal “guerra cambial”, pois teremos produtividade e competitividade. É perceptível que a investida dogoverno sobre os “spreads” bancários, que tornam o juro brasileiro descabidamente elevado, está alcançando resultados. Bancos privados sentiram o peso da intervenção do governo via bancos oficiais. O problema que resta é saber se a fluidez do crédito efetivamente ocorrerá, pois uma coisa é o discurso e outra é a prática. Há forte expectativa sobre o teor da Ata da mais recente reunião do COPOM para vislumbrar-se a possibilidade de novos cortes na SELIC. Acreditamos que a tendência de novos cortes esteja presente, pois decididamente o governo parece disposto a ousar nesta linha buscando compatibilizar a taxa de juro brasileira ao seu conceito internacional. O BC parece ter a percepção mais correta sobre os impactos desinflacionários da crise internacional no Brasil, sendo desnecessário afirmar, embora não destaque que atingirá nossa atividade econômica provocando retração nas expectativas sobre o crescimento do PIB. TÓPICO 1 | CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL 11 A estratégia câmbio em alta, juro em baixa e efeitos externos equalizando as pressões inflacionárias a ponto de anulá-las é uma equação que exige acompanhamento contínuo. E a nossa percepção é de que o governo tem consciência que o fluxo cambial tenderá a ser menos favorável, o que por si só exercerá pressão natural de alta no preço da moeda americana, mas busca administrar esta alta para monitorar se a inflação sustenta linha decrescente no país, o que é fundamental para que ambos os objetivos – dólar em alta e juro em baixa – ocorram na forma estratégica delineada. A alta do dólar é uma tendência, no nosso entender, na medida em que o fluxo cambial demonstrar-se menos favorável ou até negativo. Continuamos com a projeção de R$ 2,00 ou pouco mais para o final do ano. O governo certamente não descarta esta possibilidade, mas precisa acompanhar as repercussões benéficas da crise sobre a inflação brasileira que lhe possibilitará manter o juro baixo. Por isso, dentro do possível, busca administrar o mercado de câmbio e a formação do preço não deixando a elevação consolidar- se rapidamente, mas a força do mercado é muito forte e se o fluxo cambial tornar-se negativo de forma sustentável, não terá muitos espaços para induzir o comportamento, a menos que passe a vender dólares para os bancos, o que será constrangedor para quem alegou que estávamos sendo atingidos por “enxurrada de dólares” e “tsunami monetário”. O único entrave para um corte mais incisivo no juro é a problemática com as cadernetas de poupança, praticamente imutáveis em suas regras num ano eleitoral, face às repercussões negativas numa base enorme de beneficiários. Mas, como temos salientado, é tempo de observar, não há certezas, são crescentes, isto sim, as incertezas. Sidnei Moura Nehme, economista, diretor executivo - NGO Corretora de Câmbio FONTE: Adaptado de: <http://câmbionews.blogs.advfn.com/2012/04/24/o-mundo-globalizado- esta-com-enorme-dificuldade-para-encontrar-a-porta-de-saida-da-crise-iniciada-em-20082009- e-que-desde-entao-revela-se-mutante-passando-do-sistema-financeiro/>. Acesso em: 4 jun. 2012. 12 Neste tópico você estudou: • Como funciona a dinâmica do comércio internacional, como era nossa economia há 20 anos e como é agora. • Que nosso país no passado sofreu com um processo de grande instabilidade interna, com uma inflação extremamente elevada. • Que grandes mudanças na economia mundial, com o efeito da globalização, deram origem a novas lideranças mundiais como a China, Índia e até mesmo o Brasil, principalmente no que tange à produção agrícola, abastecendo o mundo com forte crescimento no agronegócio. RESUMO DO TÓPICO 1 13 1 Quais os principais interesses econômicos que influenciam diretamente a dinâmica do comércio internacional? 2 Antes de 2008 a economia mundial era dominada principalmente pelos EUA e Europa. A partir de então surgiu uma nova ordem mundial, com o posicionamento de novas lideranças econômicas. Quais países são considerados os novos líderes mundiais no comércio? 3 Embora o Brasil tenha aberto suas portas para o comércio mundial, suas ações ainda são muito frágeis, levando-se em consideração que ainda não podemos nos considerar um país que vende produção com valor agregado em escala. Mas, apesar disso, em tempos passados a situação era muito pior. Quando começou o processo de abertura econômica do Brasil? AUTOATIVIDADE 14 15 TÓPICO 2 PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Seguramente, você deve se perguntar qual é o motivo para estudar de novo os blocos econômicos, se já foram vistos nas outras disciplinas? Com a globalização e a acirrada concorrência internacional, os países têm a necessidade de formar blocos comerciais e econômicos, desenvolvendo assim grupos de países com mais força comercial diante da agressiva concorrência internacional. Assim, desenvolvendo esses blocos, os países conseguem melhores posições comerciais e financeiras, dando dinâmica ao fluxo internacional de capitais, com importantes implicações para o mercado de divisas, aprimorando o mercado de câmbio. É precisamente nesse contexto financeiro que vamos analisar os principais países e blocos econômicos que influenciam a economia do Brasil e, portanto, da posição do real perante as outras moedas. Assim, antes de estudar os principais parceiros do Brasil, vamos dar uma olhada no comportamento da Balança Comercial do Brasil, dos últimos anos. O comércio internacional do Brasil tem experimentado uma dinâmica de crescimento exponencial. Deste modo, pode-se observar que as exportações brasileiras das últimas décadas têm mostrado um comportamento extraordinário, com exportações de US$ 34 bi no ano de 1989 e finalizando o ano 2011 com mais de US$ 256 bi, ou seja, em 23 anos o aumento nas exportações foi de 653%! Fato que se pode alinhar com a abertura comercial que começou no governo do presidente Collor. Apesar deste extraordinário desempenho do comércio exterior das últimas décadas, o Brasil ainda é considerado uma economia relativamente fechada. Se você analisar o Brasil no ano de 2012, verá que ele passou para a 6ª potência econômica mundial, mas ainda fica na 20º posição entre os maiores importadores e na 22º entre os maiores exportadores do mundo. Ou seja, para ficar numa posição equilibrada em relação ao tamanho de sua economia, o país deveria aumentar suas exportações UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 16 até chegar a uma posição próxima à 6ª entre os maiores exportadores. Veja o caso da economia francesa, ela é a 5ª potência econômica e o 6º maior país exportador do mundo. Pode-se concluir que existe ainda um enorme potencial para ampliar o comércio internacional do Brasil nos próximos anos, para isso é preciso modernizar e dinamizar ainda mais o mercado cambial. Ainda que o Brasil mantenha uma economia relativamente fechada, as variações no comércio exterior trazem um impacto direto ao mercado cambial. Assim, podemos observar que, desde que começou o Plano Real, os anos de maior desvalorização aconteceram quando a balança comercial foi negativa, finais da década de 90, e quando o saldo desta teve queda durante a crise de 2008. Ou seja, o mercado cambial está diretamente relacionado ao movimento da balança comercial. Fato de que devemos nos lembrar sempre quando pensamos na posição do câmbio, como se pode conferir no seguinte gráfico: GRÁFICO 1 – BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL, EM MILHARES DE US$, DESDE 1989 FONTE: Adaptado de: <http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1331125742.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2012. Se observarmos o gráfico, vamos ver que, quando a balança comercial ficou negativa ao final dos anos 90, o real sofreu desvalorização; do mesmo modo também se desvalorizou após a crise de 2008, data na qual o saldo da balança comercial decresceu. Ao contrário disso, podemos ver quando o saldo começa a se recuperar,ao longo da década de 2000 até o ano 2008. Ao longo de 2009, o real também teve momentos de valorização, pois nesses anos o saldo líquido da balança estava se recuperando. Seguindo esse padrão de comportamento, será que vamos experimentar um cenário de desvalorização do real a partir do ano 2012? A perspectiva do ano 2012 é de queda na balança comercial, pois, com a crise da dívida na Zona do Euro e as perspectivas negativas na economia mundial, a tendência nos preços das commodities é mesmo de queda. Logo, com TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 17 mais de 70% das exportações em commodities (matérias-primas), não é improvável esperar uma queda no balanço de pagamentos. Desta maneira, o real poderia sofrer uma desvalorização, aliás, no segundo trimestre do ano 2012 já sofreu uma queda (pontual) de 16%, passando de R$ 1,72, em 1º de março de 2012, até R$ 2,00, no dia 16 de maio de 2012. Além deste panorama, devemos acrescentar a queda dos juros em 2012, o que poderá afetar ainda mais o déficit em conta corrente externa do Brasil, provocando saída de capitais de curto prazo, colocando assim mais pressão sobre o real. Para observar como se tem comportado a balança comercial do Brasil, vamos analisar o comportamento das importações e das exportações do Brasil em relação a seus principais sócios, no quadro a seguir. QUADRO 2 – PRINCIPAIS SÓCIOS COMERCIAIS DO BRASIL (IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES) FONTE: Adaptado de: <http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1331125742.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2012. Importações em Milhões de US$, Principais Sócios Comerciais do Brasil Importações de: Ano 2006 Ano 2011 Posição Importações Participação Posição Importações Participação Asia União Europeia Estados Unidos MERCOSUL América Latina, exc. MERCOSUL Africa 1 2 3 4 6 5 22.887,00 20.121,00 14.850,00 8.971,00 7.357,00 8.088,00 24,97% 21,95% 16,20% 9,79% 8,03% 8,82% 1 2 3 4 5 6 70.076 46.416 34.225 19.375 18.435 15.436 31,00% 20,50% 15,10% 8,60% 8,10% 6,80% Maiores Importações por País Estados Unidos China Argentina 1 3 2 14.850,00 7.989,00 8.057,00 16,20% 8,70% 8,80% 1 2 3 34.225 32.788 16.906 15,10% 14,50% 7,50% Exportações em Milhões de US$, Principais Sócios Comerciais do Brasil Exportações de: Ano 2006 Ano 2011 Posição Exportações Participação Posição Importações Participação Asia União Europeia América Latina, exc. MERCOSUL Estados Unidos Africa 3 1 4 5 2 6 20.792,00 30.374,00 17,431,00 13.951,00 24.679,00 7.441,00 15,10% 22,06% 12,66% 10,13% 18,00% 5,40% 1 2 3 4 5 6 76.697 52.946 29.293 27.853 25.942 12.225 30,00% 20,70% 11,50% 10,90% 10,10% 4,80% Maiores Importações por País Estados Unidos China Argentina 3 1 2 8.399,00 24.679,00 11.714,00 6,10% 18,00% 8,50% 1 2 3 44,315 25,942 22,709 17,30% 10,10% 8,90% UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 18 GRÁFICO 2 – PRINCIPAIS MERCADOS DE DESTINO DAS EXPORTAÇÕES FONTE: Adaptado de: <http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1331125742.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2012. Nestes dados podemos visualizar que o maior mercado internacional é a Ásia, que ganhou uma grande posição nos últimos anos. Além disto, é interessante observar que, embora o maior mercado seja, de fato, a Ásia, há uma boa ponderação entre os maiores parceiros. Nenhuma região tem mais de 30% das exportações totais, e, se, por exemplo, somarmos o MERCOSUL com o resto da América Latina, isso vai representar 22,40% do total das exportações. Outro dado interessante é que com todas essas grandes regiões o Brasil tem uma balança comercial positiva, com a exceção dos Estados Unidos e da África. Este fato e a saudável ponderação entre as várias regiões do mundo fazem com que a dinâmica do comércio internacional do Brasil seja muito flexível, bem estruturada e com uma fonte diversificada de divisas, atingindo estabilidade e sustentabilidade no comércio exterior brasileiro, logo estabilidade no câmbio. O grande ponto fraco do comércio internacional brasileiro é o aumento relativo das commodities nas exportações brasileiras, passando de 51% em 2000, do total das exportações, a 69,40% em 2011. Embora isso apresente riscos, devemos analisar que esse fato tem acontecido devido ao enorme e acelerado aumento na demanda externa, logo, na produção nacional, destas commodities. Principais Mercados de Destino das Exportações Principales Destinos de las Exportaciones / Major Markets for Brazilian Exports - Participação % / Participación % / % Share - 2011 2,0 4,8 4,8 10,1 20,7 11,5 10,9 22,4 30,0 Europa Oriental / Eastem Europe África / Africa Oriente Médio / Middie East Estados Unidos / United States União Europeia / European Union - Demais da AL e Caribe / LA & The Caribbean, exc. Mercosur - Mercosul / Mercosur América Latina e Caribe / Latin Ame- rica & The Caribbean Ásia / Asia TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 19 Tem sido tão rápido o aumento na exportação das commodities que o país não está conseguindo agregar valor a estes produtos básicos na mesma velocidade, já que não é possível montar fábricas para dar conta do processamento destes produtos básicos em poucos anos. Precisa-se de investimento, tempo, redução de impostos de produtos industrializados, planejamento e incentivos por parte do governo, ou seja, falta dinamismo para uma economia como a brasileira, que demora a reagir. No entanto, o governo da presidente Dilma e os empresários já estão se alinhando para dar mais valor agregado aos produtos exportáveis, através de projetos de industrialização e incentivos para aprimoramento e inovação nas agroexportações. GRÁFICO 3 – PARTICIPAÇÃO % DAS EXPORTAÇÕES POR BLOCO ECONÔMICO FONTE: Adaptado de: <http://www.mdic.gov.br//arquivos/dwnl_1331125742.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2012. Participação % das Exportações por Bloco Econômico Participación % de las Exportaciones por Zonas Económicas Exports Share % by Economic Blocks 2011 33 50 31 64 41 25 12 38 42 27 15 21 14 76 19 34 20 46 52 16 32 10 77 4 Eu ro pa O ri en ta l / E as te m E ur op e Á fr ic a / A fr ic a O ri en te M éd io / M id di e Ea st Es ta do s U ni do s / U ni te d St at es U ni ão E ur op ei a / E ur op ea n U ni on D em ai s / O th er s A m ér ic a La tin a e C ar ib e / L at in A m er ic a e th e C ar ib ea n Á si a / A si a Manufaturados / Manufactured Semimanufaturados / Semimanufactured Básicos / Basics UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 20 Caro acadêmico, sobre este plano do governo para incentivar a indústria brasileira e as exportações, sugiro que você dê uma olhada no Plano Brasil Maior, em que se expõem, entre outros temas, alternativas para reduzir o custo Brasil. DICAS Para aprofundar seus conhecimentos, você pode acessar este plano através do material de apoio desta disciplina ou através do seguinte endereço: <http://www.brasilmaior. mdic.gov.br/>. Para finalizar, é interessante observar que o grande comprador de matérias- primas é a Ásia. Os outros mercados procuram produtos brasileiros com maior valor agregado, em especial os países de América Latina e os Estado Unidos. Ou seja, analisando esses gráficos podemos ver que o Brasil deve se focar em: • Aprimorar a venda de commodities, especialmente para a Ásia, visando adicionar valor agregado a estas exportações, ou seja, produtos semimanufaturados, tal como óleo de soja. • Posicionar ainda mais os produtos com maior nível de desenvolvimento (valor agregado) nos mercados que já os estão demandando, por exemplo, o resto da América Latina e a América do Norte (Canadá e Estados Unidos). Também deve procurar novos mercados destes produtos na Ásia. Deste modo, o enorme potencial de crescimento das exportações brasileiras poderá atingir níveis mais sustentáveis, no tempo,o que poderá trazer para o real uma taxa de câmbio sem maiores variações e complicações, assegurando, portanto, desenvolvimento e estabilidade à economia brasileira. Agora vamos analisar aos principais parceiros comerciais do Brasil e as suas implicações para a taxa de câmbio. Vamos lá? 2 MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL) Lembrando o que já foi estudado, a formação do bloco foi materializada no ano de 1991, na cidade de Assunção, com o chamado Tratado de Assunção entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A partir desse momento começou a se desenvolver o processo de união aduaneira entre os quatro países, fato que vem influenciando e melhorando o comércio regional entre os países membros e entre outros países convidados como associados comerciais: Chile, Bolívia, TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 21 DICAS Caro acadêmico, para ter maiores informações sobre o MERCOSUL, você pode acessar o seguinte site: <http://alicewebmercosul.desenvolvimento.gov.br/>. Peru, Colômbia e Venezuela, este último em processo, talvez, de se converter em membro definitivo. Deste modo, está se incrementando a dinâmica do fluxo de capitais que entram e saem constantemente da região do MERCOSUL e da América do Sul como um todo. Para conseguir esse objetivo de união aduaneira entre os quatro países membros, primeiramente foram eliminados os impostos de importação das mercadorias produzidas e exportadas para quaisquer destes quatro países membros. Logo, para atingir esse fim foi determinado que: nos processos de importação, o importador tem que receber por parte do exportador o Certificado de Origem do MERCOSUL, no qual expõe que: 1. O produto a produzir utilize pelo menos 60% de matéria-prima produzida em qualquer um dos países que formam o MERCOSUL. 2. E/ou que os insumos importados de terceiros países (extrabloco) passem por um processo de transformação que lhes confira uma nova identidade, em vista de criar indústrias que gerem valor agregado, além do simples processamento de matérias-primas. O segundo passo, para atingir a unificação aduaneira, foi definir a Tarifa Externa Comum (TEC). Porém, para que ela fosse definida, os países membros tiveram que passar por um processo de negociação de vários anos. Por enquanto, nem todos os associados têm o mesmo nível de desenvolvimento e força econômica, por isso o processo de demarcação da Tarifa Externa Comum tem sido desenvolvida gradativamente e com várias exceções e complicações no tempo. Em relação à posição cambial dos quatro países associados, o processo de integração comercial tem provocado vários impasses, desde o início do MERCOSUL, decorrentes da valorização e desvalorização de suas quatro diferentes moedas. Este quesito reflete como as dinâmicas econômicas díspares destes países podem afetar as relações comerciais a qualquer momento, principalmente entre os dois maiores sócios, a Argentina e o Brasil. Este impasse já aconteceu em 1999, quando o real foi fortemente depreciado atingindo uma posição frente ao dólar de R$ 2,21. Logo as mercadorias e serviços brasileiros ficaram bem mais competitivos dentro do MERCOSUL, principalmente UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 22 em relação às mercadorias da Argentina. Acrescente-se o fato de que, nessa data, a moeda argentina estava bem sobrevalorizada em relação ao dólar, aumentando ainda mais a desvalorização do real no comércio entre os dois países. Nesta conjuntura, para os argentinos a situação da economia foi devastadora na época, 1999, dependente do enorme mercado brasileiro. Por outro lado, para os brasileiros, foi uma medida necessária para evitar um colapso do real. Ou seja, neste exemplo podemos conferir que, quando acontece uma crise, os países procuram melhorar suas condições e posições de interesse, visando resguardar as condições macroeconômicas básicas. Se o governo brasileiro não tivesse desvalorizado o real, teríamos o agravamento da crise cambial, já existente, o que nos levaria para uma moratória da dívida externa. Não só o Brasil sofreria, mas também todos os países do MERCOSUL, particularmente a Argentina (MAIA, 2011, p. 365). Tomando como exemplo essa situação entre o Brasil e a Argentina, e muitas outras conjunturas ao longo da história, temos que nos lembrar de que entre as nações não existem “amigos”, existem interesses que levam a um relacionamento de amizade e respeito. Esse relacionamento entre países faz com que se desenvolva um elo muito forte entre as taxas de câmbio e as posições relativas de competitividade das nações. Assim, no curto prazo, a desvalorização da moeda pode ajudar as exportações, como tem acontecido no Brasil e em muitos outros países. Porém, no longo prazo as vantagens comparativas da produtividade possuem muito mais peso na competitividade das nações. Na situação brasileira a competitividade industrial vem diminuindo em relação a outros países, no que diz respeito ao MERCOSUL, em relação à Argentina e ao Uruguai. Entre os problemas desta falta de competitividade brasileira está a pesada carga tributária e os altos juros, quesito muito importante na hora que uma empresa quer se estabelecer na região do MERCOSUL. Tanto assim que algumas empresas estrangeiras, e mesmo indústrias brasileiras, têm se estabelecido na Argentina e/ou no Uruguai para vender para o imenso mercado nacional. DICAS Para aprofundar este tema muito interessante, sugerimos acessar o seguinte artigo econômico do Estadão de São Paulo: <http://www.estadao.com.br/noticias/ impresso,custo-brasil-e-competitividade,685364,0.htm>. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 23 Sob a perspectiva das grandes diferenças econômicas e da competitividade entre os quatro países membros, seria possível o MERCOSUL desenvolver uma moeda comum? Caso fosse, seria conveniente? Levando em consideração essas questões, vamos analisar agora as vantagens e as desvantagens de uma moeda comum: Vantagens: • estabelece risco cambial zero entre os países membros; • elimina o protecionismo do amparo das taxas de câmbio. Desvantagens: Precisa-se: • definir um déficit orçamentário máximo que seja atingível; • combinar níveis mínimos de inflação; • estabelecer níveis máximos de dívida pública; • homologar a taxa de juros. As vantagens de uma moeda única podem ser muito boas e atraentes, mas se os países membros não tiverem suas economias bem harmonizadas e niveladas, com uma política monetária única, logo surgirão problemas muito maiores que as vantagens mais adiante. E, com certeza, extremamente complexas para solucionar, tal como a situação da UE (União Europeia) do ano 2012. Voltando para a pergunta inicial sobre uma moeda única para os países membros do MERCOSUL, a resposta pode ser que por enquanto essa ideia ainda está longe de ser atingida, pois os riscos são muito altos, além de os países ainda não estarem preparados. Se países de maior desenvolvimento, que passaram anos desenvolvendo o projeto do euro, estão encontrando sérios problemas com sua moeda única, cabe ao MERCOSUL aguardar e analisar melhor a situação. Entretanto isso não impede que algumas medidas já tenham sido tomadas para desenvolver uma trilha inicial que possa levar os sócios do MERCOSUL a uma possível alternativa de moeda comum no futuro. Em referência ao euro vamos analisar essa questão em profundidade mais adiante, pois é uma situação que vale a pena analisar por si só. 2.1 SISTEMA DE PAGAMENTOS EM MOEDA LOCAL (SML) Em vistas de começar essa trilha para atingir uma moeda comum e para reduzir os custos nas transações cambiais, o MERCOSUL (a partir de outubro de 2008) estabeleceu que o comércio regional não precisa comprar mais em dólares americanos. Desta maneira, foi formado o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML). Exemplo: antes dessa data uma empresa brasileira que queria importarmatéria-prima da Argentina tinha que vender reais para comprar dólares que logo seriam transferidos ao banco do exportador lá na Argentina. Logo, o exportador UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 24 tinha que vender esses dólares para comprar moeda local, pesos argentinos. Portanto, com o Sistema de Pagamentos em Moeda Local, pôde ser eliminada a intermediação do dólar nas transações entre os países membros, reduzindo custos no processo. A ideia foi muito adequada e desde essa data vem se desenvolvendo certa procura por essa modalidade de câmbio. Porém, na prática, o mercado cambial não tem aceitado essa modalidade, mantendo o dólar como moeda referencial na maioria das transações entre os países membros. Ou seja, o mercado ainda procura pelo dólar na hora de fazer as transações internacionais, mesmo entre países do mesmo bloco, tal como o MERCOSUL. DICAS Aprofunde-se no assunto, consultando SML (Brasil-Uruguai): <http://www.fiesp. com.br/derex/publicacoes/pdf/2.%20daniel%20gersten%20reiss%20-%20banco%20central. pdf>; <http://www.aduaneiras.com.br/destaque/brasil_argentina_sml.asp>. 3 UNIÃO EUROPEIA Esse bloco econômico iniciou seu processo de integração no ano de 1952, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Geopoliticamente essa época foi muito importante, sendo o primeiro passo para uma integração econômica e, pela primeira vez, num bloco de países, houve uma transferência real de alguns direitos de soberania. Hoje seu nome oficial é União Europeia (UE), depois de ter experimentado uma evolução constante no seu processo de integração e de aceitar novos membros. O bloco, quando foi criado, tinha seis membros: Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo. Atualmente conta com 27 países membros, com quase 500 milhões de pessoas, 23 línguas oficiais. Sendo assim é um dos mercados mais importantes para as exportações do Brasil. Neste tópico não vamos entrar em detalhes já estudados sobre este bloco. Agora vamos nos focar nas questões ligadas à prática cambial. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 25 3.1 O TRATADO DE MAASTRICHT Neste tratado datado do ano de 1992, foi desenvolvido o primeiro passo para uma integração monetária, tratado no qual os países do Mercado Comum Europeu mudaram seu nome oficial para União Europeia (UE). Neste tratado foram definidos os seguintes pontos: • Integração econômica: mercado sem fronteiras onde haverá independência política entre os países membros. • Banco Central Europeu (BCE): em Frankfurt foi estabelecida a sede do Banco Central, que iniciou como Instituto Monetário Europeu, para em 1999 se transformar em BCE. • Moeda única: foram estabelecidas as metas para a criação de uma moeda única, o euro. Essas metas são: • déficit orçamentário de 3% do PIB; • inflação com um mínimo de variação entre os países, assim foi estabelecida uma variação de 1,5% da média dos três países com menor inflação; • dívida pública de não mais de 60% do PIB. 3.2 O EURO COMO MOEDA ÚNICA DA UE Após o tratado de Maastricht, e só depois de vários anos de negociações, o euro começou a operar a partir de 1999 e unicamente como moeda escritural entre os Bancos Centrais dos países membros. Bem depois, no começo do ano 2002, as cédulas das moedas dos diferentes países membros começaram a circular juntamente com as novas moedas e cédulas do euro. Em meados desse mesmo ano, o euro começou a circular livremente como moeda única, entre seus países membros, tirando assim de circulação todas as moedas nacionais. Hoje dos 27 países membros da União Europeia, 17 têm o euro como moeda única, os outros 10 países não a usam por diversos motivos. Primeiro, porque alguns deles são membros novos que estão em processo de cumprir as rígidas normas estabelecidas. Além disso, outros países como o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia não têm adotado o euro por questões internas, tais como: • O Reino Unido simplesmente, desde o início das conversações sobre a moeda única, estabeleceu não aderir à zona do euro. • A Dinamarca e a Suécia, através de plebiscitos realizados no ano 2000 e 2003, respectivamente, rejeitaram o euro como moeda. Antes de entrar em mais detalhes sobre o euro e para visualizar como têm sido as flutuações do euro versus o dólar desde seu nascimento, vamos mostrar as taxas históricas em relação ao dólar. UNIDADE 1 | A CONJUNTURA INTERNACIONAL E NACIONAL NA PRÁTICA CAMBIAL 26 GRÁFICO 4 – COTAÇÃO DO EURO X DÓLAR AMERICANO DO PRIMEIRO MÊS DE CADA ANO FONTE: <http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp>. Acesso em: 24 jul. 2012. Cotação Euro X Dólar* 20122011200920072005200320011999 1,50 1,40 1,30 1,20 1,10 1,00 0,90 0,80 Podemos observar que o euro tem apontado variações bem fortes no seu histórico de taxa de câmbio, com perspectivas incertas depois de estourar a crise da dívida pública na zona do euro. Crise que está se aprofundando em 2012, logo muitos investidores e o comércio mundial estão à espera dos acontecimentos. Apesar desta situação complexa, desde que começou a moeda única, o euro vem trazendo as seguintes vantagens: • Melhorou a posição financeira dos países europeus, como bloco perante o dólar em nível mundial. Deste modo, atingiu perspectivas de concorrer com o dólar como moeda nas negociações internacionais. O posicionamento do euro tem sido tão importante, e case de sucesso econômico, que em pouco mais de uma década de seu nascimento em qualquer país do mundo podem-se trocar euros por moedas nacionais. • Conseguiu reduzir os gastos administrativos, decorrentes da eliminação dos custos das transações das negociações de câmbio entre os países que adotaram o euro, trazendo maior estabilidade ao fluxo das exportações e importações entre esses países. TÓPICO 2 | PRINCIPAIS PAÍSES E BLOCOS ECONÔMICOS QUE INFLUENCIAM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO BRASIL 27 • Estabeleceu uma política macroeconômica estável dentro da zona do euro, impedindo políticas inadequadas aos interesses comuns dos países membros. Melhorou muito o nível da classe média, especialmente dos países mais pobres do bloco. Assim, é difícil não aceitar as melhorias que o euro tem trazido aos países europeus. Entretanto, o futuro da moeda única e até da economia mundial estão em risco. A partir da crise financeira do ano de 2008, o euro vem apresentando um cenário instável e falta de dinâmica para reagir ao estancamento econômico mundial. Situação que ficou bem mais evidente em 2010, quando iniciou a crise dos mercados financeiros da dívida pública da Grécia, Irlanda e Portugal, que logo se espalharam para a Espanha e Itália. Em 2012 as dívidas da França, Holanda e da Bélgica também começaram a dar sinais de risco, ou seja, o efeito “dominó”, tão temido, da dívida pública começou de fato. Seguramente, caro acadêmico, você deve se perguntar: mas por que se apresenta a crise da dívida nos países do euro? Existem várias respostas e pontos de vista diferentes, porém os analistas econômicos e financeiros apontam um fator em comum para essa crise: a dívida pública para socorrer os bancos que quebraram quando estourou a crise internacional em 2008. Aliás, crise que tem sido a pior desde a grande depressão dos anos 30 do século passado, cujas sequelas ainda não terminaram. Nesta crise o Brasil não sofreu muito e, o mais importante, não teve implicações pós-crise graves, ainda. Por enquanto, o Brasil estava bem preparado macroeconomicamente e houve a boa procura das commodities pela China e Índia, que ajudou e muito. Como já se falou, os países da zona do euro, para socorrer seus bancos, começaram a incrementar sua dívida pública e ultrapassaram o limite estabelecido em 60%. Se não tivessem feito isso, os bancos com problemas poderiam ter entrado em falência criando um efeito dominó, o que poderia começar uma bola de neve cujo fim ninguém saberia prever. Os países
Compartilhar