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AULA Aspectos peculiares da interceptação telefônica

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15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica
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Aspectos peculiares da interceptação telefônica
Prof.ª Bruna Figueira Marchiori
Descrição
Abordagem de particularidades da interceptação telefônica, sob a ótica
legal e jurisprudencial.
Propósito
A interceptação telefônica é um importante meio de obtenção de prova,
sendo frequentemente utilizada na investigação criminal ou na instrução
processual penal. O conhecimento das peculiaridades do procedimento
assume grande relevância para os alunos que futuramente desejem
exercer profissões jurídicas nesta área.
Preparação
Para iniciar os estudos deste assunto, você deverá acessar a
Constituição da República e a Lei nº 9.296/96, ambas disponíveis no
sítio eletrônico planalto.gov.
Objetivos
Módulo 1
Regulamentação das hipóteses e formas da
interceptação telefônica
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Identificar os procedimentos e as novidades legislativas referentes à
interceptação telefônica.
Módulo 2
Aspectos peculiares da interceptação
Reconhecer a caracterização da prova obtida pela interceptação
telefônica e os debates mais recentes sobre o tema.
Introdução
O tema das interceptações telefônicas é um dos assuntos mais
polêmicos do cenário jurídico atual, tendo sido pano de fundo de
diversos debates jurisprudenciais recentes e de importantes
novidades legislativas nos últimos anos. Diante da atual
relevância adquirida pelos meios de comunicação telefônica e
telemática na interlocução das pessoas, a interceptação passa a
ser uma poderosa ferramenta de prova à disposição do processo
penal e de seus agentes para a elucidação de crimes.
Por isso, analisaremos com profundidade os termos da Lei
Federal nº 9.296/96, que dispõe sobre a interceptação telefônica
no plano infraconstitucional e elenca seus requisitos, bem como
as principais novidades legislativas que alteraram dispositivos da
referida Lei, notadamente as Leis Federais números 13.869/2019
e 13.964/2019, esta última consagrada como “Lei Anticrime” ou
“Pacote Anticrime”.
Além disso, veremos detalhadamente o cenário em que o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº
59/2008 e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) a
Resolução nº 36/2009, ambas formatadas com o intuito de
regulamentar, no complexo de atribuições dos dois órgãos, o
procedimento da interceptação telefônica. Por fim, discutiremos
os debates mais recentes travados nos tribunais brasileiros
acerca da interceptação telefônica, com enfoque na
jurisprudência mais atualizada dos Tribunais Superiores sobre
temas polêmicos que envolvem esse meio de obtenção de prova.

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1 - Regulamentação das hipóteses e formas da interceptação
telefônica
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os procedimentos e as novidades
legislativas referentes à interceptação telefônica.
A Lei Federal nº 9.296/96
O direito ao sigilo das comunicações, expresso no inciso XII do art. 5º
da Constituição da República, traz como regra que os indivíduos
possuem a garantia de confidencialidade do conteúdo de suas
comunicações, não devendo o Estado ou terceiros invadirem essa
esfera de liberdade, que advém do direito fundamental à privacidade.
[...] é inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegrá�cas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para �ns de
investigação criminal ou instrução processual
penal.
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(art. 5º, inciso XII, CF/88)
Nota-se do texto que o legislador constituinte reservou ao plano
infraconstitucional, isto é, à lei propriamente dita, a regulamentação das
hipóteses e forma da interceptação telefônica, a ocorrer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.
Coube à Lei Federal nº 9.296, de 24 de julho de 1996,
regulamentar o dispositivo constitucional e dispor
sobre esse meio de obtenção de prova.
Assim, a Lei nº 9.296/1996 tem como objeto a interceptação de
comunicações telefônicas de qualquer natureza (art. 1º, caput), inclusive
no que se refere à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática (art. 1º, parágrafo único). É claro que, com a
difusão de novas tecnologias, não se pode restringir o objeto da
interceptação a uma simples conversa por telefone. A própria Lei nº
9.472/1997, que disciplina a organização dos serviços de
telecomunicações, define, em seu art. 60, §1º, que telecomunicação é a:
[...] transmissão, emissão ou
recepção, por �o,
radioeletricidade, meios
ópticos ou qualquer outro
processo eletromagnético, de
símbolos, caracteres, sinais,
escritos, imagens, sons ou
informações de qualquer
natureza.
(BRASIL, 1997, art. 60. §1º)
Foi nesse sentido que decidiu a 6ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) no julgamento do Recurso em Habeas Corpus (RHC) nº
18.116/SP (j. 16/02/2006, DJ 06/03/2006 p. 443) ao afastar a tese de
violação ao sigilo das comunicações quando as conversas são
realizadas em salas de bate papo da Internet, uma vez que, nesse
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ambiente, há acesso irrestrito e destinado a conversas informais entre
os internautas.
Logo, por causa da amplitude terminológica que advém da expressão
“qualquer natureza”, contida no caput do art. 1º da Lei nº 9.296/96, é
prudente concluir que a lei objetiva disciplinar tanto as interceptações
telefônicas (propriamente ditas, ou stricto sensu) quanto a interceptação
do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Isto
é, de meios mais modernos de comunicação telefônica, como e-mails e
aplicativos de mensagens, que não eram tão predominantes no
momento da edição da Lei nº 9.296, dada a evolução tecnológica
ocorrida nas últimas duas décadas.
A interceptação de comunicações telefônicas sempre será determinada
por um juiz de direito, seja de ofício ou a requerimento da autoridade
policial – na investigação criminal – ou do representante do Ministério
Público – tanto na investigação criminal quanto na instrução processual
penal (art. 3º).
[...] qualquer decisão judicial
deve ser devidamente
fundamentada, sob pena de
nulidade.
(art. 93, inciso IX, CF/88)
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Considerando que a Constituição Federal atribuiu exclusividade ao
Poder Judiciário para determinar a interceptação telefônica (art. 5º,
inciso XII), cabe ao Juiz, quando provocado pela autoridade policial, pelo
representante do Órgão Ministerial ou até mesmo quando verifique a
necessidade de impor a medida de ofício, justificar suas razões para que
a interceptação telefônica aconteça.
O texto constitucional apenas ressalva a exclusividade
do Poder Judiciário, neste ponto, nas hipóteses de
Estado de Defesa (art. 136, §1º, inciso I, alínea c) e de
Estado de Sítio (art. 139, inciso III), períodos nos quais
a própria Constituição autoriza a restrição de certas
garantias.
Assim, estando num contexto de plenitude do Estado Democrático de
Direito, considerando o caráter mais gravoso da interceptação telefônica
a direitos fundamentais, se comparada a outros meios de obtenção de
prova, é preciso que fique muito bem demonstrada a sua necessidade.
Além disso, devem ser previamente indicados os meios a serem
empregados no procedimento, bem como a situação que será objeto da
investigação precisa ser descritade forma clara, qualificando o(s)
investigado(s), exceto se isso for impossível, mediante devida
justificativa capaz de atestar a impossibilidade da qualificação (art. 2º,
parágrafo único).
Re�exão
Um ponto que pode suscitar dúvida ao aluno neste momento é o
seguinte: como determinar, no momento da investigação criminal,
quando ainda não foi oferecida denúncia pelo Ministério Público e
sequer há relatório conclusivo elaborado pelo delegado de polícia sobre
os fatos apurados, qual o juiz competente para apreciar o pedido de
interceptação telefônica?
No julgamento do Habeas Corpus (HC) nº 81.260/ES, Rel. Ministro
Sepúlveda Pertence, j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002, o STF decidiu que a
análise do juízo competente para apreciar a medida no curso de
investigação criminal é empreendida conforme os elementos de prova
até então conhecidos e existentes.
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Ministro Sepúlveda Pertence.
Havendo fato superveniente que altere a competência do órgão
jurisdicional no que diga respeito à ação penal principal, o conteúdo da
interceptação é válido.
Veja trecho do voto do Relator do HC, Min. Sepúlveda Pertence:
“[...] quando, no entanto, a interceptação
telefônica constituir medida cautelar
preventiva, ainda no curso das investigações
criminais, a mesma norma de competência há
de ser entendida e aplicada com
temperamentos, para não resultar em absurdos
patentes: aí, o ponto de partida à determinação
da competência para a ordem judicial de
interceptação – não podendo ser o fato
imputado, que só a denúncia, eventual e futura,
precisará –, haverá de ser o fato suspeitado,
objeto dos procedimentos investigatórios em
curso. [...] Não induz à ilicitude da prova
resultante da interceptação telefônica que a
autorização provenha de Juiz Federal –
aparentemente competente, à vista do
andamento delas.”
(STF, HC 81.260/ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence,
j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002)
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A interceptação telefônica como
ultima ratio. Das vedações legais à
interceptação telefônica
A Lei nº 9.296/96 veda a interceptação telefônica quando (art.2º):
Inciso I
Não há indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal.
Inciso II
A prova puder ser feita por outros meios disponíveis.
Inciso III
O fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com
pena de detenção.
Estes podem ser chamados de requisitos negativos da interceptação
telefônica.
Em função disso, a doutrina aponta o caráter de ultima ratio da
interceptação telefônica, que nada mais significa que, no universo dos
meios de obtenção de prova, a interceptação é o último recurso a ser
empregado na investigação criminal ou na instrução processual penal
para servir de fonte para produção de prova. Quando o parágrafo único
do mesmo dispositivo obriga que o magistrado descreva com clareza a
situação objeto da investigação, inclusive indicando e qualificando os
investigados.
Exemplo
Uma decisão que defere a interceptação telefônica de um indiciado por
lesão corporal de natureza grave – crime punido com pena de reclusão
–, é preciso descrever objetivamente o local onde ocorreu a ofensa à
integridade da vítima, o agente que assim procedeu, como foi a ação
delitiva – modus operandi –, se o indiciado se valeu de algum objeto
para lesionar o ofendido, quais indícios já existem a respeito da autoria e
da participação etc.
É curioso observar da leitura fria do art. 3º da Lei nº 9.296/96 que a
defesa técnica não pode requerer ao juiz a interceptação telefônica, por
exemplo, de um outro suspeito ou da suposta vítima da infração penal,
já que o artigo – e a lei como um todo – foi silente a respeito.
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Isso não exclui, entretanto, a possibilidade de que a defesa do acusado
ou do investigado provoque a quem de direito – leia-se: a autoridade
policial ou o representante do Ministério Público – para que esses
legitimados, exercendo a atribuição conferida pelo mencionado
dispositivo legal, requeiram a interceptação telefônica ao magistrado, na
hipótese de entenderem que a medida é realmente cabível.
Sabemos que a decisão judicial que autoriza a interceptação deve ser
prévia, isto é, não se admite que a autoridade policial intercepte para que
somente depois se busque a chancela do Judiciário. Renato Brasileiro
de Lima, em seu Legislação criminal especial comentada, vai além, ao
ensinar que:
[...] não é válida a interceptação telefônica
realizada sem prévia autorização judicial, ainda
que haja posterior consentimento de um dos
interlocutores para ser tratada como escuta
telefônica e utilizada como prova em processo
penal. [...] Logo, o fato de um dos interlocutores
dos diálogos gravados de forma clandestina ter
consentido posteriormente com a divulgação
dos seus conteúdos não tem o condão de
legitimar o ato, pois, no momento da gravação,
não tinha ciência do artifício que foi
implementado pelo responsável pela
interceptação.
(LIMA, 2019, p. 446)
É requisito para a interceptação telefônica que a ação penal tenha
natureza pública? Definitivamente, não. A Lei nº 9.296/96 não faz
distinção entre a espécie da ação penal, apenas que a medida pode
ocorrer durante a instrução criminal ou no decorrer da instrução
processual, sendo a infração punida com pena de reclusão. Assim, é
plenamente possível que, por analogia, o querelante – assim chamado
aquele particular que inicia a ação penal privada com a apresentação de
uma queixa-crime – requeira a interceptação telefônica ao juiz de direito
competente, preenchidas as formalidades legais.
Dos prazos de duração e
determinação da interceptação
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telefônica
A decisão do juiz que defere a interceptação telefônica tem natureza
interlocutória. Decisão interlocutória é compreendida como um
pronunciamento judicial de natureza decisória que não põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, na forma do §2º do art. 203 do
Código de Processo Civil (CPC). Lembre-se de que, em função de o
Código de Processo Penal (CPP) não dispor a respeito do que vem a ser
uma decisão interlocutória, aplica-se por analogia o conceito contido no
diploma processual civil ao processo penal àqueles pronunciamentos
judiciais que possuem carga decisória, mas que não resolvem o
processo, seja reconhecendo a absolvição ou a condenação do
acusado.
O conceito de decisão interlocutória trazido neste momento é
importante pra que o aluno perceba o caráter urgente da interceptação
telefônica, uma vez que o art. 800, inciso II, do CPP preceitua que o juiz
resolverá a questão por meio de decisão interlocutória simples em 5
(cinco) dias, enquanto a Lei nº 9.296/96, especial à interceptação,
enuncia no seu art. 4º, §2º, que o juiz decidirá sobre o pedido da
interceptação no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, ou seja, em
espaço temporal ainda mais breve. A exiguidade do prazo, portanto,
reforça a natureza urgente da medida.
 Por quanto tempo pode durar a
interceptação telefônica?
Segundo o art. 5º da Lei nº 9.296/96, até 15
(quinze) dias a partir do dia em que a medida se
concretiza no mundo dos fatos, sendo renovável
por igual tempo uma vez comprovada a
indispensabilidade do meio de obtenção de prova.
Ou seja, a renovação não é automática. É preciso
que, no requerimento, o legitimado justifique de
forma robusta as razões que autorizam a
renovação da medida cautelar, comprovando que
ela é indispensável.
 O que acontece depois que o juiz defere o
pedido da interceptação telefônica?
A autoridade policial que executará adiligência dá
ciência ao Ministério Público, que poderá – trata-se
de uma faculdade – acompanhar a sua realização
( t 6º t) C dili ê i ibilit
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Uma vez cumprida a interceptação telefônica, a autoridade policial
encaminhará seu resultado ao magistrado competente, acompanhado
de auto circunstanciado, contendo o resumo das operações realizadas
(§2º). Ao receber todos esses elementos, o juiz determinará que eles
sejam apensados aos autos do inquérito criminal (investigação) ou do
processo criminal (instrução processual), já que a interceptação
ocorrerá em autos apartados dos principais, sendo garantido o sigilo
das diligências, gravações e transcrições (art. 8º, caput).
Procedimento da interceptação
telefônica – Resolução nº 59/2008 do
CNJ
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é um órgão do Poder Judiciário
(art. 92, inciso I-A, da Constituição Federal), sediado em Brasília, com a
competência de exercer o controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais
dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura, aquelas elencadas nos incisos
do §4º do art. 103-B da Constituição da República.
Foi com fundamento nesse dispositivo constitucional que o CNJ editou
a Resolução nº 59, de 9 de setembro de 2008, com intenção de
disciplinar e uniformizar as rotinas nos órgãos jurisdicionais do Poder
Judiciário com vistas a aperfeiçoar o procedimento de comunicações
telefônicas de sistemas de informática e telemática, conforme a Lei nº
9.296/96.
É bom mencionar que a Resolução nº 59/2008 do CNJ
foi editada após a instalação de Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados conhecida
como “CPI das Escutas Telefônicas”, que, inicialmente,
tinha como objeto a investigação de denúncia de que
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam
sido vítimas de grampo ilegal, após reportagem da
(art. 6º, caput). Caso a diligência possibilite gravar a
comunicação interceptada, ela será transcrita (§1º),
assim como é possível que a autoridade policial
requisite serviços e técnicos especializados às
concessionárias de serviço público (art. 7º).
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revista “Veja”, em edição do mês de agosto de 2007.
Até então, era precário o controle sobre a qualidade e
quantidade dos grampos telefônicos realizados no país
pelo Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.
Mais recentemente, no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.145/DF, o Plenário do STF confirmou a
constitucionalidade da Resolução nº 59/2008 do CNJ, tendo ressalvado
somente o enunciado do art. 13, §1º, que, ao regular as medidas
apreciadas pelo plantão judiciário, assim dispunha:
Art. 13. Durante o Plantão Judiciário as
medidas cautelares sigilosas apreciadas,
deferidas ou indeferidas, deverão ser
encaminhadas ao Serviço de Distribuição da
respectiva comarca, devidamente lacradas. [...]
§ 1º Não será admitido pedido de prorrogação
de prazo de medida cautelar de interceptação
de comunicação telefônica, telemática ou de
informática durante o plantão judiciário,
ressalvada a hipótese de risco iminente e grave
à integridade ou à vida de terceiros, bem como
durante o Plantão de Recesso previsto no artigo
62 da Lei nº 5.010/66.
(BRASIL, 2008, art. 13, §1º)
Segundo a Corte Constitucional, o CNJ foi além de sua competência
normativa ao ir de encontro à competência legislativa da União (art. 22,
inciso I, CF/88) para editar normas processuais, à competência
legislativa estadual (art. 125, §1º, CF/88) de editar leis de organização
judiciária locais, bem como ao art. 5º, inciso XXXV, da Constituição da
República, quanto à inafastabilidade da jurisdição. O Min. Relator da ADI,
Edson Fachin, adotou as seguintes premissas no julgamento:
O Conselho Nacional de Justiça
é órgão interno de controle
administrativo, financeiro e
disciplinar da magistratura, com
t t
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É interessante que você leia integralmente a Resolução nº 59/2008 do
CNJ, disponível no sítio eletrônico da instituição. Ainda assim, podemos
fazer uma breve síntese do procedimento com os seguintes pontos:
natureza meramente
administrativa.
É possível ao Conselho regular
as rotinas cartorárias dos
órgãos do Poder Judiciário,
desde que isso não implique
estender, para além da reserva
legal, as hipóteses legalmente
autorizadas de interceptação
das comunicações.
É vedado ao Conselho Nacional
de Justiça criar obrigações que
se estendam a órgãos estranhos
ao Poder Judiciário.
 Art. 2º
Os pedidos de interceptação de comunicação
telefônica, telemática ou de informática serão
acondicionados em envelope lacrado contendo
todos os documentos necessários.
 Art. 3º
Na parte exterior do envelope, será colada folha de
rosto contendo somente as informações: “medida
cautelar sigilosa” (art. 3º, inciso I), delegacia de
origem ou órgão do Ministério Público (art. 3º,
inciso II) e comarca de origem da medida (art. 3º,
inciso III).
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 Art. 4º
É proibido indicar o nome do requerido, a natureza
da medida ou qualquer outra anotação na folha de
rosto colada na parte exterior do envelope.
 Art. 5º
Outro envelope menor, também lacrado, contendo
em seu interior apenas o número e o ano do
procedimento investigatório ou do inquérito policial,
deverá ser anexado ao envelope lacrado.
 Art. 6º
O Distribuidor e o Plantão Judiciário não poderão
receber os envelopes que não estejam devidamente
lacrados.
 Art. 9º
Feita a distribuição por meio do sistema
informatizado local, a medida cautelar sigilosa será
remetida ao Juízo competente, imediatamente, sem
violação do lacre do envelope, que apenas será
aberto pelo escrivão ou o responsável pela
autuação do expediente e registro dos atos
processuais, conforme autorização prévia do
magistrado, para que conclua a apreciação do
pedido.
 Art. 12º
As operadoras de telefonia precisam confirmar com
o Juízo os números cuja efetivação fora deferida e
a data em que fora efetivada a interceptação, para
fins do controle judicial do prazo.
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É de suma importância a leitura dos arts. 10, 15, 16 e 17 da Resolução
nº 59/2008, que tratam, respectivamente, dos requisitos que o
magistrado fará constar na decisão que defere a medida cautelar da
interceptação (art. 10), do transporte dos autos para fora das unidades
do Poder Judiciário (art. 15), e da obrigação de sigilo e da
responsabilidade dos agentes públicos (arts. 16 e 17).
Da Resolução nº 36/2009 do CNMP
Por sua vez, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com
competência de controlar a atuação administrativa e financeira do
Órgão Ministerial e o cumprimento dos deveres funcionais de seus
membros, cabendo-lhe os deveres dos incisos do §2º do art. 130-A da
Constituição Federal, editou a Resolução nº 36/2009, que dispõe sobre
o pedido e a utilização das interceptações telefônicas, no âmbito do
Ministério Público, nos termos da Lei nº 9.296/96.
 Art. 14º
Havendo pedido de prorrogação de prazo pela
autoridade competente, deverão ser apresentados
os áudios (CD/DVD) com o inteiro teor das
comunicações interceptadas, as transcrições das
conversas relevantes à apreciação do pedido de
prorrogação e o relatório circunstanciado das
investigações com seu resultado.
 §1º, art. 14
Devem ser observados osestritos termos e limites
temporais fixados no art. 5º da Lei nº 9.296/96.
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Sede do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em Brasília.
Saiba mais
Para se aprofundar, recomenda-se a leitura da referida resolução,
declarada constitucional pelo Plenário do STF no julgamento da ADI nº
4.263/DF, não tendo o CNMP, no entendimento da Corte Constitucional,
ido além do seu poder regulamentar, disciplinando somente a conduta
do Ministério Público nos casos de interceptação telefônica, sem inovar
no ordenamento jurídico penal.
O procedimento da interceptação
telefônica à luz da Lei nº 9.296/96
De posse de todas essas informações, confira um breve quadro
sinóptico com o procedimento da interceptação telefônica, nos moldes
da Lei nº 9.296/96:
Requerimento da
interceptação telefônica
É feito pela autoridade policial ou
pelo Representante do Ministério
Público.
Análise do juiz
O juiz verifica os requisitos do
art. 4º e defere ou não o pedido,
no prazo máximo de 24 horas.
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Novidades legislativas: Leis Federais
13.869/2019 e 13.964/2019
A Lei nº 13.964/2019, conhecida como “Lei Anticrime” ou “Pacote
Anticrime”, entrou em vigor no mês de janeiro de 2020 com o intuito de
aperfeiçoar a legislação penal e processual penal em meio a um
Decisão pelo deferimento
A decisão judicial será
fundamentada, sob pena de
nulidade. Mesmo sem
provocação, o juiz pode
determinar a interceptação.
Execução da interceptação
Sob segredo de justiça, a
autoridade policial executará a
medida, dando ciência ao
Ministério Público, que pode
acompanhá-la.
Apensamento aos autos
O juiz determinará o
apensamento da interceptação
aos autos do inquérito policial ou
do processo, preservando o
sigilo do seu conteúdo.
Encaminhamento ao juiz
A autoridade policial encaminha
o resultado da interceptação ao
juiz, acompanhada de auto
circunstanciado.
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crescente desejo da população brasileira por mais rigor na repressão ao
crime. Entre as novidades, foram acrescidos dois artigos à Lei nº
9.296/96:
Os incisos do referido dispositivo legal elencam dois requisitos
imprescindíveis para a captação ambiental:

A prova não pode ser feita por outros meios disponíveis e igualmente
eficazes, ou seja, distintos da captação.

Existência de elementos probatórios razoáveis de autoria e participação
em infrações cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos
ou em caso de crimes conexos.
O requerimento das autoridades legitimadas precisa descrever
circunstanciadamente o local e a forma de instalação de captação
ambiental (§1º), que poderá ser realizada, quando necessário, por meio
de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto em
“casa”, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da Constituição da
República (§2º). Além disso, a captação é autorizada em intervalos de
até 15 (quinze) dias, podendo ser renovada por decisão do juiz
competente por período idêntico, desde que se prove a
 Art. 8º-A
Permite a captação ambiental de sinais
eletromagnéticos ópticos ou acústicos para
investigações e instruções criminais quando houver
requerimento da autoridade policial ou do
Ministério Público e, posteriormente, decisão do juiz
de direito competente para apreciá-lo.
 Art. 10-A
Incluiu um novo tipo penal à Lei das Interceptações
Telefônicas.
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indispensabilidade da captação e que a atividade criminal é permanente,
habitual ou continuada.
Quando as regras para a captação ambiental se
mostrarem insuficientes, o §5º do art. 8º-A permite
que sejam aplicadas as normas relativas à
interceptação telefônica e telemática ao caso, de
forma subsidiária.
Cabe dizer que, antes da Lei Anticrime, já existia no ordenamento
jurídico brasileiro a figura da “captação e interceptação ambiental”,
inaugurada pela Lei nº 10.217/2001. Essa Lei alterou dispositivos da Lei
nº 9.034/1995, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais
para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações
criminosas. Ela acrescentou nova redação ao art. 2º desta última para
autorizar, em qualquer fase de persecução criminal:
[...] a captação e a interceptação ambiental de
sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos,
e o seu registro e análise, mediante
circunstanciada autorização judicial.
(BRASIL, 2001, art. 2º)
Ocorre que a “interceptação entre presentes”, apesar de nominada pela
Lei nº 10.217/2001, não teve seu procedimento regulamentado por lei
alguma. Somente com o advento do Pacote Anticrime que a sua
disciplina foi, de fato, sedimentada na legislação penal processual.
Voltando à Lei nº 13.964/2019, o seu art. 10-A origina um novo tipo
penal, na hipótese em que o agente realiza captação ambiental (aquela
ação do art. 8º-A) sem autorização judicial, quando esta for exigida. A
pena para o crime é de reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Propositalmente ou não, o próprio tipo prevê que a captação ambiental
em tela acontece para fins de investigação ou instrução criminal e que o
juiz de direito a autorize, o que se amolda aos próprios requisitos do art.
8º-A para a captação. Enquanto o §1º do art. 10-A dispõe que, caso um
interlocutor realize a captação, não está configurado o crime do caput, o
§2º traz hipótese de causa de aumento de pena quando o funcionário
público descumpre determinação de sigilo das investigações que
envolvam a captação ambiental ou revele o conteúdo das gravações
enquanto mantido o sigilo judicial, sendo a pena do caput aplicada em
dobro.
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Outra recente atualização da Lei nº 9.296/96 adveio da Lei nº
13.869/2019, que incluiu – para responsabilizar a autoridade judicial
que determina a execução da conta prevista no caput, acima
reproduzida, com objetivo não autorizado em lei – o parágrafo único no
art. 10:
[...] constitui crime realizar interceptação de
comunicações telefônicas, de informática ou
telemática, promover escuta ambiental ou
quebrar segredo da Justiça, sem autorização
judicial ou com objetivos não autorizados em
lei.
(BRASIL, 2019, art. 10)
A pena, neste caso, é aplicada no mesmo patamar: reclusão, de 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, e multa.
Regulamentação das hipóteses e
formas da interceptação telefônica
Neste vídeo, vamos refletir sobre as formas e hipóteses da
interceptação telefônica, a partir da análise da Lei n. 9.296/96, bem
como da análise das alterações trazidas pela Lei n. 13.964/19º (Pacote
Anticrime).

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(CESPE/CEBRASPE – PC-PB – Delegado de Polícia – 2009)
Assinale a opção correta com base na legislação sobre a
interceptação telefônica.
A
A interceptação das comunicações telefônicas pode
ser determinada pelo juiz, a requerimento da
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Trata-se de reprodução sintonizada com o inciso III do art. 2º da Lei
nº 9.296/96. Se o fato investigado constitui infração penal punida,
no máximo, com pena de detenção, é vedada a interceptação de
comunicações telefônicas. Esse é um dos requisitos negativospara
a medida.
Questão 2
Segundo o art. 10-A da Lei nº 9.296/96, inserido pela Lei nº
13.964/2019 (Lei Anticrime), assinale a opção correta.
autoridade policial, na investigação criminal ou na
instrução processual penal.
B
O pedido de interceptação das comunicações
telefônicas deve ser feito necessariamente por
escrito.
C
Não se admite interceptação das comunicações
telefônicas quando o fato investigado constituir
infração penal punida, no máximo, com pena de
detenção.
D
Somente após o trânsito em julgado da sentença
penal pode a gravação ser inutilizada, mediante
decisão judicial, ainda que não interesse a prova.
E
Ainda que a diligência possibilite a gravação da
comunicação interceptada, é dispensada a
transcrição da gravação.
A
O incidente de inutilização da interceptação será
assistido pelo Ministério Público.
B
Constitui crime realizar interceptação de
comunicações telefônicas, de informática ou
telemática, promover escuta ambiental ou quebrar
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Parabéns! A alternativa D está correta.
O §2º do art. 10-A da Lei nº 9.296/96, um dos dispositivos incluídos
pela chamada “Lei Anticrime” na Lei de Interceptação Telefônica,
preceitua uma causa de aumento de pena, sendo ela aplicada em
dobro ao funcionário público que descumprir determinação de
sigilo das investigações que envolvam a captação ambiental ou
revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo
judicial.
2 - Aspectos peculiares da interceptação
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a caracterização da prova obtida pela
interceptação telefônica e os debates mais recentes sobre o tema.
segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com
objetivos não autorizados em lei.
C
A pena cominada ao tipo penal é de reclusão, de 2
(dois) a 3 (três) anos, e multa.
D
A pena será aplicada em dobro ao funcionário
público, na forma da lei.
E
Se a captação é realizada por um dos interlocutores,
a pena é aplicada em dobro.
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A interceptação telefônica e a prova
ilícita
Limitações à interceptação telefônica
Neste vídeo, vamos refletir sobre as hipóteses de invalidade da
interceptação telefônica, bem como as vedações legais que envolvem o
instituto.
No último módulo, tivemos oportunidade de aprender o procedimento e
os requisitos que devem ser preenchidos para ocorrência da
interceptação telefônica.
Caso esses pressupostos legais estudados sejam
inobservados, estaremos diante de uma prova ilícita.
Para compreender melhor o que isso significa e as consequências
dessa caracterização da prova obtida pela interceptação telefônica no
inquérito ou no processo penal, é importante que, primeiro, se
compreenda o significado de prova ilícita. A literatura jurídica costuma
estabelecer duas espécies de provas ilegais:
Provas ilícitas
Aquelas obtidas de forma a violar normas de direito material.
Provas ilegítimas
Aquelas obtidas em contrariedade às disposições de direito processual.
Partindo dessa definição, fica fácil perceber que, caso as provas obtidas
pela interceptação telefônica acabem por violar as normas protetivas do
direito ao sigilo telefônico, estaremos diante de uma prova ilícita, na

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medida em que há uma violação de normas de direito material
constitucional e penal.
Exemplo
Suponha que determinadas provas tenham sido obtidas por meio da
interceptação telefônica sem que tenha havido autorização prévia do
juízo competente para a realização dessa interceptação. Nesse caso, as
provas obtidas serão consideradas ilícitas, visto que se descumpre um
pressuposto essencial presente na lei específica e no texto
constitucional para a ocorrência da interceptação, violando-se o direito
de sigilo da pessoa que teve indevidamente suas comunicações
interceptadas.
Mas qual a consequência prática de se
reconhecer uma prova como ilícita?
O artigo 5°, LVI da Constituição da República, estabelece, de forma
expressa, a inadmissibilidade das provas ilícitas no processo. No
mesmo sentido, o art. 157 do Código de Processo Penal estabelece que
as provas ilícitas, sendo inadmissíveis, devem ser desentranhadas do
processo. Em outras palavras, dizer que a prova ilícita é inadmissível
significa afirmar que esse tipo de prova não deve ser utilizado e juntado
ao processo ou ao inquérito policial. Todavia, caso esse impedimento
seja inobservado e a prova seja efetivamente trazida aos autos, esta
deve ser prontamente afastada do processo.
Feitos esses esclarecimentos, um segundo ponto deve ser enfrentado:
as provas obtidas licitamente, mas derivadas de uma prova ilícita, são
válidas? Ainda mais especificamente: se uma prova (obtida licitamente)
foi descoberta a partir de uma interceptação telefônica ilícita, essa
prova poderá ser valorada no processo?
A prova ilícita por derivação (fruits of
the poisonous tree)
A resposta para essa questão advém da teoria “fruits of the poisonous
tree”, ou, em português, a teoria dos frutos da árvore envenenada.
Segundo essa teoria – absorvida no direito brasileiro, mas criada no
direito norte-americano –, as provas derivadas das provas ilícitas devem
ser compreendidas como sendo também sendo ilícitas.
Tal como uma árvore envenenada terá seus frutos
contaminados com veneno, uma prova obtida de forma
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derivada de uma prova ilícita também se reveste de
ilicitude.
Essa presunção de ilicitude das provas derivadas de provas ilícitas
comporta três importantes exceções:
Essas noções teóricas relacionadas à prova derivada e sua ilicitude
foram significativamente consagradas no art. 157, §§ 1° e 2° do Código
de Processo Penal, que assim preleciona:
A prova derivada pode ser
aproveitada se ela também for
proveniente de uma fonte
independente.
A prova derivada teria,
inevitavelmente, sido descoberta
de outra forma.
Afasta-se a ilegalidade do meio
de obtenção da prova secundária
em relação à prova obtida
ilegalmente.
 Art. 157
São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou
legais.
 § 1°
São também inadmissíveis as provas derivadas das
ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as
d i d d btid f t
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Incidente de inutilização do conteúdo
da interceptação que não interessa
ao processo
O artigo 9° da Lei nº 9.296/96 versa sobre o incidente de inutilização.
Esta é a redação do dispositivo legal:
Art. 9. A gravação que não interessar à prova
será inutilizada por decisão judicial, durante o
inquérito, a instrução processual ou após esta,
em virtude de requerimento do Ministério
Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização
será assistido pelo Ministério Público, sendo
facultada a presença do acusado ou de seu
representante legal.
(BRASIL, 1996, art. 9)
Durante o processo de captação das comunicações do investigado, é
comum que se gravem diversas conversas de foro íntimo que não
possuem qualquer relevância para o processo. Todavia, essas
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras.
 § 2°
Considera-se fonte independente aquela que por si
só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios
da investigação ou instrução criminal, seria capaz
de conduzir ao fato objeto da prova.
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conversas inúteis do ponto de vista processual podem ter grande
relevância para o investigado do ponto de vista pessoal, podendo
desencadear consequências em sua vida privada caso sejam
divulgadas. No intuito de garantir o sigilo das comunicações do
investigado que não possuem relevância para o inquérito policial ou
para o processo, o mencionado artigo disciplina o incidente de
inutilização, que consiste na inutilização dessas gravações inúteis do
ponto de vista jurídico.
A ocorrência da inutilização depende de decisão
judicial, na medida em que é de responsabilidade do
juízo a identificação e seleção das gravações que se
reputam interessantes à prova. Como a Lei nº 9.296/96
não apresenta maiores detalhamentos da forma de
realização da inutilização e dos mecanismos a serem
utilizados para tanto, fica na esfera de liberdade do juiz
a determinação dessas peculiaridades.
No que diz respeito ao momento de ocorrência da inutilização, o
dispositivo apresenta um amplo lapso temporal em que esde incidente
pode ocorrer. Desde o inquérito policial até fase posterior à instrução do
processo, pode-se solicitar a ocorrência da inutilização.
O motivo para isso é simples: considerando que o material em questão
não interessa ao processo e que o objetivo do dispositivo legal é a
preservação da intimidade do investigado, não faria sentido que a lei
limitasse o momento em que o incidente pudesse ocorrer.
Crimes previstos nos artigos 10 e 10-A
da Lei nº 9.296/96
O artigo 10 da Lei nº 9.296/96 criminaliza a interceptação ilegal e a
quebra do segredo de Justiça. Assim preleciona o dispositivo:
]
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação
de comunicações telefônicas, de informática
ou telemática, promover escuta ambiental ou
quebrar segredo da Justiça, sem autorização
judicial ou com objetivos não autorizados em
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lei:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a
autoridade judicial que determina a execução
de conduta prevista no caput deste artigo com
objetivo não autorizado em lei.”
(BRASIL, 1996, art. 10)
O bem jurídico tutelado no tipo penal em questão é a liberdade de
comunicações telefônicas e telemáticas. As condutas incriminadas no
dispositivo são:
Os crimes em questão são punidos com pena de reclusão, de dois a
quatro anos, e multa. O parágrafo único estabelece que a mesma pena
se aplica à autoridade policial que realiza conduta determinada no caput
com o objetivo distinto àquele previsto na legislação.
Conforme vimos em oportunidade anterior, o artigo 10-A da mesma lei
prevê o crime relacionado à captação ambiental. Assim estabelece seu
texto:
A realização da interceptação
sem autorização judicial.
A realização da interceptação
com objetivos não autorizados
em lei.
A quebra do segredo de justiça.
 Art. 10-A
Realizar captação ambiental de sinais
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para
i ti ã i t ã i i l t i ã
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Importantes decisões sobre o tema
A interceptação telefônica não
realizada em autos apartados
Apesar do art. 8° da Lei nº 9.296/96 estabelecer que interceptação de
comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos
apartados, o Supremo Tribunal Federal já decidiu, por meio do HC
128102/SP, que não deve ser considerada ilícita a interceptação
telefônica pela simples ausência de autuação. Assim, respeitados os
requisitos essenciais para ocorrência da interceptação, a ausência de
autos apartados configura mera irregularidade, não devendo ser
considerada ilícita a interceptação realizada.
investigação ou instrução criminal sem autorização
judicial, quando esta for exigida:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa.
 § 1°
Não há crime se a captação é realizada por um dos
interlocutores.
 § 2°
A pena será aplicada em dobro ao funcionário
público que descumprir determinação de sigilo das
investigações que envolvam a captação ambiental
ou revelar o conteúdo das gravações enquanto
mantido o sigilo judicial.
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A invalidade da interceptação
telefônica realizada sem prévia
autorização judicial com posterior
consentimento de interlocutor
Na mesma linha da doutrina de que, sob pena de nulidade, qualquer
decisão judicial deve ser devidamente fundamentada, o STF no HC
161.053-SP fixou entendimento de que a interceptação telefônica
realizada sem prévia autorização judicial é inválida mesmo que um dos
interlocutores manifeste posterior consentimento à sua realização.
A degravação não precisa ser
realizada por peritos o�ciais
Por meio do AgRg no
REsp 1233396/DF, o
STF firmou posição no
sentido de que é
desnecessário que a
degravação das
interceptações
realizadas seja feita por
peritos oficiais, diante
de total silêncio da
legislação nesse
sentido.
Todavia, o julgado em
questão afirma que,
havendo fundada
dúvida acerca da
identidade do
interlocutor nas
conversas
interceptadas, a perícia
pode mostrar-se
necessária.
A transcrição integral do conteúdo
das interceptações é desnecessária
O STF (Inq 3693/PA e do HC 278.794) e o STJ (AgRg no REsp
1316907/PR) já firmaram entendimento de que, sendo possível o
acesso do investigado a todas as conversas captadas, não é obrigatória
a realização da transcrição integral do material captado, sendo

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suficiente a degravação dos trechos das conversas que foram
necessários ao embasamento da denúncia oferecida.
Considerando a possibilidade de as conversas obtidas
pela interceptação implicarem em um numeroso
montante de horas de gravação, a não relativização da
necessidade de transcrição integral do material
interceptado acabaria por afetar o tempo razoável para
o início da instrução criminal.
A execução das interceptações por
autoridade distinta da Polícia Civil ou
Polícia Federal
No HC 96986, o Supremo Tribunal Federal defendeu a possibilidade de
realização da interceptação telefônica pela Polícia Militar na hipótese de
suspeita de envolvimento de autoridades policiais da delegacia local.
Observe-se que se trata de uma excepcionalidade, que só seria
admissível nas hipóteses em que a sua realização pela autoridade
policial se mostra verdadeiramente inviável.
Sucessivas renovações de
interceptações telefônicas
A partir do Recurso Extraordinário 625263, com repercussão geral
(Tema 661), o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que é
possível a renovação sucessiva de interceptações telefônicas, desde
que fundamentada e demonstrada a necessidade da medida, com a
apresentação de elementos concretos e da complexidade da
investigação.
Nos termos da decisão paradigma, não se consideram
fundamentadas as renovações que se limitam a repetir
motivações padronizadas e que não dialogam com o
caso concreto.
Veja que essa interpretação está profundamente consonante à nova
sistemática da fundamentação das decisões judiciais estabelecida pela
atualizada redação do art. 315 do CPP, em especial, em seu § 2°, que
assim estabelece:
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 § 2º
Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que
 I -
Limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase
de ato normativo, sem explicar sua relação com a
causa ou a questão decidida;
II -
Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem
explicar o motivo concreto de sua incidência no
caso;
 III -
Invocar motivos que se prestariam a justificar
qualquer outra decisão;
 IV -
Não enfrentar todos os argumentos deduzidos no
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador;
 V -
Limitar-se a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos
d t i t d t b
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determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
 VI -
Deixar de seguir enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso
em julgamento ou a superação do entendimento.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(IDECAN – 2021 – PC-CE – Inspetor de Polícia Civil – Adaptada)
Ricardo está sendo processado por crime de tráfico de
entorpecentes e, durante a instrução criminal, descobriu que foi alvo
de interceptação telefônica. Em conversa reservada com seu
advogado, especialista em matéria penal, pediu para que fosse
esclarecido como o Superior Tribunal de Justiça tem se
posicionado acerca da complexidade do tema.
Nesse cenário, assinale a afirmativa correta.
A
Embora não haja previsão na Lei nº 9.296/96 sobre
o procedimento de degravação dos diálogos objeto
da interceptação telefônica, tais degravações
prescindem de serem feitas por perito oficial.
B
É possível a determinação de interceptações
telefônicas com base em denúncia anônima, desde
que corroborada por outros elementos que
confirmem a necessidade da medida excepcional.
C
A interceptação telefônica será deferida mesmo
quando houver outros meios de prova disponíveis à
época na qual a medida invasiva foi requerida.
D
É legítima a prova obtida por meio de interceptação
telefônica para apuração de delito punido com
detenção, se conexo com outro crime apenado com
reclusão.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
Trata-se de reprodução sintonizada com o inciso III do art. 2º da Lei
nº 9.296/96. Se o fato investigado constitui infração penal punida,
no máximo, com pena de detenção, é vedada a interceptação de
comunicações telefônicas. Este é um dos requisitos negativos para
a medida.
Questão 2
(IDECAN – PEFOCE – Farmácia – 2021) A lei que regulamentou o
inciso XII, parte final, do artigo 5º da Constituição Federal –
9.296/1996 – trata da autorização, regulamentação e limites para a
realização da interceptação telefônica como meio de prova no
processo penal.
Trata-se de procedimento de natureza cautelar, que de maneira
excepcional (cabível apenas nos casos em que não seja possível a
obtenção de provas por outros meios) permite a violação da
privacidade desde que seguidos os requisitos de admissibilidade e
realizados da forma prescrita em lei.
Acerca da interceptação telefônica, assinale a alternativa correta.
E
Não há necessidade de degravação dos diálogos
objeto de interceptação telefônica, em sua
integralidade, visto que a Lei nº 9.296/96 não faz
qualquer exigência nesse sentido.
A
A alteração superveniente da competência torna
inválida a decisão acerca da interceptação
telefônica determinada por juízo inicialmente
competente para o processamento do feito.
B
São possíveis as prorrogações sucessivas da
interceptação telefônica sem que haja limite de
vezes, desde que ainda presentes os pressupostos
de admissibilidade e por meio de decisões
fundamentadas.
C
O termo inicial da interceptação telefônica é o dia da
autorização judicial, e não o dia em que ela foi
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A partir do Recurso Extraordinário 625263, com repercussão geral
(Tema 661), o Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que
é possível a renovação sucessiva de interceptações telefônicas
desde que fundamentada e demonstrada a necessidade da medida
com a apresentação de elementos concretos e da complexidade da
investigação.
Considerações �nais
Sob luz do das Leis Federais nº 9.296/96, 13.869/2019 e 13.964/2019,
vimos a consistência da interceptação telefônica, os requisitos e os
elementos para sua efetuação legal. Além disso, vimos, pela ótica do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, a regulamentação do procedimento da interceptação. Por fim,
abordamos decisões mais recentes, tratadas nos tribunais brasileiros
sobre a interceptação telefônica, no que diz respeito à validade desse
meio de obtenção de prova.
Podcast
efetivada, devendo os 15 (quinze) dias serem
contados a partir da autorização da medida.
D
Interceptação telefônica, gravação telefônica,
escuta telefônica e captação telefônica são
conceitos sinônimos estabelecidos e regulados pela
Lei nº 9.296/1996.
E
A lei que trata da interceptação telefônica determina
que a autoridade policial conduzirá os
procedimentos de interceptação e o Ministério
Público deverá acompanhar a sua realização, ambos
participando do auto circunstanciado.

15/09/2023, 21:21 Aspectos peculiares da interceptação telefônica
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Neste podcast, o especialista abordará as formas e hipóteses da
interceptação telefônica. Além disso, tratará das recentes alterações
desse instituto, a partir da análise da Lei nº 13.964/19 (Pacote
Anticrime).
Explore +
Leia o texto As principais controvérsias a respeito das
interceptações telefônicas, de Fábio Motta Lopes, publicado na
Revista Brasileira de Ciências Policiais.
Aprofunde seu conhecimento lendo o texto A interceptação
telefônica como meio de obtenção de provas e a (in)validade da
prova obtida fortuitamente, de Tatiane Mollman e Maciel Coll.
Referências
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Relator do HC nº 81.260/ES, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, j. 14/11/2001, dj. 19/04/2002.
LIMA, R. B. de. Legislação criminal especial comentada: volume único.
7. ed. Rev. atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2019.
LIMA, R. B. de. Manual de processo penal: volume único. 7. ed. Rev.
atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2019.
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