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Brasília-DF. Fisiologia do sistema RepRodutoR Humano Elaboração Paula Benvindo Ferreira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 5 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 6 introdução.................................................................................................................................... 8 unidAdE i AnAtomiA do sistemA reprodutor ................................................................................................... 9 CAPítulo 1 sistemA genitAl mAsculino .................................................................................................. 9 CAPítulo 2 duetos do sistemA genitAl mAsculino ............................................................................. 12 CAPítulo 3 sistemA genitAl Feminino ................................................................................................... 20 unidAdE ii pAdrões básicos dA reprodução ................................................................................................. 30 CAPítulo 1 gAmetogênese .................................................................................................................... 30 CAPítulo 2 destinos e Ações dos Andrógenos ................................................................................ 35 CAPítulo 3 eixo HipotAlâmico-HipoFisário-testiculAr ........................................................................ 38 CAPítulo 4 reprodução FemininA ....................................................................................................... 45 CAPítulo 5 regulAção HormonAl durAnte o ciclo menstruAl ...................................................... 59 unidAdE iii reprodução mAsculinA e FemininA ............................................................................................... 61 CAPítulo 1 regulAção HormonAl do endométrio uterino ............................................................ 61 CAPítulo 2 desenvolvimento FoliculAr e luteinizAção .................................................................... 65 4 CAPítulo 3 eFeitos biológicos de estrógeno e progesteronA ...................................................... 67 CAPítulo 4 FertilizAção, embriogênese iniciAl, implAntAção e plAcentAção ................................ 71 CAPítulo 5 endocrinologiA plAcentAr ............................................................................................. 77 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 88 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução Os órgãos genitais femininos e masculinos atuam em conjunto para gerar a prole. Além disso, os órgãos genitais femininos contribuem com a manutenção do crescimento de embriões e fetos. Reprodução sexual é o processo pelo qual os organismos geram a prole, produzindo células germinativas, chamadas de gametas. Após o gameta masculino (espermatozoide) unir-se com o gameta feminino (oócito secundário) num evento chamado de fertilização, a célula resultante contém um conjunto de cromossomos de cada um dos pais. Homens e mulheres possuem órgãos genitais anatomicamente distintos, que são adaptados para a produção de gametas, facilitando a fertilização, e, nas mulheres, mantendo o crescimento do embrião e do feto. Os órgãos genitais femininos e masculinos são agrupados por função. As gônadas - testículos nos homens e ovários nas mulheres - produzem gametas e secretam hormônios sexuais. Diversos duetos armazenam e transportam os gametas, e as glândulas sexuais acessórias produzem substâncias que protegem os gametas e facilitam seu movimento. Finalmente, as estruturas de sustentação, como o pênis e o útero, auxiliam no transporte dos gametas, e o útero também é o local de crescimento do embrião e do feto, durante a gravidez. objetivos » Revisão sobre os órgãos sexuais internos e externos. » Conhecer mecanismos da gametogênese feminina e masculina. » Evidenciar a integração funcional entre sistema reprodutor e os demais sistemas. » Conhecer os mecanismos de regulação do sistema reprodutor feminino e masculino. 9 unidAdE iAnAtomiA do SiStEmA rEProdutor CAPítulo 1 Sistema genital masculino Os órgãos do sistema genital masculino são os testículos, um sistema de duetos (incluindo epidídimo, dueto deferente, duetos ejaculatórios e uretra), as glândulas sexuais acessórias (glândulas seminais, próstata e glândula bulbouretral) e diversas estruturas de sustentação, incluindo o escroto e o pênis (figura 1). Os testículos (gônadas masculinas) produzem espermatozoides e secretam hormônios. O sistema de duetos transporta e armazena espermatozoides, auxilia na sua maturação e os transporta até o exterior. O sêmen contém espermatozoides mais as secreções fornecidas pelas glândulas sexuais acessórias. Asestruturas de sustentação têm várias funções. O pênis transporta espermatozoides para o trato genital feminino e o escroto aloja os testículos. Figura 1. órgãos masculinos de reprodução e estruturas adjacentes. Fonte: netter, 2000 10 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor Escroto O escroto, a estrutura de sustentação para os testículos, consiste em pele frouxa e tecido subcutâneo subjacente que pende da raiz (a parte fixa) do pênis. Externamente, o escroto se parece com uma simples bolsa de pele, separada em porções laterais por uma crista mediana, chamada de rafe. Internamente, o septo do escroto o divide em dois sacos, cada um contendo um único testículo. O septo consiste em tecido subcutâneo e um tecido muscular, chamado de músculo dartos, que é composto de feixes de fibras musculares lisas. O músculo dartos também é encontrado no tecido subcutâneo do escroto. Associado com cada testículo, no escroto, encontra-se o músculo cremaster, uma série de pequenas faixas de músculo esquelético, que descem como uma extensão do músculo oblíquo interno pelo funículo espermático, para circundar os testículos. A localização do escroto e a contração de suas fibras musculares regulam a temperatura dos testículos. A produção normal de espermatozoides requer uma temperatura de aproximadamente 2°C a 3°C abaixo da temperatura central do corpo. A temperatura baixa é mantida dentro do escroto porque este está fora da cavidade pélvica. Em resposta às baixas temperaturas, os músculos cremaster e dartos se contraem. A contração dos músculos cremasteres aproxima mais os testículos do corpo, do qual podem absorver calor. A contração do músculo dartos retesa o escroto (dando-lhe uma aparência enrugada), o que reduz a perda de calor. A exposição ao calor inverte essas ações. testículos Os testículos são glândulas ovais pares, situadas no escroto, medindo aproximadamente 5 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. Cada testículo pesa entre 10 e 15 gramas. Os testículos desenvolvem-se próximo dos rins, na parte posterior do abdome, e, geralmente, começam sua descida em direção ao escroto pelos canais inguinais, durante a metade final do sétimo mês de desenvolvimento fetal. Uma túnica serosa, chamada de túnica vaginal, derivada do peritônio, forma-se durante a descida dos testículos e os recobre parcialmente. Uma coleção de líquido seroso na túnica vaginal é chamada de hidrocele. Pode ser provocada por lesão aos testículos ou inflamação do epidídimo. Geralmente, não é necessário tratamento. Internamente na túnica vaginal encontra-se uma cápsula fibrosa branca, composta de tecido conjuntivo denso não modelado, a túnica albugínea; estende-se para dentro, formando septos que dividem os testículos em uma série de compartimentos internos chamados de lóbulos. Cada um dos 200-300 lóbulos contém de um a três túbulos muito espiralados, os túbulos seminíferos contorcidos, nos quais os espermatozoides são produzidos. O 11 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i processo pelo qual os túbulos seminíferos dos testículos produzem espermatozoides é chamado de espermatogênese. Os túbulos seminíferos contêm dois tipos de células: células espermatogênicas, as células produtoras de espermatozoides, e as células de Sertoli, que possuem diversas funções de suporte à espermatogênese. As células-tronco, chamadas de espermatogônias, desenvolvem-se a partir das células germinativas primordiais, que se originam do saco vitelino e entram nos testículos durante a quinta semana de desenvolvimento. Nos testículos embrionários, as células germinativas primordiais se diferenciam em espermatogônias, que permanecem inativas durante a infância, e começam a produzir espermatozoides ativamente na puberdade. Em direção ao lume do túbulo seminífero encontram-se camadas de células cada vez mais maduras. Em ordem de maturidade crescente, essas são espermatócitos primá rios, espermatócitos secundários, espermátides e espermatozoides. Após a formação de um espermatozoide, este é liberado no lume do túbulo seminífero. 12 CAPítulo 2 duetos do Sistema genital masculino duetos do testículo A pressão gerada pelo líquido secretado pelas células de Sertoli empurra os espermatozoides e o líquido ao longo do lume dos túbulos seminíferos e, em seguida, para uma série de ductos muito curtos, chamados de túbulos seminíferos retos. Os túbulos seminíferos retos levam a uma rede de ductos, nos testículos, chamada de rede do testículo. A partir da rede do testículo, o espermatozoide se move por uma série de dúctulos eferentes, até o epidídimo, no qual se abre em um tubo único, chamado de dueto do epidídimo. Epidídimo O epidídimo é um órgão em forma de vírgula, medindo aproximadamente 4 cm de comprimento, que se situa ao longo da margem posterior de cada testículo. Cada epidídimo consiste, principalmente, nos espiralados ductos do epidídimo. Os dúctulos eferentes provenientes do testículo se unem ao ducto do epidídimo, na parte superior grande, chamada de cabeça. O corpo é a parte média estreita do epidídimo, e a cauda é a parte inferior menor. Na sua extremidade dilata, a cauda do epidídimo continua como o ducto deferente. O ducto do epidídimo mediria aproximadamente 6m de comprimento, se fosse esticado. É revestido com epitélio colunar pseudoestratificado e envolto por camadas de músculo liso. As faces livres das células colunares contêm estereocílios que, apesar do nome, são microvilosidades (não cílios) ramificadas longas, que aumentam a área de superfície para reabsorção do espermatozoide degenerado. O tecido conjuntivo em volta da camada muscular fixa as alças do ducto do epidídimo e contém vasos sanguíneos e nervos. Funcionalmente, o epidídimo é o local de amadurecimento do espermatozoide, o processo pelo qual o espermatozoide adquire motilidade e a capacidade de fertilizar um ovo. Isso ocorre durante um período de cerca de 14 dias. O epidídimo também ajuda a impulsionar o espermatozoide para dentro do ducto deferente, durante a excitação sexual, por meio de contrações peristálticas de sua musculatura lisa. Além disso, o epidídimo armazena espermatozoides, que permanecem viáveis por diversos meses. 13 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i Quaisquer espermatozoides armazenados que não forem ejaculados nesse intervalo de tempo serão, finalmente, reabsorvidos. ducto deferente No interior da cauda do epidídimo, o ducto do epidídimo torna-se menos espiralado, e seu diâmetro aumenta. Além desse ponto, o ducto é conhecido como ducto deferente. O ducto deferente, que mede aproximadamente 45 cm de comprimento, sobe ao longo da margem posterior do epidídimo, por meio do funículo espermático, e, em seguida, entra na cavidade pélvica. Aqui, faz uma curva sobre o ureter e passa sobre o lado e abaixo da face posterior da bexiga urinária. A parte terminal dilatada do ducto deferente é conhecida como ampola. A túnica mucosa do ducto deferente consiste em epitélio colunar pseudoestratificado e lâmina própria (tecido conjuntivo areolar). A túnica muscular é composta de três camadas de músculo liso; as camadas interna e externa são longitudinais e a camada média é circular. Funcionalmente, o ducto deferente conduz espermatozoides durante a excitação sexual, do epidídimo para a uretra, por meio de contrações peristálticas de sua túnica muscular. Assim como o epidídimo, o ducto deferente também armazena espermatozoides por vários meses. Quaisquer espermatozoides que não forem ejaculados nesse intervalo de tempo serão, finalmente, reabsorvidos. funículo Espermático O funículo espermático é uma estrutura de sustentação do sistema genital masculino que sobe por fora do escroto. Consiste no ducto deferente, à medida que sobe pelo escroto, artéria testicular, veias que drenam os testículos e transportam testosterona para a circulação (o plexo pampiniforme), nervos autônomos, vasos linfáticos e músculo cremaster. O termo varicocele se refere a uma tumefação no escroto,em consequência de varicosidades nas veias que drenam os testículos. Geralmente, é mais aparente quando a pessoa está de pé e, normalmente, não requer tratamento. O funículo espermático e o nervo ilioinguinal atravessam o canal inguinal, uma via de passagem oblíqua na parede anterior do abdome, imediatamente superior e paralela à metade mediai do ligamento inguinal. O canal, que mede aproximadamente 4 a 5 cm de comprimento, origina-se no anel inguinal profundo, uma abertura em forma de fenda na aponeurose do músculo transverso do abdome; o canal termina no anel inguinal superficial, uma abertura relativamente triangular na aponeurose do músculo oblíquo externo. Nas mulheres, o ligamento redondo do útero e o nervo ilioinguinal passam pelo canal inguinal. 14 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor ductos Ejaculatórios Cada ducto ejaculatório mede aproximadamente 2 cm de comprimento e é formado pela união do ducto da glândula seminal com a ampola do ducto deferente. Os ductos ejaculatórios se formam imediatamente acima da base (parte superior) da próstata e passam inferior e anteriormente pela próstata, terminando na parte prostática da uretra, na qual ejetam espermatozoides e secreções da glândula seminal, logo antes da liberação do sêmen pela uretra, para o exterior. uretra Nos homens, a uretra é o ducto terminal compartilhado dos sistemas urinário e genital; serve como via de passagem para o sêmen e a urina. Medindo aproximadamente 20 cm de comprimento, passa pela próstata, músculos transversos profundos do períneo e pênis, e é subdividida em três partes. A parte prostática da uretra mede 2 a 3 cm de comprimento e passa pela próstata. À medida que esse ducto continua inferiormente, passa pelos músculos transversos profundos do períneo, sendo conhecido como parte membranácea da uretra. A parte membranácea da uretra mede aproximadamente 1 cm de comprimento. À medida que esse ducto passa pelo corpo esponjoso do pênis é conhecido como parte esponjosa (peniana) da uretra, que mede aproximadamente 15 a 20 cm de comprimento. A parte esponjosa da uretra termina no óstio externo da uretra. glândulas Sexuais Acessórias Os ductos do sistema genital masculino armazenam e transportam espermatozoides, mas as glândulas sexuais acessórias secretam a maior parte da porção líquida do sêmen. As glândulas sexuais acessórias incluem as glândulas seminais, a próstata e as glândulas bulbouretrais (Figura 2). glândulas Seminais As glândulas (vesículas) seminais, pares, são estruturas contorcidas, em forma de bolsa, medindo aproximadamente 5 cm de comprimento, que se situam posteriormente à base da bexiga urinária e anteriormente ao reto. Através dos ductos da glândula seminal secretam um líquido viscoso alcalino, que contém frutose (um açúcar monossacarídeo), prostaglandinas e proteínas de coagulação, que são diferentes daquelas encontradas no sangue. A natureza alcalina do líquido seminal ajuda a neutralizar o ambiente acidífero da uretra masculina e do trato do sistema genital feminino que, de outra 15 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i forma, inativaria e mataria os espermatozoides. A frutose é usada pelo espermatozoide para produção de ATP. As prostaglandinas contribuem para a motilidade e viabilidade dos espermatozoides, e podem estimular as contrações do músculo liso no interior do sistema genital feminino. As proteínas de coagulação ajudam na coagulação do sêmen após a ejaculação. O líquido secretado pelas glândulas seminais, em geral, constitui aproximadamente 60% do volume do sêmen. Figura 2. localização dos orgão genitais masculinas acessórias. Fonte: tortora, 2010 Próstata A próstata é uma glândula simples, anelada, do tamanho aproximado de uma bola de golfe. Mede aproximadamente 4 cm de lado a lado, cerca de 3 cm do topo até a parte inferior e aproximadamente 2 cm da parte da frente até a parte de trás. Está situada inferiormente à bexiga urinária e envolve a parte prostática da uretra. A próstata aumenta lentamente de tamanho, do nascimento até a puberdade. Em seguida, se expande rapidamente até por volta dos 30 anos; após este tempo seu tamanho normalmente permanece estável, até por volta dos 45 anos, quando pode ocorrer um novo aumento. A próstata secreta um líquido leitoso, ligeiramente acidífero (pH de aproximadamente 6,5), que contém diversas substâncias importantes: (1) O ácido cítrico no líquido prostático é usado pelo espermatozoide para produção de ATP via ciclo de Krebs. 16 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor (2) Diversas enzimas proteolíticas, como o antígeno prostaticoespecífi- co (PSA), o pepsinogênio, a lisozima, a amilase e a hialuronidase, terminam por decompor as proteínas de coagulação oriundas das glândulas seminais. (3) A função da fosfatas e ácida secretada pela próstata é desconhecida. (4) A seminalplasmina, no líquido prostático, é um antibiótico que destroi bactérias. A seminalplasmina pode ajudar a diminuir o número de bactérias que ocorrem naturalmente no sêmen e no trato inferior do sistema genital feminino. As secreções da próstata passam para a parte prostática da uretra através de vários ductos prostáticos. As secreções prostáticas formam aproximadamente 25% do volume do sêmen e contribuem para a motilidade e a viabilidade do espermatozoide. glândulas Bulbouretrais As glândulas bulbouretrais, ou glândulas de Cowper, pares, têm o tamanho aproximado de uma ervilha. Localizam-se na parte inferior da próstata, em ambos os lados da parte membranácea da uretra, dentro dos músculos transversos profundos do períneo, e seus ductos se abrem na parte esponjosa da uretra. Durante a excitação sexual, as glândulas bulbouretrais secretam um líquido alcalino na uretra, que protege os espermatozoides de passagem, neutralizando os ácidos da urina presentes na uretra. Além disso, também secretam um muco que lubrifica a extremidade do pênis e o revestimento da uretra, diminuindo, dessa forma, o número de espermatozoides danificados durante a ejaculação. Sêmen Sêmen é uma mistura de espermatozoides e líquido seminal, um líquido que consiste nas secreções dos túbulos seminíferos, glândulas seminais, próstata e glândulas bulbouretrais. O volume de sêmen em uma ejaculação normal é de 2,5 a 5 mililitros (mL), com 50 a 150 milhões de espermatozoides por mL. Quando o número é menor do que 20 milhões/mL, o homem, provavelmente, é infértil. É necessária uma quantidade muito grande de espermatozoides para uma fertilização bem-sucedida, porque apenas uma minúscula fração alcança o oócito secundário. Apesar da ligeira acidez do líquido prostático, o sêmen possui um pH ligeiramente alcalino, de 7,2 a 7,7, em razão do pH elevado e do grande volume de líquido proveniente das glândulas seminais. A secreção prostática dá ao sêmen uma aparência leitosa, e os líquidos provenientes das glândulas seminais e bulbouretrais lhe dá uma consistência 17 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i viscosa. O líquido seminal proporciona ao espermatozoide um meio de transporte, nutrientes e proteção contra o ambiente acidífero hostil da uretra masculina e da vagina. Uma vez ejaculado, o sêmen líquido coagula dentro de 5 minutos, em razão da presença das proteínas de coagulação, provenientes das glândulas seminais. O papel funcional da coagulação do sêmen é desconhecido, mas as proteínas que participam são diferentes daquelas que provocam a coagulação do sangue. Após aproximadamente 10 a 20 minutos, o sêmen torna-se líquido novamente, porque o antígeno prostático específico (PSA) e outras enzimas proteolíticas produzidas pela próstata decompõem o coágulo. A liquefação anormal ou retardada do sêmen coagulado pode provocar imobilização parcial ou completa do espermatozoide, inibindo, dessa forma, sua movimentação pelo colo do útero. A presença de sangue no sêmen é chamada de hemospermia. Na maioria dos casos, é provocada pela inflamação dos vasos sanguíneos que revestem as glândulas seminais;normalmente é tratada com antibióticos. Pênis O pênis contém a uretra e é uma via de passagem para a ejaculação do sêmen e a excreção da urina. O pênis possui um formato cilíndrico e consiste em corpo, glande e raiz. O corpo do pênis é composto de três massas cilíndricas de tecido, cada uma envolvida por um tecido fibroso, chamado de túnica albugínea. As duas massas dorsolaterais são chamadas de corpos cavernosos do pênis. A massa posterior média menor, o corpo esponjoso do pênis, contém a parte esponjosa da uretra, mantendo-a aberta durante a ejaculação. Pele e tecido subcutâneo envolvem todas as três massas, que consistem em tecido erétil. O tecido erétil é composto de numerosos seios sanguíneos (espaços vasculares) revestidos por células endoteliais e envolvidos por músculo liso e tecido conjuntivo elástico. A extremidade que dista do corpo esponjoso do pênis é uma região em forma de bola, ligeiramente expandida, chamada de glande do pênis; sua margem é a coroa da glande. A parte distai da uretra se dilata dentro da glande do pênis e forma uma abertura terminal, em forma de fenda, o óstio externo da uretra. Em um pênis que não foi submetido à postectomia, encontra-se um prepúcio recobrindo a glande, frouxamente ajustado. A raiz do pênis é a parte fixa (parte proximal). Consiste no bulbo do pênis, a parte expandida da base do corpo esponjoso do pênis, e nos ramos do pênis, as duas partes separadas e afiladas do corpo cavernoso do pênis. O bulbo do pênis está preso à face inferior dos músculos transversos profundos do períneo e é envolvido pelo músculo bulboesponjoso, um músculo que auxilia a ejaculação. Cada ramo do pênis curva-se lateralmente para longe do bulbo do pênis, para fixar-se nos ramos do ísquio e inferior 18 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor do púbis, e é circundado pelo músculo isquiocavenoso. O peso do pênis é sustentado por dois ligamentos que são contínuos com a fáscia do pênis. O ligamento fundiforme se origina a partir da parte inferior da linha alba. O ligamento suspensor do pênis se origina a partir da sínfise púbica. Na estimulação sexual (visual, tátil, auditiva, olfatória ou imaginária), as fibras parassimpáticas provenientes das partes lombar e sacral da medula espinal iniciam e mantêm a ereção, o aumento e o endurecimento do pênis. As fibras parassimpáticas liberam e provocam a produção local de óxido nítrico (NO). O óxido nítrico faz com que o músculo liso, presente nas paredes das arteríolas que suprem o tecido erétil, relaxe, permitindo a dilatação desses vasos. Estes, por sua vez, fazem com que grandes quantidades de sangue entrem no tecido erétil do pênis. O óxido nítrico também faz com que o músculo liso, no interior do tecido erétil, relaxe, resultando na dilatação dos seios sanguíneos. A combinação do aumento do fluxo e da dilatação dos seios sanguíneos resulta em ereção. A expansão dos seios sanguíneos também comprime as veias que drenam o pênis; a diminuição do fluxo sanguíneo ajuda a manter a ereção. O termo priapismo refere-se a uma ereção persistente e, geralmente, dolorosa dos corpos cavernosos do pênis que não implica excitação ou desejo sexual. A condição pode durar até diversas horas, e é acompanhada por dor e sensibilidade. Resulta de anormalidades dos vasos sanguíneos e nervos, normalmente em resposta à medicação usada para produzir ereções em homens que, normalmente, não conseguem ereção. Outras causas incluem um distúrbio da medula espinhal, leucemia, anemia falciforme ou um tumor na pelve. A ejaculação, liberação vigorosa de sêmen da uretra para o exterior, é um reflexo simpático coordenado pela parte lombar da medula espinal. Como parte do reflexo, o músculo liso do esfíncter, na base da bexiga urinária, se fecha, impedindo que a urina seja expelida durante a ejaculação e que o sêmen entre na bexiga urinária. Mesmo antes que a ejaculação ocorra, as contrações peristálticas no epidídimo, ducto deferente, glândulas seminais, ductos ejaculatórios e próstata impulsionam o sêmen para a parte esponjosa da uretra. Normalmente, isto leva à emissão, a descarga de um pequeno volume de sêmen antes da ejaculação. A emissão também pode ocorrer durante o sono (emissão noturna). A musculatura do pênis (os músculos bulboesponjoso, isquiocavemoso e transverso superficial do períneo), que é suprida pelo nervo pudendo, também se contrai na ejaculação. Uma vez que a estimulação do pênis tenha cessado, as arteríolas que suprem o tecido erétil do pênis se constringem e o músculo liso, dentro do tecido erétil, contrai-se, diminuindo os seios sanguíneos. Isso alivia a pressão nas veias que irrigam o pênis e 19 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i permite que o sangue drene por elas. Consequentemente, o pênis retoma ao seu estado flácido (relaxado). Figura 3. corte frontal (a) e corte transversal (b) de pênis humano. Fonte: tortora, 2010. 20 CAPítulo 3 Sistema genital feminino Os órgãos do sistema genital feminino incluem os ovários (gônadas femininas); as tubas uterinas ou oviductos; o útero; a vagina; e os órgãos genitais femininos externos, que são coletivamente chamados de vulva ou pudendo feminino. As glândulas mamárias são consideradas parte tanto do sistema genital feminino quanto do tegumento comum (Figura 4). Figura 4. orgãos genitais femininos e estruturas adjacentes. Fonte: netter, 2000. ovários Os ovários, que são as gônadas femininas, são glândulas pares que se assemelham a amêndoas sem casca, em tamanho e formato; eles são homólogos aos testículos. (Aqui, homólogo significa que os dois órgãos apresentam a mesma origem embrionária). Os ovários produzem (1) gametas, oócitos secundários que se desenvolvem em ovos maduros e (2) hormônios, incluindo progesterona e estrogênios (os hormônios sexuais femininos), inibina e relaxina. Os ovários, um de cada lado do útero, descem até a margem da parte superior da cavidade pélvica, durante o terceiro mês de desenvolvimento. Uma série de ligamentos 21 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i mantém os ovários no lugar. O ligamento largo do útero, ele próprio parte do peritônio parietal, prende-se aos ovários por meio de uma prega bilaminada de peritônio, chamada de mesovário. O ligamento útero-ovárico ancora os ovários ao útero, e o ligamento suspensor do ovário os prende à parede da pelve. Cada ovário possui um hilo, o ponto de entrada e saída para os vasos sanguíneos e nervos, ao longo do qual está preso o mesovário. Histologia dos ovários Cada ovário consiste nas seguintes partes: » O epitélio germinativo é uma camada de epitélio simples (pavimentoso ou cúbico simples), que recobre a superfície do ovário. Sabemos que o termo epitélio germinativo, nos seres humanos, não é preciso, porque não dá origem aos óvulos; o nome surgiu porque, antigamente, as pessoas acreditavam nisso. Atualmente, sabemos que as células que produzem os óvulos se originam do saco vitelino e migram para os ovários durante o desenvolvimento embrionário. » A túnica albugínea é uma cápsula esbranquiçada de tecido conjuntivo denso não modelado, localizada imediatamente abaixo do epitélio germinativo. » O córtex do ovário é uma região logo abaixo da túnica albugínea. Consiste nos folículos ováricos (descritos a seguir) envolvidos por tecido conjuntivo denso não modelado, contendo fibras colágenas e células semelhantes a fibroblastos, chamadas de células estromais. » A medula do ovário está abaixo do córtex. A margem entre o córtex e a medula é pouco evidente, mas a medula consiste em mais tecido conjuntivo disposto livremente e contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. » Os folículos ováricos estão localizados no córtex do ovário e consistem em oócitos em vários estágios de desenvolvimento, mais as células adjacentes. Quando as células adjacentes foliculares; mais tarde no desenvolvimento, quando formam diversas camadas, são chamadas de células granulosas. As células adjacentes nutrem o oócitoem desenvolvimento e começam a secretar estrogênio à medida que o folículo cresce. » Um folículo maduro (de De Graaf) é um folículo grande, cheio de líquido, que está a ponto de se romper e expelir seu oócito secundário, um processo conhecido como ovulação. 22 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor » O corpo lúteo contém os resquícios de um folículo maduro, após a ovulação. O corpo lúteo produz progesterona, estrogênios, relaxina e inibina, até degenerar-se no tecido cicatricial fibroso, chamado de corpo albicante. tubas uterinas As mulheres possuem duas tubas uterinas (trompas de Falópio), ou ovidutos, que se estendem lateralmente a partir do útero. As tubas, que medem aproximadamente 10 cm de comprimento, se situam entre as pregas dos ligamentos largos do útero. Fornecem uma via para os espermatozoides chegarem ao óvulo e transportam oócitos secundários e óvulos fertilizados dos ovários para o útero. A parte afunilada de cada tuba, chamada de infundíbulo, fica perto do ovário, mas é aberta para a cavidade pélvica. Termina em uma franja de projeções digitiformes, chamadas de fímbrias, uma das quais está presa à extremidade lateral do ovário. A partir do infundíbulo, a tuba uterina estende- se medialmente e, possivelmente, para baixo, fixando-se no ângulo lateral superior do útero. A ampola da tuba uterina é a parte mais larga e longa, e forma, aproximadamente, os dois terços laterais de sua extensão. O istmo da tuba uterina é a parte de parede espessa, estreita, curta e mais medial, que se une ao útero. Histologicamente, as tubas uterinas são compostas de três camadas: as túnicas mucosa, muscular e serosa. A túnica mucosa consiste em epitélio e lâmina própria (tecido conjuntivo areolar). O epitélio contém células colunares simples ciliadas que atuam como uma “correia transportadora ciliar” para ajudar a mover um óvulo fertilizado (ou oócito secundário) ao longo da tuba, em direção ao útero, e células não ciliadas, chamadas de células cilíndricas, que apresentam microvilosidades e secretam um líquido que nutre o óvulo. A camada média, a túnica muscular, é composta de um anel circular interno espesso de músculo liso e de uma região externa fina de músculo liso longitudinal. As contrações peristálticas da túnica muscular e a ação ciliar da túnica mucosa ajudam a mover o oócito ou o óvulo fertilizado em direção ao útero. A camada externa das tubas uterinas é uma membrana serosa, a túnica serosa. Correntes locais produzidas pelos movimentos das fímbrias que envolvem o ovário durante a ovulação levam o oócito secundário ovulado da cavidade pélvica para a tuba uterina. Um espermatozoide, geralmente, encontra e fertiliza um oócito secundário na ampola da tuba uterina, embora a fertilização na cavidade pélvica não seja incomum. A fertilização ocorre a qualquer momento, em até aproximadamente 24 horas após a ovulação. Algumas horas após a fertilização, os materiais nucleares do óvulo e do espermatozoide haploides unem-se. O óvulo diploide fertilizado é agora chamado de 23 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i zigoto, e começa a sofrer divisões celulares, enquanto se move em direção ao útero. O óvulo chega ao útero 6 a 7 dias após a ovulação. Útero O útero serve como parte da via para o espermatozoide depositado na vagina alcançar as tubas uterinas. É, também, o local de implantação de um óvulo fertilizado, desenvolvimento do feto durante a gravidez e trabalho de parto. Durante os ciclos de reprodução, quando não ocorre a implantação, o útero é a fonte do fluxo menstrual. Anatomia do Útero Situado entre a bexiga urinária e o reto, o útero apresenta o tamanho e o formato de uma pera invertida. Em mulheres que nunca engravidaram, mede aproximadamente 7,5 cm de comprimento, 5 cm de largura e 2,5 cm de espessura. O útero é maior nas mulheres que engravidaram recentemente e menor (atrofiado) quando os níveis dos hormônios sexuais são baixos, como ocorre após a menopausa. As subdivisões anatômicas do útero incluem: (1) uma parte em forma de domo, superior às tubas uterinas, chamada de fundo do útero, (2) uma parte central afilada, chamada de corpo do útero, e (3) uma parte estreita inferior, chamada de colo do útero, que se abre na vagina. Entre o corpo e o colo do útero encontra-se o istmo, uma região comprimida, medindo aproximadamente 1 cm de comprimento. O interior do corpo do útero é chamado de cavidade do útero, e o interior do colo é chamado de canal do colo do útero. O canal do colo se abre na cavidade do útero, no óstio interno, e na vagina, no óstio externo. Normalmente, o corpo do útero se projeta anterior e superiormente sobre a bexiga urinária, na posição chamada de anteflexão. O colo se projeta inferior e posteriormente e entra na parede anterior da vagina quase em ângulo reto. Diversos ligamentos que são extensões do peritônio parietal ou dos fascículos fibromusculares mantêm a posição do útero. Os ligamentos largos, pares, são pregas duplas de peritônio, que fixam o útero em ambos os lados da cavidade pélvica. Os ligamentos retouterinos (uterossacrais), pares, situam-se em ambos os lados do reto e conectam o útero ao sacro. Os ligamentos transversos do colo (cardinais) estão localizados abaixo das bases dos ligamentos largos e estendem-se da parede da pelve até o colo do útero e a vagina. Os ligamentos redondos são faixas de tecido conjuntivo fibroso entre as camadas do ligamento largo; estendem-se a partir de um ponto no útero, logo abaixo das tubas uterinas, até uma parte dos lábios maiores da genitália externa. Embora os ligamentos normalmente 24 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor mantenham a posição de anteflexão do útero, também proporcionam ao corpo do útero movimento suficiente, como aquele em que o útero pode se tomar mal posicionado. A inclinação posterior do útero, chamada de retroflexão, é uma variação inofensiva da posição normal do útero. Não existe uma causa frequente para a condição, mas pode ocorrer após o parto. Histologia do Útero Histologicamente, o útero consiste em três camadas de tecido: o perimétrio, o miométrio e o endométrio. A camada externa — o perimétrio ou túnica serosa — é parte do peritônio visceral; é composto de epitélio pavimentoso simples e tecido conjuntivo areolar. Lateralmente, torna-se o ligamento largo do útero. Anteriormente, recobre a bexiga urinária e forma uma bolsa rasa, a escavação vesicouterina. Posteriormente, recobre o reto e forma uma bolsa profunda, a escavação retouterina ou fundo de saco de Douglas — o ponto mais inferior na cavidade pélvica. A camada média do útero, o miométrio, consiste em três camadas de fibras musculares lisas, que são mais espessas no fundo do útero e mais finas no seu colo. A camada média, mais espessa, é circular; as camadas interna e externa são longitudinais ou oblíquas. Durante o trabalho de parto até o seu termo, contrações coordenadas do miométrio em resposta à oxitocina proveniente da adeno-hipófise ajudam a expelir o feto do útero. A camada interna do útero, o endométrio, é muito vascularizada e possui três componentes: (1) Uma camada mais interna composta de epitélio colunar simples (ciliado e células secretoras) reveste o lume. (2) Um estroma endometrial subjacente é uma região muito espessa da lâmina própria (tecido conjuntivo areolar). (3) Glândulas endometriais (uterinas) desenvolvem-se como invaginações do epitélio do lume e se estendem quase até o miométrio. O endométrio é dividido em duas camadas. O estrato funcional reveste a cavidade do útero e se desprende durante a menstruação. A camada mais profunda, o estrato basal, é permanente e dá origem a um novo estrato funcional após cada menstruação. Ramos da artéria ilíaca interna, chamados de artérias uterinas, levam sangue até o útero. As artérias uterinas apresentam ramos chamados de artérias arqueadas que estão dispostas de forma circular no miométrio. Essas artérias se ramificam nas artérias radiais que penetram profundamenteno miométrio. Imediatamente antes dos ramos entrarem no endométrio, dividem-se em dois tipos de arteríolas: as arteríolas retas fornecem ao estrato basal as substâncias necessárias para a regeneração do estrato funcional; as arteríolas espirais suprem o estrato funcional e mudam acentuadamente durante o ciclo menstruai. O sangue que deixa o útero é drenado pelas veias uterinas, 25 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i e daí para as veias ilíacas internas. O amplo suprimento sanguíneo do útero é essencial para sustentar, novamente, o crescimento de um novo estrato funcional, após a menstruação, a implantação de um óvulo fertilizado e o desenvolvimento da placenta. muco do Colo do útero As células secretoras da túnica mucosa do colo do útero produzem uma secreção chamada de muco do colo, uma mistura de água, glicoproteínas, lipídios, enzimas e sais inorgânicos. Durante seus anos férteis, a mulher secreta 20 a 60 mL de muco do colo do útero por dia. O muco do colo do útero é mais favorável ao espermatozoide no período da ovulação ou próximo deste, porque se torna menos viscoso e mais alcalino (pH 8,5). Fora desse período, o muco mais viscoso forma um tampão no colo do útero que, fisicamente, impede a penetração do espermatozoide. O muco do colo suplementa as necessidades de energia do espermatozoide e tanto o colo quanto o muco protegem o espermatozoide contra fagócitos e o ambiente hostil da vagina e do útero. O muco do colo do útero pode exercer um papel na capacitação — uma série de alterações funcionais que o espermatozoide sofre nos órgãos genitais femininos antes que seja capaz de fertilizar um oócito secundário. A capacitação faz com que a cauda do espermatozoide ondule ainda mais vigorosamente, preparando a membrana plasmática do espermatozoide para fundir-se com a membrana plasmática do oócito. Figura 5. vista posterior do útero e das estruturas associadas. Fonte: tortora, 2010. 26 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor Vagina A vagina é um canal fibromuscular longo e tubular, com 10 cm de comprimento, revestido por túnica mucosa, que se estende do exterior do corpo do útero até o colo. É o receptáculo para o pênis durante a relação sexual, uma saída para o fluxo menstrual e uma via de passagem para o parto. Situada entre a bexiga urinária e o reto, a vagina está direcionada superior e posteriormente, fixando-se no útero. Um recesso chamado de fórnice circunda a inserção vaginal no colo do útero. Quando inserido adequadamente, um diafragma contraceptivo situa-se no fórnice, no qual é mantido, enquanto recobre o colo do útero. A túnica mucosa da vagina é contínua com aquela do útero. Histologicamente consiste em epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado e tecido conjuntivo areolar, que se situam em uma série de pregas transversas, chamadas de rugas. Células dendríticas, presentes na túnica mucosa, são células apresentadoras de antígeno. Infelizmente, também participam na transmissão de vírus — por exemplo, o HIV (o vírus que provoca a AIDS) — para a mulher, durante a relação sexual com um homem infectado. A túnica mucosa da vagina contém grandes reservas de glicogênio, cuja decomposição produz ácidos orgânicos. O ambiente acidífero resultante retarda o crescimento microbiano, mas é também prejudicial ao espermatozoide. Os componentes alcalinos do sêmen, principalmente das glândulas seminais, elevam o pH do líquido na vagina e aumentam a viabilidade do espermatozoide. A túnica muscular é composta de uma camada circular externa e uma camada longitudinal interna de músculo liso que se esticam consideravelmente para acomodar o pênis durante a relação sexual e um recém-nascido durante o parto. A túnica adventícia, a camada superficial da vagina, consiste em tecido conjuntivo areolar. Ancora a vagina aos órgãos adjacentes, como a uretra e a bexiga urinária, anteriormente, e o reto e o canal anal, posteriormente. Uma prega fina de túnica mucosa vascularizada, chamada de hímen, forma uma margem em torno da extremidade inferior da abertura da vagina para o exterior, o óstio da vagina, fechando-a parcialmente. Após sua ruptura, em geral, depois da primeira relação sexual, permanecem apenas resquícios do hímen. Algumas vezes o hímen recobre completamente o óstio, uma condição chamada de hímen imperfurado. Pode ser necessário cirurgia para abrir o óstio e permitir descarga do fluxo menstrual. 27 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i Vulva O termo vulva ou pudendo feminino refere-se aos órgãos genitais femininos externos. Os componentes da vulva são os seguintes: » Anteriormente ao óstio da vagina e da uretra encontra-se o monte do púbis, uma elevação de tecido adiposo recoberta por pele e pelos púbicos espessos que protege a sínfise púbica. » A partir do monte do púbis, duas pregas longitudinais de pele, os lábios maiores do pudendo, se estendem inferior e posteriormente. Os lábios maiores do pudendo são recobertos por pelos púbicos e contêm tecido adiposo em abundância, glândulas sebáceas (oleosas) e glândulas sudoríparas apócrinas. São homólogos ao escroto. » Medialmente aos lábios maiores do pudendo encontram-se duas pregas menores de pele, chamadas de lábios menores do pudendo. Ao contrário dos lábios maiores do pudendo, os lábios menores do pudendo são destituídos de pelos púbicos e gordura e possuem poucas glândulas sudoríparas, mas contêm muitas glândulas sebáceas. Os lábios menores do pudendo são homólogos à parte esponjosa da uretra. » O clitóris é uma pequena massa cilíndrica composta de dois pequenos corpos eréteis, os corpos cavernosos, e numerosos nervos e vasos sanguíneos. O clitóris está localizado na junção anterior dos lábios menores. Uma camada de pele, chamada de prepúcio do clitóris, é formada no ponto em que os lábios menores do pudendo se unem e recobrem o corpo do clitóris. A parte exposta do clitóris é a glande do clitóris. O clitóris é homólogo à glande do pênis. Assim como a estrutura masculina, o clitóris é capaz de aumento, por meio da estimulação tátil, e possui uma função na excitação sexual feminina. » A região entre os lábios menores é o vestíbulo. Dentro do vestíbulo estão o hímen (se ainda presente), o óstio da vagina, o óstio externo da uretra e as aberturas dos ductos de diversas glândulas. O vestíbulo é o homólogo à parte membranácea da uretra masculina. O óstio da vagina, a abertura da vagina para o exterior, ocupa a parte maior do vestíbulo e é limitado pelo hímen. Anteriormente ao óstio da vagina e posteriormente ao clitóris está o óstio externo da uretra, a abertura da uretra para o exterior. Em ambos os lados do óstio externo da uretra estão as aberturas dos ductos das glândulas parauretrais (ductos de Skene). Estas glândulas secretoras 28 UNIDADE I │ ANAtomIA Do sIstEmA rEproDUtor de muco estão engastadas na parede da uretra. As glândulas parauretrais são homólogas à próstata. Em ambos os lados do próprio óstio da vagina estão as glândulas vestibulares maiores (de Bartholin), que se abrem por meio de ductos em um sulco entre o hímen e os lábios menores do pudendo. As glândulas produzem uma pequena quantidade de muco durante a excitação e a relação sexual, que se soma ao muco do colo do útero e fornece lubrificação. As glândulas vestibulares maiores são homólogas às glândulas bulbouretrais nos homens. Diversas glândulas vestibulares menores também se abrem no vestíbulo. » O bulbo do vestíbulo consiste em duas massas alongadas de tecido erétil, imediatamente abaixo dos lábios maiores do pudendo, em ambos os lados do óstio da vagina. O bulbo do vestíbulo torna-se ingurgitado com sangue durante a excitação sexual, estreitando o óstio da vagina e exercendo pressão no pênis durante a relação sexual. O bulbo do vestíbulo é homólogo ao corpo esponjoso e ao bulbo do pênis. Períneo O períneo é uma área losângica, medial às coxas e nádegas tanto dos homens quanto das mulheres. Contém os órgãos genitais externos e oânus. O períneo é limitado anteriormente pela sínfise púbica, lateralmente pelos túberes isquiáticos e posteriormente pelo cóccix. Uma linha transversal traçada entre os túberes isquiáticos divide o períneo em uma região urogenital anterior, que contém os órgãos genitais externos, e uma região anal posterior, que contém o ânus. glândulas mamárias Cada mama é uma projeção hemisférica de tamanho variável, anterior aos músculos peitoral maior e serrátil anterior, e fixada a eles por uma camada de fáscia composta de tecido conjuntivo denso não modelado e possui uma projeção pigmentada, a papila mamária, que possui uma série de aberturas pouco espaçadas de ductos, chamados de ductos lactíferos, dos quais o leite emerge. A área circular pigmentada de pele que envolve a papila mamária é chamada de aréola da mama; parece enrugada porque contém glândulas sebáceas modificadas. Filamentos de tecido conjuntivo, chamados de ligamentos suspensores da mama (de Cooper), correm entre a pele e a fáscia e dão sustentação à mama (Figura 6). 29 AnAtomiA do sistemA reprodutor │ unidAde i Dentro de cada mama encontra-se uma glândula mamária, uma glândula sudorípara modificada que produz leite. Uma glândula mamária consiste em 15 a 20 lobos ou compartimentos, separados por uma quantidade variável de tecido adiposo. Em cada lobo encontram-se diversos compartimentos menores, chamados de lóbulos, compostos de aglomerações de glândulas secretoras de leite, em forma de cachos de uva, chamadas de alvéolos, engastadas no tecido conjuntivo. A contração das células mioepiteliais, que envolvem os alvéolos, ajuda a impulsionar o leite em direção às papilas mamárias. Quando o leite está sendo produzido, passa dos alvéolos para uma série de túbulos secundários e, em seguida, para os ductos lactíferos. Próximo da papila mamária, os ductos lactíferos se expandem para formar seios, chamados de seios lactíferos, nos quais um pouco de leite pode ficar armazenado, antes de drenar para a parte distai do ducto lactífero. Cada ducto lactífero, normalmente, transporta leite de um dos lobos para o exterior (Figura 6). Figura 6. glândulas mamárias Fonte: tortora, 2010. 30 unidAdE iiPAdrõES BáSiCoS dA rEProdução CAPítulo 1 gametogênese desenvolvimento das células espermáticas A espermatogênese envolve o processo de mitose e meiose. Células-tronco, denominadas espermatogônias, residem no nível basal do epitélio seminífero. A espermatogônia se divide mitoticamente para gerar espermatogônias filhas (espermatocitogênese). Uma ou mais espermatogônias permanecem na população de células-tronco, firmemente aderidas à lâmina basal. Entretanto, a maioria destas espermatogônias filhas entra em divisão meiótica, o que resulta em um espermatozoide haploide quando a meiose se completa. Estas divisões são acompanhadas por citocinese incompleta, de forma que todas as células filhas mantêm-se interconectadas por uma ponte citoplasmática. Esta configuração contribui para a sincronia do desenvolvimento de uma população clonal de células espermáticas. A espermatogônia migra em direção apical, para longe da lâmina basal, à medida que entra na primeira prófase meiótica. Neste momento, elas são denominadas espermatócitos primários. Durante a primeira prófase meiótica, ocorrem os processos característicos da reprodução sexual, envolvendo reduplicação cromossômica, sinapse, crossing-over e recombinação homóloga. O término da primeira divisão meiótica dá lugar aos espermatócitos secundários, os quais, rapidamente (i. e., dentro de 20 minutos), completam a segunda divisão meiótica. Os produtos iniciais da meiose são espermátides haploides. As espermátides são células menores e arredondadas, que sofrem uma notável metamorfose denominada espermiogênese (Figura 7). Os produtos da espermiogênese são os espermatozoides. À medida que a espermátide sofre maturação para espermatozoide, o tamanho do núcleo se reduz e se forma uma cauda proeminente. A cauda contém estruturas microtubulares que propulsionam o espermatozoide, como um flagelo. A cromatina do núcleo do espermatozoide se condensa e a maioria 31 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii do citoplasma é perdida. O acrossoma é uma estrutura delimitada por membrana na cabeça do espermatozoide, que atua como um lisossoma e contém enzimas hidrolíticas, importantes para a fertilização. Estas enzimas permanecem inativas até que a reação acrossômica ocorra. Figura 7. estrutura das células espermáticas durante o processo de espermatogênese e espermiogênese. Fonte: berne e levy. Os espermatozoides são encontrados a superfície luminal dos túbulos seminíferos. A liberação dos espermatozoides, ou espermiação, é controlada pelas células de Sertoli. O processo de espermatogênese dura por volta de 72 dias. Um grupo de espermatogônias adjacentes entra no processo a cada 16 dias, de forma que este é escalonado em um ponto ao longo de um túbulo seminífero. Além disso, o processo é escalonado ao longo do comprimento de um túbulo seminífero (i. e., nem todas as espermatogônias iniciam o processo de espermatogênese ao mesmo tempo ao longo de todo o comprimento do túbulo ou em sincronia com todos os outros túbulos; existem cerca de 500 túbulos seminíferos por testículo; ver adiante). Devido aos túbulos seminíferos em cada testículo apresentarem cerca de 400 metros em comprimento, os espermatozoides estão sendo gerados, continuamente, em muitos locais no interior do testículo e a qualquer momento. Célula de Sertoli As células de Sertoli são as verdadeiras células epiteliais do epitélio seminífero e se estendem da lâmina basal ao lúmen. As células de Sertoli circundam as células espermáticas e proporcionam suporte estrutural no epitélio; elas formam junções aderentes e comunicantes com células espermáticas em todos os estágios. Pela formação e destruição 32 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO destas junções, as células de Sertoli guiam as células espermáticas em direção ao lúmen à medida que passam para os estágios tardios da espermatogênese. A espermiação requer a destruição final das junções entre célula de Sertoli e célula espermática. Outra característica estrutural importante das células de Sertoli é a formação de junções compactas entre as células de Sertoli adjacentes. Estas junções oclusivas, que ligam duas células de Sertoli, dividem o epitélio seminífero em um compartimento basal, contendo a espermatogônia e espermatócitos primários no estágio inicial, e um compartimento adluminal contendo espermatócitos primários em estágio avançado e todos os estágios subsequentes de células espermáticas. À medida que os espermatócitos primários iniciais se movimentam em direção apical, para longe da membrana basal, e para o compartimento adluminal, as junções compactas precisam ser desagregadas e reagregadas. Estas junções compactas formam a base física para a barreira hematotesticular, a qual cria um microambiente especializado e imunologicamente seguro para o desenvolvimento do espermatozoide. Bloqueando a difusão paracelular, as junções compactas restringem o movimento de substâncias entre o sangue e as células germinativas em desenvolvimento, por via de transporte transSertoli e, desta maneira, permite que a célula de Sertoli controle a disponibilidade de nutrientes para as células germinativas (Figura 8). Figura 8. interações entre as várias células dos testículos na regulação hormonal da espermatogênese. Fonte: berne e levy. 33 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii A célula de Sertoli saudável é essencial para a viabilidade e desenvolvimento da célula espermática. Além disso, a espermatogênese é dependente da testosterona produzida pelas células de Leydig peritubulares. Todavia, são as células de Sertoli que expressam o receptor para andrógeno e não as células espermáticas em desenvolvimento. Da mesma forma, o hormônio folículo estimulante (FSH), produzido pela hipófise, também é necessário para uma produçãomáxima de espermatozoides e, novamente, são as células de Sertoli que expressam o receptor para FSH e não o espermatozoide em desenvolvimento. Assim, estes hormônios sustentam a espermatogênese indiretamente através do estimulo funcional das células de Sertoli. As células de Sertoli apresentam múltiplas funções adicionais. Elas expressam a enzima CYP19 (também denominada aromatase), a qual converte a testosterona, derivada das células de Leydig em um potente estrógeno, o 17β-estradiol (ver adiante). Esta produção local de estrógeno pode aumentar a espermatogênese em humanos. As células de Sertoli também produzem a proteína de ligação a andrógeno (ABP), a qual mantém um nível alto de andrógeno no compartimento adluminal, no lúmen dos túbulos seminíferos e na parte proximal do trato reprodutor masculino. As células de Sertoli também produzem uma grande quantidade de fluido. Este fluido proporciona um meio apropriado para manutenção do espermatozoide e auxilia na movimentação do espermatozoide imóvel do túbulo seminífero para o epidídimo. As células de Sertoli realizam uma importante função fagocítica, engolfando os corpos residuais, que correspondem ao citoplasma do espermatozoide que é descartado durante a espermiogênese. Finalmente, a célula de Sertoli tem um papel endócrino importante. Durante o desenvolvimento, as células de Sertoli produzem hormônio antimülleriano (AMH; também denominado substância inibitória mülleriana), a qual induz a regressão dos ductos müllerianos embrionários, que são programados para originar o trato reprodutor feminino (ver adiante). As células de Sertoli também produzem o hormônio inibina, que é um hormônio heterodímérico proteico, relacionado à família do fator de crescimento transformador-β. O FSH estimula a produção de inibina, a qual retroalimenta negativamente os gonadotrofos, inibindo a produção de FSH. Desta forma, a inibina mantém os níveis de FSH dentro de limites fisiológicos. Compartimento Peritubular O compartimento peritubular contém a célula endócrina primária do testículo, a célula de Leydig. Este compartimento também contém os tipos celulares comuns do tecido conjuntivo frouxo e uma rede capilar peritubular riquíssima que proporciona 34 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO nutrientes para os túbulos seminíferos (por meiodas células de Sertoli) enquanto leva a testosterona para fora do testículo, em direção à circulação periférica. Célula de leydig As células de Leydig são células esteroidogênicas do estroma. Estas células sintetizam colesterol de novo, assim como o adquirem pelos receptores para lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e receptores para lipoproteínas de alta densidade (HDL) (também denominados pelo receptor scavenger BI [SR-BI]), e o armazenam na forma de éster de colesterol, como descrito para as células adrenocorticais . O colesterol livre é gerado pela hidrolase do éster de colesterol e transferido para a membrana mitocondrial externa e, então, para a membrana mitocondrial interna, o que é dependente da proteína reguladora aguda esteroidogênica (StAR). Assim como em todas as células esteroidogênicas, o colesterol é convertido em pregnenolona pela CYP11A1. A pregnenolona é então processada em progesterona, 17-hidroxiprogesterona, e androstenediona pela 3β-hidroxiesteroide desidrogenase (3b-HSD) e CYP17. A CYP17 é uma enzima bifuncional com atividade 17hidroxilase e atividade 17,20-liase. Na célula de Leydig a CYP17 é muito ativa nas atividades. Considerando-se a esteroidogênese, a célula de Leydig se assemelha à célula da zona reticular, mas expressa um nível maior de 3β-HSD, de forma que a via Δ4 é essencialmente favorecida. Outra grande diferença é a expressão de uma isoforma da 17b-hidroxiesteroide desidrogenase (17b-HSD tipo 3) específica pela célula de Leydig, a qual converte androstenediona em testosterona. 35 CAPítulo 2 destinos e Ações dos Andrógenos Andrógeno intratesticular A testosterona produzida pelas células de Leydig tem diversos destinos e múltiplas ações. Devido à proximidade das células de Leydig dos túbulos seminíferos, quantidades significativas de testosterona se difundem e são concentradas no compartimento adluminal pela ABP. Os níveis de testosterona nos túbulos seminíferos são mais de 100 vezes superiores aos níveis de testosterona circulantes, e são necessários para a espermatogênese normal. Como mencionado, as células de Sertoli expressam a enzima CYP19 (aromatase), a qual converte uma pequena quantidade de testosterona em um estrógeno altamente potente, o 17β-estradiol. As células espermáticas humanas expressam pelo menos uma isoforma do receptor de estrogênio e existe alguma evidência, em homens deficientes em aromatase, de que este estrógeno produzido localmente otimiza a espermatogênese em humanos. Conversão Periférica em Estrógeno Em diversos tecidos (especialmente no tecido adiposo), a testosterona é convertida em estrógeno. Estudos envolvendo homens com deficiência de aromatase demonstraram que uma incapacidade de produzir estrógeno resulta em estatura alta devido à falta de fechamento epifisário em ossos longos e osteoporose. Assim, o estrógeno periférico desempenha um importante papel na maturação e biologia dos ossos do homem. Estes estudos também demonstraram o efeito do estrógeno promovendo a sensibilidade à insulina, melhorando os perfi s de lipoproteínas (i. e., aumentando HDL e reduzindo triglicerídeos e LDL), e estabelecendo o feedback negativo com as gonadotrofinas hipofisárias. Conversão Periférica de di-hidrotestosterona A testosterona também pode ser convertida em um potente andrógeno não aromatizado, a 5α−di-hidrotestosterona (DHT), pela enzima 5α−redutase. Existem duas isoformas da 5α-redutase, tipo 1 e tipo 2. Os principais locais de expressão da 5α−redutase 2 são o trato urogenital masculino, a pele genital, os folículos pilosos e o fígado. A 5α−redutase 2 gera DHT, o qual é necessário para a masculinização da genitália externa in utero e 36 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO para muitas das mudanças associadas à puberdade, incluindo crescimento e atividade da próstata (ver adiante), crescimento do pênis, escurecimento e pregueamento do escroto, crescimento de pelos pubianos e axilares, crescimento de pelos faciais e corporais e aumento da massa muscular. O início da expressão da 5α-redutase 1 ocorre na puberdade. Esta isoenzima é expressa essencialmente na pele e contribui para a atividade das glândulas sebáceas e a acne associada à puberdade. Devido ao DHT possuir forte efeito promotor do crescimento (i. e., trófico) em seus órgãos alvo, o desenvolvimento de inibidores seletivos da 5α-redutase 2 beneficiou o tratamento de hipertrofia prostática e câncer prostático. Ações Periféricas da testosterona A testosterona tem ação direta (i. e., sem conversão em DHT) em vários tipos celulares (Figura 9). Como mencionado, a testosterona regula a função da célula de Sertoli. Ela induz o desenvolvimento do trato masculino dos ductos mesonéfricos na ausência de 5α-redutase. A testosterona tem vários efeitos metabólicos, incluindo o aumento das lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e LDL, enquanto reduz a HDL, promove a deposição de tecido adiposo abdominal, aumenta a produção de eritrócitos, promove o crescimento e rigidez dos ossos, e exerce um efeito anabolizante proteico nos músculos. A testosterona é suficiente para manter a função erétil e a libido. Figura 9.efeitos da testosterona (t) e de seus derivados, diidrotestosterona (dHt) e estradiol (e2), após estes serem produzidos da testosterona. vldl, ldl, Hdl, lipoproteínas de densidade muito baixa, baixa densidade e alta densidade, respectivamente. Fonte: berne & levy. 37 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii mecanismo da Ação Andrógena A testosterona e a DHT atuam pelo mesmo receptor androgênico (AR). Na ausência de ligante, o AR encontra-se no citoplasma, acoplado a proteínas chaperonas. Aligação testosterona-AR ou DHT-AR causa dissociação das proteínas chaperonas, seguida de translocação nuclear do complexo andrógeno-AR, dimerização, ligação a um elemento de resposta ao andrógeno (ARE), e recrutamento de proteínas coativadoras e fatores gerais de transcrição para a vizinhança de um promotor gênico específico. Ainda é incerto como a testosterona e a DHT diferem em sua capacidade de ativar o AR no contexto de diferentes tipos celulares, apesar da presença de diferentes proteínas coativadoras em diferentes tipos celulares estar, provavelmente, envolvida. transporte e metabolismo de Andrógenos Quando a testosterona entra na circulação periférica, ela se liga às proteínas séricas, rapidamente atingindo um equilíbrio. Cerca de 60% da testosterona circulante está ligada à globulina ligadora de hormônio sexual (SHBG), 38% estão ligados à albumina, e cerca de 2% permanece como hormônio “livre”. A testosterona e seus metabólitos são essencialmente excretados pela urina. Quase 50% dos andrógenos excretados são encontrados como 17-cetosteroides urinários, com grande parte dos remanescentes sendo andrógenos conjugados ou derivados diol ou triol. Apenas cerca de 30% dos 17cetosteroides urinários são provenientes dos testículos, o restante é produzido de andrógenos adrenais. Os andrógenos são conjugados com glicuronato ou sulfato no fígado e os esteroides conjugados são excretados na urina. 38 CAPítulo 3 Eixo Hipotalâmico-Hipofisário-testicular O testículo é regulado por um eixo endócrino (Figura 10) que compreende neurônios parvocelulares hipotalâmicos, produtores de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), e gonadotrofos hipofisários, que produzem tanto hormônio luteinizante (LH) como hormônio folículo estimulante (FSH). regulação da função da Célula de leydig A célula de Leydig expressa o receptor para LH, o qual atua nas células de Leydig de forma muito semelhante à que o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) atua nas células da zona fasciculada no córtex da adrenal. Os efeitos rápidos incluem hidrólise dos ésteres de colesterol e nova expressão da proteína StAR. Efeitos menos agudos incluem um aumento na expressão dos genes para as enzimas esteroidogênicas e a expressão de receptores para LDL e SR-BI (o receptor para HDL). Em longo prazo, o LH promove o crescimento e a proliferação das células de Leydig. A testosterona retroalimenta negativamente a produção de LH pelos gonadotrofos hipofisários, seja na forma de testosterona, seja na de seus metabólitos, DHT e 17βestradiol. Todos os três hormônios esteroides inibem a expressão do β-LH e do receptor de GnRH. Eles também inibem a liberação de GnRH pelos neurônios hipotalâmicos (Figura 10). regulação da função da Célula de Sertoli A célula de Sertoli é estimulada tanto pela testosterona como pelo FSH. Além de estimular a síntese de proteínas envolvidas no aspecto funcional de “célula de suporte” da célula de Sertoli (p. ex., ABP), o FSH estimula a síntese da proteína dimérica inibina. A inibina é induzida pelo FSH e retroalimenta negativamente o gonadotrofo, inibindo seletivamente a produção de FSH (figura 10). 39 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii Figura 10. o eixo hipotalâmico-hipofisário-testicular. Fonte: berne & levy. trato reprodutor masculino Quando os espermatozoides emergem dos ductos eferentes, deixam a gônada e penetram no trato reprodutor masculino. Os segmentos do trato são os seguintes: o epidídimo (cabeça, corpo e cauda), o ducto deferente, o ducto ejaculatório, a uretra prostática, a uretra membranosa e a uretra peniana. Diferentemente do trato feminino, existe um lúmen contíguo do túbulo seminífero até o final do trato masculino (i. e., a ponta da uretra peniana), e o trato reprodutor masculino se conecta ao trato urinário distal (i. e., uretra masculina). Além de conduzir o espermatozoide, as funções primárias do trato reprodutor masculino são as seguintes: 1. Maturação espermática. O espermatozoide permanece cerca de 1 mês no epidídimo, onde sofre maturação. O epitélio do epidídimo é secretório e adiciona diversos componentes ao fluido seminal. Os espermatozoides que penetram na cabeça do epidídimo são pouco móveis, mas são muito móveis unidirecionalmente no momento em que deixam a cauda do epidídimo. Os espermatozoides também passam por um processo de decapacitação, o qual envolve mudanças na membrana celular para evitar que os espermatozoides sofram a reação acrossômica antes do contato com o óvulo (ver adiante). O espermatozoide se torna capacitado 40 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO pelo trato reprodutor feminino na tuba uterina. A função do epidídimo é dependente dos complexos testosterona-ABP luminais que são provenientes dos túbulos seminíferos e da testosterona do sangue. 2. Armazenamento e emissão do espermatozoide. O espermatozoide é armazenado na cauda do epidídimo e no ducto deferente por vários meses, sem que haja perda de viabilidade. A principal função do ducto deferente, além de proporcionar um local de armazenamento, é a de propelir o espermatozoide para a uretra masculina durante o ato sexual. O ducto deferente possui uma camada muscular bastante espessa, a qual é ricamente enervada por nervos simpáticos. Normalmente, em resposta à estimulação tátil repetitiva do pênis durante o coito, a camada muscular do ducto deferente recebe surtos de estimulação simpática que causam contrações peristálticas. O esvaziamento do conteúdo do ducto deferente na uretra prostática é denominado emissão. A emissão precede imediatamente a ejaculação, a qual é a propulsão do sêmen para fora da uretra masculina . 3. Produção e mistura do espermatozoide com o conteúdo seminal. Durante a emissão, a contração do ducto deferente coincide com a contração das capas musculares de duas glândulas sexuais acessórias, as vesículas seminais (direita e esquerda) e a próstata (a qual circunda a uretra prostática). Neste ponto, o espermatozoide é misturado com todos os componentes do sêmen. As vesículas seminais secretam aproximadamente 60% do volume. Estas glândulas são a fonte primária de frutose, um nutriente fundamental para o espermatozoide. As vesículas seminais também secretam semenogelinas, as quais induzem a coagulação do sêmen imediatamente após a ejaculação. As secreções alcalinas da próstata, que compõem cerca de 30% do volume, possuem grandes quantidades de citrato, zinco, espermina e fosfatase ácida. O antígeno prostático específico (PSA) é uma serina-protease que liquefaz o sêmen coagulado após alguns minutos. O PSA pode ser detectado no sangue em condições de infecção prostática, hipertrofia prostática benigna e carcinoma prostático; sendo atualmente utilizado como um indicador da saúde prostática. Os tampões predominantes no sêmen são fosfato e bicarbonato. Uma terceira glândula acessória, a glândula bulbouretral 41 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii (também denominadas glândulas de Cowper), se esvazia na uretra peniana em resposta à excitação sexual antes da emissão e ejaculação. Esta secreção é rica em muco, o que lubrifica, limpa e tampona a uretra. A contagem espermática média é entre 60 a 100 milhões/mL de sêmen. Homens com contagem espermática inferior a 20 milhões/mL, menos de 50% de espermatozoides móveis, ou menos de 60% de espermatozoides com conformação normal são, usualmente, inférteis. 4. Ereção e ejaculação. A emissão e a ejaculação ocorrem durante o coito em resposta a um arco reflexo que envolve estimulação sensorial do pênis (via nervo pudendo), seguida de estimulação motora simpática do músculo liso do trato masculino e estimulação motora somática da musculatura associada à base do pênis. Entretanto, para que ocorra a relação sexual em primeiro lugar, o homem tem que atingir e manter a ereção do pênis. O pênis evoluiu como um órgão introdutor, projetado para separar as paredes da vagina, atravessaro espaço potencial do lúmen vaginal e depositar o sêmen na porção distal do lúmen vaginal, próximo ao colo do útero. Este processo de inseminação interna pode ser realizado apenas se o pênis estiver endurecido pelo processo de ereção. A ereção é um evento neurovascular. O pênis é composto de três corpos eréteis: dois corpos cavernosos e um corpo esponjoso (Figura 11, A). A uretra peniana atravessa o corpo esponjoso. Estes três corpos são compostos de tecido erétil — uma rede anastomótica de espaços vasculares cavernosos potenciais, recobertos por endotélio contínuo dentro de um suporte de tecido conjuntivo frouxo. Durante o estado flácido, flui pouco sangue pelos espaços cavernosos (Figura 11, A). Isto se deve à vasoconstrição da vasculatura (denominada artérias helicinas) e desvio do fluxo sanguíneo para fora dos espaços cavernosos. Em resposta à excitação sexual, os nervos parassimpáticos cavernosos que inervam a musculatura lisa vascular das artérias helicinas liberam óxido nítrico (NO). O NO ativa a guanilil ciclase, e desta forma eleva o GMPc, o qual reduz a [Ca++] intracelular e causa o relaxamento muscular (Figura 11, B). A vasodilatação permite que o sangue flua para os espaços cavernosos, induzindo o ingurgitamento e a ereção. Ele também pressiona as veias do pênis e reduz a drenagem venosa (Figura 11, B). 42 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO Figura 11. A, disposição da vasculatura e do tecido cavernoso no pênis. durante o estado flácido, o fluxo sanguíneo para os espaços cavernosos é limitado pela contração das artérias helicinas. b, esquema dos eventos neurovasculares que levam à ereção peniana. Fonte: berne & levy. Andropausa Não existe andropausa definida no homem. Entretanto, à medida que o homem envelhece a sensibilidade gonadal ao LH se reduz e a produção de andrógenos decai. Quando isto ocorre, os níveis séricos de LH e FSH aumentam. Apesar de a produção de espermatozoide, tipicamente, iniciar seu declínio após os 50 anos de idade, muitos homens podem manter uma função reprodutiva e espermatogênese por toda sua vida. 43 Padrões básicos da reProdução │ uNidade ii métodos de avaliação da função endócrina e reprodutiva masculina A história clínica e o exame físico permitem obter dados sobre o desenvolvimento sexual, sintomas atuais referentes à função gonádica e possíveis causas de doença. Entre os sintomas atuais, podem-se mencionar a infertilidade e a diminuição da libido e da função sexual. Exemplos de fatores associados à disfunção gonádica masculina incluem, entre outros, história de quimioterapia ou radioterapia, consumo abusivo de álcool, dor ou aumento de volume testicular ou uso de fármacos que interferem com a função testicular. O exame físico permite determinar se o desenvolvimento sexual é compatível com a idade do indivíduo e informa sobre a presença de sinais inflamatórios no testículo. Espermograma A análise do sêmen permite determinar o número, a morfologia e a motilidade dos espermatozoides ejaculados. São considerados valores normais iguais a cerca de 15 milhões de espermatozoides/mi de fluido ejaculado ou acima de 39 milhões por ejaculação, e mais que 40% dos espermatozoides devem ser móveis. O percentual de células morfologicamente normais deve ser superior a 50%. Um espermograma alterado deve ser repetido mais de uma vez, em meses subsequentes, antes que esta alteração seja considerada de relevância clínica. Avaliação endócrina A dosagem de testosterona é o teste mais importante de avaliação da função endócrina testicular, e valores baixos indicam, em geral, um quadro de hipogonadismo. Quando a dosagem de testosterona e/ou o espermograma estiverem alterados, a avaliação será complementada pela determinação de FSH e LH. Níveis aumentados de gonadotrofinas indicam disfunção primária testicular (hipogonadismo primário), enquanto concentrações normais ou subnormais sugerem hipogonadismo secundário de causa central. Finalmente, uma situação em que ao espermograma o número de espermatozoides está diminuído, a testosterona e o LH são normais e o FSH aumentado indica lesão nos túbulos seminíferos, com produção normal de testosterona pelas células de Leydig. Na suspeita de hipogonadismo secundário, será importante completar a investigação por meio de exame de imagem do SNC. 44 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO Biopsia testicular A biopsia testicular é, principalmente, indicada quando o espermograma mostra ausência de espermatozoides e a avaliação hormonal é normal. Nesta situação, a biopsia poderá evidenciar obstrução do ducto ejaculatório ou alterações histológicas nos túbulos seminíferos. 45 CAPítulo 4 reprodução feminina O ovário está localizado dentro de uma dobra do peritônio denominada ligamento largo, normalmente próximo à parede lateral da cavidade pélvica. Como o ovário se estende para dentro da cavidade peritoneal, os óvulos liberados permanecem brevemente na cavidade peritoneal antes de ser capturados pela tuba uterina. O ovário é dividido em um córtex externo e uma medular interna. Elementos neurovasculares inervam a camada medular do ovário. O córtex do ovário é composto de um estroma densamente celular. No interior deste estroma se encontram os folículos ovarianos, que contêm um oócito primário circundado por células foliculares. O córtex é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo, a túnica albugínea, e uma camada de epitélio simples consistindo em células epiteliais da superfície ovariana. Não existem ductos emergindo do ovário para conduzir seus gametas para o trato reprodutor. Desta forma, o processo de ovulação envolve um evento inflamatório que causa erosão da parede do ovário. Após a ovulação, as células epiteliais da superfície ovariana rapidamente se dividem para reparar a parede. Crescimento, desenvolvimento e função do folículo ovariano O folículo ovariano é a unidade funcional do ovário e tem tanto funções gametogênicas como endócrinas. Uma secção histológica do ovário de uma mulher antes da menopausa, no ciclo normal, contém estruturas foliculares em muitos estágios diferentes de desenvolvimento. O histórico de vida de um folículo pode ser dividido nos seguintes estágios: 1. Folículo primordial quiescente; 2. Folículo pré-antral (primário e secundário) em crescimento; 3. Folículo antral (terciário) em crescimento; 4. Folículo dominante (pré-ovulatório, graafiano); 5. Folículo dominante no período periovulatório; 6. Corpo lúteo (da menstruação ou da gestação); 7. Folículos atrésicos. 46 UNIDADE II │ PADRÕES BÁSICOS DA REPRODUÇÃO folículo Primordial quiescente Crescimento e organização Os folículos primordiais quiescentes (Figura 12) representam a estrutura folicular mais precoce e simples do ovário. Os folículos primordiais aparecem durante a metade da gestação, pela interação entre gametas e células somáticas. As células germinativas primordiais que migraram para a gônada continuam a se dividir mitoticamente, como oogônias, até o quinto mês de gestação em humanos. Neste ponto, aproximadamente sete milhões de oogônias entram no processo de meiose e se tornam oócitos primários. Os oócitos primários são, então, circundados por um epitélio simples de células foliculares somáticas, desta forma, dando origem aos folículos primordiais (Figura 12). As células foliculares estabelecem junções comunicantes umas com as outras e também com os oócitos. As próprias células foliculares representam um verdadeiro epitélio avascular, circundado por uma lâmina basal. De forma semelhante a interação da célula de Sertoli com o espermatozoide, uma subpopulação de células granulosas permanece intimamente ligadas aos oócitos durante o seu desenvolvimento. As células granulosas fornecem nutrientes como aminoácidos, ácidos nucleicos e piruvato para sustentar a maturação do oócito. Figura 12. desenvolvimento de um folículo primordial até um folículo pré-antral secundário. Fonte: berne & levy.