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Metodologia do Treinamento Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Cesar Miguel Momesso dos Santos Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Meios e Métodos de Treinamento Meios e Métodos de Treinamento • Prescrever estímulos de treinamento específico para cada capacidade física. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Introdução; • Métodos de Treinamento da Capacidade Aeróbia; • Método de Exercício de Carga Contínua; • Método de Exercício de Carga Intervalada; • Método de Exercício de Carga Mista; • Métodos de Treinamento da Capacidade Anaeróbia; • Métodos de Treinamento da Capacidade de Força; • Métodos de Treinamento da Capacidade de Flexibilidade. UNIDADE Meios e Métodos de Treinamento Introdução A realização de um exercício físico orientado para um objetivo (desenvolvimento das capacidades físicas) deve estar obrigatoriamente relacionada aos métodos de treinamen- to dentro de um processo organizado, garantindo, assim, a influência do trabalho desen- volvido e não ficar “na mão” do acaso sobre a melhora do desempenho. Como forma de estabelecer uma padronização de termos utilizados, podemos definir como meio de treinamento o que se utiliza, ao passo que quando nos referimos a métodos de treinamento, significa como se utiliza o meio nas sessões de treinamento, por exemplo, para se desenvolver a capacidade aeróbia para um corredor, por questão de especificidade é indicado utilizar como meio de treinamento a própria corrida, podendo empregar como mé- todo os exercícios contínuos (60 minutos de corrida moderada contínua) (GOMES, 2009). Em relação aos métodos de treinamento para o desenvolvimento das diferentes capa- cidades, abordaremos as seguintes: • Aeróbia; • Anaeróbia; • De Força; • De Flexibilidade. Métodos de Treinamento da Capacidade Aeróbia O exercício pode ser executado em diferentes regimes: contínuo (permanente), inter- valado ou misto, sendo que cada um desses métodos será caracterizado pelos parâmetros e pela disposição dos estímulos oferecidos, podendo ser constantes ou variáveis. Entre as variações possíveis estão os métodos de exercício de carga contínua, carga intervalada, carga mista (intervalado e contínuo), assim como exemplo exposto na Figura 1: Duração In te ns id ad e Mista Constante Crescente Crescente Decrescente Intervalada (com intervalos) Contínuo (sem intervalos) – Figura 1 – Exemplos da disposição de orientação das cargas de treinamento de acordo com o método contínuo, intervalado e misto 8 9 Método de Exercício de Carga Contínua Possui duração prolongada, sem alteração frequente ou de pouca magnitude de ritmo. Para o controle de intensidade são sugeridas diferentes possibilidades, entre as quais a utilização de parâmetros de frequência cardíaca, concentração de lactato e velocidade média de execução. Por ser caracterizada por longa duração, uma característica presente nesse método é a determinação do volume de treino, que pode ser controlado pelo tempo de duração e metragem total do exercício. Método de Exercício de Carga Intervalada Consiste em intercalar estímulos e recuperação dentro da mesma sessão de treina- mento, podendo ser desenvolvida tanto a capacidade aeróbia, como anaeróbia lática ou alática. Portanto, deve ser estruturado de acordo com o objetivo do treino. Além disso, esse método também é aplicado para desenvolver outras capacidades, tais como força, flexibilidade, movimentos técnicos e coordenação motora. A intensidade e o volume de treino devem estar relacionados aos objetivos propostos para a sessão de treino, sendo este método muito próximo de várias modalidades espor- tivas que possuem alternâncias constantes de vias metabólicas, os chamados esportes intermitentes, que variam entre o metabolismo aeróbio e anaeróbio, como no caso das modalidades de lutas e jogos coletivos. Método de Exercício de Carga Mista Como o próprio nome sugere, este método inclui a realização tanto do método con- tínuo, quanto do método intervalado na mesma sessão de treino. Em geral, é comum treinadores optarem por iniciar o treinamento com cargas inter- valadas e finalizar com cargas contínuas, priorizando, no início do treino, o sistema ana- eróbio alático, até por questão de nesse padrão de atividade a ativação muscular ser mais intensa, gerando maior recrutamento muscular, o que favorece o bom desenvolvimento da parte seguinte do treino, enfocando mais as características aeróbicas. Entretanto, essa sequência é livre e pode variar de diferentes maneiras, dependendo do esporte e o que é prioritário de se desenvolver naquela sessão de treinamento. Métodos de Treinamento da Capacidade Anaeróbia Como característica básica, já discutida, para se desenvolver a capacidade anaeróbia se faz necessária máxima intenção na execução de movimento, com predomínio do metabolismo glicolítico e/ou fosforilativo, o que envolve a realização de atividade de curta 9 UNIDADE Meios e Métodos de Treinamento a, no máximo, média duração (entre 5 e 120 segundos). Com essa característica um dos métodos mais utilizados para se desenvolver essa capacidade é o treinamento intervalado de alta intensidade, que em inglês ficaria High Interval Intensity Training (HIIT), que pode ser dividido nas seguintes categorias (Figura 2), de acordo com suas características: • Treinamento de alta intensidade longo (HIT-longo): considerado em atividades em que o indivíduo fique acima de 90% da sua capacidade máxima, e sustente essa ação motora por mais de 60 segundos; • Treinamento de alta intensidade curto (HIT-curto): considerado em atividades em que o indivíduo fique acima de 100% de sua capacidade máxima, não conse- guindo sustentar a atividade por mais de 60 segundos; • Treinamento de Sprint Repetido (RST): considerado em atividades onde o in- divíduo realize um bloco (repetições do estímulo com curto intervalo entre os estí- mulos), com intensidade entre 120 e 160% da capacidade máxima, com duração dos estímulos entre 15 e 45 segundos, sendo que após o término do bloco de re- petições será oferecido um intervalo completo (que permita recuperar os estoques energéticos), usualmente em torno de 5 minutos; • Treinamento Intenso de Sprint (SIT): considerado em atividades em que o indi- víduo realize um único sprint com intensidade superior a 160% da sua capacidade máxima com duração máxima de 10 segundos, sendo realizado logo após o sprint único em um intervalo completo (cerca de 5 minutos), para realizar outra série. HIT – Longo HIT – Curto RST – Sprint Repetido SIT – Sprint vVO2max vVO2max vVO2max vVO2max Figura 2 – Exemplos de modelos de treinamento intervalado de alta intensidade Fonte: Adaptada de LAURSEN e BUCHHEIT, 2018 Métodos de Treinamento da Capacidade de Força A capacidade de força está presente em todas as ações musculares que realizamos, entretanto, ela pode se apresentar de formas distintas; podemos, então, compreender que teremos métodos diferentes para cada uma das manifestações de força máxima, 10 11 potência e velocidade. Entre os métodos para o desenvolvimento da capacidade de força existe a possibilidade de se utilizar Repetições Máximas (RM), zona de treinamento por repetição, de modo que esses parâmetros auxiliarão na determinação de carga para o direcionamento do tipo de manifestação de força a ser desenvolvida, vejamos: • Métodos de treinamento de força máxima: caracteriza-se por apresentar uma intensidade de carga elevada e um tempo de contração suficientemente longo. Uma das características para auxiliar o desenvolvimento de força máxima pode ser con- seguida aumentando a área de seção transversa do ventre muscular (hipertrofia), com melhor coordenação intramuscular e principalmente com a combinação de diferentes estratégias, entre as quais: » Isométrico: considerado também como treinamento resistido estático, que promo- ve ação muscular sem alteração no comprimento total do músculo, ou seja, sem movimento visível, sendo necessárioque ocorra uma ação voluntária, utilizando a carga máxima possível de sustentar em determinada angulação do movimento, ou utilizando uma carga submáxima. Hettinger e Muller (1953) sugerem que as ações musculares voluntárias máximas devem utilizar ações isométricas com duração de 3 a 10 segundos, para resultar em ganho significativo de força. Uma das características do treinamento isométrico é a promoção da oclusão do fluxo sanguíneo que pode ser responsável em parte pelo acúmulo de metabólitos e da acidez, atualmente considera- dos formas de ativação das vias intracelulares para promover hipertrofia e consequen- temente ganho de força muscular (WERNBOM; AUGUSTSSON; THOMEE, 2007); » Isotônico: considerado também como exercício de resistência dinâmico, com ação muscular e alteração do comprimento muscular, utilizando resistência constante, ha- vendo as duas fases de contração – concêntrica e excêntrica. Usualmente realizados com pesos livres e em diversos equipamentos de treinamento com pesos. A tensão exercida pela musculatura se altera de acordo com o ângulo de movimentação da articulação. É comum para este tipo de treinamento resistido a utilização de séries de exercício que favoreçam a fadiga voluntária, ou ao menos se aproximem dela para desencadear os processos adaptativos para aumento da força muscular; » Isocinético: considerado um movimento realizado em uma velocidade angular cons- tante, não havendo carga específica a ser alcançada, uma vez que a velocidade de movimento é controlada, garantindo que a tensão gerada pelos músculos ao longo de diferentes angulações do movimento não se altere. Para a realização deste tipo de treino se faz necessário um equipamento específico, como o Cybex, de modo que uma limitação é a realização de apenas o movimento de uma única articulação, o que limita a transferência para ações motoras cotidianas, sendo mais utilizado para desenvolver força em grupamento muscular localizado. Outro método de treinamento para o desenvolvimento de força, mas direcionado para a força explosiva (potência) é a pliometria, que pode ser considerado como treino de potência envolvendo o ciclo alongamento-encurtamento, geralmente com a ideia de realização de exercícios de salto com o peso do corpo (Figura 3a), ou arremesso de uma sobrecarga como, por exemplo, medicine ball (Figura 3b). 11 UNIDADE Meios e Métodos de Treinamento Figura 3 – Exemplos de exercícios pliométricos: A) Salto com peso corporal; e B) Com sobrecarga arremesso de medicine ball Fonte: Adaptada de enjambre.gov.com Faz-se importante ressaltar que para se treinar de forma completa um movimento esportivo é necessário promover o desenvolvimento de todo o sistema neuromuscular, e para isso deve-se treinar toda a curva de força-velocidade concêntrica, da velocidade baixa, com elevados níveis de força, até a velocidade alta, com menores níveis de força. Como exemplo, para melhorar um salto vertical, que depende diretamente da potên- cia muscular, que é definida como força × velocidade, deve-se treinar na zona de força máxima (tanto concêntrica quanto excêntrica) com cargas pesadas, para melhorar o componente de força, assim como incluir exercícios com movimentos em altas velocida- des com baixas cargas, melhorando a força máxima e a taxa de produção de força e a potência, pois são necessárias para o incremento da capacidade de salto (KRAEMER; NEWTON, 2000). Dessa forma, um programa de treinamento adequado deve considerar o treinamento de força e potência, focando os principais grupos musculares, maximizando a especifi- cidade para criar a maior transferência possível para o esporte ou a atividade em que se deseja melhorar. Diversos fatores como técnica, coordenação, produção de força, taxa de produção de força e o ciclo alongamento-encurtamento podem influenciar o ganho de desempenho de força (NEWTON; KRAEMER, 1994). Métodos de Treinamento da Capacidade de Flexibilidade Considera-se exercício para melhorar a amplitude absoluta de movimento numa ar- ticulação ou série de articulações. O desenvolvimento dessa capacidade deve ser deter- minado de acordo com a modalidade esportiva, o objetivo e a capacidade de realizar em segurança os movimentos com sua atual Amplitude de Movimentos (ADM) e a postura, estando presente em diferentes graus nas mais variadas modalidades esportivas, assim como representado na Figura 4: 12 13 Figura 4 – Presença de diferentes graus de flexibilidade em distintas modalidades esportivas Fonte: Adaptada de Getty Images Diferentes fatores podem influenciar a capacidade de flexibilidade, tais como tipo de arti- culação; resistência interna na articulação; temperatura da articulação; condição de elastici- dade do tecido muscular etc., sendo que esses objetivos podem ser alcançados realizando os exercícios de forma ativa, com o próprio indivíduo buscando aumentar a ADM; ou de forma passiva, com o indivíduo recebendo uma força externa e auxiliando o aumento da ADM. Existem métodos distintos para desenvolver a flexibilidade: • Movimentos lentos: caracterizados com a realização de movimentos contínuos e lentos, sendo mais indicado para aquecimento do que para desenvolvimento da capacidade de flexibilidade; • Estático: tem por objetivo permitir o relaxamento da musculatura de forma volun- tária durante o alongamento do ventre muscular, sustentando por período a posição mais distendida do ventre muscular, buscando a maior amplitude articular, sustentan- do um leve desconforto pela amplitude aumentada da articulação. Roberts e Wilson (1999) sugerem que a manutenção da tensão imposta pelo alongamento estático por períodos de 15 segundos é mais eficaz para aquisição de maior ADM de forma ativa. Propondo, então, que o alongamento entre 15 e 30 segundos seja realizado de 3 a 5 vezes na semana, parecendo ser o ideal para esse método estático; • Dinâmico: conhecido também como exercícios balísticos, caracterizados por en- volver movimentos dinâmicos com grande velocidade e exigindo toda amplitude de movimentos nas articulações envolvidas, finalizando o movimento na posição alon- gada. Não há ainda um consenso sobre o volume total de exercícios para promover adaptações positivas na flexibilidade; • Facilitação neuroproprioceptiva: caracterizada por envolver diferentes ações como alongamento – contração muscular voluntária – relaxamento partindo do princípio de que: » Alongamento promove deformação do fuso muscular, sendo estimulado durante o alongamento, informando a medula espinhal, disparando uma ação para au- mentar a contração das fibras musculares, protegendo o músculo de um alonga- mento excessivo, limitando o ganho de ADM da articulação; » Contração muscular voluntária promove aumento da tensão muscular, ativando a estrutura sensorial presente nas estruturas tendíneas, denominadas Órgão Tendinoso de Golgi (OTG), que reconhecem o aumento de tensão no ventre muscular e leva a informação para inibir a contração das fibras musculares; » Relaxamento é promovido pela atuação do OTG, gerando inibição da contração muscular, permitindo um momento oportuno para uma ação externa, com au- mento da ADM. 13 UNIDADE Meios e Métodos de Treinamento Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Alongamento diário – Exercícios de mobilidade e flexibilidade https://youtu.be/i2sN8akjdk8 High Intensity Interval Training (HIIT) – Maximum Results, Minimum Time https://youtu.be/2GgKm_54kXI Plyometric exercises – 23 Plyo Variations https://youtu.be/dvggf9hPwtM Leitura Respostas fisiológicas durante o exercício contínuo e intermitente: implicações para a avaliação e a prescrição do treinamento aeróbio https://bit.ly/2R2O04Q 14 15 Referências GOMES, A. C. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. 2. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, [20--?]. KRAEMER, W. J.; NEWTON, R. U. Training for muscular power. Physical and Medical Rehabilitation Clinics of North America,n. 11, p. 341-368, 2000. LAURSEN, P.; BUCHHEIT, M. Science and application of high-intensity interval trai- ning: solutions to the programming puzzle. Champaign, IL, USA: Human Kinetics, 2018. NEWTON, R. U.; KRAEMER, W. J. Developing explosive muscular power: implications for a mixed methods training strategy. Journal of Strength and Conditioning Research, n. 16, p. 20-31, 1994. ROBERTS, J. M.; WILSON, K. Effect of stretching duration on active and passive range of motion in the lower extremity. British Journal of Sports Medicine, n. 33, p. 259- 263, 1999. WERNBOM, M.; AUGUSTSSON, J.; THOMEE, R. The influence of frequency, inten- sity, volume and mode of strength training on whole muscle cross-sectional area in humans. Sports Medicine, n. 37, p. 225-264, 2007. 15
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