Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 1/16 Unidade 1 - Ensinando a arte de questionar Paola Lemes Iniciar Introdução Vivemos numa sociedade onde a in�uência da tecnologia, como fruto do desenvolvimento cientí�co, aumenta a cada dia. A existência de cidadãos críticos depende essencialmente da inclusão do saber cientí�co em sua formação. O ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental manifesta-se com o intuito de apresentar a Ciência como conhecimento que colabora na compreensão do mundo e suas transformações, colocando o ser humano como sujeito que busca compreender e atua no universo. Qual é, a�nal, a importância dos conhecimentos cientí�cos na vida dos educandos? Como introduzir “complexos” conhecimentos cientí�cos para crianças em formação? São perguntas que não possuem uma resposta imediata. Como veremos, o conhecimento é uma construção. Nesta unidade serão apresentadas algumas re�exões que podem auxiliar na construção destas respostas. Inicialmente serão apresentados tópicos importantes sobre a didática do ensino de Ciências Naturais no ensino fundamental e a importância de uma abordagem histórica e interdisciplinar, com base na legislação educacional vigente. Em seguida faremos uma viagem pela revolução cientí�ca dos últimos cinco séculos, analisando a ciência moderna com base no método cientí�co, sua história e importância na atualidade. Prosseguiremos fazendo uma re�exão 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 2/16 1. Introdução à metodologia do ensino de ciências naturais na educação básica Compreender o processo de ensino-aprendizagem de Ciências Naturais, assim como em qualquer outra disciplina, é uma tarefa que exige a construção de uma estrutura que possibilite uma aprendizagem signi�cativa para o aluno. Durante esta etapa da educação básica serão introduzidos os conhecimentos historicamente acumulados sobre a área, fundamentando a concepção pelo aluno do que é Ciência e quais são suas relações com a sociedade na qual está inserido. Assim, é necessário entender como se organiza a construção do conhecimento do aluno e, também, da própria ciência. É preciso considerar tanto o arcabouço de conhecimentos adquiridos pela vivência dos estudantes quanto a estrutura do conhecimento cientí�co e seu processo histórico de construção. As diferentes áreas da Ciência moderna (Biologia, Física, Química, Astronomia e Geociências) são norteadas por rigorosos métodos, muito bem estruturados, e que fogem à alçada do raciocínio de um aluno em formação inicial. Considerar a mesma estrutura e complexidade das teorias cientí�cas para direcionar o ensino e aprendizagem de Ciências Naturais no ensino fundamental é um equívoco. Processo ensino-aprendizagem é diferente de método cientí�co. Pesquisas mostram que, muitas vezes, as intuições / percepções dos alunos sobre os fenômenos do meio ambiente que os circunda se assemelham às concepções antigas sobre o mundo, anteriores ao surgimento do método cientí�co e da ciência moderna e que são também aprendidas na escola. Por exemplo, é comum que alunos dos anos iniciais do ensino fundamental possuam uma percepção geocentrista semelhante à de �lósofos gregos como Platão (427 – 347 a.C.), ou seja, acreditem que a Terra encontra-se parada e que os demais sobre o que é ciência e qual seu papel na sociedade e encerraremos esta unidade com a apresentação do histórico do ensino de Ciências Naturais no Brasil. Ao longo do texto serão apresentadas sugestões de leitura, curiosidades e indicações de materiais que podem ser trabalhados em sala de aula com seus futuros alunos. Faça anotações, pense de maneira inovadora e não se limite ao material sugerido, sempre atentando-se à con�abilidade das fontes utilizadas. É fundamental o exercício do pensamento plural e crítico para incrementar seus conhecimentos. Vamos juntos? Bons estudos! 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 3/16 corpos celestes movem-se ao seu redor. Esta percepção é compreensível, uma vez que é o que se deduz com a mera observação do céu. Você quer ler? Indicamos como sugestão de aprofundamento nesta temática o livro didático Fisicante, a Física atuante, de Guilherme Bondezan, Jean Galvani e Rafael Mancini. Você poderá acessá-lo no link a seguir: < https://edisciplinas.usp.br/plugin�le.php/324045/mod_resource/content/1/ Material%20Did%C3%A1tico%20-%20Guilherme%2C%20Jean%20e%20Rafael.pdf >. As concepções dos alunos acerca dos fenômenos naturais e dos modos de transformar o meio são carregadas de elementos de sua vivência e cultura e devem ser consideradas. Cabe ao professor o papel de auxiliar a ressigni�car estas concepções, construindo um repertório de imagens, evidências e conceitos com os quais as ideias prévias dos alunos devem ser comparadas e articuladas. Os alunos são convidados a confrontar suas ideias com outras explicações, percebendo seus limites e a necessidade de extrapolar seu senso comum. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/324045/mod_resource/content/1/Material%20Did%C3%A1tico%20-%20Guilherme%2C%20Jean%20e%20Rafael.pdf 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 4/16 Figura 1- Cometographia de Heveliu, 1668. Um encontro mítico de mentes - Aristóteles, Hevelius e Kepler discutindo sobre órbitas de cometas. Fonte: MAA. Portanto, a apresentação de teorias cientí�cas simpli�cadas aos alunos, como aquelas relacionadas à descrição e entendimento do universo (movimento dos corpos celestes, estações do ano, etc), claramente salvaguardando a adaptação na linguagem a ser usada, é extremamente importante, pois estas teorias apresentam modelos lógicos e de raciocínio que funcionam como objetos de estudo. Considerando o seu próprio mundo comparado com as teorias de outrora, os alunos se apropriam do conhecimento cientí�co e do seu caráter interdisciplinar, tornando-se sujeitos de sua aprendizagem. Outra abordagem extremamente importante e que deve direcionar o ensino é a História da Ciência. Uma análise historiográ�ca adequada auxilia no entendimento da Ciência como uma construção humana, contextualizando a história e a descoberta das relações entre o ser humano e o seu próprio corpo, o meio ambiente e o os recursos naturais. É importante que o professor internalize e reforce sempre que possível o caráter interdisciplinar do processo ensino-aprendizagem, uma vez que é comum o questionamento pelos alunos sobre a “utilidade” de determinadas disciplinas (como, por exemplo, a importância da História em uma aula de Ciências). 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 5/16 Nos anos iniciais do ensino fundamental podem ser utilizadas, como estratégias de introdução da dimensão histórica, a apresentação de relatos sobre o surgimento de teorias, leis e invenções. A história da revolução trazida pela introdução do método cientí�co é abordada com maior profundidade nas séries �nais do ensino fundamental. Você quer ler? Alfabetização cientí�ca, literatura para crianças com introdução de conhecimentos cientí�cos. Sugestão: Livro “Isaac Newton e sua Maçã”, autoria de Kjartan Poskitt, da série “Mortos de Fama”. Trechos disponíveis em: < https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/11370.pdf >. Figura 2 - Isaac Newton e sua maçã. Livro Infantil. Fonte: Não Informada. A abordagem histórica é essencial para o estabelecimento de relações entre o que era senso comum ou de conhecimento popular até um determinado momento, e o impacto de novas descobertas e conceitos. A de�nição e a identi�cação de contrapontos entre os diferentes universos de conhecimento fundamentam a estruturação do pensamento, em especial do pensamento cientí�co. 1.1. Ciência e interdisciplinaridade https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/11370.pdf04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 6/16 A �uidez da sociedade atual, onde uma inovação tecnológica surge a cada minuto, exige de nós, cidadãos, um conhecimento plural e mutável. Uma das habilidades do futuro mais discutidas atualmente entre os estudiosos, além das tradicionais como criatividade, capacidade de negociação e inteligência emocional, é a �exibilidade cognitiva, ou seja, a capacidade de aprender, desconstruir e reaprender. Necessidade que colide com o fragmentado ensino tradicional, no qual as disciplinas são ensinadas de maneira isolada, sem estabelecer relações entre si mesmas e, muitas vezes, sem relações entre si e o mundo real fora dos muros da escola. Esta desconexão torna o ensino maçante e provoca o desinteresse dos estudantes, di�cultando o andamento do processo ensino-aprendizagem. Neste contexto, a interdisciplinaridade surge como alternativa promissora, sendo discutida no contexto educacional do Brasil desde a década de 70 (Japiassu, 1976) e intensi�cando seus debates na década de 90, com a publicação de documentos direcionadores pelo Ministério da Educação, como a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental da Área de Ciências Naturais (Brasil, 1998). A interdisciplinaridade é considerada, na literatura, um conceito com muitos signi�cados, porém há um consenso entre os estudiosos quanto à sua característica de desfragmentar o conhecimento, fazer com que as diferentes disciplinas conversem entre si e que haja contextualização dos conteúdos. Facilita que os conteúdos sejam relacionados e aplicados a problemas reais, tornando o aprendizado mais signi�cativo. Existe a demanda pela legislação, os debates sobre o tema são acalorados há anos. O que impede a sua implantação / popularização? Em primeiro lugar é necessária a mudança de um paradigma, a superação de uma prática de ensino conteudista já instaurada, em que se valoriza a quantidade em detrimento da qualidade. O professor é um mero transmissor e o aluno um receptor de informações. O modelo de ensino tradicional é baseado na repetição e memorização de conteúdos que não se articulam. Nossos alunos mudaram, assim como o mercado de trabalho para o qual estão sendo preparados. É papel do professor em conjunto com as instituições de ensino e as famílias, capacitar os alunos para as novas demandas do futuro. A interdisciplinaridade é uma das ferramentas para romper as barreiras do ensino tradicional. Você quer ver? Sugestão de �lme / documentário: “Quando sinto que já sei”. Documentário explora dez iniciativas alternativas ao sistema de ensino convencional. Direção de Anderson 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 7/16 Limas, Antonio Lovato e Raul Perez; 2014. Porém, modernizar o sistema de ensino e adequá-lo às novas demandas não é uma tarefa fácil. Cursos de formação dos professores ainda estão se adaptando, a interdisciplinaridade está sendo inserida aos poucos também no sistema de ensino superior, consequentemente muitos educadores ainda carregam antigos paradigmas para a sala de aula. É importante ressaltar também que ainda há uma enorme cobrança por grande parte da população em manter o sistema tradicional de ensino, muitas vezes, partindo dos pais e dos próprios alunos. Especialmente nos ciclos �nais da educação básica, quando já estão habituados ao modo de pensar tradicional, e suas preocupações se limitam a notas, provas e concursos vestibulares, os quais ironicamente cobram conteúdos interdisciplinares. Neste contexto �ca clara a necessidade de abordar as disciplinas de maneira interdisciplinar desde os anos iniciais do ensino fundamental. Mas como fazer isso? Algumas alternativas são o uso de metodologias ativas (leia mais sobre o assunto no link sugerido abaixo!), como o desenvolvimento de projetos em conjunto com os professores de outras áreas. Para tanto, é necessário que a equipe de professores da instituição seja unida e esteja sincronizada a respeito dos conteúdos trabalhados. É perfeitamente possível que conteúdos da disciplina de Ciências Naturais, como por exemplo, ser humano e saúde, sejam trabalhados em conjunto com as disciplinas de História, Geogra�a e até mesmo Português ou Literatura. Neste aspecto destaca-se a importância do papel dos gestores (coordenadores pedagógicos, diretores, etc.) no direcionamento do trabalho da equipe. Você quer ler? A seguir você poderá acessar um material a respeito de novas tendências na área educacional: Metodologias Ativas de Aprendizagem. Disponível em: < https://sambatech.com/blog/cat-ead/metodologias-ativas-de-aprendizagem/ >. 2. Revolução científica https://sambatech.com/blog/cat-ead/metodologias-ativas-de-aprendizagem/ 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 8/16 Durante os últimos quinhentos anos, a humanidade presenciou um crescimento e um aumento de poder fenomenais. Desde o ano 1500, a população humana aumentou 14 vezes (de 500 milhões de Homo sapiens para cerca de 7 bilhões nos dias atuais), o valor total dos bens e serviços produzidos pela humanidade aumentou 240 vezes e o consumo de calorias consumidas diariamente aumentou 115 vezes. Estes números representam um crescimento sem precedentes na história da humanidade. Ao longo deste período tomamos a superfície terrestre com veículos cada vez mais velozes. Conquistamos o céu com aviões e jatos, podendo circum-navegar a Terra com segurança em cerca de 48 horas. Chegamos até a Lua. O processo histórico que levou a humanidade a adquirir tais capacidades é conhecido como Revolução Cientí�ca. A Revolução Cientí�ca representou a transformação do pensamento baseado nas tradições de conhecimento pré-modernas (islamismo, cristianismo, budismo, confucionismo; as quais asseguravam que todo o conhecimento sobre o mundo já estava revelado nos textos sagrados antigos) para a ciência moderna, devido a um aspecto crucial: o método cientí�co. Embora a complexidade da Ciência não permita a utilização de um método único, a estruturação do conhecimento cientí�co atende a algumas premissas cruciais: em primeiro lugar a capacidade de admitir que não há verdade absoluta , nenhum conceito, ideia ou teoria é sagrado e inquestionável; em segundo lugar, a importância de fazer observações e então usar de ferramentas matemáticas para relacioná-las em teorias ; e em terceiro lugar, a usar as teorias para a aquisição de novas capacidades e geração de recursos (HARARI, 2016). 2.1. Metodologia científica e método científico Faz parte do senso comum crer que o conhecimento fornecido pela Ciência é superior, ou mais con�ável que os demais tipos de conhecimento, como alguns saberes tradicionais, por exemplo. Dessa a�rmação podemos extrair algumas indagações: Para você, o que é conhecimento con�ável? Como obter conhecimento con�ável? O método cientí�co é garantia su�ciente? São questionamentos bastante complexos. Sabemos que o conhecimento cientí�co, como construção humana, não é neutro e está sujeito às suas subjetividades. O estabelecimento do método é uma forma de retirar a subjetividade das teorias cientí�cas e conferi-las certo grau de con�abilidade (Vicente, 2008). Como veremos mais adiante, considera-se o nascimento do pensamento cientí�co na Grécia Antiga, mesmo que o nome “Ciência” ainda não fosse utilizado. Entretanto, apenas após mais de um milênio, por volta do século XVII, os �lósofos começaram a se preocupar em aplicar um método à Ciência, em um novo ramo da �loso�a denominado Filoso�a da Ciência. Podemos dizer que os �lósofos somente chegaram a conclusões minimamente satisfatórias sobre o método cientí�co no século XX. 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 9/16 Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.) pode ser consideradoum dos primeiros �lósofos naturais, organizando o conhecimento em três categorias (para saber mais, pesquise sobre a tripartição aristotélica do conhecimento ), que podem ser representadas simpli�cadamente e com adaptações da seguinte maneira: (i) o conhecimento pela experiência sensorial direta, informa apenas acerca do que é; (ii) o conhecimento técnico dos objetos e fenômenos, engloba a questão do como é; e (iii) o conhecimento teórico, busca responder a questão do por que é, investigando as causas dos fenômenos. Desde então, a Ciência passou por muitas revoluções, as quais não fazem parte do escopo da nossa discussão neste momento. Em meados do século XVII, preocupados com a fundamentação das teorias cientí�cas alguns �lósofos como René Descartes (1596 – 1650), Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716) e Immanuel Kant (1724 – 1804) dedicaram-se ao que hoje conhecemos como Filoso�a Racionalista, a qual buscava uma fundamentação da Ciência exclusivamente no âmbito do pensamento. Contrapondo-se a um outro movimento bastante importante, o empirismo que teve defensores �lósofos como John Locke (1632 – 1704), George Berkeley (1685 – 1753) e David Hume (1711 – 1776). 2.2. Método científico na modernidade Na concepção aristotélica, somente o terceiro tipo de conhecimento era considerado cientí�co. Atualmente, o segundo tipo de conhecimento também integra parte da Ciência, o que �ca bastante claro na explanação de dois tipos de teorias cientí�cas. As teorias que têm por objetivo exclusivamente a descrição de um fenômeno que pode ser observado empiricamente, ou seja, através de algum dos nossos sentidos, são chamadas de teorias fenomenológicas . Teorias fenomenológicas permitem fazer a predição de um fenômeno baseada na observação de outros. Por outro lado, as teorias que buscam explicações para os fenômenos, apontando suas causas, são chamadas de teorias explicativas ou construtivas . As teorias explicativas fazem proposições acerca de fenômenos que não podem ser observados diretamente por meio dos nossos sentidos (Chibeni, 2006). Estes dois tipos de teorias enfrentam um problema cientí�co clássico, conhecido como o problema da indução. Como as teorias cientí�cas podem ser fundamentadas e justi�cadas, uma vez que fazem proposições universais (às vezes até classi�cando-se como leis, que se referem a um universo inteiro de objetos), baseadas na experiência particular de um objeto individual? Em outras palavras, como generalizar uma suposição a partir de determinada observação particular? Que tipo de evidência pode assegurar a veracidade de tal suposição / a�rmação? 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 10/16 Figura 3 - Método cientí�co indutivo - dedutivo. Fonte: Chalmers, 1993. A resposta, caro leitor, pode parecer decepcionante a princípio: simplesmente não há meios racionais ou empíricos de assegurar, com certeza absoluta, a verdade do conhecimento cientí�co a partir de experimentos ou do raciocínio lógico. Aí está a grande magia da Ciência: a capacidade de admitir que “nós não sabemos”, e que todas as a�rmações universais a respeito da natureza são falíveis. Portanto, as teorias cientí�cas explicativas, como falado anteriormente, não podem ser observadas diretamente sendo então denominadas hipóteses , um conceito bastante importante na Ciência. Outro ponto relevante é que não há, por meio da investigação, maneiras de transformar uma hipótese cientí�ca em algo provado. Pois uma vez que fosse provada, deixaria de ser uma hipótese. Esta re�exão é extremamente importante, uma vez que juntamente com o problema da indução, fortalece a premissa de que conhecimento cientí�co não é conhecimento provado , mas sim provável . Ora, se não pode ser provado, no que então o conhecimento cientí�co difere dos demais? Por que o método cientí�co é considerado mais con�ável? Apesar de não poder ser empiricamente provadas, todas as hipóteses precisam ser submetidas a um teste, o teste de hipótese. O teste de hipótese tem por �nalidade veri�car a sua falseabilidade. Isso signi�ca que se as proposições da hipótese forem veri�cadas falsas por meio da experimentação, esta hipótese será obrigatoriamente descartada. Por outro lado, conjuntos de hipóteses ou teorias que possuam uma conexão lógica entre si, que possam ser comparados, e que têm suas proposições demonstradas prováveis por meios empíricos, tendem a ser consideradas aproximadamente verdadeiras, apesar de não poderem ser comprovadas. Você quer ler? No portal que te sugerimos a seguir você poderá ler a respeito de Karl Popper e Thomas Kuhn. Ler Reportagens da Revista Questão de Ciência, disponíveis em: < http://revistaquestaodeciencia.com.br/ >. http://revistaquestaodeciencia.com.br/ 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 11/16 Por �m, alguns elementos do método cientí�co que precisam ser atendidos para que uma teoria cientí�ca moderna seja considerada robusta incluem (i) a integração teórica, a qual diz respeito à conexão lógica entre as hipóteses envolvidas; (ii) a capacidade de predição de novos fenômenos; e (iii) a quantidade, a variedade e a precisão de evidências experimentais. Deste modo, ainda que não possa ser considerada verdade absoluta, pode ser considerada altamente provável, o que nos basta até o surgimento da próxima teoria. 3. O que é a ciência? O ser humano busca compreender e explicar o universo e os objetos ao seu redor pelo menos desde a Revolução Cognitiva (surgimento de novas formas de pensar e se comunicar dos Homo sapiens, entre 70 mil e 30 mil anos atrás). Podemos dizer que, inicialmente, este conhecimento primitivo foi motivado pela necessidade de controle dos fenômenos naturais visando apenas a sobrevivência biológica da espécie. Você quer ver? Para saber mais a respeito da Revolução Cognitiva, sugerimos o seguinte �lme documentário: A Caverna dos Sonhos Esquecidos (Cave of Forgotten Dreams) , de direção de Werner Herzog (2010). Outra fonte que lhe poderá ser muito útil é o livro de Richard Dawkins, A grande história da evolução . Porém, na Grécia Antiga (aproximadamente entre 400 a.C. e 300 a.C.), surgiu uma perspectiva cognitiva nova: a busca do conhecimento pelo conhecimento, não visando uma aplicação ou causa evidente e imediata, mas sim a mera curiosidade intelectual. Os adeptos a essa busca do saber puramente pelo saber foram chamados de �lósofos . O que hoje conhecemos como “Ciência”, até o século XIX era conhecido como “Filoso�a Natural”. No signi�cado original, o termo “Ciência” indica o modelo de excelência máxima do conhecimento humano, o entendimento completo da realidade de um determinado assunto ou objeto, que é, diga-se de passagem, um ideal tremendamente desa�ador. 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 12/16 Saiba mais A etimologia das palavras Filoso�a / Philosophia vem do grego, em que: philos ou philia , que signi�ca amor; e sophia , que signi�ca conhecimento ou sabedoria, ou seja, amor ao conhecimento. Já as palavras Ciência / Scientia vem do latim, derivada do verbo scire , que signi�ca saber, conhecimento. Entretanto, este ideal de entendimento pleno sobre os objetos que foi aceito pelos �lósofos por centenas de anos, somente começou a ser questionado e considerado alto demais em meados do século XVII, em parte devido às discussões sobre o método cientí�co, conforme falado no capítulo anterior. Nesta época, os avanços no conhecimento levaram a uma grande especialização e a uma consequente fragmentação do tronco comum da �loso�a (que englobava praticamente todas as áreas do saber) no aglomerado de campos que hoje conhecemos como Ciência (Física, Química, Biologia, Astronomia e Geociências). 3.1. Impactos da fragmentação da ciência na sociedade moderna A fragmentação da Ciência sofreu in�uência da �loso�a racionalista e mecanicista de Descartes,que, ao propor o problema do conhecimento, determinou dois campos de conhecimento separados: o sujeito e o objeto. Descartes também baseou sua concepção da natureza na divisão de dois domínios distintos, o da mente e o da matéria. Esta separação teve consequências diretas nos processos de aquisição, construção e disseminação do conhecimento. Segundo Maria Cândida Moraes (2000, s/p): A fantasia da separatividade corpo-mente teve profundas in�uências na educação e no desenvolvimento das disciplinas curriculares, e a estruturação do currículo escolar em disciplinas decorre da in�uência que o pensamento cartesiano teve no desenvolvimento do conhecimento cientí�co. A formação de um currículo separado em disciplinas foi impulsionada também pela política de fragmentação do processo de produção industrial ocorrida no �nal do século XIX. A industrialização ocorrida nos países europeus no século XIX, como um dos resultados dos avanços cientí�cos, gerou a necessidade de especialização dos saberes atrelados à separação do processo de produção, o que também in�uenciou a fragmentação do conhecimento escolar. Manifestando-se na separação das disciplinas, um modelo de currículo que frequentemente gera di�culdades de aprendizagem. 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 13/16 4. Metodologia de ciências naturais Como já foi discutido nos capítulos anteriores, o percurso das Ciências Naturais tem rupturas e revoluções e delas depende. Estas revoluções permitem que concepções e teorias obsoletas ou incorretas sejam abandonadas em favor de novas convicções. São traços gerais da metodologia das Ciências Naturais buscar compreender a natureza, gerar representações do mundo — como se entende o universo, o espaço, o tempo, a matéria, o ser humano, a vida —, descobrir e explicar novos fenômenos naturais, organizar e sintetizar o conhecimento em teorias, trabalhadas e debatidas pela comunidade cientí�ca, que também se ocupa da difusão social do conhecimento produzido. 4.1. Histórico do ensino de ciências naturais O histórico do ensino de Ciências Naturais no Brasil, ainda que curto, pode ser dividido em duas etapas. A primeira etapa vai até o ano de 1961, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61). Até então, as aulas de Ciências Naturais eram ministradas apenas para as duas últimas séries do extinto curso ginasial. A promulgação da LDBN estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina a todas as séries ginasiais e somente dez anos depois, em 1971, com a promulgação de uma nova lei que �xava as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus o ensino de Ciências Naturais passou a ter caráter obrigatório nas oito séries do primeiro grau. A partir da promulgação da LDBN houve uma preocupação na adequação do currículo para atendimento das demandas geradas pelo avanço do conhecimento cientí�co, que até então ainda era considerado neutro e inquestionável. Esta tendência iniciou uma mudança de eixo, valorizando a participação ativa do aluno no processo ensino aprendizagem. A partir dos anos 70 questionou-se tanto a abordagem quanto a organização dos conteúdos. Começou-se a valorizar o papel das atividades práticas na compreensão dos conceitos, as quais chegaram a ser consideradas como elemento potencialmente solucionador do ensino de Ciências. Era clara a ênfase na redescoberta, pelos alunos, do método cientí�co. Isto levou a confusão de de�nições entre metodologia cientí�ca e metodologia do ensino de Ciências. Somente na década de 80 pesquisadores começaram a fazer questionamentos sobre a e�cácia deste modelo empiricista de ensino, mudança de paradigma que foi, de certa forma, auxiliada pela crise econômica mundial que ocorreu nos 70. Apareceram então nos currículos pela primeira vez a preocupação com a saúde e com o meio ambiente. 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 14/16 Também na década de 80 surgiu o movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), que é importante até os dias atuais. A produção de programas pela justaposição de conteúdos de Biologia, Física, Química e Geociências começou a dar lugar a um ensino que integrasse os diferentes conteúdos, buscando-se um caráter interdisciplinar, o que tem representado importante desa�o para a didática da área. Nos anos 90, iniciaram-se as discussões sobre a implantação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e intensi�caram-se as discussões sobre interdisciplinaridade com a publicação da Nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental da Área de Ciências Naturais (1998). Conforme de�nido na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a BNCC deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 4.2. Prática de ensino de ciências naturais O tema da Prática de Ensino e da experimentação em Ciências Naturais é discutido há bastante tempo. Há vantagens e críticas sendo apontadas. Vantagens que enfatizam o papel crucial da experiência na aprendizagem de ciências e críticas a ênfase empírica que dominou a concepção do ensino de Ciências no Brasil desde os anos 70. Pontos como o confronto de hipóteses dos alunos com as evidências experimentais bem como a presença ou ausência de laboratório nos estabelecimentos de ensino têm sido levantados pelos estudiosos. Porém é necessário ressaltar a importância da inclusão de elementos da vivência cotidiana dos alunos também nas práticas de ensino. Envolver os alunos em projetos ligados à sua realidade auxilia na resolução de problemas concretos, trazendo propósito a aula prática. 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 15/16 Você quer ler? Sugerimos para o aprofundamento nestes conhecimentos a leitura do seguinte artigo: A prática de ensino nas licenciaturas e a pesquisa em ensino de ciências: questões atuais. Martha Marandino, 2003. Disponível em: < https://periodicos.ufsc.br/index.php/�sica/article/download/6544/6034 >. Síntese Nesta unidade foram apresentados os conceitos básicos que direcionam o ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ademais, trouxe conteúdos que possibilitam uma introdução ao conhecimento de questões importantes da Natureza e Filoso�a da Ciência. Ao �nal desta unidade você deverá ser capaz de: ● Entender a importância de uma visão sistêmica e holística da Ciência baseada na interdisciplinaridade; ● Conhecer o nascimento do pensamento cientí�co; ● Discutir as consequências do pensamento cientí�co fragmentado para a sociedade; ● Discutir o signi�cado da ciência e do pensamento cientí�co; ● Analisar o método cientí�co; ● Compreender as mudanças do ensino de ciências conforme o contexto social; ● Discutir a importância de ensino de ciências para a construção da sociedade. Na próxima unidade trabalharemos aspectos referentes ao ensino da Natureza e Sociedade na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Até lá! Download do PDF da unidade Bibliografia https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/download/6544/6034 04/05/2022 09:22 SU-BL2-EDU_MEPCIN_19_E_1 https://ambienteacademico.com.br/course/view.php?id=12367 16/16 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais . Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC/SEF, 1997. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro04.pdf >. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil . Brasília. MEC/SEF, 1998. v.3. p.163-204. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf >. CHALMERS, A. F. O que é Ciência a�nal? . Editora Brasiliense, 1993. p.23-187. Disponível em: < http://www.nelsonreyes.com.br/A.F.Chalmers_-_O_que_e_ciencia_a�nal.pdf >. PHILLIPI JUNIOR, Arlindo. Educação ambiental e sustentabilidade . Barueri, SP: Manole, 2014. MARANDINO, Martha. A prática de ensino nas licenciaturas e a pesquisa em ensino de ciências: questões atuais . Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 20, n. 2, p. 168-193, 2003. MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente . 5. ed. Campinas: Papirus, 2000. Referências imagéticas: Figura 1 - MAA. Mathematical Treasure: Astronomy of Hevelius. Disponível em: < https://www.maa.org/press/periodicals/convergence/mathematical-treasure-astronomy-of- hevelius-and-hevelius >. Acesso em: 10 jul. 2019. Figura 2 - AMAZON. Isaac Newton e sua maçã - Mortos de Fama. Disponível em: < https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51YW- KMZhhL._SX323_BO1,204,203,200_.jpg >. Acesso em: 10 jul. 2019. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro04.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf http://www.nelsonreyes.com.br/A.F.Chalmers_-_O_que_e_ciencia_afinal.pdf https://www.maa.org/press/periodicals/convergence/mathematical-treasure-astronomy-of-hevelius-and-hevelius https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51YW-KMZhhL._SX323_BO1,204,203,200_.jpg
Compartilhar