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Roberto Elias Necessidades Especiais ODONTOLOGIA PARA PACIENTES COM d o z e r o a o s d e z o i t o a n o s S U M A R I O 1. Considerações em Odontologia Pediátrica 2. A Amamentação e a Odontologia 3. Doenças Infecto Contagiosas Comuns à Infância 4. Encefalopatia Crônica na Infância 5. Oncologia Infantil 6. Fendas Labiopalatais 7. Autismo: Desordem Desenvolvimental Pervasiva 8. Hipertensão Arterial no Pequeno Paciente 9. Criança Hospitalizada: Reflexões Acerca da Participação no Campo da Odontologia 10. Adolescência: Apresentam Necessidades Especiais? 11. A Higiene Oral em Crianças Portadoras de Necessidades Especiais 12. A Viabilidade da Prótese em Pacientes com Necessidades Especiais 13. Distúrbios da Articulação Temporomandibular 14. Corticoide na Odontologia: Vilão ou Mocinho? 15. Aplicabilidade Farmacológica na Odontologia Junto aos Pacientes com Necessidades Especiais 16. Infecções Odontogênicas: Um Problema para os Pacientes com Necessidades Especiais 17. Cirurgia: Pacientes com Necessidades Especiais 014 054 080 102 118 136 152 162 172 186 200 214 228 254 270 280 292 N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 228 Capítulo 13 DISTÚRBIOS DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Rômulo Elias Roberto Elias 229 ANATOMIA A articulação temporomandibular é uma ar- ticulação que se encontra entre a parte es- camosa do osso temporal e o processo con- dilar da mandíbula, chamada de diartrose, compreendida por dois tipos de articulação sinovial - uma dobradiça e uma de desliza- mento, sendo formada pelo disco articular, processo condilar da mandíbula, ligamen- tos e a parte escamosa, ou seja, o tubérculo articular do osso temporal. O côndilo man- dibular tem uma morfologia muito variada em relação à forma e às medidas do côndilo humano sendo, no entanto, sempre conve- xa em todos os planos. No plano sagital, o côndilo varia em muito poucos graus. Se avaliarmos frontalmente, notaremos duas proeminências nas suas extremida- des - o polo lateral e o polo medial. Entre esses dois polos há uma ligeira concavida- de chamada fóvea pterigóidea, aonde irão se inserir as fibras do músculo pterigoide lateral inferior e a parte superior. A super- fície funcional da articulação corresponde à parte anterior do teto da fossa mandibu- lar, à vertente posterior do tubérculo e á face superior e anterior do côndilo, estan- do todas essas revestidas por tecido fibro- so denso que as protege de atrito durante os movimentos mandibulares. A cavidade mandibular ficara na parte anterior ao músculo auricular externo, sendo limitada anteriormente pela ver- tente posterior do tubérculo articular, lo- calizado na parte lateral da eminência articular e também, posteriormente, pela parede timpânica ou pós-glenoide. O teto será formado por uma lâmina óssea fina, com mais ou menos 1 mm, separando os lobos temporais e a eminência articular por duas paredes ou vertentes - a ante- rior, sendo mais rasa, e a posterior, sendo mais íngreme com variações acentuadas. A união dessas duas vertentes formara a crista articular. Na parte escamosa do temporal, existe uma superfície avascular composta de tecido conectivo fibroso em vez de car- tilagem hialina. As principais áreas de suporte de carga localizam-se na vista lateral da parte escamosa, na cabeça da mandíbula e no disco articular. O denso tecido conectivo fibroso é mais espesso nas áreas de suporte de car- ga. Anteriormente as fibras escamosas do músculo temporal se relacionam com a eminência articular condilar, em ou- tra parte intermediária dentro da fossa mandibular e posteriormente na região N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 230 timpânica. A eminência articular é uma forte proeminência óssea na base do processo zigomático. O tubérculo articular fornecerá fixação para a cápsula articular e para o liga- mento lateral. A fossa mandibular é uma depressão na qual se localiza o processo condilar da mandíbula. Superiormente a esta fina lâmina de osso encontramos a fossa média do crânio. A parte timpâni- ca é uma lâmina vertical localizada ante- riormente ao meato acústico externo. O tubérculo articular posterior irá ser uma extensão inferior da parte escamosa do temporal, formando a face posterior da fossa mandibular e fornecendo fixação para a cápsula articular. Em relação à localização das estruturas ósseas, temos visto que a posição do côndilo em relação à eminência articular tem sido um assunto bastante discutido há anos. De um ponto de vista estrita- mente estático, a posição do disco de- pende da forma da fossa, da inclinação da eminência e da forma do côndilo. Nos anos 70, localizou-se o côndilo em uma posição geometricamente cêntrica na fossa. Já as definições atuais orientam essa relação (côndilo-disco-fossa) para conceitos funcionais. Sabe-se que os ligamentos são meios de união dessa articulação e que cada um possui uma extrema importância para o funcionamento de toda a ATM. Eles são compostos pela cápsula articular ou li- gamento capsular, ligamento lateral, ligamentos esfenomandibular e estilo- mandibular, que pertencem ao sistema mastigatório, ligamentos colaterais, liga- mento do disco mamelar, pela zona bila- minar e pelo disco articular. A cápsula articular é uma membrana fina, resistente e relativamente laxa que circunda completamente a superfície articular do osso temporal e do proces- so condilar da mandíbula, recobrindo toda a articulação, se inserindo supe- riormente ao longo de toda a circunfe- rência da fossa mandibular e tubérculo articular e, inferiormente ,ao longo do colo do côndilo no nível da fóvea pteri- góidea. A sua camada externa é forma- da por tecido conjuntivo rico em fibras de colágeno. A camada interna é reves- tida por células endoteliais específicas que formam a estrutura da membrana sinovial. Os tecidos sinoviais ricamente vascularizados e inervados segregam o líquido sinovial e fornecem nutrientes e capacidade imunológica aos tecidos intra-articulares. Capítulo 13 231 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S Do ponto de vista histopatológico, deve- se realçar a importância do líquido si- novial e que alterações do seu fluxo ou comprometimento do seu metabolismo bioquímico podem predispor os tecidos articulares a malformações adaptativas e degenerativas. Uma propriedade bio- química relevante neste processo é a viscosidade necessária para a ação lu- brificadora das superfícies articulares, possibilitando os movimentos de desliza- mento com o mínimo de fricção, propor- cionada pela presença de ácido hialurô- nico. A membrana sinovial é constituída por duas camadas: uma celular, que con- tém vasos sanguíneos, fibroblastos, ma- crófagos, mastócitos, células adiposas e fibras elásticas, que se misturam com a cápsula articular; e outra camada forma- da por tecido conjuntivo fibroso laxo que se serve de apoio para a camada celular. Vale lembrar que umas das funções da cápsula articular é a propriocepção. O ligamento lateral é formado por uma camada superficial em forma de leque e orientado obliquamente para baixo e para trás e outra mais profunda em dire- ção mais horizontal. O feixe mais super- ficial estende-se do tubérculo articular e do arco zigomático até à parte externa e o bordo posterior do colo do côndilo; o feixe mais profundo estende-se do tubér- culo e do arco zigomático até o polo late- ral do côndilo e parte posterior do disco. Devido à sua posição, alguns movimentos são limitados do complexo côndilo/disco. Suas fibras mais superficiais impedem o abaixamento excessivo do côndilo, impe- dindo a abertura bucal excessiva; já as fibras mais profundas impedem o movi- mento posteriordo disco e do côndilo. MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATM Músculo Temporal: Tem origem na fossa temporal e face profunda da fáscia tem- poral, dirigindo-se para baixo e para fren- te, passa por baixo do arco zigomático e se insere na apófise coronoide e no bor- do anterior do ramo da mandíbula quase até o terceiro molar. Tem função de ele- var a mandíbula (fechamento da boca) e a parte posterior de retrair a mandíbula. É inervado pelo ramo anterior e posterior do temporal profundo (ramo mandibular do trigêmeo). Músculo Masseter: É um músculo espesso e quadrilátero constituído por dois feixes; o feixe profundo com origem no terço posterior do bordo inferior e toda a face N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 232 medial do arco zigomático, dirigindo-se para frente e para baixo para se inserir na metade superior do ramo e face lateral do processo coronoide. Já o feixe super- ficial tem origem no processo zigomático da maxila, dois terços anteriores do bordo inferior do processo zigomático, dirigindo- -se para baixo e para trás para se inserir no ângulo e na metade inferior da face ex- terna do ramo da mandíbula. Sua função é de elevar a mandíbula e é inervado pelo nervo massetérico. Músculo Pterigoideo Medial: É um músculo espesso e quadrilátero, que possui dois feixes, ocupando o espaço da face in- terna do ramo da mandíbula por baixo do masseter. O feixe profundo se origi- na na face medial da lâmina do pteri- goide lateral do esfenoide e processo piramidal do palatino; já o feixe super- ficial se origina na face lateral do pro- cesso piramidal do palatino e na tube- rosidade maxilar. Esses dois feixes se direcionam para baixo, para fora e para trás e se encontram na parte inferior e posterior da superfície medial do ramo e ângulo da mandíbula. Sua função é o fechamento bucal e é inervado pelo nervo pterigoideo medial. Músculo Pterigoideo Lateral: É um músculo grosso que se estende praticamente ho- rizontalmente entre a fossa infra-tempo- ral e o côndilo, também possuindo dois feixes- um chamado feixe superior, com origem na parte inferior da face lateral da grande asa do esfenoide e na crista in- fra-temporal, e o feixe inferior que se ori- gina na face lateral da lâmina pterigoide lateral do esfenoide. Ambos irão se diri- gir para trás, para fora e horizontalmente para se unir na parte anterior do colo do côndilo e margem anterior do disco. Sua função é de abertura bucal, protrusão e lateralidade, sendo inervado pelo nervo pterigoideo lateral. Músculo Supraioideo: É formado por quatro músculos que se situam entre a mandíbu- la e o osso hioide, com uma grande par- ticipação no movimento de abaixamento mandibular. Entre eles podemos citar: músculo digás- trico, formado por dois feixes: o ventre anterior, com origem em uma depressão no lado interno da mandíbula junto à sínfise, com direção para baixo e para trás para se unir ao ventre posterior, que tem origem na apófise mastoide do temporal, com sua direção voltada para baixo e para frente unindo-se ao Capítulo 13 233 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S ventre anterior pelo tendão, se fixando no corpo e no grande corno do hioide. O músculo miloioideo se insere na linha miloioidea na face interna da mandíbu- la, com sua direção voltada para baixo e para dentro, se unindo no corpo do hioi- de. Na linha média ele irá se juntar com o contralateral formando o pavimento da cavidade bucal. Já o músculo genioioideo é um músculo com características de ser estreito com origem na face interna da sínfise men- toniana, com sua direção voltada para baixo e para trás para pode se unir na face anterior do osso hioide, ficando em contato com o oposto. O músculo es- tiloioideo tem sua origem na superfície posterior e lateral do processo estiloide, com sua direção voltada para baixo e para frente, para poder se unir no corpo do hioide. Músculo Infraioideo: Conjunto de quatro músculos localizados abaixo do osso hioide, que auxiliam na abertura forçada da boca, fixando o hioide para permitir uma maior ação dos músculos supra-hi- óideos. Os quatro músculos que citamos acima são: esternoioideo, esternotireoi- deo, tiroioideo e omoioideo. VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO DA ATM A vascularização da articulação temporo- mandibular é basicamente fornecida pela artéria maxilar e pela artéria temporal su- perficial em razão de serem os ramos mais importantes da carótida externa, através dos ramos auricular profundo, meníngea média, temporal posterior, auricular pos- terior e occipital. A inervação é fornecida por todos os ramos da divisão mandibu- lar do trigêmeo, ou seja, principalmente pelos nervos auriculotemporal, masseté- rico, temporal profundo e pterigoideo. No espaço ou fossa retromandibular, o nervo auriculotemporal é responsável pela sen- sibilidade da articulação e os outros ra- mos desviam-se para inervar o tímpano e a parede anterior do conduto auditivo externo. O estímulo intenso e contínuo de um nervo por meio de sinais no núcleo central, junto aos neurônios intimamente relacionados com o nervo estimulado, irá produzir uma dor refletida, que é um fenô- meno central com um estímulo de origem periférica. Como exemplo, a dor intensa em um dente na mandíbula (zona do ner- vo dental inferior) pode levar à trigemial- gia. Isto explica, sob o ponto de vista da neurologia, dores na região do trigêmeo oriundas na ATM, que pode confundir o diagnóstico correto. N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 234 ETIOLOGIA DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES As disfunções temporomandibulares apre- sentam um caráter multifatorial pois ainda existe uma concordância sobre a etiologia de uma disfunção da ATM e vários pesqui- sadores tentam encontrar origens para jus- tificar essa patologia devido à mesma estar associada à hiperatividade muscular, trau- ma, estresse, emocional, maloclusão, além de inúmeros outros fatores predisponentes, precipitantes ou perpetuantes dessa con- dição. Há teorias que explicam a etiologia da DTM, como a do deslocamento mecâ- nico, acreditando-se que ocorra um deslo- camento condilar decorrente de problemas oclusais; a neuromuscular propõe que a maloclusão traz como consequência hábi- tos orais nocivos alterando a musculatura ou a ATM além de produzirem mudanças na oclusão. Já a psicofisiológica acredita que o principal fator causador das DTMs é o estresse ou outros desajustes emocio- nais, sendo que os hábitos parafuncionais são consequências do estado emocional do indivíduo, que levam à hiperatividade muscular e podem causar DTM; a psicoló- gica atribui a DTM a uma origem psicológi- ca, sem haver uma relação importante com as disfunções orgânicas. Alguns pesquisadores acreditam que to- das as teorias propostas possuem uma base hipotética e não têm necessaria- mente qualquer significado clínico, como diz Zarb e Mohl22. Já Schiffman, Fricton e Haley18 ressaltam que uma teoria não pode explicar adequadamente a ocor- rência de todas estas disfunções. A ori- gem multifatorial das DTMs é citada por muitos pesquisadores como Bianchini3 e os mesmos enfatizam a maloclusão, o es- tresse e os hábitos parafuncionais como fatores de risco importantes. O pesquisador Okeson15 cita que os fa- tores etiológicos de uma DTM podem ser devido a um trauma (direto e indireto), al- terações anatômicas, alterações fisiopato- lógicas, como fatores sistêmicos ou locais e alterações psicossociais. O trauma pode ocorrer quando há uma força aplicada nas estruturas anatômicas que ultrapassa a carga funcional normal. Quanto maior for a duração e a intensidade desta força, pior será o trauma resultante.O autor divide os traumas em três tipos: direto, que é quan- do acontece um golpe súbito e isolado nas estruturas, podendo aparecer inflamação Capítulo 13 235 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S e perda da função; indireto, quando ocor- re um golpe súbito, sem contato direto en- tre as estruturas envolvidas, como no caso de trauma por aceleração-desaceleração; e os microtraumas, que ocorrem devido às forças repetitivas e prolongadas durante um determinado tempo, como os hábitos parafuncionais. Outros fatores que podem agravar o quadro da DTM são os atos de comer, bocejar, gritar ou abrir a boca exageradamente, quando realizados com muito estiramento ou compressão e o bru- xismo. Os fatores etiológicos anatômicos, como desproporções e malformações es- queléticas, podem provocar deslocamen- to de componentes articulares. Há referên- cias de que a ingremidade da eminência articular possa ser um fator etiológico da DTM, além dos efeitos da radiação e das doenças sistêmicas como desordens de- generativas, infecciosas, metabólicas e vasculares, também podem influenciar no aparecimento das DTMs. Muito se discute e se comenta que os fatores etiológicos psicossociais podem desencadear ou manter a DTM em al- guns indivíduos e que os pacientes com DTM podem apresentar características de personalidade que tornem as situa- ções da vida complicadas. Geralmente, esses indivíduos são mais ansiosos e podem possuir outras desordens rela- cionadas com o estresse. De Boever5 faz algumas referências sobre as DTMs que aparecem devido à profissão do indivíduo exercer uma força maior so- bre a articulação temporomandibular; já autores como Schiffman, Fricton e Ha- ley18 acreditam que os hábitos parafun- cionais são fatores etiológicos para al- guns indivíduos, sendo que os mesmos podem desencadear ou agravar esta patologia. Okeson15 sugere que a com- binação de dois aspectos como a hiper- mobilidade articular e uma parafunção podem ser fatores muito predisponen- tes a uma patologia na ATM. Com isso, em virtude de toda esta complexidade etiológica e da variedade dos sinais e sintomas que podem, genericamente, também representar outras patologias, o reconhecimento e a diferenciação das disfunções temporomandibulares po- dem apresentar-se de forma não muito clara ao profissional. 236 N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M Ligamento Esfenomandibular Ligamento Lateral (temporomandibular) Ligamento Estilomandibular Cápsula Articular Processo Estilóide Nervo Mandibular e Gânglio Ótico Artéria Meníngea Média Cápsula Articular Nervo Auriculotemporal Artéria Maxilar Nervo Alveolar Inferior Nervo Lingual Ligamento Esfenomandibular Ligamento Estilomandibular Artéria e Nervo Milo-hióideos V I S T A L A T E R A L V I S T A M E D I A L 01 Vista lateral ATM. Capítulo 13 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S 237 Mandíbula Músculo Masséter Fossa Osso Temporal Disco Côndilo 02 Vista óssea da articulação temporomandibular. 03 Esquema topográfico região condilar. N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 238 LEMBRAMOS SINAIS E SINTOMAS DA DISFUNÇÃO DAS ATMS PODEM INCLUIR25 Dificuldade para abrir a boca de manhã, ao acordar; Dores no maxilar e no osso da bochecha; Sentir dores ou cansaço no maxilar ao comer; Dores ou zumbido nos ouvidos; Dores de cabeça; Dores atrás dos olhos; Alterações na mordida; Ruídos na articulação do maxilar como estalos ou cliques ou chiados ao abrir e fechar a boca; Travamento do maxilar quando fechado; Deslocamento do maxilar quando aberto; O maxilar não se movimenta de um lado para o outro e nem para frente cor- retamente; Dores quando a área das ATMs ou os músculos do maxilar são tocados Inchaço ao redor das ATMs. NÃO DEIXAR DE FAZER AS SEGUINTES PER- GUNTAS NA ANAMNESE Origem do problema; Duração, caráter e localização de qual- quer dor que esteja sentindo; Consciência de que seu maxilar esteja sendo cerrado ou triturado durante a noite e/ou dia; Se você acorda de manhã com o ma- xilar rígido; Sintomas que se intensificam quando está sob estado de maior estresse; Histórico de artrite em outra parte do corpo; Histórico familiar de algum problema similar; Histórico de traumas no maxilar, na ca- beça ou no pescoço; Ruídos nas articulações (como cliques, estalos ou chiados); Limitações nos movimentos do maxilar inferior; Qualquer desconforto relacionado; Tratamentos atuais ou anteriores. Capítulo 13 239 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S ALERTAMOS MECANISMO DA CREPITAÇÃO O estalo ou click da articulação ouvido pelo paciente, e às vezes pelo exami- nador, é uma crepitação articular pouco esclarecida. Surge e desaparece es- pontaneamente em 50% da população. Ocorre por uma descoordenação entre o côndilo e o disco durante o movimento de translação, no qual perdem por um momento a sua relação de alinhamento. Em casos mais severos de bloqueio da ATM, o disco articular pode estar des- locado em direção anterior ou dobrado sobre si mesmo, como demonstram ar- trografias feitas com radiografias com- putadorizadas ou na ressonância mag- nética dinâmica. A presença do “estalo” na articulação sem acompanhamento de bloqueio ou de dor não tem o menor significado patológico uma vez que não produz disfunção que justifique trata- mento mais enérgico. É muito frequente como o é na coluna cervical durante os seus movimentos. LUXAÇÃO - REDUÇÃO ESPONTÂNEA Na abertura máxima da boca, o disco interarticular se interpõe entre o côndilo e a eminência articular. Quando ultra- passa este limite, o côndilo fica luxado e o paciente fica de boca aberta, não conseguindo fechá-la. É preciso que se faça a redução manual ou cirurgia. En- tretanto, em 35% da população geral, normalmente ocorre a luxação com a redução espontânea sem que se perce- ba. Dependendo de a cápsula ser mais ou menos frouxa e de maior ou menor proeminência da eminência articular, o disco, nesta passagem, pode ou não ser traumatizado, resultando em dor. 240 N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição fechada normal. Osso do maxilar é separado do crânico por um disco flexível que age como um amortecedor quando você mastiga, fala e engole. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição aberta normal. Disco permanece no lugar quando o maxilar está em uso. ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição anormal. Disco é puxado para frente quando o maxiliar está em uso, obrigando as estruturas ósseas a atritarem entre si. Capítulo 13 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S 241 Placas relaxantes ou aparelhos noturnos são geralmente usados em seus dentes para o tratamento das disfunções das ATMs. 04 Esquema ilustrativo da ATM. N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 242 TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES “O tratamento imediato da dor na sua fase aguda é eminentemente conservador, e deve ser sempre considerado e praticado antes de qualquer outro mais agressivo, não importa a etiologia. O tratamento con- servador consiste em repousar a articula- ção sem imobilizá-la”. As alternativas de tratamento sempre devem ser baseadas em evidências científicas e tratamentos conservadores pouco invasivos são sempre a primei- ra escolha, pois o arsenal terapêutico descrito na literatura para tratamento das disfunções temporomandibulares é bastante diverso, incluindo aconse- lhamento para mudança de hábitos nocivos, fisioterapia, modificações re- versíveis do padrão oclusal,como dis- positivos interoclusais, Ortodontia, Re- abilitação oral e Cirurgia. Okeson cita que vários fatores devem ser conside- rados para o tratamento de DTM, onde o padrão oclusal (relação das arcadas dentárias), trauma, estresse emocional e atividade parafuncional (hábitos no- civos como bruxismo, entre outros) são fatores fundamentais para um possível diagnostico e tratamento correto. Por- tanto, o tratamento de DTM é voltado tanto para alívio da sintomatologia como para identificação dos fatores predis- ponentes, iniciadores e perpetuantes. O importante, e lógico, é uma aborda- gem inicial voltada para a disfunção e dor e nenhum tratamento invasivo como cirurgias, ortodontias, próteses e apa- relhos ou dispositivos interolcusais co- nhecidos como placas de uso contínuo, encontram respaldo científico como te- rapia inicial para as disfunções tempo- romandibulares e para a dor orofacial. Um aspecto bastante importante é que as dores manifestas no complexo crâ- nio-cérvico-orofacial nem sempre serão originárias nas estruturas do aparelho da mastigação, sendo formada pelos dentes, músculos e ATM. Muito embora as dores orofaciais mais frequentes sejam as de origem dentária, deve-se tomar muito cui- dado no diagnóstico diferencial das dores que se manifestam na região da cabeça, do pescoço e da face. Capítulo 13 243 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S Uma opção bastante utilizada por es- pecialistas é o tratamento dividido em duas partes: diurno e/ou noturno, onde o tratamento diurno, dependendo do tipo de disfunção, vai desde o compor- tamental cognitivo, correção da postura de boca, hábitos parafuncionais, terapia muscular, desativação dos pontos gati- lhos existentes na musculatura da mas- tigação, avaliação da mordida para ve- rificação de interferências oclusais, até um tratamento oclusal. Já o tratamento noturno, se necessário, é o uso de uma placa estabilizadora, ou seja, um dispo- sitivo intra-oral que é usado para prote- ger os dentes, os músculos e a ATM, e sua indicação deve ser realmente preci- sa, selecionando conforme a disfunção que o paciente apresenta. PLACA ESTABILIZADORA A placa estabilizadora é um dispositivo interoclusal rígido e removível, onde é importante salientar que deve ser rígida, confeccionada em acrílico, não poden- do ser macia (de silicone), pois esta au- menta a parafunção do paciente, pioran- do assim, o seu quadro clínico, levando o paciente perpetuar a sua disfunção da ATM, recidivando frequentemente os sintomas. A mesma necessita de ajus- tes sucessivos e contínuos, devolvendo contatos bilaterais e simultâneos e tem suas finalidades de distribuir as forças oclusais, promover estabilidade oclusal, proteger os dentes de cargas que ve- nham a ser traumáticas, reduzir desgas- te dental nos pacientes que rangem os dentes à noite, no caso do bruxismo, e estabilizar os dentes que não possuem os seus antagonistas. N e c e s s i d a d e s E s p e c i a i s O D O N T O L O G I A P A R A P A C I E N T E S C O M 244 TIPOS 05 Placa estabilizadora DTM. Vários autores relacionam diversos ti- pos de placas oclusais e estabelecem classificações segundo a finalidade e as características das mesmas. Procu- rando simplificar a compreensão desta afirmação relacionaremos abaixo a clas- sificação estabelecida por Dawson, com pequenas modificações: 1. Placa Permissiva: Os côndilos ficam livres para excursionar sem restrições de movi- mento. 1.1. Placa Miorrelaxante: (estabilizadora) co- bertura total e cobertura parcial (anterior); 2. Placa Directiva: tem por objetivo posicio- nar a mandíbula em uma relação específica com a maxila, alinhando côndilo e disco. Capítulo 13 245 D O Z E R O A O S D E Z O I T O A N O S PRINCÍPIO DE AÇÃO A razão da eficiência na redução de sinto- mas não está totalmente clara, mas várias teorias foram propostas para tentar expli- car seu mecanismo de ação. Clarck enumera 5 teorias que explicam o me- canismo de ação das placas interoclusais: Teoria do desengrenamento oclusal, que proporciona ao paciente, através da placa, uma oclusão “ideal”; Teoria da restauração da dimensão vertical, que devolveria ao paciente a di- mensão vertical de oclusão (DVO) que foi perdida, reduzindo ou eliminando todas as atividades musculares anormais; Teoria do realinhamento maxilomandibu- lar, que preconiza o alinhamento da posi- ção mandibular em relação à maxila atra- vés de placas interoclusais baseando-se em detalhes anatômicos que orientariam a montagem dos modelos em articulador; Teoria do reposicionamento da ATM para uma posição determinada através de imaginologia; Teoria da consciência cognitiva, que se baseia no conceito de que a presença de qualquer tipo de aparelho interoclusal na boca alerta o paciente constantemente a alterar os comportamentos anormais ou danosos ao sistema estomatognático. ACUPUNTURA Uma alternativa complementar para o possí- vel tratamento das disfunções, evitando cau- sar desconforto e perda do sono é a famosa terapia com acupuntura que, diferentemente das placas estabilizadoras, possui a vanta- gem de proporcionar um sono melhor e uma melhor qualidade de vida; além de aliviar a dor, a técnica se vale de pontos que redu- zem o estresse e a ansiedade, condições que agravam a DTM e trazem um efeito mui- to semelhante ao da placa. A acupuntura é uma técnica de tratamento da Medicina tra- dicional chinesa que consiste no estímulo de pontos determinados da superfície da pele, denominados “meridianos”, que são canais de energia, onde se localizam pontos que deverão ser estimulados tanto para seda- ção como para tonificação, com o objetivo de equilibrar a energia vital do ser humano. Podem ser utilizados neste processo agu- lhas, ventosas, cromoterapia, auriculotera- pia, massagens, e até o calor proveniente da queima da moxa, preparada a partir da erva artemísia. Esta técnica, através do seu mecanismo de analgesia, colabora para a diminuição do consumo de medicamentos, assim como analgésicos e anti-inflamatórios. Também é um ótimo auxílio no alívio da dor pós-operatória em cirurgias odontológicas assim como as de terceiros molares inclusos. ISBN 978-85-60842-68-1