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4ª EDIÇÃO RACIOCÍNIO CLÍNICO APLICADO PARA O ESTUDANTE DE MEDICINA POTTER - MAGIKARP Tradução: Barney Stinson Joey Tribbiani Fernando N. Zanette Revisão técnica dessa edição: Lyra Belacqua Carter Kane Hermione Granger Red, The Master Pokémon Médico generalista formado pela Universidade de Kanto (KU). Residência Médica no Hospital da Cidade de Kanto (KCH) como Pokemongista. Médico do Serviço de Pokemonologia do KCH. Douto- rando em Epidemiologia Pokêmica pela Universidade de Kanto. RDDC Editora Ltda 2015 Índice 4ª EDIÇÃO 1 ÍNDICE 2 SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA 7 Classificação 7 Insuficiência ventricular esquerda 8 Insuficiência ventricular direita 10 Insuficiência cardíaca biventricular 11 Insuficiência cardíaca com diminuição da fração de ejeção ventricular 11 Insuficiência cardíaca com fração de ejeção ventricular preservada 12 Fisiopatologia 12 Causas 13 Diagnóstico 19 Critérios de Framingham 20 Classificação do paciente 21 Exames complementares 21 Diagnóstico diferencial 23 SÍNDROME CORONARIANA AGUDA (SCA) 25 Angina pectoris 25 Angina estável 26 Angina instável 27 Classificação 28 Fisiopatologia 29 Apresentação clínica 29 Diagnóstico 30 Diagnóstico diferencial 32 Tromboembolismo pulmonar 34 Pneumotórax 35 Tamponamento cardíaco 36 Mediastinite 36 SÍNDROME ANÊMICA 39 Eritropoiese 39 Sintomatologia 42 3 Hemograma 43 Causas subjacentes das anemias 43 Classificação morfológica das anemias 45 Anemia microcítica e hipocrômica 46 Deficiência de ferro 46 Intoxicação por chumbo 47 Doença crônica 47 Produção reduzida da hemoglobina 48 Alterações no metabolismo do ferro 49 Anemia normocítica e normocrômicas 49 Produção eritrocitária ineficaz 49 Aumento da destruição de eritrócitos 50 Perda sanguínea aguda 52 Expansão de volume plasmático 52 Anemia macrocítica 52 Anemias megaloblásticas 53 Anemias não megaloblásticas 54 CEFALEIA 56 Classificação 58 Cefaleia primária 58 Cefaleia tensional (CT) 61 Cefaleia em salvas 62 Cefaleia secundária 63 Redflags para cefaleias secundárias 63 Cefaleia secundária associada à meningite 64 Cefaleia secundária associada à hemorragia intracraniana 66 Aneurisma cerebral e hemorragia subaracnóidea 67 SÍNDROMES PNEUMOLÓGICAS 69 Consolidação pulmonar 69 Pneumonia 69 Classificação 70 Pneumonias agudas adquiridas na comunidade 71 Padrões de acometimento morfológico 72 Sintomatologia 73 Diagnóstico clínico e laboratorial 74 4 Distúrbios de pleura 75 Derrame pleural 75 Etiologia 75 Classificação 76 Sintomatologia 77 Diagnóstico clínico 78 Diagnóstico laboratorial 78 Pneumotórax 79 Classificação 79 Sintomatologia 80 Diagnóstico clínico 80 Diagnóstico laboratorial 80 Atelectasia 81 Etiologia 81 Classificação 81 Diagnóstico clínico 83 Diagnóstico laboratorial 83 ABDÔMEN AGUDO 84 Fisiopatologia da dor abdominal 85 Anamnese e exame físico 86 Etiologia 87 Abdômen agudo inflamatório 87 Apendicite aguda 88 Colecistite aguda 89 Pancreatite aguda 91 Diverticulite aguda 93 Doença inflamatória pélvica 94 Abdômen agudo perfurativo 96 Etiologia 97 Quadro clínico 97 Diagnóstico por imagem 98 Abdômen agudo vascular 98 Isquemia aguda 98 Etiologia 99 Quadro clínico 99 Abdômen agudo obstrutivo 100 5 Etiologia 100 Quadro clínico 101 Abdômen agudo hemorrágico 102 Etiologia 102 Quadro clínico 103 Outras causas de dor abdominal 104 ARTRITE 105 Formas de apresentação 105 Monoartrite 106 Oligoartrite e poliartrite 107 Exames complementares importantes 108 Espondilite anquilosante 108 Etiologia 108 Quadro clínico 109 Diagnóstico 110 Febre reumática 110 Epidemiologia 110 Quadro clínico 111 Diagnóstico 112 Artrite séptica 113 Artrite séptica não-gonocócica 113 Artrite séptica gonocócica 114 Gota 116 Epidemiologia 116 Fisiopatologia 116 Quadro clínico 117 Diagnóstico 118 Lúpus eritematoso sistêmico 119 Epidemiologia 119 Fisiopatologia 119 Quadro clínico 120 LES induzido por drogas 124 6 Diagnóstico 124 Osteoartrite 125 Fisiopatologia 125 Quadro clínico 126 Diagnóstico 127 Artrite reumatoide 128 Epidemiologia 128 Quadro clínico 128 Diagnóstico 130 7 Raciocínio Clínico 4ª Fase – Fernando Netto Zanette – Med. UFSC 13.2 Síndrome de insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca se enquadra como uma síndrome clínica complexa caracterizada por anormalida- des na função cardíaca e na regulação neuro-humoral, incapacitando o coração de bombear o sangue a um volume adequado para as trocas metabólicas teciduais ou fazê-lo apenas por meio de elevadas pressões de enchimento. A síndrome clínica usualmente se apresenta acompanhada de intolerância aos esforços, retenção hídrica e dimi- nuição da expectativa de vida. Com o surgimento e desenvolvimento da insufici- ência, diversas respostas neuro-humorais compensató- rias se desenvolvem – como a ativação do sistema re- nina-angiotensina-aldosterona e o aumento da ativi- dade simpática -, o que, nos estágios iniciais da doença, tendem a atenuar as modificações volêmicas da sín- drome. À medida que a doença se desenvolve, no en- tanto, ocorre um aumento gradativo da insuficiência, com manifestações clínicas características de acordo com a disfunção cardíaca, incluindo dispneia aos esfor- ços, fadiga, letargia, hipotensão, dores musculares aos esforços, cianose de extremidades e edema periférico. Sintomas às vezes que se dá pouca atenção, mas com im- portante caráter diagnóstico, são a perda do apetite, a má digestão e o emagrecimento progressivo. Classificação A insuficiência cardíaca (IC) pode ser classificada, basicamente, de acordo com a forma de aparecimento da doença (aguda ou crônica), com o setor cardíaco acometido (direito, esquerdo ou ambos) e com a fração de ejeção ventri- cular (diminuída ou preservada). Insuficiência cardíaca aguda Define-se a insuficiência cardíaca aguda como aquela com sintomatologia de início súbito (como horas ou dias), perante um fator causador de grande gravidade – como um infarto agudo do miocárdio (IAM) que lese uma área muito extensa do coração ou uma arritmia grave -, o que impede a ação dos mecanismos compensatórios do organismo. A IC aguda pode, ainda, ser nova ou devido à piora de uma IC pré-existente (insuficiência cardí- aca crônica descompensada ou crônica agudizada). Temos como exemplo de sintomas de descompensação cardíaca o edema de pulmão agudo (ocupação dos alvéolos por líquido) – levando à dispneia com tosse produtiva - e o débito cardíaco reduzido, o qual pode preceder o choque cardiogênico. Desenho representando os achados cardíacos básicos nas insuficiências cardíacas di- astólica e sistólica, onde temos, respectivamente, um miocárdio pouco flexível na di- ástole e um miocárdio fracamente contrátil na sístole Ilustração de um infarto agudo de miocárdio de grande extensão, compro- metendoa bomba cardíaca de forma a desencadear uma insuficiência cardíaca aguda 8 Em relação à insuficiência ventricular direita, por exemplo, podemos ter como cenário o desprendimento de um trombo na veia ileofemoral que trafegue até o pulmão. Neste, o coágulo pode levar a uma obstrução de uma artéria pulmonar muito calibrosa, desencadeando uma IC direita devido a um tromboembolismo pulmonar. Dentre as diversas causas de uma insuficiência cardíaca aguda, podemos destacar miocardites severas, in- fecções sistêmicas graves, reações alérgicas (choque anafilático) e utilização de determinados medicamentos. A insuficiência cardíaca aguda exige atendimento médico imediato em decorrência do risco de morte iminente do paciente. Insuficiência cardíaca crônica A insuficiência cardíaca crônica, por sua vez, destaca-se como aquela onde a doença subjacente – como hipertensão arterial sistêmica ou um IAM que afete apenas uma pequena porção cardíaca – evolui lentamente, permitindo ao organismo o desenvolvimento dos mecanis- mos neuro-humorais compensatórios. A sintomatologia, que varia de um grau mínimo – principalmente na insufici- ência compensada – a um grau intenso, apresenta um tempo longo de manifestação, normalmente de meses ou anos. À medida que a insuficiência se avança, os quadros próprios de cada setor cardíaco acometido – como edema de mem- bros inferiores na insuficiência direita ou dispneia aos es- forços na esquerda – tornam-se frequentes e se intensifi- cam. Explicado a maneira como a doença se instala, aborde- mos a classificação referente ao setor cardíaco acometido. Insuficiência ventricular esquerda Na insuficiência ventricular esquerda, o tipo mais comum, o problema reside em uma falha do ventrículo esquerdo, o que o torna incapaz de bombear todo o seu conteúdo para a rede arterial periférica pela aorta. Isso resulta não somente em uma hipoperfusão importante dos tecidos do corpo, mas também em uma elevação da pressão atrial esquerda, que promove uma estase sanguínea com concomitante CONGESTÃO E HIPERTENSÃO PULMONAR. Esquematização de um ventrículo esquerdo hipertrofiado após o desenvolvi- mento dos diversos mecanismos compensatórios ao longo da insuficiência ven- tricular esquerda crônica 9 Essa congestão se manifesta como um EDEMA PULMONAR (acúmulo de líquido anormal no órgão), o que desencadeia o mecanismo de TOSSE, a qual pode ser SECA ou PRODUTIVA. A congestão provoca, juntamente a isso, o quadro característico de DISPNEIA, cuja intensidade depende da forma de aparecimento e da evolução da doença. Caso a insuficiência tenha caráter crônico, mas pouco grave, surge uma DISPNEIA AOS ESFORÇOS, que tende a evoluir dos grandes para os médios e pequenos esforços, chegando, em um caso agravado da síndrome, em desconforto e dispneia ao repouso. Nos es- tágios iniciais, a dispneia tende a desaparecer logo após o cessar da atividade física em questão. Além da dispneia, temos com frequência o sinal de TA- QUICARDIA (por um mecanismo de compensação da falência do órgão) e a presença de uma TERCEIRA BULHA (B3), esta nos casos de INSUFICIÊNCIA SISTÓLICA. Em relação ao edema pulmonar, quando ocorre um ACÚMULO DE LÍ- QUIDO APENAS NO INTERSTÍCIO PULMONAR, temos a manifestação de TOSSE SECA, ao passo que, com o PREENCHIMENTO ALVEOLAR, manifesta-se a TOSSE PRODUTIVA com EXPECTORAÇÃO ESPUMOSA (devido à presença de ar) e, às vezes, RÓSEA, pela passagem de hemácias. À medida que a insuficiência progride, a piora do edema pulmonar pode provocar a ORTOPNEIA, uma dispneia em decúbito dorsal que melhora quando o paciente se levanta. Isso tem como causa base o aumento do re- torno venoso ao coração - proveniente, sobretudo, dos membros inferiores - na posição deitada, que se acumula na região torácica. Como o ventrículo esquerdo se apresenta incapaz de bombear esse sangue extra, surge uma sobrecarga da circulação pulmonar e se manifesta a ortopneia. Os paci- entes acometidos, para evitar ou atenuar a situação, tendem a dormir com mais almofadas ou com a cabeceira da cama elevada. Com o agravamento do quadro de insuficiência e, logo, da congestão pulmonar, a inclinação ou o número de travesseiros aumenta, alcançado patamares em que o paciente precisa se manter sentado à cama a fim de evitar a dispneia. O edema pode ainda evoluir, eventualmente, para um DERRAME PLEURAL – achado mais frequente nas insu- ficiências biventriculares. O acúmulo gradativo de líquidos, nesse caso, também se responsabiliza em parte pela DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA – o indivíduo, uma a duas horas após se deitar, acorda por causa de uma dispneia de tamanha gravidade que simula a sensação de sufocação -, comum em casos bastante avançados de IC de ven- trículo esquerdo. Nos casos de descompensação intensa da insuficiência, pode se manifestar, ainda, o padrão respiratório de Cheyne-Stokes, Juntamente a isso, outros sintomas costumam se manifestar devido à diminuição progressiva do débito car- díaco e da perfusão tecidual – principalmente para músculos, pele e cérebro -, como FADIGA, NÁUSEAS e DESORI- ENTAÇÃO. Os danos ao sistema nervoso central podem evoluir para quadros de depressão, confusão mental e, quando muito grave, até mesmo coma. Nos casos de instalação aguda da insuficiência cardíaca, o EDEMA PULMONAR AGUDO se salienta como um quadro bastante importante, manifestando-se por meio de DISPNEIA INTENSA, TOSSE PRODUTIVA COM EXPECTO- RAÇÃO RÓSEA E ESPUMOSA, SUDORESE e um GRANDE ESTADO DE ANSIEDADE. Trata-se de uma situação grave que requer intervenção médica imediata. De um modo geral, os sintomas da IC esquerda podem ser muito sutis e, na maioria das vezes, encontram-se relacionados à congestão e ao edema pulmonar. Principais desdobramentos decorrentes de uma insufi- ciência ventricular esquerda, salientando sua sintoma- tologia mais recorrente 10 Insuficiência ventricular direita Na insuficiência ventricular direita, a disfunção se encontra no ventrículo direito, o qual não consegue bombear corretamente seu conteúdo para a circulação pulmonar. Como resultado, há um acúmulo sanguíneo no átrio direito, o que se transmite para toda a rede venosa sistêmica por meio das veias cavas na forma de congestão venosa. Essa estase provoca, principalmente nos membros inferiores – onde o retorno venoso tende a ser natu- ralmente mais lento -, o extravasamento de líquido do interior dos vasos na forma de transudato para o tecido adjacente, o que dá origem aos EDEMAS PERIFÉRICOS. O paciente acamado ou que tende a permanecer muito tempo deitado, por outro lado, apresenta um acúmulo de líquido na região coccígea, tornando-a edemaciada. Além disso, como há uma redução na chegada de sangue à rede arterial, ocorre a diminuição na perfusão renal com consequente queda na produção de urina, levando ao achado clínico da OLIGÚRIA. Isso provoca, ainda, a atuação do sistema renina-angiotensina-aldosterona em uma tentativa de normalizar a volemia, o que, todavia, apenas agrava o surgimento dos edemas pela retenção de líquido corporal. À medida que a insuficiência evolui e o coração perde ainda mais sua capacidade de bombeamento, por outro lado, a congestão piora e começa a afetar a circulação venosa de forma mais intensa. Um achado bastante comum, nesses casos, mostra-se o surgimento da CONGESTÃO VENOSA PORTAL E HEPÁTICA, podendo se manifestar com uma HEPATOESPLENOMEGALIA (com fígado doloroso na maioria das vezes) e evoluir para o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal, caracterizando a ASCITE. Outro achado bastante importante para a determinação da IC direita, indicando a congestão venosa, é o AUMENTO DA PRESSÃO VENOSA JUGULAR (ingurgitamento jugular) pela estasenas veias cavas. Essa distensão venosa jugular pode ser melhor observada quando a cabeceira do paciente se eleva em 25º. Os órgãos mais frequentemente afetados na insuficiência cardíaca direita incluem os rins e o cérebro. A congestão dos rins se demonstra mais pronunciada na IC direita do que na esquerda, provocando, como supracitado, uma grande reten- ção de fluido, edema periférico e AZOTEMIA PRÉ-RENAL (condição onde temos uma concentração anormal de compostos nitrogenados, como ureia e creatinina, no sangue) bastante pronunciada. O edema periférico costuma estar melhor presente no período vespertino e se acompanham por noctúria (inversão do ritmo miccional, urinando mais de noite do que de dia). Em relação ao sistema nervoso central, a sua congestão venosa e a resultante hipóxia tecidual podem produzir déficits da função mental que se apresentam essencialmente idênticos aos que ocorrem na insuficiência cardíaca esquerda. Sintomas como anorexia, dor abdominal – como um indicativo da congestão hepática -, náuseas e vômitos costumam ocorrer em ambas as insuficiências cardíacas em estágio avançado, embora seja muito mais frequente na direita. De maneira simplificada, os achados clínicos na insu- ficiência cardíaca direita, dessa forma, apresentam-se relacionados com a congestão venosa sistêmica (e portal), não apresentando, quando isolada, a edemaciação pulmonar como no caso da IC es- querda. Devemos salientar que a INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA PURA, embora exista, é pouco frequente e, usualmente, manifesta-se em pacientes com alguma desordem que acometa os pulmões, como uma bronquite crônica, um enfisema pulmonar ou outras doenças Principais desdobramentos decorrentes de uma insuficiência ven- tricular direita, salientando sua sintomatologia mais recorrente 11 pulmonares obstrutivas crônicas. Essas afecções, por levarem a um aumento da pressão pul- monar, podem lesar o ventrículo direito e predispor a sua falência. Os casos onde temos a insuficiência pulmonar direita decorrente de uma doença pulmonar primária recebem a de- nominação de COR PULMONALE. Malgrado o cor pulmonale comumente se encontrar relacionado a distúrbios parênqui- mais do pulmão, ele pode surgir, também, de modo secundário a desordens que afetam a vas- cularização pulmonar (como hipertensão pulmonar primária e tromboembolismo pulmonar recorrente) ou que simplesmente produzam hipóxia (como a apneia crônica do sono) com sua associada vasoconstrição pulmonar. A característica comum de quaisquer dessas desordens se mostra a hipertensão pulmo- nar, que acaba por hipertrofiar e dilatar o lado direito do coração. Em casos extremos, o desvio para esquerda do septo ventricular pode provocar a disfunção do ventrículo esquerdo. Juntamente a isso, a insuficiência cardíaca direita tende a ser provocada pela própria insuficiência cardíaca esquerda à medida que esta se desenvolve, já que a hipertensão pul- monar decorrente da insuficiência esquerda inevitavelmente acarreta uma carga extra do lado direito do coração. Insuficiência cardíaca biventricular A insuficiência cardíaca biventricular – conhecida também como insuficiência cardíaca global – caracte- riza-se pelo acometimento concomitante de ambos os setores cardíacos (esquerdo e direito). Esse tipo de insufi- ciência - que, como explicado, costuma se manifestar primeiro no ventrículo esquerdo e depois acometer também o direito – possui maior frequência dos casos de derrame pleural, já que, com o acometimento biventricular do coração ocorre uma queda acentuada na reabsorção linfática pulmonar. Isso permite que o edema pulmonar ex- travase para o espaço pleural, preenchendo-o. Por fim, outro critério bastante importante para classificar a IC se mostra em relação às alterações na fração de ejeção ventricular. Insuficiência cardíaca com diminuição da fração de ejeção ventricular Esse tipo de insuficiência cardíaca, conhecida comumente como INSUFICIÊNCIA SISTÓLICA, enquadra o grupo onde a FRAÇÃO DE EJEÇÃO VENTRICULAR (FEV) encontra-se a uma taxa INFERIOR A 40% com o aumento associ- ado das pressões de enchimento ventricular. Por se qualificar como uma insuficiência do débito cardíaco (falha da bomba cardíaca), qualquer desordem que lese ou desorganize a função contrátil do ventrículo pode provocá- la. Cerca de 60% dos casos de insuficiência cardíaca decorrem de uma incapacidade da contratilidade ventri- cular (insuficiência sistólica), o que concede à insuficiência diastólica os outros 40%. 12 Insuficiência cardíaca com fração de ejeção ventricular preservada A INSUFICIÊNCIA DIASTÓLICA, como é normalmente designada essa classe, por ou- tro lado, destaca-se pela fração de ejeção ventricular inalterada, com valores SUPERI- ORES A 40-50%. Nesses casos, o débito cardíaco está relativamente preservado no es- tado de repouso, no entanto o ventrículo se mostra anormalmente inflexível ou limitado na sua capacidade de relaxar no período de diástole. Como consequência, o coração não consegue aumentar seu débito em resposta ao aumento da demanda metabólica dos tecidos periféricos (em um exercício físico, por exemplo). Juntamente a isso, levando em consideração que o ventrículo possui essa “rigidez” contrátil que o impede de se expandir adequadamente, qualquer elevação na pressão de enchimento envia parte do sangue de volta à circulação pulmonar, como já comentado, iniciando o quadro de edema pulmonar. Esse tipo de insuficiência cardíaca apresenta uma incidência frequente em indiví- duos acima dos 65 anos, especialmente mulheres, sendo a hipertensão arterial sistê- mica uma causa bastante importante. Fisiopatologia A IC pode ser vista como um distúrbio progressivo que se inicia quando um evento-índice lesa o músculo cardíaco, o que resulta em perda da função dos miócitos cardíacos ou, alternativamente, diminuição da capa- cidade do miocárdio de gerar força, impedindo, assim, o coração de se contrair normalmente. Tal evento-índice pode se apresentar: Como uma INSTALAÇÃO SÚBITA, a exemplo do que ocorre em um infarto agudo do miocárdio (IAM). Aqui, caso a lesão seja muito extensa e comprometa uma região cardíaca demasiada, temos uma morte progressiva dos cardiomiócitos da área, afetando a capacidade normal de contração do músculo e caracterizando a insuficiência cardíaca aguda. Com um INÍCIO GRADUAL ou INSIDIOSO, como vemos nos casos acompanhados por sobrecarga de pressão ou de volume. A hipertensão arterial sistêmica se mostra um bom exemplo de uma sobrecarga de pressão sobre o músculo cardíaco. Esses eventos lesam vagarosamente o coração, o qual sore um processo de modificação estrutural compensatória para melhor responder a esse estímulo danoso. Como explicado a seguir, essas alterações acabam por contribuir na ocorrência da insuficiência. De forma HEREDITÁRIA, a exemplo das diversas miocardiopatias congênitas. Independente da natureza do evento desencadeando, todos eles terminam por, de alguma forma, promover o de- clínio na capacidade de bombeamento cardíaco. Em boa porção dos casos, os pacientes permanecem assintomáticos ou minimamente sintomáticos após o declínio inicial na sua capacidade de bombear o sangue, ou desenvolvem os sintomas apenas algum tempo após a instalação da disfun- ção. Isso se deve, provavelmente, aos mecanismos compen- satórios citados a seguir, que tendem a funcionar relativa- mente bem nos estágios iniciais da insuficiência crônica. Normalmente, o coração passa por modificações estru- turais crônicas à medida que a insuficiência se desenvolve. Por exemplo, a elevação do trabalho mecânico em decorrência à sobrecarga de pressão ou volume (como na Alteraçõesmorfológicas encontradas em quadros de insuficiência cardíaca crônica, onde há o remodelamento progressivo do coração. Da esquerda (A) para direita (B), temos um ventrículo com hipertrofia por sobrecarga de pressão (concêntrica); no meio um ventrículo saudável; e na ponta um ventrículo com hipertrofia por sobre- carga de volume (excêntrica) 13 hipertensão sistêmica ou na estenose aórtica), ou sinais tróficos (como os mediados pela ativação de receptores β-adrenérgicos) promovem uma hipertrofia dos cardiomiócitos. Isso, a longo prazo, leva a um aumento do peso e do tamanho do órgão, sendo que o padrão de hipertrofia reflete a natureza do estímulo. Nos casos em que temos um aumento de pressão, os ventrículos desenvolvem uma hipertrofia por sobrecarga de pressão, o que normalmente resulta em um aumento concêntrico na espessura da parede. A hipertrofia por sobrecarga de vo- lume, por outro lado, caracteriza-se pela dilatação ventricular, podendo a parede se apresentar maior, normal ou menor que do coração sadio. O aumento no número de capilares cardíacos, todavia, não acompanha o ritmo de hipertrofia dos cardiomió- citos, o que promove um suprimento de oxigê- nio e nutrientes, especialmente nos com sobre- carga por pressão, inadequado ao músculo car- díaco. Agravando esse quadro, o consumo de oxigênio pelo coração hipertrofiado está elevado por causa da carga de trabalho intensa, a qual se deve pelo aumento da tensão da parede, da fre- quência cardíaca e da contratilidade. A hipertro- fia também se apresenta frequentemente acom- panhada pela deposição de tecido fibroso, não contrátil. Como um resultado dessas ações, o cora- ção hipertrofiado possui especial vulnerabili- dade à descompensação, podendo evoluir, logo, a uma insuficiência cardíaca e, eventualmente, ao óbito. Além disso, corações dilatados tam- bém apresentam distúrbios na condução elé- trica e estão se encontram mais susceptíveis a arritmias. Umas das consequências pode ser a morte súbita por fibrilação ventricular. Causas Fatores que lesem o músculo cardíaco ou promovam o seu trabalho demasiado, afetando sua musculatura, podem causar a insuficiência cardíaca tanto a curto quanto a longo prazo. Dentre as causas subjacentes nas insu- ficiências, destacamos algumas em especial, sendo que a doença arterial coronariana, a hipertensão arterial sistêmica e o diabetes se destacam entre elas como as mais comuns. Quadro ilustrativo dos mecanismos compensatórios presentes na insuficiência cardíaca. Note que a atuação conjunta dos mecanismos leva a um resultado comum: o remodelamento cardíaco 14 Doença arterial coronariana (DAC) A doença arterial coronariana, caracterizada pela afecção das artérias coronárias com redução no fluxo sanguíneo ao miocárdio, destaca-se como a principal causa no desenvolvimento de IC, responsabilizando-se por cerca de 60 a 75% dos casos. Com o passar do tempo, as artérias coronárias podem ter seu lúmen estreitado devido ao acúmulo de depósitos lipídios em suas paredes – no processo conhecido como aterosclerose. O crescimento dessas placas ateroscleróti- cas tende a reduzir de forma gradativa o fluxo sanguíneo ao coração. Nos casos em que essas placas se rompem e o coágulo resultante obstrui por completo a circulação de de- terminada artéria, há uma hipóxia tecidual na área afetada que tende a evoluir para um quadro de angina e um infarto do miocárdio. Este, se extenso, promove um dano signifi- cativo com disfunção aguda ou progressiva do músculo car- díaco. Um achado bastante relevante na suspeita de uma IC por doença arterial coronariana é a angina pectoris, uma dor torácica de característica constritiva, em aperto ou em peso, que, dependendo de suas características – como intensidade, tempo de aparecimento e irradiação -, pode indicar o processo de infarto do miocárdio. Hipertensão arterial sistêmica O aumento da pressão sistêmica, com resultante elevação do pós-carga, exige da musculatura cardíaca uma contração mais intensa para lançar o sangue aos tecidos do corpo. Essa elevação da contratilidade cardíaca, como explicado anteriormente, modifica as estruturas do órgão, tornando-o demasiadamente enrijecido ou enfraque- cido com o passar do tempo. Isso, por si só, aumenta as probabilidades de surgirem disfunções no funcionamento do músculo que resultam na insuficiência cardíaca. A hipertensão arterial sistêmica contribui para o desenvolvimento de IC em 75% dos pacientes, incluindo a maioria daqueles com DAC. Disfunções valvulares As válvulas cardíacas – mitral, tricúspide, pulmonar e aórtica – responsabilizam-se por fazer o sangue fluir na direção correta no interior do coração. Uma insuficiência valvular (como por moléstia reumática) ou uma estenose valvular (como por degeneração senil com depósito de cálcio) obriga o coração a se contrair com maior intensidade para impedir ou compensar o fluxo sanguíneo inadequado. Da mesma maneira que na hipertensão, essa sobrecarga da musculatura leva, ao longo do tempo, ao seu enfraquecimento. INSUFICIÊNCIA AÓRTICA Caracterizada pela incapacidade de fechamentos da valva aórtica, o que permite o refluxo de certa quanti- dade de sangue para o ventrículo esquerdo durante a diástole, a insuficiência aórtica se mostra uma causa bastante importante de insuficiência ventricular esquerda. Na doença arterial coronariana, temos um estreitamento progressivo do lúmen das coronárias por deposição de placas ateroscleróticas 15 Dentre os principais motivos pelo desenvolvimento da afecção, destacamos a moléstia reumática, a ateros- clerose, a endocardite infecciosa e a doença primária das valvas semilunares. Uma malformação congênita da valva aórtica é relativamente incomum. A sintomatologia varia de acordo com o nível de comprometimento da valva e com o refluxo sanguíneo, sendo que quantidades mínimas de sangue raramente afetam a dinâmica ventricular e, logo, a vida do paciente. Além da dispneia e outros sintomas indicativos de IC esquerda, podemos ter uma angina pectoris – devido ao sequestro do fluxo coronariano (efeito Venturi) provocado pelo rápido re- torno sanguíneo na diástole. Podemos dividir os sinais, basica- mente, em periféricos e cardíacos. Nos cardíacos, podemos ter ictus cordis deslocado para baixo e para esquerda, bastante amplo; sopro diastólico, aspi- rativo, em decréscimo, e audível no foco aórtico ou foco aór- tico acessória com irradiação o ápice; Os sinais periféricos, por sua vez, cuja origem provém da grande pressão diferencial – tanto por AUMENTO DA PRESSÃO SISTÓLICA, devido ao maior volume de sangue ejetado, como por DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DIASTÓLICA, decorrente da pró- pria lesão da válvula –, resultam em valores de 160/60 mmHg, 150/40 mmHg e 140/zero mmHg. Isso acarreta o pulso radial amplo e célere, a pulsações visíveis das carótidas (dança arte- rial), a ocorrência de pulso digital e pulso capilar e as oscilações da cabeça acompanhando os batimentos car- díacos (sinal de Musset), pulsação da base da língua (sinal de Minervini) e duplo sopro auscultado à compres- são da artéria femoral (sinal de Duroziez). INSUFICIÊNCIA MITRAL A insuficiência mitral se define pelo fechamento incompleto da valva mitral com consequente refluxo sanguíneo para o átrio esquerdo durante a sístole ventricular. As causas mais comuns da insuficiência mitral se destacam como moléstia reumática, prolapso valvar mitral e infarto agudo do miocár- dio (IAM). As miocardiopatias e a miocardiosclerose, com dilatação acentuada da cavidade ventricular esquerda, também conseguem deter- minar insuficiência mitral. Os achados nos casos de IAM ou endocarditeinfecciosa são de congestão pulmonar com edema intersticial ou alveolar – manifestada como dispneia intensa ou, quando grave, edema pulmonar agudo -; ventrículo esquerdo hipercinético, sem sinais de dilatação; ictus não deslocado e amplo; sopro sistólico de regurgitação no foco mitral com irradiação para axila; e uma 4ª bulha originada pela contração vigo- rosa do átrio esquerdo. ESTENOSE AÓRTICA A estenose aórtica consiste na redução do orifício da valva aórtica e em alterações da via de saída do ventrículo esquerdo por causas como malformações congênita, moléstia reumática ou degeneração senil com deposição de cálcio, esta relativamente comum em pacientes acima dos 60 anos. Ilustração de insuficiência da valva aórtica com resultante retorno sanguíneo ao ventrículo esquerdo Esquematização de uma insuficiência mitral com regurgita- mento de sangue para o átrio esquerdo 16 Os achados clínicos dependem majoritariamente da hipertrofia ventricular esquerda que se desenvolve como o mecanismo compensatório para vencer a obstrução e manter um débito cardíaco adequado. Essa hipertrofia leva, como já dito, a uma hipoxemia da musculatura ventri- cular, sendo que nos casos crônicos se responsabiliza pela falência funcional do ventrículo esquerdo. Dessa forma, além dos achados de insuficiência ventri- cular esquerda, mostram-se frequentes os sintomas de insu- ficiência coronariana – como angina de peito -, e fenôme- nos sincopais após esforço, os quais se explicam pela vaso- dilatação periférica que “rouba” sangue da circulação cere- bral, pelo fato de o débito cardíaco se encontrar impossibi- litado de aumentar durante o esforço físico. Salienta-se im- portante ressaltar que a angina pectoris e a síncope são in- dicativos de elevada gravidade da estenose. Ao exame físico, detecta-se um pulso radial de pe- quena amplitude ou anacrótico (anacrônico, caro e caótico) em graus moderados e intensos de estenose; ictus cordis intenso e pouco deslocado para baixo e para esquerda; frêmito sistólico; sopro sistólico de ejeção, rude, localizado no foco aórtico com irradiação para cima, em direção à face lateral direita do pescoço. Juntamente a isso, na estenose aórtica leve pode ser ouvido um clique sistólico que antecede o sopro, ao passo que na estenose grave temos um desdobramento invertido da 2ª bulha cardíaca. ESTENOSE MITRAL A estenose mitral consiste no estreitamento do orifício atrioventricular esquerdo em virtude de um espes- samento e de uma fibrose das cúspides valvares com fusão das suas comissuras. Dentre as causas da afecção, a moléstia reumática se mostra a mais frequente, sendo seguida por outras relativamente raras, como síndrome carcinoide, artrite reumatoide e lúpus eritematoso. A limitação do fluxo do átrio para o ventrículo gera um acúmulo de sangue no primeiro, o que aumenta a pressão dentro dele. Conforme a pressão no ventrículo aumenta – pelo acúmulo de sangue e contração ventricular – a valva mitral, que deveria ir fechando em situações fisiológicas, mantém-se aberta pela pressão atrial elevada. Dessa ma- neira, quando o ventrículo finalmente supera a pressão rei- nante no átrio, a valva ainda está aberta, gerando um som mais intenso ao ser fechada e levando à ausculta de uma B1 hiperfonética. Isso reflete a dificuldade que o fluxo sanguí- neo encontra para passar através da valva estreita durante o enchimento do ventrículo esquerdo, na diástole. Conforme a doença progride e surge a calcificação – levando à imobi- lização da valva -, essa intensidade da bulha diminui, po- dendo chegar até a hipofonese. Em relação ao quadro clínico, na estenose mitral leve o paciente permanece assintomático mesmo com atividade física, tendo somente um moderado aumento da pres- são no átrio esquerdo. Há uma hiperfonese da 1ª bulha cardíaca no foco mitral e sopro diastólico, restrito à parte pré-sistólica da diástole, o que corresponde ao aumento do fluxo sanguíneo pela contração atrial. A rigidez dos folhetos da valva propicia o aparecimento do estalido de abertura mitral. Na estenose mitral moderada, temos a dispneia e as palpitações após esforços físicos, que traduzem a congestão na circulação pulmonar. Os achados auscultatórios são idênticos ao da estenose leve, com adição de Ilustração de um quadro de estenose aórtica, ressaltando a modificação dos fo- lhetos da valva Desenho esquemático de uma valva mitral sem anomalias e de uma valva mitral es- tenosada 17 que o sopro diastólico tem características de ruflar, e há uma hiperfonese de 2ª bulha cardíaca o foco pulmonar, decorrente da hipertensão pulmonar da congestão. Por fim, na estenose mitral grave, encontramos uma intensificação da dispneia – podendo ocorrer aos mí- nios esforços -, ortopneia, dispneia paroxística noturna, tosse seca e hemoptise. À ausculta, o estalido de abertura se torna mais precoce, ao passo que o sopro diastólico fica mais duradouro. Como dito, pode haver uma hipofonese de B1 por calcificação da valva. Juntamente a isso, o paciente com estenose grave, em virtude do baixo débito e da vasoconstrição periférica, pode apresentar uma área de rubor malar violáceo (na região dos zigomáticos), o que se convencionou chamar de fácies mitral. Miocardiopatias As lesões do músculo cardíaco não provenientes de alterações arteriais ou circulatórias apresentam diver- sas causas, incluindo uma gama bastante grande de doenças, infecções, abuso de álcool e efeito tóxico de drogas – como a cocaína ou alguns medicamentos quimioterápicos. Essas lesões promovem, usualmente, uma disfunção cardíaca que termina por manifestar a insuficiência. A principal miocardiopatia que leva à síndrome da IC é a mi- ocardiopatia isquêmica de ventrículo esquerdo, normalmente em decorrência de uma doença arterial coronariana (DAC) que obs- trui o fluxo sanguíneo normal ao músculo cardíaco e promove um infarto do miocárdio, normalmente manifestado na forma de an- gina pectoris. Os fatores genéticos podem desempenhar um papel vital em diversos tipos de miocardiopatias, como a miocardiopatia dilatada, a miocardiopatia hipertrófica, a miocardiopatia arritmogênica ventricular direita, não compactação ventricular esquerda e a mi- ocardiopatia restritiva. Devemos dar especial atenção, em decorrência do país onde vi- vemos, às modificações cardíacas promovidas pela doença de Cha- gas, a cardiopatia chagásica, que tem como achado radiológico bastante comum, nos casos avançados, a cardiomegalia. Pacientes provenientes de áreas endêmicas à doença necessitam de uma investigação clínica criteri- osa para excluir ou confirmar o diagnóstico diferencial. Muitos casos de miocardiopatia dilatada são secundários a problemas genéticos específicos, particularmente aqueles que afetam o citoesqueleto celular. A maioria das formas de miocardiopatia dilatada familiar apre- senta herança autossômica dominante. A miocardiopatia dilatada também se encontra associada às distro- fias musculares de Duchenne, de Becker e da cintura pélvica. As condi- ções que levam ao aumento do débito cardíaco (p. ex., fístula arteriove- nosa, anemia) raramente se responsabilizam pelo desenvolvimento de IC em corações normais. Todavia, na presença de uma cardiopatia estrutural subjacente, tais condições podem desencadear IC franca. Na miocardiopatia alcoólica, a ingesta excessiva e crônica do álcool provoca uma lesão tóxica bastante acentuada sobre o miocárdio e os va- sos coronários, o que leva, gradativamente, à disfunção da bomba cardí- aca e à insuficiência. Dessa forma, o diagnóstico diferencial em pacientes com histórias de alcoolismo crônico com outras causas de miocardiopatias se mostra importante.Esquematização de dois tipos de miocardiopatia que costu- mam levar a um quadro de insuficiência cardíaca 18 Por fim, na cardiopatia lúpica, presente em muitos casos do lúpus eritematoso sistêmico (uma doença au- toimune), as lesões cardíacas têm origem, majoritariamente, na deposição de imunocomplexos no pericárdio, miocárdio ou paredes dos vasos. Miocardites As miocardites se definem como os processos inflamatórios que acometem o músculo cardíaco, prejudicando o bombeamento sanguíneo para os tecidos do corpo. As miocardites ocorrem em pessoas de qualquer idade e com maior frequência em homens. Diversas vezes não se encontra uma causa determinante, embora seja comum como uma complicação de doença infecciosa de etiologia viral. Outras causas menos comuns são infecções pelo HIV, difteria, doença de Chagas, doença de Lyme (infecção bacteriana transmitida por carrapatos), timoma (um tumor de timo), lúpus e tireotoxicose. Miocardiopatias congênitas Modificações no coração, nas câmaras cardíacas ou nas valvas por má formações durante o desenvolvimento fetal tendem a dificultar o bombeamento correto do sangue, o que pode predispor uma insuficiência cardíaca. Temos como alguns exemplos as síndromes de Turner e de Down, a primeira acometendo indivíduos do sexo feminino e com achados comuns de coarctação de aorta e outras cardiopatias congênitas. Arritmias cardíacas Variações anormais e não controladas do ritmo cardíaco, compondo a arritmia em si, podem levar a uma taquicardia importante, o que desenvolve um trabalho extra ao miocárdio. Com o passar dos anos, a musculatura do coração pode se enfraquecer e evoluir para uma insuficiência. Por outro lado, uma bradicardia pode impedir um suprimento sanguíneo adequado aos tecidos, também se mostrando capaz de resultar em uma insuficiência. Outras doenças As enfermidades crônicas – como o diabetes, o HIV, o hipertireoidismo, o hipotireoidismo, a hemocroma- tose (acúmulo de ferro no organismo) ou a amiloidose (acúmulo de proteína) – e outras disfunções que aumentem o trabalho do músculo cardíaco, como uma insuficiência renal crônica, podem contribuir no desenvolvimento de uma insuficiência cardíaca. As anemias crônicas, de um modo geral, também podem levar ao desenvolvimento da insuficiência cardí- aca pelo mecanismo compensatória do corpo desencadeado pelo quadro de baixa oxigenação tecidual da anemia. A tireotoxicose (excesso de hormônios tireoidianos, não sendo um sinônimo de hipertireoidismo) e uma fístula arteriovenosa (comunicação anômala entre uma artéria e uma veia, impedindo o sangue de passar pela rede capi- lar) também se destacam como causas possíveis da insuficiência. Um fato bastante importante reside em pacientes com apneia obstrutiva do sono, uma desordem bastante comum na qual ocorre, durante a noite, um ou mais períodos de apneia (pausa da respiração). Essa desordem pode privar o coração de um aporte correto de oxigênio e elevar seu trabalho mecânico de forma compensatória, o que tende a piorar o quadro de insuficiência cardíaca. De modo análogo, o tratamento da apneia do sono costuma melhorar o prognóstico da insuficiência. 19 Os pacientes de IC com redução de FE e sem etiologia claramente conhecida - por volta de 20 a 30% dos casos - recebem a referência de portadores de miocardiopatia dilatada não isquêmica ou idiopática. Diagnóstico O diagnóstico da síndrome de insuficiência cardíaca se faz, normalmente, por meio de uma associação entre a anamnese, o exame físico e os exames complementares, estes buscando se aprofundar melhor nas causas sub- jacentes ao desenvolvimento da insuficiência. Como explicado ao longo desse arquivo, os diversos sinais e sintomas da síndrome de insuficiência cardí- aca, resumidas na figura ao lado, nor- teiam o médico para a causa mais pro- vável do acometimento cardíaco. Abaixo, seguem-se as principais mo- dificações e achados nos exames pul- monares e cardíacos na síndrome. Exame pulmonar Um achado bastante comum na ausculta pulmonar durante a insufici- ência cardíaca esquerda ou a biven- tricular são os ruídos respiratórios adventícios – mais precisamente os ESTERTORES CREPITANTES -, os quais resultam do acúmulo de líquido no interstício e nos alvéolos pulmonares proveniente do espaço intravascular devido às altas pressões atriais esquerdas. Nos pacientes com o edema pulmonar significativo, esses estertores crepitantes podem ser amplamente auscultados em ambos os campos pulmonares, às vezes acompanhados por sibilos expiratórios (asma cardíaca), e tendem a ser melhor percebidos nas bases dos pulmões, simplesmente pela ação gravitacional, que acumula o líquido nessa região. Salienta-se importante ressaltar que, quando presentes em pacientes sem doença pulmonar concomitante, os estertores crepitantes se mostram como sinais específicos de insuficiência cardíaca. Em pacientes com insu- ficiência crônica, todavia, os estertores podem se apresentar ausentes – mesmo nos casos com pressões de en- chimento elevadas -, em decorrência do aumento da drenagem linfática do líquido alveolar. O derrame pleural, relativamente comum, surge devido à elevação da pressão capilar pleural que produz o extravasamento de transudato para a cavidade pleural. Considerando que as veias pleurais drenam não somente para as veias sistêmicas, mas também para as pulmonares, o derrame pleural se manifesta mais usualmente em casos de insuficiência biventricular, onde ambos os sistemas de drenagem citados se apresentam congestionados. Quando há a presença do derrame pleural, temos os achados pulmonares típicos da afecção: macicez ou subma- cicez à percussão na base pulmonar, redução ou abolição do murmúrio vesicular, redução ou ausência do frêmito toracovocal, diminuição da expansibilidade torácica e, em casos de derrames mais volumosos, abaula- mento do tórax. Apesar de o derrame ser frequentemente bilateral na insuficiência cardíaca, nos casos em que se manifesta unilateralmente, ele é mais comum no ESPAÇO PLEURAL DIREITO. 20 Exame cardiológico Em casos de cardiomegalia, o ictus cordis geralmente se encontra deslocado inferiormente para uma posição abaixo do quinto espaço intercostal e/ou lateralmente para a linha hemiclavicular esquerda, passando o batimento a ser palpável sobre dois espaços. A hipertrofia grave de ventrículo esquerdo leva a ictus sustentado. Um achado relativamente importante na ausculta cardíaca é a PRESENÇA DE UMA TERCEIRA BULHA (B3) EM GALOPE - galope protodiastólico, ocorrendo no terço inicial da diástole – no ápice do coração. A terceira bulha se encontra presente usualmente nos pacientes com sobrecarga volumétrica que tenham taquicardia ou taqui- pneia e normalmente implica em um comprometimento hemodinâmico, ou seja, em uma INSUFICIÊNCIA SISTÓ- LICA. Ela pode estar presente, além disso, em uma insuficiência mitral. Juntamente a isso, apesar de não ser um indicador tão específico de insuficiência cardíaca, a PRESENÇA DE UMA QUARTA BULHA (B4) EM GALOPE – galope telediastólico, surgindo no terço final da diástole – destaca-se por estar comumente presente nos pacientes com INSUFICIÊNCIA DIASTÓLICA. A quarta bulha se encontra associada a um aumento da pressão diastólica final do ventrículo esquerdo, ou seja, quando a distensão ventricular está diminuída, gerando, como um mecanismo compensatório, uma forte contração atrial, a qual origina B4. Além de IC diastólica, pode-se encontrar a quarta bulha em galope nos quadros de cor pulmonale, cardiopatia hiper- tensiva, estenose aórtica, miocardiopatias e isquemia miocárdica. A detecção de pulso alternante e pulso da amplitude baixa também costumam se associar a situação de insuficiênciacardíaca avançada. As arritmias também se demonstram presentes de acordo com a causa da in- suficiência cardíaca. Um sopro sistólico de regurgitação mitral (RM) diversas vezes se encontra presente em um quadro de au- mento do ventrículo esquerdo, além de que os sopros característicos de insuficiência tricúspide ou mitral, na maioria das vezes, mostra-se presentem nos pacientes com IC avançada. Os pacientes com ventrículo direito aumentado ou hipertrofiado podem apresentar um impulso sustentado e prolongado na linha paraesternal esquerda, estendendo-se durante toda a sístole. Em inúmeras ocasiões, ademais, os sinais vitais apresentam grande importância. Casos de taquipneia, ta- quicardia e pressões de pulsos estreitas são, usualmente, indicativos de mau prognóstico e de doença avançada. O peso corporal costuma ser útil no monitoramento das condições compensatórias. A identificação de uma hipofonese de primeira bulha B1 constitui indicativo de uma possível insuficiência cardíaca devido ao fato de que, conforme a função ventricular entra em falência, a contratilidade diminui e a velocidade de fechamento das valvas é menor, gerando uma B1 hipofonética. Nos casos de insuficiência ventricular esquerda, podemos encontrar também na ausculta uma hiperfonese de segunda bulha (B2). Isso ocorre devido à hipertensão arterial pulmonar, que leva ao um aumento na inten- sidade do foco de ausculta pulmonar por pressão no interior do vaso e gera uma maior velocidade de fechamento das valvas, destacando a hiperfonese. Nessas condições, o foco pulmonar se apresenta mais intenso que o foco aórtico. Embora não se enquadre propriamente no exame cardiológico, o sinal sutil da perfusão periférica – colora- ção e temperatura de extremidades, enchimento capilar –, muitas vezes negligenciado, pode possuir caráter vital na avaliação da adequação da perfusão e da anemia em pacientes com insuficiência avançada. A CIANOSE DE EXTREMIDADES, por exemplo, indica um quadro de má perfusão acentuada, necessitando de uma abordagem o quanto antes do paciente. Critérios de Framingham Visando a auxiliar na identificação e na melhor acurácia do diagnóstico clínico de uma insuficiência cardí- aca, foram-se organizados os sinais e sintomas por meio de critérios maiores e menores (Critérios de Framin- gham), demonstrados na tabela abaixo. Para o diagnóstico de IC, necessita-se, no mínimo, de um critério maior e dois critérios menores. 21 Critérios maiores Critérios menores Dispneia paroxística noturna Edema de membros inferiores Distensão de veias do pescoço (ingurgitamento ju- gular) Ortopneia e Tosse noturna Estertores pulmonares Dispneia de esforço Cardiomegalia Hepatomegalia Edema agudo de pulmão Derrame pleural Galope de terceira bulha (B3) Capacidade vital reduzida a 1/3 do normal Pressão venosa aumentada (>16 mmHg) Taquicardia (>120 bpm) Refluxo hepatojugular Classificação do paciente Uma vez realizado o diagnóstico de IC, demonstra-se necessário avaliar a classe funcional do paciente, baseada tradicionalmente nos sintomas segundo a Classificação da New York Heart Association (NYHA), que, apesar do grau de subjetividade, possui boa correlação com o prognóstico e qualidade de vida do paciente. Classificação da New York Heart Association (NYHA) Classe I – Ausência de sintomas (dispneia, fadiga exagerada, palpitações ou dor anginosa) durante ativida- des cotidianas. A limitação para esforços é semelhante à esperada para indivíduos normais. Classe II – Sintomas desencadeados por atividades cotidianas, sem, no entanto, desconforto no repouso. Classe III - Sintomas desencadeados por atividades menos intensas que as cotidianas ou aos pequenos esfor- ços. Continua sem desconforto no repouso. Classe IV – Incapacitados para realizar qualquer atividade física sem desconforto. Os sintomas surgem até mesmo durante o repouso, e tentativas de empreender qualquer atividade física resultam no aumento do des- conforto. Exames complementares Os exames complementares são utilizados, basicamente, para a detecção correta da causa subjacente que desencadeou a insuficiência cardíaca. Eletrocardiograma O eletrocardiograma (ECG) pode oferecer informações diagnósticas acerca da causa da insuficiência car- díaca. Mostra-se importante procurar por sinas de infarto agudo do miocárdio prévio – como em miocardiopatia isquêmica -, aumento e hipertrofia de cavidades, bloqueio cardíaco, arritmias, derrame pericárdico e amiloi- dose cardíaca. 22 Um ECG normal torna o diagnóstico de IC improvável e exclui em cerca de 90% a presença de disfunção sistólica. Os achados de bloqueio de ramo esquerdo (BRE) e zona inativa anterior são bons indicativos de dis- função sistólica, ao passo que o bloqueio de ramo direito (BRD) associado com hemibloqueio anterior esquerdo (HBAE) sugerem cardiopatia chagásica caso o paciente apresente história epidemiológica positiva. Juntamente a isso, achados de ECG relativamente comuns em pacientes com IC incluem fibrilação atrial, sobrecarga de átrio esquerdo (AE) e/ou de ventrículo esquerdo (VE). Radiografia de tórax O raio X de tórax deve incluir o tamanho do coração e as condições do parênquima pul- monar. O aumento da silhueta cardíaca aponta para uma insuficiência ventricular esquerda ou uma biventricular. A insuficiência cardíaca pode ocorrer na ausência de cardiomegalia, prin- cipalmente nos pacientes com IC aguda ou na- queles com IC com função sistólica normal. Listam-se marcadores úteis de disfunção ventricular a cardiomegalia e os sinais de con- gestão pulmonar (redistribuição vascular para ápices, edema intersticial e/ou alveolar, derrame pleural). As anormalidades dos campos pulmonares podem variar desde um ingurgitamento suave dos vasos peri-hilares até derrames pleurais bi- laterais, linhas N de Kerley e edema pulmonar franco, sendo que o raio X pode, ainda, identificar a presença de uma doença pulmonar que esteja causando os sintomas de IC. Ecocardiograma O ecocardiograma se mostra útil na avaliação da estrutura e da função cardíaca, além de auxiliar na identi- ficação de possíveis causas estruturais da insuficiência cardíaca. Não obstante o conceito de fração de ejeção seja bem aceito como indicador de disfunção de bomba, anormalidades estruturais – como os graus de hipertrofia e dilatação cardíacas – relacionam-se mais intimamente com a fisiopatologia e o prognóstico. As medidas rotineiras do tamanho, da estrutura e das funções sistólica e diastólica do coração devem fazer parte desse exame, fornecendo informações importantes para o diagnóstico, prognóstico e conduta médica. Radiografia de tórax de um paciente saudável (à esquerda) e durante um quadro de IC (à direita), destacando os lobos superiores dos pulmões. A seta azul indica os vasos pulmona- res, que no paciente saudável se mostram finos e pouco aparentes, ao passo que no paci- ente com IC temos um aumento da grossura dos vasos devido à congestão pulmonar. A seta vermelha indica, ainda, um alargamento do pedículo vascular 23 Diagnóstico diferencial Diversas outras condições le- vam à sintomatologia semelhante à encontrada na síndrome de insufici- ência cardíaca, cabendo ao médico avaliar corretamente as peculiari- dades de cada caso e estabelecer o diagnóstico diferencial das afec- ções. Ao lado temos uma tabela que aponta os achados mais importan- tes nos pacientes acometidos com insuficiência cardíaca e as suas eti- ologias mais prováveis. Abaixo, por outro lado, listam- se alguns exemplos típicos que po- dem ser incluídos na diferenciação da insuficiência cardíaca de outras doenças. ENVELHECIMENTO/SEDENTARISMO:o envelhecimento natural do organismo, o sedentarismo e/ou a obesidade costumam levar a uma redução na tolerância aos esforços devido a quadros de dispneia e/ou fadiga, sem, no entanto, apresentarem os critérios maiores e menores adicionais para o diagnóstico de insuficiência car- díaca. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA/FIBROSE PULMONAR: nesses casos, a dispneia tende a ser episódica, com ou sem gatilhos ou fatores iniciadores ambientes – como ocorre em diversos casos de bron- quite asmática -, e normalmente se vê acompanhada com tosse, ruído tipo assobio ao se respirar (respiração asmática), expectoração e histórica clínica de tabagismo ou exposição industrial. PNEUMONIA: os pacientes acometidos pela pneumonia tendem a apresentar febre e tosse produtiva com expectoração mucoide, purulenta ou sanguinolenta, além dos sinais de consolidação pulmonar, como frêmito toracovocal aumentado e macicez à percussão. TROMBOEMBOLISMO PULMONAR: o tromboembolismo pulmonar (TEP) manifesta-se pela dor to- rácica de início abrupto, em pontadas e ventilatório-dependente, dispneia, tosse e hemoptise. MIOCARDIOPATIA PÓS-PARTO: os pacientes tendem a apresentar dispneia, embora outros sintomas, como tosse, ortopneia, dispneia paroxística noturna, hemoptise e desconforto torácico, também se manifestem. CIRROSE: tipicamente leva ao surgimento de icterícia, fadiga, náusea, edemas periféricos, ascite, ginecomastia e hematêmese. SÍNDROME NEFRÓTICA: também tende a se manifestar na forma de edema periférico, fadiga, dis- pneia e perda do apetite; TROMBOSE VENOSA PROFUNDA: costuma causar dor, inchaço, rubor e calor em membros inferio- res, especialmente na região da panturrilha. ESTASE VENOSA: o edema afeta apenas os membros inferiores, e a presença de veias varicosas é um achado comum. Quadro de possíveis achados clínicos em uma insuficiência cardíaca associados com suas etiologias mais prováveis 24 Referências bibliográficas FAUCI, Anthony S., HAUSER, Stephen L., LONGO, Dan L., KASPER, Dennis L., JAMESON, J. 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A angina instável se distingue, de uma forma geral, da angina estável (clássica) por ser uma dor de início recente, por ser um agravamento dos sintomas da angina está- vel nos últimos 60 dias ou por ser o desen- volvimento de uma angina pós-infarto de miocárdio (IM) 24 horas ou mais após o início do IM. A síndrome coronariana se mostra um achado frequente em pacientes com doença arterial coronariana (DAC), devido à for- mação de placas nas artérias coronárias com o consequente e gradual estreitamento de seu lúmen. O achado mais comum da SCA é a an- gina instável, uma condição clínica bastante importante e que precisa ser identificada o mais rápido possível, pois o tempo se de- monstra crucial para o prognóstico e sobrevida do paciente. Antes de quaisquer outras informações, aprofundemo-nos no conceito por trás da angina, da qual falaremos muito nesse arquivo. Angina pectoris A ANGINA PECTORIS – muitas vezes simplesmente referida como angina – qualifica-se como uma síndrome clínica composta por dor ou desconforto em qualquer das seguintes regiões: tórax, epigástrio, mandíbula, ombro, dorso ou membros superiores, sendo tipicamente desencadeada ou agravada com atividade física ou estresse emocional, e atenuada com o uso de nitroglicerina sublingual e derivados. Mecanismo básico e generalizado do desenvolvimento da síndrome coronariana aguda. A obstrução de uma ou mais artérias coronárias leva à necrose do músculo cardíaco, seguida de infarto agudo do miocár- dio. 26 Analisadas as características da angina à anamnese, necessita-se fazer inicialmenteo diagnóstico diferencial da dor, o que nos permite classificar a angina em TÍPICA, ATÍPICA e DOR TORÁCICA NÃO ANGINOSA ou NÃO CAR- DÍACA. Para isso, algumas informações acerca da dor precisam ser determinadas, como qualidade, localização, irradiação, fatores desencadeantes, fatores de alívios e sintomas associados. Angina típica Denomina-se angina típica: A SENSAÇÃO DE DOR ou DESCONFORTO RETROESTERNAL ou PRECORDIAL do tipo OPRESSIVA (em peso ou aperto) ou em QUEIMAÇÃO, podendo se irradiar para MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO (em geral na face ulnar), OMBRO ESQUERDO E/OU MANDÍBULA. Diversas vezes, a angina se irradia para ambos os membros superi- ores, para o membro superior direito ou para o dorso; CAUSADA OU INTENSIFICADA POR ATIVIDADE FÍSICA OU ESTRESSE; ALIVIADA EM REPOUSO OU COM O USO DE NITROGLICERINA SUBLINGUAL E DERIVADOS; Angina atípica Em muitos pacientes, a isquemia miocárdica não se manifesta como angina típica, e sim com uma dor torá- cica atípica ou com sintomas diferentes de dor. A angina atípica se define quando há somente duas das três características citadas acima, sendo que o tipo da dor surge, muitas vezes, como DOR EM “PONTADA” ou “FIS- GADA”. Dor torácica não cardíaca Por fim, a dor torácica não cardíaca se de- fine como aquela em que há uma ou nenhuma das características da angina típica. Em outras pala- vras, ela decorre de uma DOR NÃO ISQUÊMICA, ao passo que as anginas são o tipo de dor torácica is- quêmica. Além dessas três classificações, também se- paramos a angina em ESTÁVEL e INSTÁVEL. Essa diferenciação apresenta papel fundamental, pois a ocorrência de uma angina instável sugere risco iminente de síndrome coronariana aguda (SCA) - como infarto agudo do miocárdio - em curto in- tervalo de tempo. Angina estável A angina estável – tipo mais comum de an- gina – caracteriza-se pela sintomatologia da an- gina típica: DOR DE INTENSIDADE MODERADA (também descrita como desconforto), PASSAGEIRA (de 2 a 10 minutos), resultante de uma ISQUEMIA DO MIOCÁRDIO COM ESTREITAMENTO CORONARI- ANO (sem obstrução total). Ela surge e/ou se in- tensifica aos esforços e estresse, e melhora ao re- pouso e uso de nitroglicerina sublingual e nitra- tos. Possíveis áreas de surgimento e irradiação nos casos de angina e IAM; 27 Esse tipo de angina apresenta um padrão regular, o qual, depois de alguns episódios, permite com que o paciente possa reconhecê-lo e prever quando ocorrerá. A angina estável, além disso, aumenta a probabilidade de ataque cardíaco futuro. A angina estável, usualmente, decorre da formação de uma placa aterosclerótica nas coronárias, o que limita o fluxo sanguíneo ao músculo cardíaco. Angina instável A angina instável (AI), como dito, compõe uma emergência clínica devido ao risco considerável de infarto agudo do miocárdio. Podemos ter a angina instável em duas situações: decorrente da evolução de uma angina estável prévia ou sendo a primeira angina do paciente. A definição da angina instável surge com a presença de pelo menos uma das três seguintes manifestações clínicas: DOR EM REPOUSO: a angina ocorre em repouso (ou aos mínimos esforços), e tende a persistir por mais de 20 minutos (longa duração); ANGINA RECENTE: ela apresenta início recente (nas últimas quatro a seis semanas, podendo ser a primeira angina do paciente) e possui caráter intenso; ANGINA PROGRESSIVA: demonstra um padrão progressivo, com a dor se tornando nitidamente mais grave, prolongada ou frequente a cada episódio. A angina instável, ao contrário da estável, costuma decorrer da ruptura de uma placa ateroscle- rótica com consequente formação de trombo de plaquetas, fibrina e ateroma, o que pode obstruir por completo o lúmen de uma das artérias que irrigam o músculo cardíaco. Nos casos em que o quadro clínico da angina instável se apre- senta acompanhado por elevação dos marcadores de lesão miocár- dica – como a troponina ou as isoenzimas cardíacas -, diagnos- tica-se o infarto agudo do mio- cárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST). A distinção entre IAM sem elevação do segmento ST e o IAM com elevação do segmento ST tem importância clínica pois a te- rapia de recanalização precoce melhora o prognóstico no IAM com elevação de ST, mas não no sem elevação de ST. Quando a AI e o IAM se encontram presentes no mesmo paciente, eles compõem as SÍNDROMES ISQUÊMICAS MIOCÁRDICAS INSTÁVEIS (SIMI) sem supradesnível do segmento ST. Juntamente a isso, o indivíduo com AI possui prognóstico variável de acordo com eventos desfavoráveis – como IAM, óbito, recorrência de angina e necessidade de revascularização miocárdica. Os pacientes com angina instável ou SIMI não apresentam melhoras na dor torácica com admi- nistração de nitroglicerina sublingual. 28 Classificação De um modo geral, classificamos a angina instável em primária e secundária, sendo que essa distinção apresenta elevado valor clínico. ANGINA INSTÁVEL PRIMÁRIA: a dor surge decorrente de uma LIMITAÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO CORONARIANO, diminuindo a oferta de oxigênio ao músculo. A principal causa de AI primária se destaca como a OBSTRUÇÃO ATEROSCLERÓTICA das coronárias (como na doença arterial coronariana), embora possamos ter diversas outras causas para essa obstrução, como vasoespamos decorrentes do uso de cocaína, angina microvas- cular, ponte miocárdica e anemia. Um agravamento agudo de uma estenose coronariana, por exemplo, impede a vascularização adequada do miocárdio, levando à angina instável primária. ANGINA INSTÁVEL SECUNDÁRIA: manifesta-se como uma consequência do AUMENTO DA DEMANDA DE OXIGÊNIO PELO MIOCÁRDIO SUPERPOSTA A UMA DOENÇA CORONARIANA SUBJACENTE GRAVE. As taquiarrit- mias, febre, hipoxia, anemia, crise hipertensiva e tireotoxicose salientam-se como doenças com potencial de provocar a angina instável secundária. Outras causas não patológicas de aumento da demanda de oxigênio são o exercício vigoroso ou o estresse mental, os quais, associados com enfermidades subjacentes, podem levar à AI secundária. Esta, normalmente, cura-se com o tratamento bem-sucedido da condição precipitante subjacente. Juntamente a isso, o reconhecimento de três subtipos específicos de AI primária se destaca como de grande im- portância, devido ao fato de sua fisiopatologia, prognóstico e tratamento diferirem dos da angina instável típica. ANGINA VARIANTE OU DE PRINZMETAL: cau- sada por espasmos coronarianos – os quais limitam ou im- pedem o fluxo sanguíneo ao miocárdio -, podendo ser, na maioria das vezes, controlada com o uso de bloqueadores de canais de cálcio. Os pacientes exibem periodicamente episódios de isquemia miocárdica com elevação ST. Esse tipo de angina costuma acometer mulheres com menos de 50 anos, acreditando-se que dois dos fatores desencadeantes sejam o estresse e o fumo. A angina de Prinzmetal costuma regredir espontaneamente ou com a administração de nitroglicerina, sendo que elas podem resulta em IAM e, até mesmo, morte, de acordo com o grau e tempo de espasmo. ANGINA INSTÁVEL EM 6 A 9 MESES APÓS AN- GIOPLASTIA CORONARIANA: decorrente, quase de modo invariável, por uma reestenose ou trombose do stent. Pelo fato de o mecanismo subjacente ser a proliferação celular, em vez da ruptura da placa, os agentes antitrom- bóticos não se mostram necessários. A nitroglicerina intravenosa provê um tratamento agudo efetivo, usualmente demandando uma repetição da revascularização. ANGINA INSTÁVEL NO PACIENTE COM REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA (RMV) PRÉVIA: essa con- dição frequentemente envolve a aterosclerose avançada dos enxertos venosos ou evolução da doença nativa do vaso, prenunciandomenor probabilidade de alívio sintomático em comparação com outros pacientes de angina instável. Esquematização da angina variante ou de Prinzmetal, caracterizada pela presença do espasmo coronariano 29 Fisiopatologia Como demonstrado na classificação da an- gina, ela se vê comumente associada a uma re- dução da oferta ou aumento da demanda mio- cárdica de oxigênio, superpostos em uma lesão que ocasiona obstrução arterial coronariana – geralmente uma placa coronariana aterotrom- bótica -, levando a uma progressiva ou até mesmo aguda ISQUEMIA MIOCÁRDICA. Identificaram-se quatro processos fisiopa- tológicos que podem contribuir para a AI/IAMSSST, listados abaixo. De um modo ge- ral, pode haver o envolvimento de mais de um desses processos no surgimento da doença. A RUPTURA OU EROSÃO DE UMA PLACA ATEROSCLERÓTICA COM UM TROMBO NÃO OCLUSIVO ASSOCIADO, aparentando ser a causa mais comum; A OBSTRUÇÃO DINÂMICA do vaso, como um espasmo coronariano que ocorre na angina de Prinzmetal; OBSTRUÇÃO MECÂNICA PROGRESSIVA, como na aterosclerose coronariana rapidamente progres- siva ou reestenose após intervenção coronariana percutânea (ICP); A ANGINA INSTÁVEL SECUNDÁRIA POR AUMENTO DA DEMANDA E/OU REDUÇÃO DA OFERTA DE OXI- GÊNIO. Apresentação clínica A sensação da isquemia miocárdica geralmente se encontra localizada na área retroesternal, embora possa ser sentida somente no epigástrio, nas costas, nos braços ou na mandíbula. A qualidade da angina pode ser descrita como em queimação, aperto, pressão ou peso, embora possa se manifestar, de forma bastante incomum, como aguda, lancinante ou semelhante a uma faca. Além disso, deve-se ressaltar que a angina usualmente não apresenta relação com os movimentos respiratórios nem com o decúbito do paciente. Dessa forma, o médico precisa estar muito atento aos sinais e sintomas, pois características atípicas não excluem, necessariamente, a existência de uma angina instável. É importante entender que os sintomas de uma isquemia miocárdica, no entanto, nem sempre se apresentam na forma de uma dor anginosa, com a descrita acima. Quando isso ocorre, chamamos os achados de EQUIVALEN- TES ANGINOSOS, dos quais podemos citar: dor apenas no membro superior ou na mandíbula; sudorese, náusea, vômito, palidez, dispneia, hemoptise, tosse, pré-síncope e síncope. A dispneia, um marcador de mal prognóstico nesses casos, decorre da congestão pulmonar por disfunção diastólica e/ou sistólica do ventrículo esquerdo durante a isquemia, como nos casos de insuficiência cardíaca congestiva. Um dado bastante relevante é o fato de que os grupos de pacientes com maior probabilidade de apresentarem a isquemia na forma de equivalentes anginosos são mulheres, diabéticos, idosos, pacientes com insuficiência Ilustração básica dos mecanismos por trás dos principais tipos angina 30 renal crônica e pacientes pós-transplante cardíaco. Nos indivíduos idosos ou diabéticos, por exemplo, tais sin- tomas podem ser a única indicação da presença de uma isquemia miocárdica. No exame físico, sinais transitórios de disfunção ventricular esquerda - como ESTERTORES BASAIS e TER- CEIRA E/OU QUARTA BULHAS - podem acompanhar ou ocorrer logo após um episódio de angina instável. Nos casos mais graves, onde paciente possui uma área extensa de isquemia miocárdica, os achados do exame poderão incluir sudorese, pele fria e pálida, taquicardia sinusal, hipotensão e hipoperfusão periférica. Quando o SCA, todavia, manifesta-se como um IM sem supradesnivelamento de ST, os sinais e sintomas podem ser semelhantes aos do IM com supradesnivelamento de ST, dependendo do tamanho e da localização da lesão. O exame físico pode revelar, além disso, causas precipitantes ou fatores contribuintes para a angina ins- tável, como pneumonia ou hipertensão descontrolada. Diagnóstico Os pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) devem ser avaliados de maneira rápida e eficiente em conta da gravidade emergencial do quadro. Um diagnóstico imediato e acurado permite o início, no momento adequado, de uma terapia apropriada, medida de vital importância já que as complicações se acumulam nas fases precoces da SCA, e o tratamento apropriado reduz a taxa das possíveis complicações. Os pacientes com dor torácica que dura MAIS DE 20 MINUTOS, com INSTABILIDADE HEMODINÂMICA ou SÍN- COPE FRANCA/PRÉ-SÍNCOPE precisam ser encaminhados a uma unidade de emergência hospitalar. Outros paci- entes com suspeita de angina instável podem ser inicialmente observados em uma unidade de emergência ou em um serviço ambulatorial onde se possa obter um ECG de 12 derivações. Um eletrocardiograma (ECG) deve ser obtido o mais rápido possível na avaliação inicial de qualquer pa- ciente com suspeita de SCA. O rendimento diagnóstico é enormemente intensificado quando se registra um tra- çado durante o episódio de dor torácica. Um ECG normal durante a dor torácica não exclui a angina instável; contudo, indica que, caso haja uma área isquêmica, ela não apresenta extensão ou gravidade suficientes para produzir alterações no exame, e tal achado representa um sinal prognóstico favorável ao paciente. 31 O eletrocardiograma (ECG) destaca-se como o exame padrão ouro na suspeita de síndrome co- ronariana aguda, utilizado em conjunto com a medição sérica de troponina no diagnóstico diferencial da sín- drome. A avaliação inicial deve ser direcionada a determinar se os sintomas provêm ou não de uma isquemia miocárdica e, caso sejam, o nível de risco. A probabilidade de IAM pode ser estimada a partir do histórico, exame físico e ECG. Essas informações e a avaliação das características clínicas do paci- ente revelam se a probabilidade de os sinto- mas serem consequentes de uma isquemia miocárdio é alta, intermediária ou baixa. Com base nos resultados, a triagem inicial do paciente e seu tratamento devem ser deter- minados. No paciente com doença coronariana já diagnosticada, os sintomas típicos possuem alta probabilidade de provirem de uma is- quemia miocárdica, especialmente nos casos em que o indivíduo confirma que os sintomas atuais são idênticos aos dos episódios anteri- ores. Por outro lado, mesmo que a dor torá- cica demonstre algumas características típi- cas, é improvável que se relacione com isque- mia miocárdica no indivíduo jovem que não apresente fatores de risco para coronariopatias (tabela acima). O diagnóstico da angina instável tende ocorrer de modo mais difícil que o da angina estável devido à au- sência de alguns padrões distintos. A típica relação entre angina estável e esforço físico ou outras atividades estressantes constitui uma característica diagnóstica chave dessa angina que está ausente na instável. A SÍN- DROME CORONARIANA AGUDA, como comentado, tende a ser POUCO ALIVIADA PELA NITROGLICERINA, ao passo que a ANGINA ESTÁVEL SEMPRE RESPONDE A ELA. Ademais, a angina instável costuma apresentar maior duração e instabilidade do desconforto torácico. Esquematização gráfica do espectro da síndrome coronariana aguda (SCA), bem como os procedimentos a serem realizados para a resolução de diagnóstico correto. STEMI: infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST; NSTEMI: infarto agudo do miocárdio sem elevação do segmento ST; Adaptado de Hamm CW et al, 2011. 32 Em caso de suspeita de SCA em paciente com menos de 50 anos de idade, salienta-se importante investigar sobre o uso de COCAÍNA, independentemente da classe social ou raça. A cocaína, como dito no início do arquivo, pode causar vasoespasmo coronariano e trombose, além dos seus efeitos diretos sobre a frequência cardíaca e pressão
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