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15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 1/39 Aspectos peculiares da interceptação telefônica Prof.ª Bruna Figueira Marchiori Descrição Abordagem de particularidades da interceptação telefônica, sob a ótica legal e jurisprudencial. Propósito A interceptação telefônica é um importante meio de obtenção de prova, sendo frequentemente utilizada na investigação criminal ou na instrução processual penal. O conhecimento das peculiaridades do procedimento assume grande relevância para os alunos que futuramente desejem exercer profissões jurídicas nesta área. Preparação Para iniciar os estudos deste assunto, você deverá acessar a Constituição da República e a Lei nº 9.296/96, ambas disponíveis no sítio eletrônico planalto.gov. Objetivos Módulo 1 Regulamentação das hipóteses e formas da interceptação telefônica 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 2/39 Identificar os procedimentos e as novidades legislativas referentes à interceptação telefônica. Módulo 2 Aspectos peculiares da interceptação Reconhecer a caracterização da prova obtida pela interceptação telefônica e os debates mais recentes sobre o tema. Introdução O tema das interceptações telefônicas é um dos assuntos mais polêmicos do cenário jurídico atual, tendo sido pano de fundo de diversos debates jurisprudenciais recentes e de importantes novidades legislativas nos últimos anos. Diante da atual relevância adquirida pelos meios de comunicação telefônica e telemática na interlocução das pessoas, a interceptação passa a ser uma poderosa ferramenta de prova à disposição do processo penal e de seus agentes para a elucidação de crimes. Por isso, analisaremos com profundidade os termos da Lei Federal nº 9.296/96, que dispõe sobre a interceptação telefônica no plano infraconstitucional e elenca seus requisitos, bem como as principais novidades legislativas que alteraram dispositivos da referida Lei, notadamente as Leis Federais números 13.869/2019 e 13.964/2019, esta última consagrada como “Lei Anticrime” ou “Pacote Anticrime”. Além disso, veremos detalhadamente o cenário em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 59/2008 e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) a Resolução nº 36/2009, ambas formatadas com o intuito de regulamentar, no complexo de atribuições dos dois órgãos, o procedimento da interceptação telefônica. Por fim, discutiremos os debates mais recentes travados nos tribunais brasileiros acerca da interceptação telefônica, com enfoque na jurisprudência mais atualizada dos Tribunais Superiores sobre temas polêmicos que envolvem esse meio de obtenção de prova. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 3/39 1 - Regulamentação das hipóteses e formas da interceptação telefônica Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os procedimentos e as novidades legislativas referentes à interceptação telefônica. A Lei Federal nº 9.296/96 O direito ao sigilo das comunicações, expresso no inciso XII do art. 5º da Constituição da República, traz como regra que os indivíduos possuem a garantia de confidencialidade do conteúdo de suas comunicações, não devendo o Estado ou terceiros invadirem essa esfera de liberdade, que advém do direito fundamental à privacidade. [...] é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegrá�cas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para �ns de investigação criminal ou instrução processual penal. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 4/39 (art. 5º, inciso XII, CF/88) Nota-se do texto que o legislador constituinte reservou ao plano infraconstitucional, isto é, à lei propriamente dita, a regulamentação das hipóteses e forma da interceptação telefônica, a ocorrer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Coube à Lei Federal nº 9.296, de 24 de julho de 1996, regulamentar o dispositivo constitucional e dispor sobre esse meio de obtenção de prova. Assim, a Lei nº 9.296/1996 tem como objeto a interceptação de comunicações telefônicas de qualquer natureza (art. 1º, caput), inclusive no que se refere à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática (art. 1º, parágrafo único). É claro que, com a difusão de novas tecnologias, não se pode restringir o objeto da interceptação a uma simples conversa por telefone. A própria Lei nº 9.472/1997, que disciplina a organização dos serviços de telecomunicações, define, em seu art. 60, §1º, que telecomunicação é a: [...] transmissão, emissão ou recepção, por �o, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza. (BRASIL, 1997, art. 60. §1º) Foi nesse sentido que decidiu a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento do Recurso em Habeas Corpus (RHC) nº 18.116/SP (j. 16/02/2006, DJ 06/03/2006 p. 443) ao afastar a tese de violação ao sigilo das comunicações quando as conversas são realizadas em salas de bate papo da Internet, uma vez que, nesse 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 5/39 ambiente, há acesso irrestrito e destinado a conversas informais entre os internautas. Logo, por causa da amplitude terminológica que advém da expressão “qualquer natureza”, contida no caput do art. 1º da Lei nº 9.296/96, é prudente concluir que a lei objetiva disciplinar tanto as interceptações telefônicas (propriamente ditas, ou stricto sensu) quanto a interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Isto é, de meios mais modernos de comunicação telefônica, como e-mails e aplicativos de mensagens, que não eram tão predominantes no momento da edição da Lei nº 9.296, dada a evolução tecnológica ocorrida nas últimas duas décadas. A interceptação de comunicações telefônicas sempre será determinada por um juiz de direito, seja de ofício ou a requerimento da autoridade policial – na investigação criminal – ou do representante do Ministério Público – tanto na investigação criminal quanto na instrução processual penal (art. 3º). [...] qualquer decisão judicial deve ser devidamente fundamentada, sob pena de nulidade. (art. 93, inciso IX, CF/88) 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 6/39 Considerando que a Constituição Federal atribuiu exclusividade ao Poder Judiciário para determinar a interceptação telefônica (art. 5º, inciso XII), cabe ao Juiz, quando provocado pela autoridade policial, pelo representante do Órgão Ministerial ou até mesmo quando verifique a necessidade de impor a medida de ofício, justificar suas razões para que a interceptação telefônica aconteça. O texto constitucional apenas ressalva a exclusividade do Poder Judiciário, neste ponto, nas hipóteses de Estado de Defesa (art. 136, §1º, inciso I, alínea c) e de Estado de Sítio (art. 139, inciso III), períodos nos quais a própria Constituição autoriza a restrição de certas garantias. Assim, estando num contexto de plenitude do Estado Democrático de Direito, considerando o caráter mais gravoso da interceptação telefônica a direitos fundamentais, se comparada a outros meios de obtenção de prova, é preciso que fique muito bem demonstrada a sua necessidade. Além disso, devem ser previamente indicados os meios a serem empregados no procedimento, bem como a situação que será objeto da investigação precisa ser descritade forma clara, qualificando o(s) investigado(s), exceto se isso for impossível, mediante devida justificativa capaz de atestar a impossibilidade da qualificação (art. 2º, parágrafo único). Re�exão Um ponto que pode suscitar dúvida ao aluno neste momento é o seguinte: como determinar, no momento da investigação criminal, quando ainda não foi oferecida denúncia pelo Ministério Público e sequer há relatório conclusivo elaborado pelo delegado de polícia sobre os fatos apurados, qual o juiz competente para apreciar o pedido de interceptação telefônica? No julgamento do Habeas Corpus (HC) nº 81.260/ES, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence, j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002, o STF decidiu que a análise do juízo competente para apreciar a medida no curso de investigação criminal é empreendida conforme os elementos de prova até então conhecidos e existentes. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 7/39 Ministro Sepúlveda Pertence. Havendo fato superveniente que altere a competência do órgão jurisdicional no que diga respeito à ação penal principal, o conteúdo da interceptação é válido. Veja trecho do voto do Relator do HC, Min. Sepúlveda Pertence: “[...] quando, no entanto, a interceptação telefônica constituir medida cautelar preventiva, ainda no curso das investigações criminais, a mesma norma de competência há de ser entendida e aplicada com temperamentos, para não resultar em absurdos patentes: aí, o ponto de partida à determinação da competência para a ordem judicial de interceptação – não podendo ser o fato imputado, que só a denúncia, eventual e futura, precisará –, haverá de ser o fato suspeitado, objeto dos procedimentos investigatórios em curso. [...] Não induz à ilicitude da prova resultante da interceptação telefônica que a autorização provenha de Juiz Federal – aparentemente competente, à vista do andamento delas.” (STF, HC 81.260/ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002) 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 8/39 A interceptação telefônica como ultima ratio. Das vedações legais à interceptação telefônica A Lei nº 9.296/96 veda a interceptação telefônica quando (art.2º): Inciso I Não há indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal. Inciso II A prova puder ser feita por outros meios disponíveis. Inciso III O fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Estes podem ser chamados de requisitos negativos da interceptação telefônica. Em função disso, a doutrina aponta o caráter de ultima ratio da interceptação telefônica, que nada mais significa que, no universo dos meios de obtenção de prova, a interceptação é o último recurso a ser empregado na investigação criminal ou na instrução processual penal para servir de fonte para produção de prova. Quando o parágrafo único do mesmo dispositivo obriga que o magistrado descreva com clareza a situação objeto da investigação, inclusive indicando e qualificando os investigados. Exemplo Uma decisão que defere a interceptação telefônica de um indiciado por lesão corporal de natureza grave – crime punido com pena de reclusão –, é preciso descrever objetivamente o local onde ocorreu a ofensa à integridade da vítima, o agente que assim procedeu, como foi a ação delitiva – modus operandi –, se o indiciado se valeu de algum objeto para lesionar o ofendido, quais indícios já existem a respeito da autoria e da participação etc. É curioso observar da leitura fria do art. 3º da Lei nº 9.296/96 que a defesa técnica não pode requerer ao juiz a interceptação telefônica, por exemplo, de um outro suspeito ou da suposta vítima da infração penal, já que o artigo – e a lei como um todo – foi silente a respeito. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 9/39 Isso não exclui, entretanto, a possibilidade de que a defesa do acusado ou do investigado provoque a quem de direito – leia-se: a autoridade policial ou o representante do Ministério Público – para que esses legitimados, exercendo a atribuição conferida pelo mencionado dispositivo legal, requeiram a interceptação telefônica ao magistrado, na hipótese de entenderem que a medida é realmente cabível. Sabemos que a decisão judicial que autoriza a interceptação deve ser prévia, isto é, não se admite que a autoridade policial intercepte para que somente depois se busque a chancela do Judiciário. Renato Brasileiro de Lima, em seu Legislação criminal especial comentada, vai além, ao ensinar que: [...] não é válida a interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial, ainda que haja posterior consentimento de um dos interlocutores para ser tratada como escuta telefônica e utilizada como prova em processo penal. [...] Logo, o fato de um dos interlocutores dos diálogos gravados de forma clandestina ter consentido posteriormente com a divulgação dos seus conteúdos não tem o condão de legitimar o ato, pois, no momento da gravação, não tinha ciência do artifício que foi implementado pelo responsável pela interceptação. (LIMA, 2019, p. 446) É requisito para a interceptação telefônica que a ação penal tenha natureza pública? Definitivamente, não. A Lei nº 9.296/96 não faz distinção entre a espécie da ação penal, apenas que a medida pode ocorrer durante a instrução criminal ou no decorrer da instrução processual, sendo a infração punida com pena de reclusão. Assim, é plenamente possível que, por analogia, o querelante – assim chamado aquele particular que inicia a ação penal privada com a apresentação de uma queixa-crime – requeira a interceptação telefônica ao juiz de direito competente, preenchidas as formalidades legais. Dos prazos de duração e determinação da interceptação 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 10/39 telefônica A decisão do juiz que defere a interceptação telefônica tem natureza interlocutória. Decisão interlocutória é compreendida como um pronunciamento judicial de natureza decisória que não põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, na forma do §2º do art. 203 do Código de Processo Civil (CPC). Lembre-se de que, em função de o Código de Processo Penal (CPP) não dispor a respeito do que vem a ser uma decisão interlocutória, aplica-se por analogia o conceito contido no diploma processual civil ao processo penal àqueles pronunciamentos judiciais que possuem carga decisória, mas que não resolvem o processo, seja reconhecendo a absolvição ou a condenação do acusado. O conceito de decisão interlocutória trazido neste momento é importante pra que o aluno perceba o caráter urgente da interceptação telefônica, uma vez que o art. 800, inciso II, do CPP preceitua que o juiz resolverá a questão por meio de decisão interlocutória simples em 5 (cinco) dias, enquanto a Lei nº 9.296/96, especial à interceptação, enuncia no seu art. 4º, §2º, que o juiz decidirá sobre o pedido da interceptação no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, ou seja, em espaço temporal ainda mais breve. A exiguidade do prazo, portanto, reforça a natureza urgente da medida. Por quanto tempo pode durar a interceptação telefônica? Segundo o art. 5º da Lei nº 9.296/96, até 15 (quinze) dias a partir do dia em que a medida se concretiza no mundo dos fatos, sendo renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de obtenção de prova. Ou seja, a renovação não é automática. É preciso que, no requerimento, o legitimado justifique de forma robusta as razões que autorizam a renovação da medida cautelar, comprovando que ela é indispensável. O que acontece depois que o juiz defere o pedido da interceptação telefônica? A autoridade policial que executará adiligência dá ciência ao Ministério Público, que poderá – trata-se de uma faculdade – acompanhar a sua realização ( t 6º t) C dili ê i ibilit 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 11/39 Uma vez cumprida a interceptação telefônica, a autoridade policial encaminhará seu resultado ao magistrado competente, acompanhado de auto circunstanciado, contendo o resumo das operações realizadas (§2º). Ao receber todos esses elementos, o juiz determinará que eles sejam apensados aos autos do inquérito criminal (investigação) ou do processo criminal (instrução processual), já que a interceptação ocorrerá em autos apartados dos principais, sendo garantido o sigilo das diligências, gravações e transcrições (art. 8º, caput). Procedimento da interceptação telefônica – Resolução nº 59/2008 do CNJ O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é um órgão do Poder Judiciário (art. 92, inciso I-A, da Constituição Federal), sediado em Brasília, com a competência de exercer o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, aquelas elencadas nos incisos do §4º do art. 103-B da Constituição da República. Foi com fundamento nesse dispositivo constitucional que o CNJ editou a Resolução nº 59, de 9 de setembro de 2008, com intenção de disciplinar e uniformizar as rotinas nos órgãos jurisdicionais do Poder Judiciário com vistas a aperfeiçoar o procedimento de comunicações telefônicas de sistemas de informática e telemática, conforme a Lei nº 9.296/96. É bom mencionar que a Resolução nº 59/2008 do CNJ foi editada após a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados conhecida como “CPI das Escutas Telefônicas”, que, inicialmente, tinha como objeto a investigação de denúncia de que Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam sido vítimas de grampo ilegal, após reportagem da (art. 6º, caput). Caso a diligência possibilite gravar a comunicação interceptada, ela será transcrita (§1º), assim como é possível que a autoridade policial requisite serviços e técnicos especializados às concessionárias de serviço público (art. 7º). 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 12/39 revista “Veja”, em edição do mês de agosto de 2007. Até então, era precário o controle sobre a qualidade e quantidade dos grampos telefônicos realizados no país pelo Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal. Mais recentemente, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.145/DF, o Plenário do STF confirmou a constitucionalidade da Resolução nº 59/2008 do CNJ, tendo ressalvado somente o enunciado do art. 13, §1º, que, ao regular as medidas apreciadas pelo plantão judiciário, assim dispunha: Art. 13. Durante o Plantão Judiciário as medidas cautelares sigilosas apreciadas, deferidas ou indeferidas, deverão ser encaminhadas ao Serviço de Distribuição da respectiva comarca, devidamente lacradas. [...] § 1º Não será admitido pedido de prorrogação de prazo de medida cautelar de interceptação de comunicação telefônica, telemática ou de informática durante o plantão judiciário, ressalvada a hipótese de risco iminente e grave à integridade ou à vida de terceiros, bem como durante o Plantão de Recesso previsto no artigo 62 da Lei nº 5.010/66. (BRASIL, 2008, art. 13, §1º) Segundo a Corte Constitucional, o CNJ foi além de sua competência normativa ao ir de encontro à competência legislativa da União (art. 22, inciso I, CF/88) para editar normas processuais, à competência legislativa estadual (art. 125, §1º, CF/88) de editar leis de organização judiciária locais, bem como ao art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da República, quanto à inafastabilidade da jurisdição. O Min. Relator da ADI, Edson Fachin, adotou as seguintes premissas no julgamento: O Conselho Nacional de Justiça é órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura, com t t 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 13/39 É interessante que você leia integralmente a Resolução nº 59/2008 do CNJ, disponível no sítio eletrônico da instituição. Ainda assim, podemos fazer uma breve síntese do procedimento com os seguintes pontos: natureza meramente administrativa. É possível ao Conselho regular as rotinas cartorárias dos órgãos do Poder Judiciário, desde que isso não implique estender, para além da reserva legal, as hipóteses legalmente autorizadas de interceptação das comunicações. É vedado ao Conselho Nacional de Justiça criar obrigações que se estendam a órgãos estranhos ao Poder Judiciário. Art. 2º Os pedidos de interceptação de comunicação telefônica, telemática ou de informática serão acondicionados em envelope lacrado contendo todos os documentos necessários. Art. 3º Na parte exterior do envelope, será colada folha de rosto contendo somente as informações: “medida cautelar sigilosa” (art. 3º, inciso I), delegacia de origem ou órgão do Ministério Público (art. 3º, inciso II) e comarca de origem da medida (art. 3º, inciso III). 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 14/39 Art. 4º É proibido indicar o nome do requerido, a natureza da medida ou qualquer outra anotação na folha de rosto colada na parte exterior do envelope. Art. 5º Outro envelope menor, também lacrado, contendo em seu interior apenas o número e o ano do procedimento investigatório ou do inquérito policial, deverá ser anexado ao envelope lacrado. Art. 6º O Distribuidor e o Plantão Judiciário não poderão receber os envelopes que não estejam devidamente lacrados. Art. 9º Feita a distribuição por meio do sistema informatizado local, a medida cautelar sigilosa será remetida ao Juízo competente, imediatamente, sem violação do lacre do envelope, que apenas será aberto pelo escrivão ou o responsável pela autuação do expediente e registro dos atos processuais, conforme autorização prévia do magistrado, para que conclua a apreciação do pedido. Art. 12º As operadoras de telefonia precisam confirmar com o Juízo os números cuja efetivação fora deferida e a data em que fora efetivada a interceptação, para fins do controle judicial do prazo. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 15/39 É de suma importância a leitura dos arts. 10, 15, 16 e 17 da Resolução nº 59/2008, que tratam, respectivamente, dos requisitos que o magistrado fará constar na decisão que defere a medida cautelar da interceptação (art. 10), do transporte dos autos para fora das unidades do Poder Judiciário (art. 15), e da obrigação de sigilo e da responsabilidade dos agentes públicos (arts. 16 e 17). Da Resolução nº 36/2009 do CNMP Por sua vez, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com competência de controlar a atuação administrativa e financeira do Órgão Ministerial e o cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe os deveres dos incisos do §2º do art. 130-A da Constituição Federal, editou a Resolução nº 36/2009, que dispõe sobre o pedido e a utilização das interceptações telefônicas, no âmbito do Ministério Público, nos termos da Lei nº 9.296/96. Art. 14º Havendo pedido de prorrogação de prazo pela autoridade competente, deverão ser apresentados os áudios (CD/DVD) com o inteiro teor das comunicações interceptadas, as transcrições das conversas relevantes à apreciação do pedido de prorrogação e o relatório circunstanciado das investigações com seu resultado. §1º, art. 14 Devem ser observados osestritos termos e limites temporais fixados no art. 5º da Lei nº 9.296/96. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 16/39 Sede do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em Brasília. Saiba mais Para se aprofundar, recomenda-se a leitura da referida resolução, declarada constitucional pelo Plenário do STF no julgamento da ADI nº 4.263/DF, não tendo o CNMP, no entendimento da Corte Constitucional, ido além do seu poder regulamentar, disciplinando somente a conduta do Ministério Público nos casos de interceptação telefônica, sem inovar no ordenamento jurídico penal. O procedimento da interceptação telefônica à luz da Lei nº 9.296/96 De posse de todas essas informações, confira um breve quadro sinóptico com o procedimento da interceptação telefônica, nos moldes da Lei nº 9.296/96: Requerimento da interceptação telefônica É feito pela autoridade policial ou pelo Representante do Ministério Público. Análise do juiz O juiz verifica os requisitos do art. 4º e defere ou não o pedido, no prazo máximo de 24 horas. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 17/39 Novidades legislativas: Leis Federais 13.869/2019 e 13.964/2019 A Lei nº 13.964/2019, conhecida como “Lei Anticrime” ou “Pacote Anticrime”, entrou em vigor no mês de janeiro de 2020 com o intuito de aperfeiçoar a legislação penal e processual penal em meio a um Decisão pelo deferimento A decisão judicial será fundamentada, sob pena de nulidade. Mesmo sem provocação, o juiz pode determinar a interceptação. Execução da interceptação Sob segredo de justiça, a autoridade policial executará a medida, dando ciência ao Ministério Público, que pode acompanhá-la. Apensamento aos autos O juiz determinará o apensamento da interceptação aos autos do inquérito policial ou do processo, preservando o sigilo do seu conteúdo. Encaminhamento ao juiz A autoridade policial encaminha o resultado da interceptação ao juiz, acompanhada de auto circunstanciado. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 18/39 crescente desejo da população brasileira por mais rigor na repressão ao crime. Entre as novidades, foram acrescidos dois artigos à Lei nº 9.296/96: Os incisos do referido dispositivo legal elencam dois requisitos imprescindíveis para a captação ambiental: A prova não pode ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes, ou seja, distintos da captação. Existência de elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em caso de crimes conexos. O requerimento das autoridades legitimadas precisa descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação de captação ambiental (§1º), que poderá ser realizada, quando necessário, por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto em “casa”, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da Constituição da República (§2º). Além disso, a captação é autorizada em intervalos de até 15 (quinze) dias, podendo ser renovada por decisão do juiz competente por período idêntico, desde que se prove a Art. 8º-A Permite a captação ambiental de sinais eletromagnéticos ópticos ou acústicos para investigações e instruções criminais quando houver requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público e, posteriormente, decisão do juiz de direito competente para apreciá-lo. Art. 10-A Incluiu um novo tipo penal à Lei das Interceptações Telefônicas. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 19/39 indispensabilidade da captação e que a atividade criminal é permanente, habitual ou continuada. Quando as regras para a captação ambiental se mostrarem insuficientes, o §5º do art. 8º-A permite que sejam aplicadas as normas relativas à interceptação telefônica e telemática ao caso, de forma subsidiária. Cabe dizer que, antes da Lei Anticrime, já existia no ordenamento jurídico brasileiro a figura da “captação e interceptação ambiental”, inaugurada pela Lei nº 10.217/2001. Essa Lei alterou dispositivos da Lei nº 9.034/1995, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Ela acrescentou nova redação ao art. 2º desta última para autorizar, em qualquer fase de persecução criminal: [...] a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial. (BRASIL, 2001, art. 2º) Ocorre que a “interceptação entre presentes”, apesar de nominada pela Lei nº 10.217/2001, não teve seu procedimento regulamentado por lei alguma. Somente com o advento do Pacote Anticrime que a sua disciplina foi, de fato, sedimentada na legislação penal processual. Voltando à Lei nº 13.964/2019, o seu art. 10-A origina um novo tipo penal, na hipótese em que o agente realiza captação ambiental (aquela ação do art. 8º-A) sem autorização judicial, quando esta for exigida. A pena para o crime é de reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Propositalmente ou não, o próprio tipo prevê que a captação ambiental em tela acontece para fins de investigação ou instrução criminal e que o juiz de direito a autorize, o que se amolda aos próprios requisitos do art. 8º-A para a captação. Enquanto o §1º do art. 10-A dispõe que, caso um interlocutor realize a captação, não está configurado o crime do caput, o §2º traz hipótese de causa de aumento de pena quando o funcionário público descumpre determinação de sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou revele o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial, sendo a pena do caput aplicada em dobro. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 20/39 Outra recente atualização da Lei nº 9.296/96 adveio da Lei nº 13.869/2019, que incluiu – para responsabilizar a autoridade judicial que determina a execução da conta prevista no caput, acima reproduzida, com objetivo não autorizado em lei – o parágrafo único no art. 10: [...] constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. (BRASIL, 2019, art. 10) A pena, neste caso, é aplicada no mesmo patamar: reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Regulamentação das hipóteses e formas da interceptação telefônica Neste vídeo, vamos refletir sobre as formas e hipóteses da interceptação telefônica, a partir da análise da Lei n. 9.296/96, bem como da análise das alterações trazidas pela Lei n. 13.964/19º (Pacote Anticrime). 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 21/39 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (CESPE/CEBRASPE – PC-PB – Delegado de Polícia – 2009) Assinale a opção correta com base na legislação sobre a interceptação telefônica. A A interceptação das comunicações telefônicas pode ser determinada pelo juiz, a requerimento da 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 22/39 Parabéns! A alternativa C está correta. Trata-se de reprodução sintonizada com o inciso III do art. 2º da Lei nº 9.296/96. Se o fato investigado constitui infração penal punida, no máximo, com pena de detenção, é vedada a interceptação de comunicações telefônicas. Esse é um dos requisitos negativospara a medida. Questão 2 Segundo o art. 10-A da Lei nº 9.296/96, inserido pela Lei nº 13.964/2019 (Lei Anticrime), assinale a opção correta. autoridade policial, na investigação criminal ou na instrução processual penal. B O pedido de interceptação das comunicações telefônicas deve ser feito necessariamente por escrito. C Não se admite interceptação das comunicações telefônicas quando o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. D Somente após o trânsito em julgado da sentença penal pode a gravação ser inutilizada, mediante decisão judicial, ainda que não interesse a prova. E Ainda que a diligência possibilite a gravação da comunicação interceptada, é dispensada a transcrição da gravação. A O incidente de inutilização da interceptação será assistido pelo Ministério Público. B Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 23/39 Parabéns! A alternativa D está correta. O §2º do art. 10-A da Lei nº 9.296/96, um dos dispositivos incluídos pela chamada “Lei Anticrime” na Lei de Interceptação Telefônica, preceitua uma causa de aumento de pena, sendo ela aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial. 2 - Aspectos peculiares da interceptação Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a caracterização da prova obtida pela interceptação telefônica e os debates mais recentes sobre o tema. segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. C A pena cominada ao tipo penal é de reclusão, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa. D A pena será aplicada em dobro ao funcionário público, na forma da lei. E Se a captação é realizada por um dos interlocutores, a pena é aplicada em dobro. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 24/39 A interceptação telefônica e a prova ilícita Limitações à interceptação telefônica Neste vídeo, vamos refletir sobre as hipóteses de invalidade da interceptação telefônica, bem como as vedações legais que envolvem o instituto. No último módulo, tivemos oportunidade de aprender o procedimento e os requisitos que devem ser preenchidos para ocorrência da interceptação telefônica. Caso esses pressupostos legais estudados sejam inobservados, estaremos diante de uma prova ilícita. Para compreender melhor o que isso significa e as consequências dessa caracterização da prova obtida pela interceptação telefônica no inquérito ou no processo penal, é importante que, primeiro, se compreenda o significado de prova ilícita. A literatura jurídica costuma estabelecer duas espécies de provas ilegais: Provas ilícitas Aquelas obtidas de forma a violar normas de direito material. Provas ilegítimas Aquelas obtidas em contrariedade às disposições de direito processual. Partindo dessa definição, fica fácil perceber que, caso as provas obtidas pela interceptação telefônica acabem por violar as normas protetivas do direito ao sigilo telefônico, estaremos diante de uma prova ilícita, na 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 25/39 medida em que há uma violação de normas de direito material constitucional e penal. Exemplo Suponha que determinadas provas tenham sido obtidas por meio da interceptação telefônica sem que tenha havido autorização prévia do juízo competente para a realização dessa interceptação. Nesse caso, as provas obtidas serão consideradas ilícitas, visto que se descumpre um pressuposto essencial presente na lei específica e no texto constitucional para a ocorrência da interceptação, violando-se o direito de sigilo da pessoa que teve indevidamente suas comunicações interceptadas. Mas qual a consequência prática de se reconhecer uma prova como ilícita? O artigo 5°, LVI da Constituição da República, estabelece, de forma expressa, a inadmissibilidade das provas ilícitas no processo. No mesmo sentido, o art. 157 do Código de Processo Penal estabelece que as provas ilícitas, sendo inadmissíveis, devem ser desentranhadas do processo. Em outras palavras, dizer que a prova ilícita é inadmissível significa afirmar que esse tipo de prova não deve ser utilizado e juntado ao processo ou ao inquérito policial. Todavia, caso esse impedimento seja inobservado e a prova seja efetivamente trazida aos autos, esta deve ser prontamente afastada do processo. Feitos esses esclarecimentos, um segundo ponto deve ser enfrentado: as provas obtidas licitamente, mas derivadas de uma prova ilícita, são válidas? Ainda mais especificamente: se uma prova (obtida licitamente) foi descoberta a partir de uma interceptação telefônica ilícita, essa prova poderá ser valorada no processo? A prova ilícita por derivação (fruits of the poisonous tree) A resposta para essa questão advém da teoria “fruits of the poisonous tree”, ou, em português, a teoria dos frutos da árvore envenenada. Segundo essa teoria – absorvida no direito brasileiro, mas criada no direito norte-americano –, as provas derivadas das provas ilícitas devem ser compreendidas como sendo também sendo ilícitas. Tal como uma árvore envenenada terá seus frutos contaminados com veneno, uma prova obtida de forma 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 26/39 derivada de uma prova ilícita também se reveste de ilicitude. Essa presunção de ilicitude das provas derivadas de provas ilícitas comporta três importantes exceções: Essas noções teóricas relacionadas à prova derivada e sua ilicitude foram significativamente consagradas no art. 157, §§ 1° e 2° do Código de Processo Penal, que assim preleciona: A prova derivada pode ser aproveitada se ela também for proveniente de uma fonte independente. A prova derivada teria, inevitavelmente, sido descoberta de outra forma. Afasta-se a ilegalidade do meio de obtenção da prova secundária em relação à prova obtida ilegalmente. Art. 157 São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 1° São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as d i d d btid f t 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 27/39 Incidente de inutilização do conteúdo da interceptação que não interessa ao processo O artigo 9° da Lei nº 9.296/96 versa sobre o incidente de inutilização. Esta é a redação do dispositivo legal: Art. 9. A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da parte interessada. Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado ou de seu representante legal. (BRASIL, 1996, art. 9) Durante o processo de captação das comunicações do investigado, é comum que se gravem diversas conversas de foro íntimo que não possuem qualquer relevância para o processo. Todavia, essas derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. § 2° Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiaresda interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 28/39 conversas inúteis do ponto de vista processual podem ter grande relevância para o investigado do ponto de vista pessoal, podendo desencadear consequências em sua vida privada caso sejam divulgadas. No intuito de garantir o sigilo das comunicações do investigado que não possuem relevância para o inquérito policial ou para o processo, o mencionado artigo disciplina o incidente de inutilização, que consiste na inutilização dessas gravações inúteis do ponto de vista jurídico. A ocorrência da inutilização depende de decisão judicial, na medida em que é de responsabilidade do juízo a identificação e seleção das gravações que se reputam interessantes à prova. Como a Lei nº 9.296/96 não apresenta maiores detalhamentos da forma de realização da inutilização e dos mecanismos a serem utilizados para tanto, fica na esfera de liberdade do juiz a determinação dessas peculiaridades. No que diz respeito ao momento de ocorrência da inutilização, o dispositivo apresenta um amplo lapso temporal em que esde incidente pode ocorrer. Desde o inquérito policial até fase posterior à instrução do processo, pode-se solicitar a ocorrência da inutilização. O motivo para isso é simples: considerando que o material em questão não interessa ao processo e que o objetivo do dispositivo legal é a preservação da intimidade do investigado, não faria sentido que a lei limitasse o momento em que o incidente pudesse ocorrer. Crimes previstos nos artigos 10 e 10-A da Lei nº 9.296/96 O artigo 10 da Lei nº 9.296/96 criminaliza a interceptação ilegal e a quebra do segredo de Justiça. Assim preleciona o dispositivo: ] Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 29/39 lei: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a execução de conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em lei.” (BRASIL, 1996, art. 10) O bem jurídico tutelado no tipo penal em questão é a liberdade de comunicações telefônicas e telemáticas. As condutas incriminadas no dispositivo são: Os crimes em questão são punidos com pena de reclusão, de dois a quatro anos, e multa. O parágrafo único estabelece que a mesma pena se aplica à autoridade policial que realiza conduta determinada no caput com o objetivo distinto àquele previsto na legislação. Conforme vimos em oportunidade anterior, o artigo 10-A da mesma lei prevê o crime relacionado à captação ambiental. Assim estabelece seu texto: A realização da interceptação sem autorização judicial. A realização da interceptação com objetivos não autorizados em lei. A quebra do segredo de justiça. Art. 10-A Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para i ti ã i t ã i i l t i ã 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 30/39 Importantes decisões sobre o tema A interceptação telefônica não realizada em autos apartados Apesar do art. 8° da Lei nº 9.296/96 estabelecer que interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, o Supremo Tribunal Federal já decidiu, por meio do HC 128102/SP, que não deve ser considerada ilícita a interceptação telefônica pela simples ausência de autuação. Assim, respeitados os requisitos essenciais para ocorrência da interceptação, a ausência de autos apartados configura mera irregularidade, não devendo ser considerada ilícita a interceptação realizada. investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando esta for exigida: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1° Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores. § 2° A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 31/39 A invalidade da interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial com posterior consentimento de interlocutor Na mesma linha da doutrina de que, sob pena de nulidade, qualquer decisão judicial deve ser devidamente fundamentada, o STF no HC 161.053-SP fixou entendimento de que a interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial é inválida mesmo que um dos interlocutores manifeste posterior consentimento à sua realização. A degravação não precisa ser realizada por peritos o�ciais Por meio do AgRg no REsp 1233396/DF, o STF firmou posição no sentido de que é desnecessário que a degravação das interceptações realizadas seja feita por peritos oficiais, diante de total silêncio da legislação nesse sentido. Todavia, o julgado em questão afirma que, havendo fundada dúvida acerca da identidade do interlocutor nas conversas interceptadas, a perícia pode mostrar-se necessária. A transcrição integral do conteúdo das interceptações é desnecessária O STF (Inq 3693/PA e do HC 278.794) e o STJ (AgRg no REsp 1316907/PR) já firmaram entendimento de que, sendo possível o acesso do investigado a todas as conversas captadas, não é obrigatória a realização da transcrição integral do material captado, sendo 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 32/39 suficiente a degravação dos trechos das conversas que foram necessários ao embasamento da denúncia oferecida. Considerando a possibilidade de as conversas obtidas pela interceptação implicarem em um numeroso montante de horas de gravação, a não relativização da necessidade de transcrição integral do material interceptado acabaria por afetar o tempo razoável para o início da instrução criminal. A execução das interceptações por autoridade distinta da Polícia Civil ou Polícia Federal No HC 96986, o Supremo Tribunal Federal defendeu a possibilidade de realização da interceptação telefônica pela Polícia Militar na hipótese de suspeita de envolvimento de autoridades policiais da delegacia local. Observe-se que se trata de uma excepcionalidade, que só seria admissível nas hipóteses em que a sua realização pela autoridade policial se mostra verdadeiramente inviável. Sucessivas renovações de interceptações telefônicas A partir do Recurso Extraordinário 625263, com repercussão geral (Tema 661), o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que é possível a renovação sucessiva de interceptações telefônicas, desde que fundamentada e demonstrada a necessidade da medida, com a apresentação de elementos concretos e da complexidade da investigação. Nos termos da decisão paradigma, não se consideram fundamentadas as renovações que se limitam a repetir motivações padronizadas e que não dialogam com o caso concreto. Veja que essa interpretação está profundamente consonante à nova sistemática da fundamentação das decisões judiciais estabelecida pela atualizada redação do art. 315 do CPP, em especial, em seu § 2°, que assim estabelece: 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 33/39 § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que I - Limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - Invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - Limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos d t i t d t b 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 34/39 determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - Deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 35/39 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (IDECAN – 2021 – PC-CE – Inspetor de Polícia Civil – Adaptada) Ricardo está sendo processado por crime de tráfico de entorpecentes e, durante a instrução criminal, descobriu que foi alvo de interceptação telefônica. Em conversa reservada com seu advogado, especialista em matéria penal, pediu para que fosse esclarecido como o Superior Tribunal de Justiça tem se posicionado acerca da complexidade do tema. Nesse cenário, assinale a afirmativa correta. A Embora não haja previsão na Lei nº 9.296/96 sobre o procedimento de degravação dos diálogos objeto da interceptação telefônica, tais degravações prescindem de serem feitas por perito oficial. B É possível a determinação de interceptações telefônicas com base em denúncia anônima, desde que corroborada por outros elementos que confirmem a necessidade da medida excepcional. C A interceptação telefônica será deferida mesmo quando houver outros meios de prova disponíveis à época na qual a medida invasiva foi requerida. D É legítima a prova obtida por meio de interceptação telefônica para apuração de delito punido com detenção, se conexo com outro crime apenado com reclusão. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 36/39 Parabéns! A alternativa A está correta. Trata-se de reprodução sintonizada com o inciso III do art. 2º da Lei nº 9.296/96. Se o fato investigado constitui infração penal punida, no máximo, com pena de detenção, é vedada a interceptação de comunicações telefônicas. Este é um dos requisitos negativos para a medida. Questão 2 (IDECAN – PEFOCE – Farmácia – 2021) A lei que regulamentou o inciso XII, parte final, do artigo 5º da Constituição Federal – 9.296/1996 – trata da autorização, regulamentação e limites para a realização da interceptação telefônica como meio de prova no processo penal. Trata-se de procedimento de natureza cautelar, que de maneira excepcional (cabível apenas nos casos em que não seja possível a obtenção de provas por outros meios) permite a violação da privacidade desde que seguidos os requisitos de admissibilidade e realizados da forma prescrita em lei. Acerca da interceptação telefônica, assinale a alternativa correta. E Não há necessidade de degravação dos diálogos objeto de interceptação telefônica, em sua integralidade, visto que a Lei nº 9.296/96 não faz qualquer exigência nesse sentido. A A alteração superveniente da competência torna inválida a decisão acerca da interceptação telefônica determinada por juízo inicialmente competente para o processamento do feito. B São possíveis as prorrogações sucessivas da interceptação telefônica sem que haja limite de vezes, desde que ainda presentes os pressupostos de admissibilidade e por meio de decisões fundamentadas. C O termo inicial da interceptação telefônica é o dia da autorização judicial, e não o dia em que ela foi 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 37/39 Parabéns! A alternativa B está correta. A partir do Recurso Extraordinário 625263, com repercussão geral (Tema 661), o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que é possível a renovação sucessiva de interceptações telefônicas desde que fundamentada e demonstrada a necessidade da medida com a apresentação de elementos concretos e da complexidade da investigação. Considerações �nais Sob luz do das Leis Federais nº 9.296/96, 13.869/2019 e 13.964/2019, vimos a consistência da interceptação telefônica, os requisitos e os elementos para sua efetuação legal. Além disso, vimos, pela ótica do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, a regulamentação do procedimento da interceptação. Por fim, abordamos decisões mais recentes, tratadas nos tribunais brasileiros sobre a interceptação telefônica, no que diz respeito à validade desse meio de obtenção de prova. Podcast efetivada, devendo os 15 (quinze) dias serem contados a partir da autorização da medida. D Interceptação telefônica, gravação telefônica, escuta telefônica e captação telefônica são conceitos sinônimos estabelecidos e regulados pela Lei nº 9.296/1996. E A lei que trata da interceptação telefônica determina que a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação e o Ministério Público deverá acompanhar a sua realização, ambos participando do auto circunstanciado. 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 38/39 Neste podcast, o especialista abordará as formas e hipóteses da interceptação telefônica. Além disso, tratará das recentes alterações desse instituto, a partir da análise da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime). Explore + Leia o texto As principais controvérsias a respeito das interceptações telefônicas, de Fábio Motta Lopes, publicado na Revista Brasileira de Ciências Policiais. Aprofunde seu conhecimento lendo o texto A interceptação telefônica como meio de obtenção de provas e a (in)validade da prova obtida fortuitamente, de Tatiane Mollman e Maciel Coll. Referências BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Relator do HC nº 81.260/ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002. LIMA, R. B. de. Legislação criminal especial comentada: volume único. 7. ed. Rev. atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2019. LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único. 7. ed. Rev. atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2019. Material para download 15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03274/index.html# 39/39 Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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