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Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 1 “Só fazemos melhor aquilo que repetidamente insistimos em melhorar. A busca da excelência não deve ser um objetivo, e sim um hábito.” Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 2 Quem sou eu? Olá, eu sou o João! Se você adquiriu esse ebook é porque conhece um pouco do meu trabalho; mas agora eu gostaria de falar um pouquinho mais sobre mim! Eu me formei em nutrição em 2008 – e de lá para cá, posso dizer que me dediquei quase que exclusivamente à área de nutrição, metabolismo e exercício. Ou seja, ao longo desses 10 anos, tive o privilégio de fazer uma especialização em fisiologia do exercício, além de fazer mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo! Tudo isso, para tentar aprender um pouquinho mais sobre essa área tão apaixonante que é a nutrição esportiva! Entender como o nosso organismo utiliza os nutrientes durante o exercício físico e descobrir como a nutrição pode ajudar praticantes de exercícios e atletas é algo que realmente me fascina! Também tive a oportunidade de compartilhar um pouco desse conhecimento, como professor convidado, em alguns cursos de pós-graduação ao longo de todo o Brasil, além de participar, também como palestrante, em alguns congressos de âmbito nacional em diversas regiões do nosso país, desde cidades como Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até Macapá, no Amapá. Assim, tendo um pouco de contato com alunos e profissionais da área da saúde, percebi que, para muitos – apesar de terem interesse em estudar de maneira mais aprofundada a nutrição esportiva – por algumas vezes, faltava uma base necessária para dar suporte em assuntos mais avançados. Foi assim que nasceu o meu interesse de escrever esse ebook sobre nutrição esportiva! Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 3 Neste espaço, compartilharei com você, em mais de 50 páginas, qual é a diferença entre atletas e praticantes fisicamente ativos e como essa diferença pode influenciar na conduta nutricional. Aprenderemos também como calcular o gasto energético diário de uma pessoa que realiza exercício físico – ponto essencial para prescrição dietética. Não menos importante, abordaremos as recomendações de carboidratos, proteínas e lipídios para praticantes de exercícios físicos. Não esquecendo das necessidades de vitaminas, minerais e hidratação! Vale a pena dizer que esse material será o primeiro de outros que eu desenvolverei – na tentativa de contribuir para a formação de profissionais nutricionistas, educadores físicos e de outras áreas afins! Por isso, a necessidade de inicialmente apresentar o cenário geral da nutrição esportiva! Boa leitura! João Alfredo Pedroso Nutricionista (UNIFIL) Especialista em Fisiologia do Exercício (UNOPAR) Mestre em Ciências (USP) Doutor em Ciências (USP) Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 4 SUMÁRIO 1. NUTRIÇÃO ESPORTIVA E SUAS PARTICULARIDADES 5 2. O GASTO ENERGÉTICO 9 3. CARBOIDRATOS 14 4. PROTEÍNAS 22 5. LIPÍDIOS 34 6. HIDRATAÇÃO 44 7. VITAMINAS E MINERAIS 48 8. CONCLUSÃO 59 Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 5 1. Nutrição esportiva e suas particularidades Já é bem discutida a importância da nutrição adequada na prática de exercício físico, seja voltado para o desempenho, no caso de atletas de alto rendimento, bem como para pessoas fisicamente ativas, que visam a promoção da saúde, a qualidade de vida, a prevenção de doenças e o bem-estar. Portanto, a alimentação em ambos os casos é uma grande aliada – mas com estratégias e objetivos diferentes. Para entendermos a importância da nutrição nos dois casos, inicialmente, é necessário diferenciar o atleta e o praticante de exercício físico. O atleta De maneira bem resumida, o atleta seria “pessoa que pratica um esporte, participando geralmente de competições”. Ou seja, é um indivíduo que visa um “resultado”, em outras palavras, um desempenho físico. Portanto, o programa nutricional para ele deve ser muito bem desenvolvido, levando em consideração a modalidade esportiva praticada, a fase de treinamento, o calendário de competição, os objetivos da equipe técnica em relação ao desempenho, a demanda energética de treino, as necessidades de modificação da composição corporal e os fatores clínicos presentes, como as condições de mastigação, digestão e absorção. Tendo em vista o elevado gasto energético desses indivíduos, que podem gastar 2.500 – 8.000kcal por dia, e o pequeno tempo de recuperação entre os treinamentos (muitas vezes, os atletas treinam 2 vezes por dia), a utilização de suplementos alimentares é essencial para alcançar as Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 6 recomendações energéticas diárias, para ajudar na velocidade de recuperação e, assim, contribuir para a melhora do desempenho físico. Nesse sentido, o nutricionista deve conhecer a fundo as particularidades metabólicas da modalidade física praticada, para saber qual será o suplemento mais indicado. Por exemplo, a suplementação de creatina pode ser útil para o levantador de peso, mas não para o maratonista. É necessário entender de qual maneira o suplemento atua para, com isso, descobrir para quem ele é importante. O fisicamente ativo Os indivíduos fisicamente ativos, em geral, não visam desempenho. A maior preocupação é com emagrecimento, ganho de massa muscular ou prevenção de doença. Ou seja, ter uma vida mais saudável. Assim, para essas pessoas, uma dieta balanceada, que atenda às recomendações dadas à população em geral, é suficiente para a manutenção da saúde e do bom resultado. Nesse sentido, um programa nutricional apropriado deve abranger todas as necessidades nutricionais (manutenção, reparação, atividades diárias, crescimento e desenvolvimento), além de incluir todos os nutrientes em quantidade adequada, respeitando-se a proporção entre cada um deles. Deste modo, pessoas fisicamente ativas devem se preocupar em melhorar a qualidade da alimentação através da ingestão de alimentos variados, aumentar o consumo de carboidratos complexos e fibras, reduzir o uso de açúcares refinados, gorduras e sódio. Além disso, devem manter o consumo calórico balanceado, para controlar o peso corporal e, dessa forma, evitar o ganho excessivo de gordura corporal. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 7 Embora a propaganda de suplementos alimentares seja voltada para essas pessoas (que praticam exercício com objetivo de saúde), na verdade, elas são as que menos precisam. Isso porque seu gasto energético, na maioria das vezes, não é muito elevado, sendo perfeitamente possível de ser atingido através da alimentação com “comida de verdade”. Além disso, o tempo de recuperação é bastante longo, tendo pelo menos 24 horas de recuperação entre as sessões de exercícios. Por fim, indivíduos que praticam exercício físico voltado para saúde não visam desempenho físico. Isso significa que os benefícios que alguns suplementos fornecem, de melhora de resultado, acabam não trazendo muita contribuição, na prática, para pessoas fisicamente ativas. Por exemplo: para uma pessoa que corra na esteira 30min por dia, utilizar um suplemento que melhoresua performance em 5% – o que isso significaria na vida real? Eu costumo dizer que, para praticantes de exercício físico, a utilização de suplementos alimentares é uma conveniência. Às vezes, em um determinado momento do dia, é mais fácil fornecer suplemento do que alimento (por exemplo: a pessoa não consegue levar um lanhe para o meio da tarde e prefere suplementar). Ou até mesmo para facilitar a distribuição dos macronutrientes (por exemplo: aumentar proteína e reduzir carboidrato). Mas é importante ficar claro que é possível, sim, atingir os objetivos desses indivíduos (seja emagrecimento ou ganho de massa muscular) com a mínima utilização de suplementos alimentares. Não é necessário gastar horrores com suplementos – como infelizmente vemos nos dias de hoje. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 8 Recomendações nutricionais na prática esportiva Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 9 2. O GASTO ENERGÉTICO O primeiro ponto que se deve pensar na hora da elaboração do plano dietético é a quantidade energética gasta durante o dia. De maneira geral, nosso gasto energético diário total (GET) é constituído pela Taxa de Metabolismo Basal (TMB), também conhecida como a quantidade mínima de energia (calorias) necessária para manter as funções vitais do organismo em repouso, pelo Efeito Térmico dos Alimentos (ETA), que é a energia que o organismo gasta para digerir e absorver o alimento, e, por fim, pelo Efeito Térmico da Atividade Física (ETAF), que é a energia gasta, acima da taxa metabólica de repouso, para realizar qualquer atividade física, como, por exemplo, escovar os dentes ou uma sessão de musculação. GET: TMR + ETA + ETAF Figura 1. Exemplificação do gasto energético total Foge do objetivo deste ebook discutir os principais métodos para mensurar cada uma dessas variáveis. Apesar de essas metodologias serem muito importantes, principalmente do ponto de vista laboratorial e para pesquisa científica, aqui vou me ater ao ponto de vista prático. Por isso, vou discutir, de maneira superficial, como mensurar o gasto energético através de Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 10 equações de predições, que são muito utilizadas pelo nutricionista para elaboração do plano dietético. Como calcular Nos dias de hoje, tendo em vista a praticidade de alguns softwares de nutrição, praticamente ninguém calcula mais o gasto energético; o próprio programa já dá conta de fazer isso. No entanto, para entender como funciona, vou dar um exemplo prático. É importante deixar claro que existem várias alternativas para calcular o GET, cabendo ao nutricionista escolher qual é o melhor método para utilizá-lo na prática. De maneira geral, para calcular o GET, utiliza-se alguma fórmula que calcule o TMR, multiplicando o resultado pelo Fator Atividade (FA). Ao fazer isso, acrescenta-se ao TMR a energia necessária para as atividades diárias do indivíduo. Importante lembrar que o FA varia conforme o nível das atividades físicas praticadas pelo indivíduo ao longo do dia. Assim, o FA pode variar de 1,2 (para sedentários) até 2,1 (para atividades mais intensas). Exemplo prático 1 Homem, 20 anos, peso 70kg, atividade física moderada. 1º. Passo: calcular a TMB Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 11 Fórmula para 20 anos: TMB: 15,3 X 70(peso) + 679: 1.750kcal 2º. passo: multiplicar pelo Fator Atividade (moderado) GET: 1.750 X1,8: 3.150kcal Uma outra maneira de calcular O exemplo prático 1 é uma maneira muito simples de calcular o GET. No entanto, no meu ponto de vista, a principal limitação é que não é possível saber como é o gasto energético separado do indivíduo. Por exemplo, se o indivíduo faz musculação, qual é o gasto da musculação? Utilizando apenas o FA moderado, não é possível obter essa informação No conjunto das atividades físicas diárias, estão incluídas atividades como caminhar, trabalhar, etc. Porém, também o exercício físico praticado (corrida, musculação). Eu gosto de separar o tipo de atividade na hora do cálculo; assim, eu consigo especificar qual é o gasto calórico durante a sessão do exercício, o que pode me ajudar, posteriormente, na hora da elaboração do plano dietético. Só que, nesse caso, é necessário adicionar mais um cálculo: o do exercício físico praticado (EF). Então, nossa fórmula ficaria: GET: TMR X FA + EF Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 12 Nesse caso, eu uso o FA fixo de 1,2 (que é um FA para sedentário) e adiciono o gasto energético do exercício físico praticado. Veja o exemplo abaixo: Exemplo prático 2: Homem, 20 anos, peso 70kg, corrida todos os dias (30min). GET: TMB X 1,2 + EF GET: 1.750 X 1,2 + EF GET: 2.100 + EF O desafio é calcular o gasto do exercício. Novamente, existe algumas maneiras para fazer isso. Aqui, eu vou utilizar o método MET. De modo muito resumido (porque estou visando a prática), MET é uma maneira de classificar as atividades físicas de diferentes intensidades. Assim, um exercício de 2 MET significa que o seu gasto energético é 2 vezes mais o gasto em repouso. Como foi estabelecido, através de pesquisas, que o gasto calórico de 1 MET equivale a 0,0175/kg/min, sabendo o MET da atividade, o peso do indivíduo e o tempo de duração do exercício, fica fácil calcular o gasto calórico do exercício. Exemplo prático 3: Homem, 20 anos, peso 70kg, corrida todos os dias (30min). MET corrida: 10 Cálculo do gasto energético do exercício: EF: 0,0175 X PESO (kg) X DURAÇÃO (min) X MET da atividade EF: 0,0175 X 70 (peso) X 30 (duração) X 10 MET atividade EF: 367kcal Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 13 Assim, voltando ao exemplo 2: GET: 2.100 + EF (367kcal) GET: 2.467kcal Essa só foi uma demonstração de como é possível estimar o GET calculando separadamente o gasto energético do exercício físico. De maneira geral, as recomendações energéticas para praticantes de exercícios físicos podem variar, conforme a intensidade e a duração do exercício, entre 30 e 50kcal/kg/dia. Nesse sentido, indivíduos fisicamente ativos (aqueles que praticam exercícios 30 a 40 min, 3 vezes por semana) apresentam gasto energético de 1.800 a 2.400kcal por dia, aproximadamente, o que corresponde a 25 a 35 kcal/kg/dia ou 200-400kcal por sessão de exercício. Por outro lado, atletas engajados em moderado nível de treinamento (exercícios 2 a 3 horas, 5-6 vezes por semana) podem apresentar gasto calórico de 2.500 a 8.000kcal por dia. Seja qual for o protocolo escolhido para estimar o gasto energético, não se deve menosprezar esses valores; essa etapa é muito importante para o próximo passo no planejamento dietético – que é a distribuição dos macronutrientes. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 14 3. CARBOIDRATOS Por que o carboidrato é importante para quem pratica exercício físico? No que diz respeito às recomendações de macronutrientes e exercício físico, sem dúvida nenhuma, o carboidrato é um dos mais importantes. Isso porque, ele é o principal nutriente utilizado como substrato energético durante a realização de um exercício físico. Tanto em exercícios de alta intensidade, bem comopara aqueles de longa duração, o carboidrato tem papel de destaque na produção de energia. Figura 2. Contribuições dos nutrientes na produção de energia durante o exercício Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 15 Além disso, é importante destacar que o organismo consegue armazenar carboidrato, como glicogênio, no fígado e nos músculos. E esses estoques são diretamente proporcionais à quantidade de carboidrato ingerida pela dieta. Quanto menor o consumo de carboidrato pelo atleta ou praticante de exercício, menor serão os estoques de glicogênio – o que pode comprometer sua performance física. Figura 3. Estoque de glicogênio muscular e desempenho físico. Como isso pode influenciar no desempenho? Além de ser o principal substrato energético durante o exercício e de o seu consumo estar diretamente relacionado com o desempenho físico, o carboidrato também apresenta outras funções interessantes. O consumo adequado de carboidrato atenua a degradação proteica; ou seja, o carboidrato também protege contra o catabolismo proteico. Essa parte é muito tranquila de entender, porque o organismo precisa manter a glicose do sangue em níveis adequados. Caso não aconteça o consumo de carboidrato de maneira Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 16 adequada, na tentativa de manter a glicemia, o fígado começa a transformar alguns aminoácidos em glicose (processo conhecido como neoglicogênese). Em muitos casos, os praticantes de exercícios suplementam aminoácidos, como glutamina e BCAA, alegando que as suas concentrações no sangue diminuem durante o exercício, mas se esquecem de pensar no porquê de elas estarem reduzindo-se. Na maioria das vezes, essa redução acontece porque o fígado está utilizando esses aminoácidos para produção de glicose ou porque o próprio músculo está utilizando energia. Nos dois casos, se suplementássemos carboidrato, evitaríamos esses problemas. Um outro fator interessante é que o sistema nervoso central (SNC) utiliza a glicose do sangue como fonte de energia. Embora seja possível que o SNC se adapte e utilize corpos cetônicos (oriundos do metabolismo da gordura) como substrato, isso não acontece totalmente. Ou seja, mesmo nessa condição, o SNC ainda precisará de uma certa quantidade de glicose. Por isso, alguns autores sugerem que o baixo consumo de carboidrato para o atleta pode comprometer a sua resposta cognitiva. Além disso, o consumo adequado de carboidrato pode contribuir na manutenção do sistema imunológico. Isso porque o consumo adequado de carboidrato reduz a produção de hormônios de estresse (como o cortisol) atenuando, assim, a imunossupressão. Por fim, o carboidrato é importante no processo de metabolismo dos lipídios, justificando a famosa afirmação encontrada em alguns livros de fisiologia: “as gorduras queimam nas chamas do carboidrato”. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 17 Figura 4. Importância do carboidrato no metabolismo da gordura Isso acontece porque, como mostrado na figura acima, o carboidrato também é relevante para a produção de oxalacetato – importante intermediário do ciclo de Krebs. Assim, o baixo consumo de carboidrato leva à redução da produção de oxalacetato e ao comprometimento na oxidação de gordura. Para evitar o excesso de Acetil-coA (oriundo do metabolismo das gorduras), acontece a formação de corpos cetônicos. Embora a produção de oxalacetato também ocorra através do metabolismo dos aminoácidos, a eficiência não é igual à das vias dos carboidratos, por isso, o desempenho cai. O Quadro 1 resume os principais benefícios dos carboidratos no exercício físico. Principais benefícios da ingestão adequada de carboidrato durante o exercício físico ✓ Manutenção da glicose do sangue ✓ Principal substrato energético durante o exercício ✓ Otimização do metabolismo de ✓ Melhora no sistema imunológico ✓ Melhora da cognição ✓ Preservação do catabolismo proteico Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 18 gordura Quadro 1. Principais benefícios dos carboidratos no exercício físico Quanto consumir? Uma vez que o carboidrato é o principal substrato energético durante o exercício, a sua recomendação de consumo é diretamente proporcional à carga de trabalho. Assim, quanto maior a carga, maior a necessidade diária da ingestão de carboidrato. A Tabela 1 resume as recomendações de carboidrato conforme a atividade física praticada. Tabela 1. Recomendações de carboidrato conforme atividade física Tipo de atleta Frequência de treino (dia/semana) Intensidade de treino e duração Quantidade de ingestão diária (g/kg) Leve 3-4 Leve a moderado. 30 a 40 min por dia 3-5 Moderado 5-6 Moderado. 1 a 2 horas por dia 5-7 Intenso 6-7 Moderado a intenso. 1 a 3 horas por dia 6-10 Ultra endurance 6-7 Moderado a intenso 4 a 5 horas por dia 8-12 Nesse sentido, é possível perceber claramente que, para aqueles indivíduos que são classificados como praticantes de exercícios físicos, principal público que o nutricionista frequentemente atende, seja com o objetivo de ganho de massa muscular ou de perda de gordura corporal, a recomendação de carboidrato, baseada na Tabela 1, deve ficar entre 3 e 7g de Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 19 carboidrato por quilo de peso por dia. Na verdade, a experiência mostra que poucas pessoas nessa categoria teriam necessidade de ingerir mais do que 6g/kg/dia, pois poucos praticantes de exercícios físicos (que não são atletas) realizam 2 horas de exercício todos os dias da semana. Por isso, a minha sugestão de recomendação nutricional é que a dieta deva conter 3-6g/kg/dia de carboidrato. Esses valores devem variar nessa amplitude, conforme a carga de trabalho realizada (o gasto energético do exercício) e, também, o objetivo (ganho de massa muscular ou redução de gordura). Se o objetivo for ganho de massa muscular ou se o gasto calórico do exercício for alto, a recomendação seria, por exemplo, entre 5 e 6g/kg/por dia. Agora, se o gasto energético do exercício é baixo ou se o objetivo é redução de gordura corporal, a sugestão de recomendação seria entre 3 e 4g/kg/por dia. Antes do exercício É um grande desafio pensar em recomendações nutricionais antes do exercício físico, mas, como a principal finalidade dessa refeição é aumentar os estoques de glicogênio muscular e hepático, alguns autores sugerem a seguinte recomendação de carboidrato: Tabela 2. Recomendação do consumo de carboidrato antes do exercício físico Tempo antes do exercício Quantidade de carboidrato 3-4 horas antes 200 a 300g 1-2 horas antes 1 a 2g/kg 30-15 min antes 30 a 60g É importante deixar claro que essas recomendações são apenas sugestões; a escolha de uma ou todas as refeições prévias com essa Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 20 quantidade de carboidrato dependerá exclusivamente de uma avaliação individual realizada pelo nutricionista. Por exemplo, eu duvido muito que um praticante de atividade física precisará consumir essa quantidade de 200g de carboidrato 3 horas antes e ainda 60g faltando 30min para começar o exercício. Então, a adaptação desses valores, associada à experiência prática do nutricionista, somadas com as necessidades dopaciente, são de grande importância. Outro ponto importante é que não precisa, necessariamente, ser suplemento de carboidrato. Às vezes, um bom lanche já dá conta do recado. A suplementação poderia entrar, neste caso, por conveniência (quando não é possível fazer um lanche ou se o paciente prefere o suplemento). Portanto, não se deve menosprezar os alimentos! Nesse caso, se bem organizado no plano dietético, poderia ser um bolo simples, uma bananinha- passa ou até mesmo uma goiabinha! Deve-se utilizar a imaginação, para satisfazer a preferência do paciente – ao invés de sair suplementando carboidrato só por suplementar! Durante o exercício No decorrer do exercício, a recomendação do consumo de carboidratos é, em geral, para exercícios que tenham duração maior do que 1 hora. Nesse sentido, sugere-se a ingestão de até 60g de carboidrato por hora de exercício, em uma solução de 6% de concentração, para otimizar a velocidade de absorção. Da mesma maneira, recomenda-se a ingestão periódica (a cada 15- 20min) para evitar qualquer desconforto gástrico. A necessidade da ingestão de sódio destaca-se pela perda desse eletrólito pelo suor, como também pela Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 21 sua participação na absorção de carboidrato pelas células intestinais. Por isso, sugere-se o consumo de 0,5-0,7g/l de sódio Tabela 3. Recomendação do consumo de carboidrato durante do exercício físico Duração do exercício Quantidade de carboidrato Até 60min Sem necessidade 60min – 2,5h 30-60g ↑ 2,5h Até 90g Depois do exercício o exercício No pós-exercício, destaca-se a necessidade da ingestão de carboidrato para fazer a ressíntese do glicogênio que foi utilizado durante o exercício. Assim, sugere-se a ingestão de carboidrato na quantidade de 0,7 a 1,5g/kg de peso no período de 6 horas (a cada 2 horas). Um ponto que eu gosto de lembrar é que a suplementação de carboidrato imediatamente após o exercício é importante especialmente para quem precisa de rápida recuperação – por exemplo: um atleta que treine 2 vezes por dia. Para um praticante de exercício físico, que, por exemplo, treine 3-4 vezes por semana, essa suplementação talvez não seja tão necessária assim. Isso porque, embora a recuperação dele não seja rápida (sem a suplementação), a recuperação potencialmente vai acontecer (através da alimentação) até o próximo treino – que só ocorrerá no outro dia. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 22 4. PROTEÍNAS O consumo adequado de proteína é muito importante para atletas e praticantes de exercícios, mas, diferentemente do carboidrato, sua principal função não está associada à produção de energia. A proteína até pode ser utilizada como substrato energético – em situações como a de exercício de longa duração, quando ocorre o consumo inadequado de carboidrato –, porém, tendo em vista que algumas funções fisiológicas, como reações enzimáticas, transportes de nutrientes em membranas e plasma, comunicação orgânica via sinalização hormonal e atuação do sistema imunológico, são realizadas por estruturas proteicas, a importância do consumo adequado de proteína está mais atrelada a essas funções do que à produção de energia propriamente dita. Principais benefícios das proteínas ✓ Proteínas transportadoras (albumina, hemoglobina) ✓ Proteína de defesa (anticorpos) ✓ Estrutural (queratina e colágeno) ✓ Enzimas (Pepsina e amilase) ✓ Proteínas reguladoras (insulina, hormônio do crescimento) ✓ Contráteis (actina e miosina) Quadro 2. Principais benefícios das proteínas Além disso, cabe lembrar que a ingestão de proteína está diretamente relacionada com a manutenção do músculo esquelético. Por isso, se o praticante de exercício físico não tem a ingestão proteica correta, isso poderá implicar em aumento na probabilidade de lesões, queda no sistema imunológico, perda de massa muscular, dificuldade na manutenção da saúde e, consequentemente, queda da performance atlética. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 23 Para avançar no estudo sobre metabolismo proteico, deve-se lembrar que as proteínas são sintetizadas constantemente a partir dos aminoácidos. Esses aminoácidos podem ser oriundos da digestão, após alguma refeição, ou o próprio organismo pode produzir certos aminoácidos através da degradação de outras proteínas endógenas. Esse processo contínuo de síntese/degradação proteica, também conhecido como turnover proteico, ocorre o tempo todo, sendo importante para a reciclagem das proteínas corporais. Um outro ponto que vale esclarecer é que os aminoácidos que não são utilizados imediatamente após a síntese proteica são “perdidos”, já que não ocorre estocagem de proteínas em nosso corpo. Isso serve para justificar o porquê de não existir necessidade da ingestão de altas doses de proteína. Quando se ingere maior quantidade do que o nosso corpo tem capacidade de utilizar como síntese proteica, o excesso de proteína será degradado e parte desta proteína será eliminada, como ureia, através da urina. Figura 5. Visão geral do metabolismo das proteínas Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 24 É importante dizer que, em um adulto saudável, a síntese e a degradação proteica são similares – o que costumamos dizer quando o indivíduo está em balanço proteico neutro. Nessa situação, a massa muscular do indivíduo é mantida. Porém, fatores fisiológicos e ambientais também podem influenciar o turnover proteico. Sabe-se que a taxa de síntese proteica de um recém-nascido é maior, em comparação, a de um idoso, por exemplo. Além disso, a alimentação equilibrada, que fornece todos os aminoácidos para corrente sanguínea, contribui para o aumento da síntese de proteína. Por outro lado, a concentração de hormônios anabólicos (como insulina) pode favorecer positivamente a síntese proteica, enquanto os hormônios catabólicos (glucagon e cortisol) favorecem o aumento da degradação proteica. Por último, qualquer que seja o exercício físico praticado, este também pode influenciar no metabolismo proteico – justificando a necessidade do aumento do consumo de proteína para praticantes de exercícios físicos quando comparados com indivíduos sedentários. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 25 Figura 6. Fatores que afetam o turnover proteico Esse assunto será melhor abordado no próximo tópico. Balanço proteico e sua relação com o exercício Exercício de endurance Embora pouco discutido, o treinamento físico de endurance, como corrida e ciclismo, influencia o metabolismo, aumentando a taxa de síntese proteica (TSP). Sem sombra de dúvida, essa síntese proteica não é significativa a ponto de aumentar a massa muscular, como a musculação, por exemplo. Mas o aumento da TSP após o treinamento de endurance pode refletir nas adaptações associadas a esta modalidade de exercício – que incluem aumentos no volume mitocondrial, a atividade enzimática mitocondrial, a densidade capilar, o número de capilares em torno de uma dada fibra muscular, assim como as proteínas miofibrilares. Ou seja, mesmo que ela não Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 26 seja predominantemente utilizada como energia, a proteína é essencial para otimizar as adaptações do treinamento aeróbico. Além disso,deve-se lembrar que, durante a prática de exercício, ocorre aumento da degradação de proteínas; portanto, durante a recuperação, o aporte adequado de proteína para atletas de endurance é necessário para induzir o reparo muscular dos danos causados às fibras musculares durante o exercício, evitando que o atleta tenha perda de massa muscular e todas as outras consequências já discutidas. Treinamento de força (TF) Particularmente no balanço proteico, sabe-se que o TF promove forte influência na síntese (SPM) e na degradação proteicas musculares (DPM). O TF promove substancial aumento da SPM e o concomitante aumento, de menor magnitude, da DPM – o que resulta em balanço proteico muscular menos negativo quando comparado com jejum (Phillips et al., 1997). Todavia, o balanço proteico muscular torna-se positivo pela ingestão de alimentos proteicos que, posteriormente aos processos de digestão e absorção, fornecem aminoácidos para o tecido muscular (Phillips et al., 1997). Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 27 Figura 7. Balanço proteico em diferentes situações Assim sendo, o processo de hipertrofia ocorre quando a taxa de síntese proteica muscular excede a taxa de degradação, acarretando em saldo positivo do balanço proteico muscular. No entanto, este efeito é relativamente lento, demonstrando que, durante o TF, há a necessidade de sucessivos estímulos e de período de tempo relativamente prolongado (seis a oito semanas) antes que alterações visíveis no fenótipo, como alteração no tipo de fibra e ganho de massa muscular, sejam observadas. Além desses benefícios no metabolismo proteico, o TF aumenta a sensibilidade à leucina para estímulo hipertrófico, diminuindo, assim, o “limiar de leucinemia” necessário para aumentar a taxa de SPM (Phillips, 2014). Por essa razão, atualmente, têm sido investigados os efeitos da suplementação de proteínas e/ou aminoácidos associados ao TF sobre a síntese proteica e os ganhos de massa muscular. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 28 Quanto consumir? Conforme já foi discutido, a necessidade proteica para praticantes de exercícícios em comparação à população em geral é definida com base na necessidade de aumento e promoção da síntese de proteínas relacionadas ao movimento (ou seja, regeneração de músculos, tendões e ligamentos), além da otimização no metabolismo aeróbico (como produção de enzimas e mitocôndrias). Tendo em vista os diferentes efeitos no metabolismo proteico do exercício de endurance e do treinamento de força, as recomendações para o consumo de proteina são: Tabela 4. Recomendação do consumo de proteína Recomendações População geral 0,8g/kg Atletas de Endurance 1,2-1,4g/kg Atletas de Musculação 1,2-1,7gkg Especificamente para o ganho de massa muscular, uma recente meta- análise demonstrou que as respostas à adaptação ao exercício foram melhores com doses entre 1,6 e 2,2g/kg de peso ao dia. Na conduta nutricional, muitos profissionais começam com a prescrição de doses inferiores e vão evoluindo até chegar a 2,2g/kg em indivíduos mais adaptados ao treinamento. Porém, estudos demonstram que, curiosamente, a síntese proteica é maior em indivíduos que estão na fase inicial de treinamento em comparação aos indivíduos experientes. Assim, pode-se sugerir as doses superiores já para quem está no início da fase de treinamento. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 29 Qual é o melhor momento para consumir proteína? Por muito tempo, acreditou-se que o consumo de proteína imediatamente após o treino era o melhor momento para otimizar a síntese proteíca e o ganho de massa muscular. No entanto, recentes pesquisas têm mostrado que a história não é bem assim. Um estudo publicado por Schoenfeld e colaboradores mostrou que a suplementação proteica pré ou pós-treino teve efeitos semelhantes sobre a hipertrofia muscular. O mesmo pesquisador, em 2013, em uma meta-análise reunindo aproximadamente 20 estudos sobre o tema, concluiu que o momento de consumir proteína parece não promover significativo aumento na força ou na massa muscular. Além disso, hoje em dia, sabe-se que a taxa de SPM pode ficar aumentada até quase 20 horas depois de uma sessão de exercício, indicando, portanto, que não necessariamente depois do treino o consumo de proteína seja importante, mas sim a distribuição de proteína ao longo do dia. Dessa maneira, alguns pesquisadores têm sugerido que o padrão na distribuição do consumo de proteína ao longo do dia seja um importante modulador do balaço proteico muscular – o que pode otimizar o ganho de massa muscular. Além disso, um outro ponto que recentemente tem chamado a atenção diz respeito ao consumo de proteína antes de dormir. A ideia é baseada no fato de que o sono noturno é o maior momento de “jejum” e, dessa forma, a síntese proteica está reduzida. Portanto, o consumo de proteína antes de dormir aumentaria a oferta de aminoácidos, estimulando a síntese proteica e o ganho Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 30 de massa muscular. A ideia, sem dúvida, é muito interessante, mas ainda faltam estudos para confirmar esse hipótese. Mesmo ainda faltando evidências científicas que sustentem que suplementar proteína antes de dormir ajude no ganho de massa muscular, alguns autores indicam o seu consumo. Quantidade de proteína por refeição Um trabalho publicado, em 2013, no periódico The Journal of Physiology, monitorou, em três grupos, durante 12 horas de recuperação, após uma sessão de musculação, o consumo de 80g de proteína, através de distribuições diferentes: um grupo consumiu proteína fracionadamente, em 8 doses de 10g, a cada 1,5h. Outro grupo ingeriu 4 doses de 20g a cada 3h. E o último grupo consumiu somente em 2 doses de 40g, a cada 6 horas. O objetivo era saber se o padrão de ingestão proteica da dieta poderia influenciar na síntese proteica. Os autores concluíram que o grupo que consumiu 20g de proteína a cada 3 horas apresentou melhor resultado na síntese proteica do que os demais grupos. Importante frisar que 20g, neste caso, representam um valor absoluto; logo, não se pode utilizar o mesmo valor para uma pessoa de 90kg e para outra de 50kg e esperar o mesmo resultado. Assim, para relativar esse valor pela massa corporal, tem sido recomendada a ingestão de 0,25-0,30g/kg por refeição. Sendo assim, baseado no que foi discutido até agora, tem sido sugerida a distribuição do consumo proteico para otimizar o ganho de massa muscular da seguinte maneira: 4-5 refeições diárias, com quantidade de 20-25g de Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 31 proteína (ou 0,25 - 0,30g/kg), com intervalo de 3-4 horas entre elas, ao longo do dia (Phillips e Van Loon, 2011). Além disso, alguns autores sugerem a ingestão de 20-40g de proteína antes de dormir – para otimizar a síntese proteica durante o sono noturno. Porém, ainda não é possível afirmar qual é a melhor maneira de ingerir proteína para o ganho de massa muscular. A maioria dos estudos citados acima, que investigaram a quantidade de proteína por refeição bem como a distribuição ao longo do dia, foi desenvolvida em protocolo agudo (após uma única sessão de exercício) e também com suplementos de rápida absorção. Assim, não é claro se esse protocolo (0,25-0,3g/kg a cada 3-4 horas) é o mais efetivo para o ganho de massamuscular no longo prazo. Nesse ponto, apesar de estar clara a influência da quantidade de proteína a ser consumida e do tempo no estímulo da síntese proteica, uma recente meta-análise mostrou que o controle dessas variáveis não necessariamente se traduz em ganho de massa muscular no longo prazo. Ao invés disso, parece que alcançar as recomendações de ingestão proteica diária (1,6-2,2g/kg) é o fator mais importante para hipertrofia muscular. Por isso, baseados nessas evidências, recentes artigos científicos da área têm sugerido distribuir a quantidade de proteína diária em doses similares entre 4 refeições ao dia. Novamente, não dá para afirmar que esse protocolo seja melhor do que aquele que eu havia citado previamente. No entanto, na prática, distribuir o consumo de proteína em 4 refeições com doses similares acaba sendo mais viável – ao invés da preocupação da ingestão a cada 3 horas. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 32 Obviamente que, na prática, todas essas recomendações necessitam ser padronizadas pelos hábitos e pelo estilo de vida. Mas, uma sugestão da distribuição proteica para um paciente de 70kg, que treine musculação no meio da tarde, seria dessa maneira: Exemplo prático 4: Recomendação do consumo diário: 2,2g/kg 70X 2,2 : 154g Distribuir em 4 refeições: 154 / 4; 38,5g por refeição Café da manhã (08:00 horas) 38,5g de proteína Almoço (12:00 horas) 38,5g de proteína Treino realizado às 15 horas Suplementação pós-treino (16:00 horas) 38,5g de proteína Jantar (19-20:00 horas) 38,5g de proteina Total consumido de PTN 154g* *dentro das recomendações Os horários podem ser adaptados. Acredito que o fundamental seria fazer essa distribuição ao longo dia (em intervalos de até 5 horas). Além disso, observe, no exemplo acima, que a suplementação depois do treino foi adicionada, pois o intervalo de consumo de proteína daria aproximadamente 4 horas após a última – que foi o almoço. Caso o treino fosse realizado às 11 horas, que seria antes do almoço, não haveria a necessidade de suplementar depois do treino, pois o indivíduo já iria almoçar. Nessa situação, às 16 horas, Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 33 deveria ser feito um lanche com o valor de proteína estabelecido ou, se fosse mais conveniente, a própria suplementação. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 34 5. LIPÍDIOS Os lipídios representam um grupo de substâncias orgânicas que são insolúveis em água. Os lipídios mais importantes para os seres humanos são os triglicerídeos (TGL), o colesterol e os fosfolipídios. Os três possuem funções muito importantes para o organismo. Por exemplo, sabe-se que o colesterol é muito importante por ser precursor dos ácidos biliares, que auxiliam na digestão dos lipídios. Da mesma forma, os fosfolipídios são os principais constituintes das membranas celulares. No entanto, são guardadas aos TGL as funções de fornecimento e armazenamento de energia no organismo. Por isso, neste ebook, no que diz respeito ao metabolismo dos lipídios no exercício físico, abordarei somente a participação dos TGL nesse processo. A maior parte de energia armazenada no organismo é na forma de gordura, mais especificamente na forma de TGL (para lembrar: uma molécula de TGL é formada por 3 ácidos graxos e 1 glicerol). Os TGL são, em geral, armazenados no tecido adiposo, mas, também, em certa quantidade, no músculo (sendo denominados como triglicerídeos intramusculares). Também constituem a molécula mais energética – 9kcal/g em comparação com 4kcal/g do carboidrato e da proteína. Além disso, a molécula de gordura contém pouca água, em comparação aos 3-4 gramas de água armazenados em cada grama de glicogênio. Todos esses dados, em conjunto, fazem da gordura uma molécula muito mais eficiente no quesito armazenamento de energia em comparação com os outros macronutrientes. Só para efeito de comparação: um homem magro armazena cerca de 80.000 a 100.000kcal de gordura e somente 2.000kcal de carboidrato. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 35 Produção de energia durante o exercício As duas principais fontes de energia durante o exercício são o carboidrato e a gordura (através dos ácidos graxos). Em geral, os dois substratos são utilizados simultaneamente, mas a predominância de uso depende de fatores como intensidade, duração, dieta e condição de treinamento do indivíduo. Por exemplo: em exercícios submáximos (60-70% da capacidade máxima), ocorre predominância da oxidação de gordura, ao passo que, em exercícios mais intensos, o principal substrato energético é o carboidrato. Da mesma maneira, a oxidação de gordura é diretamente proporcional à duração do exercício – principalmente se não ocorrer a ingestão de carboidrato. Assim, quanto mais longo é o exercício, maior a oxidação de gordura. Por fim, a prática de exercício físico promove adaptações no metabolismo lipídico, de maneira que o organismo melhora a utilização de gordura como fonte energética. Para ilustrar melhor: tanto em repouso como em exercício físico, um atleta oxida mais gordura do que um não atleta. Assim, como exposto acima, a energia proveniente da gordura ocorre através da oxidação dos ácidos graxos (AG). Os AG usados pelo músculo durante o exercício podem ser derivados das lipoproteínas (quilomícrons e VLDL), por exemplo. Nesse sentido, uma enzima conhecida como lipase lipoproteica faz a hidrólise (quebra) da lipoproteína, liberando seus ácidos graxos – que serão captados pela célula muscular. No entanto, acredita-se que a duas principais fontes de AG utilizados durante o exercício sejam aquelas Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 36 que são provenientes da lipólise do tecido adiposo e também dos triglicerídeos musculares. A seguir, será discutida a utilização dos AG oriundos da lipólise do tecido adiposo. Figura 8. Visão geral do metabolismo dos lipídios 1º. passo: lipólise Por definição, lipólise significa a quebra de 1 molécula de triglicerídeo em 3 ácidos graxos e 1 glicerol. É a primeira etapa do metabolismo lipídico para a utilização da gordura como energia durante o exercício. Para melhor entendimento, é necessário, inicialmente, lembrar que, com a realização do exercício físico, ocorre a produção de diversas substâncias Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 37 para a corrente sanguínea, como hormônios, citocinas e etc. Dentre essas substâncias, destaca-se a produção de secreção de catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina). As catecolaminas, em especial a adrenalina e a noradrenalina, são importantes para preparar o organismo para uma situação de estresse (também conhecido como mecanismo de “luta ou fuga”). Desta maneira, uma vez produzidas durante o exercício, as catecolaminas se ligarão em seus receptores de membrana presentes no tecido adiposo. A partir disso, ocorrerá uma série de alterações intracelulares que resultarão na ativação de uma enzima conhecida como lipase hormônio sensível (LHS). Essa enzima cataboliza os TGL, transformando-os em AGL e glicerol. Ou seja, é a LHS que, ativada pelas catecolaminas produzidas durante o exercício, de fato promoverá a lipólise no tecido adiposo. Como resultado, ocorrerá o aumento da concentração de ácidosgraxos e glicerol no sangue. Cabe ressaltar que somente o fígado apresenta a enzima capaz de metabolizar o glicerol. Por essa razão, após a lipólise, o glicerol será transportado para o fígado para dar sequência aos seus processos metabólicos. 2º. passo: transporte no sangue Na sequência, os AG oriundos da lipólise no tecido adiposo serão transportados até o tecido muscular ligados à albumina. Isso ocorre devido à insolubilidade de AG em meio aquoso; por isso, eles precisam ser carregados no sangue. É relevante destacar a importância do transporte de AG pela albumina como um possível fator limitante do metabolismo lipídico. Muitas promessas Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 38 “emagrecedoras” destacam produtos e técnicas que aumentam a lipólise, como uma possível alternativa para o emagrecimento. No entanto, de nada adianta aumentar a lipólise de tal maneira que ultrapasse a capacidade da albumina em fazer o transporte para o músculo adequadamente. Isso aumentaria a concentração de AG no sangue. Para evitar o execesso de AG no sangue, o organismo realiza um processo chamado de ‘reesterificação lipídica’. Ou seja, aqueles AG que ficaram na corrente sanguínea voltam a ser transformados em TGL e serão armazenados novamente. Por isso, qualquer tratamento que “venda” a ideia de que aumente a lipólise, não necessariamente promoverá emagrecimento efetivo. 3º. passo: captação pelo músculo Após serem transportados, a próxima etapa é a captação de AG pela célula muscular. Essa etapa acontece por meio de uma proteína transportadora de AG, conhecida como FABP, que fica localizada na membrana plasmática da célula muscular. Curiosamente, as fibras musculares do tipo I (aeróbicas) apresentam maior conteúdo de FABP do que as fibras do tipo II (anaeróbicas). Além disso, tem sido mostrado que o exercício físico de endurance aumenta a concentração de FABP, bem como a sua atividade, indicando, portanto, como a prática de exercício físico aeróbico melhora o metabolismo de gordura pelos músculos. 4º. passo: mitocôndria O metabolismo dos lipídios ocorre através da via aeróbica, aquela em que há a participação do oxigênio. Nesse sentido, é importante lembrar que boa parte do metabolismo aeróbico ocorre no interior da mitocôndria (ciclo de Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 39 Krebs e fosforilação oxidativa). Dessa maneira, fica fácil entender que a próxima etapa do metabolismo dos lipídios seria o transporte dos AG, que já estão dentro da célula muscular, para o interior da mitocôndria. Assim, no interior da célula, um complexo enzimático, que usa um transportador chamado de carnitina, carrega os AG para as mitocôndrias. 5º. passo: β-oxidação e oxidação mitocondrial Os AG agora já se encontram no interior da mitocôndria, porém ainda não estão prontos para serem utilizados na produção de energia, pois não tem como o AG ser metabolizado no ciclo de Krebs. Para que o AG consiga ser metabolizado, ele vai precisar ser transformado em Acetil-CoA. Essa transformação de AG para Acetil-CoA acontecerá através de uma sequência de reações conhecidas como β-oxidação. Depois disso, o AG (agora Acetil- CoA) pode entrar no ciclo de Krebs e dar sequência ao metabolismo aeróbico (fosforilação oxidativa) e à produção de energia, finalizando, portanto, o metabolismo da gordura no processo aeróbico. O elevado consumo de gordura melhora o desempenho físico? Em geral, não se recomenda o aumento da ingestão de lipídios para praticantes de exercícios. A justificativa baseia-se no fato que as reservas corporais de triglicerídeos no tecido adiposo são abundantes. Ou seja, o elevado consumo de gordura dietética poderia promover indesejável acúmulo de gordura corporal e, consequentemente, ganho de peso – o que não seria interessante para o desempenho de um atleta. Os defensores desse tipo de conduta (a de aumentar o consumo de gordura dietética) justificam que o elevado consumo de gordura poderia Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 40 promover maior oxidação desse nutriente e, consequentemente, preservação de glicogênio muscular e hepático. Assim, como a redução de glicogênio tem relação com hipoglicemia e queda de performance, o elevado consumo de gordura proderia promover aumento de desempenho físico por preservar os estoques de glicogênio corporal No entanto, apesar de a ideia, na teoria, ser boa, trabalhos científicos não sustentam essa estratégia. Por exemplo, em curto período de adaptação para uma dieta com alto teor de lipídio (menos do que 6 dias), ocorre prejuízo no desempenho físico. Quando essa adaptação da dieta é em longo prazo (14 dias ou mais), os resultados também não são muito animadores. Neste caso, em exercícios de intensidade moderada (60-80% do consumo máximo de oxigênio – V02max), o elevado consumo de gordura não prejudica a performance, porém, também não promove qualquer efeito benéfico comparado com a estratégia padrão (elevado consumo de carboidrato). Por outro lado, em exercícios de alta intensidade (90-95% V02max), dietas com alto teor de gordura prejudicaram o desempenho físico; portanto, para um atleta de alto nível, que pratique exercício físico de alta intensidade, dietas com alto teor de gordura não são recomendadas. E a suplementação de triglicerídios, melhora o desempenho? Similarmente à dieta com alto teor de gordura, a suplementação de triglicerídeos parece não promover grandes benefícios para a performance esportiva. Isso porque, ao contrário do carboidrato, a digestão e a absorção de lipídios acontecem lentamente. Isso decorre, inicialmente, pelo seu potente papel inibidor sobre o esvaziamento gástrico. Além disso, após absorvido, no Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 41 interior da célula intestinal, existe a necessidade da reesterificação dos ácidos graxos e glicerol para a formação dos quilomícrons – que serão absorvidos inicialmente pela circulação linfática para só depois caírem na circulação sanguínea. Por isso, especula-se que demoraria cerca de 3 a 4 horas após a ingestão dos lipídios para eles estarem disponíveis para oxidação muscular. Triglicerídeos de cadeia média (TCM) Os TCM são triglicerídeos compostos com 6-12 carbonos na cadeia dos ácidos graxos. Foi mostrado que os TCM apresentam propriedades físico- químicas particulares em comparação com os demais triglicerídeos. Por exemplo, os TCM são mais hidrossolúveis e, por isso, no que diz respeito à absorção, não necessitam da formação do quilomícron no interior da célula intestinal. Além disso, são captados pela circulação e são levados diretamente para o fígado, diferentemente dos demais triglicerídeos, que são absorvidos inicialmente pelo sistema linfático. Por fim, os TCM não dependem da carnitina para serem transportados para o interior da mitocôndria para serem oxidados. Todas essas características fazem com que o TCM seja absorvido, transportado e metabolizado mais rápido do que os demais triglicerídeos; por isso, foi postulado se sua suplementação poderia melhorar o desempenho no exercício aeróbico. No entanto, as pesquisas desenvolvidas para testar a hipótese – se o TCM apresenta efeito ergogênico – concluíram que a suplementação de TCM em doses toleráveis (por volta de 30g) não apresenta qualquer melhora no desempenho atlético. Por outro lado, em estudos que suplementaram doses Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício:João Alfredo Bolivar Pedroso 42 maiores do que 30g, a suplementação de TCM prejudicou o desempenho – provavelmente através do aumento de relatos de desconforto gastrointestinal. Em conclusão, esses resultados sugerem que a principal limitação da suplementação de TCM seja a quantidade tolerada, pois, em doses baixas, não promove aumento suficiente de ácidos graxos no plasma para promover qualquer efeito benéfico no exercício físico. Já, em doses altas, poderia apresentar resultado desfavorável devido ao aumento de desconforto gástrico. Figura 9. Pontos positivos e negativos da utilização dos TCM no esporte Recomendações Assim, tendo em vista que o aumento do consumo de gordura na dieta, bem como a suplementação de triglicerídeos parecem não promover qualquer benefício no desempenho esportivo, a recomendação diária de gordura para Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 43 praticantes de exercícios físicos é a mesma utilizada para não atletas, sendo: 20-30% da ingestão total de calorias. Da mesma forma, devido à relação entre ingestão de gordura e problemas de saúde, recomendam-se a redução do consumo de gordura saturada (menos que 10%) e o consumo minímo possível de gordura trans. Por outro lado, comer pouca gordura na dieta também não é recomendado. A literatura sugere a ingestão de gordura de pelo menos 20% do total de calorias, pois tal restrição poderia levar à insuficiência de uma variedade de nutrientes, como, por exemplo, das vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, K, D e E – que dependem de gordura para serem absorvidas) e também de ácidos graxos essenciais – ômega-3 (ácido linolênico) e ômega-6 (ácido linoleico). Cabe lembrar que esses ácidos graxos são importantes para manter sob condições normais as membranas celulares, as funções cerebrais e a transmissão de impulsos nervosos. Por isso, sua deficiência pode levar a comprometimento de algumas funções fisiológicas. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 44 6. HIDRATAÇÃO O consumo adequado de fluídos para praticantes de exercícios é muito importante para manter a hidratação. Isso porque, ao extrair a energia contida nos alimentos, o organismo produz calor. Assim, como na prática de exercício físico aumenta a necessidade de enegia (para contração muscular – por exemplo), consequentemente, também ocorre o aumento da produção de calor. Como o corpo humano precisa manter a sua temperatura constante (36-37°C), para manter o seu funcionamento adequado, esse calor “extra” produzido precisa ser eliminado, para evitar um possível quadro de hipertermina (que em níveis severos pode levar até a morte). Existem basicamente 4 maneiras para o organismo eliminar calor: Condução, quando o calor é transferido pelo corpo, pelo contato físico direto. Por exemplo, ao encostar o braço em uma parede fria, a tendência natural é que se perca calor para essa parede. Convecção, quando o calor é transmitido pelo movimento do ar ou da água por todo o corpo. Radiação, transferência de calor por raios infravermelhos. Responsável por 60% da perda de calor no repouso. Evaporação, ao converter suor em vapor, o calor é eliminado para fora do corpo. Cabe lembrar que, embora a evaporação seja responsável somente por 25% da perda de calor no repouso, durante o exercício físico, o calor produzido é eliminado principalmente através da evaporação – que necessita de água. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 45 Quando a hidratação não ocorre adequadamente, a performance do exercício é prejudicada. Isso porque ocorre uma série de modificações fisiológicas, ocasionadas pela desidratação, que comprometem o desempenho. Podemos citar a perda de volume plasmático sanguíneo que, por consequência, aumentará a frequência cardíaca (pois, com menos volume de sangue, o coração terá que trabalhar mais para mandar sangue para os tecidos). Da mesma forma, a desidratação acelera a utilização do glicogênio, pois, devido à redução do volume sanguíneo em função da desidratação, ocorre maior dependência das vias anaeróbicas (principalmente a glicólise) para produção de energia, que consomem glicogênio mais rápido do que as vias aeróbicas. Também ocorrerá redução do volume plasmático intracelular, resultando em menor atividade celular. Além disso, a desidratação compromete a perda efetiva de calor, podendo levar a quadro de hipertermia, comprometendo todo a funcionalidade do corpo humano. Por isso, é essencial garantir que o atleta/praticante de atividade física esteja bem hidratado. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 46 Figura 10. Desidratação e sua ação no metabolismo energético Além da água, durante a hidratação, é necessário pensar em outros nutrientes, isso porque o suor é constituído por água, mas também eletrólitos como sódio (em maior quantidade) e potássio (em menor quantidade). Assim sendo, o consumo desses minerais, em especial o sódio, torna-se bastante importante. Como hidratar Traçar uma estratégia de hidratação não é tarefa fácil. Fatores como o tipo de exercício e o ambiente que será realizada a atividade influenciam na conduta. Assim sendo, nesta presente seção, serãos focadas apenas as recomendações gerais; porém, deve-se lembrar que cada caso precisa ser cuidadosamente estudado pelo nutricionista e pelos demais profissionais envolvidos. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 47 A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte destaca a importância de se iniciar a atividade física bem hidratado. Assim, sugere-se o consumo de 250-500 mililitros de água duas horas antes do exercício. Já o Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda a ingestão de 5-10 mililitros por quilo entre 2 e 4 horas antes do exercício. Durante o exercício físico, a recomendação varia entre 500 e 2.000 mililitros/hora, conforme a taxa de sudorese do atleta. Para atividades com duração inferior a 1 hora, só a ingestão de água parece já ser suficiente, não havendo a necessidade da ingestão de sódio ou carboidrato. Para modalidades com duração superior a 1 hora, a literatura recomenda a ingestão de carboidrato na quantidade de 30 a 60 gramas/hora e sódio na quantidade de 0,5 a 0,7 gramas por litros. Ainda durante o exercício, a ingestão de bebidas geladas pode ajudar a atenuar a temperatura corporal – o que poderia melhorar a performance de exercício realizado em clima quente. Por fim, após o término do exercício, sugere-se a ingestão de liquídos para compensar as perdas adicionais de água pela diurese e pela sudorese. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 48 7. VITAMINAS E MINERAIS Vitaminas e minerais, também classificados como micronutrientes (pois, em geral, é necessária apenas pequena quantidade de ingestão diária dos micronutrientes para satisfazer a nossa necessidade), são elementos que, embora não forneçam energia, são necessários para o bom funcionamento do nosso organismo. Poderíamos citar diversas funções importantes dos micronutritentes. Pensando primeiramente nas vitaminas, a importância da vitamina A para a visão saudável, sobretudo com baixa luminosidade. A vitamina K, sendo sua ação essencial no processo de coagulação sanguínea. Do ponto de vista dos mineirais, poderíamos citar alguns processosfisiológicos regulados por minerais, como contração muscular, transporte de oxigênio, condução de impulso nervoso, além da manutenção dos suprimentos de água no organismo. Enfim, a literatura é muito ampla, mostrando a importância dos micronutrientes como reguladores para o desenvolvimento e o funcionamento adequado do organismo; porém, neste ebook, focaremos a importância das vitaminas e dos minerais somente na área esportiva. Para melhor organização didática, inicialmente, discutiremos a primazia de alguns minerais, seguidos das vitaminas que têm mais relevância na prática esportiva. Ferro A deficiência de ferro, com ou sem anemia, pode compremeter a performance esportiva. Geralmente, a deficiência de ferro está envolvida com a baixa ingestão de alimentos fontes deste nutriente ou com a baixa disponibilidade. Outros fatores também podem comprometer o status de ferro Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 49 no sangue, como: períodos rápidos de crescimento, atletas que treinam em altas altitudes, perda de sangue menstrual, excesso de perda de ferro por suor, urina e fezes ou até mesmo hemólise (perda de hemácias) por pancadas. Atletas com maior risco de apresentar deficiência de ferro, como, por exemplo, corredores de longa distância, vegetarianos ou doadores habituais de sanguem, devem ser monitorados regularmentarmente através de exames, como também devem ser incentivados a aumentar a ingestão de ferro pela dieta. Na maiora dos casos citados acima, quando a deficiência de ferro é tratada, seja pela alimentação ou suplementação, é observado aumento da performance do atleta, principalmente pela redução da frequência cardíaca e pelo aumento da eficiência metabólica. No entanto, é importante destacar que a maioria das pesquisas mostra que a suplementação de ferro não melhora o desempenho aeróbio – a menos que o atleta esteja com deficiência de ferro ou anemia. Ou seja, sem deficiência, sem efeito. Outro ponto que vale a pena destacar é que até mesmo para aqueles que apresentem alguma deficiência, seriam necessários alguns dias para que a ingestão de ferro pudesse ser efetiva na restauração da deficiência nutricional. Por isso, em atletas que ingerem tal suplemento momentos antes da competição, essa ingestão não surtirá efeito, mesmo para alguém com deficiência nutricional. Por fim, deve-se evitar a suplementação de ferro, a menos que exista insuficiência, pois o excesso de ferro pode promover certos efeitos indesejados, variando entre vômitos, diarreia e dor abdominal, chegando até Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 50 mesmo a problemas mais severos, como hemocromatose (acúmulo de ferro nos tecidos) e insuficiência hepática. Cálcio O cálcio é especialmente importante para o crescimento, a manutenção e o reparo de tecido ósseo; a regulação da contração muscular; a condução de estímulos nervosos; e a coagulação sanguínea. Pessoas que consomem baixa quantidade de alimentos fontes de cálcio, que seguem dieta com severa restrição calórica ou mulheres com disfunção menstrual correm o risco de apresentar baixos níveis de cálcio no sangue. Nesses casos, pode haver aumento do risco de comprometimento da densidade mineral óssea, aumentando o risco de fraturas ósseas por estresse. Em casos nos quais a ingestão de cálcio esteja aquém dos valores recomendados, sugere-se a suplementação de 1.500 mg de cálcio ao dia, juntamente com 1.500-2.000 UI de vitamina D, para otimizar a saúde óssea. Contudo, a suplementação de cálcio não melhora o desempenho físico de atletas e praticantes de exercícios físicos que já apresentem ingestão adequada do mineral pela dieta. Cromo O interesse da suplementação de cromo na área de nutrição esportiva cresceu devido a implicação de sua participação no aumento da sensibilidade à insulina. Com isso, surgiu a hipótese de que a suplementação deste mineral poderia beneficar praticantes de exercícios por dois motivos: Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 51 1) otimizaria a síntese de glicogênio, aumentando, portanto, a velocidade de recuperação. 2) por aumentar a sensibilidade à insulina, poderia aumentar o status anabólico, favorecendo o ganho de massa muscular. Porém, os resutados na literatura científica não são muito animadores... Um estudo foi feito para investigar o efeito da suplementação de cromo na recuperação de glicogênio muscular. No trabalho, 16 homens realizaram, por 4 semanas, a suplementação de cromo ou placebo (600ug/dia). Após esse período, foi aplicado o seguinte protocolo para promover depleção de glicogênio: os sujeitos realizaram 2 dias de dieta com baixo teor de carboidrato; no dia seguinte, realizaram exercício físico para reduzir ainda mais os estoques de glicogênio e, após o exercício, ou seja, na recuperação, os participantes seguiram uma dieta com alto teor de carboidrato. Lembrando que a ideia era investigar se suplementação de cromo otimizaria a ressíntese de glicogênio após o exercício. Como resultado, foi encontrado que a ressíntese de glicogênio no período de recuperação foi semelhante entre os grupos suplementado com cromo e com placebo. Portanto, concluiu-se que a suplementação de cromo não aumentou a síntese de glicogênio muscular durante a recuperação de exercício de alta intensidade. Outros dois trabalhos foram desenvolvidos, com homens e mulheres, para verificar se a suplementação de cromo tinha algum efeito na composição corporal. Tanto em mulheres – que suplementaram 500ug por dia de cromo e realizaram um programa de treinamento de força por 6 semanas –, bem como em homens – com suplementação de 200ug de cromo e que também Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 52 realizaram um programa de treino –, não foi observada qualquer modificação na composição corporal. Curiosamente, em ambos os trabalhos, foi encontrado aumento da excreção de cromo pela urina nos grupos suplementados. Esses resultados demonstram que consumir cromo em excesso, através da suplementação, não promove nenhum benefício para o esporte – e que o mineral será eliminado pelo organismo. Muita gente questiona se o cromo reduz a vontade de comer doce. Eu, particularmente, nunca vi nenhum estudo científico que tenha investigado a fundo essa questão. Acredito que essa informação seja repassada com baixo crivo científico. É possível que as pessoas tenham experimentado esse efeito em função de um provável efeito placebo do que por qualquer outra possibilidade. Sódio O sódio é muito importante na área de nutrição esportiva, principalmente para aqueles atletas engajados em modalidades de longa duração. É um eletrólito que ajuda a regular o equilíbrio de fluidos, a transmissão nervosa e o equilíbrio ácido-base. Excessivas diminuições em sódio, que podem acontecer, por exemplo, com a desidratação – pois o sódio é o principal eletrólito eliminado no suor – podem predispor os atletas a cólicas e a hiponatremia (quando a concentração sérica de sódio se reduz abaixo de 130 mmol/L), levando a consequências mais severas, como cãibras, desorientação e até morte. Cabe lembrar, também, que o sódio é necessário para a absorção de glicose em nível intestinal, pois a proteína SGLT1 – que faz o transporte de Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 53 glicose para o interior dos enterócitos – é sódio-dependente. Portanto, a ingestão inadequada de sódiocompromete a absorção de glicose, podendo levar ao aumento de desconforto gastrointestinal e à queda da performance esportiva. Em geral, sugere-se a ingestão de sódio durante exercício para modalidades com duração maior do que 1 hora. A literatura sugere que, para modalidades com duração entre 1 e 3 horas, a ingestão de sódio na bebida é interessante, não necessariamente para evitar a hiponatremia, mas para melhorar a palatabilidade da bebida, bem como favorecer a absorção de glicose. Contudo, em exercícios com duração maior do que 3 horas, a hiponatremia já pode ser considerada um problema. Portanto, nesses casos, a ingestão de sódio é essencial. A literatura científica recomenda cerca de 1 grama por litro de bebida ingerida durante o exercício. Vitaminas Pessoas envolvidas em atividades físicas são, geralmente, alvos de propagandas proclamando a necessidade de utilizar suplementos vitamínicos e minerais. Esses anúncios, na maioria das vezes, presumem que atletas e praticantes de exercícios físicos correm risco de desenvolver deficiências nutricionais e, consequentemente, comprometimento da saúde e do desempenho físico. Um estudo feito com atletas internacionais entre 2005 e 2007 mostrou que 85% dos entrevistados realizavam algum tipo de suplementação e, nesse caso, os suplementos mais utilizados eram vitaminas antioxidantes. O Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 54 interessante é que os resultados na literatura científica sobre a efetividade da suplementação de vitaminas para atletas ainda são escassos. Recentes estudos têm mostrado a importância da vitamina D no desempenho esportivo. Pesquisas têm mostrado a relação entre a vitamina D e o aumento do tamanho e da quantidade de fibras do tipo II; a prevenção de lesões; a reabilitação e a diminuição do risco de fratura por estresse. Nesse sentido, quando ocorre a suplementação de vitamina D em atletas com deficiência, é observada melhora de performance, porém, não há evidências mostrando efeito ergogênico da suplementação de vitamina D em atletas sem deficiência. No entanto, cabe registrar que atletas que vivem em países de grande latitude ou que treinam indoor durante todo o ano – como patinadores, ginastas, etc. – correm risco de ter deficiência em vitamina D, especialmente se eles não fazem consumo de alimentos fortificados. Nesses casos, os atletas se beneficiariam com a suplementação entre 800 e 1.000 UI ao dia de vitamina D. Vitaminas do complexo B também são muito discutidas na área da nutrição esportiva. Sabe-se que as vitaminas do complexo B estão envolvidas na regulação do metabolismo aeróbico, como: conversão do piruvato a acetil- CoA; doação do hidrogênio no ciclo de Krebs; composição de NAD; transferência de grupos amino no metabolismo de aminoácidos; e cofatores em enzimas do ciclo de Krebs. Por isso, atletas com deficiência em vitaminas do complexo B apresentam redução no desempenho em provas de longa duração. Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 55 Porém, cabe lembrar que indivíduos que obtenham quantidades suficientes dessas vitaminas por meio de uma dieta equilibrada não melhorarão o desempenho com a suplementação. Vitaminas antioxidantes, como as vitaminas C e E e os carotenoides, desempenham papéis importantes na proteção das membranas celulares contra o dano oxidativo causado por radicais livres. Devido ao fato de que o exercício físico aumenta a produção de radicais livres – como consequência do aumento do consumo de oxigênio para produção de energia e até mesmo pela inflamação gerada pelas lesões das fibras musculares –, tem sido hipotetizado que atletas deveriam suplementar vitaminas antioxidantes para prevenir lesões e para manutenção da saúde. No entanto, antes de se aceitar tal hipótese, é necessário realizar um estudo mais aprofundado sobre o assunto. É necessário lembrar que existem dois tipos de mecanismo de defesa utilizado pelo organismo contra os efeitos deletérios dos radicais livres. Sendo os primeiros os antioxidantes consumidos pela alimentação, como, por exemplo, as vitaminas já citadas acima. Além disso, existem também enzimas, produzidas pelo próprio organismo (também conhecido como sistema antioxidante endógeno), que combatem a ação dos radicais livres. As principais enzimas que desempenham esse papel são superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase (GPx). Assim, embora tenha sido mostrado que a prática de exercício físico aumenta a produção de radicais livres, o exercício também promove aumento da atividade das enzimas antioxidantes, resultando em redução dos danos causados pelos radicais livres. Portanto, é possível dizer que um atleta bem Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 56 treinado pode ter um sistema antioxidante endógeno mais desenvolvido e pode não se beneficiar da suplementação com antioxidantes. Além disso, é importante lembrar que não só o excesso de radicais livres pode ser prejudicial, mas também o excesso de antioxidantes também pode causar certos distúrbios, devido à quebra de equilíbrio no sistema redox. Portanto, a reflexão que fica é: “Se o exercício físico aumenta a produção endógena de antioxidantes, será que a suplementação exacerbada de vitaminas antioxidantes não seria prejudicial em atletas?”. Estudos com atletas de endurance mostraram que a suplementação de vitaminas C e E afetou negativamente as adaptações relacionadas ao treinamento físico. Enquanto o treinamento físico aumentou a concentração de marcadores de biogênese mitocondrial, a suplementação de antioxidantes atenuou esse efeito. Tendo em vista a importância da mitocôndria para a produção de energia aeróbica, os resultados desse estudo indicam que a suplementação de vitaminas antioxidantes pode ser prejudicial a atletas que visam melhoria de desempenho físico. Resultados semelhantes também foram encontrados com a suplementação de antioxidantes e o treinamento de força. Em jovens, foi observado que a suplementação de vitaminas atenuou a fosforilação de proteínas intracelulares envolvidas na sinalização de síntese proteica. Nesse mesmo sentido, em idosos, foi encontrado que a suplementação de antioxidantes prejudicou o ganho de massa muscular. Assim, baseados nesses estudos, é possível dizer que as vias intracelulares que estão envolvidas na adaptação do exercício (síntese proteica e biogênese mitocondrial) são Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com - HP10515277249295 Nutrição Aplicada ao Exercício: João Alfredo Bolivar Pedroso 57 reguladas através dos radicais livres produzidos pelo exercício físico e, quando ocorre a suplementação em altas doses de vitaminas antioxidantes, atenua-se este sinal, comprometendo o desempenho físico. Figura 11. Radicais livres controlam vias de sinalização Embora sejam muito importantes para a manutenção do organismo, vitaminas e minerais não são consideradas substâncias ergogênicas, pois não aumentam o desempenho físico de sujeitos que já apresentem consumo adequado pela dieta. O que acontece, na maioria dos casos, é que o consumo inadequado de micronutrientes pode levar a alguma deficiência nutricional – o que promoverá redução no desempenho físico. Nessa situação, a suplementação é recomendada. Dessa maneira, conclui-se que “a suplementação de vitaminas e minerais não é recomendada se a energia para a manutenção do peso corporal é consumida por meio de uma alimentação variada. Entretanto, atletas que restringem o consumo energético (estratégias severas de perda de peso, Licensed to Izabela casini - izabela.casini96@gmail.com