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TUTORIA II – IMPACTOS DOS HÁBITOS DE VIDA NO SISTEMA RESPIRATÓRIO DURANTE A SENESECÊNCIA | Iôgo P. Torres, UC IX – 3° Período, Med FAP 1 – COMPREENDER A INFLUÊNCIA DOS HÁBITOS DE VIDA E DOS FATORES AMBIENTAIS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E SUA REPERCUSSÃO NO SISTEMA RESPIRATÓRIO (ASPECTOS FISIOLÓGICOS E PATOLÓGICOS) O envelhecimento tem sido objeto de pesquisas, de formulações teóricas e observação ao longo de séculos e, especialmente na última década, com o avanço nas pesquisas genéticas o processo parece se abrir para o entendimento de modo mais claro. Também vão se consolidando as certezas de que o envelhecimento bem-sucedido resulta de um processo no qual se combinam fatores hereditários, mas também comportamentais que propiciam atitudes positivas como a adoção de estilo de vida saudável, controle do estresse e, por que não, ao acaso. Modificar costumes arraigados é um desafio, pois, no que concerne aos idosos, há que se adequar um padrão alimentar às condições de saúde geral do indivíduo e contornar os obstáculos interpostos por suas realidades socioeconômicas, escolaridade, rede de suporte familiar, gosto e à habilidade de execução. No entanto, os inúmeros estudos realizados vêm demonstrando que os idosos, por suas circunstâncias, têm aumentado a ingestão de açúcares e gorduras saturadas e trans, colesterol dietético e alimentos industrializados, diretamente relacionados com obesidade abdominal, hipercolesterolemia, redução do HDL colesterol, aumento da glicemia e hipertensão arterial (Cabrera e Jacob, 2001). A dificuldade de adesão prolongada e/ou definitiva a novos comportamentos foi bem demonstrada em grandes estudos de prevenção por meio de intervenções nos hábitos alimentares. Os benefícios da dieta resultaram ainda maiores quando foi agregado exercício físico à dieta (Diabetes Prevention Program Research Group, 2002). Nesse tocante, hábitos como alimentação saudável, práticas de atividades corporais/físicas e realização de trabalho em grupo com outras pessoas idosas pode melhorar, e muito, a qualidade de vida dos idosos. Por outro lado, hábitos contrários aos citados anteriormente como tabagismo e sedentarismo trazem inúmeras repercussões negativas para a vida da pessoa idosa. • OBESIDADE No quesito obesidade no idoso, algumas observações merecem ser feitas. A estrutura corporal deste sofre alterações, como resultado de sarcopenia e lipossubstituição, com o aumento da cifose dorsal, redução dos espaços intervertebrais e, consequentemente, da estatura, dificultando a precisão das medidas antropomórficas. Os índices disponíveis para mensurar e classificar a obesidade foram estabelecidos, como a seguir, para populações de jovens e de meia-idade: Índice de massa corpórea (IMC) = peso em kg/quadrado da altura: normal de 18 a 24,9 kg/m2 ; sobrepeso: 25 a 29,9 kg/m2 e obesidade: ≥ 30 kg/m2 Medida da circunferência abdominal (CA) = circunferência abdominal ≥ 94 cm nos homens e ≥ 80 cm nas mulheres Índice cintura/quadril (ICQ) = circunferência abdominal/circunferência do quadril: masculino: > 0,99 cm; feminino: ≥ 0,97 cm. O excesso de peso também está relacionado com a hipertensão arterial (HAS), doença cardiovascular predominante na população brasileira idosa ambulatorial (67%), especialmente no sexo feminino (73%). Um aumento de 10 kg no peso corporal esteve associado à elevação dos níveis em 3 e 2,3 mmHg nas pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente. Esta alteração implicou 12% de aumento no risco de doença cardiovascular e 24% no de acidente vascular cerebral (National Institutes of Health, 1998). O estudo DASH (Appel et al., 1997) demonstrou que as dietas ricas em frutas, vegetais e produtos com pouca gordura saturada e colesterol são capazes de reduzir o peso e os níveis de pressão arterial em hipertensos e normotensos, portanto úteis na prevenção primária e secundária de hipertensão. Dentre os mecanismos implicados na fisiopatologia da hipertensão do idoso encontra-se a sensibilidade alterada ao sal, muitas vezes ingerido em excesso pela perda natural do paladar ou pelo consumo exagerado de produtos industrializados. A redução do peso e da ingestão de sal nesses pacientes demonstrou ser instrumento seguro e eficaz no controle da HAS (Whelton et al., 1998). o Departamento de Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DECAGE, SBC) vem recomendando como critério diagnóstico de obesidade em idosos as seguintes medidas (II Diretrizes em Cardiogeriatria da SBC, 2009): IMC: Peso normal: 18,5 a 27 kg/m2 Sobrepeso: 27 a 29,9 kg/m2 Obesidade: ≥ 30 kg/m2 Circunferência abdominal: 102 cm em homens e 88 cm em mulheres Relação cintura/quadril: em homens > 0,99 cm; mulheres ≥ 0,97 cm. • SEDENTARISMO O já mencionado Estudo Multicêntrico em Idosos (EMI) desenvolvido em 1995 coletou dados procedentes de ambulatórios de Geriatria e Cardiologia Geriátrica de 13 estados brasileiros. Nesta amostra, o sedentarismo foi o fator de risco mais prevalente em idosos com doença cardiovascular estabelecida. Verificou-se sua prevalência em 74% dos entrevistados, 79% no sexo feminino e 66% no masculino. Observou-se, ainda, a influência do avanço da idade no sedentarismo, presente em 70%, 76% e 88% dos idosos nas faixas etárias de 65 a 74 anos, 75 a 84 anos e acima de 85 anos, respectivamente. A falta de incentivo à atividade física no idoso é universal. Nos EUA, cerca de 50% dos indivíduos com mais de 60 anos descrevem- se como sedentários. O risco relativo para doença coronária em sedentários varia de 1,5 a 2,4, de acordo com as diversas populações examinadas, sendo comparável aos fatores hipertensão, hipercolesterolemia e tabagismo (Physical Activity Guidelines Advisory Committee, 2008), razão suficientemente forte para modificar esta postura complacente em relação ao mau hábito. O exercício físico previne ou retarda a manifestação de hipertensão arterial e diabetes, como demonstrado em dois recentes estudos publicados (Tuomilehto et al., 2001) e o antes referido Diabetes Prevention Program Research Group. A obtenção de ganhos em massa óssea e muscular, a recuperação de flexibilidade, coordenação motora e equilíbrio favorecem a reintegração social, com proveitos consideráveis sobre os transtornos do humor e qualidade de vida. A prescrição de atividade física deve ser colocada no panorama global do paciente: doenças osteoarticulares, estado nutricional e anemia, força muscular, presença ou não de doença cardiovascular manifesta, doenças neurológicas e vasculares periféricas. A avaliação pressupõe uma consulta médica, exame físico detalhado e os exames complementares necessários, sem prescindir da análise do grau de motivação do paciente para seguir a orientação. A adesão é estimulada pelo esclarecimento de vantagens, riscos e benefícios do exercício, cuja modalidade será orientada pelo estado geral do paciente e adaptada aos gostos e limitações individuais. A atividade física regular exerce pouca atração sobre os idosos. A baixa atratividade decorre de aspectos psicossociais como insegurança, dependência de companhia, resistência à mudança de hábitos e depressão. Quando associados às outras morbidades limitantes, estabelece-se um círculo vicioso em que cada fator realimenta e mantém os demais. Muitas vezes, esta inércia está relacionada às alterações fisiológicas do processo de envelhecimento, representadas pela diminuição da capacidade aeróbica, alteração de relaxamento diastólico e diminuição da complacência pulmonar, responsáveis pela percepção de dispneia desproporcional aos esforços realizados. A experiência em programas institucionais demonstra que, superada a resistência inicial, o exercício físico se converte em porta de entrada para a integração do idoso em outras atividades associativas. • TABAGISMO Dentre os hábitos adquiridos nos últimos séculos, o tabagismo pode ser considerado como um dos mais deletérios à saúde. A limitaçãofísica e a morte prematura por doenças relacionadas ao fumo – doença cardiovascular, doenças respiratórias crônicas e câncer – representa o tributo individual nas despesas pagas pela saúde pública e privada. O Systolic Hypertension in the Elderly Program Study analisou pacientes com idade média de 72 anos, observando aumento significativo de infarto agudo do miocárdio, morte súbita e acidente vascular cerebral em fumantes comparado aos não fumantes (Siegel et al., 1987). No estudo Established Populations for Epidemiologic Studies of the Elderly, entre 7.178 idosos (50% acima de 75 anos), as taxas de mortalidade cardiovascular e por todas as causas foram duas vezes maiores em tabagistas ativos que em não fumantes. O hábito de fumar é hoje reconhecido como resultado da interação de fatores genéticos e ambientais. A dependência física e psíquica à nicotina varia em intensidade, determinando capacidades individuais distintas para abandonar o fumo. Vários estudos em epidemiologia molecular e genética sinalizam que o tabagismo em todos os seus aspectos – idade de iniciação, grau de dependência, capacidade de interrupção e suscetibilidade às doenças – é um comportamento multifatorial de polimorfismo genético. A possibilidade de identificar os marcadores biológicos determinantes de risco aumentado para a dependência física à nicotina abre novas perspectivas na abordagem preventiva e terapêutica da doença (Sotto-Mayor, 2004). A complexidade dos fatores envolvidos no tabagismo sinaliza a necessidade de estratégias institucionais e de profissionais habilitados para o seu manuseio. O idoso é menos propenso que o jovem a abandonar espontaneamente o hábito de fumar pelos anos de dependência e por comportamentos hostis quanto à interferência em sua vida, mesmo quando se trata de uma recomendação médica. Com frequência a interrupção se dá em face de evento coronariano agudo, ou doença vascular periférica ou pulmonar limitante. Estudos indicam que os fumantes idosos têm menor intenção em abandonar o cigarro se comparados aos jovens, no entanto, eles apresentam maior probabilidade de sucesso quando o fazem (Hall et al., 2008). Em razão das inequívocas evidências da associação entre fumo e doença cardiovascular o aconselhamento médico para a cessação do tabagismo deve ser firme, com ênfase nos benefícios em curto e médio prazo. O emprego do Método dos 4 A – averiguar (ask); aconselhar (advise); ajudar (assist) e acompanhar (arrange follow up) – parece ser uma abordagem recomendável, dadas as evidências (Andrews et al., 2004). Outras intervenções podem ser individualizadas como suporte psicológico e a prescrição médica de nicotina em adesivos transdérmicos ou em goma de mascar. O recurso a medicamentos para controle da ansiedade ou da compulsão, como a bupropiona, tem sido eficaz no tratamento do tabagismo do idoso do mesmo modo que em adultos mais jovens (Morgan et al., 1996). O estilo de vida também é condicionado pelas percepções individuais dos valores sociais. Indivíduos esclarecidos muitas vezes adotam comportamentos nocivos quando são orientados pelo princípio do prazer e na moral da satisfação imediata de falsas necessidades, dificultando o processo de apreensão da realidade. Se a incorporação de medidas saudáveis pode beneficiar os idosos e melhorar a sua qualidade de vida, tais orientações devem ser instituídas já na infância e na fase adulta jovem, para que sejam mais bem usufruídas no futuro. A prática de atividades físicas e a ocupação dos espaços públicos conferem ao idoso maior integração e visibilidade social, podendo ser instrumentos não só de prevenção das doenças degenerativas como de transformações sociais necessárias para emprestar cor e brilho aos derradeiros anos. O estilo de vida do idoso também irá interferir na cognição do idoso. Vivenciar um declínio cognitivo que resulte em perda da independência funcional é uma das perspectivas mais temidas do processo de envelhecimento. Nesse sentido, a fragilidade neurocognitiva tem sido considerada o maior obstáculo para o envelhecimento bem-sucedido. A identificação de estratégias preventivas capazes de preservar a saúde cognitiva é atualmente uma prioridade para a redução da morbidade e incapacidade associadas ao envelhecimento (Depp et al., 2012). Estima-se que aproximadamente metade dos casos de doença de Alzheimer em todo o mundo possa ser atribuída a fatores de risco potencialmente modificáveis (Norton et al., 2014). Entre esses fatores destacam-se diversos aspectos relacionados com um estilo de vida ativo que têm sido associados a menor risco de transtornos cognitivos. Sendo potencialmente modificáveis mesmo nas fases tardias da velhice, as atividades e os hábitos com potencial para desacelerar o declínio cognitivo devem ser conhecidos e estimulados em estratégias de promoção de saúde para a população idosa. ARTIGO!!!!!!!!!! FATORES INFLUENTES NO ESTILO DE VIDA E NA SAÚDE DOS IDOSOS BRASILEIROS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. ESTUDO INTERDISCIPLINAR ENVELHECIMENTO, PORTO ALEGRE, 2018. Na medida em que a idade média da população aumenta, mais pessoas sofrerão de algum tipo de doença (WHO, 2013), tais como Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), as quais, segundo Focchesatto, Rockett e Perry (2015), são responsáveis por significativo número de mortes entre idosos. Prevenção e tratamento de DCNT e incapacidades funcionais relacionadas ao envelhecimento dependem justamente, em grande parte, do estilo de vida que o indivíduo apresenta (JOBIM, F.; JOBIM, E., 2015). Compreendendo a relevância das consequências de um estilo de vida insalutífero entre idosos e tendo em vista o elevado crescimento dessa população no Brasil, o presente estudo se propõe a identificar quais os fatores que influenciam o estilo de vida dos idosos brasileiros e quais as consequências para sua saúde de acordo com o conhecimento científico produzido no país. Estilo de vida é considerado o modo de se viver, estando atrelado a aspectos culturais, sociais, econômicos, psicológicos e biológicos (BORGES; SEIDL, 2012; RIBEIRO et al., 2009). Pode-se afirmar que atividade física, tabagismo, manejo do estresse, consumo de álcool, hábitos alimentares, contato interpessoal, prá ticas religiosas, condições socioeconômicas e presença/ausência de DCNT são fatores que influenciam o estilo de vida da população idosa (BORGES; SEIDL, 2012; HARA et al., 2008; PAGOTTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; PIMENTA et al., 2008; SILVA et al., 2014; ZAITUNE et al., 2007). No que diz respeito aos fatores de risco relacionados ao estilo de vida que influenciam negativamente a saúde do idoso, pode-se afirmar que inatividade física, tabagismo, presença de DCNT, alimentação inadequada, dislipidemia, consumo excessivo de álcool, obesidade, hipercolesterolemia, alterações na glicemia, resistência à insulina e o avanço da idade foram destacados (BORGES; SEIDL, 2012; COSTA et al., 2014; FERREIRA et al., 2010; HARA et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2010; PAGOTTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; PIMENTA et al., 2008; SILVA; SIMÕES; LEITE, 2007; SILVA et al., 2014; VITOI et al., 2015; VIEIRA; PEIXOTO; SILVEIRA, 2014; ZAITUNE, 2007). A autoavaliação da saúde é um importante preditor de mortalidade (SANTIAGO, 2009). A autoavaliação negativa da saúde foi prevalente entre idosos fumantes, sedentários, com três ou mais DCNT, que fazem uso de cinco medicamentos ou mais e que não consomem frutas e verduras (PAGGOTO; NAKATANI; SILVEIRA, 2011; PIMENTA et al., 2008). No entanto, entre os idosos mais velhos, a autoavaliação positiva foi preponderante em ambos os estudos, o que foi associado à sobrevivência e às melhores condições de vida. A presença de DCNT associa-se à avaliação negativa da saúde devido ao fato de que, quanto mais condições crônicas, mais chances do idoso referir sua saúde como razoável/ruim (JOIA; RUIZ; DONALISIO, 2007; SANTIAGO, 2009). O uso de medicamentos também pode indicar o estadode saúde do idoso, uma vez que, quanto mais doenças são diagnosticadas, mais medicamentos o idoso fará uso (MARIN et al., 2008; MARIN et al., 2010). ALTERAÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO COM O ENVELHECIMENTO (ENVELHECIMENTO NORMAL) Com o envelhecimento há grandes modificações tanto na arquitetura quanto na função pulmonar, contribuindo para o aumento da frequência de pneumonia, aumento da probabilidade de hipoxia e diminuição do consumo máximo de oxigênio pela pessoa idosa. Os primeiros sinais de piora da respiração pulmonar já podem ser vistos por volta dos 25 anos. Os pulmões se tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos, com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão (Taffet et al., 2014). Concorrem para o declínio da capacidade respiratória os maus hábitos de vida, a poluição do local de moradia e trabalho e as doenças concomitantes. RESPIRAÇÃO A inspiração e a expiração se dão da mesma forma no adulto. Na inspiração participam os músculos intercostais externos para elevarem as costelas e o diafragma, responsável por 75% do aumento do volume torácico durante a respiração de repouso. A expiração se faz, basicamente, de forma passiva. Também estão envolvidos os músculos intercostais internos que, ao se contraírem, puxam as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico. Caso seja necessário as musculaturas abdominal e dos ombros podem participar como músculos auxiliares dos movimentos respiratórios. Além das alterações descritas, há falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a PCO2 , PO2 e ao pH, limitando a adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre um certo grau de sarcopenia, daí a capacidade de a função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória, tornando a tosse menos vigorosa. A função mucociliar é lenta, prejudicando a limpeza de partículas inaladas e facilitando a instalação de infecções (Svartengren et al., 2005). Todas as modificações do sistema respiratório são lentas, mas progressivas. A partir dos 25 anos a VO2 máxima diminui em 5 mℓ/kg/min/década. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade de as fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. A capacidade vital pode chegar a diminuir 75% entre a 7 a e a 2 a década, enquanto o volume residual aumenta em torno de 50%. A consequência é a inadequada oxigenação do sangue, enquanto a PCO2 não se altera (Taffet et al., 2014). SURFACTANTE O surfactante é um líquido secretado pelos pneumócitos tipo II, localizado na superfície interna do alvéolo, com a finalidade de manter sua tensão baixa. Sua produção está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante os alvéolos poderão colabar na expiração, fazendo atelectasias. O surfactante também tem função protetora, impedindo a entrada de partículas, e aumenta a capacidade de os macrófagos pulmonares destruírem bactérias. Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. Apesar de sua perda progressiva, a maioria dos idosos é capaz de levar uma vida normalmente ativa. IMPORTANTE!!!!! o sistema respiratório continua, durante o processo de envelhecimento, capacitado a manter adequadas oxigenação e ventilação em repouso. Contudo, perde-se progressivamente a reserva respiratória, diminuindo a resposta ventilatória à hipoxia e à hipercapnia e tornando os idosos mais vulneráveis à insuficiência respiratória durante estados de alta demanda, como, por exemplo, insuficiência cardíaca e pneumonias. Isso resulta também em riscos maiores de hospitalizações, internações em unidades de terapia intensiva e óbitos. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é definida pela OMS como uma “doença evitável e tratável, caracterizada por limitação crônica e progressiva ao fluxo aéreo, associada a uma resposta inflamatória crônica e exacerbada nas vias respiratórias a partículas e gases”). Geralmente é diagnosticada em indivíduos de meia-idade ou idosos com história de tabagismo prévio, cuja sintomatologia não pode ser atribuída a outras patologias, como bronquiectasias ou asma brônquica. A DPOC é a quinta causa de morte no âmbito mundial, e afeta aproximadamente 10% da população mundial, com previsão para se tornar a terceira no ranking até 2030. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, as doenças pulmonares obstrutivas crônicas, causaram cerca de 3,2 milhões de mortes em 2015. Essa doença respiratória acomete indivíduos acima de 40 anos, sendo mais relatada na população mais idosa, comum em adultos com mais de 75 anos. Seus sintomas são exacerbados com o processo de envelhecimento e as exacerbações prejudicam a qualidade de vida dos afetados e são as principais causas de internação e de morte para indivíduos com DPOC. A morbidade e mortalidade estão associadas à procura por ajuda médica em uma fase tardia da patologia (8) e aos fatores de risco e comorbidades associadas. É uma patologia comum, afetando mais de 5% da população e levando a grande morbimortalidade (Halbert et al., 2006). É a 3 a causa de morte nos EUA, sendo responsável por cerca de 120 mil óbitos por ano nesse país, com índices de mortalidade crescentes nos últimos 30 anos, e a 5° causa de incapacidade. Alguns se referem a DPOC como um grupo de doenças que incluem: Enfisema Pulmonar, Bronquite Crônica, Asma e Bronquiectasias. Outros, porém, referem-se a DPOC apenas englobando Enfisema Pulmonar e Brônquite Crônica. O III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica inclui no termo DPOC Enfisema Pulmonar e Bronquite Crônica e exclui Asma, bronquiectasias, bronquiolites, pnemoconiose ou qualquer doença parenquimatosa. A DPOC é caracterizada por obstrução ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, geralmente progressiva, associada a resposta inflamatória pulmonar desencadeada por exposição a partículas ou gases, sendo o tabagismo (TBG) o agente agressor mais comum. Além do TBG, tem-se como agentes etiológicos da DPOC a exposição a poluição, produtos químicos e gases de combustíveis, bem como fatores hereditários. O consumo de cigarros leva a declínio da função pulmonar maior que aquele esperado pelo envelhecimento, sendo a magnitude do declínio proporcional à duração e à intensidade da exposição ao tabagismo, observada pelo valor do volume expirado forçado no 1 o segundo (VEF1) obtido pela espirometria. Há uma perda média de 40 mℓ no valor do VEF1 nos pacientes com DPOC, ao contraponto ao valor normal esperado após os 30 anos de idade, de 25 mℓ/ano (ATS/ERS, 1995). Outras exposições, como aquelas observadas em trabalhadores de minas, moinhos de algodão, manuseio de grãos, poluição ambiental acentuada e combustão de biomassa também induzem a tosse crônica, obstrução das vias respiratórias e perda de função pulmonar. ALTERAÇÕES CAUSADAS PELO TABAGISMO (TBG): 1) Diminui a motilidade ciliar; 2) Aumenta o número de células caliciformes; 3) Provoca hipertrofia das células mucosas; 4) Favorece a inflamação das paredes brônquicas e alveolares; 5) Condiciona o broncoespasmo; 6) Reduz a atividade macrofágica; 7) Contribui para as infecções respiratórias; 8) Limita a produção de surfactante; 9) Inibe a atividade enzimática antielastase e antioxidante; 10) Provoca a fibrose, espessamento e ruptura das paredes alveolares. PATOGÊNESE DA DPOC PNEUMONIAS Entre os idosos, as pneumonias também são responsáveispor grande número de internações hospitalares, que geralmente são mais prolongadas, exigindo antibióticos de maior potência. O custo do tratamento desses pacientes é elevado e poderá, com o rápido envelhecimento da população brasileira, comprometer importante parcela dos recursos orçamentários destinados à saúde. PNEUMONITE x PNEUMONIA Pneumonite significa inflamação aguda, de natureza infecciosa ou não, localizada no parênquima pulmonar. Quando há infecção, seja ela bacteriana, viral ou fúngica, convencionou-se chamar o quadro de pneumonia. CLASSIFICAÇÃO CONFORME O LOCAL DE AQUISIÇÃO: • Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) • Pneumonia Hospitalar CONFORME A PRESENÇA DE COMORBIDADE: • Comorbidade presente • Comorbidade ausente CONFORME A CONDIÇÃO IMUNOLÓGICA DO IDOSO: • Pneumonias no hospedeiro imunocompetente • Pneumonias no hospedeiro imunossuprimido Os pacientes com infecções relacionadas com os serviços de saúde são mais idosos, apresentam mais comorbidades, mais infecções por pneumococos resistentes, estafilococos, gram-negativos e também por bactérias multirresistentes (Pseudomonas, Klebsiella, Acinetobacter, estafilococos), maior frequência de pneumonia aspirativa e pior prognóstico do que os pacientes com pneumonias comunitárias verdadeiras. As pneumonias adquiridas no hospital são aquelas que ocorrem 48 h ou mais após a hospitalização, associada à nova imagem radiológica e 2 dos seguintes sinais: febre, leucocitose ou secreção purulenta. Entretanto, devemos lembrar que essas alterações quase nunca estão presentes em pacientes idosos, dificultando e retardando o diagnóstico de pneumonias hospitalares nesse grupo de pacientes. Elas podem ser classificadas em pneumonias hospitalares (nosocomiais) de início precoce (de 2 a 4 dias após a hospitalização) e de início tardio (5 ou mais dias após a hospitalização). As pneumonias hospitalares de início tardio têm maior probabilidade de serem causadas por bactérias multirresistentes (Pseudomonas, Acinetobacter, Klebsiella e Staphylococcus aureus) e apresentam pior prognóstico, com maior risco de morte (American Thoracic Society and the Infectious Diseases Society of America, 2005). Dentre as pneumonias hospitalares, destacam-se as relacionadas com a ventilação mecânica, que são aquelas que aparecem de 48 a 72 h após a intubação traqueal e início da ventilação mecânica. EPIDEMIOLOGIA A pneumonia é considerada um importante problema de saúde pública e a maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo (World Health Organisation [WHO], 2015). A epidemiologia da pneumonia adquirida na comunidade (PAC) varia de acordo com a localização geográfica, ambiente em que se dão os cuidados de saúde e população estudada (Welte et al., 2012), com incidência estimada entre 5 e 11 por mil adultos na Europa e América do Norte (Lim et al., 2009). A incidência aumenta com a idade. A incidência de pneumonia em idosos aumenta durante os surtos de gripe (infecção pelo vírus influenza). Esse fato já foi comprovado em vários países, inclusive no Brasil, por intermédio de inúmeros estudos epidemiológicos. As pneumonias nosocomiais são cerca de 8 a 10 vezes mais frequentes nos indivíduos maiores de 70 anos e representam aproximadamente 20% das infecções hospitalares entre os idosos. Nos pacientes internados em unidades de terapia intensiva, sob ventilação mecânica invasiva o risco de adquirir pneumonia é três a dez vezes maior, com taxas de mortalidade variando de 24 a 76%. PATOGENIA E FATORES PREDISPONENTES A pneumonia é ocasionada por mecanismos patogênicos diferentes: colonização da orofaringe ou nasofaringe e subsequente aspiração de microrganismos, inalação de aerossóis infectados, disseminação hematogênica de outros locais de infecção e extensão direta do foco adjacente infectado (Nair e Niederman, 2013). A ocorrência de pneumonia vai depender da quantidade de microrganismos, da virulência dos mesmos e das condições de defesa do hospedeiro. Existe um grande número de fatores que predispõem o idoso a ter pneumonia. As modificações fisiológicas que o envelhecimento ocasiona nos sistemas respiratório e imune deixa o geronte mais suscetível à infecção bacteriana em decorrência da redução da função dos neutrófilos e expressão do neutrófilo CD16 e da fagocitose (Heppner et al., 2013). Sabe-se que a imunossenescência, caracterizada por redução da produção de anticorpos, da função dos linfócitos T, da produção de interleucinas e dos níveis séricos de IgM, favorece a infecção por patógenos específicos (p. ex., Listeria monocytogenes, Streptococcus pneumoniae, Mycobacterium tuberculosis e a reativação do vírus da varicela-zóster) (High et al., 2005). Apesar da diminuição da capacidade vital, da atividade mucociliar e da resposta imune, o envelhecimento não é fator de risco isolado para pneumonia. O risco está aumentado quando há exposição prolongada ao fumo e/ou coexistência de outras doenças, agravando a perda da reserva funcional pulmonar. Alguns fatores predisponentes para a PAC em idosos são: Disfagia orofaríngea, micro e macroaspirações; Tabagismo; Desnutrição, sarcopenia, baixo peso e perda recente de peso; Uso prévio de antibiótico; Doença pulmonar obstrutiva crônica; Insuficiência cardíaca congestiva; Insuficiência renal; Doença hepática crônica; Diabetes; Câncer; Doenças neurológicas e psiquiátricas (acidente vascular encefálico, demência, doença de Parkinson, depressão); Uso de medicamentos com efeitos sedativos ,antipsicóticos, anticolinérgicos e opioides; Alcoolismo; Tubos nasogástricos; Cirurgia recente; Declínio funcional; Fragilidade; Infecção pelo vírus influenza e outros vírus respiratórios e Internação por PAC nos últimos 2 anos. O fator extrínseco mais importante que predispõe às pneumonias adquiridas na comunidade e nos asilos é a infecção pelo vírus da gripe (influenza). A incidência de pneumonia nos idosos está diretamente relacionada com as epidemias de gripe. Com relação às intervenções, fatores predisponentes mais associados foram a intubação traqueal, a ventilação mecânica e o uso de sondas nasoenterais para alimentação. Nos pacientes intubados, os microrganismos atingem as vias respiratórias inferiores por inalação, por meio dos tubos, de aerossóis contaminados. Ocorre também colonização da orofaringe, trauma do epitélio traqueal, alterações do reflexo da tosse e comprometimento dos mecanismos de remoção do muco. A ventilação mecânica é o fator de risco mais importante para pneumonias hospitalares e este risco está aumentado nos primeiros 5 dias da intubação, sendo a idade um fator de risco para mortalidade nesta população. QUADRO CLÍNICO A tríade que evidencia presença de infecção (febre, calafrio e leucocitose), sinais e/ou sintomas localizados no sistema respiratório (tosse, aumento de secreção, dispneia, dor torácica e achados anormais no exame físico dos pulmões) e alterações radiológicas geralmente identifica um paciente com pneumonia (Wunderink e Waterer, 2014). Entretanto, essa tríade pode não estar presente no paciente idoso uma vez que nas idades mais avançadas as doenças podem apresentar-se de maneira atípica, com poucos sintomas, ou apenas com sintomas inespecíficos, como confusão mental, distúrbio do humor, incontinência, inapetência, perda de peso, declínio da capacidade funcional, piora de alguma doença crônica prévia, síncope e quedas. Um dos achados mais importantes é a alta prevalência de confusão mental (delirium) como forma de apresentação das pneumonias nas faixas etárias mais elevadas. Essa condição pode estar presente em 12 a 45% dos casos e em mais de 70% dos casos de pneumonias adquiridas em asilos, e a sua presença aumenta o risco de morte, tanto intra-hospitalar como após a alta. O delirium, frequentemente, é o único sintoma apresentado pelo paciente, e, muitas vezes, uma tomografia computadorizada do crânio é solicitada antes da radiografia do tórax. A confusãomental ocorre tanto em indivíduos com demência como nos previamente lúcidos (Waterer et al., 2006). O diagnóstico diferencial de pneumonia no idoso deve incluir insuficiência cardíaca, tromboembolismo pulmonar, tuberculose, micoses e neoplasias. Convém ressaltar que pode ocorrer a coexistência de uma ou mais doenças com a pneumonia. A pneumonia pós-obstrutiva pode ser a primeira manifestação do câncer de pulmão, e o acompanhamento radiológico após a cura clínica da infecção é essencial para o diagnóstico. É muito importante que a equipe de saúde esteja atenta a todas essas formas de apresentação da pneumonia nos idosos, pois o não reconhecimento das apresentações atípicas retarda o diagnóstico e o início do tratamento, contribuindo para aumentar a mortalidade nessa faixa etária. 2 – ENTENDER A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NA SENESCÊNCIA E SENILIDADE A dimensão sociofamiliar é fundamental na avaliação multidimensional do idoso. A família constitui-se na principal instituição cuidadora dos idosos frágeis, devendo ser privilegiada nessa sua função. A transição demográfica, entretanto, atinge diretamente essa “entidade”, reduzindo drasticamente a sua capacidade de prestar apoio a seus membros idosos. A redução da taxa de fecundidade trouxe profundas modificações na estrutura familiar. O número de filhos está cada vez menor e as demandas familiares são crescentes, limitando a disponibilidade dos pais de cuidarem de seus filhos quanto dos filhos de cuidarem de seus pais. Por sua vez, o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, a valorização do individualismo e os conflitos intergeracionais contribuem para as modificações nos arranjos domiciliares. Essas mudanças sociodemográficas e culturais têm repercussões importantes na capacidade de acolhimento às pessoas com incapacidades, que historicamente dependiam de apoio e cuidado familiar. A própria modificação nas dimensões das habitações limita as possibilidades de cuidado adequado às pessoas com grandes síndromes geriátricas, como a incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade e incontinência esfincteriana. Essa fragilização do suporte familiar deu origem a outra grande síndrome geriátrica, a insuficiência familiar, cuja abordagem é extremamente complexa. As famílias estão em constante processo de transformação e mudança. Várias teorias buscam conceituá-las e explicá-las. Dentre estas teorias destaca-se a Teoria Sistêmica onde as famílias são compreendidas como sistemas baseados nas relações, com base em ganhos e perdas, distribuição do poder de cada um de seus membros, estabelecimento de papéis, desenvolvimento de códigos, simbologias e significados para atitudes e relações. Este sistema sofre modificações como o passar do tempo, influenciado pelos próprios conflitos e pelas transformações no mundo. Dessa grande interação surge o seu potencial transformador em busca de equilíbrio. Com freqüência são observados vínculos afetivos superficiais e instáveis e alto grau de agressividade e hostilidade entre seus membros, mesmo que não abertamente colocados. Nas situações conflitivas enfrentadas nesses sistemas com pessoas idosas, freqüentemente é possível observar uma solução aparente onde, ou o idoso é separado do seu meio (institucionalizado ou isolado do grupo) que o considera gerador do problema ou os outros membros da família se afastam para não se envolverem com a questão, uma vez que acreditam que a mesma não diz respeito a eles. A função das Equipes Saúde da Família é auxiliar os membros familiares a renegociarem seus papéis e funções de maneira a constituírem um Sistema Familiar mais harmônico e funcional. Lembrando que como um sistema, ele sempre tenderá a um novo equilíbrio. Com o objetivo de dimensionar a funcionalidade das famílias, alguns profissionais vêm desenvolvendo instrumentos com a proposta de avaliar a dinâmica de funcionamento de uma família para, a partir desse dado, intervir de maneira a auxiliar o restabelecimento do equilíbrio dessa unidade de relações, quando uma disfunção for detectada. Serão aqui apresentados três instrumentos que, pela 43CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA praticidade de uso e objetivos, são mais adequados na Atenção Básica. São eles: o APGAR de Família, o Genograma e o Ecomapa. ✓ AVALIAÇÃO DO ESTRESSE DO CUIDADOR O ato de cuidar é voluntário e complexo, tomado por sentimentos diversos e contraditórios como raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo, irritação e choro. Esses sentimentos podem ser simultâneos e devem ser compreendidos, fazendo parte da relação entre o cuidador e a pessoa cuidada. É importante avaliar a presença de estresse entre os cuidadores. Isso pode se um fator de risco da ocorrência de situações de violência contra os idosos ou de adoecimento do próprio cuidador. Estudos afirmam que a institucionalização da pessoa idosa é decorrente da inexistência de serviços suficientes capazes de assistir às necessidades tanto dos idosos quanto de seus membros familiares. A maioria das famílias assiste aos idosos pelo maior período de tempo e tão bem quanto possível, porém, quando a institucionalização é necessária, os cuidadores alegam terem chegado ao fim de suas capacidades assistenciais. O planejamento programado para a manutenção da saúde dos cuidadores e das famílias dos idosos necessitados tem sido freqüentemente negligenciado. ✓ VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E MAUS TRATOS CONTRA A PESSOA IDOSA De acordo com a Rede Internacional para Prevenção dos Maus Tratos contra a Pessoa Idosa, define-se a violência contra esse grupo etário como “o ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano físico ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de confiança." A violência contra idosos se manifesta nas formas: estrutural, que ocorre pela desigualdade social e é naturalizada nas expressões da pobreza, da miséria e da discriminação; interpessoal que se refere nas relações cotidianas; e institucional, que se reflete na aplicação ou omissão da gestão das políticas sociais e pelas instituições de assistência. A violência intrafamiliar, importante representação da violência interpessoal, é toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Violência intrafamiliar é aquela que acontece dentro da família, em casa ou fora dela, ou seja, nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural (pai, mãe, filha/filho etc) ou civil (marido/esposa, nora/genro ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo ou parente do marido/da esposa) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa). A pessoa idosa torna-se mais vulnerável à violência na medida em que apresenta maior dependência física ou mental. O convívio familiar estressante e cuidadores despreparados ou sobrecarregados tendem a agravar essa situação. A identificação de sinais de violência contra as pessoas idosas é freqüentemente negligenciada no atendimento à saúde, quer pela dificuldade em identificá-los quer pela ausência de suporte formal para auxiliar tanto a(s) vítima(s) quanto os profissionais. Todo caso suspeito ou confirmado de violência contra a pessoa idosa deve ser notificado, utilizando-se a “Ficha de Notificação/Investigação Individual – Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências”, conforme modelo anexo. Segundo a rotina estabelecida em cada município, os encaminhamentos das pessoas idosas, em situação de violência devem ser feitos para os órgãos e instituições descriminados a seguir, de acordo com a organização da rede de serviços local: Delegacia especializada da mulher b) Centro de Referência da Mulher c) Delegacias Policiais d) Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa e) Centro de Referência da Assistência Social(CRAS) f) Ministério Público g) IML e outros Há, sem dúvida, vários aspectos éticos e legais envolvidos. As vítimas, quando cognitivamente competentes, têm o direito de determinar o curso da intervenção, inclusive, podendo optar por nada fazer. Cabe aos profissionais o suporte, a orientação, o atendimento, a notificação e o encaminhamento adequado frente à cada situação que deverá ser avaliada de forma particular. 3 – COMPREENDER O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS IST’s MAIS PREVALENTES NOS IDODOS Revisão de literatura sobre a epidemiologia das IST, com foco particular em pessoas mais velhas, apresentou evidências de aumento das taxas dessas infecções na população de 50 anos ou mais na América do Norte, Austrália, China, Coreia e África Sub- saariana. No Brasil não existem dados de amplitude nacional sobre a prevalência das IST em geral e entre idosos, em particular, dado que muitas delas não têm notificação compulsória. Para o HIV tem sido demonstrado aumento significativo nas taxas entre homens e mulheres na faixa etária de 60 anos ou mais, nos últimos 10 anos, indicando a vulnerabilidade de idosos a sua ocorrência. Considera-se que a prevalência de IST obtida foi alta, especialmente com relação à sífilis. São escassos os artigos de prevalência de IST em idosos e os existentes não permitem a comparação com os dados deste estudo, visto que incluem população acima dos 50 anos. Dados populacionais nacionais, porém, apontam tendência de aumento na taxa de detecção do HIV entre homens e mulheres de 60 anos ou mais, nos últimos 10 anos. Ter apresentado IST em outras fases da vida indica a adoção de comportamentos de risco anteriormente. Assim, desenvolver reinfecção ou novo quadro infeccioso, após os 60 anos, evidencia vulnerabilidade individual. Estudo brasileiro que teve por objetivo estimar a vulnerabilidade do idoso à Aids e outros estudos sobre IST em geral, do mesmo modo, encontraram história de IST como fator associado a novas infecções ou reinfecções. Todos os idosos com IST negaram uso de preservativo, situação que tem sido apontada como importante aspecto de vulnerabilidade individual. Em revisão sistemática com metanálise sobre uso de preservativo por idosos ratificou o uso do condon como fator ou comportamento de proteção contra a infecção pelo HIV, visto que sua adoção torna o indivíduo menos vulnerável. Explicações para a baixa adesão ao preservativo, apresentadas na literatura, podem ser úteis para explicar, também, a situação deste estudo: a dificuldade dos idosos em se verem vulneráveis às IST; a visão do casamento como fator de proteção e a ideia de que a parceria fixa dispensa seu uso; a vivência do climatério e a percepção de que por não estarem em período fértil não têm risco de contrair IST. ENVELHECIMENTO E AIDS A epidemia de HIV e aids em pessoas idosas no Brasil tem emergido como um problema de saúde pública, nos últimos anos, devido a dois aspectos emergentes: incremento da notificação de transmissão do HIV após os 60 anos de idade e o envelhecimento de pessoas infectadas pelo HIV. A incidência de aids entre as pessoas idosas está em torno de 2,1%, sendo a relação sexual a forma predominante de infecção pelo HIV. Mas há uma crescente evidência de que esse grupo está se infectando cada vez mais não só pelo HIV, mas também, por outras doenças sexualmente transmissíveis como sífilis, gonorréia, etc. Do ponto de vista da aids não é a sexualidade que torna as pessoas vulneráveis ao HIV/aids, mas as práticas sexuais que são realizadas de forma desprotegida, e este é um pressuposto válido para todas as idades. No entanto, convém ressaltar que o profissional de saúde deve estar atento para as queixas específicas das pessoas idosas. É responsabilidade pública colocar à disposição das pessoas idosas os insumos necessários à adoção de práticas sexuais mais seguras, como o preservativo masculino e feminino e gel lubrificante. ACONSELHAMENTO E TESTAGEM A prática do aconselhamento desempenha um papel importante no diagnóstico da infecção pelo HIV/ outras DST e na qualidade da atenção à saúde. Contribui para a promoção da atenção integral, possibilitando avaliar riscos com a consideração das especificidades de cada usuário ou segmento populacional. Inclui cuidar dos aspectos emocionais, tendo como foco a saúde sexual, a saúde reprodutiva, avaliação de vulnerabilidades e Direitos Humanos. Atualmente, é uma estratégia que se insere em vários momentos do atendimento e em diversos contextos dos serviços no SUS: • Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). • Nas maternidades. • Nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). • Nos Serviços Especializados de Referência para as DST e aids (SAE). No entanto, as equipes de saúde ainda apresentam dificuldades na abordagem das questões relativas à sexualidade, percebendo-se intervenções insuficientes para atender necessidades específicas dos grupos populacionais mais vulneráveis ao HIV. É importante lembrar que os componentes da prática de aconselhamento - troca de informações, avaliação de vulnerabilidades e riscos e apoio emocional - permanecem compondo a ação. O aconselhamento se fundamenta na interação e na relação de confiança que se estabelece entre o profissional e o usuário. O papel do profissional sempre é da escuta das preocupações e dúvidas do usuário, desenvolvendo habilidade em perguntar sobre a vida íntima, com a finalidade de propor questões que facilitem a reflexão e a superação de dificuldades, adoção de práticas seguras, na busca da promoção da qualidade de vida. Para que todos esses objetivos sejam alcançados, é fundamental que, durante todo o atendimento, a linguagem utilizada seja acessível ao usuário. A integralidade, subjetividade e compreensão dos diversos contextos de vulnerabilidades são elementos fundamentais para a abordagem de redução de riscos. Agentes Comunitários de Saúde (ACS) - têm um papel essencial na identificação das vulnerabilidades e risco para as DST nas comunidades que atuam. Para isso, é importante que incluam na sua rotina um olhar sobre os diferentes contextos de vida dos diversos segmentos populacionais e tenham uma abordagem objetiva sobre os aspectos da sexualidade, das vulnerabilidades e dos direitos humanos. As ações do ACS na comunidade contribuem para o aumento da procura do serviço, para desmistificação da testagem anti-HIV e melhora a receptividade para o aconselhamento e mudança de práticas. O ACS, como todo profissional da saúde, deve estar atento para não emitir juízos de valor, atitudes de preconceito e quebra de sigilo.
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