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Roberto Elias
Necessidades Especiais
ODONTOLOGIA PARA PACIENTES COM
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1. Considerações em Odontologia Pediátrica
2. A Amamentação e a Odontologia
3. Doenças Infecto Contagiosas Comuns à Infância
4. Encefalopatia Crônica na Infância
5. Oncologia Infantil
6. Fendas Labiopalatais
7. Autismo: Desordem Desenvolvimental Pervasiva
8. Hipertensão Arterial no Pequeno Paciente
9. Criança Hospitalizada: Reflexões Acerca da Participação no 
Campo da Odontologia
10. Adolescência: Apresentam Necessidades Especiais?
11. A Higiene Oral em Crianças Portadoras de Necessidades 
Especiais
12. A Viabilidade da Prótese em Pacientes com Necessidades 
Especiais
13. Distúrbios da Articulação Temporomandibular
14. Corticoide na Odontologia: Vilão ou Mocinho?
15. Aplicabilidade Farmacológica na Odontologia Junto aos 
Pacientes com Necessidades Especiais 
16. Infecções Odontogênicas: Um Problema para os Pacientes 
com Necessidades Especiais
17. Cirurgia: Pacientes com Necessidades Especiais
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Capítulo 13
DISTÚRBIOS DA ARTICULAÇÃO
TEMPOROMANDIBULAR
Rômulo Elias  Roberto Elias
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ANATOMIA
A articulação temporomandibular é uma ar-
ticulação que se encontra entre a parte es-
camosa do osso temporal e o processo con-
dilar da mandíbula, chamada de diartrose, 
compreendida por dois tipos de articulação 
sinovial - uma dobradiça e uma de desliza-
mento, sendo formada pelo disco articular, 
processo condilar da mandíbula, ligamen-
tos e a parte escamosa, ou seja, o tubérculo 
articular do osso temporal. O côndilo man-
dibular tem uma morfologia muito variada 
em relação à forma e às medidas do côndilo 
humano sendo, no entanto, sempre conve-
xa em todos os planos. No plano sagital, o 
côndilo varia em muito poucos graus.
Se avaliarmos frontalmente, notaremos 
duas proeminências nas suas extremida-
des - o polo lateral e o polo medial. Entre 
esses dois polos há uma ligeira concavida-
de chamada fóvea pterigóidea, aonde irão 
se inserir as fibras do músculo pterigoide 
lateral inferior e a parte superior. A super-
fície funcional da articulação corresponde 
à parte anterior do teto da fossa mandibu-
lar, à vertente posterior do tubérculo e á 
face superior e anterior do côndilo, estan-
do todas essas revestidas por tecido fibro-
so denso que as protege de atrito durante 
os movimentos mandibulares.
A cavidade mandibular ficara na parte 
anterior ao músculo auricular externo, 
sendo limitada anteriormente pela ver-
tente posterior do tubérculo articular, lo-
calizado na parte lateral da eminência 
articular e também, posteriormente, pela 
parede timpânica ou pós-glenoide. O teto 
será formado por uma lâmina óssea fina, 
com mais ou menos 1 mm, separando os 
lobos temporais e a eminência articular 
por duas paredes ou vertentes - a ante-
rior, sendo mais rasa, e a posterior, sendo 
mais íngreme com variações acentuadas. 
A união dessas duas vertentes formara a 
crista articular. 
Na parte escamosa do temporal, existe 
uma superfície avascular composta de 
tecido conectivo fibroso em vez de car-
tilagem hialina. As principais áreas de 
suporte de carga localizam-se na vista 
lateral da parte escamosa, na cabeça 
da mandíbula e no disco articular. O 
denso tecido conectivo fibroso é mais 
espesso nas áreas de suporte de car-
ga. Anteriormente as fibras escamosas 
do músculo temporal se relacionam com 
a eminência articular condilar, em ou-
tra parte intermediária dentro da fossa 
mandibular e posteriormente na região 
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timpânica. A eminência articular é uma 
forte proeminência óssea na base do 
processo zigomático. 
O tubérculo articular fornecerá fixação 
para a cápsula articular e para o liga-
mento lateral. A fossa mandibular é uma 
depressão na qual se localiza o processo 
condilar da mandíbula. Superiormente a 
esta fina lâmina de osso encontramos a 
fossa média do crânio. A parte timpâni-
ca é uma lâmina vertical localizada ante-
riormente ao meato acústico externo. O 
tubérculo articular posterior irá ser uma 
extensão inferior da parte escamosa do 
temporal, formando a face posterior da 
fossa mandibular e fornecendo fixação 
para a cápsula articular.
Em relação à localização das estruturas 
ósseas, temos visto que a posição do 
côndilo em relação à eminência articular 
tem sido um assunto bastante discutido 
há anos. De um ponto de vista estrita-
mente estático, a posição do disco de-
pende da forma da fossa, da inclinação 
da eminência e da forma do côndilo. Nos 
anos 70, localizou-se o côndilo em uma 
posição geometricamente cêntrica na 
fossa. Já as definições atuais orientam 
essa relação (côndilo-disco-fossa) para 
conceitos funcionais.
Sabe-se que os ligamentos são meios de 
união dessa articulação e que cada um 
possui uma extrema importância para o 
funcionamento de toda a ATM. Eles são 
compostos pela cápsula articular ou li-
gamento capsular, ligamento lateral, 
ligamentos esfenomandibular e estilo-
mandibular, que pertencem ao sistema 
mastigatório, ligamentos colaterais, liga-
mento do disco mamelar, pela zona bila-
minar e pelo disco articular.
A cápsula articular é uma membrana 
fina, resistente e relativamente laxa que 
circunda completamente a superfície 
articular do osso temporal e do proces-
so condilar da mandíbula, recobrindo 
toda a articulação, se inserindo supe-
riormente ao longo de toda a circunfe-
rência da fossa mandibular e tubérculo 
articular e, inferiormente ,ao longo do 
colo do côndilo no nível da fóvea pteri-
góidea. A sua camada externa é forma-
da por tecido conjuntivo rico em fibras 
de colágeno. A camada interna é reves-
tida por células endoteliais específicas 
que formam a estrutura da membrana 
sinovial. Os tecidos sinoviais ricamente 
vascularizados e inervados segregam 
o líquido sinovial e fornecem nutrientes 
e capacidade imunológica aos tecidos 
intra-articulares.
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Do ponto de vista histopatológico, deve-
se realçar a importância do líquido si-
novial e que alterações do seu fluxo ou 
comprometimento do seu metabolismo 
bioquímico podem predispor os tecidos 
articulares a malformações adaptativas 
e degenerativas. Uma propriedade bio-
química relevante neste processo é a 
viscosidade necessária para a ação lu-
brificadora das superfícies articulares, 
possibilitando os movimentos de desliza-
mento com o mínimo de fricção, propor-
cionada pela presença de ácido hialurô-
nico. A membrana sinovial é constituída 
por duas camadas: uma celular, que con-
tém vasos sanguíneos, fibroblastos, ma-
crófagos, mastócitos, células adiposas e 
fibras elásticas, que se misturam com a 
cápsula articular; e outra camada forma-
da por tecido conjuntivo fibroso laxo que 
se serve de apoio para a camada celular. 
Vale lembrar que umas das funções da 
cápsula articular é a propriocepção.
O ligamento lateral é formado por uma 
camada superficial em forma de leque 
e orientado obliquamente para baixo e 
para trás e outra mais profunda em dire-
ção mais horizontal. O feixe mais super-
ficial estende-se do tubérculo articular e 
do arco zigomático até à parte externa e 
o bordo posterior do colo do côndilo; o 
feixe mais profundo estende-se do tubér-
culo e do arco zigomático até o polo late-
ral do côndilo e parte posterior do disco. 
Devido à sua posição, alguns movimentos 
são limitados do complexo côndilo/disco. 
Suas fibras mais superficiais impedem o 
abaixamento excessivo do côndilo, impe-
dindo a abertura bucal excessiva; já as 
fibras mais profundas impedem o movi-
mento posteriordo disco e do côndilo.
MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO IMPORTANTES 
PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATM 
Músculo Temporal: Tem origem na fossa 
temporal e face profunda da fáscia tem-
poral, dirigindo-se para baixo e para fren-
te, passa por baixo do arco zigomático e 
se insere na apófise coronoide e no bor-
do anterior do ramo da mandíbula quase 
até o terceiro molar. Tem função de ele-
var a mandíbula (fechamento da boca) e 
a parte posterior de retrair a mandíbula. 
É inervado pelo ramo anterior e posterior 
do temporal profundo (ramo mandibular 
do trigêmeo).
Músculo Masseter: É um músculo espesso 
e quadrilátero constituído por dois feixes; 
o feixe profundo com origem no terço 
posterior do bordo inferior e toda a face 
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medial do arco zigomático, dirigindo-se 
para frente e para baixo para se inserir 
na metade superior do ramo e face lateral 
do processo coronoide. Já o feixe super-
ficial tem origem no processo zigomático 
da maxila, dois terços anteriores do bordo 
inferior do processo zigomático, dirigindo-
-se para baixo e para trás para se inserir 
no ângulo e na metade inferior da face ex-
terna do ramo da mandíbula. Sua função 
é de elevar a mandíbula e é inervado pelo 
nervo massetérico.
Músculo Pterigoideo Medial: É um músculo 
espesso e quadrilátero, que possui dois 
feixes, ocupando o espaço da face in-
terna do ramo da mandíbula por baixo 
do masseter. O feixe profundo se origi-
na na face medial da lâmina do pteri-
goide lateral do esfenoide e processo 
piramidal do palatino; já o feixe super-
ficial se origina na face lateral do pro-
cesso piramidal do palatino e na tube-
rosidade maxilar. Esses dois feixes se 
direcionam para baixo, para fora e para 
trás e se encontram na parte inferior e 
posterior da superfície medial do ramo 
e ângulo da mandíbula. Sua função é 
o fechamento bucal e é inervado pelo 
nervo pterigoideo medial.
Músculo Pterigoideo Lateral: É um músculo 
grosso que se estende praticamente ho-
rizontalmente entre a fossa infra-tempo-
ral e o côndilo, também possuindo dois 
feixes- um chamado feixe superior, com 
origem na parte inferior da face lateral da 
grande asa do esfenoide e na crista in-
fra-temporal, e o feixe inferior que se ori-
gina na face lateral da lâmina pterigoide 
lateral do esfenoide. Ambos irão se diri-
gir para trás, para fora e horizontalmente 
para se unir na parte anterior do colo do 
côndilo e margem anterior do disco. Sua 
função é de abertura bucal, protrusão e 
lateralidade, sendo inervado pelo nervo 
pterigoideo lateral.
Músculo Supraioideo: É formado por quatro 
músculos que se situam entre a mandíbu-
la e o osso hioide, com uma grande par-
ticipação no movimento de abaixamento 
mandibular.
Entre eles podemos citar: músculo digás-
trico, formado por dois feixes: o ventre 
anterior, com origem em uma depressão 
no lado interno da mandíbula junto à 
sínfise, com direção para baixo e para 
trás para se unir ao ventre posterior, 
que tem origem na apófise mastoide 
do temporal, com sua direção voltada 
para baixo e para frente unindo-se ao 
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ventre anterior pelo tendão, se fixando 
no corpo e no grande corno do hioide. 
O músculo miloioideo se insere na linha 
miloioidea na face interna da mandíbu-
la, com sua direção voltada para baixo e 
para dentro, se unindo no corpo do hioi-
de. Na linha média ele irá se juntar com 
o contralateral formando o pavimento da 
cavidade bucal.
Já o músculo genioioideo é um músculo 
com características de ser estreito com 
origem na face interna da sínfise men-
toniana, com sua direção voltada para 
baixo e para trás para pode se unir na 
face anterior do osso hioide, ficando em 
contato com o oposto. O músculo es-
tiloioideo tem sua origem na superfície 
posterior e lateral do processo estiloide, 
com sua direção voltada para baixo e 
para frente, para poder se unir no corpo 
do hioide.
Músculo Infraioideo: Conjunto de quatro 
músculos localizados abaixo do osso 
hioide, que auxiliam na abertura forçada 
da boca, fixando o hioide para permitir 
uma maior ação dos músculos supra-hi-
óideos. Os quatro músculos que citamos 
acima são: esternoioideo, esternotireoi-
deo, tiroioideo e omoioideo.
VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO DA ATM
A vascularização da articulação temporo-
mandibular é basicamente fornecida pela 
artéria maxilar e pela artéria temporal su-
perficial em razão de serem os ramos mais 
importantes da carótida externa, através 
dos ramos auricular profundo, meníngea 
média, temporal posterior, auricular pos-
terior e occipital. A inervação é fornecida 
por todos os ramos da divisão mandibu-
lar do trigêmeo, ou seja, principalmente 
pelos nervos auriculotemporal, masseté-
rico, temporal profundo e pterigoideo. No 
espaço ou fossa retromandibular, o nervo 
auriculotemporal é responsável pela sen-
sibilidade da articulação e os outros ra-
mos desviam-se para inervar o tímpano 
e a parede anterior do conduto auditivo 
externo. O estímulo intenso e contínuo de 
um nervo por meio de sinais no núcleo 
central, junto aos neurônios intimamente 
relacionados com o nervo estimulado, irá 
produzir uma dor refletida, que é um fenô-
meno central com um estímulo de origem 
periférica. Como exemplo, a dor intensa 
em um dente na mandíbula (zona do ner-
vo dental inferior) pode levar à trigemial-
gia. Isto explica, sob o ponto de vista da 
neurologia, dores na região do trigêmeo 
oriundas na ATM, que pode confundir o 
diagnóstico correto.
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ETIOLOGIA DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
As disfunções temporomandibulares apre-
sentam um caráter multifatorial pois ainda 
existe uma concordância sobre a etiologia 
de uma disfunção da ATM e vários pesqui-
sadores tentam encontrar origens para jus-
tificar essa patologia devido à mesma estar 
associada à hiperatividade muscular, trau-
ma, estresse, emocional, maloclusão, além 
de inúmeros outros fatores predisponentes, 
precipitantes ou perpetuantes dessa con-
dição. Há teorias que explicam a etiologia 
da DTM, como a do deslocamento mecâ-
nico, acreditando-se que ocorra um deslo-
camento condilar decorrente de problemas 
oclusais; a neuromuscular propõe que a 
maloclusão traz como consequência hábi-
tos orais nocivos alterando a musculatura 
ou a ATM além de produzirem mudanças 
na oclusão. Já a psicofisiológica acredita 
que o principal fator causador das DTMs 
é o estresse ou outros desajustes emocio-
nais, sendo que os hábitos parafuncionais 
são consequências do estado emocional 
do indivíduo, que levam à hiperatividade 
muscular e podem causar DTM; a psicoló-
gica atribui a DTM a uma origem psicológi-
ca, sem haver uma relação importante com 
as disfunções orgânicas.
Alguns pesquisadores acreditam que to-
das as teorias propostas possuem uma 
base hipotética e não têm necessaria-
mente qualquer significado clínico, como 
diz Zarb e Mohl22. Já Schiffman, Fricton 
e Haley18 ressaltam que uma teoria não 
pode explicar adequadamente a ocor-
rência de todas estas disfunções. A ori-
gem multifatorial das DTMs é citada por 
muitos pesquisadores como Bianchini3 e 
os mesmos enfatizam a maloclusão, o es-
tresse e os hábitos parafuncionais como 
fatores de risco importantes.
O pesquisador Okeson15 cita que os fa-
tores etiológicos de uma DTM podem ser 
devido a um trauma (direto e indireto), al-
terações anatômicas, alterações fisiopato-
lógicas, como fatores sistêmicos ou locais 
e alterações psicossociais. O trauma pode 
ocorrer quando há uma força aplicada nas 
estruturas anatômicas que ultrapassa a 
carga funcional normal. Quanto maior for a 
duração e a intensidade desta força, pior 
será o trauma resultante.O autor divide os 
traumas em três tipos: direto, que é quan-
do acontece um golpe súbito e isolado nas 
estruturas, podendo aparecer inflamação 
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e perda da função; indireto, quando ocor-
re um golpe súbito, sem contato direto en-
tre as estruturas envolvidas, como no caso 
de trauma por aceleração-desaceleração; 
e os microtraumas, que ocorrem devido às 
forças repetitivas e prolongadas durante 
um determinado tempo, como os hábitos 
parafuncionais. Outros fatores que podem 
agravar o quadro da DTM são os atos 
de comer, bocejar, gritar ou abrir a boca 
exageradamente, quando realizados com 
muito estiramento ou compressão e o bru-
xismo. Os fatores etiológicos anatômicos, 
como desproporções e malformações es-
queléticas, podem provocar deslocamen-
to de componentes articulares. Há referên-
cias de que a ingremidade da eminência 
articular possa ser um fator etiológico da 
DTM, além dos efeitos da radiação e das 
doenças sistêmicas como desordens de-
generativas, infecciosas, metabólicas e 
vasculares, também podem influenciar no 
aparecimento das DTMs.
Muito se discute e se comenta que os 
fatores etiológicos psicossociais podem 
desencadear ou manter a DTM em al-
guns indivíduos e que os pacientes com 
DTM podem apresentar características 
de personalidade que tornem as situa-
ções da vida complicadas. Geralmente, 
esses indivíduos são mais ansiosos e 
podem possuir outras desordens rela-
cionadas com o estresse. De Boever5 
faz algumas referências sobre as DTMs 
que aparecem devido à profissão do 
indivíduo exercer uma força maior so-
bre a articulação temporomandibular; já 
autores como Schiffman, Fricton e Ha-
ley18 acreditam que os hábitos parafun-
cionais são fatores etiológicos para al-
guns indivíduos, sendo que os mesmos 
podem desencadear ou agravar esta 
patologia. Okeson15 sugere que a com-
binação de dois aspectos como a hiper-
mobilidade articular e uma parafunção 
podem ser fatores muito predisponen-
tes a uma patologia na ATM. Com isso, 
em virtude de toda esta complexidade 
etiológica e da variedade dos sinais e 
sintomas que podem, genericamente, 
também representar outras patologias, 
o reconhecimento e a diferenciação das 
disfunções temporomandibulares po-
dem apresentar-se de forma não muito 
clara ao profissional.
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Ligamento Esfenomandibular
Ligamento Lateral
(temporomandibular)
Ligamento Estilomandibular
Cápsula Articular
Processo Estilóide
Nervo Mandibular e Gânglio Ótico
Artéria Meníngea Média
Cápsula Articular
Nervo Auriculotemporal
Artéria Maxilar
Nervo Alveolar Inferior
Nervo Lingual
Ligamento Esfenomandibular
Ligamento Estilomandibular
Artéria e Nervo Milo-hióideos
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01  Vista lateral ATM.
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Mandíbula
Músculo Masséter
Fossa
Osso Temporal
Disco
Côndilo
02  Vista óssea da articulação 
temporomandibular.
03  Esquema topográfico 
região condilar.
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LEMBRAMOS
SINAIS E SINTOMAS DA DISFUNÇÃO DAS ATMS 
PODEM INCLUIR25
  Dificuldade para abrir a boca de manhã, 
ao acordar;
  Dores no maxilar e no osso da bochecha;
  Sentir dores ou cansaço no maxilar ao 
comer;
  Dores ou zumbido nos ouvidos;
  Dores de cabeça;
  Dores atrás dos olhos;
  Alterações na mordida;
  Ruídos na articulação do maxilar como 
estalos ou cliques ou chiados ao abrir e 
fechar a boca;
  Travamento do maxilar quando fechado;
  Deslocamento do maxilar quando aberto;
  O maxilar não se movimenta de um 
lado para o outro e nem para frente cor-
retamente;
  Dores quando a área das ATMs ou os 
músculos do maxilar são tocados
  Inchaço ao redor das ATMs.
NÃO DEIXAR DE FAZER AS SEGUINTES PER-
GUNTAS NA ANAMNESE
  Origem do problema;
  Duração, caráter e localização de qual-
quer dor que esteja sentindo;
  Consciência de que seu maxilar esteja 
sendo cerrado ou triturado durante a noite 
e/ou dia;
  Se você acorda de manhã com o ma-
xilar rígido;
  Sintomas que se intensificam quando 
está sob estado de maior estresse;
  Histórico de artrite em outra parte do 
corpo;
  Histórico familiar de algum problema 
similar;
  Histórico de traumas no maxilar, na ca-
beça ou no pescoço;
  Ruídos nas articulações (como cliques, 
estalos ou chiados);
  Limitações nos movimentos do maxilar 
inferior;
  Qualquer desconforto relacionado;
  Tratamentos atuais ou anteriores.
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ALERTAMOS
MECANISMO DA CREPITAÇÃO
O estalo ou click da articulação ouvido 
pelo paciente, e às vezes pelo exami-
nador, é uma crepitação articular pouco 
esclarecida. Surge e desaparece es-
pontaneamente em 50% da população. 
Ocorre por uma descoordenação entre 
o côndilo e o disco durante o movimento 
de translação, no qual perdem por um 
momento a sua relação de alinhamento. 
Em casos mais severos de bloqueio da 
ATM, o disco articular pode estar des-
locado em direção anterior ou dobrado 
sobre si mesmo, como demonstram ar-
trografias feitas com radiografias com-
putadorizadas ou na ressonância mag-
nética dinâmica. A presença do “estalo” 
na articulação sem acompanhamento 
de bloqueio ou de dor não tem o menor 
significado patológico uma vez que não 
produz disfunção que justifique trata-
mento mais enérgico. É muito frequente 
como o é na coluna cervical durante os 
seus movimentos.
LUXAÇÃO - REDUÇÃO ESPONTÂNEA
Na abertura máxima da boca, o disco 
interarticular se interpõe entre o côndilo 
e a eminência articular. Quando ultra-
passa este limite, o côndilo fica luxado 
e o paciente fica de boca aberta, não 
conseguindo fechá-la. É preciso que se 
faça a redução manual ou cirurgia. En-
tretanto, em 35% da população geral, 
normalmente ocorre a luxação com a 
redução espontânea sem que se perce-
ba. Dependendo de a cápsula ser mais 
ou menos frouxa e de maior ou menor 
proeminência da eminência articular, o 
disco, nesta passagem, pode ou não 
ser traumatizado, resultando em dor.
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ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição fechada 
normal. Osso do maxilar é separado do crânico por um disco flexível 
que age como um amortecedor quando você mastiga, fala e engole.
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição aberta normal. 
Disco permanece no lugar quando o maxilar está em uso.
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR - Posição anormal. 
Disco é puxado para frente quando o maxiliar está em uso, 
obrigando as estruturas ósseas a atritarem entre si.
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Placas relaxantes ou aparelhos noturnos são 
geralmente usados em seus dentes para o 
tratamento das disfunções das ATMs.
04  Esquema ilustrativo da ATM.
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TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES
“O tratamento imediato da dor na sua fase 
aguda é eminentemente conservador, e 
deve ser sempre considerado e praticado 
antes de qualquer outro mais agressivo, 
não importa a etiologia. O tratamento con-
servador consiste em repousar a articula-
ção sem imobilizá-la”.
As alternativas de tratamento sempre 
devem ser baseadas em evidências 
científicas e tratamentos conservadores 
pouco invasivos são sempre a primei-
ra escolha, pois o arsenal terapêutico 
descrito na literatura para tratamento 
das disfunções temporomandibulares 
é bastante diverso, incluindo aconse-
lhamento para mudança de hábitos 
nocivos, fisioterapia, modificações re-
versíveis do padrão oclusal,como dis-
positivos interoclusais, Ortodontia, Re-
abilitação oral e Cirurgia. Okeson cita 
que vários fatores devem ser conside-
rados para o tratamento de DTM, onde 
o padrão oclusal (relação das arcadas 
dentárias), trauma, estresse emocional 
e atividade parafuncional (hábitos no-
civos como bruxismo, entre outros) são 
fatores fundamentais para um possível 
diagnostico e tratamento correto. Por-
tanto, o tratamento de DTM é voltado 
tanto para alívio da sintomatologia como 
para identificação dos fatores predis-
ponentes, iniciadores e perpetuantes. 
O importante, e lógico, é uma aborda-
gem inicial voltada para a disfunção e 
dor e nenhum tratamento invasivo como 
cirurgias, ortodontias, próteses e apa-
relhos ou dispositivos interolcusais co-
nhecidos como placas de uso contínuo, 
encontram respaldo científico como te-
rapia inicial para as disfunções tempo-
romandibulares e para a dor orofacial.
Um aspecto bastante importante é que 
as dores manifestas no complexo crâ-
nio-cérvico-orofacial nem sempre serão 
originárias nas estruturas do aparelho da 
mastigação, sendo formada pelos dentes, 
músculos e ATM. Muito embora as dores 
orofaciais mais frequentes sejam as de 
origem dentária, deve-se tomar muito cui-
dado no diagnóstico diferencial das dores 
que se manifestam na região da cabeça, 
do pescoço e da face.
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Uma opção bastante utilizada por es-
pecialistas é o tratamento dividido em 
duas partes: diurno e/ou noturno, onde 
o tratamento diurno, dependendo do 
tipo de disfunção, vai desde o compor-
tamental cognitivo, correção da postura 
de boca, hábitos parafuncionais, terapia 
muscular, desativação dos pontos gati-
lhos existentes na musculatura da mas-
tigação, avaliação da mordida para ve-
rificação de interferências oclusais, até 
um tratamento oclusal. Já o tratamento 
noturno, se necessário, é o uso de uma 
placa estabilizadora, ou seja, um dispo-
sitivo intra-oral que é usado para prote-
ger os dentes, os músculos e a ATM, e 
sua indicação deve ser realmente preci-
sa, selecionando conforme a disfunção 
que o paciente apresenta.
PLACA ESTABILIZADORA
A placa estabilizadora é um dispositivo 
interoclusal rígido e removível, onde é 
importante salientar que deve ser rígida, 
confeccionada em acrílico, não poden-
do ser macia (de silicone), pois esta au-
menta a parafunção do paciente, pioran-
do assim, o seu quadro clínico, levando 
o paciente perpetuar a sua disfunção 
da ATM, recidivando frequentemente os 
sintomas. A mesma necessita de ajus-
tes sucessivos e contínuos, devolvendo 
contatos bilaterais e simultâneos e tem 
suas finalidades de distribuir as forças 
oclusais, promover estabilidade oclusal, 
proteger os dentes de cargas que ve-
nham a ser traumáticas, reduzir desgas-
te dental nos pacientes que rangem os 
dentes à noite, no caso do bruxismo, e 
estabilizar os dentes que não possuem 
os seus antagonistas.
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TIPOS
05  Placa estabilizadora DTM.
Vários autores relacionam diversos ti-
pos de placas oclusais e estabelecem 
classificações segundo a finalidade e 
as características das mesmas. Procu-
rando simplificar a compreensão desta 
afirmação relacionaremos abaixo a clas-
sificação estabelecida por Dawson, com 
pequenas modificações:
1. Placa Permissiva: Os côndilos ficam livres 
para excursionar sem restrições de movi-
mento.
1.1. Placa Miorrelaxante: (estabilizadora) co-
bertura total e cobertura parcial (anterior);
2. Placa Directiva: tem por objetivo posicio-
nar a mandíbula em uma relação específica 
com a maxila, alinhando côndilo e disco.
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PRINCÍPIO DE AÇÃO
A razão da eficiência na redução de sinto-
mas não está totalmente clara, mas várias 
teorias foram propostas para tentar expli-
car seu mecanismo de ação.
Clarck enumera 5 teorias que explicam o me-
canismo de ação das placas interoclusais:
  Teoria do desengrenamento oclusal, 
que proporciona ao paciente, através da 
placa, uma oclusão “ideal”;
  Teoria da restauração da dimensão 
vertical, que devolveria ao paciente a di-
mensão vertical de oclusão (DVO) que foi 
perdida, reduzindo ou eliminando todas 
as atividades musculares anormais;
  Teoria do realinhamento maxilomandibu-
lar, que preconiza o alinhamento da posi-
ção mandibular em relação à maxila atra-
vés de placas interoclusais baseando-se 
em detalhes anatômicos que orientariam a 
montagem dos modelos em articulador;
  Teoria do reposicionamento da ATM 
para uma posição determinada através de 
imaginologia;
  Teoria da consciência cognitiva, que se 
baseia no conceito de que a presença de 
qualquer tipo de aparelho interoclusal na 
boca alerta o paciente constantemente a 
alterar os comportamentos anormais ou 
danosos ao sistema estomatognático.
ACUPUNTURA
Uma alternativa complementar para o possí-
vel tratamento das disfunções, evitando cau-
sar desconforto e perda do sono é a famosa 
terapia com acupuntura que, diferentemente 
das placas estabilizadoras, possui a vanta-
gem de proporcionar um sono melhor e uma 
melhor qualidade de vida; além de aliviar a 
dor, a técnica se vale de pontos que redu-
zem o estresse e a ansiedade, condições 
que agravam a DTM e trazem um efeito mui-
to semelhante ao da placa. A acupuntura é 
uma técnica de tratamento da Medicina tra-
dicional chinesa que consiste no estímulo de 
pontos determinados da superfície da pele, 
denominados “meridianos”, que são canais 
de energia, onde se localizam pontos que 
deverão ser estimulados tanto para seda-
ção como para tonificação, com o objetivo 
de equilibrar a energia vital do ser humano. 
Podem ser utilizados neste processo agu-
lhas, ventosas, cromoterapia, auriculotera-
pia, massagens, e até o calor proveniente 
da queima da moxa, preparada a partir da 
erva artemísia. Esta técnica, através do seu 
mecanismo de analgesia, colabora para a 
diminuição do consumo de medicamentos, 
assim como analgésicos e anti-inflamatórios. 
Também é um ótimo auxílio no alívio da dor 
pós-operatória em cirurgias odontológicas 
assim como as de terceiros molares inclusos.
ISBN 978-85-60842-68-1