Buscar

Bandidos na TV (1)


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

“Bandidos na TV” é uma série documental, Original Netflix que narra o caso criminal de Wallace Souza e o seu programa “Canal Livre”. Dirigido por Daniel Bogado, o documentário ambientado em Manaus traz em 7 episódios o início do programa, as investigações, as conclusões do caso e a morte do ex-apresentador e deputado.
 Para a compreensão deste caso, é necessário entender o contexto em que ele ocorreu. Sendo o Amazonas uma das principais capitais de exportação de drogas, a guerra entre os traficantes era intensa e extremamente violenta. Com isso, em 1996, Wallace inicia seu programa, com o intuito de denunciar os casos de assassinatos entre traficantes e cidadãos. A atração se torna um sucesso em Manaus, ultrapassando as grandes redes televisivas, como a Globo, além de se tornar uma polícia honorária. 
 O Canal Livre possuía uma dinâmica muito comum entre programas como o “Brasil Urgente” ou até mesmo o assistencialismo apresentado no entretenimento, como o “Domingo Show” de Geraldo Luís. Apresentava casos criminais, com alto teor de violência e além de trazer cenas de comédia e mostrar a miséria da população necessitada.
 Com o grande sucesso e apresso tanto pelo programa, quanto pelo seu apresentador, Wallace Souza torna-se deputado e se reelege mais duas vezes. Agora com poder político, Wallace tenta denunciar os casos de tráfico, facções criminosas e abuso infantil. Entretanto, após consolidar a imagem de um justiceiro, Wallace se encontra ligado a denúncias sobre um possível envolvimento com os assassinatos televisionados por seu programa e com o tráfico que ele sempre demonstrou repúdio. A partir dessas acusações, o deputado é investigado e tem seu mandato caçado. Pouco tempo depois, morre por conta de uma parada cardíaca. 
 Apesar dos fortes indícios de seu envolvimento, o documentário mostra ao público que o seu julgamento e sua investigação foram feitos por seus inimigos políticos e, por isso, a culpa e a proporção de seu envolvimento são questionáveis. “Bandidos na TV” também nos traz os fatores éticos do jornalismo, mostrando a forma como Wallace Souza direcionava seu programa e o trabalho jornalístico feito pelas mídias que noticiavam o caso do deputado. 
Wallace Souza não era um jornalista formado. Ex-policial civil, foi afastado da corporação depois de acusações sobre participação em um esquema de desvio de combustível. Após o desmembramento, tentou iniciar sua carreira na política como vereador em 1996, mas não foi eleito. Foi a partir daí, que começou sua história como apresentador do Canal Livre.
Lá, assumiu a função de “guardião da população”. Cobrava o governo, fazia caridades e contava histórias dramáticas. Apesar de não ter formação na área, Wallace conquistou a confiança do público e o Canal Livre passou a ser visto como uma solução pela população. Outros jornais televisivos do Amazonas tinham furos “roubados” pela equipe do programa, já que esses contavam com o auxílio dos civis e, também, de fontes privilegiadas do apresentador.
Mas o que caracterizou o Canal Livre foi a cobertura policial. Os repórteres cobriam crimes violentos e mostravam sem nenhuma censura os corpos e a reação das testemunhas. Por diversas vezes, os cinegrafistas mostravam abertamente assassinatos que haviam acabado de ocorrer. Como em um dos momentos, onde o repórter Lerron Santiago mostra um corpo queimado ao vivo e faz o seguinte comentário:
“Tem cheiro de churrasco. Aí está o corpo. Olha aí, ainda sai fumaça. É do sexo masculino [...] não tem marca de bala [...] foi provavelmente queimado com gasolina” 
Enquanto isso, o câmera foca na cena e grava a situação ainda mais de perto. O tom das reportagens era sempre muito dramático e carregado de sensacionalismo. Atitudes como essas não se enquadram no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, redigido pela FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas). De acordo com o segundo parágrafo do artigo 11:
“O jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes”
Ao comentar as matérias, Wallace chegava a fazer afirmações hostis, o que também viola o código, o qual diz que o jornalismo não deve ser utilizado para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime. A postura e a popularidade de Wallace no programa, renderam-lhe um cargo bem sucedido na política. Junto com a posição vieram as ligações de que o deputado estaria no comando de uma organização criminosa. Nesse momento, a figura dos jornalistas dos principais veículos que cobriram o “Caso Wallace” se destaca.
A imprensa teve um papel importante no prosseguimento da investigação. Inicialmente enfraquecida pela escassez de informações e baseada somente no depoimento de Moacir Jorge, o Moa, foi decisiva ao mostrar que, diferente da fala da defesa do deputado, Wallace e Moa realmente se conheciam, o que foi provado através de uma foto levada por uma fonte anônima. Os profissionais ficaram responsáveis pelas novidades do caso. A jornalista investigativa Paula Litaiff, diz que todos os dias surgiam notícias negativas sobre o deputado e a população começou a ficar dividida. Apesar das provas apontarem mais para Rafael Souza como culpado, o filho de Wallace, do que o próprio pai. Na época o caso repercutiu fora do Amazonas e mesmo internacionalmente. Mesmo com a investigação em andamento, havia um pré-julgamento que já tratava o deputado Wallace como culpado.
“Há histórias reais que podem superar o roteiro de cinema policial mais rocambolesco”, El País (Espanha).
“Apresentador de TV brasileiro é acusado de comandar gangue criminosa mortífera”, The Guardian (Reino Unido).
Hoje, 11 anos depois, com o lançamento da série as discussões foram reiniciadas e, mesmo sem a conclusão do caso, há o julgamento por alguns veículos:
FONTE:https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/o-abutre-5-fatos-sobre-wallace-souza-o-apresentador-que-matava-pessoas-para-ter-audiencia.phtml
O Canal Livre serviu de inspiração para outros programas policiais que, atualmente, possuem altos números de audiência ao mostrarem crimes hediondos e transformares tragédias em espetáculos, muitas vezes tratados de forma sarcástica. Datena, Luiz Bacci, Sikêra Jr são alguns dos nomes conhecidos por realizarem esse tipo de “jornalismo”. O formato foi colocado em debate, pois o Senado irá analisar uma sugestão que proíbe a exibição de programas policiais pela televisão aberta das 6h da manhã às 22h da noite.