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Globalização_ A pós-modernidade e a reconfiguração das sociedades

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09/09/2022 10:34 Globalização: A pós-modernidade e a reconfiguração das sociedades
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Globalização: A pós-modernidade e a
recon�guração das sociedades
1. Introdução
Desde os primórdios da humanidade, o progresso científico submeteu o homem a um processo de
intelectualização crescente. Desde o Renascimento, e mais precisamente a partir do Iluminismo, a
sociedade ocidental passou a ser profundamente influenciada pelos princípios da ciência e da razão,
como se fosse a nova religião ocidental.
Segundo Max Weber (1997), famoso sociólogo alemão que viveu entre os séculos XIX e XX, o
progresso científico trouxe consigo uma nova visão da realidade, que ele chama de
“desencantamento do mundo”. As pessoas passariam a interpretar o mundo do ponto de vista da
ciência em detrimento do ponto de vista religioso, caracterizando assim o pensamento ocidental
moderno.
Em seu livro Ciência e Política: duas vocações, Weber (1997) analisa o progresso científico e as
consequências de tal ideia no pensamento ocidental: “O progresso científico é um fragmento, o
mais importante indubitavelmente, do processo de intelectualização a que estamos submetidos
desde milênios (...)”.
2. Ciência, razão e o desencantamento do
mundo
A ciência nos mostrou uma nova maneira de olhar para a realidade e de dar significado a ela,
interpretando-a do ponto de vista da razão, ou seja, a partir da comprovação empírica. Weber
coloca da seguinte maneira:
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A intelectualização e a racionalização crescentes não equivalem, portanto, a um conhecimento
geral crescente acerca das condições em que vivemos. Significam, antes, que sabemos ou
acreditamos que, a qualquer instante, poderíamos, bastando que o quiséssemos, provar que
não existe, em princípio, nenhum poder misterioso e imprevisível que interfira com o curso de
nossa vida; em uma palavra, que podemos dominar tudo, por meio da previsão. Equivale isso
a despojar de magia o mundo. Para nós não mais se trata, como para o selvagem que acredita
na existência daqueles poderes, de apelar a meios mágicos para dominar os espíritos ou
exorcizá-los, mas de recorrer à técnica e à previsão. Tal é a significação essencial da
intelectualização.
A Revolução Industrial foi o salto tecnológico produzido por essa intelectualização, e as duas
guerras mundiais talvez tenham sido o coroamento dessa lógica de crença no progresso técnico da
humanidade. As duas guerras mundiais trazem muitas inovações tecnológicas e um alcance de
destruição e morte muito maiores.
Além disso, o progresso técnico conseguido através das máquinas, juntamente com a melhoria das
condições de vida de boa parte da população, permitiu também uma democratização dos bens
de consumo, nunca antes vista na história da humanidade.
Principalmente nos Estados Unidos e após a Segunda Guerra Mundial, aquele estilo de vida, antes
acessível apenas à classe alta, tornou-se acessível à classe média. Esse progresso material, que
permitiu um maior acesso da população aos bens produzidos pelas fábricas, transformou o
consumo na principal atividade econômica, fazendo com que a economia se tornasse
dependente desse processo. Logo, para que as empresas tivessem lucro, elas teriam que convencer
os trabalhadores a consumirem seus produtos, e assim nasce a cultura de massa.
Você sabia?
O homem não apenas racionalizou sua existência a partir da técnica, mas modificou o sentido da
existência, mudou a maneira como atribuímos significado às coisas. Desde então, muitos humanos
entraram na corrida para dominar e controlar a vida com as ferramentas produzidas pela ciência.
Esse talvez seja um dos primeiros tanques de guerra, utilizado na I Guerra mundial, como fruto dos avanços tecnológicos
da Revolução Industrial.
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A homogeneização cultural e o materialismo, promovidos pela cultura de massa e pela
educação industrial, acabaram gerando uma reação a esse estilo de vida e a essa lógica de
pensamento, como veremos a seguir.
3. Reação ao desencantamento do mundo
3.1 A Contracultura
A Contracultura, que teve seu auge na década de 1960, pode ser entendida como uma reação ao
pensamento racional e científico do ocidente, que produziu uma sociedade de consumo que valoriza
a acumulação de riquezas e promove o materialismo. Nessa perspectiva, a mentalidade ocidental
passou a ser moldada pela publicidade e pelas práticas de consumo, produzindo relações sociais
mais utilitaristas e impessoais.
Em reação a essa mentalidade científico-racional que produziu as guerras, e também em reação às
práticas consumistas que cercavam os indivíduos de objetos e os afastavam dos outros indivíduos,
surge um novo estilo de contestação social, bastante diferente da prática política da
esquerda tradicional, que era a oposição clássica ao modo de produção capitalista.
A geração Beat foi talvez um dos primeiros movimentos de contracultura; surgida durante a década
de 1950 nos Estados Unidos e composta por jovens intelectuais, escritores e artistas que criticavam
o consumismo e a idiotização das pessoas promovida pela cultura de massa, os beatniks inspiraram
muitos jovens a questionarem o estilo de vida e os padrões da sociedade em que viviam.
Com o objetivo de se expressarem livremente e compartilharem sua visão de mundo e suas
narrativas, escritores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Willian Burroughs começaram a
escrever constantemente, geralmente movidos a drogas, álcool, sexo livre e jazz (o gênero musical
que mais inspirou os beats). Seu estilo de vida já era uma reação ao american way of life, e
expressavam seu jeito de ver o mundo e viver a vida.
Na década de 1960, com a expansão das universidades e a concentração de jovens nesses espaços de
discussão, somado à expansão dos meios de comunicação de massa como a televisão, o cinema, o
rádio, etc., esses novos valores, gostos e padrões de comportamento foram difundidos e adotados
pela juventude em diversas partes do mundo, como forma de questionar os padrões tradicionais.
Ao invés de passeatas, greves e cartazes com conteúdo político sobre a luta de classes, jovens
europeus e americanos passaram a adotar um estilo de vida que questionava os padrões
comportamentais vigentes à época. Eram novas maneiras de pensar, novas formas de se relacionar
com as pessoas e com o mundo, que buscavam uma vida coletiva baseada na colaboração, e não na
competição e que defendiam a resolução de conflitos por meio do diálogo, e não de guerras.
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Os hippies se opunham aos valores culturais da sociedade capitalista, que eram o trabalho intenso e
diário, o patriotismo e o nacionalismo (que dividem a humanidade), a ascensão social e até mesmo
o padrão estético. Os hippies queriam se libertar dos tabus morais e culturais, dos costumes e
padrões vigentes, enfim, da ditadura das instituições sociais, e criar livremente sua própria
realidade sem a interferência de grupos mais conservadores.
O estilo de vida dos hippies acabou se tornando um movimento cultural que marcou o ocidente do
mundo, ajudou a produzir novos valores e a mídia de massa foi a responsável por divulgar suas
ideias, através da televisão e das reportagens que buscavam compreender essas transformações,
interferindono desenvolvimento das sociedades e moldando certos aspectos da globalização que se
aprofundava.
Começa a se desenhar a pós-modernidade.
3.2 Pós-Modernidade
Alguns sociólogos argumentam que houve tanta fragmentação e reconfiguração cultural nas últimas
décadas desde 1960, que um novo termo se tornou necessário para designar nossa época histórica
atual: pós-modernidade.
Antes disso e durante boa parte dos 200 anos anteriores, o consenso ao redor do mundo era
construído a partir de Grandes Projetos Históricos. Diversos movimentos políticos e sociais
convenceram as pessoas de que elas poderiam transformar a história com as próprias mãos e criar
um futuro glorioso apenas aderindo a esses movimentos. O nazismo alemão foi um desses Grandes
Projetos Históricos, criando em seus seguidores a expectativa de uma supremacia alemã que
duraria mil anos. No entanto isso os levou à Segunda Guerra Mundial e ao massacre de dezenas de
milhões de pessoas.
Imagem famosa da liberdade de expressão feminina que permeava a contracultura. Essa imagem foi capturada em
Woodstock, festival de música que representou o espírito da época.
Foto do festival de Woodstock, ocorrido em 1969, e que reuniu milhares de pessoas em três dias de música, que
celebraram o estilo de vida hippie.
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O comunismo mobilizou centenas de milhões de pessoas em busca de um futuro sem desigualdades
e injustiças, e o que tiveram foi opressão do Estado durante setenta anos e massacre massivo dos
divergentes.
Além disso, a humanidade cultivava a ideia de que o progresso científico seria constante e que
solucionaríamos os problemas da humanidade com inovações científicas e a expansão da
democracia.
A esperança no progresso como cura para os males da humanidade foi se perdendo, pois as
inovações tecnológicas foram utilizadas para fazer a guerra, a jornada em direção à democracia se
desviou em muitos países em direção ao fascismo, ao comunismo e a regimes teocráticos e
intolerantes de vários tipos.
Além disso, a realidade aponta que um aparente progresso, incluindo avanços científicos,
frequentemente tem consequências negativas, como a poluição causada pela urbanização e pela
industrialização, o aprofundamento das desigualdades sociais, pois os avanços trazidos pelo
progresso não são distribuídos em igualdade de condições.
Segundo Zygmunt Bauman (2003), “a pós-modernidade é esse desencantamento em relação à ideia
de um futuro garantido, certo, promovido pelas leis da história, necessariamente melhor, redentor.
Ela [a pós-modernidade] é a construção de um presente possível”. (Disponível em:
https://colunastortas.com.br/pos-modernidade/)
Na pós-modernidade, há uma ampla oferta de possibilidades sem nenhuma garantia de que elas se
concretizem; uma sensação de liberdade e, ao mesmo tempo, uma enorme solidão acabam gerando
várias das consequências que vivenciamos atualmente, como alto índice de violências, altos índices
de depressão, anorexia, bulimia, suicídios, como sintomas desse processo de desencantamento e
incerteza a respeito de tudo.
Considerando a falência desses Grandes Projetos Históricos no século XX, a pós-modernidade abre
espaço para uma multiplicidade de discursos e interpretações da realidade.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001) nomeia esse momento histórico de “modernidade
líquida” para descrever a fluidez, a fugacidade e as incertezas de nossos tempos. Para Bauman,
nossa sociedade ocidental moderna produz objetos e relações humanas que não duram, pois nada é
feito para durar, nem os bens e nem as relações, tudo é incerto, superficial e efêmero; essa
modernidade líquida produz um ambiente de fluidez, superficialidade e incerteza, em que tudo e
todos são descartáveis para que o mercado e as mercadorias possam circular.
Na pós-modernidade, o poder não se restringe a um território, e o espaço e o tempo não
correspondem ao uso que fazíamos deles; a noção de tempo é sempre superada pela necessidade de
velocidade, enquanto o espaço pode ser transposto pelas novas tecnologias de comunicação, que
permitem “acessar” o mundo pelas telas dos smartphones. A velocidade se torna uma característica
marcante da contemporaneidade, e o senso de urgência que os indivíduos experimentam
diariamente, lhes causa transtornos psíquicos de vários tipos.
Segundo Bauman, as pessoas procuram no consumo a felicidade que não encontram nas relações
interpessoais que o individualismo, que é outra característica marcante da pós-modernidade, não
permite valorizar.
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Gilles Lipovetsky, filósofo francês, prefere usar a expressão “hipermodernidade”, pois acredita que
não houve uma ruptura histórica muito clara com a Modernidade, e sim, um aprofundamento de
algumas características que as sociedades modernas já possuíam, como o individualismo (perda do
senso de comunidade), o consumismo e o hedonismo (dedicação à busca pelo prazer).
Segundo alguns estudiosos da pós-modernidade, por outro lado esse cenário cultural empodera os
indivíduos para afirmarem suas identidades, lutarem por seus direitos e os torna mais responsáveis
em relação às suas escolhas. No entanto, isso é o que Bauman define como “falsa liberdade”; há a
sensação de que tudo está ao alcance das pessoas, no entanto, caso os projetos individuais não
deem certo, o indivíduo está só.
Como na sociedade contemporânea, os indivíduos são induzidos ao consumo, sendo este o novo
símbolo de “felicidade”, em uma realidade que nem todos têm acesso aos bens produzidos e que a
fragilidade das relações produz um esgarçamento do tecido social, esse empoderamento não se dá
em igualdade de condições, assim como não é garantido da forma como as pessoas desejam,
exatamente pela volatilidade e transitoriedade da vida pós-moderna. Há então, alto índice de
frustração e suas consequências.
3.3 A Era dos Direitos
Na pós-modernidade, também ocorreu o que chamamos em Ciência Política de “A Era dos
Direitos”; Norberto Bobbio, famoso cientista político contemporâneo, escreveu um livro com esse
título, dedicado ao estudo dessa sociedade que prevê direitos aos seus cidadãos,
independente de sua condição social. A revolução dos direitos é o processo que possibilita aos
grupos socialmente excluídos se organizar e lutar para ter acesso a direitos iguais perante a lei e
principalmente na prática.
Você sabia?
As interpretações a respeito de nossos tempos são várias, mas um fato inquestionável são as
constantes transformações que vivemos de maneira cada vez mais rápida. Conscientes de nossa
independência em relação às instituições sociais, a condição pós-moderna libera as pessoas para
adotar identidades religiosas, étnicas, de gênero e outras, com as quais se sentem mais
confortáveis, ao invés de se submeterem a padronizações identitárias impostas por outras pessoas
ou instituições.
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Sabemos que uma lei escrita não impede atitudes genocidas contra parcelas minoritárias da
humanidade, mas é melhor tê-la como parâmetro de conduta ética, do que não a ter e permitir que
os homens vivam de acordo com suas ideologias preconceituosas e violentas.
Sendo assim, a introdução da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma:
“”Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
humanae dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo (...) A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal
dos Direitos Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a
fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no
espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e
liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional o
seu reconhecimento e sua aplicação universais e efetivos (...).“”
Inflamada por tal sentimento de proteção aos direitos humanos, a revolução dos direitos já estava
em expansão nos anos de 1960. Martin Luther King Jr., por exemplo, é uma referência histórica
na luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ele inspirou milhões de pessoas ao redor
do mundo com seus discursos impregnados de sentimento libertário.
Hoje em dia, os direitos das mulheres, dos grupos LGBTI+, de pessoas com necessidades especiais,
de pessoas idosas, de crianças e adolescentes, de grupos étnicos e raciais e demais grupos de
minorias, e todos os direitos fundamentais dos seres humanos são parte integrante de nossos
discursos políticos. Devido à revolução dos direitos, o ocidente teve a impressão de que a
democracia se expandiu e se aprofundou. Alguns críticos dessa visão dizem que os direitos foram
conquistados no papel e retirados na prática; segundo eles, o ser humano ganhou o direito ao seu
bem-estar (isso significando a posse de bens materiais), através do consumo, tornando-se escravo
das dívidas e perdendo participação na vida política de seu país.
Os defensores da “era dos direitos” argumentam que muitos povos hoje têm direitos nunca
alcançados anteriormente; um exemplo seria a extinção do apartheid na África do Sul, a liberdade
de expressão em países latino-americanos, entre eles o Brasil. O fato é que a revolução dos direitos
ainda não cumpriu seu objetivo; muitas categorias de pessoas ainda são social, política e
Você sabia?
Após a explosão do nacionalismo, do racismo e dos comportamentos genocidas dos líderes
mundiais e entre os combatentes da Segunda Guerra Mundial, a ONU (Organização das Nações
Unidas) proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, com a intenção
declarada de criar um conjunto de leis que regesse a conduta humana e impedisse novos
genocídios, extermínios, guerras e discriminações.
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economicamente discriminadas. A revolução dos direitos afeta muito nossa cultura e atinge os mais
diferentes povos no mundo, nesse processo de luta por direitos civis iguais para todos e por
respeito à condição humana de todos os grupos.
4. Globalização econômica e cultural
A palavra ‘globalização’ foi criada na década de 1980, nos Estados Unidos, com o objetivo de
interpretar o processo de formação de uma economia global interdependente e o constante
intercâmbio entre as diferentes sociedades, através da facilidade de deslocamentos geográficos e de
comunicação. A palavra foi incorporada com bastante rapidez pelos meios de comunicação de
massa e também pelos intelectuais das universidades, que passaram a utilizá-la buscando um
significado mais preciso.
Essa conexão cada vez mais intensa entre as economias dos países, aproximou pessoas, culturas,
costumes e percepções; o cinema, a televisão e os meios de comunicação direcionados à grande
massa aproximam as culturas dos diferentes povos; segundo Reinaldo Dias (2013),
O fenômeno da globalização, no campo cultural, pode ser abordado de várias maneiras,
destacando-se aquela que entende que nesse processo ocorre uma passagem de identidades
culturais relacionadas com o território, para outras que apresentam um aspecto
transnacional, não diretamente vinculada a uma base territorial, a um país.
Os jovens, por exemplo, tendem a construir suas identidades tendo como referências ídolos
musicais, do cinema ou dos esportes não diretamente relacionados com a cultura nacional.
Há uma produção cultural global que interage com as diversas culturas nacionais,
modificando e ao mesmo tempo sendo modificada. Assim, a identidade nacional sofre uma
transformação, ou seja, ela não se perde sendo substituída por outra cultura transnacional.
Há na verdade uma interação recíproca entre essas duas realidades.
Assim, aquilo que pode ser consumido mundialmente, pode se tornar um produto ou costume
cultural global, não importando se a cultura que o gerou é norte-americana, brasileira, jamaicana
ou japonesa. Difundidos pelos meios de comunicação de massa e pela Internet, produtos e
costumes locais logo são globalmente difundidos. Segundo Robert Brym (2006),
O comércio e os investimentos internacionais também estão se expandindo; hoje é
possível comprar melões do Rio Grande do Norte em cidades como Londres, Paris, Toronto e
Nova Iorque. Empresas americanas como o McDonald’s agora geram mais de 60% de seus
lucros fora dos Estados Unidos, e espera-se que suas operações internacionais aumentem cerca
de quatro vezes mais do que as operações internas.
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No entanto, os produtos globais precisam se adaptar às culturas locais para ter sucesso; o
McDonald’s, por exemplo, não produz sanduíches com bacon em sociedades que não consomem
carne de porco; a Barbie, na Croácia, teve que ter adaptado um chapéu croata para
“desamericanizar” e ganhar mercado; as empresas brasileiras (Sadia e/ou Perdigão ou as duas...)
tiveram que adotar o “abate halal” para vender frangos para países muçulmanos, dentre vários
outros exemplos (torcedores do Grêmio não tomam Coca Cola se esta marca não adaptar o rótulo
para azul; vermelho é cor do time rival).
Ou seja, há um forte processo de difusão cultural, porém, com reforço das identidades locais
(cultura não se homogeneíza), haja vista o forte retorno da xenofobia na Europa e nos EUA. Na
verdade, o que se deseja é globalização de mercados, mantendo os diferentes-indesejados em seus
devidos lugares.
Ao mesmo tempo, indivíduos de grupos étnicos distintos estão emigrando e estabelecendo
contatos frequentes entre si. Um número crescente de pessoas namora e se casa com pessoas
de outras denominações raciais, étnicas e religiosas. O número de organizações e empresas
“transnacionais”, como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial, a União
Europeia, o Greenpeace, a Anistia Internacional entre outros, tem se multiplicado. (Disponível em:
http://site.ufvjm.edu.br/mpich/files/2013/05/cultura.pdf)
Meios de comunicação e de transportes relativamente baratos tornam rotineiros os contatos entre
pessoas de culturas distintas. Os meios de comunicação de massa e a Internet aproximam culturas
e indivíduos a partir do compartilhamento de conteúdo e das redes sociais, que se tornaram locais
de encontro virtual dos indivíduos.
Por outro lado, há um cenário de fragmentação cultural e conflitos interculturais produzidos por
esse processo de globalização; intelectuais como Peter Drucker (1997) argumentam que o
‘tribalismo’ tornou-se um fenômeno mundial, visível na crescente ênfase na diversidade e no
reforço da identidade cultural ou étnica específica de cada grupo.
O fato é que a globalização tem aproximado os diferentes povos na perspectiva política,
econômica e cultural, gerando aquilo que o sociólogo Marshall McLuhan chamou de aldeia
global. Uma das consequências dessa globalização, é que as pessoas se sentem mais livres
para combinar elementos culturais de diversas épocas e lugares. 
Você sabia?
Também conhecido como Neotribalismo,essa prática de organização social em pequenos grupos
critica a sociedade massiva em que vivemos, sem o amparo necessário das instituições estatais ou
empresariais, e busca maneiras alternativas de desenvolver a vida em sociedade, baseada em
valores comunitários de convivência.
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5. Diversidade cultural, as migrações e a
convivência humana
Grande parte das sociedades do mundo atual está passando por uma intensa diversificação cultural,
principalmente pelas altas taxas de imigração. Países como Estados Unidos, Austrália, Canadá e
Inglaterra, por exemplo, apresentam grande proporção de imigrantes, tornando-as sociedades
bastante misturadas, racial e etnicamente, principalmente nas últimas décadas. Segundo Robert
Brym (2006),
Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 28% da população é composta de não brancos e de
hispânicos. Projeções para os próximos 50 anos indicam que os grupos asiáticos e hispânicos
devem crescer mais de 200%. Os grupos indígenas e afroamericanos deverão crescer de 60 a
70%. Por outro lado, os grupos de brancos não hispânicos crescerão menos de 6%, sendo que
deverão começar a encolher após 2030. Por volta de 2060, os brancos não-hispânicos serão a
minoria da população dos Estados Unidos (U.S. Census Bureau, 2000).
A imigração constante se tornou um problema econômico e social, além de um desafio às políticas
internacionais e às políticas internas dos Estados. Na Europa, desde os anos 1960, as migrações
exercem um papel importante nas transformações sociais e políticas das sociedades, gerando
debates sobre a integração entre as diferentes etnias e sobre como gerir a diversidade e os conflitos
aí originados.
Diferente da década de 1980, quando os imigrantes se estabeleciam no país que os recebia, nos
anos 1990 há uma mudança no conceito de migração, que abarca grande quantidade e
complexidade dos fenômenos de mobilidade ao redor do mundo. Essas mudanças, ocorridas no
final do século XX, ilustram os desafios para compreender a dinâmica migratória contemporânea,
pois envolve diversos elementos e motivações, além de centenas de diferentes cenários políticos
nacionais.
Uma das características da dinâmica migratória na atualidade, é a noção de “circulação”. Segundo
Marie-Antoinette Hily (2003), as circulações contemporâneas introduzem mudanças em nossas
instituições, nas construções identitárias e no imaginário social. Os movimentos migratórios
demandam novas abordagens diante da vida, veiculam novos conteúdos e novas formas de agir.
Eles questionam também as normas sociais, as racionalidades políticas e as formas de organização
social (Disponível em: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-00609853).
Refugiados que chegam aos países desenvolvidos em busca de melhores condições de vida, ou fugindo de guerras civis ou
genocídios em seus países.
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Ao estudar as migrações no contexto internacional, constatamos que as guerras ou os conflitos
étnico-religiosos são eventos importantes para entender a intensidade e o direcionamento dos
fluxos migratórios. Nessa perspectiva, segundo o site da Fundação de Economia e Estatística, há
um aumento das migrações por causa do aumento de refugiados. De acordo com o site,
Os centros urbanos, cada vez mais populosos, tornam-se o foco dos conflitos militares, e o
aumento do poder bélico faz crescer a mortalidade e a destruição. Na África e no Oriente
Médio, Estados divididos em grupos religiosos e étnicos rivais sediam disputas com objetivo
frequente de subjugar, expulsar ou exterminar os adversários, motivando a migração forçada.
O Oriente Médio, alvo de disputas geopolíticas e invasões externas nas últimas décadas, é
origem de grande parte dos atuais conflitos e, consequentemente, dos refugiados. A ONU
estimou existirem 16,7 milhões de refugiados internacionais no final de 2013 (7,2% dos
migrantes) e 33 milhões de refugiados internos, números maiores hoje, após o agravamento
das crises síria e iraquiana. Países em desenvolvimento abrigam 86% dos refugiados, e cerca
de 50% vivem em campos da ONU; 40% são crianças, e quase a totalidade tem poucos ou
nenhum direito social e político. A dificuldade de retorno e de concessão de asilo faz com que
dois terços dos atuais refugiados estejam, há mais de cinco anos, nessa situação.
Atendendo à demanda criada pela intensificação dos encontros culturais, surgem defensores do que
podemos chamar de multiculturalismo. Segundo essa perspectiva, os currículos das escolas e das
universidades deveriam apresentar uma visão mais equilibrada da história, da cultura e da
sociedade de diversos países, ou seja, uma visão que reflita melhor a diversidade étnica e racial do
passado, assim como a diversidade crescente dos dias de hoje.
Esse tipo de educação multicultural, argumentam, diminuiria o grau de conflito entre os
indivíduos, pois ensinaria aos povos o respeito a todos os seres humanos, independentemente de
sua origem nacional, étnica ou religiosa. Nacionalidade, etnia e religião são invenções humanas e
não podem se sobrepor à vida humana.
6. Novas configurações sociais
Desde a fundação dos Estados Nacionais europeus com poder político soberano e devendo regular a
atividade dos cidadãos para evitar conflitos internos, as grandes corporações privadas lutam para
diminuir as regras impostas pelos governos aos seus interesses econômicos.
Com a experiência histórica, os grandes empresários perceberam que a melhor maneira de impor
seus interesses aos governos seria aliando-se a eles, ou infiltrando-se neles, ou fazendo-os reféns
dos altos empréstimos provenientes dos grandes bancos ou todas essas estratégias juntas.
A Globalização, processo que evoluiu a partir do comércio internacional e das estratégias
econômicas das grandes empresas privadas, pode ser definida como um movimento acelerado
através das barreiras nacionais tanto de bens econômicos, como de pessoas, de produtos e capital,
dando-lhes um caráter internacional. É um movimento que perdura há cinco séculos e vem se
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transformando ao longo do tempo; teve início com as Grandes Navegações, quando começou a se
formar um mercado global entre a Metrópole e as Colônias. No entanto, o termo veio a se destacar
na atualidade, e um dos motivos seria o caráter excludente da globalização que se tornou mais
visível atualmente.
As Grandes Corporações Transnacionais atuando no âmbito internacional, tornaram-se os
principais atores da globalização. Sua relação com o Estado também possui certos aspectos
especiais, que se modificaram ao longo do tempo. O Estado foi a principal estrutura para o
desenvolvimento do capitalismo e, por consequência, destas organizações empresariais, que sempre
contaram com o apoio estatal para desenvolverem seus interesses econômicos. Segundo Sevcenko
(2015),
A excepcional capacidade de mobilidade, de instalações, recursos, informações e transações é
tal, que uma mesma empresa pode ter sua sede administrativa onde os impostos são menores,
as unidades de produção onde os salários são os mais baixos, os capitais onde os juros são
mais altos e seus executivos vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada.
No entanto, apesar desses impérios empresariais ainda ditarem o ritmo da economia mundial, e
afetarem a vida de bilhões de indivíduos,outras formas de viver em sociedade estão surgindo em
todas as partes do mundo.
Como resultado direto do desmoronamento das velhas estruturas econômicas após a crise de 2008,
nas brechas e espaços do sistema de mercado, todos os setores da vida econômica começam a
evoluir num ritmo diferente e com propósitos que não correspondem às demandas desse mercado.
Tem se multiplicado as moedas paralelas, os bancos de tempo, cooperativas e espaços autogeridos,
que não são noticiados pela grande mídia, associada aos interesses dessas grandes empresas
transnacionais (Mason, 2016).
Podemos perceber algumas mudanças sociais, políticas e econômicas cada vez mais presentes nas
práticas cotidianas, tais como a natureza comunitária do que é produzido. O principal fundamento
da associação colaborativa no processo de produção de informação na atualidade, se dá na medida
em que cada voluntário escolhe o assunto que irá abordar e se põe a trabalhar coletivamente. Ou
seja, no momento da história ocidental em que se tornou possível produzir coisas sem a mediação
do mercado, das empresas ou do Estado, um número significativo de pessoas passou a fazê-lo.
Em relação a essas mudanças, para Mason (2016), nada mudou no que diz respeito à humanidade.
Pois, segundo ele, “trata-se apenas do fato de o nosso desejo humano de fazermos amigos, de
construirmos relações baseadas na confiança e na obrigação mútuas e de preenchermos as nossas
As pessoas têm desenvolvido novas formas de viver e trabalhar, como é o caso das casas compartilhadas e dos escritórios
compartilhados. Pesquise sobre isso.
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09/09/2022 10:34 Globalização: A pós-modernidade e a reconfiguração das sociedades
https://ceadgraduacao.uvv.br/conteudo.php?aula=globalizacao-a-pos-modernidade-e-a-reconfiguracao-das-sociedades&dcp=estudos-socioantropologicos&topico=04 13/14
necessidades emocionais e psicológicas ter extravasado para a vida econômica”.
Ou seja, nossa vocação humana para a colaboração coletiva não foi esmagada pela competitividade
agressiva do capitalismo neoliberal.
7. Conclusão
O século XX foi muito intenso, com transformações profundas que nos afetaram em todos os
aspectos da vida. Guerras mundiais produzidas com o auxílio da ciência moderna; líderes políticos
que produziram insanidades, massacres e genocídios. Empresas privadas, mais parecidas com
impérios econômicos, dominaram o cenário da globalização e deram o tom das relações humanas,
tanto no trabalho quanto em relação aos hábitos cotidianos e de consumo.
No entanto, em reação a esses horrores, a humanidade produziu expressões culturais mais
humanizadas e propôs formatos sociais mais comunitários; a luta pelos direitos das minorias
ganhou as ruas e os indivíduos se tornaram mais conscientes de sua condição no mundo.
Agora cabe a nós, participantes de todo esse jogo que se processa, pensar no tipo de sociedade que
queremos construir e nos colocarmos a trabalhar por isso.
8. Referências
BAUMAN, Zygmunt. A modernidade líquida. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. A Sociedade Líquida. Entrevista à Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. Folha
de S. Paulo, São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003.
BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson Learning,
2006.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ed. Pearson, 2010.
DRUCKER, Peter F. A sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1997.
MASON, Paul. Pós-capitalismo: um guia para o nosso futuro. Lisboa: Ed: Unipessoal, 2016.
SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. Coordenação
Laura de Mello e Souza, Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Ed. Cultrix, 1997.
09/09/2022 10:34 Globalização: A pós-modernidade e a reconfiguração das sociedades
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FIALKOW, Jaime Carrion. Migração internacional contemporânea: principais processos.
Fundação de economia e estatística, 2016. Disponível em:
<http://panoramainternacional.fee.tche.br/article/migracao-internacional-contemporanea-
principais-processos/>. Acesso em: 06 jun. 2018.
Assembleia Geral da ONU. (1948). “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (217 [III]
A). Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf>.
Youtube (20 de janeiro de 2015) Selma - Uma luta pela igualdade. Trailer Oficial Legendado
(2015) - David Oyelowo HD. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=EwvxtJwbRgM>. Acesso em 07 jun. 2018.