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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MATEMÁTICA Campus Apucarana Prof. Dr. Márcio Hiran Simões Apostila de Cálculo Diferencial e Integral 3 - Funções de uma Variável Complexa. Apucarana - PR 2017 1 O Plano Complexo 1.1.Os números complexos Os números complexos têm sua origem na dificuldade encontrada em resolver certas equações algébricas tais como x2 = −1. Como não existe número real cujo quadrado seja −1, esta equação só terá solução se introduzirmos um novo conceito de número com a propriedade de que seu quadrado seja −1. Esse número, comumente designado por i ou √ −1 é chamado de unidade imaginária. Combinando-se a unidade imaginária com números reais a e b, somos levados aos números complexos da forma a+ bi como, por exemplo, −1 + √ 3i, √ 5− 9i. Definição 1.1.1 Um número complexo é qualquer número da forma z = a + bi, onde a e b são números reais e i é a unidade imaginária. Terminologia: O número real x em z = x+ yi é chamado de parte real de z e o número real y é chamado de parte imaginária de z. As partes real e imaginária de um número complexo z são abreviadas como Re(z) e Im(z), respectivamente. Por exemplo, se z = 4 − 9i, então Re(z) = 4 e Im(z) = −9. Um múltiplo constante real da unidade imaginária é denominado de número imaginário puro. Por exemplo, z = 5i é um número imaginário puro. Definição 1.1.2 Os números complexos z1 = x1 + y1i e z2 = x2 + y2i são iguais, z1 = z2, se x1 = Re(z1) = Re(z2) = x2 e y1 = Im(z1) = Im(z2) = y2. Um número complexo x+ yi = 0 se x = 0 e y = 0. Operações aritméticas Números complexos pode ser somados, subtráıdos, mul- tiplicados e divididos. Essas operações são definidas a seguir, considerando z = a+ bi - 1 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo e w = c+ di: Adição: z + w = (a+ bi) + (c+ di) = (a+ c) + (b+ d)i; Subtração: z − w = (a+ bi)− (c+ di) = (a− c) + (b− d)i; Multiplicação: z · w = (a+ bi)(c+ di) = (ac− bd) + (ad+ bc)i; Divisão: z w = a+ bi c+ di = ac+ bd c2 + d2 + i bc− ad c2 + d2 . As leis comutativa, associativa e destributiva se aplicam aos números complexos. Lei comutativa: { z1 + z2 = z2 + z1; z1 · z2 = z2 · z1 Lei associativa: { z1 + (z2 + z3) = (z1 + z2) + z3; z1(z2z3) = (z1z2)z3 Lei distributiva: z1(z2 + z3) = z1z2 + z1z3 Em vista dessas leis, não há necessidade de se memorizar as definições de adição, subtração e multiplicação. Para somar (subtrair) dois números complexos, simples- mente somamos (subtráımos) as partes reais e imaginárias correspondentes. Para multiplicarmos dois números complexos, aplicamos a lei distributiva e o fato de que i2 = −1. Os exemplos a seguir ilustram o uso dessas regras. Exemplo 1.1.1 (Adição e multiplicação) Se z1 = −5 + 7i e z2 = 3− 12i, determine z1 + z2 e z1z2. Solução: Somando as partes real e imaginária dos dois números, obtemos: z1 + z2 = (−5 + 7i) + (3− 12i) = −2− 5i. Usando a propriedade distributiva da multiplicação e o fato de que i2 = −1, obtemos: z1z2 = (−5)(3) + (−5)(−12i) + (7i)(3) + (7i)(−12i) = −15 + 60i+ 21i− 84i2 = −15 + 84 + 81i = 69 + 81i. Não há a necessidade de se memorizar a definição de divisão, porém, antes de discurtirmos isso, precisamos introduzir um outro conceito. Conjugado de um número complexo. O complexo conjugado de z = x+yi (ou simplesmente o conjugado de z) é definido com sendo o número complexo z = x− yi. - 2 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo Por exemplo, se z = −3 + 2i então z = −3 − 2i. A partir da definição de adição pode-se mostrar facilmente que o conjugado da soma de dois números complexos é a soma dos conjugados, isto é, z1 + z2 = z1 + z2. Além disso, valem as seguintes propriedades: z1 − z2 = z1 − z2; z1z2 = z1 z2; ( z1 z2 ) = z1 z2 . As definições de adição e multiplicação mostram que a soma e o produto de um número complexo e seu conjugado resultam em números reais. z + z = (x+ yi) + (x− yi) = 2x. (1.1.1) zz = (x+ yi)(x− yi) = x2 − i2y2 = x2 + y2 (1.1.2) A diferença entre um número complexo e seu conjugado resulta em um número imaginário puro: z − z = (x+ yi)− (x− yi) = 2yi. (1.1.3) Como x = Re(z) e y = Im(z), (1.1.1) e (1.1.3) resultam em duas fórmulas úteis: Re(z) = z + z 2 e Im(z) = z − z 2i . Entretanto, (1.1.2) é a relação que nos permite calcular a divisão de uma forma mais prática: para dividir z1 po z2, multiplicamos tanto o numerador quanto o deno- minador de z1/z2 pelo conjugado de z2. Exemplo 1.1.2 Se z1 = 2− 3i e z2 = 4 + 6i, calcule (a) z1 z2 e (b) 1 z1 . Solução: (a) z1 z2 = z1 z2 z2 z2 = z1 z2 z2 z2 = (2− 3i) (4− 6i) (4)2 + (6)2 = −10− 24i 52 = − 5 26 − 6 13 i. (b) 1 z2 = 1 z2 z2 z2 = z2 z2 z2 = (4− 6i) (4)2 + (6)2 = 4− 6i 52 = 1 13 − 3 26 i. - 3 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo Interpretação geométrica A representação dos números complexos por pontos do plano é muito útil e frequentemente utilizada. Com essa representação, um número complexo z = x+yi pode ser identificado com o ponto de coordenadas x e y, ou com o vetor Oz de componentes x e y (Fig. 1.1). As conhecidas regras do paralelogramo para a adição e subtração de vetores se aplicam então para o caso de adição e subtração de números complexos (Figs 1.1). Figura 1.1: Representação geométrica O módulo ou valor absoluto de um número complexo z = x + yi é definido como sendo o número real não-negativo |z| = √ x2 + y2, que é também chamado de distância do ponto z à origem. A representação geométrica do conjungado do número complexo z = x+ yi pode ser vista na Fig. 1.2. Figura 1.2: Complexo conjugado Com a definição de módulo de um número complexo, é fácil verificar que, zz = |z|2. - 4 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo � � � 1.1.1. Exerćıcios 1. Reduza à forma a+ bi cada uma das expressões complexas seguintes: (a) (3 + 5i) + (−2 + i); (f) (3i− 1) ( i 2 + 1 3 ) ; (b) (−3 + 4i)− (1− 2i); (g) 7− 2i ( 2− 2i 5 ) ; (c) ( √ 3− 2i)− i[2− i( √ 3 + 4)]; (h) (2 + 3i)2; (d) (3− 5i)(−2− 4i); (i) (4− 2i)2; (e) ( 1 + i 3 ) ( −6 5 + 3i ) ; (j) 1 + 2i+ 3i2 + 4i3 + 5i4 + 6i5. 2. Mostre que (x+ yi)2 = x2 − y2 + 2xyi. 3. Mostre que (x− yi)2 = x2 − y2 − 2xyi. 4. Mostre que (1 + i)3 = −2 + 2i. 5. Mostre que 1 + i5 + 2i10 + 3i15 = −1− 2i. 6. Mostre que (x+ yi)2(x− yi)2 = (x2 + y2)2. 7. Reduza à forma a+ bi cada uma das expressões complexas seguintes: (a) 1 2 + 3i . (b) 1 4− 3i . (c) 1 + i 3− 2i . (d) 3− i −1 + 2i . (e) 1− i 1 + i . (f) 1 + i 1− i . (g) ( 1 1 + i ) . (h) ( 1 + i 1− i )30 . 8. Verifique as seguintes relações: (a) Re[−i(2−3i)2] = −12; (b) 1− i √ 2√ 2 + i = −1; (c) Im [ (1− i √ 3)2 −2 + i ] = 2(1 + 2 √ 3) 5 . 9. Demonstre que |α + β|2 + |α− β|2 = 2|α|2 + 2|β|2 quaisquer que sejam os números complexos α e β. Faça um gráfico para verificar a se- guinte interpretação geométrica: a soma dos quadrados do lado de um paralelogramo é igual a soma dos quadrados de suas diagonais. - 5 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo 1.2.Representação polar Considerando a representação geométrica de um número complexo z, chama-se argumento de z ao ângulo θ formado pelo eixo Ox e o vetor Oz. Figura 1.3: Representação polar Como em trigonometria, a orientação dos ângulos é de Ox para Oz. Considera-se positivo o sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. O argumento só fica determinado a menos de múltiplos inteiros de 2π. Como x = |z| cos θ e y = |z| sin θ, temos a representação polar de z: z = r(cos θ + i sin θ), r = |z|; r e θ são designados as coordenadas polares de z. De posse da representação polar, vamos deduzir uma regra muito conveniente para a multiplicação. Sejam z1 = r1(cos θ1 + i sin θ1), z2 = r2(cos θ2 + i sin θ2), dois números complexos quaisquer. Temos então z1z2 = r1r2(cos θ1 + i sin θ1)(cos θ2 + i sin θ2) = r1r2(cos θ1 cos θ2 − sin θ1 sin θ2) + i(sin θ1 cos θ2 + cos θ1 sin θ2), isto é, z1z2 =r1r2[cos(θ1 + θ2) + i(θ1 + θ2)]. Vemos assim que o produto de dois números complexos é o número cujo módulo é o produto dos módulos dos fatores e cujo argumento é a soma dos argumentos dos fatores (Fig.1.4). - 6 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo Figura 1.4: Multiplicação de dois complexos Vamos deduzir resultado análogo para a divisão. Temos z1 z2 = r1 r2 cos θ1 + i sin θ1 cos θ2 + i sin θ2 = r1 r2 (cos θ1 + i sin θ1)(cos θ2 − i sin θ2) = r1 r2 [(cos θ1 cos θ2 + sin θ1 sin θ2) + i(sin θ1 cos θ2 − cos θ1 sin θ2)]. Portanto, z1 z2 = r1 r2 [cos(θ1 − θ2) + i sin(θ1 − θ2)], isto é, para dividir números complexos basta fazer o quociente dos módulos e a dife- rença dos argumentos. Figura 1.5: Divisão de dois complexos A fórmula de multiplicação acima estende-se para um número qualquer de fatores. Sendo zj = rj(cos θj + i sin θj), j = 1, 2, . . . , n, - 7 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo teremos, por indução finita, z1z2 . . . zn = r1r2 . . . rn[cos(θ1 + θ2 + · · ·+ θn) + i sin(θ1 + θ2 + · · ·+ θn)] Em particular, quando todos os fatores são iguais e de módulo unitário, obtemos a chamada Fórmula de De Moivre: (cos θ + i sin θ)n = cosnθ + i sinnθ. Esta fórmula é válida também para expoentes negativos. De fato, (cos θ + i sin θ)−n = 1 (cos θ + i sin θ)n = 1 cosnθ + i sinnθ = cosnθ − i sinnθ, isto é (cos θ + i sin θ)−n = cos(−nθ) + i sin(−nθ). � � � 1.2.1. Exerćıcios 1. Determine o argumento dos números complexos abaixo, escreva-os na forma polar e represente-os geometricamente. a) z = −2 + 2i b) z = 1 + i √ 3 c) z = − √ 3 + i d) z = ( i 1 + i )5 e) z = 1 −1− i √ 3 f) z = −1− i g) z = −3 + 3i 1 + i √ 3 h) z = −4√ 3− i 2. Reduza os números z1 e z2 abaixo à forma polar e determine as representações polares de z1z2 e z1 z2 . a) z1 = √ 3 + 3i, z2 = 3− i √ 3 2 b) z1 = 1 + i, z2 = √ 3 + i c) z1 = 1− i, z2 = −1 + i √ 3 3. Mostre que cos 3θ = cos3 θ − 3 cos θ sin2 θ e que sin 3θ = − sin3 θ + 3 cos2 θ sin θ. Sugestão: Desenvolva (cos θ+ i sin θ)3 pela fórmula do binômio e pela Fórmula de De Moivre. - 8 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo 1.3. Ráızes n-ésimas As ráızes n-ésimas n √ a = a 1 n de um número complexo a 6= 0 são obtidas como as soluções da equação zn = a. Pondo a = r(cos θ + i sin θ), z = ρ(cosφ+ i sinφ) e usando a Fórmula de De Moivre obtemos ρn(cosnφ+ i sinnφ) = r(cos θ + i sin θ). Como a igualdade de números complexos exige a igualdade de suas partes reais e a igualdade de suas partes imaginárias separadamente devemos ter ρn cosnφ = r cos θ e ρn sinnφ = r sin θ. Estas equações são equivalentes a ρn = r, nφ = θ + 2kπ, onde k é um inteiro. Segue daqui que ρ é a raiz n-ésima positiva de r e z = n √ r ( cos θ + 2kπ n + i sin θ + 2kπ n ) . (1.3.1) Esta fórmula produz n ráızes distintas, quando a k se atribuem os valores k = 0, 1, . . . , n − 1. Como é fácil ver, qualquer outro valor atribúıdo a k conduz a uma raiz já obtida com um dos valores acima, precisamente aquele que é o resto da divisão de k por n. Vemos assim que um número complexo a 6= 0 possui n ráızes n-ésimas z0, z1, . . . , zn−1, todas com o mesmo módulo ρ = n √ |a| e com argumentos φk = θ n + 2kπ n , k = 0, 1, . . . , n− 1. No caso particular a = 1 obtemos as ráızes n-ésimas da unidade: 1, ω, ω2, . . . , ωn−1, onde ω = cos 2π n + i sin 2π n . A Fig.1.6 ilustra o caso n = 6. - 9 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo Figura 1.6: Ráızes da unidade A fórmula (1.3.1) pode ser escrita na forma z = n √ r ( cos θ n + i sin θ n )( cos 2kπ n + i sin 2kπ n ) , ou seja, z = n √ r ( cos θ n + i sin θ n ) ωk, k = 0, 1, . . . , n− 1. Esta expressão nos diz que as ráızes n-ésimas de um número complexo podem ser obtidas como o produto de uma raiz n-ésima do número, precisamente z0 = n √ r ( cos θ n + i sin θ n ) , pelas ráızes n-ésimas da unidade, 1, ω, ω2, . . . , ωn−1. Por exemplo, suponha que queremos determinar as ráızes cúbicas de a = 8. Uma delas é z0 = 2. As ráızes cúbicas de unidade são dadas por 1, ω e ω 2, com ω = cos 2π 3 + i sin 2π 3 = −1 2 + i √ 3 2 . Logo, as ráızes cúbicas de 8 são (Fig. 11) z0 = 2, z1 = 2 ( −1 2 + i √ 3 2 ) = −1 + i √ 3, z2 = 2ω 2 = 2 ( cos 4π 3 + i sin 4π 3 ) = 2 ( −1 2 − i √ 3 2 ) = −1− i √ 3. - 10 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo Figura 1.7: 3 √ 8 No cálculo da raiz quadrada, muitas vezes é mais conveniente seguir o procedi- mento do exemplo abaixo. Seja √ −7− 24i = x+ yi, logo, x2 − y2 + 2xyi = −7− 24i, donde x2 − y2 = −7, xy = −12 resolvendo essa última equação em relação a x e substituindo na primeira, obtemos uma equação quadrática para y2, cuja solução é y2 = 16 (como y é real, y2 > 0). Logo y = ±4 e x = ∓3,donde √ −7− 24i = ±(3− 4i). � � � 1.3.1. Exerćıcios 1. Calcule as ráızes abaixo. a) √ −4; b) (1 + i √ 3)1/2; c) 3 √ i; d) √ −i e)(−1 + i √ 3)1/4 f) √ −1− i √ 3. 2. Usando o procedimento do fim desta seção, calcule as ráızes seguintes: a) √ −5− 12i; b) √ 3 + 4i; c) √ 1 + 2i √ 6. 3. Nos casos abaixo, resolva as equações P (z) = 0 e fatore os polinômios P (z): a) P (z) = z6−64; b) P (z) = z4+9; c) P (z) = 3z2−i. - 11 - Caṕıtulo 1. O Plano Complexo 4. Resolva as seguintes equações: a) z2 − 2z + 2 = 0 b) z2 + (1− 2i)z + (1 + 5i) = 0. - 12 - 2 Funções Anaĺıticas 2.1.Conjuntos no plano complexo Daremos aqui as definições de alguns conjuntos e elementos do plano complexo que serão usados na caracterização de funções complexas.. Consideremos z0 = x0 + iy0. Como |z−z0| = √ (x− x0)2 + (y − y0)2 é a distância entre os ponto z = x+ iy e z0, os pontos que satisfazem a equação |z − z0| = ρ, ρ > 0, estão localizados em um ćırculo de raio ρ centrado no ponto z0. Exemplo 2.1.1 a) |z| = 1 é a equação de um ćırculo de raio 1 centrado na origem. b) |z − 1− 2i| = 5 é a equação de um ćırculo de raio 5 com centro em 1 + 2i. Os pontos z que satisfazem a desigualdade |z−z0| < ρ, ρ > 0, estão localizados no interior de um ćırculo, de raio ρ centrado em um ponto z0. Esse conjunto é chamado de vizinhança de z0 ou um disco aberto. Um ponto z0 é dito ser um ponto interior de um conjunto S do plano complexo se existir alguma vizinhança de z0 que esteja inteiramente contida em S. Se todo ponto z de um conjunto S for um ponto interior, então S será denominado de conjunto aberto. Por exemplo, a desigualdade Re z > 0, define um conjunto aberto chamado de semi-plano aberto. Por outro lado, o conjunto S de pontos no plano complexo para os quais Re(z) ≥ 0 não é aberto, pois toda vizinhança de um ponto sobre o eixo y contém pontos dentro de S e pontos fora de S. - 13 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Exemplo 2.1.2 São conjuntos abertos do plano complexo: (a) Im z < 0. (b) −1 < Re z < 1. (c) |z| > 1. (d) 1 < |z| < 2. O conjunto de números que satisfazem a desigualdade ρ1 < |z − z0| < ρ2, é chamado de anel aberto. Se toda vizinhança de um ponto z0 contiver ao menos um ponto que esteja em um conjunto S e ao menos um ponto que não esteja em S, então z0 é um ponto de contorno de S. O contorno de um conjunto S é o conjunto de todos os pontos de contorno de S. Se qualquer par de pontos z1 e z2 em conjunto aberto S puder ser conectado por uma reta poligonal que esteja inteiramente contida no conjunto, então S é um conjunto conexo. Um conjunto conexo aberto é chamado de domı́nio. O conjunto de números que satisfaz Re z 6= 0 é um conjunto aberto mas não é conexo. Uma região é um domı́nio no plano complexo com todos, alguns ou nenhum dos seus pontos de contorno. Como um conjunto conexo aberto não contém quaisquer pontos de contorno, ele é automaticamente uma região. Uma região contendo todos os seus pontos de contorno é dita ser fechada. Observação 2.1.1 A definição de domı́nio dada acima não se refere à definição de domı́nio de uma função seja qual for o espaço topológicoutilizado. � � � 2.1.1. Exerćıcios 1. Descreva geometricamente a região determinada por cada uma das seguintes condições: a) |Re (z)| < 2; d) |z − 4| > 3; g) |z − 1 + 3i| ≤ 1; b)| Im (z) > 1; e) Re (z) > 0; h) 0 ≤ arg z ≤ π/4, z 6= 0; c) − π < arg z < π, |z| > 2; f) 1 < |z − 2i| < 2; i) |2z + 3| > 4. - 14 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas 2.2. Funções de uma variável complexa Vamos considerar funções definidas em conjuntos complexos, cujos valores são, em geral, complexos. Mais precisamente, seja D um conjunto de números complexos e seja f uma lei que faz corresponder, a cada elemento z do conjunto D, um único número complexo, que designamos por f(z). Nestas condições diz-se que f é uma função com domı́nio D. O conjunto I dos valores w = f(z) correspondentes a todos os valores de z em D é chamado a imagem de D pela função f . Nestas condições, o número complexo z é chamado de variável independente e w é a variável dependente. Figura 2.1: É importante notar que, para caracterizar uma função, não basta especificar a lei de correspondência f ; é preciso especificar também o domı́nio de definição D. Entre- tanto, frequentemente consideramos funções dadas em termos de relações anaĺıticas bem definidas w = f(z), sem especificar o domı́nio de definição. Nestes casos, fica subentendido que o domı́nio de definição de f é o maior subconjunto de números com- plexos z para os quais tenha sentido a expressão anaĺıtica f(z). Por exemplo,quando falamos ”seja a função w = 3z − 5 (z − i)(z + 7) ”, estamos usando esta relação para especificar a lei de correspondência f que liga z a w; ao mesmo tempo fica subentendido que o domı́nio desta função é o plano complexo, exceto os pontos z = i e z = −7. Uma função da variável complexa z pode assumir valores puramente reais. Por exemplo, f(z) = |z| = √ x2 + y2, onde z = x+ yi, é uma função real da variável complexa z. A cada função w = f(z) de uma variável complexa z = x + yi estão associadas duas funções reais das variáveis reais x e y, dadas por u = u(x, y) = Re f(z), v = v(x, y) = Im f(z). - 15 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Assim, se z = x+ yi então w = f(z) = u(x, y) + iv(x, y) (2.2.1) onde u, v : D ⊂ R2 −→ R. Por exemplo, sendo f(z) = z2 + 3z − 5, temos u = x2 − y2 + 3x− 5, v = 2xy + 3y. Deve-se notar que uma função complexa é completamente determinada pelas funções reais u e v. Isso significa que uma função complexa w = f(z) pode ser definida especificando-se arbitrariamente u(x, y) e v(x, y), embora u + iv não possa ser obtida por meio de operações elementares sobre o śımbolo z. Por exemplo, se u(x, y) = xy2 e v(x, y) = x2 − 4y3, então f(z) = xy2 + i(x2 − 4y3) é uma função de uma variável complexa. Para calcularmos f(3 + 2i), substitúımos x = 3 e y = 2 em u e v para obtermos f(3 + 2i) = 12− 23i. Inerente à definição matemática de função de variável complexa está o fato de não ser posśıvel traçar o esboço do gráfico de tais funções. Para tal, necessitaŕıamos de um sistema de quatro dimensões. Porém, existem outras formas de analisarmos geometricamente uma função complexa. Funções complexas como fluxos Podemos também interpretar uma função complexa w = f(z) como um fluxo de fluido bidimensional considerando o número complexo f(z) como um vetor baseado no ponto z. O vetor f(z) especifica a veloci- dade e o sentido do fluxo em um determinado ponto z. Se x(t)+iy(t) for uma representação paramétrica para o caminho de uma part́ıcula no fluxo, o vetor tangente T = x′(t) + iy′(t) tem que coincidir com f(x(t) + iy(t)). Quando f(z) = u(x, y)+ iv(x, y), o caminho da part́ıcula tem que satisfazer o sistema de equações diferenciais dx dt = u(x, y) dy dt = v(x, y). Chamamos a famı́lia de soluções desse sistema como linhas de fluxo do fluxo associado a f(z). Exemplo 2.2.1 Determine as linhas de fluxo associadas às funções complexas (a) fi(z) = z e (b) f2(z) = z 2. Solução: (a) As linhas de fluxo que correspondem a f1(z) = x − iy satisfazem o sistema dx dt = x; dy dt = −y, - 16 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas e, portanto, x(t) = c1e t e y(t) = c2e −t. Multiplicando essas duas equações pa- ramétricas vemos que o ponto x(t) + iy(t) se localiza na hipérbole xy = c1c2. (b) Para obter as linhas de fluxo que correspondem a f2(z) = (x 2 − y2) + i(2xy), observe que dx dt = x2 − y2, dy dt = 2xy, e assim dy dx = 2xy x2 − y2 . Essa equação diferencial homogênea tem como solução x2 + y2 = c2y, uma famı́lia de ćırculo que tem centros no eixo y e que passam pela origem. Definição 2.2.1 (Limite de uma função) Suponha que uma função f seja definida em uma vizinhança de z0, exceto pos- sivelmente no próprio z0. Então, dizemos que f tem um limite L quando z se aproxima de z0 e escrevemos lim z→z0 f(z) = L se, para cada � > 0, existir um δ > 0 tal que |f(z) − L| < � sempre que 0 < |z − z0| < δ. A diferença fundamental entre essa definição e o conceito de limite em variáveis reais está na forma como z se aproxima de z0. No caso de funções de uma única variável real, a notação x → x0 significa que x se aproxima de x0 sobre a reta real tanto à direita de x0 quanto a esquerda. Aqui, z → z0 significa que o ponto z se aproxima do ponto z0 a partir de qualquer direção. Teorema 2.2.1 (Limite da soma, produto e quociente) Considere lim z→z0 f(z) = L1 e lim z→z0 g(z) = L2. Então: (i) lim z→z0 [f(z) + g(z)] = L1 + L2. (ii) lim z→z0 f(z)g(z) = L1L2. (iii) lim z→z0 f(z) g(z) = L1 L2 , se L2 6= 0. Definição 2.2.2 (Continuidade em um ponto) Uma função f é cont́ınua em um ponto z0, se lim z→z0 f(z) = f(z0). Como consequência do Teorema 2.2.1, se duas funções f e g forem cont́ınuas em um ponto z0, então a soma e o produto delas serão cont́ınuas em z0. O quociente f/g das duas funções será cont́ınuo em z0, desde que g(z0) 6= 0. - 17 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Uma função f definida por f(z) = anz n + an−1z n−1 + · · ·+ a2z2 + a1z + a0, an 6= 0 (2.2.2) onde n é um inteiro não negativo e os coeficientes ai, i = 0, 1, 2 · · · , n, são cons- tantes complexas, é chamada de função polinomial de grau n. Pode-se provar que a função polinomial (2.2.2) é cont́ınua em todo o plano complexo. Uma função racional f(z) = g(z) h(z) , onde g e h são funções polinomiais é cont́ınua em todos os pontos, exceto naqueles em que h(z) = 0. Definição 2.2.3 (Derivada) Seja f uma função complexa definida em uma vizinhança de z0. A derivada de f em z0 é f ′(z0) = lim ∆z→0 f(z + ∆z)− f(z) ∆z , (2.2.3) se o limite existir. O śımbolo ∆z da definição de derivada refere-se ao número complexo ∆x + i∆y. Se o limite (2.2.3) existir, diremos que a função f é diferenciável em z0. Quando w = f(z) a notação dw dz pode ser utilizada. Assim como em funções de uma variável real, aqui diferenciabilidade implica em continuidade. Além disso, as regras de derivação de funções reais também são válidas para funções complexas. Se f e g são funções diferenciáveis em um ponto z e se c for uma constante complexa, então: Regra da constante: d dz c = 0, d dz [cf(z)] = cf ′(z); Regra da soma: d dz [f(z) + g(z)] = f ′(z) + g′(z); Regra do produto: d dz [f(z)g(z)] = f ′(z)g(z) + f(z)g′(z); Regra do quociente: d dz [ f(z) g(z) ] = g(z)f ′(z)− f(z)g′(z) [g(z)]2 ; Regra da cadeia: d dz f(g(z)) = f ′(g(z))g′(z). - 18 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas A regra usual para a diferenciação de potências de z também é válida, isto é, d dz zn = nzn−1, n ∈ Z. Exemplo 2.2.2 Diferencie (a) f(z) = 3z4 − 5z3 + 2z e (b) f(z) = z 2 4z + 1 . Solução: Para que uma função complexa f seja diferenciável em um ponto z0, o valor do limite dado na definição de derivada de ser o mesmo não importa como ∆z se aproxime de zero. Logo, dizer que uma função complexa é diferenciável em z0 é mais importante doque para variáveis reais. Exemplo 2.2.3 Mostre que a função f(z) = x+ 4yi não é diferenciável em nenhum lugar. Solução: Como ∆z = ∆x+ i∆y, temos f(z + ∆z)− f(z) = (x+ ∆x) + 4i(y + ∆y)− x− 4i∆y = ∆x+ 4i∆y e assim lim ∆z→0 f(z + ∆z)− f(z) ∆z = lim ∆z→0 ∆x+ 4i∆y ∆x+ i∆y . Agora, ∆z → 0 ao longo da reta y = 0 temos que ∆y = 0 e o limite acima é igual a 1. Por outro lado, se ∆z → 0 pela reta x = 0 teremos ∆x = 0 e, nesse caso, o limite dá 4. Como os limites resultantes são diferentes segue que esse limite não existe e, portanto, f(z) = x+ 4iy não é diferenciável em nenhum ponto. Definição 2.2.4 (Funções Anaĺıticas em um Ponto) Uma função complexa w = f(z) é anaĺıtica em um ponto z0 se f for dife- renciável em z0 e em todo ponto de alguma vizinhança de z0. - 19 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Uma função f é anaĺıtica em um conjunto D se ela for anaĺıtica em todo ponto de D. Note que a analiticidade em um ponto não é uma propriedade pontual e sim uma propriedade em uma vizinhança. Assim, podemos dizer que a classe de funções anaĺıticas é mais restrita que a classe da funções diferenciáveis. Uma função que é anaĺıtica em qualquer ponto z é uma função completa. As funções polinomias são funções completas. � � � 2.2.1. Exerćıcios Nos problemas de 1 a 8, expresse a função indicada na forma f(z) = u+ iv. 1. f(z) = 6z − 5 + 9i 5. f(z) = z3 − 4z 2. f(z) = 7z − 9i z − 3 + 2i 6. f(z) = z4 3. f(z) = z2 − 3z + 4i 7. f(z) = z + 1 z 4. f(z) = 3z2 + 2z 8. f(z) = z z + 1 Nos problemas 9 a 12, calcule a função dada nos pontos indicados. 09. f(z) = 2x− y2 + i(xy3 − 2x2 + 1); (a) 2i (b) 2− i (c) 5 + 3i. 10. f(z) = (x+ 1 + 1/x) + i(4x2 − 2y2 − 4); (a) 1 + i (b) 2− i (c) 1 + 4i. 11. f(z) = 4z + iz + Re z; (a) 4− 6i (b) − 5 + 12i (c) 2− 7i. 12. f(z) = ex cos y + iex sin y; (a) πi 4 (b) − 1− πi (c) 3 + πi 3 . Nos problemas 13 a 16, o limite indicado existe. Determine o seu valor. 13. lim z→i (4z3 − 5z2 + 4z + 1− 5i) 15. lim z→i z4 − 1 z − i 14. lim z→1−i 5z2 − 2z + 2 z + 1 16. lim z→1+i z2 − 2z + 2 z2 − 2i Nos problemas 17 e 18, mostre que o limite indicado não existe. 17. lim z→0 z z 18. lim z→1 x+ y − 1 z − 1 - 20 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Nos problemas 19 a 26 determine a derivada f ′(z) para a função indicada. 19. f(z) = 4z3 − (3 + i)z2 − 5z + 4 23. f(z) = (z2 − 4i)3 20. f(z) = 5z4 − iz3 + (8− i)z2 − 6i 24. f(z) = 3z − 4 + 8i 2z + i 21. f(z) = (2z + 1)(z2 − 4z + 8i) 25. f(z) = 5z 2 − z z3 + 1 22. f(z) = (z5 + 3iz3)(z4 + iz3 + 2z2 − 6iz) 26. f(z) = (2z − 1/z)6 Nos problemas 27 a 30, defina os pontos para os quais a função indicada não será anaĺıtica. 27. f(z) = z z − 3i 29. f(z) = 2i z2 − 2z + 5iz 28. f(z) = z3 + z z2 + 4 30. f(z) = z − 4 + 3i z2 − 6z + 25 Nos problemas 31 a 34, determine as linhas de fluxo associadas à função complexa indicada. 31. f(z) = 2z 33. f(z) = iz 32. f(z) = 1 z 34. f(z) = x2 − iy2 2.3.Equações de Cauchy – Riemann Na seção anterior vimos que uma função complexa f é anaĺıtica em um ponto z0 se ela for diferenciável em z0 e em qualquer ponto de alguma vizinhança de z0. Dito de outra forma consideramos que uma função complexa f é anaĺıtica em um domı́nio D se f for diferenciável em todos os pontos de D. Nesta seção daremos um critério de analiticidade para funções complexas na forma f(z) = u(x, y) + iv(x, y). Teorema 2.3.1 (Equações de Cauchy – Riemann) Suponha que f(z) = u(x, y) + iv(x, y) é diferenciável em um ponto z = x + iy. Então, as derivadas parciais de primeira ordem de u e v existem em z e satisfazem as equações de Cauchy – Riemann ∂u ∂x = ∂v ∂y e ∂u ∂y = −∂v ∂x . (2.3.1) Note que, se uma função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) for anaĺıtica em domı́nio D então as funções reais u e v satisfazem as equações de Cauchy – Riemann (2.3.1) em todo ponto de D. - 21 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Exemplo 2.3.1 A função polinomial f(z) = z2 + z é anaĺıtica para todo z e f(z) = (x2 − y2 + x) + i(2xy + y). Assim, u(x, y) = x2 − y2 + x e v(x, y) = 2xy + y. Para qualquer ponto (x, y), vemos que as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas: ∂u ∂x = 2x+ 1 = ∂v ∂y e ∂u ∂y = −2y = −∂v ∂x . Exemplo 2.3.2 Mostre que a função f(z) = (2x2 + y) + i(y2 − x) não é anaĺıtica em qualquer ponto. Solução: Temos u(x, y) = 2x2 + y e v(x, y) = y2 − x. Assim, ∂u ∂x = 4x e ∂v ∂y = 2y ∂u ∂y = 1 e ∂v ∂x = −1. Das igualdades acima vemos que ∂u ∂y = −∂v ∂x , para todo (x, y), mas ∂u ∂x = ∂v ∂y somente nos pontos sobre a reta y = 2x. Contudo, em pontos sobre essa reta, não existe qualquer vizinhança onde f é diferenciável. Portanto, f não é anaĺıtica em nenhum ponto do plano complexo. Para que a rećıproca do teorema 2.3.1 tenha validade é preciso uma hipótese adicional sobre as funções reais u e v. Teorema 2.3.2 (Critério para analiticidade) Suponha que as funções reais u(x, y) e v(x, y) tenham derivadas parciais de pri- meira ordem cont́ınuas em um domı́nio D. Se u e v satisfizerem as equações de Cauchy – Riemann em todos os pontos de D, então a função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) é anaĺıtica em D. - 22 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Exemplo 2.3.3 Para a função f(z) = x x2 + y2 − i y x2 + y2 , temos ∂u ∂x = y2 − x2 (x2 + y2)2 = ∂v ∂y e ∂u ∂y = − 2xy (x2 + y2)2 = −∂v ∂x . Em outras palavras, as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas, exceto no ponto onde x2 +y2 = 0, ou seja, em z = 0. Conclúımos, a partir do Teorema 2.3.2 que f é anaĺıtica em qualquer domı́nio que não contenha o ponto z = 0. Observe que para obtermos as equações de Cauchy – Riemann precisamos basica- mente, que a função f(z) = u+ iv seja diferenciável no ponto z. Em outras palavras, as equações de Cauchy – Riemann nos dão uma fórmula de cálculo para f ′(z): f ′(z) = ∂u ∂x + i ∂v ∂x = ∂v ∂y − ∂u ∂y . (2.3.2) Por exemplo, sabemos que f(z) = z2 é diferenciávem em todo z. Com u(x, y)x2− y2, ∂u/∂x = 2x, v(x, y) = 2xy e ∂v/∂x = 2y, vemos que f ′(z) = 2x+ i2y = 2(x+ iy) = 2z. Lembre-se que analiticidade implica em diferenciabilidade, mas a rećıproca não é verdadeira. O Teorema 2.3.2 possui uma versão análoga que apresenta condições suficientes para a diferenciabilidade de uma função complexa: Se as funções reais u(x, y) e v(x, y) são cont́ınuas e tem derivadas parciais de primeira ordem cont́ınuas em uma vizinhança de z, e se u e v satisfazem as equações de Cauchy – Riemann no ponto z, então a função complexa f(z) = u(x, y) + iv(x, y) é diferenciável em z, e f ′(z) é dada por (2.3.2). A função f(z) = x2− iy2 não é anaĺıtica em nenhum lugar. Com as identificações u(x, y) = x2 e v(x, y) = −y2, vemos a partir de ∂u ∂x = 2x, ∂v ∂y = −2y e ∂u ∂y = 0, ∂v ∂x = 0 que as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas apenas quando y = −x. Porém, como as funções u, ∂u/∂x, ∂u/∂y, ∂v/∂x e ∂v/∂y são cont́ınuas em todos os pontos, temos que f é diferenciável na reta y = −x, sendo que (2.3.2) define a derivada f ′(z) = 2x = −2y. - 23 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Funções Harmônicas A equação de Laplace ∂2u ∂x2 + ∂2u ∂y2 = 0 descreve, dentre outros fenômenos f́ısicos, problemas envolvendo a distribuição de temperaturas em regime permanente (independente do tempo). Essa equação dife- rencial parcial também desempenha um papel importante em outras áreas da ma- temática aplicada. De fato, as partes real e imaginária de uma função anaĺıtica não podems ser escolhidas arbitrariamente pois tanto u quanto v tem que satisfazer a equação de Laplace. É essa ligação entre funções anaĺıticas e a equação de Laplace que torna as variáveis complexas tão essenciais no estudo da matemática aplicada. Definição 2.3.1 (Funções Harmônicas) Uma função de valor real φ(x, y) que tenha derivadas parciais de segunda ordem cont́ınuas em um domı́nio D e que satisfaça aequação de Laplace é chamada de função harmônica. Teorema 2.3.3 Suponha que f(z) = u(x, y) + iv(x, y) seja uma função anaĺıtica em um domı́nio D. Então, as funções u(x, y) e v(x, y) são funções harmônicas em D. Demonstração : Nessa demonstração, consideraremos que u e v tem derivadas parciais de segunda ordem cont́ınuas. Como f é anaĺıtica, as equações de Cauchy – Riemann são satisfeitas. Diferenciando ambos os lados de ∂u/∂x = ∂v/∂y em relação a x e diferenciando ambos os lados de ∂u/∂y = −∂v/∂x em relação a y, obtemos ∂2u ∂x2 = ∂2v ∂x∂y e ∂2u ∂y2 = − ∂ 2v ∂y∂x . Considerando a continuidade, temos que as derivadas mistas são iguais. Por- tanto, somando as duas equações temos ∂2u ∂x2 + ∂2v ∂y2 = 0. Isso mostra que u(x, y) é harmônica. A demonstração de que v(x, y) é harmônica se faz de modo análogo. Funções harmônicas conjugadas Se f(z) = u(x, y)+ iv(x, y) for anaĺıtica em um domı́nio D, então u e v são funções harmônicas em D. Suponha agora que u(x, y) seja uma função harmônica em D. Então, é posśıvel obter outra função v(x, y) que seja harmônica em D de modo que u(x, y) + iv(x, y) seja uma função anaĺıtica em D. A função v(x, y) é chamada de função harmônica conjugada de u. - 24 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas Exemplo 2.3.4 (a) Verifique que a função u(x, y) = x3 − 3xy2 − 5y é harmônica em todo o plano complexo. (b) Obtenha a função harmônica conjugada de u. Solução: (a) Por derivação parcial, obtemos ∂u ∂x = 3x2 − 3y2, ∂ 2u ∂x2 = 6x, ∂u ∂y = −6xy − 5, ∂ 2u ∂y2 = −6x e assim, ∂2u ∂x2 + ∂2u ∂y2 = 6x− 6x = 0. Logo u satisfaz a equação de Laplace, o que mostra que u é harmônica. (b) Como a função harmônica conjugada deve satisfazer as equações de Cauchy – Riemann, devemos ter ∂v ∂y = ∂u ∂x = 3x2 − 3y2 e ∂v ∂x = −∂u ∂y = 6xy + 5. (2.3.3) A integração parcial da primeira equação de (2.3.3) em relação a y nos fornece v(x, y) = 3x2y − y3 + h(x). A partir disso, temos ∂v ∂x = 6xy + h′(x). Substituindo esse resultado na segunda equação de (2.3.3) obtemos h′(x) = 5, e portanto h(x) = 5x + C. Consequentemente, a função harmônica conjugada de u é v(x, y) = 3x2y − y3 + 5x+ C. A função anaĺıtica é f(z) = x3 − 3xy2 − 5y + i(3x2y − y3 + 5x+ C). � � � 2.3.1. Exerćıcios Nos problemas 01 e 02, a função dada é anaĺıtica para todo z. Mostre que as equações de Cauchy–Riemann são satisfeitas em todos os pontos. 01. f(z) = z3 02. f(z) = 3z2 + 5z − 6i Nos problemas de 03 a 08, mostre que a função indicada não é anaĺıtica em qualquer ponto. 03. f(z) = Re(z) 04. f(z) = y + ix 05. f(z) = 4z − 6z + 3 06. f(z) = z2 - 25 - Caṕıtulo 2. Funções Anaĺıticas 07. f(z) = x2 + y2 08. f(z) = x x2 + y2 + i y x2 + y2 Nos problemas 09 a 13, utilize o Teorema 2.3.2 para mostrar que a função indicada é anaĺıtica em um domı́nio apropriado. 09. f(z) = ex cos y + iex sin y 10. f(z) = ex 2−y2 cos(2xy) + iex 2−y2 sin(2xy) 11. f(z) = 4x2 + 5x− 4y2 + 9 + i(8xy + 5y − 1) 12. f(z) = x− 1 (x− 1)2 + y2 − i y (x− 1)2 + y2 13. f(z) = x3xy2 + x x2 + y2 + i x2y + y3 − y x2 + y2 Nos problemas 14 a 17, mostre que a função indicada não é anaĺıtica em qualquer ponto, porém é diferenciável ao longo da(s) curva(s) indicada(s). 14. f(z) = x2 + y2 + 2xyi; eixox. 15. f(z) = 3x2y2 − 6x2y2i; eixos coordenados 16. f(z) = x3 + 3xy2 − x+ i(y3 + 3x2y − y); eixos coordenados. 17. f(z) = x2 − x+ y + i(y2 − 5y − x); y = x+ 2 Nos problemas 18 a 23, verifique que a função indicada u é harmônica. Determine v, a função harmônica conjugada de u. Forme a função anaĺıtica correspondente f(z) = u+ iv. 18. u(x, y) = x 19. u(x, y) = 2x− 2xy 20. u(x, y) = x2 − y2 21. u(x, y) = 4xy3 − 4x3y + x 22. u(x, y) = loge(x 2 + y2) 23. u(x, y) = ex(x cos y − y sin y) - 26 - O Plano Complexo Os números complexos Exercícios Representação polar Exercícios Raízes n-ésimas Exercícios Funções Analíticas Conjuntos no plano complexo Exercícios Funções de uma variável complexa Exercícios Equações de Cauchy – Riemann Exercícios
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