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15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 1/64 Legislação extravagante econômica Prof. Bernardo Braga Descrição Os delitos econômicos como forma de proteção estatal das relações econômicas por meio da criação de normas penais incriminadoras. Propósito Contextualizar os delitos praticados contra a ordem tributária, econômica, relações de consumo e o Sistema Financeiro Nacional, bem como os crimes de lavagem de dinheiro, pertinência à organização criminosa e terrorismo, estabelecendo suas principais características e hipóteses de incidência. Preparação É necessário ter em mãos para consulta a Constituição Federal, bem como a legislação penal extravagante, nomeadamente as seguintes: Lei n.º 8.137/90, Lei n.º 12.850/13, Lei n.º 9.613/98, Código Tributário Nacional, Código Penal, Código de Defesa do Consumidor. Objetivos Módulo 1 Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 2/64 Identificar as principais características e formas de incidência dos crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo. Módulo 2 Crimes de lavagem de capitais e colarinho branco Reconhecer os principais elementos dos crimes de lavagem de capitais e colarinho branco. Módulo 3 Organização criminosa Analisar os elementos e forma de incidência do crime de organização criminosa. Módulo 4 Terrorismo Avaliar as principais características do crime de terrorismo. O Direito Penal Econômico visa a proteção qualificada da atividade econômica, desenvolvida na economia de livre mercado, por meio de normas incriminadoras que vedem a prática de condutas praticadas em face de tal bem jurídico. A doutrina especializada aponta como características principais do Direito Penal Econômico: Caráter altamente incriminador, ao criminalizar condutas que configuravam meras infrações administrativas; Utilização de conceitos amplos, indeterminados e muitas vezes vagos para a constituição do tipo penal, uma vez que influenciados por institutos do direito econômico; Introdução 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 3/64 1 - Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de identificar as principais características e formas de incidência dos crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo. Crimes contra a ordem tributária Os crimes contra a ordem tributária, também intitulados de delitos tributários, podem ser encontrados tanto no Código Penal, nas modalidades apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, C.P.), sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A, C.P.) e descaminho (art. 334, C.P.), quanto na Lei n. 8.137/90, que prevê em seus primeiros artigos, 1º a 3º, hipóteses de condutas que atingem diretamente o referido bem jurídico coletivo. Desta forma, no ponto seguinte, serão analisados os principais delitos de sonegação fiscal previstos em nosso ordenamento jurídico, estabelecidos nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137/90. Emprego desmedido de normas penais heterogêneas para a criação de crimes econômicos, já que tal técnica permite uma maior maleabilidade na delimitação das condutas proibidas. Passamos, então, nos pontos seguintes, a analisar os principais crimes pertencentes à categoria do Direito Penal Econômico. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 4/64 Crimes contra a ordem tributária No vídeo a seguir, o especialista Bernardo Braga, doutor em Direito Processual, discorre sobre os crimes contra a ordem tributária, trazendo suas principais características. Vamos assistir! Dos crimes tributários previstos no art. 1º da lei 8.137/90 Bem jurídico Tutela-se a ordem tributária, ou seja, o Erário público. Sujeitos ativo e passivo Quanto ao sujeito ativo, o crime é especial próprio, uma vez que apenas o sujeito passivo da obrigação tributária poderá praticá-lo, na forma do art. 121, parágrafo único, do Código Tributário Nacional. Atenção! Caso o contribuinte seja pessoa jurídica, em razão da impossibilidade constitucional de atribuição de responsabilidade penal a pessoas jurídicas em crimes que não sejam ambientais, o sujeito ativo do delito será o administrador responsável direto pelo recolhimento do tributo Nossa doutrina aponta como sujeitos passivos do crime tributário a própria sociedade e, secundariamente, o Estado, que deixa de dispor de recursos necessários para a realização das políticas públicas. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 5/64 Tipo objetivo O caput do art. 1º da Lei 8.137/90 prevê que constitui crime contra a ordem tributária a supressão ou redução de tributo, contribuição social ou qualquer acessório mediante as condutas previstas nos seus incisos. Enquanto a supressão revela-se como o não pagamento integral do tributo devido, a redução configura o seu pagamento a menor. Deve-se ressaltar que, segundo nossa jurisprudência dominante, tributo é gênero, cujas espécies são os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria, os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais, sendo certo, todavia, que o crime de supressão de contribuições previdenciárias é regrado, como visto, pelo Código Penal. Os incisos I a IV são considerados crimes materiais e proíbem as condutas de: I. omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II. fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III. falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV. elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato. São hipóteses em que há efetiva falsidade e intenção de enganar o Fisco, razão pela qual eventuais delitos de falsum já se encontram absorvidos por essas modalidades delitivas. A Súmula Vinculante n. 24, do Supremo Tribunal Federal, estabelece a necessidade de prévio esgotamento da instância administrativa para a instauração de persecução penal nas hipóteses dos incisos I a IV, configurando, portanto, a constituição definitiva do crédito tributário verdadeira condição objetiva de punibilidade. Em razão de tal regra, a prescrição de tais delitos apenas começa a correr com o adimplemento da citada condição. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 6/64 Ademais, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça vêm admitindo a incidência do princípio da insignificância nas hipóteses de sonegação de tributo federal quando o crédito tributário não superar o valor de R$ 20 mil, com base nas portarias 75/12 e 130/12 do Ministério da Fazenda. Mas, independentemente do valor do tributo sonegado, caso haja o seu pagamento integral, o art. 9º, parágrafo 2º, da Lei 10.684/03 determina que seja declarada extinta a punibilidade. Além disso, caso solicitado o parcelamento do valor devido ao Fisco antes do recebimento da denúncia, na forma do art. 83, parágrafos 2º e 3º, da Lei 9.430/96, a persecução penal deverá ser imediatamente suspensa, sustando-se, também, o prazo prescricional. O inciso V do art. 1º estabelece como criminosa a conduta de “negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa à venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação”, aproximando-se, inclusive, de uma conduta contrária às relações de consumo.Trata-se de norma penal em branco, que exige a análise da legislação tributária pertinente para a verificação da forma adequada de fornecimento de notas fiscais. Por fim, o parágrafo único do art. 1º estabelece conduta omissiva equiparada referente a uma forma especial do crime de desobediência previsto no art. 330, CP. Pune-se a conduta de deixar de atender “exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 7/64 convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência”. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Parte da doutrina aponta a existência de um especial fim de agir, manifestado na intenção de fraudar o Fisco. Consumação Os incisos I a IV revelam hipóteses de crimes materiais, restando consumados apenas com a efetiva supressão ou redução do tributo. Nossa doutrina majoritária estabelece que o inciso V configura crime formal que se consumará com a simples prática da conduta proibida. Por fim, o parágrafo único é crime a prazo que restará consumado com o encerramento do prazo para o adimplemento da obrigação estabelecida pela autoridade fiscal. Causas de aumento ou diminuição de pena As penas previstas para o crime do art. 4º serão aumentadas de 1/3 à metade desde que a conduta: Ocasione grave dano à coletividade. Seja praticada por servidor público no exercício de suas funções. Seja praticada em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde. Por sua vez, caso o crime seja praticado em associação criminosa ou coautoria, “o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 8/64 revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.” Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. Ação penal Pública incondicionada. Dos crimes tributários previstos no art. 2º da lei 8.137/90 Bem jurídico Tutela-se a ordem tributária, ou seja, o Erário público. Sujeitos ativo e passivo Quanto ao sujeito ativo, o crime é especial próprio, uma vez que apenas o sujeito passivo da obrigação tributária poderá praticá-lo, na forma do art. 121, parágrafo único, do Código Tributário Nacional. Atenção! Note-se que, caso o contribuinte seja pessoa jurídica, em razão da impossibilidade constitucional de atribuição de responsabilidade penal a pessoas jurídicas em crimes que não sejam ambientais, o sujeito ativo do delito será o administrador responsável direto pelo recolhimento do tributo. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 9/64 Nossa doutrina aponta como sujeitos passivos do crime tributário a própria sociedade e, secundariamente, o Estado, que deixa de dispor de recursos necessários para a realização das políticas públicas. Tipo objetivo O caput do art. 2º da Lei 8.137/90 prevê que igualmente constitui crime contra a ordem tributária a prática das condutas previstas especificamente em seus incisos. Vejamos: Inciso I Proíbe o ato de “fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo”, sendo punidas as modalidades comissiva e omissiva. Trata-se de verdadeira modalidade tentada dos delitos previstos nos incisos I e II do art. 1º, uma vez que aqui não se revela necessária a efetiva supressão ou redução do tributo. Inciso II Aplica-se ao sujeito passivo da obrigação tributária, incluindo-se aqui o responsável legal tributário previsto no art. 121, inciso II, do Código Tributário Nacional. A hipótese comum de incidência de tal modalidade delitiva revela-se em casos envolvendo tributos com responsabilidade por substituição tributária, como o ICMS-ST, em que o responsável tributário desconta antecipadamente o valor devido pelo contribuinte de fato e deixa de repassá-lo ao Fisco. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RHC 163.334, afirmou a constitucionalidade do referido dispositivo, ainda que se trate de ICMS próprio, afastando a tese de que se trataria de punição por mero inadimplemento tributário. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 10/64 O conceito de “programa de processamento de dados” encontra-se disciplinado no art. 1º da Lei 9.609/98. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Parte da doutrina aponta a existência de um especial Inciso III Assim como o inciso IV, pune condutas ilícitas ligadas à concessão de incentivos fiscais. Proíbe o ato de “exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal”, albergando prescrições especiais dos crimes de concussão (art. 316. C.P.) e corrupção passiva (art. 317, C.P.). Inciso IV Veda o desvio de finalidade na aplicação dos valores advindos do incentivo fiscal ao criminalizar as condutas omissiva e comissiva de “deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento”. Inciso V Tipifica a conduta de “caixa 2 tributário”, impedindo a existência de contabilidade paralela fiscal, ao criminalizar o ato de “utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública”. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 11/64 fim de agir, manifestado na intenção de fraudar o Fisco. Consumação Os incisos previstos no art. 2º são crimes formais, restando, portanto, consumados com a simples prática das condutas neles previstas, independentemente da efetiva supressão ou redução de tributos. Causas de aumento ou diminuição de pena As penas previstas para o crime do art. 4º serão aumentadas de 1/3 à metade desde que a conduta: Ocasione grave dano à coletividade. Seja praticada por servidor público no exercício de suas funções. Seja praticada em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde. Por sua vez, caso o crime seja praticado em associação criminosa ou coautoria, “o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.” 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 12/64 Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. Ação penal Pública incondicionada. Crimes contra a ordem econômica Dentre os chamados crimes contra a ordem econômica, temos como principais figuras delitivas o art. 4º da Lei 8.137/90, que, em suma, veda o acordo ilícito entre concorrentes, e o art. 1º, incisos I e II, da Lei 8.176/91, que visa proibir condutas envolvendo derivados de petróleo. Passa-se, então, à análise de tais tipos penais. Dos crimes contra a concorrência – art. 4º da lei 8.137/90 Bem jurídico Tutela-se a livre concorrência como fundamento da ordem econômica. Ressalte-se que nossa Constituição Federal, em seu art. 173, parágrafo 4º, determina que a lei deverá reprimir o abuso do poder econômico.Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo O crime é especial próprio, uma vez que quem poderá praticar o delito é o empresário, entendido como aquele que exerce 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 13/64 profissionalmente atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços. Sujeito passivo Figuram como sujeitos passivos tanto a coletividade quanto os empresários concorrentes prejudicados. Tipo objetivo As formas delitivas previstas originalmente no art. 4º da Lei 8.137/90 foram alteradas pela Lei n. 12.529/11, que estruturou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. O novo inciso I estabelece que constitui crime contra a ordem econômica “abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas”. O núcleo do tipo é abusar do poder econômico, que restará configurado quando seu detentor o utiliza com a finalidade de prejudicar consumidores e eventuais concorrentes, atingindo, desta forma, a competitividade em determinada área da economia. Exemplo Podemos citar a prática do dumping, em que se emprega valores menores que os de mercado com o fim de eliminar a concorrência em determinada localidade. Embora, no passado, tal conduta já tenha sido expressamente tipificada, existe a possibilidade, atualmente, de sua inserção no mencionado inciso I. O inciso II, por sua vez, visa criminalizar a formação de cartel. Trata-se de crime de conduta vinculada em que a conduta típica de cartel estará configurada sempre que o ajuste entre os competidores visar: À fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas. Ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 14/64 Ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. Quanto às modalidades: A primeira modalidade trata-se da manipulação ardilosa da “Lei da Oferta e da Procura”; Na segunda hipótese divide-se o mercado para que determinadas empresas dominem regiões específicas; Na terceira e última modalidade impede-se que concorrentes tenham acesso a mercadorias ou formas de distribuição de produtos. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Parte da doutrina aponta a existência de um especial fim de agir, manifestado na intenção de dominar o mercado, eliminando a concorrência. Consumação O inciso I trata-se de delito de resultado, exigindo-se para a sua configuração o efetivo domínio do mercado. Há quem entenda que as hipóteses do inciso II configuraram delitos de mera conduta, verificando- se independentemente da obtenção da finalidade dos acordos espúrios. É admissível a tentativa em ambos os incisos. Causas de aumento ou diminuição de pena As penas previstas para o crime do art. 4º serão aumentadas de 1/3 à metade desde que a conduta: Ocasione grave dano à coletividade. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 15/64 Seja praticada por servidor público no exercício de suas funções. Seja praticada em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde. Por sua vez, caso o crime seja praticado em associação criminosa ou coautoria, “o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.” Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. Ação penal Pública incondicionada. Dos crimes de adulteração de combustíveis – art. 1º, incisos I e II, da lei 8.176/90 Bem jurídico Política econômica relativa à normalidade do abastecimento de combustíveis e derivados. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 16/64 Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo O crime é comum, uma vez que qualquer pessoa pode praticá-lo. Parte da doutrina aponta que a modalidade do inciso I configuraria crime especial próprio, na medida em que o agente seria o diretor, gerente ou proprietário do estabelecimento industrial ou comercial. Sujeito passivo Os sujeitos passivos são a coletividade e, secundariamente, a pessoa que sofreu o prejuízo. Tipo objetivo O inciso I estabelece que constitui crime contra a ordem econômica “adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei”. Os núcleos do tipo são, portanto: a) adquirir – obter, ainda que gratuitamente; b) distribuir, que seria a atividade de comercializar por atacado, conforme o art. 6º, inciso XX, da Lei 9.478/97; C) revender, que seria a atividade de venda a varejo de combustíveis ou derivados por postos e revendedores, conforme o art. 6º, inciso XXI, da Lei 9.478/97. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 17/64 Os objetos materiais do delito previsto no inciso I são os derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico, hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes. Atenção! Para a doutrina, é qualquer substância que, por meio da combustão, produz energia. A utilização da expressão “em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei” demonstra tratar-se de norma penal em branco, devendo o intérprete buscar as regras relativas a tais fontes energéticas para verificar suas formas de aquisição, distribuição e revenda, como, por exemplo, as Leis 9.478/97 e 9.847/99. Uma das fraudes comuns que incidem na referida conduta delitiva é o fato de o agente adquirir álcool anidro, cuja tributação é mais baixa, e adulterá-lo com acréscimo de água para simular álcool hidratado. Já o inciso II prevê que igualmente será considerado crime contra a ordem econômica “usar gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas, caldeiras e aquecimentos de piscinas, ou para fins automotivos, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei”. Saiba mais Gás liquefeito, segundo a doutrina especializada, é o gás comprimido obtido como subproduto na refinação do petróleo ou na fabricação de gasolina natural, também chamado de “gás engarrafado”. Novamente aqui o legislador se utilizou da técnica da norma penal em branco. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Consumação Tanto o delito previsto no inciso I quanto o do inciso II se consumarão com a prática da conduta vedada. Há divergência acerca da possibilidade de tentativa, sendo certo que parte da doutrina a admite na hipótese do inciso II. Ação penal Pública incondicionada. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 18/64 Crimes contra as relações de consumo A lei 8.137/90, além de trazer, como visto, disposições referentes a crimes contra as ordens tributária e econômica, também prevê, em seu art. 7º, diversas condutas delitivas que visam tutelar contra as relações de consumo, complementando o ordenamento penal do consumidor previsto no próprio CDC. Dos crimes contra as relações de consumo – art. 7º da lei 8.137/90 Bem jurídico A norma penal incriminadora tutela as relações de consumo, protegendo os direitos do consumidor previstos no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90). Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo Os crimessão especiais próprios, sendo praticado pelos fornecedores de mercadoria ou serviços. Sujeito passivo Figuram como sujeitos passivos tanto o Estado quanto os consumidores eventualmente desfavorecidos. Tipo objetivo 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 19/64 O caput do art. 7º da Lei 8.137/90 prevê que constitui crime contra as relações de consumo a prática das condutas previstas especificamente em seus incisos. O inciso I criminaliza a conduta de “favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores”. Trata-se de modalidade especial frente ao art. 2º, II, da Lei 1.521/51, afastando-se sua aplicação quando se tratar de relações de consumo. A locução “sem justa causa” é um elemento normativo do tipo, que depende da interpretação do operador do direito, podendo se imaginar uma hipótese descriminalizante quando o vendedor, por exemplo, estabelece eventual atendimento presencial a idosos e gestantes. O inciso II veda o ato de “vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial”. Revela-se hipótese de norma penal em branco que deverá ser complementada pelas normas consumeristas, inclusive de origem administrativa. Atenção! Se o destinatário da mercadoria não for consumidor propriamente dito, mas sim um revendedor, por exemplo, nossa doutrina aponta que não haverá incidência da norma. O inciso III proíbe a conduta de “misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os de mais alto custo”. Tal dispositivo configura hipótese especial de fraude no comércio, afastando a regra geral do art. 175, II, C.P. sempre que verificada a relação de consumo. Parte da nossa doutrina defende que o segmento final do dispositivo só tem incidência quando existe tabelamento oficial do preço da mercadoria pelo Estado. O inciso IV criminaliza a o ato de fraudar preços nas seguintes hipóteses: 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 20/64 Como são modalidades de alteração fraudulenta de preços, comumente conhecidas como “maquiagem de produtos”, tem se exigido, para a sua configuração, a existência de resultado lesivo ao patrimônio do consumidor. O inciso V, conhecido como crime de usura nas relações de consumo, prevê como típica a conduta de “elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais”. A norma encerra caso de tipo misto alternativo, especial com relação ao art. 4º, alínea “a”, da Lei n. 1.521/51. Saiba mais Alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço. Divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto. Junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado. Aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 21/64 Para a configuração do elemento normativo “juros ilegais”, é necessário, segundo nossa jurisprudência dominante, a evidência da usura, analisada sempre diante do caso concreto. O inciso VI, por sua vez, veda o ato de “sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação”. Vejamos: A primeira parte do dispositivo visa evitar a negativa da venda ao consumidor que foi publicamente atingido pela oferta, seja por meios de comunicação, folheto ou indicação na própria loja; Quanto à parte final, busca-se impedir que o autor do delito acabe interferindo na cotação do produto, gerando especulação de preços. O inciso VII prevê a conduta de propaganda enganosa, proibindo o ato de “induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária”. Nossa doutrina majoritária afirma tratar-se do exaurimento dos crimes previsto nos arts. 66 e 67 do C.D.C., na medida em que, para a sua configuração, deve haver efetivo prejuízo ao consumidor, afastando-se, neste caso, a incidência dos dispositivos do código consumerista. Ressalte-se que a afirmação “falsa ou enganosa” tem que ser efetivamente apta a causar engano, sob pena de atipicidade da conduta. O inciso VIII, bem como a última parte do inciso VI, visa evitar a manipulação indevida de preços de produtos. Para tal, veda a conduta de “destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros”. Atenção! Não há a necessidade da efetiva geração da alta do preço, mas sim apenas a intenção de atingi-la mediante a destruição, inutilização ou dano à matéria-prima ou mercadoria. Por fim, o inciso IX, revela, talvez, a hipótese de maior incidência prática dos crimes contra a relação ao tipificar a conduta de “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”. Trata-se de norma penal em branco que, segundo nossa jurisprudência, deve ser complementada pelo art. 18, parágrafo 6º, C.D.C, que estabelece serem impróprios ao uso e consumo: I. Os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 22/64 II. Os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III. Os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Tal prescrição legal revela um tipo misto alternativo, uma vez que, independentemente de o agente vender, expor à venda e, também, entregar a mesma mercadoria imprópria, responderá uma única vez pelo delito. Nossa doutrina afirma que não será típica a conduta se a substância já se encontrar em local para descarte, em local inacessível ao consumidor, ou mesmo se este já estiver avisado de que não se trata de produto para venda. Tipo subjetivo O elemento subjetivo geral de todas as condutas previstas nos incisos do art. 7º é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. O inciso III exige como especial fim de agir o objetivo de vender ou expor à venda os produtos irregulares. O inciso VI, em sua 2ª parte, por sua vez, prevê como dolo específico a intenção de especulação na retenção, enquanto o inciso VIII exige a intenção de beneficiar a si mesmo ou a terceiros. Em razão de expressa previsão do parágrafo único do dispositivo, as modalidades previstas nos incisos II, III e IX podem ser punidas por mera culpa, reduzindo-se a pena e a detenção de 1/3 (um terço) ou a de multa à quinta parte. Consumação As condutas previstas no art. 7º se consumarão, em regra, quando da prática do núcleo do tipo, independentemente da existência de resultado lesivo ao consumidor, salvo na modalidade do inciso VII, em que se exige o efetivo prejuízo. Admite-se a tentativa quando, na prática, os crimes verificarem-se plurissubsistentes. Causas de aumento ou diminuição depena As penas previstas para o crime do art. 4º serão aumentadas de 1/3 à metade desde que a conduta: 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 23/64 Ocasione grave dano à coletividade. Seja praticada por servidor público no exercício de suas funções. Seja praticada em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde. Por sua vez, caso o crime seja praticado em associação criminosa ou coautoria, “o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.” Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. Ação penal Pública incondicionada. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 24/64 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (IDECAN – PC/CE – Inspetor de Polícia Civil – 2021) Joelma foi encaminhada à Delegacia Policial pela suposta prática do delito descrito no artigo 7º, IX, da Lei 8.137/90, tendo em vista que, em seu estabelecimento comercial, havia um único produto exposto que estava fora da validade prevista pelo fabricante. De acordo com o previsto no referido artigo, é vedado “vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo”. A investigação não realizou qualquer exame pericial no produto, apenas se baseando na validade exposta pelo fabricante para indiciar Joelma. Posteriormente, o Ministério Público denunciou Joelma exatamente pela conduta descrita acima. Em relação aos fatos narrados, é correto afirmar que A a denúncia foi corretamente embasada no inquérito policial, que materializou a prova de que o produto estava fora da validade e, por óbvio, impróprio para consumo. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 25/64 Parabéns! A alternativa C está correta. O crime contra as relações de consumo previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei 8.137/90 é crime material, cuja comprovação depende de realização de exame pericial. Questão 2 (IDECAN – PC/CE – Inspetor de Polícia Civil – 2021) Mauro foi denunciado pela prática do delito de supressão de tributos, tipificado no artigo 1º, I, da Lei 8.137/90. Acontece que, desde que foi autuado pela autoridade fazendária, Mauro recorreu da decisão, discordando do agente que o autuou. O processo administrativo ainda se encontra em andamento, não tendo a autoridade fazendária, até o momento, decidido de forma definitiva o lançamento do crédito tributário. Atento ao que foi narrado, bem como ao entendimento dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa correta: B se ocorreu a prova inequívoca de que o produto estava fora da validade, não há necessidade de realização de exame pericial de acordo com o CPP, pelo princípio da celeridade. C a denúncia carece de justa causa, pois o crime mencionado deixa vestígios materiais, sendo indispensável, portanto, a realização de perícia para sua comprovação. D o Código de Processo Penal estabelece que o exame de corpo de delito é dispensável quando ocorra a prova inequívoca da materialidade. E a Lei 8.137/90 determina que, no caso específico do enunciado, o exame pericial, excepcionalmente, pode não ser realizado, comprovando-se a materialidade pela data de validade. A O crédito tributário não é elemento do tipo penal descrito no artigo 1º, inciso I, da Lei 8.137/90, razão 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 26/64 Parabéns! A alternativa C está correta. De acordo com a Súmula Vinculante 24 do Supremo Tribunal Federal, “não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”. pela qual não faz sentido aguardar o resultado do lançamento definitivo. B Os crimes descritos no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90 são delitos formais, razão pela qual não há qualquer ligação com o lançamento do crédito definitivo pela autoridade tributária. C Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. D O Poder Judiciário não pode ficar vinculado a uma decisão da esfera administrativa, já que o correto é que o juiz fique adstrito às provas constantes dos autos, na busca da verdade processual (“o que não está nos autos não está no meu mundo”). E Pelo princípio da independência das instâncias, é possível que a existência do fato alegadamente delituoso e a identificação da respectiva autoria se definam na esfera penal sem vinculação com a instância administrativa. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 27/64 2 - Crimes de lavagem de capitais e colarinho branco Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer os principais elementos dos crimes de lavagem de capitais e colarinho branco. Lavagem de capitais No vídeo a seguir, o especialista Bernardo Braga, doutor em Direito Processual, discorre sobre o crime de lavagem de capitais, trazendo suas principais características. Vamos assistir! Crime de lavagem de capitais – art 1º da lei n. 9613/98 A chamada “lavagem de dinheiro” revela-se como um processo por meio do qual eventuais bens de origem criminosa são integrados no sistema econômico legal com a aparência de que teriam sido obtidos licitamente. Nossa doutrina majoritária aponta que tal “processo” seria composto, em regra, por três fases: 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 28/64 Tal conduta é tipificada em nosso ordenamento no art. 1º da Lei 9.613/98, diploma legal este que também prevê diversas regras processuais que visam auxiliar no combate eficaz à lavagem de capitais Por se tratar de um procedimento criminoso complexo que, em muitas hipóteses, transbordará as fronteiras nacionais, para que sejam possibilitadas a prevenção e a repressão adequadas, tanto a cooperação internacional entre os países quanto a cooperação privada de determinadas atividades empresariais previstas no art. 9º e seguintes da lei mostram-se necessárias. Bem jurídico Há grande divergência quanto ao bem jurídico tutelado pelo delito de lavagem de capitais. Basicamente, existem quatro correntes sobre o tema: 1 Para a primeira, o delito de lavagem de dinheiro visaria tutelar o mesmo bem jurídico da infração penal antecedente cujo fruto A ocultação, fase inicial na qual o objetivo seria distanciar o valor de sua origem, como, por exemplo, com a alteração quantitativa dos valores, movimentando-os em quantias menores, ou mesmo o depósito em conta de chamados “laranjas”. O mascaramento ou dissimulação, fase intermediária em que o processo de ocultação se torna mais complexo, com a realização, por exemplo, de transações financeiras ou comerciais mais elaboradas. A integração, fase final em que os valores já se encontram introduzidos na economia formal com aparência de lícitos. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 29/64 ilícito teria sido transformado, ou seja, caso se trate, por exemplo, de lavagem de valores advindos do delito de tráfico de entorpecentes, o objeto jurídico seria a saúde pública. 2 Para a segunda corrente, o crime do art. 1º da Lei 9.613/98 tutelaria a ordem econômica, na medida em que a inserção de valores de origem ilícita por um determinadoagente econômico em sua atividade empresarial geraria um desequilíbrio natural entre os concorrentes. 3 Para a terceira corrente, majoritariamente aceita, o delito de lavagem de capitais protege a administração da Justiça, uma vez que a ocultação dos valores oriundos de crimes anteriores dificulta a própria atividade de persecução penal. 4 Para a quarta corrente, o crime seria pluriofensivo, assim, tanto a administração da justiça quanto a ordem econômica seriam tuteladas pela referida norma penal incriminadora. Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo Quanto ao sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Em nosso ordenamento jurídico, admite-se até mesmo que o agente da infração penal antecedente, cujos valores foram lavados, seja o autor do delito de lavagem, possibilitando-se, assim, a intitulada “autolavagem”. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 30/64 Tipo objetivo O caput art. 1º veda a conduta de “[o]cultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal”. O dispositivo prevê, portanto, os núcleos do tipo “ocultar” e “dissimular” que, como visto, configuram a primeira e a segunda fase do processo de lavagem. Trata-se de tipo misto alternativo, ou seja, independentemente da prática das duas condutas, o agente será responsabilizado somente uma vez pelo delito. Note-se que a terceira fase, de integração da economia, não é prevista expressamente no tipo penal, se tratando de mero exaurimento do crime. O uso não encoberto do fruto da infração penal antecedente não configura o delito de lavagem de capitais, como, quando, por exemplo, com o dinheiro fruto de corrupção passiva, o funcionário público compra um imóvel e registra em seu próprio nome. Os objetos materiais do crime são os bens, direitos ou valores provenientes direta ou indiretamente de qualquer infração penal antecedente, seja crime ou mesmo contravenção penal. Comentário Sujeitos passivo O sujeito passivo do delito, em regra, é o Estado, titular dos bens jurídicos administração da Justiça e ordem econômica. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 31/64 Antes da alteração introduzida pela Lei 12.683/12, o dispositivo previa um rol taxativo de crimes que poderiam configurar infração antecedente do delito de lavagem. A redação atual, todavia, não estabelece mais qualquer requisito, bastando apenas que a infração penal antecedente seja um injusto penal, ou seja, ato típico e ilícito. O parágrafo 1º do art. 2º da Lei estabelece, inclusive, que para o oferecimento da denúncia bastam indícios de sua existência. Ainda sobre a infração penal antecedente, caso nela incida o princípio da insignificância, a consequência será também a declaração da atipicidade do delito de lavagem de capitais. Os parágrafos 1º e 2º estabelecem como condutas equiparadas à lavagem de dinheiro os atos de quem: converte os bens ilícitos em ativos lícitos; “os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere”; “importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros”; “utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo”; “utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal”; “participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei”. Sobre os aspectos processuais penais da Lei, o art. 4º estabelece que o “juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes.” 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 32/64 Admite-se, ainda, o bloqueio de bens para fins reparatórios, na forma do parágrafo 4º, bem como possível alienação antecipada, conforme o parágrafo 1º do art. 4º e o art. 4º-A. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Assim, como regra, o agente deve ter efetivo conhecimento da origem ilícita dos bens ocultados. Embora parte da doutrina não admita a prática do delito de lavagem de capitais por dolo indireto eventual, nossa jurisprudência vem aceitando tal possibilidade. Exige-se, ainda, majoritariamente, o especial fim de agir implícito de inserir os valores no sistema econômico com aparência de licitude, sob pena de se equiparar equivocadamente a conduta de lavagem ao crime de favorecimento real. Consumação O delito se consumará com a alteração naturalística do objeto do delito antecedente, sendo certo que parte da doutrina tem apontado que se trata de crime permanente, cujas execução e consumação se prolongariam no tempo enquanto os valores ilícitos permanecessem ocultos. Causas de aumento e de diminuição de 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 33/64 pena O parágrafo 4º do art. 1º prescreve uma causa de aumento de pena ao determinar que: [a] pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. (BRASIL, 1998) Ressalte-se que o conceito de organização criminosa em nosso ordenamento jurídico está previsto no art. 1º, parágrafo 1º, da Lei 12.850/13. Já o parágrafo 5º do mesmo dispositivo estabelece que “[a] pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 34/64 Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. Ação penal Pública incondicionada. Dos crimes contra o colarinho branco – Lei n. 7.492/86 A expressão “crimes contra o colarinho branco” foi cunhada para denominar os chamados delitos financeiros qualificados por hipóteses delitivas em que os sujeitos ativos são membros das mais altas camadas sociais econômicas. Em nosso ordenamento jurídico, os crimes financeiros estão previstos na Lei 7.492/86, que prevê em seu art. 26 a competência exclusiva da Justiça Federal para processar e julgar tais delitos. Assim, suas principais figuras delitivas serão analisadas a seguir. Gestão fraudulenta ou temerária de instituição financeira – art. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 35/64 4º Bem jurídico Tutela-se a higidez das instituições financeiras que compõem o Sistema Financeiro Nacional. O art. 1º da lei estabelece que se considera instituição financeira, para efeito daquela lei, a pessoa jurídica de direito público ou privado que tenha como atividade principal ouacessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários. Além disso, o parágrafo único do referido dispositivo estende o conceito de instituição financeira para incluir: A pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros. A pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de forma eventual. Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo Quanto ao sujeito ativo, o crime é especial próprio, uma vez que quem poderá praticar o delito são as pessoas descritas no art. 25, caput e parágrafo 1º, da Lei, quais sejam: o controlador, os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores e gerentes, bem como o interventor, liquidante e o administrador judicial. Sujeito passivo 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 36/64 Nossa doutrina aponta como sujeitos passivo do delito o Estado e o próprio mercado financeiro, que será atingido quando se põe em risco a saúde financeira da instituição. Tipo objetivo O art. 4º prevê duas hipóteses delitivas: Para parte de nossa doutrina, tratar-se-ia de crime habitual próprio, em que a reiteração da conduta é necessária para a própria configuração do tipo penal. Entretanto, nossa jurisprudência tem entendido tratar-se de crime habitual impróprio, ou seja, ainda que o núcleo do tipo exija a reiteração da conduta, a prática de um único ato de gestão, com intenção de reiterá-lo, já seria suficiente para configurar os crimes previstos no art. 4º. Para a configuração de gestão fraudulenta, previsto no caput, há de se comprovar a existência de alguma forma de fraude, ardil, malícia por parte do administrador na gestão da instituição, ou seja, a utilização de mecanismos para encobrir os atos ilícitos praticados com fim de obter vantagem para si ou para terceiro. Exemplo A realização de simulação de operações financeiras com o fim de enganar o mercado. Já o delito de gestão temerária, estabelecido no parágrafo único do art. 4º, visa proibir a prática de atos de gestão que ultrapassem os limites de prudência, aumentando o risco juridicamente tolerado na administração A gestão fraudulenta de instituição financeira, trazida em seu caput, cuja pena é de reclusão de 3 a 12 anos, e multa. A gestão temerária de instituição financeira, prevista no parágrafo único, cuja pena é de 2 a 8 anos, e multa. Ambas as figuras, portanto, visam punir os atos de gestão do administrador da instituição financeira praticados irregularmente. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 37/64 das instituições financeiras, como, por exemplo, a prática de operações especulativas de elevado risco, a realização de empréstimos elevados sem o fornecimento de garantias suficientes, ou seja, principalmente hipóteses em que são violadas normas regulamentares do BACEN sobre os limites da atuação financeira. Parte da doutrina sustenta a inconstitucionalidade do dispositivo ante a violação do princípio da taxatividade, por se tratar de tipo penal excessivamente aberto. Cabe ressaltar que se trata de delito de perigo abstrato, em que não há a necessidade da configuração de efetivo prejuízo dos clientes da instituição para a sua incidência. Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Há de se ressaltar que, na modalidade do parágrafo único de gestão temerária, não se pode confundir a temerariedade exigida pela lei com eventual culpa implícita, já que nossa doutrina majoritária aponta tratar-se igualmente de modalidade dolosa, punida, no máximo, por dolo indireto eventual. Consumação Ambas as modalidades delitivas se consumam com a efetiva realização da gestão, não sendo permitida a tentativa em razão da habitualidade necessária aos delitos. Causa de diminuição de pena O parágrafo 2º do art. 25 estabelece que, caso o crime seja praticado em associação criminosa ou coautoria, o coautor ou partícipe que, por meio de confissão espontânea, revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa, terá sua pena reduzida de um a dois terços. Parte da doutrina aponta tratar-se de espécie de colaboração premiada em que não se exige o acordo prévio com o acusador. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 38/64 Ação penal Pública incondicionada. Falta pouco para atingir seus objetivos. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 39/64 Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Carlos está sendo investigado por crime de lavagem de dinheiro tipificado na Lei 9.613/98 e resolve procurar um advogado especialista na matéria para lhe esclarecer como os Tribunais Superiores vêm se posicionando acerca da complexidade do tema. O advogado fez várias ponderações e esclarecimentos a Carlos. Nesse cenário, assinale a afirmativa correta. A O reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição da infração penal antecedente implica atipicidade do delito de lavagem (art. 1º da Lei 9.613/1998). B A incidência simultânea do reconhecimento da continuidade delitiva (art. 70 do CP) e da majorante prevista no §4º do art. 1º da Lei 9.613/1998, nos crimes de lavagem de dinheiro, não acarreta bis in idem. C Não é possível o deferimento de medida assecuratória em desfavor de pessoa jurídica que se beneficia de produtos decorrentes do crime de lavagem. D A tipificação do crime de lavagem de dinheiro depende da existência de uma infração penal antecedente; entretanto é possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, da infração antecedente e do crime de lavagem. E Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, é proibida a exasperação da pena- base pela valoração negativa das consequências do crime em decorrência da movimentação de expressiva quantia de recursos que extrapole o elemento natural do tipo. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 40/64 Parabéns! A alternativa D está correta. Nossa doutrina vem admitindo a punição da autolavagem no Direito Penal brasileiro. Questão 2 (IBFC – TRF-2 – Juiz Federal Substituto da 2ª Região – 2018) Para fins de aplicação das normas penais contidas na Lei n. 7.492, de 16 de junho de 1986, denominada Lei dos Crimes de Colarinho Branco, considera-se instituição financeira: A Apenas a pessoa jurídica de direito privado que desempenhe atividade financeira bancária, de captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros seus ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação, ou administração de valores mobiliários. B Apenas a pessoa jurídica de direito público que desempenhe atividade financeira bancária de captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação, ou administração de valores mobiliários. C A pessoa jurídica de direito público ou privado que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação, ou administração de valores mobiliários. D A pessoa jurídica de direito privado que tenha como atividade principal, e a pessoa jurídicade direito púbico que tenha como atividade acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros em geral, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 41/64 Parabéns! A alternativa C está correta. Tal hipótese decorre do art. 1º da Lei 7.492/86, que prevê que se considera instituição financeira a pessoa jurídica de direito público ou privado que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários. 3 - Organização criminosa Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de analisar os elementos e forma de incidência do crime de organização criminosa. emissão, distribuição, negociação, intermediação, ou administração de valores mobiliários. E A pessoa jurídica de direito público ou privado que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros seus ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação, ou administração de valores mobiliários. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 42/64 Organizações criminosas No vídeo a seguir, o especialista Bernardo Braga, doutor em Direito Processual, discorre sobre os crimes praticados por organizações criminosas. Vamos assistir! Crime de pertinência à organização criminosa – art 2º da lei n. 12.850/13 A primeira lei penal brasileira que buscou regrar os crimes praticados por organizações criminosas (“ORCRIMs”) foi a antiga Lei 9.034/95, que, embora trouxesse vários dispositivos que dispunham sobre técnicas investigativas a serem empregadas na persecução penal de tais delitos, deixou de tipificar a modalidade delitiva de participação em ORCRIM e sequer chegou a fornecer um conceito de organização criminosa. Embora a Convenção de Palermo de 2000, tratado de direito internacional introduzido em nosso ordenamento jurídico com o Decreto Legislativo 5.015/04, trouxesse, no seu bojo, uma conceituação dos requisitos necessários para se considerar determinado grupo criminoso uma organização, apenas com a Lei n. 12.850/13 que se passou a prever, em sentido estrito, o crime de pertinência à organização criminosa. A lei 12.850/13 também se revelou importantíssima ao prever e disciplinar diversos meios de obtenção de prova cuja utilização será admitida sempre que se tratar de investigação envolvendo organização criminosa. Seu art. 3º prevê que poderão ser utilizadas as seguintes técnicas investigativas: Colaboração premiada. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 43/64 Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos. Ação controlada. Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais. Interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica. Afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica. Infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11. Cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 44/64 O procedimento, portanto, para a celebração do importantíssimo instituto da colaboração premiada está previsto, de forma pormenorizada, nos arts. 3º-A a 7º da lei. Ressalte-se, ainda, que o parágrafo 2º do art. 1º do referido diploma legal estabelece que suas disposições também poderão ser aplicadas: “I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. “II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos”. Ademais, outra mudança legal relevante da referida lei foi a alteração da antiga redação do art. 288 do Código Penal, transformando-se o crime de quadrilha ou bando em delito de associação criminosa, cuja nova redação veda a conduta de “[a]ssociarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”. Foto da série La Casa de Papel, da Netflix. Ainda que a Lei 12.850/13 tenha inovado ao prever, em seus arts. 2º, parágrafo 1º, e 18 a 21, novos delitos que visam tutelar a própria investigação que envolva ORCRIM – o primeiro em modalidade equiparada à do caput do art. 2º -, fato é que o crime mais importante introduzido com a nova lei foi o de pertinência à organização criminosa, previsto em seu art. 2º, caput, e cujas principais características serão analisadas a seguir. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 45/64 Bem jurídico Nossa doutrina aponta que há uma multiplicidade de bens jurídicos tutelados pelo delito, dentre os quais se incluem: a paz pública, a administração da Justiça e o próprio Estado Democrático de Direito. Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Sujeito ativo Quanto ao sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, sendo certo que se trata de crime plurissubjetivo, uma vez que, para a sua configuração, exige-se a presença de ao menos quatro agentes. Sujeito passivo Os sujeitos passivos do delito são a coletividade e o Estado. Tipo objetivo O caput art. 2º veda a conduta de “[p]romover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”, aplicando-lhe a pena de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. Os núcleos do tipo, portanto, são: I. Promover – sinônimo de divulgar, anunciar, fomentar; II. Constituir – que significa criar, montar; 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 46/64 III. Financiar hipótese de fomento econômico; IV. Integrar – sinônimo de participar como membro, talvez a hipótese mais comum da prática delitiva. Trata-se de tipo misto alternativo. O conceito do elemento do tipo “organização criminosa” se encontra previsto no parágrafo 1º do art. 1º, que estabelece, em suma, quatro requisitos: Atenção! Caso falte algum desses requisitos, há possibilidade de a conduta ser eventualmente inserida no art. 288, C.P. Ressalte-se, ainda, que, caso a associação seja para a prática do delito de tráfico de entorpecentes, ela se insere no art. 35 da Lei 11.343/06, norma esta especial e que apresenta requisitos próprios. A associação de quatro ou mais pessoas - exige-se, portanto, tanto um animus associativo, o que afasta o mero vínculo ocasional, quanto a presença de ao menos quatro agentes, incluindo-se, no número mínimo, eventuais inimputáveis e não identificados. Estrutura organizada – com membros realizando atividades diversas em níveis de hierarquia diferentes, a diferenciando da associação criminosa do art. 288, C.P. O fim de obtenção de vantagem de qualquer natureza – não se exigindo que seja vantagem econômica, como, por exemplo, a intenção de manutenção de poder político. Por meio da prática de infrações penais com penas máximas superiores a quatro anos ou que sejamde caráter transnacional. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 47/64 Tipo subjetivo O elemento subjetivo é o dolo, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Exige-se como especial fim de agir da organização criminosa a obtenção, direta ou indiretamente, de vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. Consumação O delito se consumará com a prática das condutas previstas no tipo penal, sendo certo que nossa doutrina aponta tratar-se de delito permanente na modalidade “integrar”. Note-se, ainda, que não se exige a efetiva prática de delitos pela organização criminosa, mas sim a mera união estável e permanente com tal finalidade. Agravante O art. 2º, em seu parágrafo 3º, prevê que a pena será agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. Causas de aumento de pena O art. 2º, em seus parágrafos, prevê seis hipóteses de majorantes. O parágrafo 2º estabelece que a pena será aumentada pela metade se, na atuação da organização criminosa, houver emprego de arma de fogo. Deve-se ressaltar que tal causa de aumento de pena será aplicada a todos os membros da ORCRIM que tenham ciência de que um ou mais de seus consortes utilizam armas de fogo. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 48/64 Já o parágrafo 4º prevê outras cinco circunstâncias que aumentam a pena de 1/6 a 2/3, quais sejam: Se houver participação de criança (menor de 12 anos) ou adolescente (até 18 anos), afastando-se aqui a incidência do art. 244-B da Lei 8.069/90. Se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal. Se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior. Se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 49/64 Se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. Ação penal Pública incondicionada. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 50/64 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (IDECAN – PC/CE – Escrivão de Polícia Civil – 2021) Em 2013, foi editada a Lei 12.850, que estabeleceu a definição de organizações criminosas, crimes, procedimentos relativos à investigação criminal, meios de prova etc., revogando a antiga lei que tratava do tema – 9.034/95. De acordo com o disposto na lei em vigor, assinale a alternativa que contenha o correto conceito de organização criminosa. A Considera-se organização criminosa a associação de 3 (três) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. B Considera-se organização criminosa a associação de 5 (cinco) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. C Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 3 (três) anos, ou que sejam de caráter transnacional. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 51/64 Parabéns! A alternativa D está correta. Tal hipótese é prevista expressamente no parágrafo 1º do art. 1º da Lei 12.850/13. Questão 2 (VUNESP – Prefeitura de Presidente Prudente/SP – Procurador Municipal – 2016) Sobre a Lei n° 12.850/2013, é correto dizer que D Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. E Considera-se organização criminosa a associação de 3 (três) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 3 (três) anos, ou que sejam de caráter transnacional. A define organização criminosa como a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas, com estrutura ordenada e divisão de tarefas, formada com o objetivo de obter vantagem auferida com a prática de infrações penais. B prevê aumento de pena de 1/6 (um sexto) a 1/2 (metade), se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de crime. C estabelece a possibilidade de perdão judicial, diminuição da pena privativa de liberdade ou a substituição desta por restritiva de direito, daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 52/64 Parabéns! A alternativa E está correta. Tal previsão encontra-se expressa no art. 24 da Lei 12.850/13. 4 - Terrorismo Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de avaliar as principais características do crime de terrorismo. Introdução Nossa Constituição Federal de 1988 dispõe, no inciso XLIII de seu art. 5º, que o crime de terrorismo, diante de sua intensa gravidade, é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, estabelecendo-se ainda a possibilidade de responsabilização penal não apenas dos mandantes e a investigação e processo penal, vedada a colaboração premiada após a sentença. D estendeu a possibilidade de infiltração de agentes de polícia, em tarefas de investigação, para crimes de menor potencial ofensivo. E alterou a denominação do crime de quadrilha ou bando, previsto no artigo 288 do Código Penal, que passa a ser crime de associação criminosa, definido como a associação de três ou mais pessoas para o fim específico de cometer crimes. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 53/64 executores da citada infração penal, mas também daqueles que se omitirem diante da chance de evitá-los. Entretanto, foi apenas com a Lei 13.260, de 16 de março de 2016, também chamada de Lei Antiterrorismo, que se regulamentou o dispositivo constitucional supracitado. Com efeito, o diploma legal passou a disciplinar os delitos que envolvem atos de terrorismo, reformulando seu conceito e alterando, também, dispositivos constantes nas leis especiais que versam sobre prisão temporária (Lei 7.960/89) e organizações criminosas (Lei 12.850/2013). Ademais, a nova Lei 13.260/16 também regulamentou disposições investigatórias e processuais sobre o tema. Ressalte-se que, por atingir interesses da União, o crime de terrorismo será processado e julgado pela Justiça Federal. Passa-se, então,à análise dos atos criminosos considerados como terrorismo pelo nosso ordenamento jurídico penal. Crimes de terrorismo No vídeo a seguir, o especialista Bernardo Braga, doutor em Direito Processual, fala sobre os crimes de terrorismo e suas principais características. Vamos assistir! 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 54/64 Crimes de terrorismo previstos na lei n. 13.260/16 Bem jurídico Nossa doutrina aponta que há uma multiplicidade de bens jurídicos tutelados pelo delito, dentre os quais se incluem: A paz pública A incolumidade pública 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 55/64 A igualdade O pluralismo da sociedade Sujeitos ativo e passivo Vejamos: Quanto ao sujeito ativo, o crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. O agente pode atuar de forma solitária ou coletiva, sendo certo que, se estiver vinculado a uma organização terrorista, responderá também pela prática do delito previsto no art. 3º da lei. Os sujeitos passivos do delito são a coletividade, o Estado, e eventuais pessoas atingidas diretamente pelos atos terroristas praticados. Sujeito ativo Sujeito passivo 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 56/64 Tipo objetivo Logo no caput do art. 2º, o terrorismo é conceituado como a prática, por um ou mais indivíduos, das condutas taxativamente descritas no parágrafo 1º, com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo pessoa, patrimônio, a paz ou incolumidade pública a perigo. Nossa doutrina aponta que há uma multiplicidade de bens jurídicos tutelados pelo delito, dentre os quais se incluem: Conforme expressamente estabelece o parágrafo 1º do art. 2º, são atos de terrorismo: “Usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa”; 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 57/64 Atenção! Caso seja praticado mediante ameaça ou violência, as penas referentes a tais modalidades delitivas serão somadas à sanção penal final. A própria lei ressalva, no parágrafo 2º do art. 2º, que não será aplicada caso as condutas acima listadas se derem no âmbito de “manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional” que se destinem a objetivos de cunho sociais ou reivindicatórios, contestando, criticando, protestando ou apoiando, a fim de defender direitos e/ou garantias constitucionais. Com isso, pode-se dizer que há uma tentativa do legislador de evitar que a Lei Antiterrorismo seja utilizada como um instrumento autoritário de repressão a manifestações populares democráticas, protegendo-se, assim, a liberdade expressão. “Sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento”; “Atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa”. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 58/64 No art. 3º, a lei tipifica, de forma acertada, como criminosa a conduta de “promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por pessoa interposta, a organização terrorista”, punível com uma pena de 5 a 8 anos. Comentário Pode-se dizer que o tipo penal é ampliado para além daqueles que efetivamente engajam nas práticas tidas como terroristas, expandindo- se, inclusive, para os agentes que, de alguma forma, prestam auxílio e promoção às organizações envolvidas com tal prática, ainda que não pratiquem efetivamente as condutas terroristas. O art. 6º do dispositivo legal também pune, com reclusão de 15 a 30 anos, a conduta de “receber, prover, oferecer, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direita ou indiretamente” recursos para a prática dos crimes previstos na lei. Conforme o parágrafo único, também incorre na mesma pena quem de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro com a finalidade de financiar grupos terroristas. Assim, a lei busca punir, acertadamente, qualquer forma de participação e auxílio, financeiro ou material, àqueles agentes que estariam destinados à prática terrorista. O terrorismo é considerado crime hediondo, aplicando-se, assim, a ele as disposições da Lei 8.072/90, quando couberem. Tipo subjetivo O elemento subjetivo, em regra, é o dolo direto, exigindo-se a consciência e a vontade de realizar o delito. Entretanto, também se admite a punição sob a modalidade de dolo indireto eventual quando o agente assumiu, com a prática de atos terroristas, o risco de expor a perigo pessoa, patrimônio, a paz ou a incolumidade pública. Causa de aumento de pena O art. 7º prevê uma causa de aumento de pena se a prática dos crimes previstos na lei causar lesão corporal grave (aumento de 1/3) ou morte (aumento de 1/2), salvo quando tais condições já forem elementares do próprio tipo penal, a fim de se evitar, nesta hipótese, o bis in idem. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 59/64 Consumação O delito se consumará, em regra, com a prática das condutas tidas como atos terroristas previstas nos tipos penais, sendo certo que a maioria delas não exigem o adimplemento de qualquer dano por configurarem delitos de perigo abstrato. Ressalte-se, ainda, que a lei se preocupou, no art. 5º, em criminalizar os atos preparatórios de terrorismo, aplicando-se a pena correspondente a do delito consumado, diminuída de um quarto até a metade. Conforme o parágrafo 1º do citado artigo, incorre nas mesmas penas o agente que “recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade” ou “fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade”, com a ressalva do parágrafo 2º de que, quando a conduta não envolver treinamento ou viagem para país distinto daquele da residência ou nacionalidade do agente, a pena será correspondente a do delito consumado, diminuída de metade a dois terços, fração de diminuição maior do que aquela prevista no caput. Ação penal Pública incondicionada. 15/09/2023, 21:21 Legislação extravagante econômica https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02563/index.html# 60/64 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (VUNESP – PC/SP – Delegado de Polícia – 2018) Nos termos da Lei no 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo), assinale a alternativa correta: A Os crimes previstos na referida Lei são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial. B Aquele que for flagrado constituindo uma organização terrorista não cometerá um crime, estando sujeito à responsabilização por realizar atos preparatórios do terrorismo. C O terrorismo consistirá sempre na prática por mais de um indivíduo de atos criminosos por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos
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