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ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL AULA 3 Prof. Eric Gil Dantas 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula estudaremos o que é o Balanço de Pagamentos (BP), como é sua estrutura e qual sua influência na economia de um determinado país, utilizando sempre como exemplo a economia brasileira. No primeiro tema veremos o conceito de BP e quais são as três contas em que ele se divide. No segundo, veremos o que são cada uma destas contas. No terceiro tema discutiremos especificamente as contas Capital e Financeira, analisando os motivos que as levam a serem superavitárias ou deficitárias. Já no quarto tema veremos alguns conceitos contábeis e o que mudou no BP brasileiro com a utilização do manual produzido pelo FMI. Por fim, veremos exemplos de desequilíbrios nestas contas, e quando isto é saudável – ou não – para a economia. TEMA 1 – O QUE É O BALANÇO DE PAGAMENTOS? Segundo Feijo & Ramos (2004), “O balanço de pagamentos é o registro contábil de todas as transações econômicas entre um país e o resto do mundo durante um determinado intervalo de tempo. Em economia aplicada, o balanço de pagamentos é normalmente utilizado para analisar o estado das finanças internacionais de um país, uma vez que um saldo negativo em uma determinada conta significa que os pagamentos para o exterior superarão as receitas vindas do exterior naquele tipo de transação” (p. 130). O balanço de pagamentos é estruturado em quatro grandes contas: (i) transações correntes; (ii) conta capital e financeira; (iii) erros e omissões; e (iv) variação de reservas. Assim como o restante das contas nacionais, o BP também segue uma metodologia internacional. O órgão responsável por publicar este balanço é o Banco Central do Brasil (BCB). TEMA 2 – O QUE SÃO ESTAS CONTAS? É essencial que entendamos cada ponto deste balanço. A estrutura do BP pode ser visualizada no quadro a seguir. 3 Quadro 1: Balanço de Pagamentos – Estrutura A – Balança comercial (bens) e Serviços B – Balanço de rendas e transferências C – Saldo em Transações Correntes = A + B D – Conta capital E – Conta financeira F – Saldo do Balanço de Capitais e Conta Financeira = D + E G – Erros e omissões H – Saldo do BP = C + F + G As Transações Correntes envolvem as transações em bens e serviços entre residentes e não residentes. Como pode ser visto no quadro, ela é a somatória da Balança Comercial e Serviços com a de Rendas e Transferências. Ela “registra o comércio de bens e serviços, os pagamentos e recebimentos de rendas de capital e trabalho, e as transferências unilaterais de renda entre o país e o resto do mundo” (Feijó & Ramos, 2004, p. 131). Já as Contas Capital e Financeira são a somatória entre as duas do mesmo nome. Veremos mais à frente o que cada uma delas é. Elas registram “as transferências unilaterais de ativos reais, ativos financeiros ou ativos intangíveis entre residentes e não residentes” e “todos os tipos de fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo” (Feijo & Ramos, 2004, p. 131). TEMA 3 – ENTENDENDO A CONTA CAPITAL E FINANCEIRA A partir do fim de Bretton Woods, os países desenvolvidos abriram suas Contas de Capital e o processo de abertura financeira ganhou maior volume e dimensão com a globalização. Com isto, é de suma importância entendermos a relação entre as Contas Nacionais e o Balanço de Pagamentos. Lembremos a identidade contábil: produto = renda = demanda (gastos) Nisto, uma parte da renda gerada internamente é enviada ao exterior, da mesma forma que há um acréscimo de renda vinda do exterior, o que significa uma renda líquida enviada (YLE) ao exterior. 4 Lembrando que PIB – YLE = PNB, então temos que PNB = Gastos Internos, ocorre equilíbrio na conta corrente do BP PNB > Gastos Internos, ocorre superávit na conta corrente do BP PNB < Gastos Internos, ocorre déficit na conta corrente do BP Quando temos a situação de que os gastos internos ultrapassam o produto nacional (PNB < gastos internos), há um déficit em conta corrente do Balanço de Pagamentos. Mas de onde vem o dinheiro para financiar o “rombo”? O resto do mundo financia, com moeda internacional, o excesso de gastos dos residentes em relação à sua renda, o que é considerado como uma contribuição da poupança externa. São quatro as possibilidades de explicação deste financiamento: (i) financiamento pode ser uma contribuição da economia internacional para o desenvolvimento da economia brasileira, que é o caso da entrada de recursos externos para investimento, (ii) um empréstimo para financiar os gastos externos, no caso de financiamento de curto ou longo prazo por bancos internacionais, (iii) uma aposta internacional no crescimento, valorização e lucratividade das empresas, que é o caso de entrada de capitais para especulação em títulos e ações de empresas brasileiras, ou mesmo (iv) uma utilização da riqueza líquida da economia brasileira para pagar suas despesas externas imediatas, que é o caso da utilização das reservas internacionais. TEMA 4 – ALGUMAS NOÇÕES DE CONTABILIDADE PARA ENTENDER A CONTA DE CAPITAL E FINANCEIRA DO BP O BCB adota desde 2015 a metodologia recomendada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na Sexta Edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição do Investimento Internacional. Por isto, veremos algumas das modificações com base nesta nova metodologia. Houve a adoção do sistema de partidas dobradas e de metodologia da contabilidade, que faz de cada transação um lançamento em crédito em uma conta, e em débito em outra, ou vice-versa. Assim, um lançamento como crédito em item da conta corrente, terá um lançamento como débito na conta financeira. Agora o BP necessariamente tem que estar em equilíbrio. Um exemplo: 5 Quadro 2: Obtenção de empréstimo de US$ 600 mil Débito Crédito Conta Corrente Conta Financeira - Empréstimos Aumento do passivo externo US$ 600 mil - Ativo de Reserva: Aumento de ativo: US$ 600 mil O Manual do FMI também recomenda que as economias nacionais apresentem a conta Posição do Investimento Internacional, utilizando-se dos conceitos contábeis de Ativo e Passivo em um balanço patrimonial. Vejamos outro exemplo. Quadro 3: Posição do Investimento Internacional da economia brasileira (versão estilizada) Ativo Externo Passivo Externo Investimento de empresas brasileiras no exterior Investimento direto de empresas estrangeiras no Brasil Investimento de brasileiros em carteira de ativos financeiros no exterior: Ações Títulos Investimentos de estrangeiros em carteira de ativos financeiros no Brasil: Ações Títulos Empréstimos para empresas estrangeiras Empréstimos de bancos estrangeiros para brasileiros Crédito comercial para empresas estrangeiras Crédito comercial de bancos estrangeiros para empresas brasileiras Ativos de reserva internacional Temos que considerar a conta Posição do Investimento Internacional como o balanço patrimonial dos residentes do Brasil com o exterior. TEMA 5 – DÉFICIT OU SUPERÁVIT NAS CONTAS CORRENTE E DE CAPITAL COMPENSADO COM SUPERÁVIT OU DÉFICIT NA CONTA FINANCEIRA É pouco provável que estas contas se encontrem equilibradas no curto prazo. O fundamental é que elas estejam em equilíbrio ao longo do tempo, em períodos de médio prazo. 6 Déficits temporários na conta corrente podem ser financiados por superávits na conta financeira. Por exemplo, caso haja um déficit na conta corrente por um excesso de importações, mas que seja de novas máquinas tecnologicamente mais avançadas, ou seja, um investimento tecnológico, mas feito fora do país, pode vir com retornos, a médio e longo prazo, de aumento da exportação (ou mesmo diminuição de importações, pois passou-se a produzir alguma mercadoria que antes era importada),o que possibilitaria pagar por um financiamento externo para este investimento. Outro exemplo é o de vulnerabilidade externa de economias. Se uma economia nacional financia seus déficits em conta corrente, que venham a ser fruto de gastos excessivos em consumo de importados, com superávit na conta financeira com empréstimos de curto prazo, isso poderá vir a causar problemas em futuro próximo. NA PRÁTICA Um dos conhecimentos fundamentais desta aula é entender como se lê e como se utiliza os dados sobre o setor externo brasileiro. Por isto, pedimos que você acesse o site do Banco Central do Brasil (http://www.bcb.gov.br/), procure a série histórica do Balanço de Pagamentos e monte seus próprios gráficos sobre a evolução das contas internacionais brasileiras nos últimos quatro anos. FINALIZANDO Vimos nesta aula que o Balanço de Pagamentos é o registro contábil de todas as transações econômicas entre um país e o resto do mundo. Estes números são essenciais para entendermos o comércio internacional deste dado país. Vimos também qual é a estrutura do BP e quais as contas que ela contém: Transações Correntes, a Conta de Capital e Financeira e os Erros e omissões. Conteúdo Complementar Assista ao vídeo “Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini comenta a redução no fluxo de balanço de pagamentos”, produzido pela TV Senado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YALk8kg5P8c>. Acesso em: 06 fev. 2017. http://www.bcb.gov.br/ 7 REFERÊNCIAS FEIJO, C. M.; RAMOS, R. L. O. (org.). Contabilidade social: a nova referência das contas nacionais do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Nota Metodológica nº 3: investimentos diretos e renda primária (lucros). 2015. IMF – INTERNATIONAL MONETARY FUND. Balance of payments and international investment position manual. 6. ed. Washington, D.C.: International Monetary Fund, 2009.