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HEMATÚRIA E DOENÇAS QUE CURSAM COM HEMATÚRIA

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HEMATÚRIA 
• Hematúria é a eliminação de um número anormal de hemácias na urina, podendo 
ser visível a olho nu (macroscópica) ou quando as hemácias são detectadas 
somente pelo exame de urina (microscópica). Tanto a hematúria macroscópica 
quanto a microscópica podem se apresentar de forma permanente (presença 
constante de hemácias no sedimento urinário), recorrente (quando há períodos de 
remissão da hematúria, com intervalos variáveis de meses até anos) ou isolada 
(episódio único de hematúria). A quantidade normal de hemácias na urina varia 
entre 3 – 10 p/c ou 10.000 eritrócitos/ml urina. É essencial o exame, pois inúmeras 
coisas que podem alterar a cor. Somente o exame pode te mostrar. 
 
CLASSIFICAÇÃO DA HEMATÚRIA E OBSERVAÇÕES DIAGNÓSTICAS 
• Visualização: 
o Microscópica: somente no microscópio a 
visualização. 
o Macroscópica: identificada na micção (> 100 
hemácias por campo ou > 106 por ml de urina). 
• Localização: 
o Não glomerular: cálculo renal, tumor de pelve, 
ureter, bexiga, uretra: se tem hematúria com coágulo 
– origem obrigatoriamente não glomerular. 
o Glomerular: pesquisa de exames adicionais (DE, 
CA, cilindros ou proteinúria). 
• OBS1: dismorfismo eritrocitário: exame para análise do 
formato da hemácia. Se alterado: origem glomerular, pois 
há uma alteração da membrana hemácia durante sua 
passagem na membrana basal do glomérulo. 
• OBS2: presença de células do tipo Acantócito (em anel) – maioria dos autores consideram hematúria glomerular se maior ou 
igual 5% de acantócitos. 
 
• No exemplo é não glomerular, visto que não há acantócitos. 
• OBS3: Cilindros hemáticos se presentes não há necessidade 
de dismorfismo eritrocitário, pois confirma como 
glomerular. 
• O dismorfismo eritrocitário: alteração da membrana dos 
eritrócitos durante sua passagem pela membrana basal do 
glomérulo modificando a forma das hemácias. Os eritrócitos 
passam pela membrana basal do glomérulo e durante essa 
passagem pode haver a modificação de sua membrana, o que 
modifica a forma das hemácias. Então quando há muito 
dismorfismo eritrocitário > 5% dos acantócitos, eu irei falar 
que a hematúria é glomerular, ao ponto que a hematúria não 
glomerular não haverá alteração de dismorfismo. 
• No caso ao lado, somente para o exame 2 iria pedir 
dismorfismo eritrocitário, pois não se tem ideia de qual seria 
a causa da hematúria. O 3 não necessitaria pois há cilindros 
hemáticos confirmando causa glomerular. O exame 1 há 
presença de proteinúria junto com a hematúria, indicando 
assim que há uma lesão na barreira glomerular (nível 
glomerular → glomerulonefrite), confirmando hematúria 
glomerular. 
 
• Cilindros hemáticos: a uromodulina, também conhecida como proteína Tamm-Horsfall, é uma glicoproteína produzida a nível 
tubular, é a proteína mais abundante excretada na urina comum. Ela normalmente é expelida em pequenas quantidades em 
forma de cilindro hialino, porém quando outras células se ligam a esse cilindro, elas modificam a característica do cilindro, ou 
seja, quando as hemácias se ligam aos cilindros, isso forma o cilindro hemático, ou seja, isso está acontecendo a nível tubular, 
dessa maneira a origem é glomerular. Se aparecer cilindro leucocitário é indicativo de pielonefrite, visto que os leucócitos se 
ligaram a essa proteína. 
• Assim, etiologicamente, tem-se: 
o Hematúria não glomerular: 
▪ Trato urinário alto: cálculo renal, hipercalciúria, hiperuricosúria, rins policísticos, pielonefrite, neoplasia renal, 
trauma, infarto renal. 
▪ Trato urinário baixo: cistite, uretrite, pólipo vesical, neoplasia vesical, prostatite, neoplasia prostática. 
o Hematúria glomerular: glomerulonefrite membranoproliferativa ou infecciosa, DM, LES, vasculopatia, nefrite 
hereditária, doença da membrana fina. 
ENTENDENDO MELHOR A AVALIAÇÃO CLÍNICA DA HEMATÚRIA 
• A avaliação clínica da hematúria se deve iniciar com uma boa anamnese, o qual deve conter o início da hematúria, se tem 
apresentação macro e/ou microscópica, sinais e sintomas associados (dor abdominal, febre, doenças respiratórias, edema e 
outros), uso de medicamentos e história familiar. 
• O exame físico também é importante para descartar algumas doenças orgânicas responsáveis por esse quadro. 
• Exames laboratoriais iniciais são o exame de urina de rotina, gram de gota de urina não centrifugada e dismorfismo de hemácias. 
Lembrando que se deve confirmar a hematúria com dois ou mais exames de urina. 
• O próximo passo é definir a localização anatômica do sangramento. Primeiro, devem-se buscar evidências de que a origem seja 
glomerular. Nos casos de hematúria glomerular, os dados da história e exame físico ajudam na pesquisa, muitas vezes fazendo 
uma avaliação exaustiva desnecessária. Descartando-se a origem glomerular, exames de imagem devem situar o sangramento 
como sendo do trato urinário superior ou inferior. Três parâmetros são indicativos de hematúria glomerular: presença 
concomitante de proteinúria, cilindros hemáticos e dismorfismo eritrocitário. Proteinúria menor do que 500mg/dl, sobretudo se 
associada à hipertensão ou a algum grau de perda da função renal, é indicativo de lesão glomerular. Nesses casos, via de regra, 
está indicada a biópsia renal. Quando eritrócitos são resultados de uma lesão glomerular, essas células apresentam alterações 
morfológicas, causadas por mecanismos traumáticos gerados pela passagem na membrana basal glomerular e pelo trauma 
osmótico ocorrido nos diferentes segmentos do néfron, modificando a forma, o que é denominado dismorfismo eritrocitário. 
Para avaliar a lesão no trato superior, a urografia excretora está indicada, com o inconveniente da exposição ao contraste 
radiológico. A ultrassonografia (USG) pode substituí-la. Cistoscopia acrescenta sensibilidade e é indispensável em pacientes 
acima de 50 anos, com hematúria não glomerular e exame de imagem normal. cultura de urina são extremamente importantes 
quando suspeita de ITU baixa. TC e USG renal podem ser utilizadas em casos mais específicos, quando os demais exames não 
foram suficientes. 
PATOLOGIAS QUE CURSAM COM HEMATÚRIA 
• A hematúria é geralmente um sinal clínico importante, sendo muitas vezes a única evidência de doença do trato urinário. Até 
20% dos pacientes portadores de hematúria microscópica assintomática apresentam alguma afecção urológica que requer 
tratamento. Quando a hematúria é sintomática o conjunto de sinais e sintomas que acompanha o sangramento permite, em 
muitos casos, estabelecer uma hipótese diagnóstica. No entanto, na assintomática, a inexistência de qualquer outra manifestação 
clínica costuma oferecer dificuldade na identificação da condição etiológica. É importante ressaltar que a suspeita de hematúria 
macroscópica deve sempre ser confirmada por exame de sedimento urinário, uma vez que diversas condições podem produzir 
urina avermelhada sem a presença de eritrócitos. Constitui um dos principais sinais de patologias renais e do trato urinário, mas 
é comumente uma alteração silenciosa, gerando atraso no diagnóstico e no tratamento da patologia subjacente. Assim, pode ser 
sinal comum em mais de uma centena de doenças ou de condições sistêmicas, necessitando de um adequado diagnóstico entre 
essas condições. 
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO 
• A infecção do trato urinário (ITU) é uma das causas mais comuns de infecção na população geral. 
• Particularmente as mulheres são mais vulneráveis, sobretudo porque possuem menor extensão anatômica da uretra do que os 
homens, e maior proximidade entre a vagina e o ânus. Porém, os homens também são acometidos, principalmente quando há 
doença prostática associada. 
• A ITU é definida pela presença de agente infeccioso na urina, ou seja, ocorre uma invasão de microorganismos na mucosa do 
trato urinário, em quantidades superiores a 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por milímetro de urina 
(ufc/ml). 
• A infecção urinária pode ser sintomática ouassintomática, sendo chamada neste último caso, de “bacteriúria assintomática”. 
• A ITU pode acometer somente o trato urinário baixo, sendo chamada de “cistite”, ou afetar também o trato urinário superior 
(infecção urinária alta), sendo chamada de “pielonefrite”. 
• O diagnóstico clínico é feito pela história clínica (mais importante) + exame de urina I, e o diagnóstico definitivo por urocultura 
positiva, exame que nem sempre será solicitado. 
EPIDEMIOLOGIA 
• 1° ano de vida tem um predomínio no menino (malformações congênitas – RVU associado). 
• Infância: predomínio nas meninas (10 – 20x). 
• Mulheres adultas: pré-menopausa (relação sexual, ATB) e pós-menopausa (incontinência urinária, perda dos lactobacilos 
devido a deficiência de estrógenos. 
• Idosas: bacteriúria assintomática muito frequente (tratamento só se tiver clínica). 
• Homens: > 60 anos, devido a hiperplasia benigna de próstata. 
CLASSIFICAÇÕES 
• Geralmente, as ITUs classificam-se de acordo com o local onde ocorrem no trato urinário, como: Cistite (ITU baixa); 
Pielonefrite (ITU alta). Classifica-se como Complicada a ITU alta + alterações (obstrução urinaria, cálculos, gravidez, diabetes, 
bexiga neurogênica, insuficiência renal, imunossupressão) → aumentam o risco de complicações clínicas ou falha terapêutica. 
ETIOLOGIA 
• A causa infecciosa na maior parte das vezes é bacteriana, podendo porém, ser causada por fungos. Quando adquirida na 
comunidade, a ITU é geralmente causada pela bactéria Escherichia coli (70% - 85% dos casos) e menos comuns Proteus 
mirabilis, Klebsiella, Enterobacter, Serratia e Gram positivos: Staphylococcus saprophyticus, Enterococcus, Staphylococcus 
aureus. 
QUADRO CLÍNICO 
• A cistite é uma forma sintomática frequente de infecção urinária. Caracteriza-se, clinicamente, por disúria, polaciúria, urgência 
miccional, dor suprapúbica e hematúria. A cistite complicada ocorre na presença dos sintomas anteriores associados à hematúria 
franca e/ou febre. Nesse caso, o tratamento deixa de ser ambulatorial, necessitando de hospitalização com introdução imediata 
e empírica do antibiótico parenteral. Assim: 
o Clássico de cistite: disúria, ardência ao urinar, polaciúria, urina turva e fétida. 
o Outras queixas: urgência suprapúbica, dor suprapúbica, hematúria macroscópica (30% dos casos). Ausência de 
corrimento vaginal (sempre se atentar com essa observação). 
• A pielonefrite pode ser causada quando as bactérias ascendem ao trato urinário superior. A clínica apresentada inclui os 
seguintes sintomas: febre, dor em flanco, náusea, vômitos, lombalgia e desconforto costovertebral. A piúria é sinal típico de 
pielonefrite presente em alguns casos. Ao exame clínico, a punho percussão dolorosa da loja renal é sinal bastante sensível no 
diagnóstico e acompanhamento evolutivo, sendo denominado “Sinal de Giordano”. Ademais, a ecografia dos rins e das vias 
urinárias também é importante para descartar complicações locais, como abscessos. 
 
DIAGNÓSTICO 
• O exame padrão-ouro para o diagnóstico da BA 
é a urocultura. Exame de urina de rotina é 
essencial para fazer o rastreio em tempo 
adequado e iniciar o tratamento, evitando assim 
complicações. O diagnóstico clínico também é 
de suma importância, pois proporciona, muitas 
vezes, o início do tratamento de forma 
empírica, de acordo com as características 
apresentadas pela paciente. Assim, pode-se 
optar: 
o EAS/urina tipo I: lembrar dos cuidados 
da coleta – coleta do jato médio da 
micção, sem interromper o fluxo. Deve 
ser a primeira urina do dia ou segunda 
com pelo menos 2 horas de 
armazenamento. 
o Urocultura: não mandatório. As 
indicações para sua solicitação são: 
recorrência precoce dos sintomas após 
interrupção do tratamento, pielonefrite e 
infecção complicada. 
• Resultado do EAS: se nitrito positivo, é 
indicativo de bactéria gram-negativa (E.coli). O 
básico é leucocitúria e flora bacteriana presente. 
• Esterase leucocitária mostra que os leucócitos 
estão sendo rompidos. 
 
TRATAMENTO 
• Os antibióticos são o cerne do tratamento das ITUs e a sua escolha deve ser baseada no teste de sensibilidade das bactérias 
(antibiograma). A escolha imediata do antibiótico para o tratamento empírico da ITU é fundamental e pode evitar a evolução 
para as formas complicadas da infecção. Por conseguinte, não se deve aguardar o resultado da cultura de urina e antibiograma 
para instituição da antibioticoterapia. Para a decisão de qual classe de antibiótico escolher, leva-se em conta principalmente as 
bactérias mais frequentes nas uroculturas e o espectro de ação dos antibióticos para determinadas cepas bacterianas, que 
dependem da epidemiologia da população e do padrão de susceptibilidade aos antibióticos de determinada área geográfica. Em 
razão do alto risco de complicações, o tratamento da pielonefrite deve ser feito em regime de internação, permitindo 
monitorização dos sinais vitais, identificação precoce de sinais de gravidade, controle da diurese, hidratação e utilização 
parenteral dos antibióticos. Assim: 
• Queixa urinária: gestante, DM, imunossuprimidos, pós-menopausa, litíase, ITU de repetição. Se não estiver dentro desses 
grupos devemos realizar tratamento empírico sem coleta de exames. Se fizer parte, solicitamos EAS, urocultura e realizamos 
tratamento empírico. 
• Homem: investigar IST, alteração prostática, se sim, solicitar EAS, urocultura, e realizar tratamento empírico. 
• Opções na cistite não complicada: 
o Sulfametoxazol-trimetropin F 800/160mg 1cp de 12/12 horas (3 dias). 
o Nitrofurantoína 100mg 1cp de 6/6 horas (5 – 7 dias). 
o Fluoroquinolonas: Norfloxacino 400mg 1cp de 12/12 horas; Ciprofloxacino 250mg 1cp de 12/12 horas (3 dias). Usar 
preferencialmente as quinolonas para infecções de repetição. 
o Cefalosporina: mais usada de 1ª geração → Cefalexina 250mg 1cp de 6/6 horas. 
o De acordo com a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas: se resistência ao bactrim < 20%, utiliza-se Bactrim ou 
Nitrofurantoína, se > 20% Fluorquinolona. 
o No homem o tratamento é feito durante 7 dias. 
o Gravidez: Cefalexina, Ampicilina, Amoxicilina, Nitrofurantoína. Contraindicado Ciprofloxacino. O tratamento deve 
ocorrer por 7 dias. Se pielonefrite administra-se Gentamicina/Ceftriaxona EV. 
• ITU de repetição: 3 ou + episódios no ano ou 2 episódios em 6 meses. Sem fatores predisponentes. Deve-se adotar antibiótico 
profilático contínuo ou pós-coito (Bactrim em dose baixa após cada relação). Manutenção da profilaxia por 6 – 12 meses reduz 
o índice de recorrência, mas não existe consenso sobre quanto tempo deve ser mantida. (Nitrofurantoína 100mg 1cp à noite até 
01 ano). Sempre investigar presença de IST, doenças autoimunes. Outras condutas na ITU de repetição: 
o Estrógenos locais em mulheres menopausadas. 
o Vacinas (Uro-vaxon) e outras sendo testadas. 
o Probióticos: sem comprovação. 
o Extrato de Cranberry: questionado o efeito? 
• Pielonefrite: com ou sem sintomas procedentes de ITU baixo. 
o Mal-estar, dor lombar, febre, toxemia. Giordano positivo. Diagnóstico laboratorial não patognomônico. Diagnóstico é 
clínico: dor lombar + sintomas sistêmicos. Tempo de tratamento (estudos com Ciprofloxacino com eficácia igual com 7 
ou 14 dias). Pielonefrite é feito com 7 dias com as quinolonas por terapia endovenosa, quando afebril por 24 horas, 
liberado para continuação VO. 
LITÍASE RENAL 
• A litíase urinária ou a conhecida pedra nos rins, é um problema de saúde muito comum. Afeta aproximadamente 10% da 
população mundial e é altamente recidivante no decorrer da vida. Essa condição pode ser assintomática ou trazer alguns 
problemas como sangramento na urina, infecção urinária ou dano à função dos rins. A cólica renal é um quadro de dor intensa 
decorrente da pedra obstruir o fluxo de urina vindo do rim em direção à bexiga. Esta situação leva a uma dilatação e aumento 
de pressão no rim, causando dor forte na região lombar. 
FISIOPATOGÊNESE 
• Aproximadamente 75 –80% dos pacientes com urolitíase apresentam cálculos, sendo que a maioria destes são compostos 
primariamente de oxalato de cálcio e, com menor frequência, fosfato de cálcio. Os outros tipos principais incluem cálculos de 
ácido úrico, estruvita (fosfato de amônio magnesiano) e cistina. O mesmo paciente pode ter um cálculo misto. 
• A formação dos cálculos urinários é o resultado de um processo complexo e multifatorial. Os principais mecanismos 
fisiopatogênicos responsáveis pela sua formação são distúrbios metabólicos, infecções urinárias, anormalidades anatômicas e 
causas idiopáticas. Outros fatores envolvidos na litogênese são o PH urinário, o volume urinário e a dieta. 
SINAIS E SINTOMAS 
• Pacientes podem apresentar sintomas clássicos como cólica renal e hematúria, porém outros podem ser assintomáticos ou ter 
sintomas atípicos como dor abdominal, náusea, alteração de jato urinário, dor no pênis ou testículo. 
• Classicamente quando o cálculo está no cálice renal e apresenta pequeno volume, costuma ser assintomático, causando somente 
hematúria microscópica. 
• Quando dispostos na pelve renal, podem causar abrasão na movimentação, levando a dor lombar. A dor em cólica em maior 
intensidade, caracterizada pela cólica renal, ocorre após obstrução do fluxo urinário e, consequentemente, hidronefrose. A dor 
pode irradiar-se da região lombar para flanco ou também para testículos/grande lábio homolateral. É acompanhada de náusea, 
vômito e plenitude abdominal, podendo ocorrer hematúria macroscópica no episódio de dor. Presença de febre e piúria (> 5 
leucócitos por campo em sedimento urinário) sugere pielonefrite sobreposta, com predisposição à bacteremia e sepse urinária. 
 
DIAGNÓSTICO 
• O diagnóstico é feito mais comumente pelo raio-x de abdome ou pela ecografia de vias urinárias. Se um dos exames for negativo 
(raio-x ou ecografia), sugere-se solicitar o outro exame caso a dúvida diagnóstica persista. O exame de maior probabilidade de 
identificar o cálculo é a tomografia computadorizada helicoidal sem contraste. 
• Diagnóstico laboratorial consultório é feito em pacientes com episódio isolado de cólica renal, achado ocasional em exames de 
imagem, sem antecedentes pessoais e familiares significativos e função renal normal. 
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA ESSE PACIENTE 
• Aumentar o consumo de água (volume urinário deve ser de 2 – 2,4L por dia, então paciente deve beber 3L/dia. 
• Ultrassonografia de controle. 
• Não há restrição na ingesta de cálcio. 
• Alimentação rica em sal: aumenta a excreção urinária de sódio e cálcio. 
• Alimentação rica em proteínas de origem animal: carnes, vísceras, peixes, ovos, leite e derivados, pois aumentam a excreção 
urinária de cálcio, oxalato e ácido úrico. 
• Água é o principal inibidor fisiológico da formação de cálculo. A urina diluída reduz concentração dos elementos químicos e 
nucleação. Fluxo de urina aumentado facilita eliminação dos cristais. 
INVESTIGAÇÃO METABÓLICA 
• Após a eliminação dos cálculos existentes, o paciente pode ser submetido a investigação metabólica para determinar a causa da 
urolitíase e planejar o tratamento necessário. Não há consenso se avaliação metabólica completa deve ser realizada após o 
aparecimento do primeiro cálculo. Avaliação metabólica completa, em adição aos testes laboratoriais básicos, está indicada em: 
o Recorrência elevada. 
o Antecedentes de intervenções urológicas 
(LECO). 
o História familiar positiva. 
o Crianças. 
o Rim único: risco de IRA obstrutiva. 
• A avaliação metabólica completa visa prevenir recorrência e orientar dieta, além de investigar fatores que promovem e inibem 
formação de cálculos, consistindo em: 
o Dosagem sérica: cálcio, fósforo, paratormônio (PTH), ácido úrico, creatinina. 
o Dosagem na urina de 24 horas: cálcio, oxalato, sódio, ácido úrico, magnésio e citrato. 
TRATAMENTO 
• A maioria dos pacientes podem ser manejados conservadoramente com analgesia durante o episódio agudo. Tratamento inicial 
da cólica renal é realizado com analgésico potente opiáceo ou AINE. Hidratação forçada na cólica renal aguda não é indicada. 
Deve-se encaminhar para tratamento hospitalar de urgência os pacientes sem controle adequado da dor, se existir a possibilidade 
de gravidez ectópica (mulher em idade fértil com atraso menstrual) ou aneurisma de aorta, infecção urinária, litíase com suspeita 
de obstrução em rim único e/ou anúria. É pouco provável que cálculos ureterais maiores que 10mm sejam expelidos. Portanto, 
nesses casos, a avaliação com o urologista é necessária. Para cálculos ureterais menores ou iguais a 10mm em pacientes que 
apresentam sintomas controláveis e não apresentam razão para remoção cirúrgica imediata, o acompanhamento pode ser 
conservador com analgesia e terapia medicamentosa que aumenta a probabilidade de liberação do cálculo. 
TUMOR RENAL 
• O câncer de rim é o terceiro mais frequente do aparelho genitourinário e representa aproximadamente 3% das doenças malignas 
do adulto. O câncer de rim é também conhecido como hipernefroma ou adenocarcinoma renal. O mais frequente é o câncer 
renal de células claras, sendo responsável por 85% dos tumores diagnosticados. Assim: 
o Mais frequente em homens, pico em 65 anos. 
o Tipos histológicos: 
▪ 90% dos tumores: carcinoma de célula renal. 
• Tumores de células claras (85%). 
• Carcinoma papilar. 
• Cromófobo. 
• Carcinoma de ductos coletores. 
▪ 10% dos tumores: tumor carcinoide, nefroblastoma, sarcoma rabdoide, tumor de células intersticiais renomedular. 
o Fatores de risco: 
▪ Tabagismo; 
▪ Obesidade; 
▪ Hipertensão; 
▪ História familiar da doença; 
▪ Doença de Von Hippel-Lindau; 
▪ Diálise. 
DADOS CLÍNICOS 
• Os tumores sólidos de rim são geralmente assintomáticos. Na grande maioria dos casos, são diagnosticados durante exames de 
imagem realizados por outro motivo. A tríade clássica (dor, hematúria e massa palpável) apresenta bom índice de especificidade, 
mas é encontrada em apenas 10 a 15% dos pacientes e frequentemente indica doença avançada. 
• Os mais frequentes são dor e hematúria, mas sintomas relacionados à doença metastática, como perda de peso, tosse, dispneia, 
cefaleia, dores ósseas, febre, sudorese noturna e o aparecimento de varicocele também podem estar presentes. 
• Os tumores malignos estão associados a várias síndromes paraneoplásicas, como aumento da velocidade de 
hemossedimentação, hipertensão, anemia, caquexia, febre, aumento do hematócrito e disfunção hepática de origem não 
metastática (Síndrome de Staufer). Assim: 
o Neoplasia silenciosa e oculta. 
o Grande maioria é achado incidental. 
o Tríade clássica: dor, hematúria e tumor palpável. No entanto é rara, e geralmente indica doença avançada. 
o Na apresentação: 
▪ 45% dos pacientes têm doença localizada. 
▪ 30% metástase (pulmão, ossos, fígado, SNC, pele, subcutâneo, linfonodos). 
▪ 25% doença localmente avançada. 
▪ Outros: perda de peso, sudorese noturna, anemia, astenia. 
DIAGNÓSTICO 
• O diagnóstico definitivo dos tumores renais é feito após a diferenciação entre nódulos sólidos e cistos, estes mais comuns. Para 
isso, a ultrassonografia e a tomografia (TC) são os métodos mais utilizados. 
• Ultrassonografia: lesão sólida/nódulo, cistos complexos. Tem como vantagens permitir o diagnóstico definitivo de cistos renais 
simples, que são lesões muito comuns e não necessitam de tratamento específico na grande maioria dos casos. Além disso, é 
um exame barato, não invasivo e serve de screening para o estudo radiológico dos rins e vias urinárias. 
• UroTC: auxiliar no diagnóstico e estadiamento. A TC é utilizada quando a ultrassonografia não permite o diagnóstico definitivo 
da lesão renal. Qualquer lesão que não seja um cisto simples na avaliação ultrassonográfica requer uma TC para determinação 
do diagnóstico. A TC é o método de escolha para diagnóstico e estadiamento de tumores renais. Ela permite diferenciar entre 
cistos simples e complexos, avaliar possível extensão local (gordura perirrenale adrenal) e a distância (fígado e linfonodos 
retroperineais) e extensão vascular (veia renal, cava e átrio). O achado mais comum em tomografias é o de uma lesão sólida 
que capta contraste. 
• UroRM: a ressonância magnética (RNM) tem sensibilidade e especificidade semelhantes à TC, mas, por seu custo e relativa 
dificuldade de obtenção, é utilizada apenas em casos nos quais o contraste iodado não pode ser utilizado (por alergia ou déficit 
de função renal) e em pacientes com suspeita de invasão vascular. Nestes, a RNM é o exame de escolha para se determinar a 
extensão cranial dos trombos tumorais e uma possível invasão da parede vascular. 
• Diagnósticos diferenciais: adenoma, cistos simples. A conduta é a biópsia em casos específicos (sem condições clínicas para 
cirurgia, tratamento com vigilância ativa, < 4cm com indicação de terapia ablativa). Maioria a conduta é cirúrgica. 
TRATAMENTO 
• O tratamento dos tumores renais é eminentemente cirúrgico. A ressecção do tumor permite o diagnóstico histológico definitivo 
e é o único que permite cura definitiva para pacientes com tumores renais malignos. O objetivo da cirurgia é a ressecção total 
do tumor com margens de segurança adequadas em todo o contorno tumoral. A nefrectomia radical, que consiste na retirada de 
todo o conteúdo envolvido pela fáscia renal, incluindo o rim e a adrenal, é a técnica de escolha na maioria dos casos. Assim: 
o Estadiamento define se nefrectomia total ou parcial. 
o Terapia ablativa, se alto risco cirúrgico e lesões < 4cm. 
o Limitações: maior risco de recidiva local/ apenas para casos selecionados. 
• Não existe quimioterapia para tumor renal. 
• Seguimento a cada 6 meses nos primeiros 2 anos, depois anual. 
PROGNÓSTICO 
• Sobrevida em 5 anos. 
o Estágio 1: tumor localizado – 96%. 
o Estágio 4: tumor ultrapassa fáscia de Gerota – 23%.

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