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Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 7° fase Medicina Farmacologia UCXIX Doenças neurodegenerativas A doença de Parkinson (DP), doença de Huntington (DH), doença de Alzheimer (DA) e esclerose lateral amiotrófica (ELA) caracterizam-se pela perda progressiva e irreversível dos neurônios de regiões específicas do cérebro. A farmacoterapia destes transtornos degenerativos limita-se principalmente a tratamentos sintomáticos, que não alteram o curso da doença subjacente. Doença de Alzheimer A doença de Alzheimer (DA) é uma demência progressiva e eventualmente fatal, de causa desconhecida, que se caracteriza por perda das funções cognitivas e físicas, em geral com sintomas comportamentais. A idade é o principal fator de risco: sua prevalência passa de 0,7% aos 60-64 anos de idade para cerca de 40% nos grupos de 90-95 anos. Na doença avançada, observa-se a tríade afasia, apraxia e agnosia, caracterizada pela perda significativa da linguagem, da capacidade de desempenhar tarefas e de nomear pessoas e objetos. Alterações psíquicas e comportamentais (psicose, alterações do humor e do sono, agitação psicomotora e agressividade) estão presentes em até 75% dos casos. Fisiopatologia da doença de Alzheimer Os achados característicos consistem em: Emaranhados neurofibrilares (ENF) intracelulares Placas amiloides extracelulares no córtex e parte medial do lobo temporal Degeneração de neurônios e sinapses e atrofia cortical. A densidade dos ENF correlaciona-se com a gravidade da demência. Os mecanismos propostos para essas alterações incluem os seguintes: Agregação da proteína β-amiloide, resultando na formação de placas; Hiperfosforilação da proteína tau, levando à formação de ENF; Falha sináptica e depleção de neurotrofina e neurotransmissores; Disfunção mitocondrial; Estresse oxidativo. As alterações neuropatológicas e bioquímicas podem ser divididas em duas áreas gerais: mudanças estruturais e alterações nos sistemas neurotransmissores (+ relevante: colinérgico). As mudanças estruturais incluem os enovelados neurofibrilares, as placas neuríticas e as alterações do metabolismo amiloide, bem como as perdas sinápticas e a morte neuronal. Fatores de risco: idade, diminuição da capacidade de reserva do cérebro, lesão craniana, síndrome de Down, depressão, comprometimento cognitivo leve doenças vasculares, incluindo hipertensão, níveis elevados de colesterol das lipoproteínas de baixa densidade, baixos níveis de colesterol das lipoproteínas de alta densidade e diabetes melito; fatores genéticos – alterações nos cromossomos 1, 14 e 21. Terapias empregadas na doença de Alzheimer Terapêutica específica: tem como objetivo reverter processos patofisiológicos que conduzem à morte neuronal e à demência (em pesquisa); Abordagem profilática: visa retardar o início da demência ou prevenir declínio cognitivo adicional, uma vez deflagrado o processo (ex: AAS) Tratamento sintomático: visa restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente as capacidades cognitivas, as habilidades funcionais e o comportamento dos pacientes (iAChE) Terapêutica complementar: busca o tratamento das manifestações não-cognitivas da demência, tais como depressão, psicose, convulsões, agitação psicomotora, agressividade e distúrbio do sono. O tratamento da DA deve ser multidisciplinar, contemplando os diversos sinais e sintomas da doença e suas peculiaridades de condutas. O objetivo do tratamento medicamentoso é propiciar a estabilização do comprometimento cognitivo, do comportamento e da realização das atividades da vida diária com um mínimo de efeitos adversos. Os inibidores da acetilcolinesterase, donepezila, galantamina e rivastigmina, são recomendados para o tratamento da DA leve a moderada. Os inibidores da colinesterase podem melhorar os sintomas primariamente nos campos cognitivos e na função global, sendo indicados em casos de demência leve a moderada. Inexiste diferença de eficácia entre os três medicamentos. A substituição de um fármaco por outro Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 7° fase Medicina só é justificada pela intolerância ao medicamento, e não pela falta de resposta clínica. Adesivos transdérmicos ↓efeitos adversos sobre TGI. CONITEC-SUS: doses efetivas e seguras: 6 mg/dia a 12 mg/dia de rivastigmina oral e 9,5 mg/dia de rivastigmina transdérmica. Fármacos disponíveis SUS: Donepezila: comprimidos de 5 e 10 mg. Galantamina: cápsulas de liberação prolongada de 8, 16 e 24 mg. Rivastigmina: cápsulas de 1,5mg, 3mg, 4,5mg e 6 mg; solução oral de 2 mg/mL. Adesivos transdérmicos de 5 cm2 contendo 9 mg de rivastigmina com percentual de liberação de 4,6 mg/24 h e de 10 cm2 contendo 18 mg de rivastigmina, percentual de liberação de 9,5 mg/24 h. Fármacos e esquema de administração: Não são permitidas associações entre iAChE Donepezila: dose inicial de 5 mg ao dia, podendo ser aumentada para 10 mg ao dia, com ou sem alimentos. Galantamina: dose inicial de 5 a 8 mg ao dia com aumento gradual até 24 a 25 mg ao dia. – Uma vez dia com as refeições. Rivastigmina: dose inicial de 1,5 mg duas vezes ao dia com aumento gradual até 6 mg duas vezes ao dia com as refeições. Critérios de Interrupção de Tratamento: Após 3-4 meses do início do tratamento, o paciente deverá ser reavaliado; não havendo melhora ou estabilização da deterioração do quadro o tratamento deve ser suspenso por falta de benefício OU intolerância ao medicamento Efeitos adversos: MUITO EVIDENTES Donepezila: insônia, náusea, vômitos, diarreia, anorexia, dispepsia, cãibras musculares e fadiga. Menos comum: cefaleia, sonolência, tontura, depressão, perda de peso, sonhos anormais, aumento da frequência urinária, síncope, bradicardia, artrite e equimoses. Galantamina: náusea, vômitos, diarreia, anorexia, perda de peso, dor abdominal, dispepsia, flatulência, tontura, cefaleia, depressão, fadiga, insônia e sonolência. Menos comuns: infecção TGU, hematúria, incontinência, anemia, tremor. Monitorar funções renal e hepática Rivastigmina: tontura, cefaleia, náusea, vômitos, diarreia, anorexia, fadiga, insônia, confusão e dor abdominal. Menos comum: depressão, ansiedade, sonolência, alucinações, síncope, dispepsia, etc. Fisiopatologia Glutamatérgica: Na DA também há um aumento da perda dos neurônios glutaminérgicos, com distúrbios nos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA – receptor glutaminérgico). A disfunção dos neurônios glutaminérgicos aumenta as concentrações de glutamato, o que, por sua vez, aumenta a frequência da despolarização da membrana pós-sináptica e reduz a detecção dos sinais fisiológicos mediados pelo receptor de NMDA. Isso contribui para o dano cognitivo – excitoxicidade. Baseada na fisiopatologia glutamatérgica, há outros 2 fármacos disponíveis: memantina e cognitus Memantina (Alois, Ebix) Antagonista não competitivo de receptores NMDA em repouso – evita superestimulação (entrada de cálcio na célula) pelo glutamato. Diminui lesão neuronal e recupera plasticidade sináptica (antidemência). Indicado para DA moderada a grave. Doses diárias entre 20 mg/dia (2x 10mg) – melhora nas funções cognitivas, motoras e comportamentais. Pode ser utilizada precocemente OU após a retirada dos fármacos clássicos (donepezila, galantina, rivastigmina) EI: fadiga, cefaleia, tontura, confusão mental, constipação, tremor, insônia, distúrbios GI. Menos comuns: alucinações, alterações de marcha, anorexia, ansiedade, artralgia, bronquite, cistite, constipação, diarreia, confusão, dor lombar, edema. Bacopa monnieri (Cognitus) 225mg, 2cp Planta medicina tradicional com propriedades nootrópicas (memória/aprendizado) e neuroprotetora. Componentes ativos: alcaloide e saponinas (bacoside A3, bacopaside II, bacopaside X, e bacopasaponin C). Possíveis mecanismo de ação (observados in vitro, pré- clínicos) – inibiçãoda AchE, inibição da lipoperoxidação (extresse oxidativo), estímulo de BDNF (depressão), inibição de TNF e IL-6. Indicação: distúrbios de memória, para melhorar o desempenho cognitivo, como atenção e retenção da memória auditiva e verbal imediata e tardia em adultos acima de 50 anos. EA: distúrbios GI. Doença de Parkinson O parkinsonismo caracteriza-se por uma combinação de rigidez, bradicinesia, tremor e instabilidade postural, que pode ocorrer devido a uma variedade de razões, mas, em geral, é idiopática. Ocorre declínio cognitivo em muitos pacientes com a progressão da doença. Outros sintomas não motores importantes: Transtornos afetivos (ansiedade ou depressão), alterações da personalidade, Anormalidades da função autônoma (funções esfincteriana ou sexual; sufocação; anormalidades da sudorese; distúrbios da regulação da pressão arterial), Transtornos do sono e queixas sensoriais ou dor A doença de Parkinson é uma doença degenerativa cujas alterações motoras decorrem principalmente da morte de neurônios dopaminérgicos da substância nigra (causa uma liberação aumentada de acetilcolina na placa motora → rigidez) que apresentam inclusões intracitoplasmáticas conhecidas como corpúsculos de Lewy. Também podem Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 7° fase Medicina estar presentes em outros núcleos do tronco cerebral, no córtex cerebral e mesmo em neurônios periféricos, como os do plexo mioentérico. Isso pode explicar uma série de sintomas e sinais não motores, tais como alterações do olfato, distúrbios do sono, hipotensão postural, constipação, mudanças emocionais, depressão, ansiedade, sintomas psicóticos, prejuízos cognitivos e demência, entre outros. Terapias empregadas na doença de Parkinson A terapêutica na DP pode ser dividida em: Sintomática (agonistas dopaminérgicos e antagonistas colinérgicos – visam diminuir sinais e sintomas). Neuroprotetora (tocoferol e selegilina) estudos apontam retardo na progressão da doença – desfechos inconclusivos após interrupção de uso. Restauradora (testes com fatores de crescimento neuronal e transplante de células mesencefálicas fetais) Importante: fisioterapia, atenção psicológica, exercícios, nutrição, educação da família Inibidores da MAO-B Selegilina (Niar®, Jumexil®): Dose: 5 mg manhã e 5 mg meio-dia (insônia) Rasagilina (Azilect®): Dose: 0,5 à 1 mg Usar na menor dose efetiva. MA: atuam inibindo de forma irreversível a MAO-B no SNC, retardando a degradação de dopamina, e quando associada a levodopa prolonga o efeito antiparkinsoniano desta. EA: arritmias, hipertensão, náuseas, confusão mental, dor abdominal. Interações: meperidina, tramadol, metadona, propoxifeno, ciclobenzaprina, antidepressivos, erva-de-são-joão – risco síndrome serotoninérgica. Levodopa Fármaco mais utilizado → precursor da dopamina, permeia a barreira hematoencefálica (é lipossolúvel). Administrado com um inibidor da dopa descarboxilase periférica (carbidopa ou benserazida) para diminuir os efeitos colaterais – reduz a dose cerca de 10 vezes. Levodopa é descarboxilada rapidamente no SNC – libera dopamina no SNC, visto que os inibidores da descarboxilase não permeiam a BHE. É bem absorvido pelo intestino delgado. Pico plasmático 15-45 min. Comprimidos de liberação controlada: pico de 45-90 min. Apresenta 1/2 vida curta, de 2h. Doses diárias iniciais de 250/25mg. Dose média eficaz: 600-750 mg/dia. A LEVODOPA é eficaz na maioria dos pacientes nos primeiros 2 anos – melhora na rigidez e hipocinesia. Sempre associados à IMAO-B. Aumentam a expectativa de vida. Efeitos adversos: DISCINESIA - movimentos involuntários, principalmente da face e membros Efeitos “liga e desliga” imprevisível Náuseas Hipotensão postural Sintomas psicóticos – desencadeados pelo aumento da dopamina, síndrome semelhante à esquizofrenia: alucinações + raros, confusão, desorientação Agonistas dopaminérgicos Agonistas de receptor D2 – inicialmente para tratar galactorreia e ginecomastia. Pergolida (Celance®) – 1,5-3,5 mg/dia dividido em 3 tomadas diárias. Pramipexol (Sifrol®) – 2-4,5 mg/dia dividido em 3 tomadas diárias. (PARA PARKINSON – RENAME; se levodopa dose máxima, risagilina dose máxima, e paciente ainda tem rigidez muscular muito avançada) Bromocriptina (Parlodel®) – dose 7,5-70 mg/dia conforme tolerância. Ropinirol (Requip®) – 2 -8 mg 3 vezes/dia. Vantagens: ação direta nos receptores dopaminérgicos. Não necessitam de conversão enzimática em formas ativas. Meia-vida superior a levodopa. Não competem com aminoácidos pelo transporte no intestino e BHE. Potencial efeito protetor ao reduzir o estresse oxidativo neuronal. Retardam o emprego de levodopa e o desenvolvimento de complicações motoras Desvantagens: Menos eficazes que a levodopa. Maior frequência de efeitos colaterais Antimuscarínicos de ação central Diminuem tremor, mas são pouco efetivos na diminuição da rigidez ou hipocinesia. Ex: biperideno – mãos (Akineton®) e o triexifenidil (Artane®) Em associação com levodopa/IMAO-B (pp biperideno) Inibidores da COMT Tolcapona (Tasmar®) – dose 100 mg em 3 tomadas diárias Entacapona (Comtan®) – 200 mg, administrada em até 8 vezes ao dia. Potencial hepatotoxicidade. Atuam como inibidores da COMT – aumentam a biodisponibilidade de catecolaminas na fenda sináptica. EA: diarreia, e aumento das respostas dopaminérgicas. Associação: Levodopa, carbidopa e entacapona (Stalevo®) Amantadina Ação antiviral contra influenza A; potencializa a função dopaminérgica ao influenciar a síntese, a liberação ou a recaptação da dopamina. O efeito terapêutico é mais rápido e mais efetivo para bradicinesia e rigidez do que para o Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 7° fase Medicina tremor. Pode ser indicada em associação com L-Dopa para obter resultados mais rápidos e reduzir a dose de L-Dopa. Via oral 100mg 2 a 3 x dias. EA: hipotensão ortostática, edema periférico, insônia, depressão, ansiedade, irritabilidade, tontura, alucinação, ataxia, cefaleia, sonolência, agitação, fadiga, confusão, distúrbios GI
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