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ARTIGO 2 REQUISITOS PARA INTERCEPÇÕES TELEFÔNICAS

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Requisitos do artigo 2º 
 
 
I - Não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal 
 
Considerando estarmos diante de uma medida invasiva e tangenciando proteção 
constitucional, a lei previu o mínimo de fundamentos para se iniciar uma investigação 
desse porte. A doutrina chama de fumus commissi delicti 1a valoração de indícios para a 
instrução do pedido de interceptação. 
 
Obviamente que tal valoração de indícios para a representação destinada à Autoridade 
Judiciária vai variar de caso a caso, e, por vezes, até mesmo em casos envolvendo delação 
anônima poderá ser autorizado, desde que devidamente instruída com as verificações 
preliminares. 
 
O Informativo do STF nº 855, de 3 de março de 2017, trouxe importante decisão 
relacionada à interceptação telefônica realizada com base em delação anônima: 
 
Direito Processual Penal – Nulidades 
 
Instauração de investigação criminal e determinação de interceptações 
telefônicas com base em denúncia anônima 
 
A Segunda Turma denegou a ordem em "habeas corpus" em que se 
pretendia o reconhecimento da ilegalidade de ação penal e de 
interceptações telefônicas iniciadas a partir de denúncias anônimas. 
 
No caso, o Ministério Público estadual, após receber diversas denúncias 
anônimas de prática de crimes e seus possíveis autores, procedeu a 
investigações preliminares, com a oitiva informal de testemunhas. Diante 
da verossimilhança das alegações, instaurou procedimento de 
investigação no qual foi requerida quebra do sigilo telefônico dos 
envolvidos. 
 
Por essa razão, o paciente foi denunciado pela suposta prática dos 
crimes de associação criminosa e corrupção ativa (duas vezes), previstos 
nos arts. 288 e 333 do CP, e de fraude à licitação (cinco vezes), previsto 
no art. 90 da Lei 8.666/1993. 
 
 
1 Pode se entender por Fumus Commissi Delicti a comprovação da existência de um crime e indícios 
suficientes de autoria. É a fumaça da prática de um fato punível. A prova, no limiar da ação penal, pode ser 
entendida como grande aproximação à probabilidade da ocorrência do delito, ela não precisa ser exaustiva. 
Quanto à autoria, são suficientes indícios para a presença de tal instituto. A existência do crime requer 
elementos mais concretos para sua afirmação, enquanto a autoria trabalha com a suficiência de indícios. 
 
Nota de Juliana Zanuzzo dos Santos. Disponível em: 
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121923880/o-que-se-entende-por-fumus-commissi-delicti 
 
https://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/121923880/o-que-se-entende-por-fumus-commissi-delicti
 
 
 
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Os impetrantes sustentavam que, por terem sido iniciadas a partir de 
denúncias anônimas — sem a comprovação da realização de diligências 
preliminares nos autos —, as investigações preliminares (portaria e 
procedimento investigativo criminal) e o procedimento relativo às 
interceptações telefônicas deveriam ser declarados nulos. Alegavam, 
ainda, que as interceptações telefônicas não teriam atendido às regras e 
condições estabelecidas pela Lei 9.296/1996. 
 
A Turma rememorou entendimento do STF no sentido de que a 
denúncia anônima é válida, quando as investigações se valem de outras 
diligências para apurar a “delatio criminis”. 
 
Asseverou que a necessidade das interceptações telefônicas foi 
devidamente demonstrada pelo juiz natural da causa, bem como que 
havia indícios suficientes de autoria de crimes punidos com reclusão, 
conforme exigido pelo art. 2º da Lei 9.296/1996. 
 
Quanto às prorrogações das interceptações telefônicas, ponderou que a 
Corte tem admitido a razoável dilação dessas medidas, desde que 
respeitado o prazo de quinze dias entre cada uma das diligências, o que 
não caracteriza desrespeito ao art. 5º da Lei 9.296/1996. 
 
Ressaltou, por fim, que o indeferimento de diligências pelo magistrado de 
primeiro grau não configura cerceamento de defesa. Afinal, o art. 400, § 
1º, do CPP (§ 1º “As provas serão produzidas numa só audiência, 
podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou 
protelatórias”) prevê a possibilidade de o juiz indeferir provas 
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias, sem que isso 
implique nulidade da respectiva ação penal. Sustentou que a discussão 
sobre o acerto ou desacerto dessa decisão exigiria exame aprofundado 
dos fatos e provas da causa, o que não se mostra viável em “habeas 
corpus”, que não admite dilação probatória. 
 
HC 133148/ES, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 
21.2.2017. (HC-133148) 
 
 
II - A prova puder ser feita por outros meios disponíveis 
 
Quando, na investigação criminal, a obtenção das provas puder ser feita com a utilização de 
outros meios, como a prova testemunhal, pericial, obtenção de imagens etc., a lei vedará a 
interceptação. 
 
Tal lógica se dá conforme a previsão constitucional de se preservar o máximo possível a 
intimidade das pessoas, até porque, quando se intercepta a conversa de uma pessoa, 
consequentemente se estará invadindo a intimidade do investigado e de outras pessoas do 
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=133148&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=133148&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M
 
 
 
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relacionamento do mesmo, e com a possibilidade de se captar elementos fora do objetivo da 
obtenção de prova. 
 
Importante ainda esclarecer que uma investigação envolvendo interceptação telefônica possui um 
grau relativo de complexidade, como equipe técnica de análise, equipe externa de diligências e 
equipamentos tecnológicos, ou seja, haverá a necessidade de investimento em recursos humanos 
e suporte logístico, além de tempo de análise. 
 
A lei, então, previu que se evite todo um desgaste na obtenção de provas, que podem 
perfeitamente ser obtidas por meios mais céleres e menos invasivos. Se deixar, haverá a 
possibilidade de um investigador, tentando elucidar um crime, recorrer a técnicas das mais 
dispendiosas e exóticas possíveis de se imaginar, como, por vezes, vemos em filmes de 
espionagem nos cinemas. 
 
 
III - O fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção 
 
Aqui percebemos a intenção do legislador em se evitar que crimes de baixa potencialidade sejam 
investigados com recursos de interceptação, graduando, portanto, a gravidade do crime com os 
recursos disponíveis para a elucidação. 
 
Somente se permitindo, portanto, que delitos com previsão de reclusão sejam investigados com a 
técnica da interceptação. Já imaginaram empenhar uma equipe de diversos agentes em uma 
escala de monitoramento de 24 horas para apurar a contravenção de carteado que esteja 
ocorrendo em uma praça pública na Cidade?