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Carla Bertelli – 4° Período As queixas principais são: disfagia, odinofagia, afagia, fagofobia, pirose, dor esofágica e regurgitação. • Disfagia – Dificuldade para deglutir. Ocorre nas duas primeiras fases da deglutição (bucofaríngea, alta ou de transferência) e a disfagia de terceira fase da deglutição • Odinofagia – Dor a deglutição. O caráter da dor é variável, sendo referida como dor urente, em punhalada, constritiva ou espasmódica. • Afagia – Obstrução esofágica completa, que se deve a impactação do bolo alimentar e representa uma emergência médica. • Fagofobia – Medo de deglutir, pode ocorrer em casos de histeria, tétano, raiva e paralisia faríngea. • Pirose – Azia, queimor ou queimação. É o principal sintoma do RGE. Localização retroesternal, percebida ao nível do apêndice xifoide, podendo se propagar para ambos os lados do tórax. Ocorre sempre após refeições e pode ser desencadeada por determinados tipos de alimentos. A pirose constante sugere insuficiência do mecanismo impediente do refluxo, cujas causas mais comuns são o relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago, a hérnia hiatal e a hipotonia do esfíncter inferior do esôfago. • Dor – Não depende do ato de ingerir alimentos. A dor espontânea pode ser causada por mudanças do pH intraluminal, atividade motora anormal ou processos inflamatórios ou neoplásicos da parede esofágica. O caráter da dor varia em função da doença-base. Uma causa relativamente comum de dor esofágica, não necessariamente patológica, é representada pelo chamado esôfago em quebra- nozes, denominação dada ao esôfago com contrações peristálticas acima de 180 mmHg, valores posteriormente modificados para acima de 260 mmHg • Regurgitação - Entende-se por regurgitação a volta do alimento ou de secreções contidas no esôfago ou estômago à cavidade bucal, sem náuseas e sem a participação dos músculos abdominais. A regurgitação de pequena quantidade de líquido, pela manhã, é chamada de pituíta. Podem ter causas mecânicas ou motoras. A regurgitação ocorre quase sempre após as refeições. Um tipo especial de regurgitação é o representado pela condição denominada mericismo, que consiste na volta, à boca, de pequenas quantidades de alimento, que, na maioria das vezes, é novamente deglutido pelo paciente, à maneira dos ruminantes. • Eructação. A eructação não constitui sintoma próprio das doenças do esôfago e ocorre, na maioria das vezes, em consequência da ingestão de maior quantidade de ar durante as refeições, ou em situações de ansiedade. A deglutição de grande quantidade de ar com o objetivo de eructar constitui a aerofagia, comum em pacientes ansiosos. • Soluço. O soluço, também denominado singulto, não constitui sintoma próprio das doenças do esôfago e nem mesmo do sistema digestório. Ele é um distúrbio da coordenação da respiração, que ocorre por um espasmo diafragmático no momento da inspiração com o concomitante fechamento glótico, acompanhado de ruído característico. • A sialose, também denominada sialorreia ou ptialismo, caracteriza-se pela produção excessiva de secreção salivar, sendo observada nas esofagopatias obstrutivas de modo geral e, em particular, no megaesôfago chagásico. • Hematêmese. A hematêmese ou vômito com sangue caracteriza a hemorragia digestiva alta, assim entendida aquela em que a sede do sangramento se localiza desde a boca até o ângulo de Treitz Carla Bertelli – 4° Período (transição duodenojejunal) A causa mais comum de sangramento são as varizes do esôfago. Na maioria das vezes é volumosa e contém sangue, ainda não alterado por ação do suco gástrico. Hematêmese de menor volume, de origem esofágica, pode ocorrer no câncer do esôfago e nas úlceras esofágicas. Em condições normais, o esôfago é inacessível ao exame físico direto. Excepcionalmente, a parede de um divertículo faríngeo de grande magnitude pode tornar-se palpável na face lateral esquerda do pescoço enquanto o paciente se alimenta. No entanto, o exame físico geral do paciente pode fornecer subsídios úteis ao diagnóstico das doenças do esôfago. Assim, o estado nutricional está frequentemente comprometido nas doenças que cursam com disfagia e regurgitação, como o megaesôfago e as estenoses cerradas do esôfago. O câncer do esôfago acompanha- se de rápido e acentuado emagrecimento, desproporcional aos sintomas esofágicos. Exame do pescoço, da cavidade bucal e da faringe. O exame da cavidade bucal e da faringe deve ser feito em todos os casos. Monilíase da mucosa bucofaríngea acompanha-se, frequentemente, de monilíase esofágica, que pode ser causa de odinofagia e dor retroesternal Exame Radiológico, Endoscopia Digestiva Alta, Manometria Esofágica e pHmetria esofágica (padrão ouro para RGE) A impedanciometria esofágica é um exame que permite o acompanhamento do movimento anterógrado e retrógrado do conteúdo intraluminar. Quando realizado simultaneamente com a pH-metria (impedâncio-pH-metria), registra o refluxo gastresofágico independentemente do pH e possibilita diagnosticar a um só tempo o refluxo “ácido” e “não ácido” (ou fracamente ácido) e identificar o nível de ascensão do refluxo no esôfago. A história clínica deve ser iniciada por um relato por parte do paciente, mas quando ele já tem muitas informações, a anamnese pode tomar a forma de diálogo. Em seguida, devem ser feitas perguntas específicas para que sejam esclarecidas as manifestações iniciais da doença, sua duração, intensidade, frequência, fatores desencadeantes e agravantes, fatores atenuantes, presença de outros sintomas associados, evolução dos sintomas ao longo do tempo, sua relação com a alimentação e as repercussões sobre a disposição e a capacidade laborativa. As relações dos sintomas com fatores emocionais, psicológicos e psiquiátricos têm grande importância na avaliação de quadros de origem gástrica. Deve-se ainda interrogar os pacientes sobre comorbidades como transtornos de humor, de ansiedade, distúrbios alimentares, diabetes (que pode estar relacionado ao retardo do esvaziamento gástrico – gastroparesia), etilismo e tabagismo e uso de medicamentos que podem provocar dispepsia como antibióticos, suplementos de ferro e potássio, alendronato, xantinas e, em especial, ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides, que podem, inclusive, causar lesão da mucosa gastroduodenal e úlcera péptica. • Dor – Sintoma mais frequente. A dor visceral do estômago e bulbo duodenal é percebida na linha mediana do epigástrio, logo abaixo do apêndice xifoide. • Plenitude Pós-prandial e saciedade precoce - Plenitude pós-prandial é a sensação de persistência prolongada de alimentos no estômago após uma Carla Bertelli – 4° Período refeição, gerando desconforto. A saciedade precoce é definida como a sensação de que o estômago está cheio logo após o início de uma refeição, impedindo que seja terminada. Podem estar presentes de forma isolada ou acompanhando a dor epigástrica. • Náuseas e Vômitos - As náuseas são definidas como uma sensação desagradável relacionada à necessidade iminente de vomitar, localizada no epigástrio ou na garganta. O vômito é caracterizado pela expulsão forçada do conteúdo gástrico ou intestinal pela boca, associado à contração dos músculos abdominais e torácicos. A ocorrência de vômitos acompanhando as crises dolorosas não denota necessariamente obstrução do trato de saída do estômago. Vômito com grande quantidade de alimentos ingeridos horas antes é sugestivo de estase gástrica, obstrução pilórica ou duodenal. Quantidades elevadas de bile no vômito sugerem obstrução intestinal alta. Quando há sangue (hematêmese), isto denota sangramento a montante do ângulo de Treitz e pode corresponder a hemorragia proveniente de úlcera péptica ou câncer gástrico. A inspeçãopode revelar a existência de tumores localizados no epigástrio, que na maioria dos casos correspondem a neoplasias gástricas. Obstrução do trato de saída do estômago é denunciada pelo peristaltismo gástrico visível, que se caracteriza por elevações da parede abdominal que se desenham sob a reborda costal esquerda, deslocam-se para a direita e se desfazem ao ultrapassar a linha mediana. As elevações correspondem a vigorosas contrações do antro gástrico, que aparecem uma a uma, em sucessão, na frequência máxima de três contrações por minuto Quando se suspeita de obstrução do trato de saída do estômago, mas não há peristaltismo visível, pode-se tentar provocar o seu aparecimento pedindo-se ao paciente para ingerir certo volume de líquido e percutindo o epigástrio. A percussão tem pouco valor para o diagnóstico das afecções do estômago. Quando há suspeita de estase gástrica, pode-se tentar provocar o ruído de vascolejo, útil no diagnóstico se o paciente estiver em jejum prolongado Devem ser praticadas duas modalidades de palpação do epigástrio: a superficial e a profunda. Antes de iniciá-las, o médico deve se certificar de que a posição do paciente é aquela em que há o máximo relaxamento da parede abdominal: decúbito dorsal, a cabeça apoiada em plano ligeiramente superior àquele em que se apoiam os ombros, que devem estar ligeiramente elevados com relação ao restante do tronco, braços estirados ao longo do corpo e joelhos levemente fletidos. Dor à descompressão brusca do abdome também sinaliza irritação peritoneal e pode ser causada por perfuração de úlcera péptica ou neoplasia gástrica - Os principais exames utilizados para o diagnóstico das doenças do estômago e duodeno são a endoscopia digestiva alta (EDA) e os testes para detecção do Helicobacter pylori. Porém, outros exames como a ecoendoscopia, fluoroscopia e cintilografia de esvaziamento gástrico podem ter utilidades em condições especiais. - As doenças mais comuns do estômago são gastrites/gastropatias, dispepsia funcional, úlcera péptica e câncer. A causa mais comum de gastropatia é a ingestão de medicamentos, em especial ácido acetilsalicílico e anti- inflamatórios não esteroides (AINEs), além de bisfosfonatos e suplementos de potássio. Outras causas incluem a ingestão de bebidas alcoólicas, estresse (trauma, sepse, choque) e refluxo biliar. Carla Bertelli – 4° Período Endoscopicamente, tais gastropatias são caracterizadas por erosões, úlceras e/ou hemorragia, sem componente inflamatório significativo à biopsia. Hematêmese é um termo que significa que há sangue visível no vômito Melena é um termo médico utilizado para descrever fezes muito escuras (semelhantes a alcatrão) e mal cheirosas, que contêm sangue digerido na sua composição Com relação ao sexo, merece referência a doença de Whipple, que ocorre muito mais em homens do que em mulheres, em uma proporção de 9:1. As informações sobre o uso de medicamentos são úteis no entendimento dos sintomas do paciente. Em algumas situações, as manifestações clínicas estão diretamente relacionadas com os efeitos colaterais de medicamentos. Exemplos: diarreia provocada por antiácidos (por conterem magnésio ou por desregularem a microbiota intestinal pela hipocloridria gástrica), anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), metformina, cólicas por sais de ferro. Durante a anamnese e o exame físico, deve-se atentar para os aspectos emocionais. As principais manifestações clínicas das afecções do intestino delgado são: diarreia, esteatorreia, dor abdominal, distensão abdominal, flatulência e dispepsia, hemorragia digestiva, febre, perda de peso, anemia, edema, manifestações carenciais e insuficiência endócrina. • Diarreia - A diarreia é a manifestação mais comum das doenças do intestino delgado, definida como aumento do teor líquido das fezes, frequentemente associado ao aumento do número das evacuações e do volume fecal. São classificadas como agudas quando duram menos de 14 dias (e tendem a ter etiologia bacteriana, viral, alérgica ou por toxina), crônicas, se duram mais que 1 mês (tendem a ser não infecciosas), e subagudas, entre 15 e 30 dias. • Esteatorreia - Em condições normais, o aumento do consumo de lipídios não acarreta a elevação da gordura fecal, traduzindo a enorme capacidade do organismo de promover a digestão e a absorção dos nutrientes, em geral, e das gorduras, em particular. A esteatorreia é definida como o aumento da quantidade de gordura excretada nas fezes (mais de 7 g de gordura ou 9% do consumo, em 24 horas). Cabe ressaltar que diferentes causas de diarreia Carla Bertelli – 4° Período podem causar esteatorreia secundária, podendo ocorrer perda de 4 a 7 kg/dia. Pode decorrer de vários mecanismos os quais se relacionam com má absorção exclusiva do componente lipídico da alimentação ou de todos os macronutrientes: hidratos de carbono, proteínas e gordura. Como a absorção das vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K) depende da eficiência dos processos de digestão e absorção das gorduras, na esteatorreia de longa duração costumam surgir sinais e sintomas indicativos dessas carências, ou seja, hiperqueratose cutânea e cegueira noturna (vitamina A), doença óssea (vitamina D) e distúrbios hemorrágicos (vitamina K) • Dor Abdominal - Na caracterização semiológica da dor abdominal, é importante considerar a localização, a irradiação, a intensidade, o modo de início, as variações cronológicas, os fatores de melhora e de piora e as manifestações associadas. Quando a dor tem origem exclusiva no intestino, sem que haja participação peritoneal, a sua localização é, em geral, imprecisa, sendo indicada pelo paciente em algum ponto próximo da região umbilical. Quando há comprometimento dos segmentos mais distais do íleo, ela se localiza um pouco abaixo da cicatriz umbilical, entre o mesogástrio e o hipogástrio. Se sua origem for no íleo terminal, é percebida no quadrante inferior direito. É preciso se lembrar de obter dados sobre a natureza ou caráter da dor. A dor visceral, originada da distensão ou da contração das paredes musculares do intestino, costuma ser descrita como tendo caráter de “distensão” ou “torção”. Quando há alterações inflamatórias, congestivas ou isquêmicas, é possível que se apliquem as designações “constrição” ou “peso”. Sensações semelhantes a “queimação” ou “pontada” podem ser empregadas quando há participação do peritônio perivisceral no processo inflamatório. • Distensão abdominal, flatulência e dispepsia - Provocados por aumento do conteúdo gasoso do tubo digestivo. Estes sintomas, em geral, apresentam-se junto com diarreia, esteatorreia ou dor abdominal, mas também podem ocorrer isoladamente. • Hemorragia Digestiva - As manifestações clínicas dependem de vários fatores, entre os quais destacam-se a localização do sangramento e sua relevância, determinada pelo volume, velocidade e duração da perda sanguínea. Em geral, o sangramento de intestino delgado exterioriza-se como melena, pois há tempo para a digestão do sangue se o local do sangramento estiver entre o ângulo de Treitz e a válvula ileocecal. As fezes tornam-se enegrecidas, podendo ou não guardar uma leve tonalidade avermelhada. Quase sempre o sangramento no intestino delgado provoca aumento do teor líquido das fezes. Daí ser comum a associação de melena com amolecimento das fezes e aumento do número de evacuações ou com diarreia exuberante • Febre - manifestação comum nas doenças infecciosas, inflamatórias e neoplásicas do intestino delgado. Febre alta, junto com dor abdominal aguda e intensa, é quase constante na inflamação peritoneal própria da diverticulite ou dos períodos de reagudização da doença de Crohn. • Perda de Peso - relacionada com alimentação deficiente, má absorção ou aumentodo consumo metabólico. À inspeção, o abdome pode apresentar-se escavado, quando houver acentuada desnutrição, como pode ser visto na doença celíaca, nos linfomas e na doença de Crohn. Mais frequentemente, contudo, o abdome apresenta-se com volume aumentado, adquirindo a forma globosa. Tal aumento pode se dever ao maior conteúdo líquido e gasoso das alças intestinais, como ocorre nos pacientes com má absorção. Globosidade acentuada pode ser devido a ascite ou neoplasia. Na ascite, ou quando há distensão das alças intestinais, o aumento do volume é, em geral, simétrico. Havendo massas abdominais, pode haver assimetria notável, causada por abaulamentos localizados. Retrações quase sempre são consequências tardias de intervenções cirúrgicas ou de traumas abdominais. Em condições normais, os segmentos do intestino delgado não são acessíveis à palpação profunda do abdome. Entretanto, quando existem alças dilatadas ou distendidas por aumento do seu conteúdo hidroaéreo, é Carla Bertelli – 4° Período possível perceber estruturas de forma cilíndrica com características semelhantes às do ceco de pessoas normais. Quando há aumento do volume abdominal por distensão gasosa das alças intestinais, é comum o encontro de hipertimpanismo generalizado. Entretanto, quando ao acúmulo de gases se junta o aumento do conteúdo líquido, como se vê nos estados de má absorção acentuada ou em segmentos proximais à obstrução, a distensão abdominal pode acompanhar-se de submacicez ou macicez. Nestas condições, impõe-se o diagnóstico diferencial com ascite. - Os exames complementares incluem avaliação bioquímica, hematológica e sorológica, avaliação funcional, exames de imagem, endoscopia ou enteroscopia endoscópica, cápsula endoscópica, biopsia intestinal, cintilografia, exames parasitológico e bacteriológico das fezes. - As doenças do intestino delgado podem ser subdivididas em sete grupos: anormalidades do desenvolvimento, obstrução intestinal, enterites, síndrome de má absorção, anormalidades de origem vascular, neoplasias e outras afecções. A história clínica é fundamental no diagnóstico das enfermidades do cólon, reto e ânus, possibilitando, na maioria das vezes, aventar hipóteses diagnósticas consistentes. Já na identificação, o grupo etário, o sexo, a profissão e a procedência do paciente podem fornecer informações importantes ao raciocínio diagnóstico. O conhecimento da idade, por exemplo, vai reforçar a ideia de determinadas hipóteses diagnósticas. Portanto, em crianças, grave obstipação intestinal sugere o diagnóstico de megacólon congênito, mas, em adultos, a primeira possibilidade, em indivíduo de zona endêmica de doença de Chagas ou que nela já viveu, é o megacólon chagásico. Sangramento anal em crianças sugere pólipos; em adultos jovens, a hipótese mais provável é doença hemorroidária, enquanto em pessoas acima de 50 anos de idade sempre é necessário investigar a possibilidade de câncer. As pessoas cuja profissão as obrigue a permanecer sentadas ou de pé durante muito tempo são mais suscetíveis à doença hemorroidária, enquanto nas que têm vida sedentária e se alimentam com poucas fibras vegetais, a hipótese de doença diverticular do cólon surge com mais frequência. Os principais sinais e sintomas das doenças do cólon, reto e ânus são dor, diarreia, obstipação, sangramento anal, prurido anal, distensão abdominal, náuseas e vômitos, anemia e emagrecimento. • Dor difusa. Embora o paciente informe que a dor teve início em determinada região, com o passar de algum tempo ela se difunde por todo o abdome. Exemplo típico é a dor da peritonite. • Dor no quadrante superior direito. São poucas as causas colônicas de dor nesta região, em virtude da profunda localização da víscera em relação à parede abdominal. Quando presente, deve-se pensar em impactação fecal alta e obstipação intestinal grave. • Dor no quadrante inferior direito. Nesta topografia, em razão da proximidade do cólon (ceco e início do cólon ascendente) com a parede abdominal, o quadro doloroso é mais facilmente avaliado, conseguindo-se, em geral, definir sua causa por intermédio de manobras semióticas. Várias afecções do cólon podem causar dor nesta região, destacando-se: apendicite, câncer do ceco, processos inflamatórios (doença de Crohn, tuberculose intestinal, invaginação intestinal por lesões benignas ou malignas), além de doenças do ovário e anexos. • Dor no quadrante superior esquerdo. Como no quadrante superior direito, esta região é de difícil acesso às manobras semióticas. O cólon está profundamente alojado e protegido pelos arcos Carla Bertelli – 4° Período costais, e só raramente há condições de palpá-lo, tal como ocorre na vigência de lesões muito graves (câncer avançado). Causa de dor nessa área: diverticulite, impactação fecal alta e obstipação intestinal crônica. • Dor no quadrante inferior esquerdo. Sendo o cólon sigmoide normalmente palpável, é possível, com certa segurança, definir por manobras palpatórias a origem do quadro doloroso. A afecção que mais comumente provoca dor nessa região é a doença diverticular do cólon, que está sujeito a inflamar-se, dando origem a diverticulite ou abscesso, às vezes com perfuração em peritônio livre e consequente peritonite • Diarreia e disenteria. Caracteriza-se a diarreia pelo número aumentado de dejeções (mais de três evacuações por dia), diminuição da consistência fecal e, às vezes, presença de restos alimentares nas fezes. Algumas vezes torna-se difícil diferenciar uma diarreia relacionada ao intestino delgado (diarreia alta) de uma originada no cólon (diarreia baixa) Por isso, é necessário fazer uma análise criteriosa das características semiológicas, entre as quais destaca-se a evolução do quadro diarreico ao longo do dia. Costuma-se dizer, inclusive, que o cólon “dorme” à noite. Isto significa que, se um paciente apresenta uma diarreia contínua, dia e noite, deve-se considerar que sua origem possivelmente não é colônica ou exclusivamente colônica. A diarreia baixa compreende dois grupos: diarreia aguda e diarreia crônica. Ambas podem ser de causa infecciosa ou causa não infecciosa. As causas de diarreia aguda são retocolite ulcerativa inespecífica, em que, quase sempre, há fezes amolecidas misturadas com sangue, eventualmente com muco e pus; colites e retites actínicas; doença de Crohn do reto e do cólon. O câncer do intestino grosso, principalmente quando localizado no cólon direito, provoca diarreia em alguma fase de sua evolução e, portanto, deve ser sempre lembrado em casos de diarreia. Todas essas afecções podem causar diarreia crônica, algumas vezes por não responderem à terapêutica instituída na fase aguda ou pela própria evolução da doença. Existem, no entanto, algumas enfermidades que têm como característica clínica uma diarreia crônica desde o início. Entre elas destaca-se o cólon irritável, que costuma apresentar na sua evolução, alternância de diarreia e obstipação. • Obstipação intestinal. O ritmo intestinal varia de um indivíduo para outro. Considera-se normal desde três evacuações por dia até uma evacuação a cada 2 dias, ou seja, podem ser normais intervalos de 8 a 48 h entre uma exoneração intestinal e a seguinte. Quando as fezes ficam retidas por mais de 48 h, diz- se que há obstipação ou constipação intestinal, fato designado na linguagem leiga como “prisão de ventre” ou “intestino preso”. Na avaliação clínica de obstipação intestinal é necessário levar-se em conta a consistência das fezes. Podem ser apenas um pouco mais duras, ressecadas ou em cíbalos (fezes em pequenas bolas). • Sangramento Anal • Processos inflamatórios, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, as retites e as colites actínicas, podem sangrar em virtude de lesões na mucosa.• Prurido Anal - Suas causas são múltiplas, destacando- se a má higiene anal, a enterobíase (principal causa em crianças), doenças anorretais cutâneas (eczema, dermatite seborreica, dermatite de contato) e doenças sistêmicas, em especial diabetes e hepatopatias crônicas. • Distensão abdominal. A distensão abdominal caracteriza-se por aumento do volume do ventre e pode traduzir várias condições, tais como ascite, meteorismo, fecaloma, neoplasias. Com relação ao intestino grosso, a distensão abdominal depende da dificuldade do trânsito nos cólons, ou seja, algum obstáculo que esteja impedindo a progressão de gases e fezes. Uma causa importante de distensão aguda é o vólvulo do sigmoide (torção do cólon sigmoide sobre seu próprio eixo), uma complicação grave do megacólon chagásico. Esta afecção ocasiona também o chamado fecaloma (impactação fecal), que provoca distensão do cólon a montante do obstáculo. Carla Bertelli – 4° Período • Náuseas e vômitos. As náuseas e os vômitos não são frequentes nas afecções do intestino grosso. Contudo, nos pacientes com cólon irritável, náuseas costumam estar presentes durante as crises dolorosas. Na oclusão intestinal, os vômitos surgem à medida que o quadro clínico evolui. Após certo tempo podem tornar-se fecaloides. • Anemia e emagrecimento. As doenças consuntivas (câncer do cólon, por exemplo) provocam anemia e emagrecimento que podem chegar à caquexia. São as lesões blastomatosas do cólon direito as que mais evoluem com anemia; isto porque no cólon direito há reabsorção de ferro. Inspeção. Com o paciente deitado em decúbito dorsal (de preferência sem travesseiro sob a cabeça, para aumentar a flacidez da parede abdominal), com as mãos estendidas ao longo do corpo, o examinador posiciona- se no seu lado direito. Observa-se inicialmente a forma e o volume do abdome e se há movimentos peristálticos visíveis. Pacientes com carcinoma avançado do cólon podem apresentar abdome escavado, ressaltando-se os ossos da bacia, principalmente as cristas ilíacas. Nos casos de megacólon chagásico e fecaloma, pode-se constatar um abdome distendido, mais à custa do cólon sigmoide, que se traduz por abaulamento no flanco esquerdo. Algumas vezes o fecaloma provoca suboclusão intestinal, geralmente no nível do reto, aparecendo, então, contrações do cólon, indicativas de sua luta para vencer o obstáculo. Pacientes com carcinomatose peritoneal, secundária a câncer do intestino grosso, podem apresentar ascite, quando então o abdome torna-se volumoso, com aspecto globoso ou tipo abdome de batráquio. Palpação. O examinador, ainda posicionado ao lado direito do paciente, com as duas mãos espalmadas – a direita superposta sobre a esquerda –, aprofunda, delicadamente, na parede abdominal, as pontas dos dedos, de início apenas na superfície do abdome, e em seguida com maior profundidade. A palpação torna-se mais difícil na presença de processo agudo e doloroso, ou quando há contratura da parede abdominal. Aliás, a constatação deste fato já é um importante dado semiológico. A palpação deve começar pela fossa ilíaca direita, local onde se situa o ceco. Na maioria das vezes consegue-se palpá-lo, principalmente nos indivíduos magros. Em condições normais o ceco tem consistência ligeiramente elástica e configuração cilíndrica. Em algumas ocasiões é conveniente solicitar ao paciente que faça uma ligeira flexão da coxa direita sobre o abdome, para diminuir a contratura da musculatura da parede abdominal, aumentando-se a possibilidade de palpar melhor o órgão. Ao palpar o ceco deve-se pesquisar o “sinal do gargarejo”, o qual consiste na percepção de um ruído típico provocado pela compressão e descompressão brusca do órgão. Sua presença traduz a existência de líquido no interior do ceco, o que costuma ocorrer nos casos de diarreia. Tem pouca importância clínica. Na palpação do cólon transverso deve-se ter em mente o fato de que este segmento anatômico do intestino grosso não tem posição fixa, podendo ocupar vários locais do abdome, em função, principalmente, do biotipo do indivíduo. Por isso, devemos estar atentos para a possibilidade de encontrá-lo nas mais diversas posições, incluindo a fossa ilíaca direita ou esquerda, e até na pelve. O cólon sigmoide, pela sua posição na fossa ilíaca esquerda, é o segmento do intestino grosso que pode ser analisado com mais facilidade, justamente por estar próximo à parede abdominal. O exame proctológico compreende quatro etapas: inspeção da região anossacrococcígea, toque retal, anuscopia e retossigmoidoscopia, sendo este último um exame complementar que exige equipamento e preparo especial. Carla Bertelli – 4° Período Preparo e posição do paciente. O paciente deve ficar em uma posição que permita boa visualização da região e fácil manuseio dos aparelhos usados na endoscopia. Duas são as posições usadas no exame proctológico: posição lateral de Sims e genupeitoral. A posição lateral de Sims consiste no decúbito lateral direito ou esquerdo com as pernas fletidas sobre o abdome. O examinador fica sentado em um banco ao lado da mesa proctológica ou do leito hospitalar. Na posição genupeitoral, também chamada de posição de prece maometana, o paciente ajoelha-se na extremidade da mesa de exame, flexiona o tórax de modo a apoiá-lo na mesa, faz uma torção do rosto para a direita ou para a esquerda e estende os braços. Inspeção. Com a ajuda do foco de luz adequado (fotóforo), obtém-se boa visualização da região anossacrococcígea. Em seguida, com o auxílio das duas mãos, espalmadas em ambas as nádegas, a região anal é delicadamente entreaberta, possibilitando a visualização do início do canal anal Toque retal. Exame dos mais importantes na propedêutica coloproctológica, deve ser incluído no exame físico de todo paciente adulto que procura um médico, principalmente nos de faixas etárias acima de 50 anos de idade. Semiotécnica. Estando o dedo indicador da mão direita protegido com luva, lubrificado com vaselina ou, eventualmente, com xilocaína, inicia-se o exame com ligeira massagem no introito do canal anal, para que o paciente relaxe um pouco o estojo esfincteriano. A introdução do dedo no canal deve ser feita com delicadeza, procurando-se, durante a manobra, fazer o paciente participar do exame. Para isto o médico vai relatando o que vai fazer (“vou introduzir o dedo no ânus…”, “não vai doer…”). O maior diâmetro do canal anal é no sentido anteroposterior. Por conseguinte, deve-se usar este conhecimento ao introduzir o dedo, colocando-o na posição lateral. Após vencer a barreira do esfíncter, faz-se, com manobras de rotação do dedo, o exame de todo o canal anal. Primeiramente, deve-se tocar a face anterior do canal anal, onde se localiza a loja prostática no homem e o relevo vaginal da mulher. Aumento do tamanho da próstata é facilmente detectado. Os movimentos rotatórios do dedo permitem sentir as alterações do relevo do canal. Em condições normais, o canal anal e o início do reto apresentam paredes lisas, sem qualquer rugosidade. Qualquer massa que se conseguir tocar obriga o médico a aprofundar a avaliação semiológica por meio da anuscopia, terceira etapa do exame proctológico. - Os exames complementares incluem exame das fezes, hemograma e outros exames laboratoriais, exames de imagem, estudo clínico da fisiologia colorretal e biopsia. - As principais doenças do cólon, reto e ânus são: síndrome do intestino irritável, colites, doença diverticular, megacólon chagásico, neoplasias, doença hemorroidária, fissuras anais, abscessos e fístulas anorretais e prolapso retal. O pâncreas é um órgão de difícil acesso ao exame físico, e, em razão disso, a realização de uma boa anamnese é de extrema importância, visto que pode sugerir o diagnóstico em uma grande porcentagemde pacientes. Na medida em que algumas afecções pancreáticas incidem mais em um sexo que no outro, esta é uma informação importante. A pancreatite aguda é mais frequente no sexo feminino, enquanto a crônica predomina no sexo masculino. A idade também tem importância, pois determinadas doenças pancreáticas, sobretudo a insuficiência pancreática, na infância e na adolescência, sugere mucoviscidose ou doença fibrocística do pâncreas, síndrome de Shwachman ou mesmo pancreatite hereditária. O relato do uso de bebidas alcoólicas deve chamar a atenção por sua ligação com a pancreatite crônica. Dor. É o sintoma mais frequente, sobretudo nos processos inflamatórios da glândula (pancreatites). Na Carla Bertelli – 4° Período forma aguda, está presente em quase todos os casos, branda ou muito intensa, aumentando gradualmente ou se agravando em curto espaço de tempo. Costuma ser contínua e durar horas. A localização mais comum é nas regiões epigástrica e do hipocôndrio esquerdo. Eventualmente é retroesternal. Em geral, irradia para o dorso. Piora com alimentação e pode diminuir quando o paciente se inclina para a frente ou comprime o tórax com os joelhos. Na pancreatite crônica, pode não ocorrer dor ou ser substituída por leve mal-estar epigástrico, em 50% dos pacientes. Apresenta estreita relação com a ingestão de bebidas alcoólicas. Nos pacientes que bebem apenas nos fins de semana, a dor é intermitente, ocorrendo 12 a 48 horas após o último drinque, durando de poucas horas a vários dias. No câncer do pâncreas, a dor não costuma ser intensa na fase inicial, mas cerca de 80% relatam dor abdominal. Náuseas e vômitos. Ocorrem em aproximadamente 75% dos casos dos processos inflamatórios do pâncreas. O vômito geralmente é de difícil controle, podendo levar, rapidamente, a desequilíbrio hidreletrolítico. Emagrecimento. Costuma estar presente na evolução da pancreatite crônica, decorrente da insuficiência exócrina e da endócrina. Na pancreatite aguda, o emagrecimento é devido ao jejum prolongado e ao acentuado catabolismo ao se instalar o processo inflamatório. Anorexia. Pode ocorrer em quaisquer das doenças do pâncreas, sendo mais frequente nos processos neoplásicos. Astenia. É um sintoma presente em praticamente todas as doenças crônicas, inclusive as do pâncreas. A associação de anorexia, astenia e emagrecimento sugere sempre neoplasia maligna. A presença de dor abdominal levanta a possibilidade de câncer do pâncreas. Icterícia. É um sinal muito comum nas diversas doenças pancreáticas. A dosagem da bilirrubinemia mostra predomínio da fração direta, indicando colestase extra- hepática. Pode ser discreta e fugaz na pancreatite aguda, principalmente na forma edematosa, por uma das seguintes razões: (1) obstrução do colédoco terminal, determinando a icterícia e a própria pancreatite; (2) edema do tecido pancreático, comprimindo o colédoco intrapancreático e causando a icterícia ou contribuindo para o aumento da obstrução. Pode ser de grande intensidade, acompanhada de prurido, colúria e, às vezes, acolia fecal. Nesta eventualidade, a causa, quase sempre, é uma obstrução do colédoco terminal provocada por cistos ou neoplasias localizadas na porção cefálica do pâncreas, ocasionada por fibrose desta área, como na pancreatite crônica. Diarreia. Na vigência de insuficiência pancreática, as fezes são volumosas, pastosas, brilhantes, de odor rançoso, coloração pálida, deixando traços ou camada oleosa sobre a água do vaso sanitário (esteatorreia). Síndrome de má absorção. Representada por esteatorreia e creatorreia. A esteatorreia ocorre quando aproximadamente 70% da glândula estão destruídos. Na sua fase inicial é necessário insistir no interrogatório para se certificar se há ou não esteatorreia, a qual geralmente não é referida espontaneamente pelo paciente. Em uma fase posterior, a esteatorreia pode ocorrer até passivamente, sujando as peças íntimas, fato, às vezes, muito constrangedor para o paciente. A perda de gordura pelas fezes deve-se à deficiência da lipase responsável por sua digestão. A creatorreia corresponde à perda de proteínas nas fezes, devido à deficiência das enzimas proteolíticas, especialmente da tripsina e quimotripsina. A má absorção de gorduras e proteínas leva a uma deficiência da absorção das vitaminas lipossolúveis, oligoelementos e hipoalbuminemia, responsáveis por alterações sistêmicas, tais como osteoporose, lesões dermatológicas tipo pelagra, manifestações neurológicas (neuropatias periféricas, demência e encefalopatias), discrasias e edema localizado ou generalizado (anasarca). Diabetes. Pode variar desde a forma branda, revelada apenas por intolerância à glicose (30% dos casos de pancreatite crônica), até a forma franca. Pode surgir desde o início, porém é rara nesta fase da doença, sendo mais frequente após 12 anos, em média, de evolução. É instável, alternando-se hiper e hipoglicemias. Carla Bertelli – 4° Período As complicações que ocorrem no diabetes de outra etiologia são raras no diabetes secundário à pancreatite crônica. Hemorragias. Na pancreatite aguda e na agudização da forma crônica ocorrem hemorragias por ruptura de vasos sanguíneos devido à digestão das paredes pelas enzimas pancreáticas ativadas, sobretudo a elastase. O sangue extravasado fica restrito à glândula ou às cavidades retroperitoneal e peritoneal. Em algumas situações, contudo, o sangramento pode exteriorizar-se sob a forma de hemorragia digestiva, quando houver comunicação do vaso com o canal pancreático ou com uma fístula pancreatodigestiva. Outros sintomas e sinais que podem surgir em decorrência do acometimento pancreático agudo são: íleo adinâmico, distensão abdominal, sinais de insuficiência pulmonar e insuficiência renal. O pâncreas, por sua posição anatômica, é um órgão de difícil “acesso” ao exame físico, principalmente quando está normal. As neoplasias e os cistos, quando atingem determinado tamanho, podem ser palpados no andar superior do abdome, localizados à direita ou à esquerda da linha mediana, dependendo da porção pancreática acometida. A dor à palpação é outro sinal que pode ocorrer. Devem- se evitar manobras bruscas, com exagerada força, pois, além de exacerbarem a dor, podem traumatizar o pâncreas que já se encontra friável. Apesar da sensação dolorosa, às vezes muito intensa, o abdome fica flácido, a não ser que haja comprometimento peritoneal pelo processo inflamatório. As doenças crônicas do pâncreas, quando na sua fase inicial, na qual predomina a dor, podem não se acompanhar de alterações detectáveis ao exame físico. Nas formas avançadas, com déficit funcional, acompanhadas por má absorção, as alterações que se observam são aquelas próprias da desnutrição, como emagrecimento, alterações tegumentares tipo pelagra, cabelos secos e quebradiços, glossite e queilite e, finalmente, edema de membros inferiores e até mesmo anasarca. Hepatomegalia. Frente a uma afecção crônica do pâncreas associada ao alcoolismo, o achado de fígado aumentado sugere a concomitância de hepatopatia alcoólica. A hepatomegalia pode, também, ocorrer nas neoplasias do pâncreas com metástase para o fígado. Esplenomegalia. Pode haver aumento do baço na pancreatite crônica e, neste caso, duas possibilidades deverão ser pesquisadas: trombose da veia esplênica ou da veia porta e associação à doença crônica do fígado, ambas levando à hipertensão portal. No primeiro caso, trata-se de hipertensão portal segmentar e, portanto, passível de correção cirúrgica. Ascite. A ascite de causa pancreática é caracterizada por sua alta concentração em amilase e, às vezes, por seu aspecto serossanguinolento, observável na vigência de ruptura de cisto necro-hemorrágico para o interior da cavidade peritoneal, no decorrer de uma pancreatite aguda ou crônica agudizada.O líquido é claro ou citrino quando se tratar de ruptura de cisto de retenção das pancreatites crônicas. Derrame pleural. É uma ocorrência relativamente comum nas pancreatites agudas, sendo mais frequente à esquerda. O líquido pleural caracteriza-se pelo seu alto teor em amilase, semelhante ao que ocorre na ascite. Sinal de Courvoisier. Denomina-se sinal de Courvoisier a presença de vesícula biliar palpável em paciente ictérico. Caracteriza a obstrução prolongada do colédoco terminal. Neoplasia da cabeça do pâncreas é a sua principal causa. Dor. A dor originária do fígado e das vias biliares localiza- se no quadrante superior direito do abdome e apresenta diferentes características, conforme a afecção que a provoca. Carla Bertelli – 4° Período O parênquima hepático não tem sensibilidade, mas a cápsula de Glisson, quando distendida abruptamente, ocasiona dor contínua localizada no hipocôndrio direito e epigástrio, sem irradiação e que piora com a palpação da região. A causa mais comum é a congestão do fígado, que ocorre na insuficiência cardíaca, constituindo o que se costuma denominar hepatomegalia dolorosa A dor originada nas vias biliares apresenta-se de duas maneiras: (1) cólica biliar, outrora denominada cólica hepática, tem característica de cólica, de início súbito, de grande intensidade, localizada no hipocôndrio direito, com várias horas de duração; em geral, o paciente fica inquieto, nauseado, podendo apresentar vômitos. A causa mais frequente é a colelitíase. O aparecimento de icterícia após episódio de cólica biliar sugere a passagem do cálculo para o colédoco; (2) na colecistite aguda, a dor é contínua, localizada no hipocôndrio direito, podendo irradiar-se para o ângulo da escápula ou para o ombro direito, via nervo frênico. Acompanha-se de hiperestesia e contratura muscular. A palpação da região desperta dor (sinal de Murphy) e pode surpreender uma vesícula distendida. Icterícia. Icterícia consiste em uma coloração amarelada da pele e das mucosas, devida à impregnação dos tecidos por pigmentos biliares (só se consegue detectar icterícia quando os níveis de bilirrubina são maiores que 2 mg/dℓ (normal, 1 mg/dℓ). Nas pessoas da raça negra, pode-se perceber uma tonalidade amarela na parte exposta da esclerótica, dado o acúmulo, na conjuntiva, de uma camada de gordura. Mas, como ela não atinge toda a superfície anterior do olho, basta um exame mais detalhado dos olhos para descartar a possibilidade de icterícia. Inspeção. Somente grandes nódulos ou massas na superfície hepática podem ser percebidos à inspeção. Nestas condições, observa-se elevação ou abaulamento na área hepática (quadrante superior direito ou região epigástrica). A melhor maneira de examinar esta área é inspecionando-a lateral e tangencialmente. Percussão. A percussão visa determinar os limites superior e inferior do fígado e estabelecer o seu tamanho. Esta manobra é imprescindível para: (1) identificar o limite ou borda inferior, precedendo e orientando a palpação; (2) determinar a área hepática para biopsia; (3) certificar- se do volume hepático. Nos casos de diminuição do volume do fígado, como ocorre nas cirroses, esta manobra é insubstituível. O limite superior é determinado pela percussão ao longo da linha hemiclavicular, no nível do 5o espaço intercostal esquerdo, identificado pelo som submaciço. Este som corresponde à musculatura diafragmática sobre a cúpula hepática e é uma transição entre a sonoridade pulmonar e a macicez hepática. A percussão do limite ou borda inferior – lembrar que não existe borda superior – é feita, suavemente, de baixo para cima, na projeção das linhas hemiclavicular e medioesternal, em direção à arcada costocondral. Os pontos de macicez correspondem ao limite inferior do fígado e servem como locais de referência para a palpação Carla Bertelli – 4° Período A vesícula biliar normalmente não é acessível à palpação e só se torna palpável em condições patológicas. É necessário que ocorra alteração na consistência de suas paredes, como no câncer vesicular, ou que haja aumento de tensão no seu interior por dificuldade de escoamento de seu conteúdo em consequência de obstrução do ducto cístico ou do colédoco para se tornar palpável. A obstrução do cístico quase sempre é de natureza calculosa ou inflamatória, e a vesícula distende-se por acúmulo de sua própria secreção, constituindo a vesícula hidrópica. A obstrução do colédoco, por sua vez, pode ser calculosa ou neoplásica. Raramente, entretanto, a obstrução coledociana por cálculo causa distensão da vesícula biliar a ponto de torná-la palpável, sobretudo nas pessoas idosas com vesícula já esclerosada. Sinal de Courvoisier. Vesícula biliar palpável em paciente ictérico é sugestiva de neoplasia maligna, a qual, na maioria das vezes, se localiza na cabeça do pâncreas. Sinal de Murphy. Na colelitíase e na colecistite crônica, embora a vesícula não seja palpável, é frequente o paciente relatar dor quando é exercida compressão sob a reborda costal direita, no ponto cístico, durante a inspiração profunda. A maneira de pesquisar este sinal é a seguinte: o examinador, à direita do paciente em decúbito dorsal, coloca sua mão esquerda de modo que o polegar se insinue sob a reborda costal direita no nível da borda interna do músculo reto anterior, enquanto a face palmar da mão apoia-se sobre o flanco. Sem afrouxar a pressão exercida pela mão palpadora, solicita- se que o paciente respire profundamente. Em caso de dor, o paciente interrompe o movimento respiratório, ao mesmo tempo que reclama da sensação dolorosa. O ponto de palpação da vesícula pode ser tocado de duas maneiras. Nas pessoas magras, ele corresponde à interseção da borda externa do músculo reto abdominal com a cartilagem costal. Nos pacientes obesos, pela linha que une a crista ilíaca à arcada costal, passando pelo umbigo Procede-se da mesma maneira que na palpação do fígado; a região examinada é o quadrante superior esquerdo. Se não for possível palpar o baço por meio das manobras descritas, utiliza-se um outro recurso, que consiste em examinar este órgão com o paciente na posição de Schuster. O reconhecimento do baço de grande volume é confirmado pela identificação da chanfradura esplênica – uma reentrância semicircular que corresponde à direção do hilo. Isto pode ser válido quando é feito o diagnóstico diferencial entre massas e o rim esquerdo, por exemplo. A característica semiológica principal é a distância entre a reborda costal e a extremidade inferior do baço, medida em centímetros, tomando-se como referência a linha hemiclavicular esquerda. Com este dado, torna-se possível avaliar o volume dessa víscera. Excluída a possibilidade de ptose esplênica, todas as vezes que se consegue palpar este órgão significa que seu volume está aumentado, ou seja, há esplenomegalia. Para o baço se tornar palpável, é necessário que alcance o dobro de Carla Bertelli – 4° Período seu tamanho normal (este órgão mede aproximadamente 13 × 8 × 3,5 cm e pesa 180 a 200 g), achando-se na loja esplênica, recoberto pelo diafragma e pela parede costal esquerda, entre a 9a e a 11a costela; sua extremidade inferior dista 5 cm do reborda costal.
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