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1 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. DESCREVER as relações anatômicas do sistema porta 2. ANALISAR a classificação da Hipertensão Porta e suas etiologias 3. DESCREVER as repercussões clínicas da Hipertensão Porta à luz de sua fisiopatogenia 4. IDENTIFICAR as opções terapêuticas clínicas e cirúrgicas. REFERÊNCIAS VECCHI, Igor Cardoso; et.al. Hipertensão Portal uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. Vol.7, n.1.p. 45-49, jun-ago, 2014. MARTINELLI, A. L. C. Hipertensão portal. Medicina (Ribeirão Preto). V. 37, n. 3/4, p. 253-261, 2004. MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M R. Anatomia Orientada para Clínica, 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. HISTOLÓGIA E ANATÔMIA DO FÍGADO E SISTEMA PORTA O fígado tem a função de sintetizar diversas proteínas plasmáticas (albumina e proteínas carreadoras), além de metabolizar substâncias, para que possam ser devidamente excretadas do organismo através da bile. Ele é dividido em lobos direito, esquerdo, quadrado e caudado , sendo os dois primeiros sua maior parte. Histologicamente, os hepatócitos se organizam em lóbulos ou ácinos hepáticos Na organização lobular, os lóbulos são hexagonais, compostos por cordões de hepatócitos dispostos radialmente, com uma veia hepática central (centrolobular) e espaços porta nos vértices, os quais são compostos classicamente por um ramo da veia porta, um ramo da artéria hepática e um ducto biliar, formando a tríade portal. Com isso, há hepatócitos centrolobulares e hepatócitos perilobulares. Essa divisão é importante porque na maioria das patologias hepáticas os hepatócitos perilobulares são afetados primeiro. A veia porta é a principal responsável pela irrigação do fígado, formada pela união da veia mesentérica superior + veia esplênica. Assim, a veia porta se comunica com vasos que recebem sangue dos intestinos, do baço, do estômago e do esófago. Por isso, patologias em qualquer um destes órgãos podem gerar a hipertensão portal. No hilo hepático, a veia porta divide-se em 2 ramos: direito, que supre de sangue o lobo direito do fígado e esquerdo, que leva sangue para os lobos esquerdo, caudado e quadrado. Os sinusoides são os espaços entre os lóbulos, onde se localizam os capilares sinusoides, separados dos capilares endoteliais pelo espaço Hipertensão Portal Problema 10 CAUDADO ESQUERDO QUADRADO DIREITO 2 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 do Disse, onde ficam as células de Ito (células estreladas) e onde ocorrem as trocas entre os hepatócitos e os sinusoides, ou seja, entrada das substâncias presentes no sangue, que precisam ser excretadas, e saída das proteínas produzidas pelo fígado para a circulação sistêmica. Os sinusoides formam as veias centrolobulares, que se fundem às veias sublobulares, as quais convergem formando as veias hepáticas. As veias hepáticas desembocam na veia cava inferior. Veia esplênica + Veia mesentérica superior > Veia porta → Sinusoides → Veias centrolobulares → Veias hepáticas → Veia cava inferior → VD DEFINIÇÃO A Hipertensão Portal é uma síndrome definida pelo aumento da resistência ou obstrução do fluxo sanguíneo no sistema porta, não sendo uma doença em si, mas uma complicação principalmente de disfunções hepáticas e a alterações nos vasos associados ao sistema porta. Teoricamente, a hipertensão portal é definida por uma pressão na veia porta maior ou igual a 6 mmHg, porém a hipertensão portal se torna clinicamente significativa apenas quando este valor está maior ou igual a 10 mmHg. Porém, como a mensuração direta da pressão nesta veia é de difícil obtenção, a definição usada habitualmente é feita pelo gradiente de pressão venosa hepática (HVPG), que quando maior que 5 mmHg, identifica a existência da hipertensão portal. Este gradiente é aferido pela cateterização da veia hepática por punção da veia jugular interna. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO PORTAL A classificação da hipertensão portal é feita de acordo com o local da etiologia dessa síndrome, assim, pode ser pré-hepática, intra-hepática (hepática) ou pós-hepática. PRÉ-HEPÁTICA: causada por condições que aumentam a resistência ao fluxo sanguíneo até chegar à veia porta. PRÉ-HEPÁTICA Trombose da veia esplênica; Trombose da veia porta; Esplenomegalia maciça (síndrome de Banti); Cavernomatose da veia porta. INTRA-HEPÁTICA: causada por condições que aumentam a congestão dentro do sistema porta, e se divide ainda em pré-sinusoidal, sinusoidal e pós-sinusoidal, de acordo com o local acometido dentro do fígado. INTRA-HEPÁTICA I.Pré sinusoidal: Esquistossomose; Fibrose hepática congênita; II.Sinusoidal: Cirrose hepática; Hepatite crônica. III.Pós sinusoidal: Obstrução sinusoidal hepática (síndrome veno- oclusiva) PÓS-HEPÁTICA: relacionada com a congestão no sistema da veia cava inferior PÓS-HEPÁTICA Síndrome de Budd-Chiari; Malformações congênitas na veia cava inferior; Causas cardíacas (miocardiopatia restritiva, pericardite constritiva, insuficiência cardíaca congestiva grave). 3 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 FISIOPATOLOGIA A pressão no sistema portal como em qualquer outro sistema vascular, é o resultado da interação entre o fluxo sanguíneo e a resistência vascular que se opõe a esse fluxo. Assim, a pressão portal pode aumentar, se houver aumento do fluxo sanguíneo portal ou aumento da resistência vascular ou de ambos. A resistência aumentada do fluxo pode ser pré- hepática, pós-hepática e intra-hepáticas. Como em qualquer outro endotélio vascular, a modulação da resistência depende da interação entre vasodilatadores e vasoconstrictores. Assim, foi demonstrado que além do ↑ da resistência ao fluxo, há também um ↑ do fluxo sanguíneo portal e uma vasodilatação esplâncnica, apesar de a hiperresistência ser o principal fator responsável pela hipertensão portal. O sistema se autoalimenta pela retenção de vasodilatadores esplâncnicos (prostaciclinas e óxido nítrico) que, em última análise, redistribui a volemia de forma a ↓ a perfusão orgânica e a ativar o SRAA, catecolaminas e ADH. A ativação neuro-hormonal de vasoconstrictores (angiotensina II, vasopressina, norepinefrina, endotelinas e prostanóides) então ↑ a volemia e o fluxo na veia porta, ↑ ainda mais a pressão no sistema. A ↓ resistência vascular provoca um estado circulatório hiperdinâmico nos pacientes cirróticos. O ↑ do fluxo sanguíneo portal é consequente à vasodilatação em órgãos esplâncnicos, que drenam o sangue para a veia porta. Existe ainda outro mecanismo de retroalimentação: o óxido nítrico produzido pelo sistema intestinal, no paciente saudável, chega ao sistema porta intra-hepático, dilatando-o. Na hipertensão porta esse óxido nítrico deixa de chegar ao fígado, provocando vasoconstrição no leito hepático, ao mesmo tempo em que ↑ no sistema esplâncnico, promovendo vasodilatação e ↑ o fluxo em direção ao sistema porta. Assim, na sistêmica e esplâncnica o tônus está ↓, na microvasculatura hepática o tônus está ↑. SINAIS E SINTOMAS A hipertensão portal é usualmente assintomática, sendo seus sinais e sintomas decorrentes das complicações da afecção. CIRCULAÇÃO COLATERAL ABDOMINAL: visível na parede abdominal anterior e caracterizada pela observação de vasos ingurgitados irradiando da cicatriz umbilical com fluxo sanguíneo ascendente, acima da cicatriz umbilical e descendente, abaixo da cicatriz umbilical. Consequente ao fluxo sanguíneo aumentado e ao turbilhonamento, ausculta-se um murmúrio sobre os vasos dilatados que se denomina sinal de Curveilhier-Baumgarten.VARIZES GASTROESOFÁGICAS: constituem vasos calibrosos que são observados especialmente no esôfago, estômago e reto. Sua formação é dependente da pressão portal, definida como um gradiente limiar de pressão venosa hepática de 10 a 12 mmHg, abaixo do qual as varizes não se formam. A manifestação clínica mais comum é o sangramento devido à ruptura dos vasos, podendo apresentar-se por hematêmese, melena, enterorragia e/ou sinais de anemia. **Ambos os quadros acima correspondem aos vasos colaterais portossistêmicos, que são canais vasculares que unem a circulação venosa porta e sistêmica. ASCITE: acúmulo insidioso de líquido na cavidade peritoneal tendo como causa principal, 4 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 indubitavelmente, a hipertensão portal relacionada com a cirrose hepática. Sua instalação, secundária à hipertensão sinusoidal e à retenção de sódio, é dependente do gradiente limiar da pressão venosa hepática em 12 mmHg. Observa-se, habitualmente, aumento da circunferência abdominal, que pode ser acompanhado de edema periférico. Se a quantidade de líquido ascético for elevada, poderá haver comprometimento da função respiratória, ocasionando dispneia. Pode ocorrer também contaminação do fluido ascítico, denominada peritonite bacteriana espontânea, que ocorre na ausência de perfuração de órgão oco ou de um foco inflamatório intra-abdominal. A infeção pode precipitar quadros de encefalopatia hepática e de insuficiência renal. ESPLENOMEGALIA: responsável por manifestações de desconforto abdominal, dor abdominal no quadrante superior esquerdo além de aumentar o risco de rompimento do órgão após trauma. Pode ser acompanhada de manifestações consequentes ao hiperesplenismo como leucopenia, plaquetopenia e anemia. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS: manifestações do tipo circulação hipercinética, como taquicardia de repouso, íctus impulsivo e redução nos níveis da pressão arterial, podem ser observadas. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA: a encefalopatia hepática pode ser manifestação consequente à extensa circulação colateral e/ou à insuficiência hepática. BAQUETEAMENTO DOS DEDOS/UNHAS EM VIDRO DE RELÓGIO: acredita-se que seja manifestação de hipoxemia arterial consequente à extração prejudicada do oxigênio na periferia, à presença de comunicações arteriovenosas, além de diminuição da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio. MANIFESTAÇÕES PULMONARES: podem estar presentes manifestações como taquipnéia e dispnéia de esforço, consequentes à síndrome hepatopulmonar, caracterizada por vasodilatação funcional da circulação pulmonar por resposta defeituosa à hipóxia. Pode haver ainda queixa de dispnéia de esforço relacionada à hipertensão pulmonar. DIAGNÓSTICO ANAMNESE: questionar sobre o uso abusivo de álcool, contato prévio com algum vírus da hepatite, histórico de transfusão sanguínea, uso de drogas injetáveis, preferência sexual, uso de drogas hepatotóxicas... *ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: visualização direta das varizes esofágicas e/ou de fundo gástrico. *ULTRASSONOGRAFIA COM DOPPLER E/OU RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: permitem visualizar todo o sistema porta inclusive, processos trombóticos, direção do fluxo sanguíneo, sendo considerados seguros e de elevada confiabilidade. PORTOGRAFIA TRANSPARIETO-HEPÁTICA: considerado exame direto, de boa visualização da imagem, permite a aferição da pressão de forma direta. Pouco utilizado devido aos riscos de hemorragia em decorrência da punção hepática. SUPRA-HEPATOGRAFIA: permite avaliar o nível pressórico das veias intra-hepáticas, tanto da pressão livre quanto da ocluída. É muito útil na cirrose hepática, porém os valores obtidos para hipertensão porta pré-sinusoidal, não são muito confiáveis. TRATAMENTO TRATAMENTO PROFILÁTICO DA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA O tratamento medicamentoso tem como objetivo principal manter o gradiente de pressão da veia hepática abaixo de 12 mmHg. Β-BETABLOQUEADORES NÃO SELETIVOS (BBNS): 1° escolha e consiste em bloquear os receptores β2 adrenérgicos, produzindo vasoconstrição arteriolar esplênica afim de diminuir o fluxo na veia. • Propranolol: 20 a 40mg/dia em duas tomadas; • Nadolol: 40 mg em dose única. CONDUTA TERAPÊUTICA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA 5 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 Para minimizar complicações hemodinâmicas maiores, o paciente deverá ser tratado em unidade de terapia intensiva. ▪ Oxigenoterapia ▪ Reposição volêmica através da infusão de cristaloides e hemoderivados. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ▪ vasoconstritores esplâncnicos: somatostatina, octreotide, terlipressina TRATAMENTO ENDOSCÓPICO ESCLEROTERAPIA: consiste na injeção de substâncias esclerosantes na varizes ou perivascular, como: etanol absoluto, etanolamina a 5% e cloreto de sódio a 3,5%. LIGADURA ELÁSTICA ENDOSCÓPICA: 1ª escolha pois apresenta menores complicações, ocluindo mecanicamente o foco hemorrágico das varizes, apresentando uma taxa de controle de 86 a 92% do sangramento. ADESIVO TECIDUAL (N-BUTIL-2-CIANOACRILATO) apresenta tamponamento do local de sangramento quando em contato com o sangue. A taxa de controle da hemorragia está em torno de 84 a 100%, mas o risco de ressangramentos aumenta com o decorrer do tempo. TAMPONAMENTO COM BALÃO DE SENGSTAKEN- BLACKMORE: é obtido através da passagem de um cateter com um balão pelo nariz, deixando-o na luz esofágica. A técnica se faz por insuflação com 60 ml de ar no balão, as veias varicosas são comprimidas e o tamponamento do foco hemorrágico é obtido. TRATAMENTO ENDOVASCULAR (TIPS) Tem como objetivo principal o controle do sangramento através da introdução de prótese vascular por meio da veia jugular até o interior do fígado. Esta prótese funcionará como uma ponte de ligação entre o ramo intra hepático da veia porta com veias hepáticas que drenam o fluxo sanguíneo para a veia cava inferior. TRATAMENTO CIRÚRGICO ANASTOMOSE PORTOCAVA TERMINOLATERAL: é a mais utilizada, pois propicia controle do sangramento e previne possíveis recidivas em quase totalidade dos pacientes.
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