Prévia do material em texto
A fluidoterapia intravenosa constitui atualmente um trunfo para o profissional da área médica, já que grande parte das afecções que acometem o organismo levam a algum tipo de desequilíbrio, seja ele hídrico ou eletrolítico. O que ocorre na maioria das vezes é um despreparo do veterinário com relação aos aspectos práticos da fluidoterapia. Portanto, torna-se de grande importância o conhecimento dos aspectos fisiológicos e bioquímicos que controlam os equilíbrios hídrico e eletrolítico do organismo, permitindo a escolha correta. O termo soroterapia não deve ser utilizado como sinônimo de fluidoterapia, pois constitui-se na administração de soro. Em um animal que apresente um desequilíbrio hídrico haverá a instalação de um desequilíbrio eletrolítico. Por essa razão, o termo fluidoeletrolitoterapia pode também ser empregado. FUNÇÕES REPOR DEFICIÊNCIAS HÍDRICAS: Animais desidratados são mantidos sob fluidoterapia intensiva no sentido de se tentar restabelecer um quadro de normoidremia; Fornecer suporte nutricional: Animais caquéticos sempre necessitam de energia (calorias), que podem ser repostas por meio da administração de soluções coloidais contendo aminoácidos e lipídeos ou mesmo glicose REPOR ELETRÓLITOS ESSENCI AIS: A grande maioria dos quadros de desidratação conduzem ao desequilíbrio eletrolítico. A fluidoterapia pode estabilizar esses pacientes por meio da administração racional de eletrólitos; SERVIR COMO UM VEÍCULO DE INFUSÃO: Certos medicamentos de uso intravenoso podem ser administrados conjuntamente com os fluidos; EXPANDIR O VOLUME INTRAVASCULAR (VIV) RAPIDAMENTE: Nos casos de choque, hipovolemia ou desidratação severa, a diminuição do VIV leva à deficiência na perfusão tissular e consequente hipóxia MANUTENÇÃO DE UMA VI A DE ACESSO FÁCIL: Nos pacientes em estado de choque ou mesmo com desordens que impossibilitem o rápido acesso intravenoso (como ocorre nos animais epilépticos), a fluidoterapia mantém uma via venosa de acesso imediato para a infusão de drogas. DINÂMICA DA ÁGUA CORPORAL ÁGUA CORPORAL: Em animais adultos, a relação entre a percentagem de água e o peso corporal situa-se por volta de 60%, ou seja, um animal sadio é composto por 60% de água. Já os neonatos e animais jovens possuem uma maior percentagem de água corporal, situada entre 70%-80%. Uma das implicações deste fato é a maior severidade de um quadro de desidratação nesta faixa etária. Animais obesos possuem um menor percentual de água corporal, estando este valor em torno de 50%. Muito cuidado deve ser tomado quando é apresentado um animal obeso e desidratado, já que o estado de carne deste paciente pode mascarar a verdadeira gravidade da desidratação. Distribuição da água corporal: A água corporal distribui-se no organismo em dois compartimentos, o meio intracelular (MIC) e o meio extracelular (MEC). Cerca de 2/3 da água corporal encontra-se no MIC e o restante (1/3) no MEC, distribuída, neste último compartimento, no interior dos vasos e no interstício. Quando ocorrem quadros de desidratação leve, a água perdida advém do MEC, mas nos processos graves, há também perda de água do MIC (através de osmose) e consequente desidratação intracelular. Deve-se ter em mente que o MEC e o MIC apresentam-se como compartimentos dinâmicos, isto é, a passagem de água, eletrólitos e outras substâncias de baixo peso molecular entre eles é constante. PERDA DE ÁGUA: As perdas obrigatórias (ou fisiológicas) correspondem àquelas inclusas nos processos de regulação térmica (transpiração cutânea e respiração pulmonar) e eliminação de catabólitos (fezes e urina). Logo, os quatro sítios anatômicos envolvidos com as perdas obrigatórias são pulmões, pele, rins e trato gastrointestinal. As perdas aditivas são todas aquelas que não se encaixam nas perdas obrigatórias, ou seja, vômito, diarreia, poliúria/polaciúria, sudorese intensa e sialorreia. NECESSIDADES DI ÁRI AS DE ÁGUA: Cada espécie animal possui uma necessidade diária de água. Mesmo dentre espécies, há variações relacionadas à idade, estado fisiológico (prenhez, convalescência) e individualidade metabólica. Em cães adultos, recomenda-se utilizar uma taxa de 35-60 ml/kg/dia; os cães jovens necessitam de 50-70 ml/kg/dia e os neonatos/lactentes de 150 ml/kg/dia. Em equinos, a taxa utilizada é de 30-60 ml/kg/dia (animal em privação completa de alimentos e água). Essas taxas podem variar enormemente em função da patologia primária instalada (perdas aditivas). Os bezerros neonatos necessitam de 50-100 ml/kg/dia de fluidos para a manutenção, sendo que, em quadros graves de diarreia, estes animais podem perder até 4 litros de fluido diariamente. TIPOS DE DESIDRATAÇÃO: Existem três tipos básicos de desidratações em animais: isotônicas, hipertônicas e hipotônicas. Na desidratação isotônica ocorre perda de líquido isotônico, não havendo passagem de líquido do MEC para o MIC. É um tipo raro de desidratação. Na desidratação hipotônica caracteriza-se por uma perda de eletrólitos superior à de água. O MEC ao ficar osmoticamente mais forte, recebe água do MIC para compensação fisiológica. A consequência é uma desidratação ao nível intracelular (grave). Na desidratação hipertônica dá-se quando a perda de água é maior que a de eletrólitos. A água é trocada do MEC para o MIC, pois este último apresenta, inicialmente, maior potencial osmótico. EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO DISTRIBUIÇÃO DE ELETRÓLITOS E TAMPÕES: No organismo para que as funções vitais ocorram, é necessário que o meio interno possua um pH pré-estabelecido. A variação de pH é mínima nos animais e o valor médio situa-se em 7,4, podendo variar de 7,32 a 7,53. A manutenção do pH corporal é realizada através de sistemas-tampões, pelos pulmões e rins. Os sistemas-tampões são encontrados no plasma e nas hemácias (bicarbonatos, fosfatos e proteinatos) os pulmões interferem no equilíbrio ácido-básico através da troca gasosa O2 -CO2. Nos rins, constituintes plasmáticos como o sódio, potássio, cloretos, fosfatos, amônia e bicarbonato são as principais substâncias envolvidas no controle eletrolítico (e de pH) do organismo. ACIDOSES: A acidose é uma condição anormal caracterizada pela diminuição do pH sangüíneo (acidemia) e ganho de ácidos fortes e/ou perda de bicarbonato, constituindo o desequilíbrio ácido-básico mais comum em animais domésticos. PODE SE DAR POR TRÊS RAZÕES PRINCIPAIS: Superprodução de H+ (choque hipovolêmico, esforço anaeróbico) Os quadros de cetoacidose/cetose (diabetes melitus, inanição, doenças infecto-contagiosas, cólicas, impacção rumenal, toxemia da gestação,) ESGOTAMENTO DAS RESERVAS DE TAMPÕES: perda de bicarbonato pelos intestinos ou rins (diarréia, o vômito com predominância de conteudo intestinal e a insuficiência renal) DEFICIÊNCIA DA EXCREÇÃO DE ÁCIDOS: comumente encontrado na insuficiência renal crônica. ALCALOSES: As alcaloses são originárias do ganho de bases fortes e/ou perda de ácidos fortes. EM CÃES AS CAUSAS MAIS COMUNS SÃO: Vômito profuso (perda de cloretos e H+ advindos do suco gástrico) Síndrome de Cushing (hiperadrenocorticismo), corticosteroidoterapia, esteroidoterapia Em equinos e bovinos a alcalose ocorre nos quadros de refluxo gástrico, paralisia intestinal, sudorese excessiva, sialorreia profusa, diureticoterapia e vômitos. TIPOS DE FLUIDOS MAIS UTILIZADOS Os fluidos mais utilizados são as soluções coloidais e os cristalóides. As soluções coloidaissão compostas de macromoléculas de alto peso molecular e que permanecem no espaço intravascular (EIV) após a sua administração. A albumina, o dextrano e o plasma são exemplos destas soluções, que só devem ser utilizadas por via endovenosa. Os colóides de uso clínico são denominadosde expansores plasmáticos, sendo mais utilizados quando se necessita aumentar, de forma rápida e efetiva, o VIV. ◦ Pacientes politraumatizados e hipovolêmicos (atropelamentos, queimaduras extensas); ◦ Pacientes hipovolêmicos e com edema cerebral e/ou pulmonar; ◦ Pacientes em choque. Os cristalóides são soluções que consistem primariamente de água com cloreto de sódio ou uma base glicosada. Essas substâncias são divididas em fluidos de reposição e fluidos de manutenção. Os fluidos de reposição possuem osmolaridade semelhante ao plasma, podendo ser acidificantes ou alcalinizantes. Eles são utilizados quando o animal inicia o esquema fluidoterápico, sendo fornecidos em grandes quantidades sem que haja alteração significativa dos eletrólitos plasmáticos. Como exemplo de fluidos de reposição podem ser citadas as soluções de Ringer (normal e com precursores de bicarbonato) e a própria solução de NaCl a 0,9%. Os fluidos de reposição que alcalinizam o sangue são indicados nos casos de acidose e os exemplos podemos citar as soluções de Ringer com precursores de bicarbonato (acetato, gluconato e lactato). Já os fluidos de reposição do tipo acidificantes são indicados para animais com quadro clínico de alcalose. Os exemplos típicos deste tipo de fluido são a salina isotônica e a solução de Ringer. FLUIDOS DE MANUTENÇÃO: De um modo geral, as soluções de manutenção são formadas pela adição de outros eletrólitos a uma fórmula original. Existem vários tipos destes fluidos disponíveis para uso clínico, mas muito cuidado deve ser tomado em relação à sua constituição, pois o excesso de alguns eletrólitos pode levar até mesmo ao óbito (como ocorre no uso de suplementação de fontes de potássio em animais cardiopatas). As soluções aquosas contendo glicose penetram nas células, sendo então metabolizadas. Este processo gera água e energia. Ao contrário do que se pensa, essas soluções não contêm calorias suficientes para suprir os requerimentos energéticos de um animal doente. Além disso a concentração do soluto utilizado é importante, pois tais soluções podem causar graves quadros de desidratações nos animais quando empregadas de forma inadequada. SOLUÇÃO ISOTÔNICA DE CLORETO DE SÓDIO: A solução de NaCl a 0,9% é um fluido de grande valia nas alcaloses, pois reduz a concentração de HCO3-sérico. O sódio sérico constitui no principal fator determinante das forças osmóticas no MEC, fazendocom que a água se movimente livremente entre os compartimentos biológicos de maneira rápida. É errôneo afirmar que este fluido possua a mesma composição do plasma, mas sim a mesma pressão osmótica, já que o seu conteúdo de cloreto é maior do que o teor plasmático (acidose). Suas principais funções no esquema fluidoterápico são reposição de líquido do meio interno, com aumento da concentração de cloro, reposição do suco gástrico com aumento da concentração de sódio e reposição de urina eliminada em condições normais. SOLUÇÃO DE RINGER: Possui a mesma finalidade do NaCl 0,9%, porém é mais completo que aquele, por ser uma mistura de eletrólitos. Não deve ser utilizado quando há hipocalemia, pois é um fluido pobre em potássio. SOLUÇÃO DE RINGER-LACTATO: São soluções salinas modificadas, evitando-se o alto teor de cloretos e com uma adição de eletrólitos ausentes na constituição original. Lactato, este é convertido a bicarbonato no fígado, sendo, portanto, utilizada nos casos de acidose. SOLUÇÕES GLICOSADAS: Têm a concentração de glicose variável entre 5% (isotônico) e 50% (hipertônico). O soluto a 5% possui a principal finalidade de fornecer energia ao organismo. Este fluido é indicado para reverter quadros de acidose, pois inibe a utilização de proteínas e gorduras pelos animais (mecanismo gerador de corpos cetônicos). As soluções hipertônicas só devem ser utilizadas por vias intravenosa ou intraóssea devido ao poder irritante local e mesmo à capacidade osmótica elevada. SOLUÇÃO GLICOFISIOLÓGICA: Também chamada de solução glicosalina, possui glicose associada com NaCl. Devido à capacidade inibidora da glicose sobre a lipólise e a proteólise, este fluido é indicado para o tratamento das acidoses. APLICAÇÕES PRÁTICAS DE FLUIDOTERAPIA Grau de desidratação estimado em função do peso corporal total Sinais Clínicos mais evidentes <5 % Histórico de vômito/diarreia branda, mas sem anormalidades no exame físico. 5% Mucosa oral seca 6-8% Turgor cutâneo diminuído, mucosa oral seca (pegajosa), globos oculares ligeiramente retraídos 10-12% Turgor cutâneo marcadamente diminuído, mucosa oral seca (pegajosa), pulso rápido e fraco, tempo de perfusão capilar aumentado (>3segundos), depressão mental leve, oligúria, globos oculares visivelmente retraídos. >12% Estupor, convulsões, coma e todos os sinais acima citados acentuados. Animais senis possuem menor elasticidade cutânea; além disto, devido às cardiopatias tão comuns nesta faixa etária, pode haver diminuição da frequência de pulso e maior tempo de preenchimento capilar. Animais obesos possuem maior quantidade de gordura na camada cutânea; logo, o teste de elasticidade da pele pode resultar em um falso- negativo quando os animais apresentam desidratação. Animais caquéticos, da mesma forma que os senis, possuem menor teor hídrico na pele, podendo levar a um diagnóstico falso-positivo de desidratação. Em grandes animais, a estimativa da desidratação não se constitui em tarefa fácil. A avaliação do turgor cutâneo nem sempre é confiável e, além disto, os bovinos e equinos são proporcionalmente mais resistentes às desidratações do que pequenos animais. Em bovinos, a avaliação da desidratação é estimada através dos mesmos sinais clínicos descritos anteriormente. Aliam-se a estes sinais o reflexo de sucção, a temperatura externa das extremidades e o próprio comportamento do animal. ESQUEMA FLUIDOTERÁPICO BÁSICO De acordo com este esquema, uma fluidoterapia deve conter três partes fundamentais: Fluidoterapia de reposição; Fluidoterapia de manutenção; Fluidoterapia de perdas contínuas. FLUIDOTERAPIA DE REPOSIÇÃO: A fluidoterapia de reposição constitui-se na restauração do volume de água perdido pelo animal durante o processo de desidratação. Por exemplo, se um equino possui um grau de desidratação estimado em 8% e o seu peso é de 450 kg, deve-se repor cerca de 40 litros de líquido, já que foi este o volume perdido. Em pequenos animais deve-se repor este volume em um esquema básico de três dias, sendo fornecido 50% do valor total no primeiro dia e 25% deste volume nos subsequentes. Peso do animal desidratado: 13kg Grau de desidratação: 6% Peso real do animal: 13,83 kg (13 x 100/100 -6) Perda de água: 13,83 -13 = 0,83 ou (830 ml) 1º dia: 415 ml (50% de 830 ml) 2º dia: 207,5 ml (25% de 830 ml) 3º dia: 207,5 ml (25% de 830 ml) FLUIDOTERAPIA DE MANUTENÇÃO: A fluidoterapia de manutenção visa suprir o animal da água necessária para o metabolismo normal do organismo. As necessidades variam em função da espécie animal, faixa etária e condição fisiológica. Esta fluidoterapia deve ser realizada diariamente, e varia principalmente para um mesmo animal, em função do peso corporal. Para o cão citado anteriormente e supondo-se que o mesmo seja adulto, a necessidade de água para a manutenção varia de 35-50 ml/kg/dia. Considerando um valor médio de 42,5 ml, tem-se o seguinte valor: Peso do animal desidratado 13kg Volume necessário 552,5 (42,5 x 13) FLUIDOTERAPIA DE MANUTENÇÃO: Este volume deve ser adicionado ao valor obtido anteriormente para o primeiro dia (reposição).Desta forma, no primeiro dia, este cão receberia 415 ml (reposição) mais 552,5 ml (manutenção), totalizando 967,5 ml. Para o segundo dia este animal deve ser pesado, e a manutenção recalculada de acordo com este novo valor. Se não houve aumento de peso ou, se ao contrário, ocorreu diminuição, provavelmente há erros na fluidoterapia proposta. Muita atenção deve ser dada aos parâmetros clínicos, diurese e presença de corrimento nasal. Uma diurese insuficiente em animais sob reidratação pode indicar subdosagem. Por outro lado, uma auscultação ruidosa do pulmão e presença de um corrimento nasal seroso podem indicar uma hiperidratação com edema pulmonar. FLUIDOTERAPIA DE PERDAS CONTÍNUAS: A fluidoterapia de perdas contínuas é dependente das possíveis perdas extraordinárias que o animal possa vir a ter. Os dois principais fatores envolvidos neste tópico são a diarreia e o vômito. Para pequenos animais, deve-se adicionar ao volume de fluido diário uma taxa de 10-20 ml/kg (diarreia) e 2-5 ml/kg (vômitos). Alguns autores recomendam a adição de até 50 ml/kg/dia. Para equinos, estas perdas podem chegar a 200 ml/kg/dia em casos de diarreias severas. Este esquema de perdas contínuas deve ser mantido até a interrupção dos sinais clínicos. TEMPO DE INFUSÃO A infusão intravenosa contínua (24 h/dia) é sempre mais recomendada, entretanto, por motivos operacionais sabe-se que nem sempre esta proposta é viável. Deve-se optar por um tempo de infusão o maior possível para evitar o aparecimento de hipertensão e posterior colapso circulatório, ou mesmo a instauração de um desequilíbrio eletrolítico iatrogênico. CÁLCULO DA INFUSÃO Após a determinação do volume de fluido a ser administrado diariamente e a escolha adequada do mesmo e o tempo de fluidoterapia, deve-se calcular o número de gotas a ser dado por minuto (gpm). O sistema de infusão contém o frasco do fluido, o equipo (com câmara gotejadora, mangueira de condução, válvula e manguito de inoculação) e o cateter. Cada câmara gotejadora possui um diâmetro próprio que determina o número de gotas por mililitro (gpml). Desta maneira, 1 ml em equipos macrogotas equivalem a 20 gts, e 1 mL em equipos microgotas equivalem a 60 gotas. LIMIAR RENAL FISIOLÓGICO Um fator de grande importância diz respeito ao limiar renal fisiológico (volume máximo de excreção renal), que deve ser respeitado. Em cães e gatos, este limiar situa-se por volta de 10 ml/kg/hora. LRM = (peso do animal, em kg) x (10 ml/h) Qualquer acréscimo ao volume a ser excretado pelos rins pode resultar em edema e/ou distúrbios hidroeletrolíticos graves. FLUIDOTERAPIA ORAL IMPORTÂNCI A CLÍNICA A prática da fluidoterapia oral (FO) é muitas vezes subestimada em medicina veterinária, apesar do seu amplo uso em pediatria humana. Esta via é a mais segura de todas não causando efeitos deletérios significativos caso ocorram falhas na administração de soluções hidroeletrolíticas diversas. Além disso, é a única via em que as necessidades calóricas podem ser totalmente supridas. Apesar das inúmeras vantagens apontadas na adoção da FO, ainda não existem dados exatos sobre as concentrações dos fluidos a serem utilizados. FATORES DE INTERFERÊNCIA Uma preocupação constante da FO diz respeito à integridade das vilosidades intestinais, já que esta região é responsável pela absorção de eletrólitos e água. Se o animal apresenta um quadro de diarreia aguda, com posterior destruição parcial do epitélio intestinal, a FO pode não ser tão útil quanto outras vias de administração de fluidos. Outro motivo que prejudica a eficácia da FO é o efeito lento, já que a absorção não se faz tão rapidamente como por outras vias. O vômito interfere parcialmente na eficácia da FO, pois um desequilíbrio hidroeletrolítico se instala rapidamente. SOLUÇÕES PARA REPOSI ÇÃO ORAL As soluções de fluidoterapia oral (SFO) devem conter uma fonte de carboidrato (glicose, frutose), eletrólitos (sódio, potássio, cloro), aminoácidos (glicina) e, ocasionalmente, agentes alcalinizantes (bicarbonato de sódio, citrato de sódio, lactato, acetato). A razão pela qual esta mistura deve possuir todos estes elementos fundamenta-se no fato de que há um fenômeno de transporte conjunto entre o sódio, o carboidrato e o aminoácido. A absorção deste complexo se faz rapidamente por via oral. A água também é absorvida por gradiente osmótico. As SFO são classificadas em: Soluções contendo bicarbonato e que não requerem metabolismo tissular; Soluções contendo bases (sais de lactato e acetato) que requerem metabolismo tissular; Soluções que não contém agentes alcalinizantes. As SFO para uso humano não estão indicadas para a utilização em pequenos animais, pois contém carboidratos em excesso e baixa concentração de sódio. Estas soluções hipertônicas levam à destruição da mucosa jejunal, diarreia osmótica e posterior hipernatremia. UTI LI ZAÇÃO DA FO EM PEQUENOS ANIMAIS A FO em pequenos animais deve ser realizada seguindo alguns critérios básicos. Casos graves de diarreia e vômito não devem ser manejados por meio da FO, mas sim com infusão intravenosa/intraóssea. Ao iniciar a FO, deve-se suspender a alimentação do animal para evitar a formação de um gradiente osmótico reverso no lúmen intestinal (48 a 72 horas de jejum alimentar são suficientes). A administração do fluido deve ser feita preferencialmente ad libitum, porém na maioria dos casos é necessário o uso de uma sonda ou seringa adaptada. A dose preconizada é de 150 ml/kg/dia, fornecendo o fluido por um período mínimo de quatro a seis horas por dia. Após a obtenção do aspecto normal das fezes, uma dieta leve deve ser fornecida. Esta dieta pode ser constituída por legumes, verduras, arroz cozido (sem tempero nem óleo) ou alimento comercial para bebês. UTI LI ZAÇÃO DE FO EM BEZERROS Em bezerros, a FO vem assumindo um papel importante na reidratação. Nestes animais, a morte pela diarreia tem sido atribuída à desidratação, às perdas eletrolíticas e ao déficit energético. Bezerros que não possuem um grau de desidratação estimado maior que 8% são pacientes eletivos para a FO. Esta prática possibilita ainda uma correta administração de K+, podendo ser utilizada por leigos sem risco potencial para o animal. As SFO utilizadas devem possuir um agente alcalinizante, já que se torna preponderante a reversão rápida da grave acidose instalada. A administração das SFO em bezerros deve seguir os mesmos requisitos preconizados para pequenos animais, porém a dose deve situar-se entre 30 e 40 ml/kg/ três vezes ao dia, contendo 60 a 70 g/l de glicose. Para muitos pesquisadores, a administração conjunta de SFO bicabornatadas e leite (ou seus derivados) é prejudicial pois impede a formação do coágulo de caseína gerando diarreia osmótica. Isto ocorre devido ao bloqueio da ação da renina em ambiente alcalino. A solução, então, é a utilização de SFO acrescidas de precursores do bicarbonato (lactato). Além disso o leite administrado em conjunto com as SFO apresentará uma diluição do Ca2+ no abomaso, também interferindo na coagulação láctea. Desta maneira, ao iniciar a FO, o leite será substituído integralmente pelas SFO por um período máximo de 72 horas. Em seguida, mesmo se a diarreia persistir, deve-se retornar com o leite (este procedimento impedirá que haja atrofia das vilosidades intestinais e consequente síndrome calórico-protéica gastrointestinal). Outra alternativa é a administração das SFO cerca de duas a três horas após o fornecimento do leite ou derivados, evitando, assim, interferências na coagulação láctea e na concentração abomasal final do íon cálcio. UTI LI ZAÇÃO DE FO EM EQUINOS Da mesma forma que ocorre em outras espécies animais, aFO em equinos é pouco utilizada. As diarreias crônicas em potros podem ser razoavelmente controladas por meio do fornecimento de bicarbonato de sódio e cloreto de potássio dissolvidos na água do bebedouro. Em animais adultos, caso não haja a ingestão voluntária das SFO, pode-se utilizar do artifício de uma sonda nasogástrica. A adição de glicina e glicose às SFO favorece a absorção de sódio, como foi comentado anteriormente. A taxa de administração via sonda nasogástrica gira em torno de cinco litros a cada três horas, ou 10-200 ml/kg/dia de água concentração abomasal final do íon. RAPHAELA BARBOSA @VETRAPHASTUDIES FUNÇÕES DINÂMICA DA ÁGUA CORPORAL Distribuição da água corporal: Perda de água: Necessidades diárias de água: Tipos de desidratação: EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁSICO Distribuição de eletrólitos e tampões: Acidoses: Alcaloses: TIPOS DE FLUIDOS MAIS UTILIZADOS Fluidos de manutenção: Solução isotônica de cloreto de sódio: Solução de Ringer: Solução de Ringer-lactato: Soluções glicosadas: Solução glicofisiológica: APLICAÇÕES PRÁTICAS DE FLUIDOTERAPIA Esquema fluidoterápico básico Fluidoterapia de reposição: Fluidoterapia de manutenção: Fluidoterapia de manutenção: Fluidoterapia de perdas contínuas: Tempo de infusão CÁLCULO da infusão Limiar renal fisiológico FLUIDOTERAPIA ORAL IMPORTÂNCIA CLÍNICA FATORES DE INTERFERÊNCIA SOLUÇÕES PARA REPOSIÇÃO ORAL UTILIZAÇÃO DA FO EM PEQUENOS ANIMAIS UTILIZAÇÃO DE FO EM BEZERROS UTILIZAÇÃO DE FO EM EQUINOS