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1 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA Dislipidemias: É a elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma ou a diminuição dos níveis de HDL que contribuem para a aterosclerose. A doença ateromatosa é subjacente às causas mais comuns de morte (IAM causado por trombose na placa ateromatosa rompida em uma artéria coronária) e de incapacidade (AVE, insuficiência cardíaca) em sociedades industrializadas. A hipertensão e a dislipidemia são importantes fatores de risco para o processo ateromatoso. O transporte de lipoproteínas forma a base para a compreensão dos fármacos utilizados para o tratamento de dislipidemia. ATEROGÊNESE: O ateroma é uma doença focal da íntima das artérias de tamanhos médio e grande. As lesões evoluem durante décadas e são clinicamente silenciosas – a ocorrência de sintomas sinaliza doença avançada. A USG é útil em artérias acessíveis (carótidas). Alterações correlatadas, como redução da complacência aórtica e a deposição de cálcio arterial, podem ser detectadas determinando-se, respectivamente, a velocidade da onda de pulso aórtico e a calcificação das artérias coronárias. Fatores de risco para a doença ateromatosa: • Não podem ser alterados – história familiar de cardiopatia isquêmica por exemplo • Modificáveis – constituem alvos potenciais para medicamentos. Muitos fatores de risco (p. ex., diabetes do tipo 2, dislipidemia, tabagismo) causam disfunção endotelial, o que é evidenciado pela redução das respostas vasodilatadoras à acetilcolina ou pelo aumento do fluxo sanguíneo (a chamada dilatação mediada pelo fluxo), respostas que são inibidas por fármacos que bloqueiam a síntese de óxido nítrico (NO). O endotélio sadio produz NO e outros mediadores que protegem contra ateroma, de modo que é provável que os fatores metabólicos de risco cardiovascular atuem causando disfunção epitelial. A aterogênese envolve: • Disfunção endotelial, com alteração na biossíntese de NO, predispõe à aterosclerose • A lesão do endotélio disfuncional leva à expressão de moléculas de adesão. Isso promove a fixação e a migração de monócitos do lúmen para a íntima. As lesões têm predileção por regiões com distúrbios de fluxo, como os pontos de origem dos ramos aórticos. • O colesterol com lipoproteína de baixa densidade (LDL) é transportado para a parede do vaso. As células endoteliais e monócitos/macrófagos geram radicais livres que oxidam o LDL (oxLDL), resultando em peroxidação lipídica. • O oxLDL é captado por macrófagos por meio de receptores “depuradores” (scavenger). Tais macrófagos são chamados de células espumosas em virtude de seu aspecto histológico “espumoso”, decorrente do acúmulo de lipídios no citoplasma, e são característicos de ateroma. A captação de oxLDL ativa os macrófagos que liberam citocinas pró-inflamatórias. • Acumulação subendotelial de células espumosas e de linfócitos T formam estrias gordurosas. • Mecanismos protetores, por exemplo, a mobilização do colesterol da parede da artéria e o seu transporte no plasma sob a forma de colesterol com lipoproteína de alta densidade (HDL), denominado “transporte reverso de colesterol”. • Liberação de citocinas e fator de crescimento por plaquetas ativadas, macrófagos e células endoteliais, causando proliferação da musculatura lisa e deposição de componentes do tecido conjuntivo. Essa resposta inflamatória fibroproliferativa leva a uma densa capa fibrosa sobre um centro rico em lipídios, e essa estrutura inteira compõe a placa ateromatosa. • Ruptura da placa, formando um substrato para a trombose. A presença de grande número de macrófagos predispõe à ruptura da placa, enquanto o músculo liso vascular e as proteínas da matriz estabilizam a placa. TRANSPORTE DE LIPOPROTEÍNAS: Os lipídeos e o colesterol são transportados na corrente sanguínea como complexos de lipídeo e proteína – lipoproteínas. Esse complexo consiste em um núcleo central de lipídios hidrofóbicos (incluindo os triglicerídios e os ésteres de colesteril) envoltos por uma capa de 2 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA fosfolipídios polares, colesterol livre e apoproteína. • Existem quatro principais classes de lipoproteínas – diferem quanto à proporção relativa dos lipídios no núcleo e no tipo de apoproteína (apoA e apoB). • As apoproteínas ligam-se a receptores específicos que medeiam a captação de partículas lipoproteicas no fígado, sangue e outros tecidos. As lipoproteínas diferem em tamanho e densidade, que é a base para sua classificação em: • Partículas HDL (contêm apoA1 e apoA2) – diâmetro de 7 a 20 nm • Partículas LDL (apoB-100) – diâmetro de 20 a 30 nm • Partículas de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) (apoB-100) – diâmetro de 30 a 80 nm • Quilomícrons (apoB-48) – diâmetro de 100 a 1.000nm. Cada classe de lipoproteína desempenha um papel específico no transporte lipídico, e existem diferentes vias para os lipídios exógenos e endógenos, assim como vias para o transporte reverso de colesterol. Figura 24.1 Diagrama esquemático do transporte de colesterol nos tecidos, com os pontos de ação dos principias fármacos que afetam o metabolismo das lipoproteínas. C, colesterol; CETP, proteína de transporte de ésteres de colesteril; HDL, lipoproteína de alta densidade; HMG-CoA, 3-hidroxi-3- metilglutaril-coenzima A; LDL, lipoproteína de baixa densidade; MVA, mevalonato; NPC1L1, um transportador de colesterol em microvilosidades de enterócitos; PCSK9, pró-proteína convertase subtilisina/quexina 9; VLDL, lipoproteína de muito baixa densidade. Via exógena: O colesterol e os triglicerídios absorvidos pelo íleo são transportados como quilomícrons na linfa e depois no sangue, para os capilares nos músculos e tecido adiposo. Nesses locais, os triglicerídios são hidrolisados pela lipoproteína lipase, e os tecidos captam os ácidos graxos livres e o glicerol resultantes. Os quilomícrons remanescentes, ainda contendo seu complemento de ésteres de colesteril completo, passam para o fígado, ligam-se a receptores presentes nos hepatócitos e sofrem exocitose. O colesterol liberado nos hepatócitos é armazenado, oxidado a ácidos biliares, secretado inalterado na bile ou pode ingressar na via endógena. Via endógena: O colesterol e os triglicerídios recém-sintetizados são transportados do fígado na forma de VLDL para o músculo e o tecido adiposo, onde os triglicerídios são hidrolisados originando ácidos graxos e glicerol – estes passam para os tecidos. Durante esse processo, as partículas lipoproteicas tornam-se menores, porém retêm um complemento total de ésteres de colesteril e se tornam partículas LDL. O LDL fornece a fonte de colesterol para incorporação em membranas celulares e para a síntese de esteroides, mas também é essencial para a aterogênese. As células captam o LDL por endocitose por meio dos receptores LDL que reconhecem a apoB-100. Os receptores LDL são essenciais na determinação da concentração de LDL circulante e, consequentemente, para o desenvolvimento e progressão da doença ateromatosa. As estatinas atuam ao bloquear a síntese de colesterol nos hepatócitos, que respondem aumentando a expressão dos receptores LDL na superfície membranar. Os inibidores PCSK9, também influencia a densidade dos receptores LDL, mas por um mecanismo diferente, designadamente reduzindo a degradação lisossomal dos receptores LDL internalizados, levando a um aumento da reciclagem dos receptores LDL funcionais na superfície membranar. Dos tecidos, o colesterol pode retornar ao plasma na forma de partículas HDL (transporte reverso de colesterol). O colesterol é esterificado com ácidos graxos de cadeia longa em partículas HDL, e os ésteres de colesteril resultantes são transferidos para partículas VLDL ou LDL por intermédio de uma proteína de transferência presente no plasma conhecida como CETP (cholesteryl ester transferprotein). Uma espécie de LDL associada com aterosclerose que se localiza em lesões ateroscleróticas denomina- se lipoproteína(a), ou Lp(a). A Lp(a) contém uma apoproteína única, a apo(a), que apresenta similaridades estruturais com o plasminogênio. 3 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA A Lp(a) compete com o plasminogênio pelo seu receptor nas células endoteliais. O plasminogênio normalmente é o substrato para o ativador de plasminogênio, que é secretado pelas células endoteliais e a estas se liga, dando origem à enzima fibrinolítica plasmina. O efeito da ligação da Lp(a) é a diminuição de formação de plasmina, inibição de fibrinólise e promoção de trombose. As proteínas de transferência de lipídios foram associadas à aterogênese. A ACAT (acil coenzima A: colesterol aciltransferase) catalisa a síntese intracelular do ésteres de colesteril em macrófagos, córtex da suprarrenal, intestino e fígado. O tamoxifeno (usado no tto de CA mama) é um potente inibidor de ACAT. A CETP está envolvida na transferência de colesterol entre diferentes classes de partículas de lipoproteína no plasma. A proteína de transporte microssômico de triglicerídios (MTP) é uma proteína de transferência de lipídios presente no lúmen do retículo endoplasmático responsável pela ligação e transferência de lipídios entre membranas. A inibição da MTP interfere na secreção da apoB e na montagem do LDL, e a lomitapida, um desses inibidores, é utilizada em conjunto com a dieta e outras medidas na hipercolesterolemia familiar homozigótica. DISLIPIDEMIA: Pode ser primária ou secundária. As formas primárias ocorrem por uma combinação de dieta e genética (geralmente, mas nem sempre poligênicas). São classificadas em 6 fenótipos: Há um risco especialmente grande para doença cardíaca isquêmica em um subconjunto do tipo primário IIa de hiperlipoproteinemia causada por defeitos em um único gene dos receptores de LDL; é conhecido como hipercolesterolemia familiar (HF). A concentração plasmática de colesterol total, normalmente < 5 mmol/ℓ, em adultos afetados está acima de 8 mmol/ℓ em heterozigotos e é de 12 a 25 mmol/ℓ em homozigotos. As formas secundárias de dislipidemia são consequência de outras condições, como diabetes melito, alcoolismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipotireoidismo, doença hepática e administração de fármacos, por exemplo, isotretinoína (isômero da vitamina A usado para tto de acne grave), tamoxifeno, ciclosporina e inibidores de protease usados no tratamento de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. As formas secundárias são tratadas corrigindo a causa subjacente. PREVENÇÃO DE DOENÇA ATEROMATOSA: O tratamento farmacológico é complemento de hábitos saudáveis. O tratamento da hipertensão e do diabetes melito reduz a incidência de doença ateromatosa sintomática. Os antitrombóticos reduzem a trombose arterial. Reduzir o LDL também é eficaz, mas vários outros passos na aterogênese também são alvos em potencial para a ação de medicamentos. Inibidores da enzima conversora de angiotensina: melhoram a função endotelial e prolongam a vida em pcts com doença ateromatosa. Outros fármacos que também aumentam a biossíntese de NO ou sua disponibilidade estão em investigação. Medidas para elevar o HDL: • Ingestão moderada de álcool • Exercícios regulares • Tratamento medicamentoso é de benefício incerto. Os fibratos e derivados do ácido nicotínico aumentam discretamente o HDL e reduzem LDL e triglicerídios. Em indivíduos com HDL baixo, a inibição da CETP pode aumentar substancialmente o HDL circulante. No entanto, três desses fármacos falharam devido à falta de eficácia clínica ou a efeitos adversos. Um ensaio clínico de um quarto fármaco, anacetrapib, demonstrou que este aumenta o HDL e diminui o LDL, sendo associado a uma redução modesta de grandes eventos coronários, quando comparado com o 4 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA placebo em pacientes em risco de eventos cardíacos já sob terapia com estatinas. No entanto, não se observou um efeito na mortalidade geral, e seu desenvolvimento foi descontinuado. Antioxidantes (p. ex., vitaminas C e E) são de interesse tanto pelos relatórios de que melhoram a função endotelial em pacientes com aumento do estresse oxidativo como pelas evidências epidemiológicas de que uma dieta rica em antioxidantes se associa à redução do risco de coronariopatia. Contudo, os resultados de ensaios clínicos têm sido negativos, e vários antioxidantes reduzem o HDL. Os estrógenos, usados em prevenção dos sintomas de menopausa e da osteoporose pós-menopausa, têm propriedades antioxidantes e exercem outros efeitos vasculares que poderiam ser benéficos. Evidências epidemiológicas sugerem que as mulheres que usam tal reposição hormonal podem apresentar redução no risco de doença ateromatosa, mas ensaios controlados mostraram efeitos adversos significativos sobre a mortalidade cardiovascular. Abordagens anti-inflamatórias: o tratamento medicamentoso para reduzir a proteína C reativa (PC- R) tem sido discutido, mas é provável que, embora a PC-R elevada seja um marcador de inflamação vascular, ela não desempenha um papel direto na aterogênese. Outras medidas anti-inflamatórias estão sendo investigadas; por exemplo, inibidores da ACAT. FÁRMACOS REDUTORES DE LIPÍDIOS: Vários fármacos diminuem as concentrações de lipoproteínas plasmáticas. A terapia medicamentosa é usada complementarmente às medidas dietéticas e à correção de outros fatores de risco cardiovascular modificáveis. Os principais usados são: • Estatinas: inibidores da 3-hidroxi-3metilglutaril- coenzima A (HMG-CoA) redutase • Inibidores PCSK9 • Fibratos • Inibidores da absorção de colesterol • Ácido nicotínico e seus derivados ESTATINAS - INIBIDORES DA HMG-COA REDUTASE: A etapa enzimática limitante na síntese do colesterol é a HMG-CoA redutase, que catalisa a conversão de HMG-CoA a ácido mevalônico. Sinvastatina, lovastatina e pravastatina são inibidores competitivos, específicos e reversíveis da HMG-CoA redutase com valores de Ki de aproximadamente 1 nmol/ℓ. Atorvastatina e rosuvastatina são inibidores de ação prolongada. A diminuição da síntese hepática de colesterol suprarregula (upregulates) a síntese do receptor de LDL, aumentando a remoção de LDL do plasma para os hepatócitos. O principal efeito bioquímico das estatinas, portanto, é reduzir o LDL plasmático. Também há certa redução dos triglicerídios plasmáticos e aumento do HDL. Outras ações das estatinas: Produtos da via do mevalonato reagem com a proteína (“lipidação”, que é a adição de grupos hidrofóbicos como prenil ou farnesil a uma proteína). Algumas importantes enzimas ligadas à membrana (p. ex., NO sintase endotelial) são modificadas dessa maneira. Os ácidos graxos servem como âncoras, fixando a enzima em organelas como as cavéolas e o aparelho de Golgi. Consequentemente, há interesse nos efeitos das estatinas não relacionados ou indiretamente relacionados com seu efeito sobre o LDL plasmático (algumas vezes denominados efeitos pleiotrópicos). Algumas dessas ações são indesejáveis (p. ex., a HMG-CoA redutase orienta as células germinativas primordiais em migração, estando contraindicado o uso de estatinas durante a gravidez), mas algumas oferecem promessa terapêutica. Tais ações potencialmente benéficas incluem: • Melhora da função endotelial • Redução da inflamação vascular • Redução da agregação plaquetária • Aumento da neovascularização em tecido isquêmico • Aumento de células progenitoras endoteliais circulantes • Estabilização da placa aterosclerótica • Efeitos antitrombóticos • Aumento da fibrinólise Não se sabe em que grau tais efeitos contribuem para as ações antiateromatosas das estatinas. Farmacocinética: • De ação curta são administradas por via oral, à noite parareduzir o pico matinal de síntese de colesterol. • Bem absorvidas e extraídas pelo fígado, seu local de ação, e sofrem extenso metabolismo pré- sistêmico por meio das vias citocromo P450 e glicuronidação. • A sinvastatina é um profármaco inativo de lactona; é metabolizada no fígado dando origem à sua forma ativa, o ácido graxo beta-hidroxilado correspondente. Efeitos adversos: São bem toleradas. • Dor muscular (mialgia) • Desconforto gastrointestinal • Elevação das concentrações plasmáticas de enzimas hepáticas • Insônia • Rash cutâneo 5 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA Efeitos adversos mais sérios são raros, mas incluem dano do músculo estriado (miosite que, quando é grave, é descrita como rabdomiólise) e angioedema. A miosite é um efeito das estatinas como classe, e também ocorre com outros redutores de lipídios (especialmente os fibratos) e está relacionada com a dose. É mais comum nos pacientes com baixa massa corporal magra ou hipotireoidismo não controlado. INIBIDORES DA PRÓ-PROTEÍNA CONVERTASE SUBTILISINA/QUEXINA TIPO 9: A PCSK9 é sintetizada na forma inativa por muitos tecidos (cérebro, fígado). É ativada de forma autocatalítica pela quebra proteolítica, que remove uma seção da cadeia peptídica que bloqueia a sua atividade. Quando ativada, liga-se aos receptores de LDL e promove a sua degradação lisossomal após a internalização do LDL no citoplasma dos hepatócitos, prevenindo, assim, a reciclagem dos receptores LDL na superfície membranar e diminuindo sua capacidade para sequestrar LDL. Os membros da família que herdam uma forma hiperativa do gene PCSK9 sofrem de hipercolesterolemia grave. Por sua vez, os indivíduos com mutações inativas nesse gene apresentam baixas concentrações de LDL circulante e baixa incidência de doença ateromatosa. Aqueles com homozigose para PCSK9 inativado apresentam concentrações plasmáticas de LDL muito baixas e são saudáveis. Este fato encorajou o desenvolvimento de anticorpos monoclonais que bloqueiam a PCSK9, prevenindo a ligação aos receptores LDL e sinalizando-os para a destruição lisossomal. Evolocumabe e alirocumabe já estão aprovados nos EUA e na Europa para o tratamento de hipercolesterolemia primária em pacientes cujo LDL circulante não esteja devidamente controlado por uma estatina ou combinação de estatina/ezetimiba, como agentes adicionais (ou administrados de forma isolada aos pacientes que não toleram o tratamento com estatina). O evolocumabe é administrado por via subcutânea a cada 2 a 4 semanas e o alirocumabe, a cada 2 semanas. Efeitos adversos comuns em ambos os agentes incluem nasofaringite e sintomas gripais. Estão sendo desenvolvidos outros agentes que funcionam por meio da inibição dessa via como, por exemplo, pequeno RNA de interferência que provoca a inibição prolongada da síntese de PCSK9. FIBRATOS: Derivados do– bezafibrato, ciprofibrato, genfibrozila, ácido fíbrico fenofibrato e clofibrato. Reduzem acentuadamente o VLDL circulante e os triglicerídios, com redução modesta (cerca de 10%) do LDL e aumento de aproximadamente 10% do HDL. Mecanismo de ação complexo. São agonistas dos receptores nucleares PPARα5; em seres humanos, os principais efeitos são de aumento da transcrição dos genes de lipoproteína lipase, apoA1 e apoA5. Aumentam a captação hepática de LDL. Além dos efeitos sobre lipoproteínas, os fibratos reduzem a PC- R e o fibrinogênio plasmáticos, aumentam a tolerância à glicose e inibem a inflamação da musculatura lisa vascular por inibição da expressão do fator de transcrição nuclear NFκB. Desconhece-se a importância relativa desses efeitos, não tendo sido demonstrado o aumento da sobrevida com a utilização de fibratos. Efeitos adversos: • Rabdomiólise é incomum mas grave, originando insuficiência renal aguda associada à excreção de proteínas musculares pelos rins, especialmente a mioglobina. • Ocorre particularmente em pacientes com comprometimento renal, devido a redução da ligação proteica e eliminação deficiente de fármacos. • Os fibratos devem ser evitados em tais pacientes e também em alcoólatras, que possuem predisposição à hipertrigliceridemia, porém com risco de rabdomiólise. • Em raros casos, as estatinas podem também causar rabdomiólise e, portanto, o uso combinado de fibratos com essa classe de fármacos é desaconselhável (embora às vezes alguns especialistas o façam). • Os sintomas gastrintestinais, prurido e rash são mais comuns do que com as estatinas. • O clofibrato predispõe a cálculos biliares e, portanto, seu uso está restrito a pacientes que sofreram colecistectomia (p. ex., remoção da vesícula biliar). FÁRMACOS QUE INIBEM A ABSORÇÃO DO COLESTEROL: 6 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA As resinas de ligação a sais biliares (p. ex., colestiramina, colestipol) eram os únicos agentes disponíveis para reduzir a absorção do colesterol e estavam entre os poucos meios para redução do colesterol plasmático. Administrados VO, sequestram sais biliares no intestino e previnem sua reabsorção e recirculação êntero-hepática. A concentração de HDL não se altera, e eles causam aumento indesejado de triglicerídios. A redução na absorção de colesterol exógeno e o aumento do metabolismo do colesterol endógeno em sais biliares no fígado elevam a expressão de receptores de LDL nos hepatócitos e, portanto, aumentam a depuração de LDL do sangue, com redução da concentração plasmática de LDL. As resinas são viscosas, de gosto desagradável e muitas vezes causam diarreia. Interferem na absorção de vitaminas lipossolúveis e de diuréticos tiazídicos, digoxina e varfarina. Esses fármacos devem, portanto, ser administrados 1 h antes ou 4 a 6 h após a resina. Com a introdução das estatinas, seu uso no tratamento de dislipidemia foi amplamente relegado a tratamento adicional em casos de pacientes com doença grave (p. ex., HF) e (um uso separado) para o tratamento de sintomas associados aos sais biliares como prurido e diarreia. O colesevelam está disponível na forma de comprimido e é menos viscoso (a dose diária é de até 4 g, em comparação com a dose de até 36 g da colestiramina), porém mais caro. Subsequentemente, esteróis e estanóis de plantas estão sendo comercializados; estes são isolados da polpa da madeira e usados na fabricação de margarinas e iogurtes. Causam discreta redução do colesterol plasmático e possuem sabor melhor do que as resinas. Os ésteres de fitosterol e o fitostanol interferem na apresentação micelar dos esteróis à superfície do enterócito, reduzindo a absorção de colesterol e, portanto, a via exógena. EZETIMIBA: Pertence ao grupo de azetidinonas inibidoras da absorção de colesterol e é usada como coadjuvante à dieta e ao uso de estatinas na hipercolesterolemia. No duodeno, inibe a absorção de colesterol (e de estanóis vegetais) por bloqueio de uma proteína transportadora (NPC1L1) nas microvilosidades (borda em escova) dos enterócitos, sem afetar a absorção de vitaminas lipossolúveis, triglicerídios ou ácidos biliares. Em virtude de sua alta potência em comparação com as resinas (uma dose diária de 10 mg), esta representa um avanço útil como substituta das resinas na complementação do tratamento com estatinas em pacientes com dislipidemia grave. A ezetimiba é administrada por via oral e absorvida nas células epiteliais do intestino, onde se localiza nas microvilosidades, que se presume serem seu ponto de ação. Também é extensamente (> 80%) metabolizada, originando um metabólito ativo. A recirculação êntero-hepática faz com que sua eliminação seja lenta. A meia-vida terminal é de aproximadamente 22 h. Passa para o leite (pelo menos em estudos animais) e está contraindicada para lactantes. É em geral bem tolerada, mas pode causar diarreia, dor abdominal ou cefaleia; foram relatados rash e angioedema. ÁCIDO NICOTÍNICO: É umavitamina essencial para muitos processos metabólicos importantes. Tem sido usado em quantidades de gramas como agente redutor de lipídios. É convertido em nicotinamida, que inibe a secreção hepática de VLDL, com consequente redução de triglicerídios e LDL circulantes, incluindo Lp(a) e aumento do HDL. Acredita-se que o mecanismo seja iniciado por um efeito sobre a lipólise por intermédio de um receptor da niacina acoplado à proteína G, denominado HM74A e presente nas membranas de adipócitos. Os efeitos adversos incluem rubores, palpitações e distúrbios gastrintestinais. Infelizmente, a adição de ácido nicotínico a uma estatina não melhora o desempenho cardiovascular, mas aumenta os efeitos adversos graves (estudo HSP2-THRIVE), e a sua utilização clínica vem diminuindo. DERIVADOS DE ÓLEO DE PEIXE: Os triglicerídios ômega-3 de origem marinha reduzem as concentrações de triglicerídios no plasma, mas aumentam o colesterol. Já não são recomendados na prática clínica em decorrência da ausência de benefício clínico. MIPOMERSENO: Está aprovado nos EUA para uma única indicação, a HF homozigótica. É um oligonucleotídio antissenso complementar à região do mRNA, que codifica a apoB-100 que, por sua vez, inibe a síntese de apoB- 100 e de LDL. Modificações químicas conferem ao mipomerseno resistência à degradação por nucleases, permitindo que seja administrado 1 vez/semana, como adjunto de outro tratamento para a HF homozigótica. Este se acumula no fígado, que é o local da sua ação, mas também da sua toxicidade – a hepatotoxicidade é um problema grave que limita a sua utilização, requerendo monitoramento cuidadoso. Outros efeitos adversos incluem sintomas gripais e edema. 7 Laís Flauzino | FARMACOLOGIA | 6°P MEDICINA LOMITAPIDA: Também foi recentemente aprovada como adjunto de outro tratamento para a HF homozigótica. É uma pequena molécula inibidora da MTP. A MTP tem um papel-chave na montagem e liberação na circulação de lipoproteínas que contêm apoB, e a inibição dessa proteína reduz significativamente os níveis de lipídios no sangue. Esta ação contrasta com outros fármacos que diminuem os lipídios, mas que atuam principalmente por meio do aumento da captura de LDL em vez da redução da secreção hepática de lipoproteína. A lomitapida é administrada por via oral 1 vez/dia, e a dose é individualizada de acordo com a forma como é tolerada. Distúrbios gastrintestinais são comuns. Ritter, James M. Rang & Dale Farmacologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Grupo GEN, 2020. https://www.msdmanuals.com/pt- br/profissional/dist%C3%BArbios- end%C3%B3crinos-e- metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios- lip%C3%ADdicos/dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-lip%C3%ADdicos/dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-lip%C3%ADdicos/dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-lip%C3%ADdicos/dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-lip%C3%ADdicos/dislipidemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-lip%C3%ADdicos/dislipidemia
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