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– Inibidores da ECA e BRA’s A pressão arterial é diretamente proporcional ao débito cardíaco (DC) e à resistência vascular periférica (RP). O DC e a RP são controlados principalmente por dois mecanismos sobrepostos de controle: os barorreflexos e o sistema renina- angiotensina-aldosterona. ➢ BARORRECEPTORES E SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO Os barorreceptores atuam no sistema nervoso simpático e são responsáveis pela regulação rápida da pressão arterial. Uma queda da pressão determina que os neurônios sensíveis à pressão (barorreceptores do arco aórtico e seios carotídeos) remetam menos impulsos aos centros cardiovasculares na medula espinal. Isso determina uma resposta reflexa imediata de aumento do estímulo simpático e diminuição parassimpática ao coração e aos vasos, resultando em vasoconstrição e aumento do débito cardíaco. Essas mudanças resultam em um aumento compensatório da pressão sanguínea. ➢ SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA- ALDOSTERONA Os rins são responsáveis pelo controle da pressão arterial ajustando o volume sanguíneo. Os barorreceptores nos rins respondem à pressão arterial reduzida (e à estimulação simpática de adrenoceptores β1), liberando a enzima renina. Ingestão baixa de sódio e aumento da perda de sódio também tornam maior a liberação de renina. Essa peptidase converte angiotensinogênio em angiotensina I, que é convertida, por sua vez, em angiotensina II na presença da enzima conversora de angiotensina (ECA). A angiotensina II é um vasoconstritor circulante potente, que contrai arteríolas e veias, resultando no aumento da pressão arterial. A angiotensina II exerce ação vasoconstritora preferencial nas arteríolas eferentes do glomérulo renal, aumentando a filtração glomerular. Além disso, a angiotensina II estimula a secreção de aldosterona, levando ao aumento da reabsorção renal de sódio e ao aumento do volume sanguíneo, o que contribui para o aumento adicional da pressão arterial. Esses efeitos são mediados pela estimulação dos receptores da angiotensina II tipo 1 (AT1). RECAPITULANDO OS RECEPTORES E LOCAIS DE AÇÃO: Do ponto de vista fisiológico, tanto em indivíduos normais como nos hipertensos, a pressão arterial é mantida pela regulação contínua do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, exercida em três locais anatômicos: as arteríolas, as vênulas pós-capilares (vasos de capacitância) e o coração. Um quarto local anatômico de controle, o rim, contribui para a manutenção da pressão arterial ou regulação do volume do líquido intravascular. Os barorreflexos mediados por nervos autônomos atuam em combinação com mecanismos humorais, inclusive com o sistema renina- angiotensina-aldosterona, coordenando a função nesses quatro locais de controle e mantendo a pressão arterial normal. Por fim, a liberação local de substâncias vasoativas do endotélio vascular também pode estar envolvida na regulação da resistência vascular. Por exemplo, a endotelina-1 causa constrição dos vasos sanguíneos, ao passo que o óxido nítrico os – dilata. A pressão arterial em um paciente hipertenso é controlada pelos mesmos mecanismos que atuam nos indivíduos normotensos. A regulação da pressão arterial nos hipertensos difere daquela de indivíduos sadios, visto que os barorreceptores e os sistemas de controle renais de volume-pressão sanguíneos parecem estar “ajustados” em um nível mais elevado de pressão arterial. Todos os agentes anti-hipertensivos atuam em um ou mais dos quatro locais anatômicos de controle, produzindo efeitos ao interferirem nos mecanismos normais de regulação da pressão arterial. Uma classificação útil desses fármacos consiste em dividi-los de acordo com o principal local regulador ou mecanismo sobre o qual atuam: 1. DIURÉTICOS: reduzem a pressão arterial por meio da depleção do sódio corporal, diminuição do volume sanguíneo e, talvez, outros mecanismos. 2. AGENTES SIMPATICOPLÉGICOS: baixam a pressão arterial por meio da redução da resistência vascular periférica, inibição da função cardíaca e aumento do acúmulo venoso nos vasos de capacitância. (Os últimos dois efeitos reduzem o débito cardíaco.) Esses agentes são ainda subdivididos de acordo com seus supostos locais de ação no arco reflexo simpático. 3. VASODILATADORES DIRETOS: reduzem a pressão ao relaxarem o músculo liso vascular, dilatando, assim, os vasos de resistência e, em graus variáveis, aumentando também a capacitância. 4. AGENTES QUE BLOQUEIAM A PRODUÇÃO OU A AÇÃO DA ANGIOTENSINA: reduzem a resistência vascular periférica e (potencialmente) o volume sanguíneo. A renina, a angiotensina e a aldosterona desempenham uma importante função, pelo menos em alguns indivíduos com hipertensão essencial. A pressão arterial de pacientes hipertensos com renina elevada responde de modo satisfatório a fármacos que interferem no sistema, sustentando a função do excesso de renina e angiotensina nessa população. A liberação de renina pelo córtex renal é estimulada pela redução da pressão arterial renal, estimulação renal simpática e diminuição do aporte de sódio ou aumento da concentração de sódio no túbulo renal distal. A renina atua sobre o angiotensinogênio, clivando o dacapeptídeo precursor inativo, a angiotensina I. Em seguida, a angiotensina I é convertida, primariamente pela ECA endotelial, ao octapeptídeo vasoconstritor arterial angiotensina II, que, por sua vez, é convertido à angiotensina III na glândula suprarrenal. A angiotensina II possui atividade vasoconstritora e de retenção de sódio. Tanto a angiotensina II como a angiotensina III estimulam a liberação de aldosterona. A angiotensina pode contribuir para a manutenção de uma resistência vascular elevada nos estados hipertensivos associados à grande atividade da renina plasmática, como estenose da artéria renal, alguns tipos de doença renal intrínseca e hipertensão maligna, bem como na hipertensão essencial, após tratamento com restrição de sódio, diuréticos ou vasodilatadores. Todavia, até mesmo nos estados hipertensivos com baixos níveis de renina, esses fármacos podem reduzir a pressão arterial. – Três classes de fármacos atuam de modo específico sobre o sistema de renina-angiotensina: 1. os inibidores da ECA; 2. os inibidores competitivos da angiotensina em seus receptores, incluindo losartana e outros antagonistas não peptídicos; 3. o alisquireno, um antagonista da renina ativo por via oral; O captopril e outros fármacos dessa classe inibem a enzima conversora, a peptidildipeptidase, que hidrolisa a angiotensina I em angiotensina II e (com a designação de cininase plasmática) inativa a bradicinina, um potente vasodilatador, que atua, pelo menos em parte, estimulando a liberação de óxido nítrico e de prostaciclina. A atividade vasopressora do captopril resulta de uma ação inibitória sobre o sistema renina- angiotensina e de uma ação estimulante sobre o sistema calicreína-cinina. Os inibidores da angiotensina II reduzem a pressão arterial principalmente ao diminuir a resistência vascular periférica. Não ocorre alteração significativa do débito cardíaco e da frequência cardíaca. Ao contrário dos vasodilatadores diretos, esses agentes não resultam em ativação simpática reflexa e podem ser utilizados com segurança em indivíduos portadores de cardiopatia isquêmica. A ausência de taquicardia reflexa pode decorrer do reajuste para baixo dos barorreceptores ou do aumento da atividade parassimpática. Os inibidores da ECA desempenham uma função particularmente útil no tratamento de pacientes com doença renal crônica, visto que diminuem a proteinúria e estabilizam a função renal (mesmo na ausência de redução da pressão arterial). Os benefícios provavelmente resultam da melhora da hemodinâmica intrarrenal, com diminuição da resistência das arteríolas eferentes glomerulares e consequente redução da pressão capilar intraglomerular.Todos os inibidores da ECA, à exceção do fosinopril e moexipril, são eliminados primariamente pelos rins; é necessário reduzir as doses desses fármacos em pacientes com insuficiência renal. – Todos os IECAs são biodisponíveis por via oral como fármaco ou pró-fármaco. Todos são convertidos no metabólito ativo no fígado, exceto captopril e lisinopril, de forma que estes dois podem ser preferidos para pacientes com grave insuficiência hepática. Fosinopril é o único IECA que não é eliminado primariamente pelos rins e não requer ajuste de dosagem em pacientes com insuficiência renal. Enalaprilato é o único fármaco desta classe disponível para uso IV. Tosse seca, exantema, febre, alteração do paladar, hipotensão (em estados hipovolêmicos) e hiperpotassemia. A tosse seca, que ocorre em cerca de 10% dos pacientes, parece ser decorrente do aumento dos níveis de bradicinina e substância P na árvore pulmonar e melhora dentro de poucos dias após a interrupção. A tosse seca acontece mais frequentemente em mulheres. O angioedema é uma reação rara, mas potencialmente fatal, que também pode ser atribuída ao aumento dos níveis de bradicinina. A losartana e a valsartana foram os primeiros bloqueadores comercializados do receptor de angiotensina II tipo 1 (AT1). Há também a candesartana, eprosartana, irbesartana, telmisartana e olmesartana. Esses fármacos bloqueiam os receptores AT1, diminuindo a sua ativação pela angiotensina II. Seus efeitos farmacológicos são similares aos dos IECAs por produzirem dilatação arteriolar e venosa e bloqueio da secreção de aldosterona, reduzindo, assim, a pressão arterial e diminuindo a retenção de sal e água. Os BRAs não aumentam os níveis de bradicinina. Eles podem ser usados como fármacos de primeira escolha para o tratamento da hipertensão, especialmente em pacientes com forte indicação de diabetes, insuficiência cardíaca ou doença renal crônica Esses fármacos não exercem nenhum efeito sobre o metabolismo da bradicinina e, portanto, são bloqueadores mais seletivos dos efeitos da angiotensina do que os inibidores da ECA. Além disso, têm o potencial de exercer uma inibição mais completa da ação da angiotensina, em comparação com os inibidores da ECA, visto que existem outras enzimas, além da ECA, capazes de gerar angiotensina II. Os bloqueadores dos receptores de angiotensina proporcionam benefícios semelhantes àqueles dos inibidores da ECA em pacientes com insuficiência cardíaca e doença renal crônica. Os efeitos colaterais assemelham-se àqueles descritos sobre os inibidores da ECA, incluindo o risco de uso durante a gravidez. Podem ocorrer tosse e angioedema, embora sejam incomuns. Os bloqueadores dos receptores de angiotensina são mais comumente usados em pacientes que tiveram reações adversas aos inibidores da ECA. As combinações de inibidores da ECA e bloqueadores dos receptores de angiotensina ou alisquireno, que já foram consideradas úteis para uma inibição mais completa do sistema renina- angiotensina, não são recomendadas, devido a sua toxicidade demonstrada em ensaios clínicos recentes. – Todos os BRAs são ativos por via oral e dosificados uma vez ao dia, com exceção da valsartana, que deve ser ingerida duas vezes por dia. Eles são altamente ligados às proteínas plasmáticas e, exceto a candesartana, apresentam grande volume de distribuição. A losartana, o primeiro membro aprovado da classe, difere dos demais, pois sofre extensa biotransformação de primeira passagem pelo fígado, incluindo a conversão em seu metabólito ativo. Os demais fármacos apresentam metabólitos inativos. A eliminação dos metabólitos e do composto original ocorre na urina e nas fezes. Os BRAs têm perfil de efeitos adversos e interações similar ao dos IECAs. Contudo, os BRAs têm incidência menor de tosse e angiedema. Como os IECAs, eles são contraindicados na gestação.
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