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Indaial – 2021 Lean Startup Prof.ª Tatiana Takimoto 1a Edição Elaboração: Prof.ª Tatiana Takimoto Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: T136l Takimoto, Tatiana Lean startup. / Tatiana Takimoto – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 222 p.; il. ISBN 978-65-5663-947-5 ISBN Digital 978-65-5663-948-2 1. Produto mínimo viável. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 658 A Formação em Lean Startup é um livro cujo conteúdo traz uma série de dicas e exemplos de startups reais, para que você, acadêmico, possa ter um entendimento introdutório de como fazer a gestão de uma empresa que está começando até a etapa da venda do seu produto, crescimento da empresa e rodadas de investimentos. Na Unidade 1, serão apresentados os conceitos do método Lean Startup e como transformar uma ideia inicial em um produto. As estratégias passam pela geração de hipóteses e suas validações junto a potenciais clientes para entender se o que se propõem realmente é algo que o cliente vê valor. Para se ter uma compreensão do que realmente deve ser implementado, os empreendedores passam por desafios, muitas vezes por algumas frustrações, e aprendem muito durante todo o processo. É também na Unidade 1 que serão apresentados os primeiros passos para a “descoberta do cliente”, fase em que se busca compreender o tamanho do mercado, o segmento de clientes, aprende-se a elaborar as entrevistas e entender a proposta de valor da sua solução. Os cases de startups apresentados ao final da Unidade 1 trazem exemplos do que fazer, e do que não fazer. Todos que trabalham com startups ouvem falar no MVP, Produto Mínimo Viável. Na Unidade 2 este conceito é abordado e exemplificado de várias formas para que vocês possam ter condições de analisar qual tipo de MVP é mais adequado para uma determinada situação e/ou produto. Qual é a melhor técnica a ser desenvolvida e por que usá-la em detrimento de outras? Espera-se que, após este estudo, você, acadêmico, possa desenvolver um MVP e também conduzir uma entrevista de validação junto aos seus potenciais clientes, discernindo os erros e acertos. Para auxiliar neste discernimento, a Unidade 2 traz também os conceitos da contabilidade para inovação e quais indicadores fazem sentido para a compreensão do crescimento da startup. Somado a isso, serão abordadas as metodologias ágeis, que lado a lado da redução de desperdícios, auxilia na gestão e crescimento acelerado das startups. Após o aprendizado inicial de como tirar a ideia do papel, chega o momento de lançar o produto no mercado, trabalhar o marketing e as vendas. Estes assuntos serão abordados na Unidade 3, trazendo o entendimento sobre a estratégia Go to Market, em que as startups se preparam para o melhor posicionamento no mercado, analisando quais são os melhores canais de vendas, como atrair e fidelizar os clientes e, também, como aumentar o número de clientes utilizando estratégias de crescimento. APRESENTAÇÃO Com o crescimento e novas contratações, é natural que uma cultura seja desenvolvida e com ela outros desafios são enfrentados. Assim, aprendizados sobre liderança tornam-se necessários. Para finalizar, após ter iniciado as vendas e já com um entendimento sobre o mercado, chega o momento de a startup receber investimentos para garantir um maior crescimento de maneira sustentável. Logo, entender os tipos de investimentos e como se preparar para recebê-los será o último assunto abordado neste livro. Bons estudos! Prof.ª Tatiana Takimoto Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - FORMAÇÃO EM LEAN STARTUP ...................................................................... 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À LEAN STARTUP ........................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 A ORIGEM DA LEAN STARTUP ............................................................................................4 2.1 PRINCÍPIOS DA LEAN STARTUP .........................................................................................................4 2.2 AS RAÍZES DA LEAN STARTUP .......................................................................................................... 5 3 A VISÃO DA STARTUP .......................................................................................................103.1 PRIMEIRO A VISÃO, DEPOIS A ESTRATÉGIA E O PRODUTO ...................................................... 10 4 PRIMEIROS PASSOS: A GERAÇÃO DE HIPÓTESES ......................................................... 12 4.1 MAS AFINAL, O QUE SÃO HIPÓTESES? .......................................................................................... 15 4.2 O QUE É VALIDAÇÃO?........................................................................................................................ 16 4.3 HIPÓTESES SOBRE O CLIENTE, PROBLEMA E SOLUÇÃO ........................................................ 16 4.4 INTRODUÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DE CLIENTES ................................................................17 4.5 QUADRO MODELO DE NEGÓCIOS: UMA FERRAMENTA PARA REGISTRAR AS HIPÓTESES E OS INDICADORES DA DESCOBERTA DO CLIENTE. ........................................... 18 4.6 LEAN CANVAS .....................................................................................................................................20 4.7 AS VANTAGENS DE ESTRUTURAR O MODELO DE NEGÓCIOS EM UM QUADRO ..................21 4.8 PRINCIPAIS MUDANÇAS DO LEAN CANVAS ...............................................................................22 4.9 CASE CLOUDFIRE – QUADRO LEAN PREENCHIDO ....................................................................24 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 - QUEM É O SEU CLIENTE? ................................................................................. 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31 2 AS ETAPAS DA DESCOBERTA DO CLIENTE .................................................................... 32 2.1 ELABORAÇÃO DAS HIPÓTESES QUE COMPÕE O QUADRO MODELO DE NEGÓCIOS – FASE 1 ...................................................................................33 2.2 HIPÓTESE DO TAMANHO DO MERCADO .......................................................................................33 2.3 HIPÓTESES DO SEGMENTO DO CLIENTE: QUEM SÃO E QUAIS SÃO SEUS PROBLEMAS ....................................................................................36 2.4 PROBLEMAS, NECESSIDADES OU PAIXÕES DOS CLIENTES ................................................. 37 2.5 OS TIPOS DE CLIENTES ....................................................................................................................38 2.6 ARQUÉTIPOS DE CLIENTES .............................................................................................................39 2.7 COMO É UM DIA NA VIDA DO CLIENTE ..........................................................................................42 3 FALE COM O CLIENTE E TESTE O PROBLEMA – FASE 2 ............................................... 43 3.1 MAPAS ORGANIZACIONAIS E DE INFLUÊNCIA DO CLIENTE ....................................................45 3.2 POR QUE PRECISO ENTREVISTAR CLIENTES? ...........................................................................45 3.3 ELABORAÇÃO DE TESTES ................................................................................................................46 3.4 PREPARE A SUA ENTREVISTA ........................................................................................................ 47 3.4.1 Guia da entrevista .................................................................................................................... 48 3.4.2 Documente os resultados da entrevista ............................................................................50 4 PROPOSTA ÚNICA DE VALOR ........................................................................................... 51 4.1 CANVAS DE PROPOSTA DE VALOR .................................................................................................52 4.2 CANVAS DA PROPOSTA DE VALOR - PERFIL DO CLIENTE ......................................................53 4.3 CANVAS DA PROPOSTA DE VALOR – MAPA DE VALOR ............................................................54 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 55 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 56 TÓPICO 3 - EXEMPLOS DE STARTUPS – CASOS DE SUCESSO E INSUCESSO ................59 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................59 2 AIRBNB ..............................................................................................................................59 3 QUINTOANDAR .................................................................................................................. 61 4 NUBANK ........................................................................................................................... 62 5 SEGWAY ............................................................................................................................ 64 6 PINKY GLOVE ................................................................................................................... 65 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 66 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 69 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 71 UNIDADE 2 — FORMAÇÃO EM LEAN STARTUP ..................................................................75 TÓPICO 1 — PRODUTO MÍNIMO VIÁVEL (MVP) ................................................................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77 2 PRODUTO MÍNIMO VIÁVEL (MVP) ....................................................................................78 2.1 CASE GROUPON .................................................................................................................................. 79 2.2 CASE IMVU – POR QUE OS PRIMEIROS PRODUTOS NÃO DEVEM SER PERFEITOS ............... 80 2.2.1 Conversando com os primeiros clientes ............................................................................. 81 2.2.2 Abandonando a ideia inicial e testando um novo MVP...................................................82 2.2.3 O novo MVP ................................................................................................................................83 2.3 TÉCNICAS DE MVP: O MVP DA BUFFER – LANDING PAGE ..................................................... 84 2.4 O MVP DA DROPBOX – VÍDEO DEMONSTRATIVO .......................................................................87 2.5 O MVP DA ZAPPOS SHOES – MÁGICO DE OZ ..............................................................................90 2.6 O MVP DA FOOD ON THE TABLE – CONCIERGE .......................................................................... 91 2.7 O MVP DE BJ FOGG - FRAGMENTADO ..........................................................................................94 3 EQUÍVOCOS E OBSTÁCULOS NA CONSTRUÇÃO DO MVP ..............................................95 3.1 EQUÍVOCOS ...........................................................................................................................................95 3.2 OBSTÁCULOS .....................................................................................................................................964 A ENTREVISTA DO PRODUTO MÍNIMO VIÁVEL ................................................................96 4.1 O QUE APRENDER ............................................................................................................................... 97 4.2 A CONDUÇÃO DAS ENTREVISTAS DO MVP .................................................................................. 97 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................100 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 101 TÓPICO 2 - CONTABILIDADE DA INOVAÇÃO ....................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................103 2 DO MVP À CONTABILIDADE DA INOVAÇÃO .................................................................. 104 2.1 COMO FUNCIONA A CONTABILIDADE DA INOVAÇÃO? .............................................................105 2.1.1 Estabelecer a linha base .........................................................................................................105 2.1.2 Calibrar o motor .......................................................................................................................105 2.1.3 Pivotar ou Perseverar .............................................................................................................106 2.2 CASE IMVU .........................................................................................................................................106 2.2.1 Análise de Coorte .................................................................................................................... 107 2.3 PREPARE-SE PARA MENSURAR .................................................................................................108 2.4 MÉTRICAS ACIONÁVEIS .................................................................................................................109 3 PIVOTAR OU PERSEVERAR ............................................................................................ 112 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................117 TÓPICO 3 - GESTÃO ÁGIL .................................................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 119 2 SCRUM .............................................................................................................................120 2.1 PILARES DO SCRUM ..........................................................................................................................121 2.2 OS PAPÉIS DO SCRUM .....................................................................................................................121 2.3 OS EVENTOS DO SCRUM ................................................................................................................ 122 2.4 OS ARTEFATOS DO SCRUM ............................................................................................................ 122 3 KANBAN ...........................................................................................................................123 3.1 COMO FUNCIONA .............................................................................................................................. 123 3.2 BOAS PRÁTICAS ................................................................................................................................ 124 4 EXTREME PROGRAMMING (XP) .....................................................................................125 4.1 PRÁTICAS XP ...................................................................................................................................... 126 5 OBJECTIVES AND KEY RESULTS (OKR) ........................................................................ 127 5.1 EXEMPLOS DE OKR ...........................................................................................................................128 5.2 CICLO DO OKR – O CORAÇÃO DA METODOLOGIA .................................................................... 129 5.3 PREMISSAS DO OKR ........................................................................................................................130 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 131 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 137 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................139 UNIDADE 3 — FORMAÇÃO EM LEAN STARTUP ................................................................143 TÓPICO 1 — ACELERAÇÃO .................................................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145 2 PREPARE-SE PARA LANÇAR .........................................................................................146 2.1 LANÇAMENTO ....................................................................................................................................148 2.1.1 Case CloudFire .......................................................................................................................... 149 2.2 IMPLANTAÇÃO CONTÍNUA...............................................................................................................151 2.2.1 Regra 80/20 ............................................................................................................................. 153 2.2.2 Puxe e não empurre .............................................................................................................. 153 3 PREPARE-SE PARA VENDER: A ESTRATÉGIA GO TO MARKET ....................................154 3.1 ESTRUTURAÇÃO E POSICIONAMENTO ........................................................................................ 155 3.2 MATERIAIS DE VENDAS E MARKETING ....................................................................................... 157 3.3 CANAL FÍSICO ...................................................................................................................................158 3.4 CANAL DIGITAL ..................................................................................................................................161 3.4.1 Atrair clientes .............................................................................................................................161 3.4.2 Manter Clientes ....................................................................................................................... 163 3.4.3 Aumentar Clientes – os motores de crescimento .........................................................164 4 PRODUCT/MARKET FIT – O ENCAIXE PRODUTO/MERCADO ......................................166 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 167 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................168 TÓPICO 2 - CULTURA PARA INOVAÇÃO ............................................................................171 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1712 CULTURA E LIDERANÇA PARA O CRESCIMENTO ......................................................... 173 2.1 STEVE JOBS E A APPLE .................................................................................................................. 174 2.2 LIDERANÇA ....................................................................................................................................... 175 3 CASE GOOGLE ................................................................................................................. 177 4 A CULTURA DA DIVERSIDADE ....................................................................................... 181 4.1 LIDERANÇA INCLUSIVA....................................................................................................................184 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................186 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................187 TÓPICO 3 - INVESTIMENTOS ............................................................................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................189 2 COMO PREPARAR A SUA STARTUP PARA RECEBER INVESTIMENTOS ......................190 2.1 VESTING E INVESTIDORES ...............................................................................................................191 2.2 DUE DILIGENCE................................................................................................................................. 192 2.3 ANÁLISES FINANCEIRA, TRIBUTÁRIA, SOCIETÁRIA E TRABALHISTA .................................. 192 2.4 CAP TABLE ......................................................................................................................................... 193 3 TIPOS DE INVESTIMENTOS ............................................................................................194 3.1 BOOSTRAPPING ................................................................................................................................. 195 3.2 FFF ....................................................................................................................................................... 195 3.3 INVESTIDOR ANJO ........................................................................................................................... 195 3.4 VENTURE CAPITAL OU VC .............................................................................................................. 196 3.5 ACELERADORAS ............................................................................................................................... 196 3.6 INCUBADORAS .................................................................................................................................. 197 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................198 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 204 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 207 1 UNIDADE 1 - FORMAÇÃO EM LEAN STARTUP OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os princípios que norteiam o método Lean Startup; • ter uma primeira visão da ideia de geração de hipóteses; • entender o objetivo do modelo de negócios; • distinguir os campos do quadro de modelo de negócios e as diferenças para o Lean Canvas; • compreender o tamanho do mercado e o segmento dos clientes; • reconhecer os tipos e arquétipos de clientes; • elaborar testes e entrevistas com clientes; • entender proposta única de valor; • conhecer casos de sucesso e insucesso, e ter capacidade para perceber os desafios e falhas do percurso. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À LEAN STARTUP TÓPICO 2 – QUEM É O SEU CLIENTE? TÓPICO 3 – EXEMPLOS DE STARTUPS – CASOS DE SUCESSO E INSUCESSO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 INTRODUÇÃO À LEAN STARTUP 1 INTRODUÇÃO O conceito de startup ainda é difuso nos dias de hoje. Muitos perguntam: “O que é uma startup?” ou “O que define uma startup?”. Przem (2016) relata que definir uma startup realmente é complexo, pois envolve descobrir o que conecta marcas como Airbnb, Uber e mesmo o Google, que foi uma startup em seu início, além de outras milhares de marcas. Steve Blank (2014, p. 1) informa o que não é uma startup: “Startup não é a versão menor de uma grande empresa”. Para Eric Ries (2012, p. 24), autor do conceito Lean Startup, startup é: “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. Para Ries (2012, p. 25), o significado de “instituição humana” traduz a cultura das startups, que em geral carrega valores como criatividade, desenvolvimento profissional dos seus funcionários, e geração de resultados dentro de um ambiente acolhedor. Para o autor, “uma startup é maior que a soma de suas partes; é uma iniciativa intensamente humana” (RIES, 2012, p. 25). Existem outras definições como da Associação Brasileira de Startups (ABSTARTUPS, 2021, s. p.), que se refere a uma startup como “uma empresa que nasce a partir de um modelo de negócio ágil e enxuto, capaz de gerar valor para seu cliente resolvendo um problema real, do mundo real”. De acordo com esta definição, startups podem ser consideradas empresas nascentes. O SEBRAE (APRENDA, 2014, s. p.) também considera uma startup como uma empresa nascente conforme a definição “Um grupo de pessoas iniciando uma empresa, trabalhando com uma ideia diferente, escalável e em condições de extrema incerteza”. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Ser uma empresa escalável significa ter um crescimento acelerado, atingindo um grande número de clientes com geração de lucro em um curto período de tempo. NOTA 4 Embora não seja possível afirmar qual é o começo exato da “era das startups”, para Przem (2016), coincidiu com o surgimento do ecossistema de negócios do Vale do Silício. Deste modo, é seguro supor que as primeiras startups são as empresas do Vale do Silício como, por exemplo, a Apple e a Microsoft. O Google é um exemplo perfeito, pois começou como uma experiência e cresceu para se tornar um líder no mercado: exatamente o que todo fundador de startups espera. Przem (2016) explica que a origem do termo “startup” surgiu com a bolha das “pontocom” (também conhecida como “o boom das pontocom”, “a bolha da tecnologia” ou “a bolha da Internet”). Foi a bolha que ocorreu no final dos anos 1990 e no início dos anos 2000. A razão para o nome “pontocom” é devido ao fato de que o período foi marcado com a fundação de várias novas empresas baseadas na Internet, resultando no rápido aumento de seus valores na Bolsa de Valores. Esta época não marca o começo da “era das startups”, mas foi quando o termo se difundiu, em parte porque a maioria dos negócios deste período operou no modelo de vendas escaláveis pela internet. Nesta unidade, estudaremos como as startups se desenvolvem através da abordagem Lean Startup (Startup Enxuta). Esta abordagem nasceu em 2012, com o empreendedor Eric Ries, que uniu vários conhecimentos para resolver problemas vivenciados por ele nos seus empreendimentos. Este tópicopropõe reflexões e orientações de autores considerados empreen- dedores seriais (com vários empreendimentos), além de dicas para colocar a mão na massa e possibilitar que você tenha conhecimento do que fazer, e do que não fazer. Boa leitura! 2 A ORIGEM DA LEAN STARTUP O conceito de startup varia entre os empreendedores. Muitos consideram que sua empresa ainda é uma startup mesmo tendo mais de 1000 funcionários. É possível afirmar que isso acontece porque o conceito de Startup está atrelado aos princípios que regem a metodologia Lean Startup e permeiam todas as suas ações. 2.1 PRINCÍPIOS DA LEAN STARTUP De acordo com Ries (2011), existem cinco princípios que permeiam toda a metodo- logia lean. cujo objetivo é reduzir os desperdícios e acelerar o aprendizado. São eles: • Princípio 1: empreendedores estão em todos os lugares. Para Eric Ries (2012, p. 24), “uma startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços, sob condições de extrema incerteza”. Esta definição não define o tamanho 5 da empresa, o que significa dizer que qualquer pessoa que esteja desenvolvendo um produto em condições de extrema incerteza, é um empreendedor. Deste modo, empreendedores podem estar em todos os lugares onde há o desafio de se manter no mercado e escalar suas vendas. Por isso, algumas empresas independentemente do tamanho e do setor, se consideram startups ou utilizam seus métodos para inovar. • Princípio 2: empreender é administrar. Segundo Ries (2012, p. 25), uma startup é uma instituição, não apenas um produto, por isso requer uma gestão, um novo tipo de gestão voltada especificamente para o seu contexto de extrema incerteza. • Princípio 3: aprendizado validado. Para Ries (2011), startups não existem somente para inovar, ganhar dinheiro ou atender clientes, mas sim para construir um negócio sustentável. Esse aprendizado deve ser validado, como será apresentado neste livro, através de experimentos que permitirão testar cada elemento percebido durante a evolução da empresa. • Princípio 4: contabilidade da inovação. Para melhorar os resultados, Ries (2011) sugere que os empreendedores devem se concentrar na medição do progresso, em definir marcos e priorizar o trabalho. Isso requer um novo tipo de contabilidade específico para startups. • Princípio 5: construir – medir – aprender. A atividade fundamental de uma startup é, segundo Ries (2011), transformar ideias em produtos, medir as reações dos clientes e, então, decidir se deve abandonar a ideia ou perseverar. Todos os processos da startup devem ser orientados para acelerar esse ciclo de feedback: construir – medir – aprender. Em seu livro, Startup Enxuta, Ries (2012) cita que a palavra inovação deve ser compreendida amplamente como descobertas científicas originais, um novo uso para uma tecnologia que já existe, desenvolvimento de um novo produto ou serviço, ou a simples disponibilização deste produto em um local onde clientes não tinham acesso. Independente da inovação, ela é o cerne do sucesso da startup. Assim como na inovação, Ries (2012, p. 25) sugere que o produto seja considerado como “qualquer fonte de valor para as pessoas que se tornam clientes”. Ou seja, tudo que gerar interação do cliente com a empresa pode ser considerado produto. NOTA 2.2 AS RAÍZES DA LEAN STARTUP Eric Ries (2012, p. 1) desenvolveu a ideia de Lean Startup (Startup enxuta) com base nas suas experiências como empreendedor. No início da sua jornada como fundador de startups, Eric passou por vários desafios; era uma época em que houve uma explosão de jovens universitários no empreendedorismo, no entanto, o fracasso logo veio com a sua primeira empresa, quando Eric enfrentou dificuldades com seus sócios, e com a falta de capital. 6 FIGURA 1 – DIAGRAMA DE LANÇAMENTO DE UM NOVO PRODUTO - MODELO TRADICIONAL FONTE: Blank (2014, p. 3) Este modelo é ainda bastante utilizado por empresas que conhecem seus clientes e já possuem uma base sólida de mercado. No entanto, são poucas as startups que conhecem seus clientes e, utilizar este modelo, pode ser desastroso. Como muitos empreendedores vêm de experiências em grandes empresas, este método tradicional acaba sendo adotado em seus novos empreendimentos que muitas vezes fracassam. Blank (2014) cita alguns problemas associados a este modelo tradicional, e que deve ser evitado pelas startups: • Presumir que conhece o cliente e sabe o que ele quer: são raras as exceções em que uma startup conhece a fundo o seu cliente. Normalmente, o que se têm são suposições de seus problemas e anseios. Na ocasião ele tinha um excelente produto, uma equipe bem capacitada, tecnolo- gia de ponta e parecia ser o momento correto para ganhar o mercado: tinham determina- ção, conhecimento, o timing perfeito e um excelente produto, porém tiveram que fechar. Assim como a startup de Ries, várias outras não alcançam seus objetivos com perdas significativas de tempo e dinheiro. Sabemos que o aprendizado vem tanto com o sucesso, quanto com o fracasso, no entanto, Ries descobriu que vários fracassos poderiam ser evitados seguindo o processo Lean Startup. Este processo foi então identificado e amadurecido ao longo de sua trajetória, com um percurso que uniu várias teorias (ERIC, 2019). Uma das maiores influências foi Steve Blank, investidor, professor e consultor, autor do livro Startup: manual do empreendedor, e foi com ele que muitos insights surgiram, transformando o pensamento tradicional de empreendedorismo e desenvolvimento de novos produtos, em um pensamento mais ágil e eficaz. Blank (2014, p. 1) já dizia, no início dos anos 2000, que “é um erro tratar startups como versões menores de uma grande empresa”. Para exemplificar, vamos fazer uma breve revisão do modelo tradicional e seus problemas se aplicado às startups. O diagrama da Figura 1 ilustra o processo tradicional do lançamento de um novo produto no mercado. 7 • Presumir que sabe quais devem ser as características dos produtos: totalmente atrelado ao item um, pode ser um grande erro considerar que conhece exatamente o que o cliente quer. Desenvolver o produto, para depois apresentar para o cliente, pode desencadear desgastes e muito retrabalho para a empresa. • Ter foco na data do lançamento: o deadline imposto à equipe para o lançamento do produto pode gerar um bloqueio para inovação. Para não atrasarem a entrega, ficarão avessos às mudanças, adequações e aperfeiçoamento do produto. O lançamento deve ser planejado somente depois de conhecerem bem o cliente e o que ele precisa, garantindo que quando o produto for lançado, será comprado. • Dar ênfase à execução no lugar da geração de hipóteses, testes, aprendizagem e iteração: a ênfase na execução pode funcionar bem em grandes empresas, cujos clientes já estão consolidados. Para uma startup, a ênfase deve estar em aprender. As startups devem operar com a mentalidade de que precisam obter constantes feedbacks dos seus clientes. • Trabalhar com planos de negócios tradicionais, sem incluir tentativa e erro: uma grande empresa já possui um orçamento para inovação e desenvolvimento de novos produtos, e arriscam tempo e recursos para que isto aconteça. Startups não possuem tempo, e muitas também não possuem recurso. Assim, a corrida é pela validação do seu produto e do seu modelo de negócio, que acontecerá através de estratégias de feedbacks e aprendizado. Quanto menos tempo e dinheiro investirem, melhor. • Confundir títulos e cargos tradicionais: diferente de uma empresa tradicional, as startups precisam de pessoas ágeis o bastante para se adaptarem às mudanças, aprenderem com os fracassos e que saibam transitar entre cargos, pois para ser sustentável em seu início muitos acabam exercendo várias funções. • Vendas e marketing executam de acordo com um plano: ou seja, os setores de vendas e marketing traçam uma estratégia de lançamento e vendas, e focam todos seus esforços nela. Quando o mercadojá está consolidado, e mesmo para as startups que já conhecem bem o seu cliente, essa estratégia pode funcionar. Porém, Blank (2014, p. 12) enfatiza que “as equipes de vendas e marketing irão focar no que faz sentido para elas, como desenvolvimento de sites, branding e campanhas”. A startup, no entanto, precisa concentrar seus esforços na coleta de dados dos clientes. • Presumir que terá sucesso leva a uma escala prematura: escalar no conceito de startups significa crescer, contratar novos colaboradores, mudar para uma nova sede. Entretanto, crescer reflete em novos gastos, e isso somente deve acontecer após as vendas estarem garantidas, ou seja, após ter o produto validado com o cliente e a certeza de que eles comprarão e não quando o planejamento diz que está na hora de escalar. Aumentar a escala de produção sem a garantia da venda pode decretar o fracasso da startup. • Gestão por crise leva a uma espiral de morte: em seu livro, Blank (2014) exemplifica este item com o seguinte cenário: o produto é posto à venda, mas ela não acontece conforme o planejado. O setor de vendas não alcança suas metas e intensifica seus trabalhos. Algumas pessoas são demitidas e outras são contratadas. O setor de marketing começa a crer que algo não foi bem trabalhado. Iniciam novos planos, 8 porém logo percebem que ainda não estão alcançando suas metas. Isso pode se repetir algumas vezes, incutindo em gastos e investimentos da própria empresa que podem, em determinado momento, não ser mais possível devido à falta de capital. Para evitar este tipo de situação, é imprescindível conhecer o cliente e a importância dos seus feedbacks para as tomadas de decisão. Essas e outras lições foram vivenciadas por Ries (2012, p. 16), que ainda estudou e aplicou outras metodologias, como, por exemplo, os conceitos da manufatura enxuta – processo que nasceu no Japão – com o sistema de produção da Toyota (JUSTA, 2014). Segundo Justa (2014), a manufatura enxuta tem como pressuposto identificar e eliminar desperdícios do sistema produtivo e criar riqueza através da melhoria contínua aliada com custos mais baixos. Ries (2012) aplicou esses conceitos nos seus empreendimentos e percebeu que, com alguns ajustes, os desperdícios poderiam ser reduzidos e até eliminados, também no processo de inovação. Os cinco princípios da manufatura enxuta são a base do sucesso da Toyota, que tem como filosofia criar produtos centrados no cliente, evitando, assim, os desperdícios, conforme citam Womack e Jones (2004): • Identificar valor compreendendo o que os clientes valorizam: somente o cliente final pode definir o valor do produto (bem ou serviço) que atenda às suas necessidades. Por isso é tão importante conhecer o cliente e entender as suas “dores”. Somente com este conhecimento será possível tomar decisões que irão atender aos valores dos clientes. Um modelo de negócio responde a três perguntas fundamentais. “Quem é o seu cliente? Qual a proposta de valor que responde às necessidades do seu cliente? Quais são os processos e recursos necessários para entregar a proposta de valor?” (MACHADO, 2014, s. p.). ATENÇÃO 9 • Mapear o fluxo de valor: o fluxo de valor é o conjunto das ações específicas e necessárias, para que um produto passe da solução de problemas, para o projeto detalhado que engloba o gerenciamento das informações, até o desenvolvimento do produto, finalizando com a entrega para o cliente. • Criar fluxo contínuo: uma vez que o valor foi especificado e o fluxo de valor foi mapeado, o próximo desafio é criar um fluxo eficiente e contínuo de processos, para que os produtos sejam produzidos e entregues com a máxima qualidade possível. Assim, é necessário considerar as funções e os departamentos das empresas e entender as necessidades dos funcionários em cada ponto do fluxo. Segundo os autores, a estratégia enxuta exige um novo olhar sobre a empresa, muito mais voltado para as pessoas, para que elas tenham o real interesse em “fazer o valor fluir”. Aqui, nota-se novamente a semelhança com o conceito de startup de Eric Ries (2011), no qual o autor comenta que startups são “instituições humanas”, e por isso a motivação e a busca por uma cultura voltada para o desenvolvimento das pessoas e pelo sentimento de pertencimento são tão importantes. • Estabelecer produção puxada: na visão da Toyota (JUSTA, 2014), produção puxada significa “puxada pelo cliente” e não “empurrada para o cliente”. Ou seja, diferentemente do método tradicional que investe tempo e recursos para o desenvolvimento de produtos para depois vender, a produção puxada inicia com o pedido do cliente. • Buscar a perfeição: este princípio da manufatura enxuta, busca a perfeição nos processos e na produção. O objetivo é a melhoria contínua de suas práticas. Ao invés de reinventar constantemente os modelos de negócios, a metodologia enxuta prevê verificar o que o cliente realmente percebe como valor. Uma vez entendido, parte-se para a próxima etapa, alinhar as atividades de desenvolvimento do produto ao longo de um fluxo de valor, eliminando atividades (geralmente a maioria) que não agregam valor. Em seguida, o pensador enxuto cria uma condição de fluxo em que o produto avança de acordo com a validação do cliente (em vez do impulso do empreendedor). Finalmente, à medida que o fluxo e a tração são implementados, o pensador enxuto acelera o ciclo de melhoria em busca da perfeição. Percebam o conjunto de teorias e metodologias que vão desde a descoberta do cliente, passando pelo desenvolvimento ágil de produtos permeado de validações, aprendizados e eliminando desperdícios ao longo do caminho. Entre os empreendedores, a expressão “dor do cliente” é muito empregada e se refere ao motivo pelo qual o cliente precisa de uma solução. A dor é a necessidade, o ponto que precisa de ajuda. Por isso, para encontrar uma solução é necessário entender primeiro qual é a dor que precisa ser sanada. NOTA 10 Resumindo, Lean Startup reúne um modelo de negócio desenhado para atender às necessidades do cliente utilizando metodologias ágeis de desenvolvimento desde a descoberta do cliente até a entrega do produto final. Eric Ries (2011, s. p.) ainda diz que "usando a abordagem da startup enxuta, as empresas podem criar ordem, não caos, fornecendo ferramentas para testar uma visão continuamente". Assim, Ries (2012, p. 6) começou a testar, a escrever, dar aulas, participar de conferências, e disseminar esta nova teoria de startup enxuta. Um dos princípios era o mesmo da manufatura enxuta: eliminar desperdícios. E onde estavam os principais desperdícios? No desenvolvimento de produtos que ninguém queria. Muitos empreendedores aderiram a esse conceito mundo afora, alcançando vários setores da tecnologia e inovação. 3 A VISÃO DA STARTUP Uma startup sempre se inicia com uma ideia para solucionar algum problema. O impacto que se deseja com essa solução é a visão. É o ponto onde se quer chegar, a mudança que deseja ver acontecer. A visão é o fundamento, a base para que, a partir dela, estratégias sejam desenhadas para se chegar em uma solução. Ries (2012, p. 19) se refere à visão da startup como o “norte verdadeiro”, um destino. A jornada envolve evoluções constantes da primeira ideia, pois a primeira normalmente não é a que se concretiza. 3.1 PRIMEIRO A VISÃO, DEPOIS A ESTRATÉGIA E O PRODUTO Toda startup é baseada em uma visão: onde se quer chegar, um sonho, um desejo, um propósito. Para alcançar essa visão, empreendedores traçam um plano de produto e definem as primeiras estratégias. O produto é o resultado final da estratégia. Vejam a Figura 2: FIGURA 2 – VISÃO, ESTRATÉGIA E PRODUTO FONTE: Ries (2012, p. 20) 11 No entanto, o crescimento da startup deve se dar por fatos e dados, e não por fé. Por isso, as hipóteses devem ser testadas e avaliadas e, muitas vezes, os resultados não são aquelesesperados. Aqui se dá uma importante etapa que definirá o posicionamento da startup e todas as tomadas de decisão que virão na sequência. No momento em que se avaliam os resultados dos feedbacks e percebemos que uma mudança se torna necessária, muda-se a estratégia (pivô). É importante entender que cada revés é um aprendizado. Alguns investidores levam esses aprendizados em consideração ao avaliarem se vale a pena investir ou não na startup. FIGURA 3 – PRODUTO, ESTRATÉGIA, VISÃO – O PIVÔ FONTE: Ries (2012, p. 20) A startup enxuta utiliza um princípio denominado “aprendizagem validada”. Esta será a unidade de progresso que, segundo Ries (2012, p. 16) “deve ser o parâmetro durante todo o desenvolvimento, eliminando as fontes de desperdício durante o percurso do empreendedorismo, inclusive na etapa da ideia”. Conforme visto, Ries (2012, p. 24) define uma startup como: “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. O autor diz ainda que “empreender é administrar” e “startup é uma instituição e não um produto” (RIES, 2012, p. 24). Assim, uma startup necessita de uma gestão adaptada para o contexto de extrema incerteza. É normal acontecerem muitos erros, e com eles muitos aprendizados surgem. Não existe uma resposta correta e absoluta para tudo. Existem, sim, vários testes e vários recomeços. O medo de errar pode impedir o sucesso da startup. No entanto, alguns erros mais críticos, como desenvolver um produto que não será comprado, pode ser evitado. Para evitar tomadas de decisão que impliquem em prejuízos, a metodologia Lean não utiliza planos complexos, e sim vários ciclos baseados em hipóteses que visam: construir > medir > aprender. O que corresponde a: transformar ideias em produtos (construir) > avaliar como os clientes reagem (medir) > verificar se vale a pena continuar na ideia ou se é melhor pivotar (aprender). 12 Onde podemos fracassar enquanto empreendedores? Ao se apaixonar pela ideia e se agarrar a uma estratégia que não considera uma avaliação sólida com os clientes. Afinal, lembrem-se que startups são instituições que crescem em um contexto de extrema incerteza, e assim, mesmo que a ideia lhe pareça sensacional, é possível que os clientes não a aceitem tão bem e será necessário desapegar da ideia inicial para adaptar, ou mesmo abandonar e criar outra que faça sentido para o cliente. 4 PRIMEIROS PASSOS: A GERAÇÃO DE HIPÓTESES O sucesso da startup está muito atrelado à geração de hipóteses e experimentos que vão validar ou invalidar as estratégias. Para Eric Ries (2012, p. 52), “os experimentos verdadeiros seguem o método científico em que começa com uma hipótese clara que indica o que pode acontecer, seguida de um teste empírico, junto aos clientes, cujos resultados validarão ou não a hipótese”. No método científico, segundo Van Doren (2012, p. 22), o qual também podemos afirmar ser um método para adquirir conhecimento, foi inventado por uma série de pensadores, dentre eles Descartes e Newton. Segundo o autor, um dos princípios que eles tinham em comum era que “tudo deve ser questionado”. Na época era um conceito estranho, mas somente com muito questionamento eles conseguiram chegar a algumas certezas. E como o método científico é estruturado? Em linhas gerais, Van Doren (2012, p. 314) relata haver inicialmente uma observação seguida de uma elaboração de um questionamento, “por que isso ocorre?”, a partir daí surgem as hipóteses, suposições dos motivos que levam àquele problema, em seguida, as hipóteses são postas à prova em um ambiente controlado, evitando a intrusão de elementos e variáveis que possam invalidar a experiência. Em seguida, analisam-se os resultados e chegam a uma conclusão que valida ou invalida a hipótese. Em caso de invalidação, elaboram-se novas hipóteses, até chegar no porquê de tal situação acontecer. Pivotar é um termo derivado do inglês to pivot (“mudar” ou “girar”) e significa uma mudança radical no rumo do negócio. Pivotar é mudar de estratégia depois de perceber que o caminho estava errado. NOTA 13 No método científico não existem achismos e preferências pessoais. Galliano (1979, p. 33) afirma que cientistas não podem se deixar levar por critérios subjetivos, não podem aceitar como verdadeira uma solução química vermelha em detrimento de uma verde porque preferem o vermelho. O que se aceita como verdadeiro por gosto ou por alguma evidência aparente, ou ainda por alguma conveniência, não pode ser considerado conhecimento científico (GALLIANO, 1979, p. 34). Essas situações, em geral, são levadas como atos de fé ou como uma simples opinião. FIGURA 4 – DIAGRAMA SIMPLIFICADO DO MÉTODO CIENTÍFICO FONTE: Adaptada de Mira (2018) 14 E qual a semelhança do método científico com o empreendedorismo e o modelo Lean Startup? Ries (2012, p. 34) enfatiza que “um experimento verdadeiro deve seguir o método científico”; ele coloca a elaboração de hipóteses e seus testes como imprescindíveis no processo. Além disso, o autor afirma ser muito danoso o empreendedor se deixar levar pelos seus sentimentos e subjetividade, não considerando o que verdadeiramente importa – a aceitação do cliente e a garantia que ele comprará a solução. No empreendedorismo também se procura validar ou invalidar as hipóteses e, neste caso, tudo se inicia com a visão do empreendedor. Eric Ries (2012, p. 52) diz que “da mesma forma que a experimentação científica é permeada pela teoria, a experimentação da startup é orientada pela sua visão”. É importante frisar que, tanto cientistas quanto empreendedores devem ser objetivos e ignorar sentimentos e emoções quando o assunto é o avanço da pesquisa. As emoções não devem interferir nas observações. A ciência e o empreendedorismo são atividades humanas que envolvem conhecimento e aprendizado, e por isso as pessoas envolvidas devem ser humildes e trabalhar com honestidade. Uma diferença importante é que a “ciência trata quase exclusivamente de coisas e não de ideias e sentimentos” (VAN DOREN, 2012, p. 313). Já no empreendedorismo, o sentimento do cliente deve ser compreendido e não apenas de um cliente, mas dos vários clientes, conforme o Diagrama Simplificado de Empreendedorismo apresentado na Figura 5: FIGURA 5 – DIAGRAMA SIMPLIFICADO DO EMPREENDEDORISMO FONTE: O autor 15 A semelhança não é mera coincidência. Este método garante rapidez e economia, uma vez que o desenvolvimento de um produto se dará somente após a validação das hipóteses; o método permite que os erros sejam percebidos mais rapidamente e, assim, a ideia amadurece à luz da ciência dos negócios, permitindo o seu desenvolvimento de maneira sustentável. Ao definir a visão e as primeiras hipóteses, o empreendedor sai do campo imaginário e começa a operar no campo prático. 4.1 MAS AFINAL, O QUE SÃO HIPÓTESES? Segundo o Dicionário Online de Português, hipótese é a “possibilidade considerada válida antes de sua confirmação; suposição” (HIPÓTESE, 2021, s. p.). Assim, com base nesta definição e adaptando para o contexto das startups, é válido dizer que uma hipótese é uma suposição de que a sua estratégia irá funcionar. Veja alguns exemplos: • Os clientes vão pagar R$ 500 por mês para utilizar a minha solução? • Pet Shops estão dispostos a ter uma rede de colaboração com veterinários? • Empresas necessitam de um sistema que integre o setor de RH com seus colaboradores? As hipóteses não dão a certeza de que a ideia faz sentido. Mas orientam os testes com os clientes. Steve Blank (2014, p. 34) diz que “hipótese é só uma palavra bonita para ‘achismo’”, então é necessário criar experimentos para validar as hipóteses. Assim, quanto mais rápido rodarmos o ciclo da startup construir > medir > aprender, mais rápido erraremos, e mais rápido aprenderemos. Este é o grande diferencial do método lean. O que se deve evitar é não aprender com os erros. Utilize ométodo para não desperdiçar as chances de aprendizado pois, de nada adianta uma excelente ideia, ou um produto bem desenvolvido com métricas e vários atrativos, se o cliente não pagar por ele. Ouça e internalize o feedback do cliente. FIGURA 6 – CICLO DE FEEDBACK: CONSTRUIR > MEDIR > APRENDER FONTE: Ries (2012, p. 69) 16 É importante considerar que o produto muda conforme a fase da startup, por exemplo: na fase de validação das hipóteses sobre o problema, o primeiro produto será o experimento; assim geram-se as ideias, constroem-se as hipóteses, gera-se um produto que é o experimento que possibilitará obter feedback dos clientes e, em seguida, medimos os resultados. Após a análise dos dados gerados, é possível validar ou não as hipóteses e registrar aprendizados obtidos com erros e com acertos. Se necessário, inicia-se um novo ciclo construindo novas hipóteses: “O primeiro produto da empresa é o experimento de validação” (RIES, 2012, p. 58). Logo, o primeiro passo é identificar as hipóteses e testar. O modelo Lean Startup oferece um modo de testar hipóteses que auxilia no monitoramento deste processo, possibilitando os registros das validações e mudanças (pivots) realizadas. 4.2 O QUE É VALIDAÇÃO? Validação é a comprovação de que o seu negócio dará certo. Na fase das ideias é preciso validar se elas fazem sentido ou não, aproveitando ao máximo o aprendizado que o processo proporciona. O processo é feito “indo para rua”, testando com o próprio cliente. Nesta fase, muitos insights são gerados, o que pode, inclusive, mudar totalmente as estratégias da startup. Para começar, é importante decompor a grande visão em pelo menos três partes principais: • hipóteses sobre o cliente; • hipóteses sobre o problema; e • hipóteses sobre a solução. A partir dessas principais hipóteses, deve-se elaborar estratégias para validação. 4.3 HIPÓTESES SOBRE O CLIENTE, PROBLEMA E SOLUÇÃO As hipóteses são formuladas para entender as “dores”, os problemas, e as necessidades dos seus potenciais clientes, para, a partir deste entendimento, poder desenvolver uma ou mais soluções que atendam às suas expectativas. Nessa etapa, o importante é conhecê-los o mais profundamente possível. Para isso, vamos entender o método de Desenvolvimento de Clientes, elaborado pelo Steve Blank (2014, p. 20). 17 4.4 INTRODUÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DE CLIENTES Como já foi comentado, um grande desafio das startups é elaborar e testar as hipóteses transformando as suposições em fatos. O ciclo de feedback não costuma ser contemplado em modelos tradicionais, e quando não é usado nas startups pode levar a grandes prejuízos. O modelo apresentado na Figura 7 é de Steve Blank (2014) e ilustra as etapas que visam tornar o processo mais ágil e evitar os problemas citados no Subtópico 2 – A origem das startups. Note que são duas fases distintas: • A primeira se configura como “Pesquisa” – a busca pelo negócio; esta fase está composta pela Descoberta do Cliente e pela Validação pelo Cliente. O objetivo é se certificar de que o cliente realmente possui uma necessidade e de que a solução irá resolvê-la. • A segunda se configura como “Execução” – o crescimento do negócio; esta fase é composta pela Geração da Demanda e pela Estruturação da Empresa. O objetivo desta fase é estruturar o plano de negócios e formalizar a empresa para que as vendas possam escalar. Descoberta do Cliente é a etapa na qual se descrevem as hipóteses sobre o cliente de acordo com a visão dos fundadores. O foco é explorar as necessidades dos clientes, desenvolver um plano de valdação e então testar as suas reações, transformando as suposições em fatos. Validação pelo Cliente é marcada pelos testes e, nesta etapa, se valida se existe realmente o problema e se o cliente estaria disposto a comprar a solução. O objetivo é verificar se as hipóteses se comprovam e se o negócio tem condições de escalar, ou seja, crescer e alcançar um grande mercado. Caso as hipóteses não sejam validadas, volta-se para etapa inicial e formulam-se novas hipóteses. FIGURA 7 – PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE CLIENTES FONTE: Blank (2014, p. 21) 18 Geração de Demanda é o início da execução. Nesta etapa, iniciam-se também o desenvolvimento de um canal de vendas e a criação de uma base de clientes. Estruturação da Empresa marca a transição de uma organização informal para uma empresa formalizada e focada na execução da solução já validada. Esta etapa é marcada também pela escala das vendas. 4.5 QUADRO MODELO DE NEGÓCIOS: UMA FERRAMENTA PARA REGISTRAR AS HIPÓTESES E OS INDICADORES DA DESCOBERTA DO CLIENTE. O quadro modelo de negócios é muito útil para reunir em uma página os indicadores da Descoberta do Cliente. Alexander Osterwalder e Yves Pigneur (2011), autores do livro Business Model Generation, descrevem várias técnicas para elaborar um quadro do modelo de negócios inicial. O livro foi escrito em 2011 e foi revolucionário no sentido de apresentar visualmente e resumidamente, de forma rápida e prática, nove elementos principais de um modelo de negócios: • Segmentação de clientes: para trabalhar com o canvas, os autores sugerem selecionar os clientes que serão o público-alvo do modelo de negócio. É normal empresas iniciarem o canvas com mais de um grupo de clientes. • Relacionamento com o cliente: os autores destacam a importância de se trabalhar o relacionamento com o cliente, que vai depender do ramo de operação. • Oferta de valor: pode ser considerado também como conjunto de benefícios, ou como valor agregado do produto. É o motivo pelo qual os clientes irão comprar o produto da startup. • Canais de vendas: são os portais de comunicação com o cliente, e informam como o produto será distribuído. • Fontes de custos: são os custos que a empresa pode ter para manter o modelo de negócios sustentável. • Parceiros-chave: os autores sugerem que a tática da parceria pode diminuir riscos e reduzir custos com terceirização. São empresas estratégicas para o sucesso do negócio. • Fontes de receitas: significa todo o dinheiro gerado que, dependendo do modelo de negócio, pode ser através de vendas, ou de assinaturas, ou ainda outra forma de pagamento periódico. • Recursos principais: são os fornecedores, materiais físicos, financeiros ou equipamentos. Os recursos variam de acordo com o tipo de negócio. • Atividades-chave: são todas as atividades necessárias que garantem a geração de lucro. Na prática, os participantes escrevem as ideias em post-its com textos curtos e objetivos relacionados a cada um dos blocos. Esta prática já foi adaptada para o formato virtual também. 19 Q U A D R O 1 – M O D E LO D E N E G Ó C IO S FO N T E : < h tt p s: // b it. ly /3 lr p Sp n > . A c e ss o e m : 4 a g o . 2 0 2 1. 20 O quadro do modelo de negócios foi idealizado para ser dinâmico, pois, ao realizar o contato com os clientes, novas ideias irão surgir e ajustes terão que ser feitos. Por isso as hipóteses serão inseridas e continuamente revisadas à medida que os fundadores forem coletando os dados. Steve Blank (2014, p. 33) sugere que “utilizar o quadro do modelo de negócios como um guia, facilita localizar onde e como realizar as formulações”. Veja, no Quadro 2, um exemplo simplificado do quadro do modelo de negócios da Uber. QUADRO 2 – VERSÃO SIMPLIFICADA DO MODELO DE NEGÓCIOS DA UBER FONTE: <https://bit.ly/3BrVukr>. Acesso em: 4 ago. 2021. 4.6 LEAN CANVAS O modelo de Osterwalder e Pigneur (2011) é bastante popular entre as startups. No entanto, um modelo mais recente foi criado em 2018 pelo autor Ash Maurya (2018a, p. 5), que adaptou o “Quadro Modelo de Negócios” para o modelo “Lean”. O autor substituiu quatro dos nove blocos originais, considerando que startups apresentam riscos maiores que merecem mais atenção e devem ser identificados. 21 Segundo Maurya (2018b), as alterações são necessáriaspois os empreendedores, como agentes de mudança, devem se concentrar no problema que buscam resolver e focar os esforços em quem vai comprar a solução. O Lean Canvas torna explícita a compreensão do problema. Além disso, a chave para qualquer startup é se manter financeiramente e, criar valor antes que os recursos acabem. Por isso, os founders da startup precisam se preocupar com poucas métricas, mais uma vez utilizando o pensamento enxuto de eliminação de desperdícios. O modelo Lean Canvas busca definir mais claramente as principais métricas de curto prazo. A versão apresentada no Quadro 3 é a versão mais atual do quadro Lean (MAURYA, 2019), no qual o autor sugere uma ordem de preenchimento para melhorar o fluxo e também uma mudança nos campos de preenchimento: QUADRO 3 – LEAN CANVAS FONTE: Traduzido e adaptado de <https://bit.ly/30dqBCz>. Acesso em: 3 ago. 2021. 4.7 AS VANTAGENS DE ESTRUTURAR O MODELO DE NEGÓCIOS EM UM QUADRO Segundo Maurya (2018a, p. 4), o primeiro passo é colocar a visão inicial no papel. Tradicionalmente isso é feito através da elaboração de um plano de negócios mais robusto, com várias páginas. No entanto, raramente a primeira ideia é validada e um modelo menos estático e menos rígido oferece algumas vantagens como: 22 4.8 PRINCIPAIS MUDANÇAS DO LEAN CANVAS QUADRO 4 – AS DIFERENÇAS DO QUADRO DE MODELO DE NEGÓCIOS PARA LEAN CANVAS FONTE: A autora • Agilidade: ao comparar com um plano de negócios que pode levar semanas ou meses para ficar pronto, o quadro de modelo de negócios, ou o Lean Canvas, pode ser desenvolvido em poucas horas. • Concisão: o quadro não oferece muito espaço para frases longas, e força as pessoas a serem mais objetivas e a escolherem com cuidado as palavras. • Portátil: o modelo de negócio em uma página é fácil de transportar e de compartilhar com pessoas estratégicas, o que torna mais fácil atualizar com mais frequência. Em seu site, Maurya (2019, s. p.) comenta que recebe uma pergunta com bastante frequência: “Por que o Lean Canvas não é organizado de forma mais lógica?” A ordem aparentemente é aleatória. O principal motivo para esse layout específico, segundo o autor, é o legado. Lean Canvas é derivado do Quadro do Modelo de Negócios e, ao invés de alterar o layout da tela, o autor optou por adotar uma restrição de design: cada vez que ele adicionava uma nova caixa (como Problema), ele removia uma caixa antiga (como Parceiros Principais). O autor comenta ainda, que ele já preencheu e analisou vários Lean Canvas, e a ordem de preenchimento é apenas uma sugestão. Não existe uma ordem correta e sim a mais intuitiva, que varia de empreendedor para empreendedor. IMPORTANTE 23 • Em segmentos de clientes, a principal mudança sugerida por Maurya (2019) é listar os clientes e usuários (nem sempre são os mesmos: enquanto o cliente paga pela solução, o usuário não paga. Ex.: aplicativo para crianças, no qual os pais pagam e os filhos usam), além de listar os early adopters (clientes ideais). • O Problema: Maurya (2018a, p. 7) cita uma frase de Dave McClure, fundador da 500 Startups, considerada uma das aceleradoras de startups (em estágio inicial) mais ativa do mundo: “Os clientes não dão a mínima para a solução que você tem a oferecer. Eles se interessam pelos próprios problemas”. O autor comenta que McClure, durante as sessões de apresentação dos empreendedores, sempre chama a atenção quando eles falam muito da solução e pouco do problema. O autor cita ainda: “Seu produto não é O produto”. Por isso no quadro Lean, Maurya (2018a) deixou menos espaço para solução e mais para o problema. • Proposta de valor única: Maurya (2018a, p. 29) cita uma pergunta que será o guia para a criação da frase de proposta de valor única: “Por que você é diferente e por que vale a pena dedicar atenção a você?”. O autor cita ainda que vender implica em dialogar e, no primeiro momento, dificilmente se fechará uma venda, quando muito obterá a atenção do potencial cliente. • Solução: para o preenchimento da solução no quadro Lean, Maurya (2018a, p. 33) recomenda primeiro “testar os problemas, coletar feedbacks, rever as prioridades dos problemas, se necessário substituir os problemas por outros, e só depois delinear a solução”. • Canais: Maurya (2018a, p. 34) cita que uma das principais causas de fracasso é “não elaborar um caminho até os clientes”. Como a meta inicial da startup é aprender, o autor sugere testar todos os caminhos possíveis, dando atenção especial para os canais escaláveis. Steve Blank (2014, p. 92) na Descoberta dos Clientes, sugere, ainda, “analisar os custos envolvidos considerando os meios físicos e digitais”. • Fluxos de Receitas: Maurya (2018a, p. 38), se refere ao fluxo de receitas como parte do produto. O produto não precisa estar pronto para ter um preço. Segundo o autor, “o preço faz parte do produto” mesmo que o produto esteja ainda na fase do produto mínimo viável (MVP). MVP não significa um produto ruim, mas sim um produto que resolve os principais problemas do cliente, aqueles que valem a pena resolver. Assim, o fluxo de receitas pode ser entendido como a precificação do produto, considerando também que o preço determina seus clientes e o pagamento é a primeira forma de validação. • Estrutura de custos: neste campo, Maurya (2018a, p. 39) sugere preencher todos os custos operacionais necessários para levar o produto ao mercado. Exemplos: quanto custará entrevistar de 50 a 100 clientes? Quanto custará o desenvolvimento do MVP? Neste ponto, deve-se buscar o equilíbrio entre tempo, dinheiro e energia que o empreendedor irá precisar. • Métricas-chave: são, segundo Maurya (2018a), indicadores chave usados para mensurar desempenho. Alguns deles citados pelo autor são do modelo Pirate Metrics, de David McClure: “Como os usuários encontram você? Os usuários têm uma primeira experiência espetacular? Os usuários voltam? Como você ganha dinheiro? Os usuários falam de você para os amigos, colegas e parentes?” (MAURYA, 2018a, p. 41). 24 • Vantagem Diferencial: este item é o último, pois Maurya (2018a) o considera o mais difícil de preencher. Alguns empreendedores consideram como vantagem competitiva as funcionalidades do produto ou ser pioneiro no mercado, mas isso nem sempre é uma vantagem. Segundo Maurya (2018a), uma vantagem diferencial e real é algo que não pode ser copiado ou comprado. O autor cita como exemplos: “uma equipe dos sonhos, informações privilegiadas, uma comunidade, autoridade pessoal, dentre outros” (MAURYA, 2018a, p. 43). 4.9 CASE CLOUDFIRE – QUADRO LEAN PREENCHIDO A CloudFire foi fundada por Maurya (2018a, p. 25), autor que desenvolveu e aprimorou o Lean Canvas. Para contextualizar, antes da CloudFire o autor havia lançado um aplicativo de compartilhamento de arquivos, o BoxCloud. A solução visava simplificar o processo de compartilhamento de grandes arquivos, usando a estrutura peer-to-web, a qual foi criada e patenteada também por Maurya e seus sócios. A proposta única de valor era permitir ao usuário o compartilhamento do arquivo ou da pasta, sem ter que fazer upload, o acesso era feito direto pelo navegador sem qualquer software adicional. Os principais clientes eram fotógrafos, cinegrafistas, consumidores de mídias e pais. Maurya (2018a) conta que ele vivenciava esse problema, pois acabara de ser pai e não conseguia compartilhar as fotos do filho facilmente. Assim, este foi o segmento que ele escolheu primeiramente para trabalhar. Maurya (2018a, p. 27) se refere ao problema juntamente com o segmento de clientes, utilizando a expressão “problema- segmento de clientes”. • Problema e segmento de clientes O problema que ele vivenciava estava relacionado ao número de fotos e vídeos que aumentaram consideravelmente, somado à demanda da família que solicitava as fotos todos os dias e o cansaço com os cuidados dedicados à criança. Já o segmento de clientes englobava ospais, a família e amigos, sendo que os adotantes iniciais seriam os pais com filhos pequenos. • Proposta única de valor: Na proposta única de valor, Maurya (2018a, p. 30) comenta a importância em manter o foco nos adotantes iniciais, direcionando a eles uma “mensagem ousada, clara e específica”. O segredo, segundo o autor, é mostrar o diferencial do seu produto no problema número um que sua empresa se propõe a resolver, apresentando os benefícios em vez das funcionalidades. A escolha das palavras deve ser feita com cuidado. Maurya (2018a) sugere um exercício de pesquisa das propostas únicas de valor de empresas que você admira. No caso da CloudFire, o autor listou uma série de alternativas e escolheu a palavra “velocidade” como o seu diferencial e “nenhuma necessidade de upload” como 25 palavras-chave para o posicionamento do produto. Ficando a sua proposta única de valor assim definida: “A maneira mais rápida de compartilhar suas fotos e vídeos”, adotando o conceito de alto nível como: “Compartilhamento de fotos e vídeos sem a necessidade de fazer upload” (MAURYA, 2018a, p. 32). • Solução Em posse da lista de problemas, Maurya (2018a, p. 33), definiu as funcionalidades que o seu MVP – produto mínimo viável – deveria ter. Para cada problema, o autor definiu uma solução, ficando: “Compartilhamento instantâneo, sem upload; integração com iPhoto/pastas; melhores ferramentas de notificação”. • Canais Após estudos realizados, para responder as perguntas: gratuito ou pago? Inbound ou outbound? Vendas diretas ou automatizadas? Vendas diretas ou indiretas? Maurya (2018a) decidiu iniciar com vários canais outbound para condução de entrevistas e poucos canais escaláveis para uma próxima etapa, ficando assim definido: amigos, creche, festas de aniversário, AdWords, Facebook, boca a boca. • Fluxos de receitas e estrutura de custos Estas seções são utilizadas para demonstrar a viabilidade do negócio. Maurya (2018a), p. 38) sugere “iniciar pelo cálculo da reserva de caixa necessária para desenvolver e lançar o MVP”. O autor enfatiza que o valor do produto faz parte dele e, se existe a intenção de cobrar, deve ser cobrado desde o primeiro dia. Sobre a estrutura de custos, o autor comenta ser difícil fazer uma projeção precisa dos custos e por isso o melhor é se concentrar no presente. No caso da CloudFire, Maurya (2018a) elencou custos com pessoal e hospedagem de site. Em fluxo de receitas, para precificar o seu produto, o autor comparou com as alternativas existentes como o Flickr, SmugMug e MobileMe da Apple e decidiu começar com o preço de US$ 49,00 por ano. • Inbound (técnicas para atrair o cliente) – exemplos: blogs, e-books, webinars. • Outbound (técnicas para atingir os clientes) – exemplos: anúncios em TV, vendas por telefone, participação em feiras. • Vendas diretas (com contato e interação com o cliente) – vendas automatizadas: sem interação direta com o cliente. NOTA 26 • Métricas-chave As métricas utilizadas por Maurya (2018a) se relacionam com: ᵒ Aquisição de clientes: quando o visitante se transforma em potencial cliente. ᵒ Ativação: quando o cliente tem a sua primeira experiência positiva com o produto. ᵒ Retenção: quando o cliente volta e compra repetidas vezes. Segundo o autor, esta é a principal métrica para avaliar se o produto foi aceito pelo mercado. ᵒ Receita: eventos em que o cliente paga. ᵒ Recomendação ou indicação: segundo o autor, esta é a forma mais avançada do canal de aquisição, pois demonstra a satisfação do cliente. Assim, as métricas para CloudFire ficaram definidas como: usuário cadastrado; primeira galeria criada; um álbum de fotos e/ou vídeos compartilhado; parentes e amigos convidados; e pagamentos efetuados após o período de teste. • Vantagem diferencial Segundo Maurya (2018a, p. 45), a tecnologia poderia dar a ele uma vantagem inicial, no entanto, o autor cita que “tudo o que vale a pena ser copiado, será copiado”. Assim, logo a tecnologia deixaria de ser um diferencial competitivo. O autor decidiu então fundamentar a vantagem diferencial da CloudFire em algo mais difícil de ser replicado, a comunidade. Veja o Quadro 5, preenchido com o exemplo da startup de Maurya (2018a, p. 45), a CloudFire. QUADRO 5 – LEAN CANVAS DA STARTUP CLOUD FIRE FONTE: Maurya (2018a, p. 45) 27 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O conceito de startup é difuso e varia entre os empreendedores. No entanto, o conceito Lean Startup vem sendo empregado amplamente e com ele a cultura do aprendizado baseado em feedback. • Eric Ries, autor da metodologia, definiu cinco princípios da Lean Startup: empreendedores estão em todos os lugares; empreender é administrar; aprendizado validado; construir-medir-aprender; e contabilidade diferenciada para startups. • A visão da startup é seu alicerce para compor as estratégias até o produto. • A geração de hipóteses é a etapa primordial para se começar a estruturar o conhecimento do cliente e seus problemas. • As hipóteses são apenas suposições e precisam ser validadas com o cliente. • O quadro modelo de negócios e/ou o Lean Canvas são ferramentas de apoio para registrar as hipóteses e devem ser preenchidos de maneira dinâmica. Sempre que houver novos aprendizados, devem ser registrados. • O Lean Canvas é mais atual e desenvolvido especialmente para se adaptar ao modelo Lean Startup. • Os quadros devem ser preenchidos com base no segmento de clientes/problemas. Se houver mais de um cliente, o ideal é que se faça mais de um quadro. RESUMO DO TÓPICO 1 28 1 O autor do livro A Startup Enxuta, Eric Ries, considera cinco princípios norteadores que permeiam toda a metodologia lean. Assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Princípio 1: “empreendedores estão em todos os lugares” significa que qualquer pessoa que esteja desenvolvendo um produto em condições de extrema certeza, é um empreendedor. b) ( ) Princípio 2: “empreender é administrar” indica que uma startup requer uma gestão adaptada para o contexto de extrema certeza. c) ( ) Princípio 3: “aprendizado validado” significa que as startups existem para inovar e se tornarem grandes empresas. d) ( ) Princípio 4: “contabilidade da inovação” é a contabilidade que mede o progresso, define marcos e prioriza o trabalho. e) ( ) Princípio 5: ‘construir – medir – aprender” é o ciclo de feedback sugerido por Eric Ries para transformar ideias em produtos, medir as reações dos empreendedores e decidir se deve abandonar a ideia ou perseverar. 2 O sucesso da startup está atrelado à geração de hipóteses e experimentos que vão validar ou invalidar as estratégias. As hipóteses não dão a certeza de que a ideia faz sentindo, mas orientam os testes com os clientes. De acordo com o exposto, classifique V para as senteças verdadeiras e F para as falsas. ( ) As hipóteses são formuladas para entender as “dores”, os problemas e as necessidades dos seus potenciais clientes, para, a partir deste entendimento, poder desenvolver uma ou mais soluções que atendam às suas expectativas. ( ) Descoberta do Cliente é a etapa na qual se descrevem as hipóteses sobre o cliente de acordo com a visão dos fundadores. O foco é explorar as necessidades dos clientes, desenvolver um plano de validação e, então, testar as suas reações, transformando as suposições em fatos. ( ) Validação pelo Cliente é marcada pelos testes e, nesta etapa se valida se existe realmente o problema e se o cliente estaria disposto a comprar a solução. O objetivo é verificar se as hipóteses se comprovam e se o negócio tem condições de escalar. ( ) Geração de Demanda é o início da execução após a validação das hipóteses. Nesta etapa, iniciam-se, também, o desenvolvimento de um canal de vendas e a criação de uma base de clientes. AUTOATIVIDADE 29 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( )
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