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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Insuficiência respiratória aguda Insuficiência respiratória é a incapacidade dos pulmões executarem sua função básica: a troca gasosa (captar O2 e eliminar CO2). É válido ressaltar que esses mecanismos podem ser comprometidos de forma independente. Os critérios gasométricos de insuficiência respiratória incluem: 1. PaO2 < 60mmHg e/ou 2. PaCO2 > 50 mmHg (exceto para pacientes retentores crônicos de CO2). 3. SatO2 <90% ou PaO2/FiO2 < 300 CLASSIFICAÇÃO: A função respiratória é dividida em dois componentes: a ventilação pulmonar e a troca gasosa nas unidades alveolares. Por conta disso, podemos encontrar dois tipos diferentes de Insuficiência Respiratória (IR): Tipo I: Insuficiência Respiratória HIPOXÊMICA; Tipo II: Insuficiência ventilatória ou IR hipercápnica. TIPO I: HIPOXÊMICA Nesse tipo de IR, a troca gasosa encontra-se gravemente comprometida. A hipoxemia se desenvolve por má distribuição da ventilação alveolar ou pela perda total de ventilação de alguns alvéolos. Uma parte do sangue venoso passa por alvéolos mal ventilados ou simplesmente não passa pelos alvéolos. O resultado é que este sangue mal oxigenado se mistura com o sangue oxigenado proveniente do restante do parênquima pulmonar, causando hipoxemia. DISTÚRBIO V/Q: é a principal causa de IR do tipo I. Para o paciente manter uma boa troca gasosa, ele precisa de um bom acoplamento entre ventilação e perfusão, ou seja, o alvéolo precisa ser bem ventilado e bem perfundido. Nesse sentindo, podemos ter dois extremos: ou seu problema está na ventilação ou na perfusão. Quando o problema está na ventilação, não chega ar. O sangue chega, mas não tem oxigênio ali para ser captado. A relação V/Q=0. Esse paciente não responde a administração de O2. Já o paciente que tem ventilação, mas a perfusão é zero, ou seja, o sangue não chega para captar esse oxigênio. Efeito espaço-morto É a alteração mais frequentemente associada a hipoxemia, geralmente corrigida com a administração de O2. Nos casos muito graves, o efeito está relacionado à retenção de CO2. Consiste em um predomínio de unidades alveolares mal perfundidas e bem ventiladas. Exemplos: choque, hipovolemia, embolia pulmonar Efeito shunt Difere do anterior por não haver a compensação da hipoxemia pela administração de O2. Caracteriza-se pelo predomínio de unidades alveolares não ventiladas e bem perfundidas. Geralmente os alvéolos estão colapsados ou preenchidos por líquido. Exemplos: pneumonias, SDRA, atelectasias. Alteração da difusão É desencadeada pelo aumento da espessura da membrana alveolocapilar, como no acúmulo de proteínas e no edema intersticial. Consequentemente, há diminuição da difusão do O2 alveolar para o capilar pulmonar. A administração de O2 reverte a hipoxemia. Hipoxemia de origem circulatória 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Pacientes com baixo débito cardíaco ou anemia intensa apresentam baixo conteúdo sanguíneo de O2, o que pode contribuir para a hipoxemia. Entre pacientes com shunt elevado, há piora da hipoxemia. TIPO II: HIPERCÁPNICA HIPERCAPNIA E ACIDOSE RESPIRATÓRIA O grande marco da insuficiência da ventilação pulmonar é a hipercapnia (retenção de CO2) levando à acidose respiratória. Durante a hipoventilação, o ar alveolar não é adequadamente renovado, acumulando CO2 (que continua vindo dos capilares). O resultado é um aumento da Pco2 alveolar, fazendo aumentar automaticamente a Pco2 arterial (hipercapnia), Quando a hipercapmia se desenvolve de forma lentamente progressiva, há tempo suficiente para os rins reterem bicarbonato, numa resposta compensatória bastante eficaz para manter os pHs sanguíneos próximos a normalidade, como acontece nos retentores crônicos de CO2, ou seja, nos pacientes com DPOC ou com síndrome de Pickwick (obesidade + apneia do sono). QUADRO CLÍNICO Tosse Taquipneia (FR>20) Uso da musculatura acessória Alteração do nível de consciência Sudorese Taquicardia (FC>90) Inquietação Cianose EXAMES COMPLEMENTARES 1. GASOMETRIA ARTERIAL A gasometria é de suma importância na definição e na classificação da IR, o que permite dirigir o raciocínio clinico para a causa associada. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 É necessário diferenciar se a hipoxemia identificada é causada exclusivamente pela elevação da Pco2 alveolar ou se existem outros componentes determinando a hipoxemia. Para diferenciar com precisão a insuficiência ventilatória da insuficiência respiratória hipoxêmica (distúrbio V/Q ou shunt), utilizamos o cálculo do gradiente alveoloarterial de oxigênio: (P(A-a)O2). É a diferença entre a pO2 alveolar (PAO2) e a pO2 arterial (PaO2). Simplificando, o gradiente nos informa como está a passagem do oxigênio do alvéolo para o capilar. Para levar quadros de hipoxemia, a diferença do ar no alvéolo para o vaso está alta, porque estamos com problema de entrar oxigênio no vaso. Dessa forma, o gradiente vai estar alto {G(A- a) O2>15-20}. Já na hipercapnica, como o problema é no CO2, o oxigênio vai estar atravessando livremente, então esse gradiente vai estar normal {G(A-a)O2 <10-15}. 2. RX DE TÓRAX Trata-se do exame radiológico inicialmente realizado em pacientes com sintomas respiratórios, útil para definir a etiologia da IR e guiar a conduta. A presença de infiltrado localizado sugere pneumonia, neoplasia ou infarto pulmonar, enquanto alterações difusas sugerem SDRA, edema pulmonar cardiogênico, hemorragia alveolar ou infecções, como pneumocistose e tuberculose miliar. 3. TC DE TÓRAX A Tomografia Computadorizada (TC) de tórax tem se firmado como um dos exames mais importantes na avaliação do paciente com alterações pulmonares. Oferece várias vantagens em relação à radiografia simples, como a possibilidade de distinguir densidades superpostas na radiografia e a capacidade de sugerir, com mais precisão, o tipo de doença pulmonar, de acordo com o padrão de anormalidade. TRATAMENTO O tratamento da insuficiência respiratória visa à manutenção fisiológica do sistema respiratório, ou seja, prover oxigenação suficiente aos tecidos e a remoção do CO2 de forma adequada, até que a causa básica que levou à IRespA seja controlada. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 De forma sistemática, o ABCDE é a primeira etapa na avaliação do paciente com insuficiência respiratória aguda. Airway (vias aéreas): assegurar que a via aérea está pérvia é o primeiro passo. Caso a avaliação inicial demonstre via aérea obstruída, devemos desobstruí-la para permitir a ventilação de forma adequada. Breathing (respiração): os pacientes que apresentam via aérea pérvia, porém sem respiração espontânea e/ou com rápida deterioração clínica, comprometimento orgânico e/ou ausência de reflexo faríngeo/proteção de via aérea, devem ser prontamente submetidos a intubação orotraqueal. Naqueles que apresentam vias aéreas pérvias e possuem respiração espontânea, a suplementação de oxigênio em pacientes hipoxêmicos objetivando correção da oxigenação de forma adequada até a intervenção na causa básica será a próxima etapa do tratamento Caso a SatO2 seja maior que 94%, não há indicação de suplementação de O2. INTERFACES DE SUPORTE DE 02 Cateter nasal de O2 (CN O2): utiliza baixos fluxos e baixa concentração de O2. Utiliza fluxos de 0,5-6 L/min, sendo que aumentos de 1 L/min tendem a elevar a FiO2 em 3 a 4% O CN O2 é utilizado para casos sem necessidade de altos fluxos de oxigênio, como IRespA sem shunt ou para pacientes com doenças pulmonares crônicas que necessitem de baixa FiO2. Máscara de Venturi: pode fornecer concentrações variáveis e tituláveis de O2. Utilizam-se fluxos de O2 moderados. Dispositivo bolsa-máscara-válvula: propicia alto fluxo e alta concentração de O2. O fluxo de oxigêniodeve ser utilizado a 15 L/min. Além de propiciar alta concentração de O2, em casos de parada respiratória, pode ser utilizada para prover ventilações. Ventilação não invasiva (VNI): refere-se à ventilação com pressão positiva mediada por uma interface (nasal, oronasal, máscara facial e capacete). Modos: CPAP (continuous airway pressure): oferece pressão positiva contínua nas vias aéreas, ou seja, o paciente respira espontaneamente e a ventilação oferece uma pressão contínua durante todo o ciclo respiratório. Apresenta capacidade de oferecer alta concentração de O2 e altos fluxos de O2. De forma geral, o CPAP é utilizado para pacientes que necessitam de correção de hipoxemia, como edema agudo de pulmão cardiogênico. BiPAP (bilevel positive airway pressure): oferece tanto pressão inspiratória (IPAP) quanto expiratória (EPAP). Apresenta maior benefício em pacientes que se apresentam com Hipoventilação, como exemplo, DPOC exacerbado, nos quais não se indica CPAP. No caso de piora do quadro respiratório, instabilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível de consciência, agitação, inabilidade de proteger vias aérea, dessaturação ou piora gasométrica, interpreta- se como falência do uso da VNI e procede-se, pois, a intubação imediatamente. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022
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