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1 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. Relacionar os fatores de risco do paciente com os processos infecciosos pulmonares agudos (pneumonias) 2. Descrever detalhadamente a evolução e os sinais/sintomas dos processos infecciosos pulmonares agudos 3. Analisar os critérios de internação nesses casos 4. Propor medidas de suporte, avaliação complementar e tratamento iniciais REFERÊNCIAS MARTINS, Mílton de A.; CARRILHO, Flair J.; ALVES, Venâncio Avancini F.; CASTILHO, Euclides. Clínica Médica, Volume 2: Doenças Cardiovasculares, Doenças Respiratórias, Emergências e Terapia Intensiva. Barueri, SP: Manole, 2016. CORRÊA, Ricardo de Amorim, et.al. Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade 2018. J. Bras. Pneumol. v.44, n.5, p.405-424, 2018. DEFINIÇÃO A Pneumonia é definida como um processo inflamatório agudo do trato respiratório inferior, acometendo principalmente os alvéolos, sendo de causa infecciosa (bactéria, vírus ou fungo). PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE: infecção ocorreu fora do ambiente hospitalar ou com surgimento em até 48 horas após a admissão hospitalar. PNEUMONIA NOSOCOMIAL (PNEUMONIA ADQUIRIDA NO HOSPITAL): quando o paciente se expõe ao agente após 48 horas da internação. • Pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM): início após 48 horas da intubação traqueal. • Pneumonia relacionada a cuidados de saúde: internação >2 dias nos últimos 90 dias, residentes em casas de repouso, pacientes em internação domiciliar, antibioticoterapia ou quimioterapia nos últimos 30 dias ou que estão em hemodiálise. EPIDEMIOLOGIA As pneumonias hospitalares são a 2ª causa de infecção hospitalar (atrás apenas das infecções do trato urinário) e respondem por 25% das infecções adquiridas em UTI e 50% das prescrições de antibióticos. A pneumonia é o principal motivo de morte em crianças menores de 5 anos causada por doenças infecciosas. A pneumonia é a 3ª maior causa de mortes no mundo e a principal causa de morte por doença infecciosa (+/- 3,5 milhões de mortes/ano). Mais de 80% dos óbitos causados por pneumonia é referente à pacientes idosos. No Brasil, a pneumonia é responsável por cerca de 10% das internações hospitalares no ano. ETIOLOGIAS PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE PNEUMONIA NOSOCOMIAL Pneumonia Problema 04 2 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 FATORES DE RISCO PRINCIPAIS CONDIÇÕES PREDISPONENTES CONDIÇÕES MECANISMO Idade avançada Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram- negativos. Tabagismo Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares. DPOC Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares; aumenta a colonização da faringe e da árvore traqueobrônquica por Gram- negativos Alcoolismo Inibe a tosse e os reflexos glóticos; inibe a quimiotaxia para neutrófilos e o metabolismo oxidativo destas células; aumenta a colonização faríngea por Gram-negativos Diabetes mellitus Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram- negativos IC congestiva Mecanismo desconhecido. Uremia crônica Menos capacidade fagocítica; inibe a quimiotaxia para neutrófilos e o metabolismo oxidativo destas células Infecções virais (principalmente influenza) Lesão do epitélio traqueobrônquico (perda da atividade ciliar). Queda da consciência Inibição da tosse e dos reflexos glóticos – aspiração de grandes quantidades de material faríngeo ou gástrico Doença cerebrovascular Inibição da tosse e dos reflexos glóticos; distúrbio da deglutição FISIOPATOLOGIA Colonização da orofaringe e nasofaringe (vias aéreas superiores) por microrganismos → chegam aos brônquios, alvéolos (trato respiratório inferior) por microaspiração. Menos comumente, o germe atinge os alvéolos por inalação de aerossol contaminado do ambiente (Legionella) ou por via hematogênica (S. aureus). O epitélio faríngeo dos indivíduos hígidos é revestido por uma camada de fibronectina – uma proteína que serve como receptor para a adesão dos aeróbios Gram-positivos. Alguns fatores (idade avançada, DPOC, DM e alcoolismo) tendem a reduzir a quantidade de fibronectina do epitélio, permitindo a exposição de receptores das células epiteliais para agentes Gram-negativos aeróbios. Após a microaspiração as partículas “infectantes” mais densas geralmente são depositadas no muco do epitélio traqueobrônquico e então conduzidas pelo movimento ciliar das células epiteliais até a orofaringe, onde são deglutidas. O reflexo da tosse e outros reflexos epiglóticos podem eliminar abruptamente uma grande quantidade dessas partículas. Já as partículas “infectantes” menos densas conseguem atingir os bronquíolos terminais e os alvéolos, estruturas desprovidas de cílios. No interior dos alvéolos encontram-se alguns macrófagos, responsáveis pelo primeiro ataque fagocítico às bactérias. Se a virulência do agente for alta, ele consegue se multiplicar mesmo na presença de macrófagos alveolares e então, esses macrófagos passam a servir de mediadores da resposta inflamatória, liberando citocinas. Os neutrófilos então são recrutados no local, desencadeando e perpetuando o processo inflamatório agudo. Condições que inibem os mecanismos de defesa contra os agentes da pneumonia (idade avançada, doenças respiratórias e cardíacas), também favorecem o processo de infecção. Além disso, algumas bactérias podem se proteger do sistema humoral (anticorpos, complemento) pela liberação de exotoxinas e pela presença de uma cápsula polissacarídica, como no caso do “pneumococo”. A defesa contra este tipo de germe depende muito da presença de anticorpos específicos contra os antígenos capsulares (vacina antipneumocócica polivalente). 3 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 CLASSIFICAÇÃO BRONCOPNEUMONIA: é o tipo de apresentação mais frequente de pneumonia. Caracteriza-se pela consolidação alveolar multifocal - são múltiplos focos acinares (ou lobulares), coalescentes, que predominam na região peribrônquica. PNEUMONIA LOBAR: caracteriza-se pela consolidação alveolar extensa, ocupando uma grande área do parênquima pulmonar, como um lobo inteiro. Cerca de 90-95% dos casos de pneumonia lobar comunitária têm o S.pneumoniae como patógeno. Porém, a pneumonia lobar não é o tipo mais comum de pneumonia, mesmo no caso do “pneumococo”. QUADRO CLÍNICO SINTOMAS FREQUÊNCIA 1- Febre alta. 80% 2- Tosse. 80% 3- Expectoração purulenta. 60-80% 4- Calafrios. 40-50% 5- Dor torácica pleurítica. 30% 6- Tremores. 15% SINAIS FREQUÊNCIA 1- Hipertermia. 80% 2- Estertoração pulmonar 80% 3- Taquipneia (FR > 24 ipm). 45-70% 4- Taquicardia (FC > 100 bpm). 45% 5- Síndrome de consolidação pulmonar: - Som bronquial (“sopro tubário”); - Aumento do FTV; - Submacicez; - Broncofonia e pectorilóquia fônica. 30% 6- Síndrome de derrame pleural: - MV diminuído ou abolido; - FTV diminuído ou abolido; - Submacicez; - Egofonia. 10-15% Obs: pacientes idosos frequentemente não apresentam febre, tosse ou mesmo dispneia. Podem apresentar-se com quadro clínico inespecífico, como desorientação, mudanças abruptas da capacidade funcional e descompensação de uma doença previamente estável, como diabete, DPOC ou insuficiência cardíaca. DIAGNÓSTICO EXAMES COMPLEMENTARES GERAIS SpO2: deve ser observada na rotina, antes do uso eventual de oxigênio GASOMETRIA ARTERIAL: deve ser realizada na presença de SpO2 ≤ 90% em ar ambiente e em casos de pneumonia considerada grave. HEMOGRAMA: útil como critério de gravidade e de respostaterapêutica. Leucopenia (< 4.000 leucócitos/mm3) denota mau prognóstico. URÉIA: acima de 65mg/dL (correspondente a um valor igual ou superior a 11 mmol/L) constitui um forte indicador de gravidade 4 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 PROTEÍNA C REATIVA: é um marcador de atividade inflamatória e pode ter valor prognóstico no acompanhamento do tratamento. A manutenção de níveis elevados após 3-4 dias de tratamento e uma redução inferior a 50% do valor inicial sugere pior prognóstico ou surgimento de complicações. MÉTODOS DE IMAGEM RADIOGRAFIA DE TÓRAX: a incidência póstero- anterior e em perfil constitui o método de imagem de escolha na abordagem inicial da PAC. ACHADOS: ▪ infiltrado pulmonar: geralmente é do tipo alveolar broncopneumônico: múltiplas condensações lobulares coalescentes. ▪ broncograma aéreo: caracteriza infiltrado alveolar, pois os alvéolos em volta do brônquio estão preenchidos de exsudato, contrastando com o ar em seu interior. ▪ Grande área de consolidação alveolar: constitui a pneumonia lobar ou sublobar. TC de tórax: é o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar, em que pese a seu alto custo e alta exposição à radiação. Deve ser realizada quando houver dúvidas sobre a presença de infiltrado pneumônico. DETERMINAÇÃO ETIOLÓGICA A recomendação atual é apenas para casos que necessitem de internação hospitalar grave. HEMOCULTURA: deve ser reservada para a PAC grave e no caso de pacientes internados não- respondedores à terapêutica instituída, pois normalmente apresenta baixo rendimento. TESTES SOROLÓGICOS: não são úteis para o tratamento dos pacientes individualmente, mas para se estabelecer o perfil epidemiológico de uma determinada região ou um surto epidêmico. CULTURA DE ESCARRO: em pacientes internados sem antibiótico prévio, casos suspeitos de TBC pulmonar, internação em CTI, falência do tratamento ambulatorial, DPOC grave, DP, etc BRONCOSCOPIA COM LAVADO BRONCO ALVEOLAR: reservada para PAC em pacientes imunocomprometidos ou nos casos em que houver falha terapêutica. PESQUISA DE ANTÍGENO URINÁRIO: S. pneumoniae: deve ser realizada em pacientes com PAC grave. L. pneumophila: todos os pacientes não- responsivos ao tratamento prévio. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO A necessidade ou não de internação é avaliada por meio dos seguintes escores: FINE: é composto de duas etapas. 1ª: avalia a presença ou não de fatores de risco. Sem fator de risco: definido como classe I de risco e não necessita de maior exploração complementar. 5 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 Com fator de risco presente: passa-se para a segunda etapa. 2ª: avalia dados clínicos, laboratoriais e a radiografia de tórax, recebendo pontuações sendo classificados nas classes II a V. CLASSES DE GRAVIDADE DA PAC SEGUNDO ESCORE DE FINE PONTOS CLASSE MORTALIDADE TRATAMENTO Sem pontuação I 0,1 a 0,4% Ambulatorial ≤ 70 II 0,6 a 0,7% Ambulatorial 71 a 90 III 0,9 a 2,8% Observação 91 a 130 IV 8,5 a 9,3% Hospitalar > 130 V 27 a 31,1% Hospitalar CURB-65: avalia objetivamente a presença de cinco fatores: COMPOSIÇÃO DO ESCORE CURB-65 SIGLA VARIÁVEL ALTERAÇÃO PONTUAÇÃO C Confusão mental Presente 1 U ureia > 50 mg/dL 1 R respiração FR > 30 1 B “Baixa” pressão arterial PAS < 90 mmHg e/ou PAD < 60 mmHg) 1 65 idade > 65 anos 1 É dado um ponto para cada fator presente. Pacientes com escore 0 ou 1 podem ser tratados ambulatorialmente, enquanto indivíduos com escores maiores devem ser internados. CRITÉRIOS DA AMERICAN THORACIC SOCIETY: 3 critérios menores OU 1 critério maior = necessidade de tratamento em UTI ESCORE PROPOSTO POR EWIG E COLABORADORES: Recomenda-se internação em UTI quando o paciente apresentar 1 critério maior OU 2 critérios menores. 6 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 TRATAMENTO PNEUNOMIA BACTERIANA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE TRATAMENTO EMPÍRICO TRATAMENTO EMPÍRICO EM PAC PARA ADULTOS IMUNOCOMPETENTES PACIENTE AMBULATORIAL RECOMENDAÇÃO TERAPÊUTICA Previamente sadio Sem terapia prévia Macrolideo: azitromicina 500mg VO 1x/dia-5 dias”, OU claritromicina 500mg VO 12/12h 7-10 dias, OU telitromicina 800mg VO 1x, 5 dias Terapia antibiótico recente ou doenças associadas (DPOC, DM, ICC, neoplasia) Fluoroquinolona respiratória: levofloxacino 500mg VO 1x/dia 7 dias, OU gatifloxacino 400mg VO 1x/dia 7 dias, moxifloxacino 400mg VO 1x/dia 7 dias Contra-indicação para fluroquilonona Betalactâmico + macrolideo: cefuroxima 500mg VO 2x/dia + macrolideo ou amoxicilina 500mg VO 8/8h + macrolídeo Suspeita de aspiração Betalactâmico + inibidor de betalactamase (ex: amoxicilina- clavulanato 1g VO 12/12h) OU clindamicina 600mg VO 6/6h Influenza + superinfecção bacteriana Betalactâmico ou fluoroquinolona respiratória PACIENTE INTERNADO EM EMFERMARIA RECOMENDAÇÃO TERAPÊUTICA Sem terapia prévia Fluoroquinolona respiratória: levofloxacino 500mg IV 1x/dia OU gatifloxacino 400mg IV 1x/dia, OU moxifloxacino 400mg IV 1x/dia OU Betalactâmico + macrolídio: Ceftriaxona 2g IV/dia + claritromixina 500mg IV 12/12 ou + Azitromicina 500mg IV 1x/dia Terapia antibiótico recente Semelhante, à depender da terapia prévia UTI – SEM RISCO DE P. AERUGINOSA RECOMENDAÇÃO TERAPÊUTICA Betalactâmico + macrolideo ou fluoroquinolona: Ceftriaxona 2g IV/dia + claritromicina 500mg 2x/dia ou + levofloxacino 500mg/dia OU gatifloxacino 400mg IV 1x/dia OU moxifloxacino 400mg IV 1x/dia UTI – COM RISCO DE P. AERUGINOSA RECOMENDAÇÃO TERAPÊUTICA Agente antipseudomonas + ciprofloxacina ou agente antipseudomonas + aminoglicosídeo + fluoroquinolona ou macrolideo: ceftazidima 1-2g IV 8/8h, OU cefepima 2g IV 12/12h OU piperacilina- tazobactan 4,5g IV 8/8h, OU imipenem 500mg IV 6/6h, ou meropenem 1g IV 6/6h + ciprofloxacina 400mg IV 12/12h + claritromicina 500mg IV 12/12h OU ceftazidima 1-2g IV 8/8h, OU cefepima 2g IV 12/12h OU piperacilina- tazobactam 4,5g IV 8/8h, OU imipenem 500mg IV 6/6h, OU meropenem 1g IV 6/6h + *amicacina 500mg IV 2x + levofloxacino 500mg 1x/dia TRATAMENTO ESPECÍFICO TRATAMENTO ESPECÍFICO PARA AGENTES DA PAC S. pneumoniae sensível Amoxicilina, cefalosporinas ou macrolídeo Resistência intermediária Amoxicilina 500mg 3x/dia ou cefuroxima 500mg 2x/dia Altamente resistente Cefotaxima 1g IV 8/8h, ceftriaxona 2g IV/dia, penicilina G 4/4h ou fluoroquinolona respiratória H. influenzae Cefalosporinas 3ª. 4ª geração ou betalactâmico/inibidor betalactamase M. pneumoniae C. pneumoniae Macrolideo Legionella sp Macrolídeo +/- rifampicina ou fluoroquinolona S.aureus – sensível à oxacilina Oxacilina Resistentes à oxacilina Vancomicina Bacilos entéricos- negativos Cefalosporinas de 3º ou 4º geração +/- aminoglicosídeo ou fluoroquinolona* 7 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 Pseudomonas aeruginosa Betalactamico antipseudomonas** + ciprofloxacina ou aminoglicosideo Anaeróbios Betalactâmico/inibidor de betalactamase ou clindamicina PNEUMONIA NOSOCOMIAL PREVENÇÃO VACINA ANTI-INFLUENZA (vírus inativado) Anualmente para todas as pessoas com mais de 60 anos, indivíduos com alto risco para complicações da influenza, contatos íntimos de pessoas com alto risco e profissionais de saúde. VACINA ANTIPNEUMOCÓCICA Indicada em pacientes com 60 anos ou mais, necessitando de dose de reforço cinco anos após, e em situações especiais de alto risco. Pessoas que receberam a primeira dose após os 65 anos e/ou que não têm asplenia/imunodepressão não necessitam reforço.
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