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Victoria Chagas Endocrinologia DIABETES MELITUS − O diabetes melito (DM) representa um grupo de doenças metabólicas, com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de insulina, resistência periférica a insulina ou ambas. − As duas principais etiologias são o DM tipo 2 (90 a 95% dos casos) e o tipo 1 (5-10% dos casos) − A hiperglicemia crônica do diabetes frequentemente está associada a dano, disfunção e insuficiência de vários órgãos, principalmente olhos, rins, coração e vasos sanguíneos. ➢ ETIOLOGIA DAS DM ▪ LADA – latente autoimune diabetes of adults - Forma de diabetes autoimune em que a velocidade de destruição das células β é mais lenta do que a DM1, manifestando entre 30 a 50 anos de idade, podendo ocorrer mais cedo ou mais tarde - Geralmente são diagnosticados como DM 2, dos quais se diferenciam pela presença de anti-GAD65, ICA e pelos níveis de peptídeo C (geralmente estão baixos no LADA, diferentemente da DM2) - Comparados ainda a DM2, pacientes tendem a ser mais jovens, IMC mais baixo, menor prevalência de síndromes metabólicas e necessidade mais precoce de insulinoterapia “é como se fosse o tipo 1, mas em adultos” - Critério diagnósticos incluem: o Idade do diagnóstico entre 25 a 65 anos o Ausência de cetoacidose (CAD) ou hiperglicemia acentuada sintomática no dx ou imediatamente após, sem necessidade de insulina por pelo menos 6 a 12 meses (diferencia da DM1 do adulto) o Existência de autoanticorpos, especialmente anti-GAD65 (diferencia do DM2) ▪ MODY - maturity onset diabetes of the young - O MODY é definido como um diabetes familiar com idade de diagnóstico e modo de transmissão autossômico dominante (monogênico), associado a defeitos na secreção de insulina. - Tipicamente se manifesta na infância ou adultos jovens e é diagnosticado em indivíduos com idade < 25 anos. - Há atualmente 6 subtipos de MODY, sendo que maioria dos pacientes com MODY tem peso normal DM TIPO 1 DM TIPO 2 Início Infância e adolescência > 40 anos Fisiopato Falta insulina Resistência à insulina Frequência 5 – 10 % 90 – 95% Prevalência 0,1 a 0,3% 7,5% História familiar 5 a 10% 75 a 90% Associação com HLA Sim Não ICA/anti-GAD Geralmente presente Ausentes Peptídeo C sérico Baixo Normal ou elevado Obesidade Ocasional Frequente (80% obesos) Sintomas clássicos Quase sempre presente 50% são assintomáticos Risco de cetoacidose Alto Baixo Complicação + comum Cetoacidose diabética Síndrome hiperosmolar e hiperglicemia Tratamento medicamentoso inicial Insulina Hipoglicemiantes orais Victoria Chagas INSULINA − O pâncreas é uma glândula exócrina e endócrina mista que desempenha um papel fundamental na digestão e no metabolismo, na utilização e no armazenamento dos substratos energéticos. − Mergulhados no interior dos ácinos, encontram-se pequenos grupos altamente vascularizados de células endócrinas, denominados ilhotas de Langerhans (representa 1 a 2% da massa do pâncreas), nos quais predominam dois tipos de células endócrinas (β e α). − As células βeta representam a maior parte da massa total de células endócrinas, e seu principal produto é a insulina. − As células alfas constituem cerca de 20% das células endócrinas e são responsáveis pela secreção do glucagon. − Um pequeno número de células delta secreta somatostatina, e um número ainda menor de células secreta o polipeptídeo pancreático. − No interior das ilhotas exibe um padrão particular, com as células β localizadas centralmente, circundadas pelas células alfa e delta. ➢ SÍNTESE E SECREÇÃO DA INSULINA − A insulina é um hormônio ANABÓLICO → pega a glicose e transforma em glicogênio, gordura e proteína − Por outro lado, os hormônios “contrarreguladores da insulina” (glucagon, adrenalina, cortisol e, em menor grau, GH) exercem efeito oposto, mediando o catabolismo → transforma glicogênio, proteína e gordura em glicose − Assim, no período pós-prandial predominam as reações de anabolismo, por estímulo de elevados níveis séricos de insulina, ao passo que no jejum predominam as reações de catabolismo, movidas pela queda da insulina e aumento dos contrarreguladores, em particular o glucagon. o A pré-pró-insulina sofre modificação/clivagem no retículo endoplasmático (RE) para formar a pró-insulina. o A forma ativa da insulina é produzida por meio de modificação da pró-insulina o Tanto a insulina quanto o peptídeo C clivado são acondicionados em grânulos secretores − A glicose constitui o principal estímulo para a liberação de insulina pelas células b do pâncreas. Além disso, ela exerce um efeito permissivo para os outros moduladores da secreção da insulina. o A glicose penetra na célula b por meio de um transportador de glicose 2 (GLUT 2) ligado à membrana o Isso leva à geração de trifosfato de adenosina (ATP) o O aumento de ATP e ADP inibe os canais de K+ sensíveis ao ATP (KATP) na célula b, reduzindo, assim, o efluxo de K+. o O efluxo diminuído de K+ resulta em despolarização da membrana, ativação (abertura) dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem e aumento do influxo de Ca2+. o A elevação nas concentrações intracelulares de Ca2+ desencadeia a exocitose dos grânulos secretores de insulina, bem como sua liberação para espaço extracelular o Os outros fatores) que amplificam a liberação de insulina das células β em resposta à glicose incluem a acetilcolina, a colecistocinina, o peptídeo gastrintestinal, e o peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP 1). o A liberação de insulina em resposta à glicose é bifásica, com a rápida liberação inicial de insulina (5%) seguida da liberação mais sustentada dos grânulos (95%) o A 1ª fase ocorre em um período de alguns minutos, enquanto a 2ª se estende por uma hora ou mais. o A liberação de insulina durante o dia é de natureza pulsátil e rítmica Victoria Chagas − A liberação de insulina aumenta depois da refeição, em resposta a ↑ nos níveis de glicose e aminoácidos. − A insulina tem meia-vida de 3 a 8 minutos, e é degradada predominantemente pelo fígado − A exocitose do conteúdo dos grânulos secretores resulta na liberação de quantidades iguais de insulina e de peptídeo C na circulação porta do fígado → o peptídeo C não é prontamente degradado no fígado. Por isso, a meia-vida relativamente longa (35 minutos) faz sua liberação ser índice de capacidade secretora do pâncreas endócrino. ➢ EFEITOS FISIOLÓGICOS DA INSULINA − A insulina exerce uma ampla variedade de efeitos, que incluem imediatos (em questão de segundos), como a modulação do transporte de íons (K+) e de glicose na célula; precoces (em poucos minutos), como a regulação da atividade enzimática metabólica; moderados (em vários minutos a horas), como a modulação da síntese das enzimas, e tardios (em várias horas a dia), como os efeitos no crescimento e a diferenciação celular. − Assim, a insulina atua na entrada da glicose na célula, diferenciação celular, estímulo de mitose, imunidade. Se − bloqueie a ação da insulina por resistência à insulina, vai deixar de fazer alguma dessas funções e desviar para − outra, assim pode aumentar proliferação celular, por isso que paciente diabético tem maior risco de câncer − De modo global, as ações da insulina nos órgãos-alvo são anabólicas, promovendo a síntese de carboidratos, lipídeos e proteínas, sendo esses efeitos mediados pela ligação ao receptor → O receptor de insulina é um receptor de membrana glicoproteico heterotetramérico, composto de duas subunidades alfa e duas subunidades βligadas por pontes de dissulfeto. − Insulina + subunidades alfa = fosforilação das subunidades beta → ativação da tirosinocinase → fosforila outras enzimas como IRS (substrato do receptor de insulina) presentes nosdiferentes tecidos Victoria Chagas CLÍNICA DA DIABETES − Varia de acordo com tipo de DM, sendo que na DM2 50% são oligoassintomáticos ou assintomáticos, com sintomas mais inespecíficos, como tonturas, dificuldade visual, astenia e caibras. Vulvovaginites de repetição e disfunção erétil podem ser também, os sintomas inicias. − Sintomas clássicos causados pela hiperglicemia são os 4 p’s: o Poliúria (aumento do volume urinário) o Polidipsia (aumento da sede) o Polifagia (aumento da fome) o Perda ponderal − Esses sintomas ocorrem devido a maior concentração de glicose no sangue, que leva a uma maior passagem de água pra urina no rim que leva a desidratação e o aumento da sede. − Por outro lado, como as células não estão recebendo glicose, o corpo interpreta isso como estado de jejum levando ao aumento da fome e estimulação de hormônios contrainsulínicos que entre outras coisas, promovem a lipólise que leva a perda ponderal do paciente. DIAGNÓSTICO DA DIABETES − O DM deve sempre ser considerado em pacientes com os sintomas clássicos da doença (poliúria, polifagia, polidipsia e perda de peso), assim com queixas de vulvovaginite de repetição ou disfunção erétil. − Requer anamnese detalhada (como sintomas e fatores de risco) e exames laboratoriais (glicemia em jejum, TOTG, HbA1c) − Para fechar o dx temos que obter 2 exames alterado − A hiperglicemia inequívoca (GJ > 250 a 300 mg/dℓ) com descompensação metabólica aguda (como cetoacidose ou estado hiperosmolar não cetótico) ou sintomas óbvios de DM torna desnecessária repetir exame − Se não encontrarmos nada na avaliação do paciente, mas a suspeita ainda é forte, temos o exame de HOMA-E que vai fazer a dosagem da glicemia e níveis séricos de insulina no paciente, associa esses valores em fórmula– é caro e não tem no SUS − Caso 2 testes diferentes tenham sido solicitados ao mesmo tempo, e ambos sejam concordantes para o diagnóstico de diabetes, nenhum exame adicional é necessário − Lembrar que a dextro (glicemia capilar) não é usado para diagnóstico ➢ GLICEMIA EM JEJUM − Paciente em jejum por 8 horas e depois coletar amostra de sangue para avaliar nível de glicose ➢ TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA A GLICOSE (TOTG) − Realizado em 3 etapas: o Glicemia em jejum o Ingestão oral de 75g de glicose o Coleta de amostra após 2 horas para medir glicemia ➢ HEMOGLOBINA GLICADA (HbA1c) − Exame com menor sensibilidade, mas que reflete o controle glicêmico do paciente nos últimos 2 a 4 meses (devido tempo de meia vida das hemácias) − Parte da glicose circulante tende a associar com a hemoglobina, tornando-a glicada. Portanto, quanto maior o nível glicêmico, mais HbA1c − Atentar para fatores que modificam a A1C Victoria Chagas ➢ OUTROS EXAMES • Dosagem de peptídeo C - O peptídeo C é secretado na circulação em concentrações equimolares com a insulina → como ele não é degradado no fígado rapidamente como a insulina, é usado para avaliar se paciente produz ou não insulina (diferenciar DM1/DM2) - O método + utilizado é a determinação do PC basal e 6 minutos após a injeção intravenosa de 1 mg de glucagon. - Como ponto de corte para classificar os pacientes, deve ser considerado que níveis do PC > 0,9 ng/mℓ no basal e > 1,8 ng/mℓ após glucagon indicam reserva de insulina compatível com DM2. Valores inferiores confirmam o dx de DM1 - OBS: se dosa peptídeo C e tiver baixo faz TTO com insulina, já se estiver um pouco preservado pode ser candidato a terapia pra salvar as células (como uso de imunossupressores) • Dosagem de autoanticorpos contra células B - Autoanticorpos contra a célula beta são encontrados no DM1A e no LADA. - O autoanticorpo de maior utilidade é o antiGAD65, presente em cerca de 80% dos casos de DM1 de instalação recente e ainda é detectado em 50% dos pacientes após 10 anos de diagnóstico. - Os outros autoanticorpos (ICA, IAA, IA2 e antiZnt8A) são encontrados em cerca de 70 a 80% dos pacientes diabéticos tipo 1 logo após o diagnóstico, mas tendem a desaparecer após 2 a 3 anos de duração da doença • Frutosamina - A frutosamina é outra proteína glicosilada, constituída principalmente de albumina, que reflete os níveis glicêmicos nas últimas 1-2 semanas (2-3 conforme prof), já que a meia-vida da albumina é de 14 a 20 dias - A medida da frutosamina é um método alternativo para avaliar o controle glicêmico de pacientes que tenham condições que alterem os valores da A1C (alternativa para quem não pode fazer hemoglobina glicada) - Geralmente não é feito • Pesquisa de corpos cetônicos - A cetonúria, verificada por meio de fitas reagentes, associada à hiperglicemia, é característica da cetoacidose diabética (CAD), uma situação potencialmente grave que requer intervenção imediata. ➢ PRÉ-DIABETES − Existem pacientes pré-diabéticos, que têm glicemia alterada, mas ainda não preenchem critérios formais para o diagnóstico de DM. − Se glicemia de jejum alterada (entre 100- 125) temos que pedir o exame de TOTG que é mais sensível, para pesquisa de DM nesse paciente RASTREIO − O rastreio de acordo com as diretrizes atuais deve ser em pacientes com pelo menos 1 dos critérios: ▪ Idade >45 anos – se glicemia normal, repetir a cada 3 anos ou mais frequentemente se fator de risco associado ▪ Indivíduos <45 anos com Obesidade (IMC>25) + pelo menos 1 fator de risco adicional como sedentarismo, HMF em parentes de 1º grau, diabetes gestacional, hipertensão, dislipidemia, SOP, acantose... − Faz o rastreio de 3 em 3 anos se glicose normal − Se pré-diabético faz de 1 em 1 ano − Aceita-se a realização de rastreio do DM 1 somente em pacientes de alto risco (HMF em parentes de 1º grau) → método é a pesquisa dos autoanticorpos. − Caso esse screening seja positivo, até o momento a única recomendação é orientar o paciente quanto à possibilidade de surgimento da doença e o que fazer para levar um estilo de vida mais saudável. Não existem estratégias terapêuticas/preventivas comprovadas. Victoria Chagas ALVOS TERAPÊUTICOS DA DM − Manter a HbA1c <7% (devendo ser individualizado essa meta) → ex.: idosos e nefropatas pode ter uma meta <8% − Manter uma automonitorização (glicemia capilar) → nas 3 principais refeições (café, almoço e janta) o Pós prandial (2 horas depois das 3 principais refeições) com meta de <180 mg/dl o Pré-prandial (antes das 3 principais refeições) com meta de 80-130 mg/dl DIABETES MELITO TIPO 1 (DM1) O QUE É? - Denominada inicialmente como diabetes insulinodependente ou juvenil, é causado por deficiência absoluta de insulina, devido destruição autoimune, ou bem mais raramente, idiopática das células β pancreáticas. EPIDEMIO - 5 a 10% de todos os casos de DM - Predomina em crianças e adolescentes, mas até 30% aparece após > 30 anos (“LADA”) ETIOFISIO PATOLO GIA - A DM1 caracteriza-se por deficiência absoluta na produção de insulina decorrente na grande maioria dos casos de uma destruição autoimune indolente das células beta pancreáticas (DM1a) - O M1 é geralmente uma doença decorrente de múltiplos fatores, incluindo a suscetibilidade genética (há descrição de uma série de genes associados) e sempre associado a múltiplos fatores ambientais. - Pode ser classificada em: o DM1 tipo 1A (DM1a) – autoimune → imunomediada com autoanticorpos positivos (90% dos casos) o DM1 tipo 1B (DM1b) – idiopático → não imunomediada com autoanticorpos negativos (10%) ➢ DM1 autoimune - Acredita-se que o processo autoimune seja desencadeado pela agressão das células beta por fator ambiental (sobretudo por infecções virais) em indivíduos geneticamente suscetíveis. - Essa suscetibilidade genética é na maioriados casos conferida pelo HLA (antígeno leucocitário humano) - Cerca de 40% da população geral é portadora de alelos HLA de risco para DM 1, mas não chega a desenvolver a doença, comprovando que a condição genética aumenta o risco, mas não é suficiente para o seu desenvolvimento, sendo necessária a interação com fatores ambientais (como infecção por vírus, deficiência a vitamina D, exposição precoce ao leite bovino e trigo, etc.) - Cerca de 95% dos pacientes brancos com DM1 possuem antígenos DR3 ou DR4 e 55 a 60% tem ambos - Na maioria dos casos a agressão inicial das células beta ocorre indiretamente, ou seja, anticorpos produzidos contra antígenos virais acabam lesionando as células beta devido ao mimetismo celular entre esses antígenos. - A hiperglicemia permanente se manifesta quando cerca de 90% das ilhotas são destruídas Victoria Chagas ETIOFISIO PATOLO GIA - O desenvolvimento do DM1A é dividido em 4 fases: 1. Pré-clínica, com suscetibilidade genética e autoimunidade contra a célula beta 2. Início clínico do diabetes 3. Remissão transitória (período de “lua de mel”) 4. Diabetes estabelecido associado a complicações agudas e crônicas - Alguns autoanticorpos foram identificados como marcadores da destruição autoimune da célula beta: o Anti-GAD65 (anti descarboxilase do ácido glutâmico) – o mais sensível (70-90%) o Anti-ICA (autoanticorpos anti-ilhotas) o Anti-IAA (anti insulina) – sensibilidade de 40-70 % o Anti-IA2 (anticorpo antitirosina fosfatase) – sensibilidade de 50 a 70% o Anti-ZnTB (anticorpo antizinco) - é muito sensível e específico, porém atualmente ainda é pouco utilizado - Esses autoanticorpos precedem a hiperglicemia por meses a anos (estágio pré-diabético) e um ou mais deles estão presentes em 85 a 90% dos pacientes durante o diagnostico - Podem persistir por até 10 anos ou mais após dx, sobretudo o anti-GAD65 - Em crianças <10 anos o IAA pode preceder os demais autoanticorpos - Quanto maior número de autoanticorpos, maior a chance de desenvolver a doença - A etiologia da DM1a pode ser de herança monogênica ou mais frequentemente a poligênica - A forma monogênica pode se apresentar isoladamente ou associada a duas raras condições: a síndrome poliglandular autoimune do tipo 1 (SPA-1) e a síndrome IPEX. - A forma poligênica do DM1A tem fortes associações com genes ligados ao HLA → De longe, os alelos HLA DR e DQ são os principais determinantes da doença, seguidos por polimorfismos do gene da insulina e, em terceiro lugar, por polimorfismos no gene de uma fosfatase específica dos linfócitos (PTPN22). - Nesse contexto, o DM1 é um dos principais componentes da SPA tipo 2 (SPA-2) - Na SPA-2, as três manifestações endócrinas mais importantes, em ordem decrescente de frequência, são doença de Addison (presente em 100% dos casos), doenças tireoidianas (em 75 a 83%) e DM1 (em 28 a 50%). ➢ DM1 idiopático - Casos não imunomediado e sem associação com o HLA → Pacientes cursam com cetoacidose episódica e apresentam diferentes graus de deficiência de insulina entre episódios. - Maioria dos casos descritos são em pacientes africanos ou asiáticos - Patogênese não conhecida, porém em estudos recentes foram encontrados ocasionalmente mutações no gene da insulina em crianças e jovens com DM1b Victoria Chagas CLÍNICA - Por ser autoimune, acaba se manifestando mais cedo na maioria - Normalmente pacientes são magros e desenvolvem quadro agudo e clássico, apresentando os 4 Ps da diabete → - Pacientes costumam apresentar ainda: o Glicemia > 200 mg/dL o Presença de autoanticorpos o Não respondem bem aos antidiabéticos orais o Peptídeo C baixo ou ausente (<0,1 ng/dl) - Perfil do paciente: magro e <30 anos (porém presença de sobrepeso ou obesidade não exclui dx) - Em crianças pequenas, as principais manifestações podem ser enurese noturna e candidíase vaginal - Característica marcante é a tendência a cetose e a necessidade de insulinoterapia como tratamento - Cetoacidose pode ser a manifestação inicial em até 30% dos casos em adultos e 65% em crianças → com o estímulo a lipólise, vai ser liberado ácidos graxos como fonte de energia. A partir do momento que isso é de forma exagerada, o fígado começa a fazer cetogênese a partir desses ácidos → leva a cetoacidose diabética que aumenta íons H+ no sangue que se manifesta com hipocalemia, hálito de acetona, Kussmaul ((tentativa do pulmão de eliminar H+ pela respiração) e dor abdominal, náuseas e vômitos. DIAGNÓS TICO - O diagnóstico requer demonstração laboratorial de hiperglicemia. - Excetuando o critério 4, todos os demais precisam ser confirmados numa segunda dosagem, na ausência de hiperglicemia inequívoca! - Caso dois testes diferentes tenham sido solicitados ao mesmo tempo, e ambos sejam concordantes para o diagnóstico de diabetes, nenhum exame adicional é necessário - Por outro lado, se os testes forem discordantes, aquele que estiver alterado deverá ser repetido para confirmação ou não do diagnóstico. TRATA MENTO ➢ NÃO FARMACOLÓGICO – mudanças no estilo de vida (MEV) • Peso → manter aporte calórico suficiente para peso ideal – peso ideal x 22 = quantidade calorias por dia • Dieta → Média de 55-60% de carboidratos por dia, 10-20% de proteínas e 30-35% de lipídios - Preferir alimentos com baixo índice glicêmico (elevam menos a glicemia) como alimentos integrais - Açúcar refinado deve ser limitado, podendo substituir por adoçantes - A restrição de lipídios, principalmente ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol, é importante para o controle do colesterol LDL (“colesterol ruim”) e redução do risco cardiovascular - Uma medida prática para indivíduos em uso de insulina é a ingestão de alimentos com baixo índice glicêmico (de absorção mais lenta, como carboidratos complexos) em conjunto com lipídios e/ou proteínas (que retardam o esvaziamento gástrico), mantendo-se, assim, uma glicemia estável ao longo da noite, com menor risco de hipoglicemia durante o sono. • Álcool → Deve ser desencorajado - Aumento risco de hipoglicemia em usuários de insulina (o metabolismo do álcool inibe a gliconeogênese hepática), quanto o risco de hiperglicemia (bebidas adocicadas). • Tabaco → cessação • Exercício físico - No caso do DM tipo 1, vale ressaltar os riscos do exercício físico extenuante sobre o controle glicêmico: pode haver tanta hipoglicemia (se os níveis de insulina estiverem altos antes do início do exercício – pois o exercício aumenta a sensibilidade do tecido muscular à insulina) quanto hiperglicemia (se os níveis de insulina estiverem relativamente baixos antes do início do exercício – pois o estresse físico aumenta os hormônios contrarreguladores de insulina). - Dependendo do nível de atividade física, tem que fazer reposição de carboidratos durante o exercício, até 1h não precisa repor carbo, mas acima disso precisa repor - A hipoglicemia geralmente acontece 2-3h após o exercício e não durante o exercício, porque durante o exercício ele usa o glicogênio, mas depois disso ele começa a repor o glicogênio (por meio da glicogênese) e começa a dar hipoglicemia → tem que reduzir insulina no horário do exercício!! • Psicoterapia Victoria Chagas TRATA MENT ➢ FARMACOLÓGICO (INSULINOTERAPIA)- Tentamos mimetizar a ação da insulina do corpo (pico pós- prandial e valor basal), para isso usamos insulinas rápidas para pós-prandial (ex.: regular) e lentas para basal (ex.: NPH) - Usar análogo da insulina (ultra rápidas) é mais vantajoso pois causa menos hipoglicemia - A dose média adequada a um diabético tipo 1 adulto em geral oscila entre 0,5-1,0 U/kg/dia (ex.: 60 kg: 30-60 U/dia, o equivalente à produção endógena normal de insulina) → o tratamento depende do paciente, vai regulando com resposta do paciente a insulina - Por um curto período após o diagnóstico do DM tipo 1 costuma precisar de doses menores de insulina (ou mesmo nenhuma insulina), quando o pâncreas ainda possui reserva de insulina endógena (“lua de mel”). - No entanto, em pouco tempo precisará retornar às doses plenas, pois há total destruição das ilhotas • ESQUEMAS DA APLICAÇÃO o Esquema 1 – duas aplicações - Dose é 2/3 do total antes do café da manhã, sendo 70% de NPH e 30% de regular - Outros 1/3 tomar antes do jantar → 50% NPH e 50% regular - Regular + NPH antes do jantar - Apesar de menos aplicações, não imita a fisiologia normal do corpo (sem índice basal) e deve ser bem regrado nos horários certos, para não descompensar → não é o ideal, mas é o mais comum no SUS o Esquema 2 – múltiplas aplicações - Mimetiza a fisiologia normal da insulina (seria o melhor, mas para ganhar os análogos/ultrarrápidas pelo SUS tem que provar que não controlou a DM1 com duas doses – NPH/regular) - Regular (rápida) 30 minutos antes ou lispro/aspart/glulisina (ultrarrápida) antes do café, almoço e janta - basal/boulos - Faz o NPH 2x ao dia ou Glargina 1x ao dia - Dose 50% pra cada o Esquema 3 – infusão contínua - É o padrão-ouro de tratamento - Uma bomba de infusão injeta de maneira constante a insulina através de um cateter colocado pelo próprio paciente no tecido subcutâneo, sendo substituído a cada três dias. - Esse dispositivo funciona com insulina ultrarrápida, podendo ser programado para liberar uma dose basal de insulina e, através de um toque antes das refeições, liberar um bolus para cobrir o período pós-prandial ➢ CONTROLE DO TRATAMENTO - METAS - Para que a terapia seja mais segura e eficaz, o paciente deve adquirir um dispositivo capaz de medir a glicemia capilar (glucosímetro), a fim de acompanhar o efeito do tratamento e detectar o surgimento de hipoglicemia - Idealmente, esta medida deveria ser feita no mínimo 4x/dia: pré- prandial (antes do café da manhã, almoço e jantar) e antes de dormir - O auto monitoramento da Glicemia Capilar (AMGC) através do glicosímetro está indicado para todos os portadores de DM, uma vez que possibilita que o paciente acompanhe os seus níveis glicêmicos ao longo do dia e, com isso, consiga prevenir com mais eficiência os episódios de hipo ou hiperglicemia. - Já a HbA1c, por sua vez, ainda continua sendo o método padrão--ouro para acompanhar os pacientes diabéticos e por isso que ele deve ser repetido a cada 3 meses até que o paciente esteja compensado e, a partir daí, o acompanhamento passa a ser apenas semestralmente Victoria Chagas TRATA MENT • AJUSTE MEDICAMENTOSO - A modificação terapêutica é obrigatória quando as metas não estiverem sendo alcançadas ou na presença de glicemias muito baixas. - Se a glicemia no jejum antes do café está alta → ajustar a NPH da noite ou muda para antes de dormir - Se a glicemia após o café está alta → ajustar a regular do café - Se a glicemia antes do almoço está alta → ajustar a NPH da manhã ou a regular do café - Se a glicemia após o almoço está alta → ajustar a NPH da manhã ou a regular do almoço - Se glicemia antes do jantar está alta → ajustar NPH do almoço (ou a NPH da manhã se for um esquema de 2 aplicações) ou na regular da janta - Tem que ver se tem lanche da tarde porque daí pode alterar também • COMPLICAÇÕES DO USO DA INSULINA o Hiperglicemia matinal ✓ Fenômeno do alvorecer - Devido manhã desprotegida (mais comum) – pode explicar a hiperglicemia matinal no paciente que tomou a NPH antes do jantar, pois o seu efeito já está diminuído no momento em que o paciente acorda pela manhã – ocorre geralmente entre 5 e 8 horas da manhã - Para controlar o fenômeno do alvorecer, deve-se simplesmente passar a tomada para antes de dormir, em vez de antes do jantar, separando-se da injeção de insulina regular, que continua sendo pré-jantar ✓ Efeito Somogyi - Devido hipoglicemia da madrugada –- a hiperglicemia matinal de rebote provocada pelo pico dos hormônios contrarreguladores (glucagon, adrenalina, cortisol e hormônio do crescimento) em resposta à hipoglicemia da madrugada (às 3h) → hipoglicemia de madrugada pode ter sinais como pesadelos noturnos, suor, tremor, etc. - Vamos diminuir a NPH da noite e fazer um lanche antes de dormir - Esta hipoglicemia seria gerada por uma alta dose de insulina NPH antes do jantar - tratamento deste fenômeno seria a redução da insulina NPH noturna (do jantar) ou passar a tomada para antes de dormir (esquema de múltiplas aplicações). - A medida da glicemia da madrugada (às 3h) pode ajudar a diferenciação entre os dois fenômenos: se houver hipoglicemia, provavelmente estamos diante do efeito Somogyi. - Para diferenciar os dois devemos fazer uma glicemia na madrugada para avaliar se tem hipoglicemia (Somogyi) ou não (alvocerer) o Hipoglicemia - A hipoglicemia é um evento adverso comum relacionado ao tratamento intensivo do DM (principalmente quando o paciente faz uso de insulina, ou seja, é mais frequente no tratamento do DM tipo 1). - Entre as principais causas de hipoglicemia no paciente diabético, podemos citar a irregularidade dietética (omissão de refeição), erro na dose de insulina e exercício físico não programado, lembrando que o exercício físico aumenta a captação de glicose pelo músculo. - Os sinais e sintomas da hipoglicemia começam pela fase hiperadrenérgica (tremores finos de extremidades, sudorese fria, taquicardia, palpitações e hipertensão), seguindo para a fase neuroglicopênica (dificuldade de concentração, incoordenação, ataxia, lentificação do pensamento, letargia, sonolência, coma e convulsões). - Hipoglicemia (independente de sintomas) um valor de glicemia capilar menor ou igual a 70 mg/dl o Lipohipertrofia - A insulina pode provocar uma reação local no sítio de infusão que pode ser corrigida trocando sítio de punção. Victoria Chagas
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